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o fIM Da guerra frIa e a Nova orDeM MuNDIal 241 Outro sério problema para os Estados na eco- nomia globalizada é o volume gigantesco dos valores financeiros em circulação pelo mundo, que tanto po- dem estimular fortemente a economia desta ou da- quela região, com imensos investimentos de capitais, quanto sufocá-la, com a saída dos capitais aplicados. Nesse quadro monetário internacional têm surgi- do propostas para sua alteração, visando a uma maior garantia de estabilidade nos fluxos e valores. Um exem- plo é a sugestão feita em 1995, e reiterada nos anos se- guintes pelo G24, grupo dos 24 países representantes das nações em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia. Na proposta, tomando o FMI como avalista, seria criado um novo padrão monetário in- ternacional baseado num valor médio de uma cesta composta das cinco principais moedas do mundo. O contexto dessas discussões pode ser mais bem com- preendido se for traçado um breve histórico da ordem monetária internacional ao longo do século XX. Até meados dos anos 1990, a economia mundial, em contínua expansão, contou com várias ordens monetárias, cuja variação espelhou as transforma- ções históricas do capitalismo. do padrão-ouro à supremacia do dólar: o sistema Bretton Woods Do século XIX a 1914, o mundo capitalista oci- dental contou com um sistema monetário susten- tado no padrão-ouro. Isso significava que todas as moedas nacionais eram convertidas em quantidades fixas e padronizadas de ouro, o que determinava as respectivas taxas cambiais nas relações comerciais e de fluxos de capitais entre as nações. Essa foi a épo- ca da predominância internacional da libra esterlina inglesa. Com a Primeira Guerra Mundial, a conversibili- dade foi abandonada em meio às crescentes emissões monetárias dos vários países, originando as taxas fle- xíveis em vigor na década de 1920. Tal sistema definia a relação entre as moedas, obtida com base em seus valores em 1914, multiplicados pelo diferencial de in- flação entre elas. A ordem flexível permitiu amplos fluxos de capi- tais especulativos, provocando profundas oscilações, que afetaram o intercâmbio internacional de merca- dorias e de serviços e os próprios valores monetários. Ao mesmo tempo, deu-se a ascensão da supremacia internacional do dólar norte-americano, expressando a liderança dos Estados Unidos no mundo ocidental. Próximo do final da Segunda Guerra Mundial, em 1944, a ordem monetária internacional foi nova- mente reorganizada no Acordo de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Nessa localidade do estado de New Hampshire, Estados Unidos, reuniram-se represen- tantes de 44 países, incluindo a União Soviética, e definiu-se um regime de câmbio em que o ouro e o dólar eram transformados no eixo central do sistema monetário internacional. p o acordo de Bretton Woods determinava que os estados unidos garantiriam a conversão do dólar em ouro entre os bancos centrais dos países, baseada na paridade de 35 dó- lares por onça-troy de ouro (exatamente 31,104 gramas). Na foto de 1944, os representantes reunidos em Bretton Woods. B e tt m a n n /C o r b is /L a ti n s to c k No fundo, o dólar substituía a posição que fora antes ocupada pela libra esterlina. Esse sistema, po- rém, começou a apresentar dificuldades pouco tempo depois, principalmente devido à emissão progressiva de dólares por parte dos Estados Unidos, a fim de ga- rantir recursos para financiar seus gastos públicos, como os programas sociais do presidente Kennedy e a política externa, principalmente a Guerra do Vietnã. A emissão descontrolada de dólares resultou em inflação exportada para a economia mundial, atrain- do, por um lado, os protestos de várias personalidades internacionais, especialmente do presidente francês Charles de Gaulle, e, por outro, a crescente troca das reservas em dólares de vários países por respectivas quantidades em ouro, colocando em risco as próprias reservas em ouro dos Estados Unidos. Em 1971, o presidente