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3_RENASCIMENTO ITALIANO_Cidades

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO 
ESCOLA DE MINAS 
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II 
PROFª: PATRÍCIA JUNQUEIRA 
 
RENASCIMENTO ITALIANO 
As cidades do Renascimento Italiano 
 
A contribuição do Renascimento para o urbanismo pode ser considerada insignificante 
se comparada à arquitetura. 
Depois da metade do século XIV, a expansão demográfica e a ocupação da Europa 
ficaram estagnadas. Não havia necessidade de fundar novas cidades nem de ampliar 
as existentes. Os governos não possuíam estabilidade política nem meios financeiros 
para realizarem empreendimentos de longo prazo. Assim, os ideais da Renascença de 
proporção e regularidade foram aplicados em edifícios isolados e pouco utilizados para 
fundar ou transformar uma cidade inteira. As propostas para as novas cidades 
permaneceram teóricas, se tornando modelos de cidade ideal. 
Os príncipes renascentistas e seus arquitetos intervêm em cidades medievais 
estabelecidas, modificando-as parcialmente ou tentando implantar novos programas 
que, na maioria dos casos, eram desproporcionais e irrealizáveis. 
As ideias urbanísticas do Renascimento tiveram a América como campo de realização, 
especialmente nas colônias espanholas. 
 
FLORENÇA 
Florença, capital da Toscana e berço do Renascimento, foi uma das cidades italianas 
que mais se beneficiou da arte e arquitetura renascentista. No final do século XIII, 
várias instalações urbanas haviam sido implantadas em Florença por Arnolfo de 
Cambio, era preciso apenas completá-las. Os artistas se ocuparam, então, em 
trabalhar com o acabamento e o aperfeiçoamento do que já existia e não em criar 
novas estruturas. 
A nova geração de artistas que trabalharam, no início do século XV, no término das 
obras iniciadas, como a Catedral, o Batistério, as igrejas conventuais na periferia, o 
Palácio dos Priores ou Palazzo Vecchio, etc., foram Ghiberti, Brunelleschi, Donatello, 
Paolo Uccello e Masaccio. 
 
 
 
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DISCIPLINA: ARQ 102 TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO II 
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VENEZA 
A Piazza de San Marco e a Piazzetta são consideradas por alguns autores, os 
exemplos mais inspirados de planejamento urbano da Renascença. A Piazza é uma 
estrutura inicialmente formada no período medieval e completada no Renascimento 
por Sansovino. 
 
PALMANOVA 
Outro exemplo do urbanismo renascentista é a cidade de Palmanova, próxima a 
Veneza, foi construída para proteção contra invasores turcos. Foi projetada por 
Scamozzi e teve sua construção iniciada em 1539. 
A cidade se constitui de um polígono de nove lados, tendo no centro uma praça 
hexagonal de onde partem as seis ruas principais da cidade. Ruas radiais concêntricas 
finalizam o traçado. 
 
PIENZA 
O Papa Pio II, em 1459, decidiu reconstruir o burgo de Corsignano, perto de Siena, no 
alto de uma colina, como residência temporária papal. A corte de Pio II contava com a 
presença de Alberti, que pode ter influenciado na definição do programa e na escolha 
do projetista. 
Na rua principal, o papa construiu uma série de edifícios monumentais: o Palácio 
Piccolomini, a catedral, o palácio público e o Palácio do Cardeal Bórgia. A catedral tem 
três naves da mesma altura, seu interior é decorado por pinturas encomendadas aos 
mais famosos pintores de Siena. O Palácio Piccolomini é um bloco quadrado com 
pátio central. 
Ao redor do centro monumental foram construídos edifícios secundários. Os cardeais 
levantaram seus palacetes dos dois lados da rua principal e o papa mandou construir 
um bloco de casas enfileiradas para abrigar os habitantes mais pobres. Atrás do 
palácio público foi aberta uma praça para o mercado, a fim de que, a praça principal 
não fosse ocupada pelas barracas e tendas dos mercadores. Assim, a cidade se 
encontra organizada de forma hierárquica em torno da igreja e do palácio papal. 
Os edifícios principais se destacam não pelo porte, mas pelo maior refinamento 
arquitetônico. Foram construídos entre 1459 e 1462, ano em que a cidade tomou a 
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nome de Pienza. O projetista das novas edificações não é citado nos documentos, 
mas pesquisadores indicam quase como certa a autoria de Bernardo Rossellino, 
célebre arquiteto florentino da época (tendo sido nomeado mestre de obras de Santa 
Maria del Fiore, em 1461). 
Com a morte de Pio II, em 1464, a cidade perdeu sua importância e voltou a ser um 
pequeno burgo do interior. 
 
