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RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA SP 2.5 – DESDE CEDO... – LEUCOSES PERDA DE SANGUE 1. DIFERENCIAR LEUCEMIA CRÔNICA E AGUDA A leucemia pode ser classificada como “aguda” ou “crônica” de acordo com a velocidade de crescimento das células doentes assim como de sua funcionalidade. A leucemia aguda progride rapidamente e produz células que não estão maduras e não conseguem realizar as funções normais. A leucemia crônica, entretanto, normalmente progride lentamente e os pacientes têm um número maior de células maduras. No geral, essas poucas células maduras conseguem realizar algumas das funções normais. A leucemia também é classificada a partir do tipo de célula do sangue que está doente. As células doentes da leucemia são os glóbulos brancos produzidos na medula óssea. Um tipo de glóbulo branco doente é chamado de “mieloide” e o outro tipo de “linfoide”. O nome dos quatro tipos de leucemias descreve quão rápido (aguda) ou devagar (crônica) a doença progride e identifica o tipo de glóbulo branco que está envolvido (mieloide ou linfoide). Os tipos de leucemia são agrupados pela rapidez de crescimento das células leucémicas e pelo seu grau de maturidade: ➔ Leucemias agudas • Caracterizam-se pela proliferação clonal e pelo bloqueio maturativo das células hematopoiéticas, com substituição difusa da medula óssea por células neoplásicas; • Grande multiplicação de células imaturas; • Incapazes de amadurecer e de responder aos reguladores naturais de proliferação e morte celular; • Acumulam na MO e prejudicam a produção normal das células sanguíneas (esse acúmulo de células imaturas leva a uma dificuldade de produção de outras células do paciente tem outras citopenias); • Podem acumular em outros tecidos e órgãos, com comprometimento de função; • Manifestações clínicas agressivas. ➔ Leucemias crónicas • Multiplicação lenta de células maduras, contudo mal funcionantes; • Manifestações clínicas de aparecimento lento. Os tipos de leucemia são também agrupados pelo tipo de glóbulos brancos que é afetado. Assim, de acordo com a “família” das células malignas, as leucemias são subdivididas em: Linfóides: afetam as células linfoides são chamadas de linfoide, linfocítica ou linfoblástica Mielóide: afeta as células mielóides da família dos leucócitos, são chamadas mieloide ou mieloblástica. Combinando as duas classificações, existem quatro tipos mais comuns de leucemia: → Leucemia linfoide crônica: afeta células linfoides e se desenvolve de forma lenta. A maioria das pessoas diagnosticadas com esse tipo da doença tem mais de 55 anos. Raramente afeta crianças. → Leucemia mieloide crônica: afeta células mieloides e se desenvolve vagarosamente, a princípio. Acomete principalmente adultos. → Leucemia linfoide aguda: afeta células linfoides e agrava-se de maneira rápida. É o tipo mais comum em crianças pequenas, mas também ocorre em adultos. → Leucemia mieloide aguda: afeta as células mieloides e avança rapidamente. Ocorre tanto em adultos como em crianças, mas a incidência aumenta com o aumento da idade RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA 2. CARACTERIZAR A LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA CONCEITO A Leucemia Linfoide Aguda (LLA) resulta da proliferação clonal de precursores linfoides anormais na Medula Óssea (MO). A leucemia linfoblástica aguda (LLA) representa uma doença maligna de precursores linfoides que afeta adultos e crianças, porém com maior incidência na faixa etária de dois a cinco anos. Representa uma das patologias mais desafiadoras para o tratamento em adultos, a sobrevida para os adultos é de apenas 20 a 30%, embora em crianças, taxas de cura superiores a 80% sejam descritas atualmente na literatura. A adaptação dos protocolos pediátricos em adultos também determinou um aumento significativo nas taxas de remissão, embora, em longo prazo, os resultados ainda sejam bem mais limitados. A identificação dos subtipos moleculares, o desenvolvimento de novas drogas alvo específicas e a caracterização do papel do transplante de medula óssea (TMO), bem como