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Introdução a Educação Musical 02 1. Concepções de Educação e Música 4 Abordagem Técnica: Conteúdos e Habilidades 5 Abordagem Prática: Desenvolvimento Intelectual 6 Abordagem Crítica: Contexto Social da Aprendizagem 6 2. A Motivação Como Requisito para Aprender Música 11 Educação Musical e Linguagem 15 3. O Professor de Música - Multiplicando Saberes 22 O Trabalho com a Musica 27 Educação Musical Especial 30 4. Referências Bibliográficas 33 03 4 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL 1. Concepções de Educação e Música Fonte: Sabra1 educação visa desenvolver o homem em sua totalidade, tor- nando-o um ser social, crítico, autô- nomo, reflexivo e criativo e a partici- pação das artes e da música no cur- rículo das escolas deixam claro o quanto são fundamentais no pro- cesso de formação global do ser hu- mano, no que concordam Ongaro e Silva (2006, p. 2) ao inferiram que a música desenvolve o raciocínio, a criatividade a socialização e torna-se indispensável no contexto escolar. 1 Retirado em https://www.sabra.org.br/site/historia-educacao-musical-brasileira/ A expressão musical desempe- nha importante papel na vida recre- ativa de toda criança, ao mesmo tempo em que desenvolve sua criati- vidade, promove autodisciplina e desperta a consciência rítmica e es- tética. A música também cria um terreno favorável para a imaginação quando desperta as faculdades cria- doras de cada um. A educação pela música proporciona uma educação profunda e total (ONGARO E SIL- VA, 2006, p. 2). A 5 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL A escola surgiu da necessidade que toda a sociedade tem de trans- mitir para as gerações futuras o co- nhecimento acumulado. Esse co- nhecimento envolve não só conteú- dos disciplinares, mas também com- portamentos e valores pertencentes àquela sociedade em particular. Es- sa transmissão cultural não é exclu- siva da escola. A família é o primeiro agente social encarregado da encul- turação. Além disso, a influência da grande mídia nessa imersão cultural aumentou de forma notável nas últi- mas décadas (LOURO, 2009). A escola, no entanto, tem a particularidade de ser a única insti- tuição social concebida com esse propósito específico. As consequên- cias da transmissão cultural de con- teúdos pertencentes a uma socieda- de em particular é tanto fazer emer- gir um modelo de pessoa quanto o sentimento de pertencer a uma so- ciedade. Esse ponto de partida é, em princípio, assumido com unanimi- dade pelas teorias curriculares, mas observamos algumas discrepâncias ou desacordos sobre “como ensi- nar?” e “para que fins?” Veremos algumas das diferen- tes teorias curriculares (abordagem técnica de conteúdos e habilidades; abordagem prática do desenvolvi- mento intelectual; abordagem críti- ca: contexto social da aprendiza- gem) que enfatizam diferentes as- pectos dessas questões no que se re- fere à educação de uma forma geral (GRUNDY, 1987; LISTON; ZEI- CHNER, 1991 apud ARÓSTEGUI, 2000) Abordagem Técnica: Con- teúdos e Habilidades Um primeiro modelo conside- ra que a aprendizagem deve seguir a lógica interna de cada disciplina, uma vez que ela é objetiva e inde- pendente do indivíduo que está es- tudando. Isso significa que o conhe- cimento é exterior à pessoa que o aprende. No caso da linguagem mu- sical essa primeira abordagem im- plica começar pela explicação do que é pauta e do que são claves, figuras e notas. Isto é, primeiro uma aprendi- zagem teórica e, posteriormente, prática. Falando de execução musical, essa perspectiva implica primeiro trabalhar todas as habilidades técni- cas, esquecendo, se necessário, da interpretação e expressão nos está- gios iniciais. Cada aprendizagem é concebida como a aquisição de um produto que mais cedo ou mais tarde os alunos vão compreender o quanto é útil, mesmo que anterior- mente tal aprendizagem exija es- forço e dedicação por parte dos pro- fessores e, principalmente, dos alu- nos. Essa abordagem é chamada de 6 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL técnica (LOURO; ARÓSTEGUI, 2003). Abordagem Prática: Desenvol- vimento Intelectual Um segundo modelo de educa- ção se refere ao desenvolvimento psicológico do aluno. O que e como os professores ensinam estará de acordo com as habilidades individu- ais dos alunos, não só para obter o aprendizado, mas também para con- tribuir com o seu desenvolvimento psicológico. A importância das teorias da psicologia cognitiva é acentuada. Emergem conceitos como aprendi- zagem significante, a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, motivação, entre outros. Essas no- ções enfatizam o processo ensino- aprendizagem, algumas vezes como um meio para atingir um produto, outras vezes como algo com valor por si mesmo. Qualquer um dos ca- sos estará tratando com “sentir e ex- perienciar a música antes de racio- nalizá-la”, como é proposto pela ideia central das metodologias musi- cais ativas. Ou seja, em música ou em qualquer outra disciplina, a experi- ência direta é anterior à teorização. São exemplos dessa abordagem os métodos musicais do início do sécu- lo passado, posteriores a Dalcroze, que seguem princípios semelhantes aos traçados por ele. Depois do sur- gimento do método de Dalcroze muitos outros também apresenta- vam esse princípio de começar pela prática, como Orff, Kodály, Willems, e assim por diante. Um ponto em comum entre esses métodos é a sugestão de um conjunto de exercícios práticos usando movimento e som com o ob- jetivo de internalizar alguns ou tal- vez todos os parâmetros musicais: ritmo, melodia, textura, timbre e forma estrutural. Essa segunda abordagem de educação é chamada prática (LOURO; ARÓSTEGUI, 2003). Abordagem Crítica: Contexto Social da Aprendizagem Uma terceira abordagem de educação enfatiza a importância do contexto social na aprendizagem. O que destaca a sociologia como o co- nhecimento básico nas atividades educacionais. A identidade dos indi- víduos em um grupo social especí- fico é o aspecto central. Tal identi- dade é construída através da partici- pação e interação com os demais membros do grupo em todas as ati- vidades conjuntas. Isso requer que o conhecimento se torne parte do in- divíduo, sendo relevante para aprendizagens futuras. Em outras 7 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL palavras, aprendizado se produz na conjunção dos contextos das ativida- des, sociais e culturais de cada pes- soa. A identidade se posiciona na re- lação com aquele conhecimento. Sendo assim, aprender é uma atividade onde o conhecimento não é mais tirado de fora, mas constru- ído internamente. No caso da educa- ção musical, isso significa que cada pessoa tem um conhecimento pes- soal de acordo com as suas experiên- cias aurais, de execução musical, dança e movimento (STOKES, 1994 apud (LOURO; ARÓSTEGUI, 2003). Essa abordagem está intima- mente relacionada à perspectiva so- ciológica de formação docente, que é tomada pela pesquisa “Docentes universitários/professores de ins- trumento: dialogando sobre identi- dades profissionais” desenvolvida por Louro e Aróstegui. Consideran- do os professores em contínua for- mação, a sua aprendizagem de “ser professor” se processa a partir da construção de uma identidade de grupo