norte-americano Richard Nixon quebrou o Acordo de Bretton Woods simples- mente suspendendo a conversibilidade do dólar ao ouro, e pouco depois desvalorizando o dólar e liberan- do seu preço em relação ao ouro e a outras moedas. HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 241 4/15/13 10:32 AM 242 Do pós-guerra ao século XXI o reinado do dólar: o antissistema Bretton Woods e as crises Em 1976, oficializou-se outra ordem monetária internacional, que deixava livre a taxa cambial dos países. Era um antissistema Bretton Woods, inspira- do nos monetaristas (neoliberais) norte-americanos liderados por Milton Friedman, em que prevaleciam as taxas flutuantes das moedas, livremente determi- nadas pelos mercados. Foi dentro desse antissistema que, na década de 1970, ocorreu uma acentuada desvalorização do dólar em relação a algumas moedas fortes, especialmente o iene (Japão) e o marco alemão, situação que só foi re- vertida durante os anos 1980, com o governo Reagan. Graças ao pagamento de altas taxas de juros aos in- vestimentos feitos nos Estados Unidos, foram atraídos enormes capitais internacionais, sem, contudo, anular os constantes deficits norte-americanos. O grande fluxo de recursos para os Estados Uni- dos dispensava a emissão de moeda e até servia para cobrir despesas. A partir de 1985, o governo norte- -americano, sob o comando do secretário do Tesouro James Baker, retomou passo a passo a normalização da taxa cambial do dólar, desvalorizando-o em rela- ção ao iene e ao marco alemão e conservando a taxa cambial flutuante. Essa medida, que facilitava as idas e vindas do capital especulativo, resultou em violen- tas oscilações das taxas cambiais das nações. Um exemplo das consequências desestabiliza- doras que podem ser provocadas pela entrada de grande volume de investimentos seguida de fuga de capitais especulativos aconteceu no México, em 1994-1995, obrigando o governo desse país a buscar ajuda financeira internacional, especialmente nos Estados Unidos e em órgãos internacionais. O empe- nho norte-americano visou, antes de tudo, evitar uma completa quebradeira no México, cujas dificuldades, temia-se, poderiam irradiar-se para todo o Nafta. Para o México, mesmo assim, a crise derrubou o PIB em mais de 7%, dobrou o desemprego e fez a inflação sal- tar de 7,1%, em 1994, para mais de 48%, em 1995. O “efeito tequila” – como ficou conhecido – respingou em vários outros países latino-americanos. A especulação monetária repetiu-se com uma onda de novos colapsos financeiros, como aconteceu, em 1997, em alguns países do Sudeste Asiático; em 1998, na Rússia; e em 1999, no Brasil. Foi nessa situação de crise que nasceu o G20, grupo que congrega repre- sentantes das grandes economias dos países emergen- tes e desenvolvidos, com o objetivo de obter estabilida- de financeira e política para evitar novas crises interna- cionais. Mesmo assim, os rastros de frequentes crises continuaram. Entre os anos de 2000 e 2002, foi a vez da Turquia e da Argentina, provocando efeitos em vários outros países, inclusive no Brasil. Até mesmo a situa- ção norte-americana após os atentados terroristas de setembro de 2001 serviu de palco para acentuadas os- cilações nos investimentos, o que reforçou a volatilida- de do sistema financeiro internacional. Vários países, buscando evitar depender de empréstimos interna- cionais (FMI) ou de ataques especulativos nos últimos anos, empenharam-se em acumular reservas, alguns deles chegando a socorrer a entidade em 2009, frente o alastramento da crise iniciada em 2008. A crise de 2008 tem sido apontada como a mais grave da economia capitalista desde 1929. Iniciou-se nos Estados Unidos, no final do governo de George W. Bush, prosseguindo durante o primeiro mandato de Barack Obama. Irradiando-se pelo mundo, a crise abalou as crenças num mercado autorregulado – não precisando de controle externoa ele – e nos fundamen- tos neoliberais, reativando o intervencionismo estatal para conter colapsos econômicos ainda mais intensos e profundos por todo o sistema