a melhor compreensão do significado da doença mínima residual, do impacto da farmacogenômica e da resistência às diferentes drogas, estão contribuindo para a melhoria dos resultados em pacientes adultos portadores de LLA. Até 1980, leucemia era a causa mais comum de morte em crianças acometidas com câncer. Desde então, com o tratamento moderno dessa doença, a mortalidade por leucemia tem diminuído progressivamente. A sobrevida livre de leucemia por mais de dez anos, que é considerado o critério de cura nessa doença, em pacientes pediátricos com Leucemia Linfoide Aguda (LLA) tem sido de aproximadamente 90% nos últimos anos. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é a doença maligna mais frequente na infância. Em adultos é bem mais rara, representando apenas 15% de todas as leucemias: compreende aproximadamente 15% das leucemias agudas, tendo maior incidência entre 25 e 37 anos. Assim, essa doença tem dois picos de incidência, um entre os dois e cinco anos e outro por volta dos 30 a 40 anos. Há importante variação geográfica na incidência da doença, a qual é mais frequente entre as populações do Norte e do Oeste da Europa, América do Norte e Oceania. No Brasil, a incidência de LLA nos adultos na região de Ribeirão Preto é de aproximadamente 6,5 casos/milhão de pessoas/ano. Nos EUA, a incidência global ajustada à idade indica a ocorrência de 1 a 2 casos/100 mil indivíduos, com um pico entre as idades de 2 a 5 anos e após os 50 anos. Também nos EUA, a doença parece ser mais comum em hispânicos. A LLA é mais frequente em áreas urbanas e em caucasianos, permitindo especulações sobre a importância de fatores socioeconômicos na sua etiologia. Apesar da lista extensa, os relatos ainda são conflitantes sobre fatores associados a um risco mais elevado da doença. O significado da ocupação dos pais, da exposição ao álcool, ao tabaco, aos pesticidas ou à irradiação eletromagnética ainda é controvertido, apesar da preocupação constante com a interação de fatores genéticos e ambientais. Menos de 5% dos casos estão definitivamente associados com síndromes genéticas predisponentes como a sídrome de Down, a síndrome de Bloom, a ataxia-telangectasia e a síndrome de Nijmegen. ____________________________________________ FATORES DE RISCO Dados de registros internacionais de câncer sugerem que a incidência das leucemias exibe variações geográficas, étnicas e socioecônomicas. Por exemplo, o pico de incidência típico da LLA não é observado em alguns países em desenvolvimento, mas paralelamente à melhoria das condições socioeconômicas de alguns desses países, o pico de incidência da LLA entre dois e quatro anos tem sido agora observado. Infeções virais podem predispor ao aparecimento de neoplasia linfoide. A associação entre o vírus de Epstein-Barr e linfoma de Burkitt e a LLA de derivação B madura (FAB L3) na África está muito bem estabelecida. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Alterações genéticas aumentam a probabilidade de uma criança desenvolver leucemia em geral. Além disso, outras anormalidades do sistema hematopoiético, como as neutropenias congênitas, que por muitos anos foram consideradas benignas, possuem um risco bastante elevado para o desenvolvimento de mielodisplasia ou leucemia. É importante notar que algumas dessas condições genéticas determinam maior predisposição para certos tipos específicos de leucemia. Por exemplo, uma em cada cem crianças com síndrome de Down desenvolve leucemia, taxa que é aproximadamente 20 vezes superior do que aquela na população em geral. Contudo,se diferentes subtipos de leucemia são examinados, fica evidente que a frequência de leucemia megarioblástica é mais do que 400 vezes superior em crianças com síndrome de Down do que nas que não possuem essa síndrome. Outras anormalidades genéticas também podem predispor ao aparecimento de leucemia. Embora infrequente, indivíduos com mutações do gene TP53 (síndrome de Li-Fraumeni) têm maior propensão ao desenvolvimento de leucemia e outras neoplasias. Múltiplos casos de leucemia têm sido notados em algumas famílias. Embora exista também aumento da probabilidade do