URBINO 
Federico de Montefeltro, senhor de Urbino entre 1444 e 1482, é o único príncipe da 
Renascença a dispor de tempo e meios necessários para transformar sua cidade. 
Urbino se localiza sobre duas colinas. Na área central se encontra a Igreja de São 
Francisco, de onde parte a rua principal que desce em direção à porta Lavagine de 
onde parte o caminho para Rimini e para a Romagna. 
No alto da colina meridional se encontra o castelo dos Montefeltro ao lado do qual o 
Duque de Montefeltro mandou construir uma edificação retilínea de autoria de um 
grupo de artistas toscanos e locais de segundo plano. Por volta de 1465, essa 
edificação recebeu um pátio com pórticos. 
O palazzo foi modificado de forma a abrir espaço para uma praça onde mais tarde foi 
construída a catedral. A fachada oposta é aberta em uma série de ambientes voltados 
para o campo. No centro da edificação se encontram os apartamentos particulares do 
príncipe e seus familiares, com uma série de alpendres ladeados por duas torres em 
degraus. Foram construídos um jardim suspenso e um terraço com vista para a colina. 
O Mercatale, uma grande praça artificial criada com o aterramento do fundo do vale, 
forma uma nova entrada principal da cidade, invertendo a orientação da cidade, antes 
em direção a Porta Lavagine. 
Não se conhece ao certo os autores dessas modificações, mas sabe-se que 
participaram como arquitetos, Luciano Laurana e Francesco di Giorgio, além desses, 
pintores, escultores e decoradores, importantes artistas da época, como Baccio 
Pontelli, Giuliano da Maiano, Melozzo da Forlí, Paolo Ucello, Sandro Botticelli, 
Giovanni Santi (pai de Rafael) e talvez, Bramante. Certamente Piero della Francesca 
esteve presente durante as obras. 
A corte dos Montefeltro foi importante como centro de criação de cultura literária e 
artística do Renascimento. Em Urbino se formou um grupo de especialistas, entre eles 
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Rafael e Bramante, que, depois da morte de Federico, se espalhou pela Itália, 
contribuindo para a formação da nova cultura. 
 