internacional. Estima- va-se que, em meados de 2009, o volume de recursos despejados pelos tesouros e bancos centrais do planeta teria chegado a US$ 9 trilhões para socorrer bancos e empresas. Propagaram-se as desvalorizações de bens e perdas de investimentos, sendo que somente nos Esta- dos Unidos estimava-se o prejuízo de US$ 13 trilhões no valor de suas propriedades, mais de 6 milhões de empregos perdidos e uma taxa de desemprego que pa- recia atingir “o nível mais alto registrado desde 1940”.5 A partir de 2010, nos destaques sobre economia internacional, ganhavam espaço as crises financeiras dos países do sul da Europa, cujas dívidas externas pú- blicas e privadas somavam mais de US$ 3,4 trilhões, a maior parte delas tendo como credores os bancos de Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Suíça. Esses países em crise financeira eram chamados de Piigs (acrônimo de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Es- panha), uma forma depreciativa de se referir às cinco economias (em inglês tem sonoridade e escrita seme- lhante a “porcos”), cujas dificuldades e possibilidade de calote irradiavam a crise para todo o sistema da Zona do Euro. Firmava-se a convicção de que o sistema mo- netário internacional continuava à mercê da força de seu gigantismo, com suas seguidas e sérias crises. 5 KRUGMAN, Paul. Como puderam os economistas errar tanto? O Estado de S. Paulo, 6 set. 2009. p. B8. HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 242 4/15/13 10:32 AM o fIM Da guerra frIa e a Nova orDeM MuNDIal 243 Na Europa, para dar conta dessa situação, dis- cutiam-se medidas de socorro e atuações, apesar de todas as dificuldades e divergências entre seus Es- tados-membros. Não apenas entre Estados, mas tam- bém no interior das próprias nações, já que os efeitos das medidas atingiam diferentemente os diversos grupos sociais. Entre as principais respostas apresen- tadas, boa parte recaía sobre políticas de austeridade, como não substituição dos funcionários aposentados, redução dos salários nominais, fortes cortes nas des- pesas públicas, diminuição dos serviços sociais e au- mento de tributação. Medidas com grande resistência social, ativando grandes manifestações públicas e di- ficuldades políticas. norte e sul: desigualdades e meio ambiente A globalização e suas políticas neoliberais ao mesmo tempo que motivaram surtos de otimismo desenvolvimentista em alguns setores sociais, tam- bém atraíram críticas quanto a seus efeitos sociais e sobre o meio ambiente. Entre os aspectos mais criticados estava o agravamento das desigualdades econômicas e sociais em todo o mundo. Contribuí- ram para isso: as privatizações; a globalização finan- ceira, enquanto os instrumentos de regulação, os bancos centrais nacionais, estavam fragmentados em cerca de 190 nações; o enxugamento do Estado; a diminuição de custos na produção; a transferência de centros produtivos para regiões mais atraentes do ponto de vista financeiro. Somados, esses fatores provocaram processos de dinamização comercial e financeira e, ao mesmo tempo, altos índices de desemprego e de concentração de renda, com bol- sões de riqueza ou de pobreza e miséria. Contudo, vários governan- tes, nos últimos anos, buscaram combinar as políticas neoliberais e sociais, temperando medidas que, se não reverteram por completo as desigualdades sociais, consegui- ram alavancar o desenvolvimento econômico e a inclusão social, despencando as taxas de pobreza e miséria, exemplos evidentes entre BRICS, América Latina e diver- sos outros países. Mesmo assim, continuaram carregando enormes p Jovem coletando água em uma área ocupada por cerca de quarenta mil pessoas nos arredores de Madri, espanha, formando um bolsão de pobreza na capital es- panhola. foto de 2010. N o a h A d d is /C o r b is /L a ti n s to c k a UniãO EUrOPEia dividida Durante doze anos, a Zona do Euro – inspirada pelos dogmas liberais – funcionou como uma simples união monetária, sem equi- valente político e social. Os déficits comerciais dos países do