profissional dentro de um contexto de interação com os atores presentes nos seus locais de convi- vências, seus contextos institucio- nais e suas experiências de vida. En- tre os muitos tópicos que podem ser tratados em relação a essa terceira concepção de educação, um tópico que parece estar particularmente as- sociado tanto às experiências insti- tucionais como pessoais e sociais dos professores entrevistadosé a questão do binômio aula individual/ aula em grupo (LOURO; ARÓSTE- GUI, 2003). A aula em grupo proporciona uma troca de experiências muito sig- nificante, oportunizando a sociabili- zação, troca de informação, conheci- mentos mútuos e novas amizades. Enfim uma série de coisas que numa aula individual não haveria. Em contrapartida, numa aula individual e se tratando de música, pode-se observar por exemplo, a atuação corporal do aluno, como ele está pondo o dedo no instrumento, o som exato que ele está tirando. Vários professores conside- ram a aula em grupo uma maneira de “dar uma dimensão social para o curso” e torná-lo mais coletivo. O aluno não aprende de forma isolada nem dos contextos de seus pares nem dos contextos culturais e sociais onde vive, evidenciado pelo uso de CDs, revistas e livros. Em tal aborda- gem, o que é aprendido vai depender das circunstâncias e do contexto on- de esse aprendizado é produzido. Conteúdos a serem transmiti- dos e maneiras de fazê-lo se modifi- cam de acordo com as circunstân- cias particulares de cada situação. 8 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL Isso é impossível de obter se nós considerarmos os alunos de forma homogênea, como acontece quando pretendemos ensinar o mesmo con- teúdo para todo mundo, e mais ain- da, usando as mesmas maneiras de ensinar. Por essa razão é importante dentro dessa perspectiva considerar as diferenças iniciais entre os estu- dantes. De acordo com gênero, etnici- dade, classe social, idade, ou qual- quer outra circunstância social. Se essas diferenças não são levadas em consideração tanto o aprendizado como a avaliação do aluno vão va- riar, podendo tornar-se não diferen- ças, mas discriminações. Como não existe nenhuma justificativa gené- tica ou natural de que um grupo so- cial esteja acima de qualquer outro, essas desigualdades são necessaria- mente culturais. Nesse sentido, o sistema edu- cacional só tem duas saídas: Negar essas diferenças, e por- tanto reproduzi-las de forma inconsciente; ou Transformar essas diferenças, tornando-se a escola um agen- te social de mudança. Além disso, a importância do con- texto explica por que não exis- tem receitas para educar, e por que não existe um modelo em educação musical superior aos outros. A educação não é uma ciência positivista e determi- nística, mas antes uma ques- tão ideológica e moral (LOU- RO; ARÓSTEGUI, 2003). Focalizar o contexto do pro- cesso educacional tem implicações no conteúdo disciplinar também. Dessa perspectiva, o conhecimento não é preestabelecido de forma defi- nitiva anteriormente ao desenvolvi- mento de um currículo, porque ele é construído como uma consequência da interação entre parceiros cultu- rais. Isso primeiramente significa que a educação deve facilitar a cons- trução do conhecimento pelos estu- dantes de acordo com os contextos culturais de cada um. Posteriormen- te, isso também significa que a edu- cação deve evidenciar o contexto on- de as interações são produzidas. Evi- dentemente a contextualização vai levar à desconstrução e à posterior reconstrução de aprendizagens an- teriores inconscientes, e por causa disso evitar o aprendizado que, mes- mo não intencionalmente, pode dar suporte a discriminações (LOURO; ARÓSTEGUI, 2003). Falando de música e artes, isso pode implicar uma visão de arte e música clássica como objetos per- tencente a homens brancos mortos (CASTORIADIS, 1995 apud LOU- RO; ARÓSTEGUI, 2003). 9 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL Se o repertório clássico é “pre- eminente” é porque ele é um concei- to musical socialmente correto, acei- to sem provocar uma quebra de inércia. Por essa razão parece ser importante um currículo multicul- tural no qual a música clássica perca seu caráter hierárquico, e outros es- tilos musicais pertencentes a grupos invisíveis à academia possam ser in- cluídos. Esse é o caso do jazz, samba, rock, flamenco e outros estilos musi- cais usualmente relacionados com grupos sociais por etnia, classe so- cial ou outro critério qualquer. Fato- res culturais também são encontra- dos na música clássica. No entanto, esses outros grupos sociais mantêm em evidência o que a sociedade atual e o status quo musical parecem ne- gar. Cada uma dessas três aborda- gens educacionais, antes de serem contraditórias, são complementa- res. A diferença é em que questões elas se focam mais: o paradigma téc- nico no conteúdo, o prático no de- senvolvimento individual, e o crítico no contexto social da aprendizagem. Liston e Zeichner (1991 apud LOURO; ARÓSTEGUI, 2003), fa- lando do currículo de uma forma ge- ral, afirmam que ninguém tem argu- mentos suficientes para sustentar que uma abordagem única é melhor ou a única válida. As diferenças apa- recem no momento de articular cada perspectiva, ou seja, em que medida cada professor está preocupado com os conteúdos, com o desenvolvimen- to psicológico ou com o contexto so- cial da aprendizagem. Existem tan- tas inter-relações que, na prática, parecem emergir duas abordagens ao invés de três: um paradigma téc- nico-prático, considerando a educa- ção como um processo que busca al- cançar um produto, e um paradigma prático-crítico, focado no próprio processo educacional. É possível que dois professores advindos de pers- pectivas diferentes façam a mesma atividade ou trabalhem com o mes- mo repertório. A diferença está no que eles enfatizam. No momento em que as questões acadêmicas, individuais e sociais não sejam esquecidas pelos professores, e que ao mesmo tempo o nosso trabalho for feito de refle- xões sobre por que e o que está sen- do legitimado por nós, os professo- res estarão agindo de forma correta. A educação é uma questão moral e ideológica, e não existe nenhuma maneira de dizer que uma aborda- gem é melhor do que outra sem con- siderar as nossas próprias crenças (LOURO; ARÓSTEGUI, 2003). 