aparecimento de leucemia entre irmãos, o mecanismo aparentemente é diferente do exposto acima. Essa associação é muito marcante em casos de gêmeos univitelinos: se um deles desenvolve leucemia, a chance de o outro ser acometido com a mesma doença é de uma em quatro, ou 25%. A probabilidade é tanto maior quando menor for a idade ao diagnóstico. Estudos moleculares mostraram que o clone leucêmico é o mesmo para ambos os gêmeos, sugerindo que houve passagem transplancetária das células leucêmicas de um gêmeo para o outro. Em gêmeos univitelinos que apresentam concordância para o clone leucêmico, em idade mais avançada, também foi verificado que os mesmos clones estavam presentes ao nascimento. Da mesma forma, em casos esporádicos de leucemia diagnosticados em crianças com mais de três ou quatro anos de idade e quando sangue obtido ao nascimento para provas de doenças metabólicas dessa criança estava disponível para extração de DNA, foi evidenciado que marcadores específicos do clone leucêmico já estavam presentes ao nascimento. Finalmente, fatores químicos e ambientais têm sido associados à leucemia. Benzeno, radiação ionizante e certos alimentos contribuem para a etiologia da leucemia. Radiação não ionizante (eletromagnética) também foi implicada na origem da leucemia, mas estudos epidemiológicos recentes não comprovaram uma relação causal entre ondas eletromagnéticas e leucemia na criança. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA Leucemia é considerada como o resultado de anormalidades que ocorrem em uma célula progenitora do sistema linfo-hematopoiético. Essas anormalidades modificam o programa de diferenciação celular, determinando uma vantagem proliferativa do clone leucêmico sobre as células do tecido hematopoiético normal. Muitas evidências sugerem que as alterações genéticas que ocorrem nas células leucêmicas comprometem genes que regulam a diferenciação celular e são importantes para o sistema hematopoiético tanto no sentido de diferenciação e proliferação, como da morte celular (apoptose). Com os estudos de sequenciamento do genoma das células leucêmicas, fica bem claro que existem várias alterações moleculares que são críticas para a patogenia das LLA e muitas delas poderiam ter implicações prognósticas e terapêuticas. Vários estudos com abordagens genômicas de alta resolução nas LLAs B e T identificaram novas alterações RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA recorrentes. Foi visto que, diferente de muitos tumores sólidos, anormalidades genômicas amplas e aumento de cópias em grande escala não são característicos da LLA, em que a maioria das alterações comumente envolve um gene simples ou poucos genes. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO As queixas mais comuns derivam da supressão da hematopoese normal causada pela infiltração da medula óssea por células leucêmicas. Assim, estão presentes sintomas progressivos de palidez, fraqueza, cansaço e indisposição. Pacientes habitualmente apresentam sintomas constitucionais ao diagnóstico como febre, sudorese noturna, perda de peso, sangramento cutâneo-mucoso e infecções, ocorrendo em um terço dos casos. Sinais de infiltração do sistema nervoso central (SNC) ocorrem em cerca de 10% dos pacientes, principalmente, os portadores de LLA do tipo B maduro. Parestesias da região do mento podem indicar essa complicação. Manifestações neurológicas, como confusão mental, cefaleia e comprometimento de nervos cranianos (VI e VII pares geral) resultam de infiltração leucêmica, de hemorragia no Sistema Nervoso Central (SNC) ou de leucostase. Adolescentes portadores do subtipo T habitualmente cursam com sinais referentes à presença de massa mediastinal como dispneia, broncoespasmo, derrame pleural ou pericárdio e síndrome de veia cava superior. Massa mediastinal é demonstrada em aproximadamente 15% dos casos. Envolvimento testicular é menos frequente em pacientes adultos, mas deve ser sempre investigado em crianças. Menos de 1% dos meninos podem apresentar envolvimento testicular, o qual é caracterizado pelo aumento indolor de um ou dos dois testículos Artralgia e dor óssea