sul constituíam a imagem oposta dos excedentes registrados no norte. A moeda única inclusive serviu à Alemanha, ao “esfriar” sua econo- mia depois da custosa reunificação de 1990. Mas a crise da dívida balançou esse equilíbrio. Berlim reagiu exportando sua receita de austeridade, o que agravou a polarização social no seio dos Estados do sul e as tensões econômicas no cora- ção da Zona do Euro. Surge agora um eixo norte-credor/sul-deve- dor, nova divisão do trabalho orquestrada pelos países mais ricos. TSIPRAS, Alexis. Nossa solução para a Europa. Le Monde Diplomatique Brasil, n. 67, fev. 2013. p. 20. índices de desigualdades sociais e suas consequên- cias. Um exemplo da reversão, segundo o Banco Mundial, foi o indicador sobre o total da população que vivia com renda indivi dual inferior a US$ 1,25 (o novo método para definir a linha de pobreza), o qual chegou a 1,39 bilhão de pessoas em 2005, 25% da população mundial, caindo para 1,29 bilhão em 2008, sendo a China a principal responsável por essa diminuição. ∏ charge publicada na Folha de S. Pau- lo, em fevereiro de 2012. HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 243 4/15/13 10:32 AM 244 Do pós-guerra ao século XXI Outra área que tem causado preocupação rela- ciona-se ao agravamento dos problemas ambientais e ao aproveitamento dos recursos naturais, que pa- recem incompatíveis com o crescimento econômico mundial. Um possível controle do problema exigiria uma atuação planetária, porém prevalece uma teimo- sa ausência de regras e falta de ação de órgãos inter- nacionais, resultando na incapacidade de uma atua- ção efetiva mundial. Estudiosos insistem na não sustentabilidade do meio ambiente frente à dinâmica de nossa socieda- de produtora/consumista. Um exemplo contunden- te são as mudanças climáticas como decorrência do consumo dos recursos naturais, muito além do que a natureza consegue repor. Estima-se que a elevação da temperatura do planeta neste século, devido ao efeito estufa advindo principalmente pela emissão de po- luentes, será de 1,4 a 5,8 graus, ampliando o número e a dimensão de furacões, inundações e secas, provo- cando a elevação dos oceanos e o desaparecimento de diversas ilhas e regiões. Segundo Nicolas Stern, ex- -economista-chefe do Banco Mundial, as mudanças climáticas poderão resultar numa recessão econômi- ca mundial jamais vista, com uma perda de cerca de 20% do Produto Bruto Mundial. Como destaca o jornalista Washington No vaes,6 segundo dados levantados sobre o ano de 2005, as emissões de gases que provocam o efeito estufa chega- ram a 25 bilhões de toneladas, sendo 25% desse total por parte dos Estados Unidos, numa evolução mundial que tem crescido acima de 1% ao ano desde o ano 2000. São questões que escapam às tradicionais divisões ideo lógicas, já que nem o capitalismo nem o socialismo se mostraram capazes de criar padrões de produção e consumo sustentáveis, e matrizes enérgicas compatí- veis com as necessidades e possibilidades do planeta. Segundo relatório do Programa das Nações Uni- das para o Desenvolvimento (Pnud), da ONU, 80% da produção e do consumo estão nos países industriali- zados, que abrigam menos de 20% da população mun- dial. O Brasil ocupa a posição de quarto maior emis- sor de poluentes do planeta, sendo que 75% desses poluentes decorrem dos desmatamentos, queimadas e mudanças no uso do solo, principalmente na Ama- zônia, apesar de alguns avanços nos últimos anos. No final do século XX, a Organização Inter- nacional do Trabalho (OIT) divulgou que estavam desempregados ou subempregados mais de 30% da população economicamente ativa (PEA) do mundo, formada por cerca de 1 bilhão de pessoas.Taxas ele- vadíssimas de desemprego atingiam inclusive países europeus desenvolvidos, como Espanha, França e Alemanha. Destacando somente o número de desem- pregados que haviam sido registrados em 2007, a OIT chegava a um total de 179,5 milhões e, ante a crise internacional iniciada em 2008, estimavam-se acrés- cimos progressivos, sendo que em 2012 alcançou 197 milhões (dos quais 73,8% eram jovens). As estimativas da OIT para 2013 é de um acréscimo de 5,1 milhões e mais 3 milhões de desempregados em 2014. Nesse quadro, ou o Estado estava desempenhan- do cada vez menos a função de garantir o bem-estar e de agir para atenuar as diferenças sociais, ou estava se mostrando impotente para controlar a piora da situa- ção. No início do século XXI, os grupos humanos me- nos favorecidos, especialmente as crianças dos países pobres, eram as principais vítimas de uma realidade injusta e concentradora de renda. Numa ordem internacional em que o mercado passou a ser cada vez mais o eixo da vida, da organiza- ção social e da política, não é de estranhar a crescente valorização do consumo, definidor do status social, orientador de objetivos e metas indivi- duais, e a destruição do meio ambiente em virtude da exploração mal planejada dos recursos naturais. Com uma população mundial de cerca de 7 bilhões de habitan- tes em 2013, acrescentava-se o aumento de aproximadamente 70 milhões a cada ano, potencializando as fragilidades do meio ambiente. ∏ poluição lançada por uma grande usina, em Xan- gai, china, em 28 de janeiro de 2010. os impactos causados pela poluição têm desencadeado suces- sivos protestos na china. Q il a i S h e n /E p a /C o rb is /L a ti n s to ck 6 Disponível em: <www.camara.gov.br/internet/tvcamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=44814&velocidade=100k>. Acesso em: 6 nov. 2009. HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 244 4/15/13 10:32 AM o fIM Da guerra frIa e a Nova orDeM MuNDIal 245 Para rEcOrdar: a evolução do capitalismo – globalização atividadEs 1. orientando-se pelo esquema-resumo e utilizando informações do capítulo estudado, explique os fatores que contribuíram para o fim da união soviética em 1991. 2. partindo do esquema-resumo, associe o processo de globalização ao fortalecimento das teorias neoliberais. MERCADO SOCIEDADE NEOLIBERALISMO NOVA ORDEM MUNDIAL EUA, JAPãO, ALEMANhA E PAíSES DESENVOLVIDOS blocos econômicos Norte/Sul superação das fronteiras liderança novos integrantes BRIC e emergentes teóricos: Friedrich Hayek e Milton Friedman aplicação: Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Helmut Kohl CAPITAL ECONOMIA DE MERCADO TRABALHO PRIORIDADE SOCIAL p Modernidade e liberalismo 1ª- e 2ª- Revolução Industrial Século XX: guerras e lideranças dos Estados Unidos 1929: crise liberal e o keynesianismo (bem-estar social) 3ª- Revolução Industrial • microeletrônica/química fina • biotecnologia • megainvestimentos • superconcentração de capitais p Questão social e lutas trabalhistas Socialismos Sindicatos e mobilização Revolução Russa de 1917 • URSS – planificação URSS – crise • Gorbatchev 1989: queda do Muro de Berlim Dezembro de 1991: fim da União Soviética Guerra Fria 3 3 • Nafta • União Europeia • Bloco do Pacífico • “Estado mínimo” – exclusão social • crise do Estado de bem-estar social • migrantes e xenofobia para mercadorias e capitais, não para trabalho e direitos HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 245 4/15/13 10:32 AM 246 Do pós-guerra ao século XXI 1 conhecendo o ponto de vista de um geógrafo No texto a seguir, o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves faz algumas considerações sobre os limites existentes na relação das sociedades com a natureza. Leia-o e, a seguir, responda às questões que o acompanham. a) O autor refere-se, no início do seu texto, ao discurso malthusiano. Mobilizando seus conhecimentos de Geo- grafia, pesquise quem foi Thomas Malthus e que teoria ele defendia acerca do crescimento populacional. b) Cite ao menos dois recursos no planeta cujo esgotamento representa um risco iminente. c) Para Carlos Walter Porto-Gonçalves, a quem deve ser atribuída a responsabilidade para o esgotamento dos recursos naturais do planeta? d) Na opinião do autor, é possível a concretização do sonho de criar uma sociedade em que todos os habi- tantes gozem dos padrões de vida hoje desfrutados pelas classes sociais mais elevadas? Por quê? 2 