11 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL 2. A Motivação Como Requisito para Aprender Mú- sica Fonte: Santo Ângelo2 utoestima, motivação emoção e razão são sentimentos que se completam e em decorrência deles, de serem bem vividos, podemos in- ferir que as crianças serão mais ou menos felizes ao longo da vida. De acordo com Branden (2000) a autoestima representa a confiança na capacidade de pensar, confiança na capacidade de dar con- ta dos desafios da vida. Entende-se que os processos de ensino e aprendizagem estão in- 2 Retirado em https://blog.santoangelo.com.br/como-encontrar-a-motivacao-para-a-musica/ terligados sendo construído e vivido pelos sujeitos, embora deva ser par- te de um projeto educacional e social (LIMA; LIMA, 2010). É preciso considerar a apren- dizagem como um processo dinâmi- co que envolve os aspectos emocio- nais e cognitivos no processo de aquisição de conhecimentos e que este ocorre através da mediação e in- teração do sujeito com o meio social, afetivo, e nas relações em que este estabelece com o mundo. A 12 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL Para Fernández (1991, p. 116) a aprendizagem é um processo que se significa familiarmente, ainda que se aproprie individualmente, inter- vindo o organismo, o corpo, a inteli- gência e o desejo do aprendente e também do ensinante, mas o desejo é necessariamente o desejo do outro. Ponderando esta citação en- tende-se que o ser humano é dotado de “possibilidades”, sendo capaz de captar o conhecimento, podendo construir e reconstruir a sua apren- dizagem no contexto em que está in- serido, através das trocas estabeleci- das que envolve os aspectos orgâni- cos, corporal e intelectual. Como afirma Fernández estão envolvidos nesse processo um ensi- nante e um aprendente ligados por um vínculoque se instalam interme- diando suas ações. Vygotsky (1984), afirma que a aprendizagem é um aspecto neces- sário e universal no desenvolvimen- to humano e está relacionada ao processo de “desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente hu- manas”. E as relações da música com tudo isso? Segundo Penna (2008, p. 34) um imenso número de pessoas se encontra numa situação sociocultu- ral tal que dispõe de parcos instru- mentos para exercer a crítica da rea- lidade musical em que vive dificil- mente tendo condições de romper com os padrões difundidos pela in- dústria cultural. A importância de se valorizar a música desde a educação infantil é porque ela oferece novas ferramen- tas para lidar com o mundo, com ou- tras linguagens e oportuniza o fazer, o construir e o apreciar, levando a criança a desenvolver a sua critici- dade. ONGARO (2006, p. 04) diz que, “a música afeta as emoções, pois as pessoas vivem mergulhadas em um oceano de sons. Em qualquer lugar e a qualquer hora, respira-se música sem se dar conta disso”. Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos se- guintes aspectos: Físico: oferecendo atividades capazes de promover o alívio de tensões devidas à instabili- dade emocional e fadiga; Psíquico: promovendo proces- sos de expressão, comunica- ção e descarga emocional atra- vés do estímulo musical e so- noro; Mental: proporcionando situ- ações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão. A motivação pode ser compre- endida como o processo dinâmico de 13 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL iniciar, manter e finalizar uma ação, sendo desencadeado por fatores in- ternos e externos. Motivação é um conceito mul- tifacetado que pode ser definido co- mo energia individual e dirigida, pois trata-se da força motriz por de- trás de todas as ações individuais, direcionadas por necessidades e de- sejos pessoais. Pesquisas envolven- do motivação têm sido realizadas nos mais diversos campos. Especifi- camente na área de música, observa- se um interesse crescente por essa temática nos últimos dez anos (HENTSCHKE et al, 2009). Pesquisas envolvendo motiva- ção em música têm sido voltadas aos mais diversos temas, como a in- fluência do contexto social na moti- vação para aprender música (SICHI- VITSA, 2007; McPHERSON, 2009 apud HENTSCHKE et al, 2009), o papel da música como fator de moti- vação em atividades de esportes (PRIEST; KARAGEORGHIS, 2008; KARAGEORGHIS et al, 2009 apud HENTSCHKE et al, 2009), de traba- lho (MARTIN, 2008 apud HEN- TSCHKE et al, 2009), de lazer (KIN- NALLY et al., 2008 apud HEN- TSCHKE et al, 2009) e de terapia (CRAIG, 2008 apud HENTSCHKE et al, 2009). A motivação em música tem sido investigada também nos mais diversos contextos: crianças (LA- MONT, 2008 apud HENTSCHKE et al, 2009) e adolescentes (SCH- MIDT, 2007; POWER, 2008; VILE- LA, 2009 apud HENTSCHKE et al, 2009), estudantes em diversos ní- veis escolares (MARTIN, 2008; PIZ- ZATO, 2009), bacharelandos em instrumento (ARAÚJO; PICKLER, 2008; McCORMICK; McPHER- SON, 2007; McPHERSON; McCOR- MICK, 2006 apud HENTSCHKE et al, 2009), licenciandos em música (SCHMIDT; ZDZINSKI; BALLARD, 2006 apud HENTSCHKE et al, 2009) e professores de música (CE- RESER, 2009). Os estudos sobre motivação na aprendizagem musical têm discuti- do questões cognitivas, afetivas e so- ciais dos indivíduos. As pesquisas sobre motivação na aprendizagem musical tratam do por que e como os indivíduos envolvem-se com o es- tudo da música. Os estudos da moti- vação na aprendizagem musical têm investigado fatores motivacionais, internos e externos, como, por exemplo, a percepção de habilidades musicais, a influência dos pais, o in- teresse, valores, objetivos, julga- mentos de eficácia, atribuição de su- cesso e fracasso e suas influências no envolvimento e desempenho em ati- vidades musicais. Investigar a motivação em música implica uma série de fatores, tais como: 14 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL A valorização e a hierarquia relativa frente às demais disci- plinas - Pesquisas mostram que a música não é valorizada como componente no currícu- lo escolar (DEL BEN; HEN- TSCHKE, 2007). Pesquisas na área de motivação para apren- der documentam um declínio na motivação e na valorização da aprendizagem musical en- tre 10 e 12 anos de idade (O’NEILL, 2005; WIGFIELD; ECCLES, 2000 apud HEN- TSCHKE et al, 2009). Eccles et al. (1993 apud HENTSCHKE et al, 2009) realizaram um es- tudo longitudinal sobre per- cepções e crenças de crianças, entre 7 e 10 anos de idade, quanto à sua competência e ao valor atribuído à música e ou- tras matérias escolares. A influência do contexto fami- liar - Por exemplo, a pesquisa de Yoon (1997 apud HEN- TSCHKE et al, 2009) apontou que o nível de engajamento e a preferência de crianças por atividades musicais eram principalmente influenciados pelos pais, e que o tempo de prática musical estava associ- ado ao desejo de tocar instru- mentos e desenvolver habili- dades. A razão do envolvimento dos alunos em atividades musicais - Por exemplo, os fatores que motivavam 300 estudantes entre a 7ª e a 12ª série a prati- carem e continuarem sua par- ticipação em bandas escolares foram investigados por Smith (2005 apud HENTSCHKE et al, 2009), que obteve como re- sultado que os níveis mais al- tos de motivação estavam as- sociados ao trabalho em grupo ao invés da participação em competições. Diferenças de gênero, grupos sociais e étnicos em relação à motivação na aprendizagem musical (FREDRICKS; SIM- PKINS; ECCLES, 2005; GHA- ZALI, 2006 apud HEN- TSCHKE et al, 2009). Assim como em outras áreas, as pesquisas sobre motivação na aprendizagem musical fundamen- tam-se nas teorias da motivação que foram desenvolvidas a partir da aprendizagem em geral. Entre as te- orias e modelos teóricos que mais têm colaborado para se compreen- der a motivação na aprendizagem musical estão o modelo de expecta- tiva e valor, a teoria da atribuição, a teoria da autoeficácia, a teoria do fluxo, a teoria da orientação de me- tas e a teoria da autodeterminação. O modelo de expectativa e va- lor de Eccles et al. (1983 apud HEN- TSCHKE et al, 2009) tem sido em- pregado em pesquisas em contextos de aprendizagem cujo objetivo resi- de na investigação das expectativas de resultado, do valor que os alunos atribuem ao seu aprendizado e das 15 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL escolhas de envolvimento com as atividades. Esse modelo busca con- templar