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Programa de Aceleração da Recuperação Pós Operatória 2016 TERAPIA NUTRICIONAL PERIOPERATÓRIA A desnutrição continua sendo um grande problema nos hospitais e sua prevalência varia entre 20% e 50% dependendo dos critérios utilizados para sua avaliação, e pode ser maior ainda nos casos de idosos e neoplasias. Apesar dessa prevalência, uma pequena porcentagem dos pacientes desnutridos recebem suporte nutricional. Pacientes mal nutridos no pré-operatorio têm maior risco de apresentarem complicações pós-operatórias e de óbito do que os que estavam bem nutridos anteriormente à cirurgia. O estado nutricional diminuído pode comprometer a função de muitos sistemas orgânicos incluindo coração, pulmão, rim e trato gastrointestinal. A função imune e a força muscular também estão diminuídas deixando esses pacientes mais vulneráveis a complicações infecciosas e podendo ser necessária a reintubação no pós-operatorio aumentando a morbidade e a desnutrição. A desnutrição também é uma importante causa do aumento da permanência hospitalar fazendo com que os gastos sejam maximizados. Para podermos prevenir esses acontecimentos deve-se realizar triagem ou rastreamento nutricional nas primeiras 24 a 48 horas após a internação. O objetivo dessa triagem é detectar a probabilidade da melhora ou piora da condição nutricional do paciente. Pode ser realizada por médicos, nutricionistas e ou pela equipe de enfermagem e irá detectar aqueles pacientes em risco nutricional, selecionando os que precisam de uma avaliação mais detalhada permitindo traçar uma conduta nutricional mais rápida e revelando, dessa maneira, quais os pacientes mais graves e como poderão se beneficiar da terapia nutricional. O projeto ACERTO preconiza que todo paciente cirúrgico seja submetido, ao momento de sua internação, a uma triagem nutricional. Paciente considerados como de risco nutricional devem ser de imediato submetidos a avaliação mais detalhada, por parte da equipe multidisciplinar de terapia nutricional. Intervenção Nutricional Imediata (INTERNUTI) por 7 a 14 dias antes de operações eletivas em pacientes que apresentem algum grau de desnutrição. Em operações de grande porte para pacientes com câncer, mesmo não havendo desnutrição grave, a TN pré-operatória com suplementos contendo imunonutrientes por 5 a 7 dias está indicada e deve ser continuada no pós-operatório. Para os pacientes que na avaliação subjetiva global obtiveram score B ou C deve ser indicado intervenção nutricional imediata (INTERNUTI) pré-operatória por 7 a 14 dias antes da operação. Para os pacientes com trato gastrointestinal integro e aptos a receber nutrientes e que não estiverem anoréticos deve ser prescrita dieta oral com suplementação protéica, com ou sem imunonutrientes. Para o bom resultado dessa prescrição é necessário que o paciente ingira no mínimo 70% do que foi oferecido, o que deve ser avaliado pela nutricionista e pela enfermagem. Caso não se consiga esse percentual, indica-se terapia nutricional enteral através de sonda em posição gástrica ou enteral. Nos casos em que mesmo com terapia enteral não consiga antingir a oferta calórica ideal, deve-se associar terapia nutricional parenteral (TNP). A TNP também também deve ser indicada quando o trato gastrointestinal não esta apto. Importante ressaltar que há possibilidade da mesma ser administrada perifericamente pelo período de 7 a 10 dias. Pacientes em estado hipermetabólico e/ou desnutridos, com contra-indicação para nutrição enteral por período superior a 5 dias, devem ter indicada a TNP, se esse período de contra-indicação for inferior a 3 dias, deve-se manter sem nutrição parenteral e realizar reavaliação de 24 a 48 horas para nutrição enteral. Consideram-se como critérios de contra-indicação absoluta para nutrição enteral: obstrução intestinal mecânica e isquemia intestinal, e como critérios de contra- indicação relativa: instabilidade hemodinâmica, íleo adinâmico e fístulas do intestino delgado. Quando o paciente apresenta resíduo gástrico maior que 250 ml por duas vezes ou 500 ml uma única vez, ou ainda refluxo gastro-esofágico grave ou também alto