FERRARA 
Ferrara foi uma das cidades italianas mais ricas e avançadas de meados do século 
XV. Hospedou em sua corte importantes nomes da literatura renascentista, como 
Boiardo, Ariosto e Tasso. Assim como da pintura, Pisanello, Mantegna, Piero della 
Francesca, entre outros. 
A partir de 1486, a cidade organizou uma série de peças teatrais e, em 1531, 
apresentou o primeiro teatro estável da Europa. Nessa época, tornou-se necessário 
ampliar a cidade medieval, o que ocorreu com a construção de dois bairros 
planificados conforme as regras da nova arquitetura: o Borso, planejado pelo Duque 
Borso, em 1451, e o Hércules, projetado pelo Duque Hércules I, em 1492 e construído 
gradualmente pelos seus sucessores ao longo do século XVI. 
O Borso compreende uma longa e estreita ilha saneada na margem do Rio Pó, onde 
foram abertas uma rua retilínea e inúmeras ruas perpendiculares que se juntam à 
cidade existente. 
O Hérculesé um plano de ampliação da cidade que duplicava sua área. A cidade 
medieval era limitada ao norte por um muro e um canal. Com o intuito de ampliar a 
cidade foi construído um novo muro mais moderno, capaz de resistir à artilharia. A 
ampla área criada foi repartida por ruas retilíneas que não formam uma grade regular. 
As duas ruas principais, uma já existente e a outra nova, se cruzam em ângulo reto. 
Ao longo da nova rua foi aberta uma praça bastante espaçosa, criada para ser o 
centro do novo bairro. 
Biagio Rossetti, arquiteto da corte d´Este, dirigiu os trabalhos do muro e foi 
responsável pela construção de alguns edifícios monumentais ao longo das novas 
vias: Palácio dos Diamantes, Palácio Prosperi-Sacrati e o Palácio Turchi-di-Bagno. 
Essas obras transformaram Ferrara, dando à cidade um aspecto moderno sem 
comparação na Europa. Mas a população e a riqueza da cidade não cresceram como 
antes e os grandes espaços abertos por Hércules não foram completamente 
ocupados. No século XVI, Ferrara foi anexada do Estado da Igreja e se tornou uma 
cidade secundária. 
 
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VIGEVANO 
Ludovico Sforza, Il Moro, mecenas que abrigou em sua corte Leonardo da Vinci e 
Bramante, empreendeu uma reforma para modernizar a cidadela medieval de sua 
cidade natal, Vigevano. Parte da Piazza Ducale foi executada por Bramante, 
construída entre 1493 e 1495. O projeto remete aos ideais de Filarete em sua cidade 
ideal, Sforzinda. Ao criar uma praça aberta ampla e regular, com uma torre e o palácio 
do príncipe. 
 
ROMA 
Em meados do século XV, Florença, Veneza e Nápoles eram cidades totalmente 
formadas, enquanto Roma era um pequeno centro abandonado e empobrecido pela 
longa ausência do Papa, que retornou a cidade em 1420 e retomou seu o poder em 
1453. Os habitantes (menos de 40.000) ocupavam uma pequena área nas duas 
planícies que ladeiam o rio Tevere, o Campo de Marte e o Trastevere. 
 O Papa Nicolau V (1447-1455) estabeleceu um programa para a cidade: restaurar as 
antigas benfeitorias (muros, pontes, ruas, aquedutos), recuperar monumentos antigos 
dando-lhes novas funções (Mausoléu de Adriano – Castelo Sant´Angelo, Panteão – 
Igreja, Capitólio – sede da administração municipal), restaurar as basílicas cristãs e 
construir uma nova cidadela papal sobre a colina do Vaticano. A intenção era 
transformar Roma na principal cidade do mundo. Apesar dos planos, ela permaneceu 
como centro secundário durante todo o século XV. 
O Papa Sisto IV (1471-1484) realizou várias reformas na cidade, mas para isso se 
utilizou de arquitetos pouco famosos. Obra urbanística mais considerável do período. 
Ruas largas ligando pontos importantes e obeliscos colocados nos centros dos 
cruzamentos de perspectivas. Convocou importantes artistas de Florença, como 
Botticelli, Perugino e outros para pintar a Capela Sistina, mas não conseguiu 
convencer nenhum deles a se estabelecer em Roma. 
No fim do século XV aceleraram-se as construções em Roma. Nessa época, chegou a 
cidade, pela primeira vez, um arquiteto famoso, Donato Bramante, vindo de Milão. 
Ao se tornar papa em 1503, Julio II se prontificou a executar os planos de Nicolau V. 
Com o apoio de banqueiros italianos e alemães, o novo pontífice se encontrava em 
condições de chamar a Roma artistas importantes. Ele trouxe de Florença, Giuliano da 
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Sangallo e depois Michelangelo e Rafael, os dois mestres mais famosos da nova 
geração. 
A princípio, Michelangelo foi encarregado de esculpir a tumba de Julio II que seria 
construída em São Pedro, mas o papa resolveu reconstruir a igreja e escolheu 
Bramante para realizar a obra. Michelangelo então foi designado para pintar a Capela 
Sistina e Rafael as Stanze do Vaticano. 
O traçado irregular da cidade medieval foi modificado para dar lugar a novas ruas 
retilíneas e novos edifícios. No princípio do século XVI as obras foram interrompidas. 
Sendo retomadas algumas décadas mais tarde sob o pontífice Paulo III, que 
encarrega Michelangelo de determinar a forma definitiva da cidade papal. Ele então 
projeta o reordenamento do Capitólio, simplifica São Pedro, desenha a cúpula como 
elemento dominante da paisagem urbana e finaliza a pintura da Capela Sistina, 
pintando o Juízo Final. 
O Capitólio é o maior exemplo de praça renascentista e um dos primeiros exemplos de 
planejamento urbano, foi terminado um século depois do início das obras, mas se 
manteve fiel aos esboços de Michelangelo. O estilo das construções do Capitólio data 
seu projeto na década de 1540, embora as obras só tenham começado por volta de 
1560. 
 