diferentes níveis de ensino, abordando crianças e adolescentes, diferenças étnicas e de gênero. Visto como uma das perspectivas teóricas mais importantes dos estudos moti- vacionais o modelo de expectativa e valor tem sido utilizado em pesqui- sas sobre motivação na aprendiza- gem musical (HENTSCHKE et al, 2009). Educação Musical e Lin- guagem A ideia de que a música possa ser considerada uma forma de lín- guagem, embora não seja consen- sual e tenha vários opositores na fi- losofia, vem sendo bastante difun- dida no meio educacional, seja sim- plesmente para enfatizar a possibili- dade de acesso à música a todos os indivíduos, indiscriminadamente, seja para procurar entender melhor a aprendizagem musical pela possi- bilidade de estabelecer analogias com a linguagem verbal. Entre os educadores e pesqui- sadores que, de um modo ou de ou- tro, endossam essa abordagem, Schroeder (2009) cita, Gaínza (1977), Fonterrada (1991), Penna (1998), Bernardes (2001), etc., além de Swanwick (2003), que, embora não assuma explicitamente a ideia da música como uma forma de lin- guagem (mas sim como forma sim- bólica), faz uso de um vocabulárioque remete à linguagem verbal, ain- da que metaforicamente (“discurso”, “conversação”, “sotaque”, etc.). Isso permite levantar a hipótese de que de alguma forma esse autor vê apro- ximações possíveis entre essas duas formas simbólicas. Podemos dizer que na lingua- gem verbal há uma sobreposição de níveis ou dimensões que, embora aconteçam de modo indissociável na realização concreta da língua (falada ou escrita), costumam ser analisa- dos separadamente nos estudos lin- guísticos. Assim, temos, por exem- plo, o nível fonológico (os sons que cada língua recorta das inúmeras possibilidades articulatórias do apa- relho fonador humano), o nível sin- tático (as regras combinatórias que regulam a possibilidade de apareci- mento das palavras numa oração ou de orações num período, por exem- plo), o nível semântico (que diz res- peito aos significados cristalizados pelas línguas) e o nível discursivo (os efeitos de sentido produzidos por enunciados levando-se em conta o contexto - social, cultural, histórico - onde são produzidos). Nos três pri- meiros níveis estamos na esfera da língua enquanto um sistema abstra- to e, no último, na sua realização concreta e, portanto, na sua dimen- 16 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL são ideológica (dotado de sentido e valor) (SCHROEDER, 2009). De acordo com Bakhtin (2000), a utilização da língua se dá em forma de enunciados concretos (orais ou escritos) proferidos por su- jeitos concretos em situações especí- ficas. São eles que permitem o aces- so ao nível discursivo da língua. Ca- da enunciado, independente do seu conteúdo e volume têm característi- cas estruturais definidas e fronteiras bem delimitadas. Um enunciado ter- mina quando completa um sentido e provoca uma atitude responsiva por parte do interlocutor (que não pre- cisa ser necessariamente uma res- posta fônica e nem imediata). Todo enunciado, desse modo, se liga a um enunciado anterior (ao qual ele é de alguma forma uma resposta) e a um posterior (que também de algum modo lhe estará respondendo). Ne- nhum locutor, nesse sentido, é o pri- meiro “que rompe pela primeira vez o eterno silêncio de um mundo mu- do”, mas sua fala pressupõe não so- mente a existência da língua, como de enunciados anteriores. “Cada enunciado é um elo na cadeia muito complexa de outros enunciados” (BAKHTIN, 2000, p. 291). Quando uma criança adquire a linguagem, o faz justamente a partir do contato com a língua na sua con- cretude, ou do nível discursivo. São os sentidos e os valores linguísticos que lhe são transmitidos pelos ou- tros falantes daquela língua através de enunciados concretos que possi- bilitarão a absorção do sistema abs- trato (fonológico, sintático e semân- tico). Mesmo na aprendizagem de uma língua estrangeira, que deman- da um processo mais analítico, a di- mensão discursiva é considerada privilegiada. Somente, por exemplo, a partir do conhecimento das regras gramaticais e sem esse contato in- tenso com um universo linguístico axiologicamente marcado seria im- possível a absorção de qualquer lín- gua, seja a materna ou uma estran- geira. Trazendo essas distinções pa- ra a música, podemos dizer que tam- bém essa possui uma dimensão ma- terial sonora (os sons que cada cul- tura recorta dentre as infinitas pos- sibilidades que as fontes sonoras disponíveis possuem), uma sintaxe própria a cada idioma musical (to- nal, atonal, modal, serial, etc.), e uma dimensão significativa (talvez não semântica, uma vez que aqui não se pode falar em conotações fi- xas que podem ser dicionarizadas, mas, com certeza, uma dimensão discursiva, na qual os significados são sempre contextuais). Também na música a fonologia e a sintaxe es- tão sempre a serviço de significações estéticas, cujo único acesso são os 17 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL enunciados musicais, as músicas em sua realização concreta e sonora. E, como consequência, também na aquisição da musicalidade (nos ca- sos em que a criança se musicaliza “naturalmente”, por imersão em um meio social no qual a música é uma presença muito forte) ou na apren- dizagem musical (processo mais for- mal, no qual predomina uma inten- cionalidade pedagógica), o nível dis- cursivo, os enunciados musicais, as músicas esteticamente constituídas em relações sempre dialógicas, são o ponto de partida privilegiado. Os sistemas sintático e fonológico só se- rão absorvidos quando percebidos em função de propósitos estético- musicais e não como entidades autô- nomas, preparatórias para uma compreensão musical posterior pro- priamente dita. Esse modo de entender a mú- sica é importante porque permite re- ver certos procedimentos pedagógi- cos amplamente difundidos nas prá- ticas e métodos de ensino musical. Uma das principais novidades trazidas pelos educadores do século XX foi a proposta de exploração so- nora como início do processo de mu- sicalização. Pesquisar sons, imitá- los, classificá-los quanto aos seus parâmetros, virou quase uma obri- gação. No entanto, quando se enten- de a música como uma linguagem cuja possibilidade de apropriação está diretamente ligada a uma apre- ensão significativa, começa-se a per- ceber as limitações de se ater à sua materialidade pura (o que equivale- ria, voltando à analogia com a lin- guagem, a tentar aprender uma lín- gua a partir da sua fonologia) (SCHROEDER, 2009). Por mais interessante e criati- vo que possa ser, esse tipo de traba- lho só faz sentido, nessa perspectiva, quando atrelado a contextos musi- cais ou, numa analogia bakhtiniana, à “música em funcionamento” (pelo menos quando a intenção é atingi-la como linguagem). Assim, por exemplo, saber qual entre dois sons é mais grave ou mais agudo talvez sirva para pouca coisa, mas tentar entender por que determinada música explorou mais os sons graves do que os agudos po- de ser bem interessante. Do mesmo modo, conseguir classificar sons quanto à sua duração tem pouco ou nenhum interesse, mas, por exem- plo, explorar possíveis efeitos sono- ros que se consegue usando sons curtos e longos pode ser bastante en- riquecedor do ponto de vista musical (FRANÇA, 2003). O próprio Schafer (1991), pen- sando em possibilidades educacio- nais nas escolas de ensino regular, reconhece que atividades de explo- ração sonora, embora muitas vezes 18 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL sejam uma saída interessante para professores não especializados, não são propriamente “ensinar música”. É bem verdade que muitas ve- zes esse tipo de trabalho desemboca numa produção estética, o que já é um ganho enorme em relação a um trabalho sem nenhuma referência musical. Entretanto, quase sempre está ligado a uma estética contem- porânea, a qual, conforme o modo como é realizada, muitas vezes não tem nada a ver com o que os alunos entendem por música, criando-se aquele fenômeno que Swanwick (2003, p. 50) denomina “a subcul- tura da música escolar”, ou seja, um tipo de música que só existe naquele lugar, com aquele determinado fim e que é mais ou menos “engolida” nos horários escolares. Ou seja, o perigo de não se atingir a linguagem per- manece, caso não sejam apresenta- das referências musicais como parte integrante de um trabalho de manu- seio sonoro cujo fim é atingir uma estética contemporânea específica (SCHROEDER, 2009). De acordo com Bakhtin (2002), toda linguagem implica ne- cessariamente uma relação interin- dividual, não existe qualquer possi- bilidade de linguagem sem compar- tilhamento de sentidos e regras, sem diálogo entre indivíduos (não existe alguma coisa parecida como uma língua de uma pessoa só). Em outras palavras, toda forma de linguagem pressupõe uma relação dialógica, se- ja na sua constituição como tal, seja nas suas várias formas de aquisiçãoou aprendizagem. Ao consideramos a música como uma forma de lin- guagem, nesse sentido, podemos pensar em como esse caráter dialó- gico afeta as relações de ensino e, co- mo consequência, qual o papel privi- legiado do educador nesse processo. O professor de música, de acordo com essa linha de pensamen- to, é aquele que se coloca não apenas na posição de quem possui as signi- ficações musicais culturais que de- vem ser transmitidas, mas sobretu- do de intérprete das tentativas pes- soais de significar a música que o aluno vai tendo no decorrer do pro- cesso de aprendizagem musical. Os procedimentos pedagógicos só po- dem ser construídos a partir dessa possibilidade de interpretação do que provavelmente está acontecen- do. O que normalmente ocorre, no entanto, não é bem isso. Quando uma criança entra em contato com a linguagem musical, começa a manu- seá-la e comete vários “erros” (geral- mente imprecisões de tempo ou al- tura), as duas atitudes mais comuns em relação a esses “erros” são: con- siderá-los inaceitáveis e tratar de corrigi-los imediatamente ou aceitá- los como parte do processo de “des- coberta” da música, esperando que o 19 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL aluno acabe, por si só, percebendo o equívoco e se corrija sozinho. Em nenhuma dessas duas pos- turas o professor está se colocando no papel de interlocutor, de coparti- cipante, de intérprete dessas primei- ras tentativas de expressão musical. Para realizar esse papel, ele deveria, em primeiro lugar, avaliar o tipo de “erro” cometido pelo aluno: trata-se de uma compreensão equivocada, um entendimento diferenciado em relação ao esperado (uma mudança no ritmo ou um acento frasal deslo- cado, por exemplo), ou, ao contrário, trata-se de uma falta total de enten- dimento (o aluno simplesmente não consegue extrair nenhum sentido da música)? No primeiro caso, geral- mente esses “erros” são muito bem- vindos, pois demonstram que o alu- no está conseguindo atribuir algum sentido à linguagem musical. Mais do que quando a criança faz tudo “certinho”, aqui temos a certeza de que está havendo uma tentativa de realmente significar a música (e não simplesmente reproduzi-la mecani- camente) (SCHROEDER, 2009). Assim, por exemplo, às vezes um aluno altera o ritmo de uma de- terminada música, mas mantém a métrica. Isso significa que, embora ele não tenha entendido com exati- dão as subdivisões pequenas do tempo, captou o tempo total, musi- calmente muito mais importante e, inclusive, mais difícil de ser perce- bido. Se o professor não tem uma compreensão do que realmente aconteceu em termos de qual foi a provável percepção do aluno, corre o risco de corrigir o erro e deixar per- der essa significação global já con- quistada, ou seja, às custas do deta- lhe, sacrificar o todo. Outro exemplo: o aluno troca algumas notas do acompanhamen- to, mas mantém uma lógica harmô- nica. Também aqui percebemos que, embora ele tenha cometido um erro de entendimento, mostra que perce- beu que a harmonia não é uma su- cessão aleatória de acordes, mas uma progressão que caminha em di- reção a algum lugar. Trata-se, portanto, de um “erro possível” dentro da linguagem (tonal). O mesmo tipo de engano po- de ocorrer também em relação à me- lodia: o aluno muda algumas notas, mas mantém uma lógica melódica (a sensação de que há um começo, um ponto culminante e um final). Um exemplo de erro “não-pos- sível” para a linguagem é omitir um trecho, deixar de tocar alguns com- passos e não perceber. Esse tipo de engano, aliás, bastante comum, re- vela que o aluno não está conseguin- do atribuir nenhum sentido musical ao que toca. 20 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL Também na área da criação (onde é bem mais complicado falar em “erros”) essa postura interativa do professor faz muita diferença. Quando um aluno compõe ou im- provisa, principalmente na fase ini- cial da aprendizagem, se não tiver quem dialogue com a sua criação e interprete seu modo de entender e se colocar diante da linguagem musi- cal, acaba perdendo muito educacio- nalmente, pois suas criações correm o risco de se tornarem meras “auto- expressões” e não entrarem em diá- logo com algum universo musical já existente (SCHROEDER, 2009). 22 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL 3. O Professor de Música - Multiplicando Saberes Fonte: Música sem Limites3 ara Ongaro e Silva (2006, p. 3) “As atividades musicais nas es- colas devem partir do que as crian- ças já conhecem, desta forma, se de- senvolve dentro das condições e pos- sibilidades de trabalho de cada pro- fessor”. Pensando dessa forma, é im- portante que o professor, na escolha do repertório a ser utilizado na esco- la, valorize primeiramente o univer- so musical de seus alunos. Visto que, segundo Brito (2003), a criança tem 3 Retirado em https://musicasemlimites.com/os-segredos-para-ensinar-musica/ facilidade de aceitar e gostar de mú- sicas que até então eram desconhe- cidas. É importante que o educador aproveite este momento para am- pliar o universo musical de seus alu- nos. A criança é um ser “brincante” e, brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que des- cobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, “transforma- se em sons”, num permanente exer- cício: receptiva e curiosa, a criança P 23 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL pesquisa materiais sonoros, “desco- bre instrumentos”, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com prazer a música de todos os po- vos (BRITO, 2003, p. 35). Na escola, todas as crianças têm direitos iguais no acesso aos co- nhecimentos musicais levados pelo professor. De nada valerá, se