leitura e interpretação de texto O texto que se segue foi escrito em junho de 2004 pelo romancista moçambicano Mia Couto para o perió- dico Savana. Leia-o atentamente e depois responda às questões que o acompanham. ExErcíciOs dE história Quando se sabe que 20% dos habitantes mais ricos do planeta consomem cerca de 80% da matéria-prima e energia produzidas anualmente, vemo-nos diante de um modelo-limite. Afinal, seriam necessários cinco planetas para oferecermos a todos os habitantes da Terra o atual estilo de vida que, vivido pelos ricos dos países ricos e pelos ricos dos países pobres, em boa parte é pretendido por aqueles que não partilham esse estilo de vida. Vemos, assim, que não é a população pobre que está colocando o planeta e a humanidade em risco, como insinua o discurso malthusiano. A promessa moderna de que os homens e as mulheres, sendo iguais por princípio, são iguais na prá- tica não pode concretamente ser realizada se a referência de estilo de vida para essa igualdade for o american way of life. Mais do que nunca vemos que a modernidade é colonial, não só na medida em que não pode universalizar seu estilo de vida, mas pelo modo como, pela colonização dos corações e mentes, procura instilar a ideia de que é desejável e, acima de tudo, possível que todos se europeízem ou ameri- canizem. Entretanto, esse estilo de vida só pode existir se for para uma pequena parcela da humanidade, sendo assim, na sua essência, injusto. [...] É, assim, enorme o risco que se coloca para toda a humanidade e todo o planeta quando se unifica ou se pretende unificar um mesmo estilo de vida. A homogeneização é, deste modo, contrária à vida, tanto no sentido ecológico quanto cultural. O que a espécie humana – homo sapiens sapiens – fez ao longo de sua aventura no planeta foi construir diferentes sentidos culturais para suas práticas, a partir de diferentes vivências com diferentes ecossistemas e as variadas trocas entre culturas que ao longo da história se pode experimentar. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 31-32. Os americanos entregam o poder aos iraquianos: este foi o cabeçalho que, esta semana, dominou o noticiário internacional. A manchete está cheia de equívocos. Não estamos perante um fato mas diante de um argumento. O que os americanos entregaram não foi o “poder”, mas uma situação de caos quase incontrolável. Também não é verdade que esse “poder” (que é realmente uma ausência de poder) tenha sido entregue aos “iraquianos”. Foi provisoriamente entregue a um grupo bem identificado a quem falta ainda força efetiva e representatividade formal. A imagem do atual Iraque foi fabricada por acumulação de logros e mentiras de diferentes sinais e prove- niências. Um dos maiores equívocos que consumimos provém do uso da palavra “guerra” para designar HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 246 4/15/13 10:32 AM o fIM Da guerra frIa e a Nova orDeM MuNDIal 247 a) O artigo acima foi escrito por ocasião do fim da ofensiva norte-americana no Iraque em 2004. De acordo com seus estudos, o que motivou os ataques dos Estados Unidos ao país do Oriente Médio? b) Qual é a crítica que o escritor Mia Couto dirige aos Estados Unidos? c) Além dos Estados Unidos, Mia Couto dirige suas críticas a outro alvo, embora o faça de maneira não tão clara. Que alvo é esse? Explique. d) Em jornais, revistas e sites da internet pesquise a situação política, social e econômica do Iraque hoje. Tendo em mente os resultadosda pesquisa, responda: Mia Couto acertou ao prever, em 2004, uma escalada de violência e um crescimento da instabilidade política no Iraque após o fim da ofensiva norte- -americana? Explique. aquilo que ocorre naquele país. Fala-se em “guerra” no Iraque. Não existe guerra. Existe, sim, uma ex- pedição punitiva, uma renovada cruzada do “bem” contra o “mal”. Outro logro: fala-se de “resistência iraquiana” como se houvesse uma única força política e militar parti- lhando os mesmos propósitos nacionalistas contra a intervenção norte-americana. Não existe. A