AS CIDADES IDEAIS DO RENASCIMENTO 
O racionalismo característico do Renascimento também influenciou o urbanismo e a 
forma de pensar as cidades. Essas eram aquelas surgidas na Idade Média, sem 
planejamento, criadas pela iniciativa individual. 
A preocupação com o homem levou a uma idealização da cidade, local de moradia do 
homem renascentista. Sendo assim, acreditava-se que, uma cidade sã e racional 
permitiria o surgimento de um novo homem. Surgem nesse momento, os teóricos das 
cidades ideais ou utópicas. 
Assim como na arquitetura, o tratado de Vitruvio serviu de fonte para a criação das 
cidades ideais, que eram mais intelectuais do que reais. A questão principal para 
Vitruvio, com relação ao traçado da cidade, estava na sua defesa dos ventos 
dominantes, o que levou ao desenho octogonal das muralhas, pois eram oito os 
ventos principais. Entretanto, não se tem certeza de como seria o traçado ideal. As 
indicações de Vitruvio a respeito da cidade ideal são vagas, abrindo espaço para 
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interpretações dos tradutores. Alguns indicavam a cidade em plano xadrez, outros a 
radial ou radiocêntrica. 
Leon Battista Alberti (1404 - 1472) foi o arquiteto humanista que melhor discutiu o 
problema da composição estética da cidade. Ao contrário dos tratadistas anteriores, 
Alberti não buscava um modelo de cidade ideal, mas a reflexão sobre os problemas 
urbanos. Em seu livro, De re aedificatoria, sugere algumas diretrizes para a cidade, 
como hierarquização das ruas, as principais vias deveriam ser amplas e retas com 
edifícios da mesma altura em ambos os lados, enquanto as ruas secundárias 
poderiam ser curvas. Mas não propõe um desenho. Sua preocupação era com a 
cidade real, em como torná-la ideal através da aplicação das regras de beleza, 
harmonia e equilíbrio. Seu objetivo era demonstrar que os princípios estéticos 
aplicados na arquitetura poderiam ser utilizados na cidade, sendo as duas categorias 
interligadas, dependentes entre si. 
Antonio Averlino, conhecido como Filarete, escultor e arquiteto florentino, propôs em 
seu tratado sobre arquitetura uma cidade ideal chamada Sforzinda, em homenagem 
aos Sforza. Sua cidade é um octógono regular com ruas radiais, as muralhas, com um 
perímetro de 20 km, formam um polígono regular de 16 lados em forma de estrela. A 
cidade é composta por 16 avenidas principais, retilíneas e com largura de 20 metros 
que conduzem às oito portas e às oito torres angulares. No centro da estrela, uma 
praça de 200 metros por 100, onde se localizam o palácio e a catedral. Existem áreas 
destinadas a joalheiros e banqueiros, edifícios para as corporações e os negócios, 
banheiros públicos, hospitais, prédios para os médicos e a administração. 
Os habitantes da cidade faziam parte das preocupações de Filarete.As crianças 
pobres seriam educadas em colégios especiais, onde a disciplina seria férrea, os 
alunos precisariam usar uniformes, dormiriam 7 horas por noite e receberiam uma 
dieta frugal. A cidade deveria ser governada por um legislador e por quatro 
magistrados eleitos, que teriam como interesse prioritário a cidade. 
Leonardo da Vinci também propôs um modelo de cidade, em que detalhava como 
deveriam ser as ruas, casas, esgotos, etc. As ruas eram separadas em dois níveis. 