são menos frequentes em adultos do que em crianças e resultam da infiltração leucêmica com distensão do periósteo ou estruturas periarticulares. Além dos achados no exame físico de anemia, infecção e manifestações hemorrágicas, aproximadamente 50% dos pacientes se apresentam com hepato- esplenomegalia e ou enfartamento ganglionar. Devido à vantagem proliferativa das células leucêmicas sobre as normais, a função do sistema hematopoiético é afetado resultando em anemia, trombocitopenia e diminuição da imunidade mediada por células desse sistema. Por outro lado, o acúmulo de células leucêmicas determina o aumento do fígado, baço e linfonodos. Outros órgãos também podem ser acometidos, como timo, rim, pele e sistema nervoso central. As manifestações clínicas da leucemia são muito variáveis. Em crianças, tipicamente, os pais notam que está mais pálida e apresenta sinais de hemorragia, como equimoses, petéquias ou sangramento gengival. Diminuição do apetite e da atividade são notados com frequência. Dor nas extremidades inferiores e artralgias também podem estar presentes. Com a progressão da doença, a febre em geral aparece. A febre pode ser devido à presença de infecção, mas pode ser também resultado da produção de citocinas pelas células normais ou leucêmicas. É importante salientar que de modo geral não existe maneira de distinguir LMA da LLA com base nas manifestações clínicas iniciais, isoladamente. ____________________________________________ DIAGNÓSTICO HEMOGRAMA O hemograma apresenta-se quase sempre alterado. Anemia, trombocitopenia e presença de blastos na contagem diferencial dos leucócitos constituem as alterações mais frequentes da leucemia. Ocasionalmente, as alterações do hemograma são discretas, levando a um atraso no diagnóstico. Isso ocorre principalmente nos casos em que a contagem leucocitária é baixa e não existem células leucêmicas circulantes. Em aproximadamente 20% das LLA não existe evidência de blastos no sangue periférico. Contudo, mesmo nesses casos a avaliação cuidadosa do hemograma irá revelar uma ou mais das alterações associadas a leucemia. PERFIL METABÓLICO O perfil metabólico do sangue não apresenta-se substancialmente alterado na LLA, porém é comum a elevação da desidrogenase láctica e do ácido úrico — RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA ambos representando rápida destruição e regeneração celular. COAGULAÇÃO O estudo da coagulação na maioria dos casos é normal; o fibrinogênio em geral está elevado, refletindo uma resposta inflamatória inespecífica. Raramente em pacientes com leucemia linfoblástica do tipo T podem haver sinais sugestivos de coagulopatia. O distúrbio de coagulação é resultado da presença de material procoagulante na célula leucêmica e pode ser agravado se existir alta contagem leucocitária. RADIOGRAFIA SIMPLES A radiografia simples do tórax é geralmente normal, mas pode demonstrar a presença de alargamento do mediastino, que ocorre em aproximadamente 50% dos casos deLLA do tipo T. O exame radiográfico do esqueleto em geral mostra alterações sugestivas da leucemia, porém esse exame é hoje raramente obtido nos pacientes com suspeita de leucemia devido à baixa especificidade e à ausência de implicação prognóstica. É raro que pacientes com LLA apresentem dor lombar importante e dificuldade de deambulação devido ao colapso vertebral. O estudo radiográfico simples da coluna vertebral demonstra essas anormalidades. As manifestações clínicas em geral melhoram dentro de quatro a seis semanas do início do tratamento específico da leucemia. Em alguns pacientes é necessário imobilização. O prognóstico desses pacientes é muito bom, visto que a maioria deles possui leucemia de baixo risco. LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO (LCR) Nos casos de comprometimento do sistema nervoso central, o exame do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) irá mostrar pleocitose e células leucêmicas no exame do sedimentado citológico. Nos casos de suspeita de infiltração testicular, a ultrassonografia pode corroborar a observação clínica. MIELOGRAMA O diagnóstico definitivo da leucemia é baseado no exame da medula óssea. Na maioria das vezes, a infiltração da medula pelas células leucêmicas é evidente. Ocasionalmente, o material da medula é muito difícil de ser obtido devido a necrose, fibrose ou excessiva quantidade de células leucêmicas. Nesses casos, a biópsia da medula óssea e o preparo de imprints podem oferecer células para morfologia, citoquímica, análise citogenética e imunofenotípica. Raras vezes é necessária a biópsia de linfonodos, pele ou citologia do líquido pleural para obter células para o esclarecimento do diagnóstico. 