risco de aspiração pulmonar deve ser contra-indicada a nutrição enteral por via gástrica. O inicio do planejamento nutricional deve ser feito estimando-se as necessidades energéticas, protéicas, de minerais e vitaminas dos pacientes e escolhendo a via de acesso para sua oferta. O gasto energético pode ser determinado utilizando-se a equação de Harris-Benedict, ou a regra de bolso de 30 35 kcal/Kg/dia. Quando utilizada a equação de Harris-Benedict para pacientes com perda reduzida de peso o calculo deve ser feito com o peso usual, para os pacientes que apresentem perda de peso superior a 10% deve-se iniciar com o peso real e progressivamente ajusta-lo para o peso usual. Em casos onde o índice de massa corpórea é superior a 25, utiliza-se o peso ideal ajustado. No período pré-operatório objetiva-se fornecer aos pacientes energia na quantidade necessária para restaurar as condições mínimas para garantir os processos de coagulação, inflamação, combate a infecção e cicatrização. Quando a operação pode ser adiada, convém utilizar da terapia nutricional por até três semanas. Para os pacientes enquadrados em risco nutricional, deve ser feita terapia nutricional pré- operatória de 7 a 14 dias. Dependendo da agressividade do tratamento cirúrgico e de acordo com o tempo de evolução as necessidades no período pós-operatório se modificam, nos casos de cirurgias sem intercorrencias adota-se como período anabólico de 5 dias, quando os pacientes estão em UTI ou apresentam complicações, esse período pode ser prolongado, além de se considerar o paciente como hipercatabólico. A energia deve ser ministrada na forma de carboidratos e lipídeos sendo que 60 a 70% do total de calorias não protéicas é administrado na forma de glicose, não ultrapassando 5mg/Kg/min. Nos pacientes críticos oferta-se de 3 a 4 mg/Kg/min. para evitar-se overfeeding. As proteínas são ofertadas em torno de 1,0g/Kg/dia no pré- operatório e após a operação chega-se a 2,0g/Kg/dia com média de 1,2 a 1,5g/Kg/dia, sempre na dependência de bom funcionamento hepático e renal o que significa uma relação entre calorias:grama de nitrogênio de 150:1 na dieta ofertada. Suplementos orais com funções imunomoduladoras que contenham: arginina, nucleotídeos, ácidos graxos ômega-3 e antioxidantes (vitaminas A,C e E além dos minerais Zn e Se) devem ser utilizados na quantidade de 500 a 1000 ml/dia. Cuidado especial deve ser tomado com a administração de lipides para pacientes em condições críticas, uma vez que o seu metabolismo esta alterado - convém não ser ofertado no primeiro dia de pós-operatório. Pacientes com estresse tem redução de 30 a 40%, no pós-operatório das recomendações normais, ou seja, prescrições com 20 a 25 kcal/Kg/dia, além de controle rigoroso quanto à infusão de fluidos cristalóides. Para os pacientes que estão alimentando-se e para os que estão em uso de nutrição enteral, os fluidos intravenosos não devem ser prescritos e, caso necessário, para alguma medicação utiliza-se de venóclise heparinizada. Fluxograma de triagem Nutricional: ACERTO 2016 Quadro de recomendações perioperatórias ACERTO 2016 Os cuidados nutricionais perioperatórios do Projeto ACERTO que compreendem a triagemnutricional, a avaliação nutricional, a prescrição de dieta imunomoduladora perioperatória e a orientação de alta têm com objetivo principal acelerar a recuperação do paciente cirúrgico. Todo paciente cirúrgico, nas primeiras 24h da internação, deve ser triado e avaliado nutricionalmente. Utiliza-se a triagem de risco nutricional como ferramenta para triar o paciente cirúrgico e considera-se a avaliação subjetiva global o padrão-ouro para determinar a condição nutricional perioperatória. Os dados da triagem e da avaliação nutricional devem ser anotados no prontuário do paciente. ‹ Todo paciente deve ser informado e orientado dos cuidados nutricionais perioperatórios para que haja adesão e sucesso no tratamento. A intervenção nutricional imediata (Internuti), via oral ou enteral, com fórmula hiperproteica com ou sem imunonutriente, deve ser iniciada cinco a sete dias antes da operação, na quantidade mínima de 500 a 1.000mL para os pacientes de risco nutricional e