o pro- fessor só se preocupar com a educa- ção de forma geral, e esquecer as es- pecificidades nela implicada. Neste sentido Brito (2003, p. 40) nos lembra “que cada criança é única e que percorre seu próprio ca- minho no sentido da construção do seu conhecimento em toda e qual- quer área”. De acordo com Brito (2003, p. 51), a história da música na educa- ção infantil brasileira segue as con- cepções pedagógicas no decorrer do tempo, e deve atender aos seus pro- pósitos. A música tem servido, desde algumas décadas, para formação de hábitos e atitudes, disciplina, condi- cionamento da rotina, datas come- morativas. Não obstante, não é somente o papel que ocupa na escola o motivo de preocupação dos educadores mu- sicais, mas também a forma como geralmente a música é trabalhada, a partir de coreografias mecânicas e estereotipadas, sem deixar espaço para a expressão. Ao ensinar música o professor deve respeitar a forma espontânea como a criança se expressa musical- mente, dar oportunidade ao aluno de explorar o universo sonoro e mu- sical e, aos poucos fazer interven- ções, para que a criança possa desco- brir e construir o seu conhecimento musical. Obviamente, respeitar o pro- cesso de desenvolvimento da ex- pressão musical infantil não deve se confundir com a ausência de inter- venções educativas. Nesse sentido, o professor deve atuar - sempre - co- mo animador, estimulador, prove- dor de informações e vivências que irão enriquecer e ampliar a experi- ência e o conhecimento das crianças, não apenas do ponto de vista musi- cal, mas integralmente, o que deve ser o objetivo prioritário de toda proposta pedagógica, especialmente na etapa da educação infantil. Entretanto, é importante con- siderar legítimo o modo como as cri- anças se relacionam com os sons e silêncios, para que a construção do conhecimento ocorra em contextos significativos,que incluam criação, elaboração de hipótese, descobertas, questionamentos, experimentos, etc (BRITO, 2003, p. 45). O ensino de música na educa- ção básica deve envolver atividades variadas, e explorar diversas possi- 24 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL bilidades para a formação musical do educando. O processo de apren- dizagem pode ser mais rico quando baseado em tarefas como a aprecia- ção, a execução e a criação. As aulas de música na escola devem envolver práticas que vão além do “cantar e tocar instrumen- tos de percussão”. A audição é essen- cial na formação musical do aluno e apresenta-se como base e inspiração para que ele vivencie sua prática de execução musical de forma ampla, explorando novos materiais e novas ideias. Além disso, torna-se um sub- sídio para o momento da composi- ção, onde os alunos são convidados a criar e a se colocarem nas músicas. Para que essas formas de convivên- cia com a música - execução, audição e criação - aconteçam de forma sa- tisfatória, é importante que o profes- sor apresente propostas e materiais diversos (ARALDI, FIALHO E DE- MORI, 2007, p. 97). O professor poderá estar aten- to às iniciativas de expressão musi- cal das crianças. Mesmo que não apresentando grandes aptidões mu- sicais, a criança deve ser incentivada e elogiada, pois, à medida que as ati- vidades musicais são desenvolvidas na sala de aula, a criança construirá o seu conhecimento em música e po- derá deixar a forma espontânea de se expressar musicalmente, sem traumas ou rótulos pejorativos que poderão carregar para a sua vida toda. A esse respeito, segue três tre- chos escritos por Maffioletti (2001) que ilustram o quanto a forma como as crianças se iniciam na música é determinante em sua vida: Aquela pessoa que acredita que sabe cantar provavelmente faz isso desde criança. Quando pe- quena alguém a olhou com ad- miração, aprovando suas tenta- tivas vocais, ou elogiando sua voz. Isso nos mostra que a ima- gem que teremos de nós mes- mos como alguém que sabe cantar e se expressar é construí- da na relação com os outros, pois a afinação ou desafinação é um conceito construído social- mente. A criança que desafina não teve sorte, ou não teve oportunida- de, de conviver num ambiente em que a confiança e as intera- ções fossem incentivadas. Con- tudo, ela não será uma criança desafinada para sempre, tudo vai depender do tipo de intera- ção que vai realizar com a músi- ca, das oportunidades que terá para cantar e utilizar sua voz como forma de expressão. Devido à forte repercussão que as habilidades musicais têm so- bre a identidade das pessoas, sua autoestima e sua expressi- vidade, a música não deve ser uma área de conhecimento ne- gligenciada na formação das crianças (MAFFIOLETTI, 2001, p. 129). A criança que chega à escola, já tem um repertório sonoro e musical 25 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL apreciado no seu dia a dia, por meio da natureza, em casa com os pais e com as mídias; e sabe muito bem utilizar-se desse conhecimento co- mo recurso para se expressar e se co- municar. É importante que o profes- sor não desconsidere essa cultura musical pré-escolar dos alunos, e sim busque aliá-la aos conhecimen- tos que tem intenção de desenvolver dentro da escola para que a criança continue, e até melhore sua forma de expressar-se. A professora pode legitimar ou não as manifestações populares dentro da escola, criando um espaço para sua realização ou impedindo que elas aconteçam. Questionar nos- sos preconceitos e nossos estereóti- pos pode ser uma forma de encarar- mos a situação com mais segurança, pois os meios de comunicação estão criando outra forma de sentir e per- ceber o mundo (MAFFIOLETTI, 2001, p. 127). Apesar da expectativa, e em muitos casos, da exigência das esco- las para que o professor de música monte um “espetáculo”, esse não de- ve ser seu principal objetivo. Isso não quer dizer que o “espetáculo” não possa acontecer na escola. Ele pode acontecer desde que seja uma consequência natural da aprendiza- gem ocorrida dentro da sala de aula, com objetivo de socializar a experi- ência com os demais alunos da esco- la. Nesse caso, deve-se tomar cuida- do para que todos os alunos estejam inclusos, e não perder muito tempo com cansativos e repetitivos ensaios, pois, o mais importante é valorizar todo o processo de aquisição de co- nhecimento e, não apenas o produto final. As atividades musicais pro- postas pelo professor que visem de- senvolver na criança uma sensibili- zação sonora, deve incluir na esco- lha do seu repertório uma diversida- de musical, com músicas que apre- sentem diferentes ritmos, timbres, dinâmicas, melodias, etc., para exer- citar essa habilidade. Tem havido ótimas produções para crianças, os músicos e os com- positores brasileiros tem se preocu- pado com a qualidade com que é ofe- recido ao público infantil. [...] Tam- bém poderemos encontrar no co- mércio canções cuja letra carece de sentido, sem nenhum atrativo sono- ro e com andamento sempre igual da primeira até a última música. A letra de muitas dessas canções deixa transparecer o conceito que muitos adultos têm sobre a criança como um ser “bobinho” que não pensa e vive no mundo da fantasia. O pior de tudo, é que esse tipo de gravação vai para a escola e roda o dia inteiro co- mo música de fundo. Cuidado! A produção é enorme, é preciso saber 26 