Nas ruas altas não deveriam andar carros nem similares, apenas homens; pelas 
baixas deveriam andar carros e outros meios de transporte para uso e comodidade do 
povo. Pelas ruas subterrâneas estariam as estrebarias e outras coisas fétidas. As 
praças possuiriam fontes. Ao projetar a reformulação da cidade de Florença, Leonardo 
da Vinci propôs a regularização do rio Arno, tornando-o retilíneo. 
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Thomas Morus (1478-1535), pensador inglês adepto das ideias do humanismo, 
publicou, em 1516, o livro Utopia em que descreve uma ilha imaginária com uma 
sociedade perfeita em todos os sentidos. Utopia é minuciosamente descrita, sendo 
uma ilha com formato de meia lua, circundada de montanhas que oferecem uma boa 
defesa natural. Nela existem 54 cidades, perfeitamente idênticas, construídas com 
base no mesmo projeto e compreendendo edifícios iguais. 
Amauroto é a capital da ilha, circundada de muros, atravessada pelo rio Anidro, é 
limpa, salubre e alegrada por graciosos jardins. O sistema político é democrático e 
parlamentar. A célula de base é a família camponesa composta de 40 membros; 
existindo 6 mil famílias em cada cidade, a população da ilha chegaria a 13 milhões de 
habitantes. A propriedade privada é completamente ausente. Cada cidade é 
circundada de terras cultivadas pelos cidadãos que têm a obrigação de fornecer à 
comunidade dois anos de serviço agrícola, independentemente do ofício que 
pratiquem. 
A organização social é minuciosa, e o governo se preocupa com o equilíbrio da 
população: se uma cidade é excessivamente povoada, a população em excesso é 
mandada para uma cidade com menos habitantes. 
Cada cidade é dividida em quatro bairros, e possui mercados nos quais os chefes de 
família se abastecem do necessário sem precisarem recorrer à troca ou ao dinheiro. 
Os alimentos são consumidos em comum, segundo disposições imutáveis; velhos e 
jovens sentam-se uns ao lado dos outros, a fim de que a severa sabedoria dos 
anciãos inspire os jovens; a refeição é precedida por uma leitura moral. Isto contribui 
para formar uma comunidade pacífica e fraterna, da qual foi removida até o mínimo 
motivo de rivalidade. 
Nos hospitais, eficientes e abertos a todos, é praticada a eutanásia nos doentes e nos 
velhos que a requerem. O adultério é punido com a escravidão ou com a morte. Os 
escravos são aqueles que transgridem as leis, os prisioneiros de guerra e os 
trabalhadores braçais pobres das regiões vizinhas: esses são bem tratados, mas ficam 
acorrentados e condenados aos trabalhos forçados; não constituem em realidade uma 
classe social porque os seus filhos nascem livres. 
A agricultura é a base da economia de Utopia. 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BAETA, Rodrigo Espina. O Barroco, a Arquitetura e a cidade nos séculos XVII e 
XVIII. Salvador: EDUFBA, 2010. 
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2003. 
GOITIA, Fernando. Breve História do Urbanismo. Lisboa: Presença, 1996. 
MUMFORD, Lewis. A Cidade na História: suas origens, transformações e 
perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo: Martins 
Fontes, 1982. 
SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Atual, 1994.

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