por até 14 dias para os desnutridos graves em cirurgias de médio e grande portes. ‹ A dieta imunomoduladora via oral ou enteral tem por objetivo reduzir as complicações, o tempo de internação e a mortalidade hospitalar. A nutrição parenteral está indicada para os pacientes desnutridos graves que não podem usar a via digestiva. No pós-operatório, a dieta deve ser iniciada, independentemente da via de nutrição, nas primeiras 24h da operação e na presença de estabilidade hemodinâmica. REALIMENTAÇÃO PRECOCE NO PÓS-OPERATÓRIO Compartilhar este conteúdo no Facebook Serviços mais ortodoxos têm como rotina o jejum pós-operatório em cirurgias gastrointestinais. A reintrodução de alimentação por via oral somente ocorrerá quando houver resolução do íleo, marcado pelo retorno dos movimentos peristálticos e/ou eliminação de gases e fezes. Sabe-se que o tempo de insuficiência de motilidade é diferente em cada região do tubo digestivo, o estomago demora cerca de 24 horas para recuperar sua motilidade, o intestino delgado de 5 a 7 horas, o cólon direito de 24 a 48 horas e o colón esquerdo de 36 a 60 horas. Por esse motivo, conforme enfatizado em publicações recentes, alimentação após 24 horas de laparotomia pode ser oferecida aos pacientes, sendo bem tolerada e o alimento absorvido. Em uma meta-análise realizada por Lewis e cols., onde foram analisados 11 estudos randomizados e controlados demonstrou-se que não houve significância estatística quanto a deiscência da anastomose entre os grupos que receberam alimentação nas primeiras 24 horas quando comparados com os que permaneceram em jejum por maior período de tempo, o grupo controle. Quanto ao risco de infecção de qualquer natureza comprovou-se que no grupo que recebeu alimentação precocemente o risco foi menor com p=0,036 e resultado similar foi encontrado para o risco de infecção do sitio cirúrgico e pneumonia. O risco de náuseas e vômitos foi maior no grupo que recebeu alimentação precoce com p=0,045. Não houve significância estatística para mortalidade encontrando-se p=0,15. Finalmente fizeram a comparação do tempo de permanência hospitalar onde foi encontrada uma redução de 0,84 dia para o grupo da alimentação precoce o que representa p=0,001. Desse modo não há nenhuma evidencia para se deixar o paciente em jejum no pós-operatório por 2 ou mais dias. Com base no projeto ACERTO, nos casos de cirurgias com anastomose gastrintestinal, entero-entérica, entero-cólica e colorretal se o paciente não estiver apresentando vômitos e aceite, dieta líquida é oferecida no mesmo dia da operação, caso contrário se começa de rotina no primeiro pós-operatório. Os pacientes submetidos a anastomose esofágica são submetidos ou a jejunostomia ou a colocação de sonda naso-entérica e a alimentação por essas vias inicia-se no primeiro pós-operatório. Quadro de recomendações Pós operatórias ACERTO 2016 A sonda nasogástrica não deve ser usada como rotina. O bloqueio do neuroeixo, associado à anestesia geral, diminui o tempo de íleo em grandes procedimentos abdominais abertos. Não usar opiáceos de rotina na analgesia pós-operatória. Preferir medicações não opiáceas (dipirona, cetrolaco, paracetamol e lidocaína intravenosa, entre outros). Em cirurgias da via biliar, herniorrafias, cirurgias ano-orificiais e afins, deve-se oferecer dieta oral no mesmo dia da operação (3 a 12h após). A hidratação intravenosa não deve ser prescrita em herniorrafias e cirurgias ano-orificiais no pós-operatório imediato. Assim, convém ser retirada com 6h ou menos após colecistectomias, salvo exceções. Em cirurgias com anastomoses gastrintestinal, enteroentérica, enterocólica ou colorretal, a dieta líquida deve começar como rotina no mesmo dia ou no primeiro pós- operatório. Em cirurgias com anastomoses esofágicas, a dieta deve começar com 12 a 24h de pós- operatório por jejunostomia ou por sonda nasoentérica. A regra geral recomendada pelo Projeto ACERTO é não prescrever fluidos cristaloides em pacientes sob dieta oral/enteral, salvo exceções. Indica-se um scalp salinizado, e não um soro de manutenção, para a condução de medicamentos intravenosos.
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