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL escolher! (MAFFIOLETTI, 2001, p. 127 e 128). Brito (2003) acredita que “um trabalho pedagógico-musical deve se realizar em contextos educativos que entendam a música como pro- cesso contínuo de construção, que envolve perceber, sentir, experimen- tar, imitar, criar e refletir.” A autora também chama a atenção, acrescen- tando que a “educação musical não deve visar à formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à for- mação integral das crianças de hoje” (BRITO, 2003, p. 46). Para a construção do conheci- mento musical é fundamental apre- sentar possibilidades, para que alu- nos vivenciem a música, experimen- tem, improvisem, sendo orientados a refletir sobre os aspectos estético e musicais, entendendo a música co- mo uma área do conhecimento. Este trabalho deve incluir todos os alunos e não apenas os ditos “talentosos”, para assim promover o ser humano. Considerando que música é fundamental em diversas manifesta- ções culturais do ser humano, e que as inclinações musicais aparecem desde a primeira infância, podemos nos surpreender com indivíduos que "não gostam" de música ou não con- seguem perceber e executar deter- minados instrumentos, os quais são chamados de amúsicos (AGUIAR; BRANCO, 2010). Neste contexto, a educação musical constitui uma contribuição significativa e sistemática ao proces- so integral do desenvolvimento hu- mano. Uma das principais tarefas consiste em estudar para chegar a influenciar positivamente a conduta do homem em relação ao som e à música, não apenas ao longo de todo o processo vital, mas também diante da enorme diversidade de circuns- tâncias humanas (GAINZA, 1988). A educação musical carece de profissionais especializados e capa- citados para atender a diversidade, sendo necessário que estejam em constante investigação acerca das al- ternativas metodológicas que con- templem as pessoas com deficiên- cias, em suas especificidades. Louro, Alonso e Andrade (2006) partem do pressuposto que deficiência é uma condição, não um estado de saúde que se agrava, ou não, com uma prática educativa, seja ela qual for. Logo, não é necessário, portanto, reservar o ensino da mú- sica para pessoas com deficiência so- mente a instituições especializadas ou direcioná-las unicamente com intenções terapêuticas, pois assim, estaremos negando o princípioda inclusão social de um contingente expressivo de alunos e quem sabe, possíveis profissionais da música. Portanto, as escolas e os professores 27 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL de música precisam estar sensíveis e preparados para compreender a di- versidade de nossa população (LOU- RO, ALONSO, ANDRADE, 2006). O Trabalho com a Musica Quando há má formação con- gênita ou lesões no cérebro, a per- cepção musical que utiliza várias áreas do cérebro, pode ficar compro- metida e a música é uma dessas de- ficiências que comprometem a mu- sicalidade do ser humano, contudo, alguns de seus diversos tipos, podem passar-se despercebidos caso não comprometam outras áreas da cog- nição. Conceituada por Sacks (2007) como inabilidade para se compreen- der ou executar aspectos musicais, pode ser congênita ou adquirida em decorrência de traumatismo ou der- rames cerebrais. Henson (1985) e Botez (1987 apud Aguiar e Branco, 2010) classificam os vários tipos de amusias em dois gru- pos: A "a música receptiva" (inca- pacidade de diferenciar os ele- mentos musicais, geralmente acompanhadas por desprazer por músicas) e, A “a música expressiva" (inca- pacidade de execução de di- versas práticas musicais). Os tipos mais comuns são: Amusia vocal (incapacidade de entoar notas musicais: canto, murmúrio ou assobio); Apraxia instrumental (incapa- cidade de executar instrumen- to musical); Agrafia musical (incapacidade de escrever notação musical); Alexia musical (incapacidade de leitura de notação musical); Amnésia musical (perda da memória resultando em inca- pacidade de reconhecimento de trechos musicais conheci- dos); Desordens do senso rítmico, etc. Os sintomas envolvidos (agra- fia, apraxia, amnésia etc.) demons- tram que a música é gerada num conjunto de atividades e processos cognitivos, independentes de práti- cas musicais específicas, também presentes em outras atividades hu- manas como, por exemplo, a lingua- gem. Semelhantemente, Marin e Perry (2006 apud PERERIVA; TRISTÃO, 2006) definem amusia como desordens clínicas no campo da percepção, da leitura, escrita e performance musical, possivelmen- te constatada por meio de imagens cerebrais. Pederiva e Tristão (2006) identificaram, na literatura médica do início do século XX, relatos de vá- rios casos onde indivíduos, após le- 28 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL são em algum hemisfério cerebral, haviam perdido vários aspectos de suas habilidades musicais. Contudo, houve amúsicos que não apresenta- ram alterações nos padrões da fala, apesar da profunda deficiência na percepção musical. Esses dados in- dicam que a afasia (perda da função verbal) não está, necessariamente, acompanhada de amusia ou vice- versa. Alguns exemplos de casos cita- dos por Muszkat (2009): Maurice Ravel (1835-1937), após doença de- generativa progressiva, apresentou dificuldades na transposição musi- cal, isto é, na passagem da modali- dade auditiva para a visual e/ou mo- tora, mesmo preservadas a percep- ção e as ideias sonoras, ficando inca- pacitado de expressá-las através da escrita e execução musicais. V. I. Shebalin (1902-1963), compositor russo que, sofrendo 2 AVC's em ter- ritório da artéria cerebral média es- querda, apresentou afasia severa, mantendo intacta sua habilidade pa- ra compor. Jean Langlais (1907- 1991), organista e compositor fran- cês, tornou-se afásico, aléxico e agráfico após hemorragia temporo- parietal esquerda, inalterando sua capacidade para compor, improvisar e ler notação musical. Entre os autores Sacks (2007), Oliveira (2003), Springer e Deutsch (2006 apud PERERIVA; TRISTÃO, 2006), há consenso em que o hemis- fério esquerdo estaria ligado aos as- pectos dos processos musicais refe- rentes ao julgamento sobre duração, ordem temporal, sequência e ritmo. Enquanto, o hemisfério direito esta- ria ligado aos julgamentos sobre me- mória tonal, timbre, reconhecimen- to de melodias e intensidade. Há ca- sos decorrentes de derrames em áreas específicas do cérebro, e em caso de derrames no hemisfério es- querdo, um indivíduo poderia vir a sofrer de formas de surdez para rit- mos, sem surdez para tons, ou ainda, se sofresse derrames no hemisfério direito, surdez para tons, sem surdez para ritmos, como menciona Sacks (2007). Ele ainda afirma que a sur- dez total para ritmos é rara, pois o ritmo é representado no hemisfério esquerdo do cérebro e também nos sistemas subcorticais nos gânglios basais, cerebelo e outras áreas, as- sim, alguns indivíduos são capazes de apreciar o ritmo, mas não a mé- trica, ou vice-versa. Indivíduos com surdez para tons podem apreciar música e gostar de cantar, embora apresentem difi- culdades no reconhecimento de er- ros numa melodia ou no cantar afi- nadamente. Sobreira (2003), tratando de desafinação vocal, seleciona várias definições sobre formas de amusia, 29 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL referentes à percepção e/ou