situação é muito mais complexa do que isso. As intenções terroristas dos radicais religiosos têm pouco a ver com os interesses do povo iraquiano. Sem glória e sem crédito, os norte-americanos fazem de conta que passam o poder para as mãos dos iraquianos. Os noticiários falam de uma “viragem”. Mas o cenário que hoje se abre no Iraque não é uma nova página. É um livro contaminado. Mais do que isso, é um livro armadilhado. A intervenção americana ajudou a extremar conflitos internos e deu força a fundamentalismos que irão manter-se mesmo sem a presença militar estrangeira. [...] Com Saddam, o Iraque era um país impossível. Sem ele, e com a intervenção de Bush, converteu-se num país inviável. À violência do Estado se seguiu uma violência contra o Estado (qualquer que seja o formato que esse Estado vier a adotar). A administração Bush esperaria que o mundo se inclinasse de gratidão perante a missão “humanitária- -militar” que fez cair Saddam Hussein. Sucedeu o inverso. Nem a comunidade internacional tirou o cha- péu nem, muito menos, os iraquianos se mostraram reconhecidos. Um mundo de ingratos, dirão os cava- leiros do Eixo do Bem. Mas mesmo dentro dos Estados Unidos as apreensões se acumulam à medida que diariamente morrem jovens soldados americanos. O presidente Bush bem pode interditar que se tirem fotos dos caixões. Mas não pode evitar que esse luto pese na alma dos seus concidadãos. Os americanos sempre agiram em nome do “bem” e da “boa consciência”. Essa mesma consciência faz com que a defesa dos interesses americanos seja apresentada como a defesa dos interesses de toda a humanidade. [...] A sucessão de mentiras construída para credenciar a ocupação acabou desabando como um baralho de cartas (ou seria um baralho sem cartas?). Os torturadores das prisões do Iraque, Guantánamo e Afega- nistão estão sentando a tal “boa consciência” na cadeira dos condenados. Os americanos contemplam no espelho do horror que atribuíam invariavelmente aos outros. Afinal, o “mal” não reside sempre fora: está dentro destes “boys” e das suas chefias, acende-se diariamente nas televisões dos lares dos pacatos cidadãos americanos. Em quantos despertará a lucidez perante um mundo que não é feito de “anjos” e “demônios”? A 11 de Setembro ruíam as torres gêmeas em Nova Iorque. Depois disso foi ruindo outro edifício perante uma certa ingenuidade: a ideia de uma democracia acima de suspeita, de uma América tolerante, de uma nação que pode inspirar a humanidade. De demonstração de força de alguém que se pretende polícia universal, a ocupação do Iraque revelou, afinal, a incapacidade de entender os outros, a arrogância de quem imagina o mundo como um quintal em redor da casa-grande. O Iraque revelou a impotência daquele que é hoje a grande única potência. COUTO, Mia. A impotência da grande potência. In: Pensatempos. Lisboa: Caminho, 2005. p. 41-44. HGB_v3_PNLD2015_218a247_U2_C12.indd 247 4/15/13 10:32 AM 248 DO pós-guerra aO séculO xxi O Brasil no século XXi13 CApítUlo democracia e neoliberalismo Vivemos, atualmente, o mais longo período de regime democrático da história do Brasil desde a proclamação da República em 1889. Neste capítulo vamos estudar que conquistas ocorreram ao longo das três últi- mas décadas. Que signifi cados a Constituição de 1988, conhecida como “A Constituição Cidadã”, adquiriu? O Brasil tem sido classifi cado como um local seguro para se fazer investimentos. Que consequências isso pode ter para a população? Que relações essa conjuntura tem com a questão do neoliberalismo? A refl exão sobre o Brasil do século XXI implica não apenas o resgate e a interpretação de sua história recente, mas também a análise do cená- rio político, econômico e social estabelecido na atualidade. para pensar HistOricamente p Museu nacional Honestino gui- marães (Museu da república), projetado por Oscar niemeyer, em brasília. Foto de 2010. F e rn a n d o B u e n o /P u ls a r Im a g e n s HGB_v3_PNLD2015_248a276_U2_C13.indd 248 4/15/13 10:33 AM
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