execu- ção dos sons. Os demais autores revisados trouxeram outros conceitos, que de- nominam as diferentes formas da amusia se apresentar: Asonia, inabilidade de se com- preender ou ouvir as diferen- ças entre as notas da música, impossibilitando cantar ou to- car instrumento de corda, afi- nadamente; Diplacusis, quando “uma nota é ouvida como duas ou mais notas diferentes, possivelmen- te acompanhadas por ruídos e batimentos produzidos pela interação dos dois sons”; Amelodia ou atonalia, “inabili- dade da pessoa organizar to- nalmente as melodias, não percebendo a diferença entre uma melodia tonal de outra atonal”; Dysmelodia, possibilidade de a desafinação ser um traço ge- nético, incapacidade percepti- va para o reconhecimento de notas certas e erradas numa melodia; Distimbria, "pode coexistir com a deficiência na discrimi- nação de tons ou ocorrer isola- damente"; Surdez para harmonia, faz com que se ouça as músicas como linhas descontínuas, contrapontísticas, perdendo a escuta vertical e o senso har- mônico na passagem de acor- des, que assemelha-se a simul- tagnosia auditiva, em que o ambiente auditivo, às vezes, se divide em elementos distintos e desvinculados, quando, sons da rua, domésticos ou de ani- mais, por exemplo, destacam- se, monopolizando a atenção do indivíduo por não estarem integrados ao contexto ou pai- sagem auditiva. Os autores revisados apontam outras formas de amusia, ainda sem denominação conceitual estrutura- da, dentre elas: a incapacidade em reconhecer dissonâncias; perda par- cial ou total dos sentimentos e emo- ções evocados por música; ausência de imagens mentais musicais. Na amusia total, que é rara, os sons não são vivenciados como tais e, conse- quentemente, a música não é viven- ciada como música (SACKS, 2007). A partir das conceituações aci- ma, podemos elencar algumas com- petências para os educadores musi- cais: Conhecer e reconhecer as for- mas de amusia para realiza- rem um trabalho mais real com os sujeitos, principalmen- te em se tratando de portado- res de necessidades especiais, os quais também fazem parte do universo da escola regular; Ter uma visão ampla do fazer musical e não somente focada na performance instrumental 30 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL ou nos métodos tradicionais de ensino musical; Saber promover adaptações metodológicas, instrumentais e musicais; Trabalhar em equipe (junto com neuropsiquiatra; fonoau- diólogo; psicólogo, etc.) Ter metas bem definidas com cada aluno ou grupo. Para tanto, pensar nas seguintes questões: Para quem é a aula (público/ perfil do aluno, deficiência que ele tem) Para que serve tal atividade, ou tal conteúdo (o que se pre- tende trabalhar com cada alu- no ou com a atividade propos- ta) Como fazer (metodologia. Co-mo atingir os objetivos) Ter uma postura adequada. Acreditar sempre no material hu- mano que tem em mãos. Respeitar o tempo e os limites dos alunos, mas não deixar de trabalhar as dificulda- des, nem de exigir boa qualidade musical (AGUIAR; BRANCO, 2010). Educação Musical Especial Louro (2006) afirma que o nosso sistema nervoso é adaptável e tem capacidade de reorganizar-se mesmo depois de sérias lesões no cé- rebro. Quanto ao fazer artístico, muitas adaptações podem ser pro- porcionadas pelo organismo para adquirir a atividade artística dese- jada. Sacks (2007) evidencia essa plasticidade cerebral no caso de amusia, quando houve perda na ca- pacidade de evocar imagens mentais musicais, necessários à capacidade de compor, relatado por uma paci- ente: “Só consigo me lembrar de um tom porque me lembro de como era a sensação de cantá-lo. Basta come- çar o processo de cantar, e lá está ele”. Segundo Sacks, ela conseguiu superar esta dificuldade quando aprendeu a processar música pelo computador, dando continuidade às suas composições, orquestrando-as ou desenvolvendo-as com a ajuda de seu colaborador e do computador, sua memória auxiliar, já que não conseguia reter na sua própria. Louro (2006) chama esse re- curso de Tecnologia Assistiva, ramo da Terapia Ocupacional que promo- ve adaptações para facilitar as ativi- dades funcionais de pessoas com de- ficiências, seja: óculos, bengala, ou um complexo sistema computadori- zado. O emprego da música para portadores de deficiência é redimen- sionado por Louro (2006) em dois enfoques: como terapia (atividades 31 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL musicais controladas, para ampliar o desenvolvimento e a cura durante o tratamento) ou na terapia (quando um terapeuta, musicoterapeuta ou não, utiliza a música como parte de um processo não necessariamente ligado à música). É importante des- tacar que o direcionamento pedagó- gico musical não pode ser conside- rado um processo terapêutico, já que os objetivos pedagógicos musicais diferem dos reabilitacionais. Cabe observar uma confusão que fazem algumas pessoas, inclu- sive professores de música, ao consi- derarem que o trabalho musical com deficientes é área de competência exclusiva da musicoterapia. Fernan- des (1999) diz que a educação musi- cal especial é, muitas vezes, tratada pela musicoterapia, fazendo com que ocorra na educação musical bra- sileira, carência de produção cientí- fica. A musicoterapia é um proces- so que requer planejamento e moni- toramento, onde o que importa é a relação da música com o paciente e não a música em si mesma, os con- ceitos estéticos e teóricos que a per- meiam. Bruscia (s. d apud Louro, 2006, p. 63) conceitua musicotera- pia como “processo sistemático de intervenção em que o terapeuta aju- da o cliente a promover a saúde uti- lizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mu- dança”. Para Louro (2006), tanto a educação musical quanto a musico- terapia tem como objetivo atingir o ser em sua totalidade. Na musicote- rapia isso acontece através do me- lhoramento da saúde, que pode se dar, ou não, através de um aprendi- zado. Já a educação musical, preo- cupa-se com o processo ensino- aprendizagem musical. Em pacien- tes com amusia, há necessidade de que o ensino musical esteja direcio- nado aos casos específicos e que o aluno amúsico aprofunde sua rela- ção com a própria música, ocorren- do através da educação musical es- pecial. Para tanto, reconhecemos a eficácia da musicoterapia como in- tervenção terapêutica, e a enxerga- mos como forte aliada no processo de ensino-aprendizagem musical es- pecial, em casos de amusia (AGUIAR; BRANCO, 2010). 32 32 33 INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO MUSICAL 33 4. Referências Bibliográficas AGUIAR, Frederico Neves de; BRANCO, Cristine. Amusia e a questão da inclusão no ensino de música (2010). Disponível em: www.seer.unirio.br/index.php/colo- quio/article/view/558 Acesso em: 21 abr. 2011. ALMEIDA, C. M. G. Educação musical não-formal e atuação profissional: um sur- vey em oficinas de música de Porto Alegre. 2005. Dissertação (Mestrado em Música) - Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. ARALDI, Juciane; FIALHO, Vania Mala- gutti; DEMORI, Polyana. Ensinado músi- ca na escola: conceitos, funções e práticas educativas. In: RODRIGUES, Elaine; RO- SIN, Sheila Maria (org.) Infância e práticas educativas. Maringá, Eduem, 2007, p. 91 100. ARAÚJO, R. 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