3. ESTUDAR LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA CONCEITO Leucemia mieloide aguda (LMA) é termo abrangente e que se refere a um grupo de neoplasias que se originam em células progenitoras hematopoéticas ou em células-tronco primitivas com potencial de multilinhagem. A LMA é doença clonal neoplásica heterogênea, caracterizada pela proliferação de precursores mieloides, resultando no seu acúmulo na medula óssea e no sangue periférico. São incapazes de amadurecer e de responder aos reguladores naturais de proliferação e morte celular. Como consequência, essas células malignas se acumulam na medula óssea e prejudicam a produção normal das células sanguíneas, mas podem também se acumular em outros tecidos e órgãos, cujas funções são frequentemente comprometidas. As células doentes na LMA são capazes de se dividirem e proliferarem, mas não são capazes de se diferenciarem em células hematopoéticas maduras (neutrófilos). Embora tenham ocorrido consideráveis avanços no diagnóstico e na compreensão de fenômenos biológicos da LMA nas últimas três décadas, a maioria dos indivíduos acometidos ainda morre da doença. Apesar da remissão completa ser obtida na maioria dos pacientes jovens, a cura depende da erradicação da LMA por meio de terapia pós-remissão. ____________________________________________ EPIDEMIOLOGIA A LMA é o tipo mais comum de leucemia aguda em adultos, correspondendo a cerca de 80 a 90% dos casos, e tem incidência estimada de 3 a 5 casos para 100 mil habitantes por ano, mas esse número sobe para 12,2 entre os idosos. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA De fato, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária, a idade média de apresentação da LMA é em torno dos 65 anos. Em contraste, corresponde a menos de 15% das leucemias em crianças com idade inferior a dez anos. Sua incidência anual nos Estados Unidos é estimada em 3,5 casos para cada 100 mil habitantes, e aumenta com a idade, sendo de 17,9 casos/100 mil habitantes/ano em adultos com idade igual ou superior a 65 anos. A incidência de LMA no Brasil é desconhecida, uma vez que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) relata apenas dados referentes às leucemias em geral. Um estudo retrospectivo desenvolvido no Rio Grande do Sul estimou a incidência em 1,11 caso de LMA/100 mil habitantes/ano com base em registros hospitalares (2007). Os pacientes do sexo masculino são mais frequentemente acometidos pela doença quando comparados ao sexo feminino, na razão de cinco homens para cada três mulheres (5:3). Entretanto, não se sabe a razão da maior incidência entre os homens. A LMA acomete todos os grupos étnicos, embora seja ligeiramente mais frequente nos caucasianos do que nos negros e nos pacientes de origem hispânica, e menos frequente em descendentes de índios norte- - americanos e asiáticos. No Brasil, dados do Ministério da Saúde demonstram que as leucemias (agudas e crônicas) ocupam o 8º lugar entre as neoplasias malignas mais prevalentes e foram estimados cerca de 3.300 casos novos para o ano de 2010. ____________________________________________ FATORES DE RISCO ____________________________________________ ETIOLOGIA A etiologia da LMA é desconhecida na maioria dos pacientes, em especial naqueles nos quais ela se manifesta sem causa aparente, ou seja, primária ou de novo. Numa minoria de casos, a LMA está relacionada a doenças genéticas, como síndrome de Down (associada a risco de 10 a 18 vezes de desenvolver leucemia), síndromes que cursam com falência medular congênita e situações clínicas de instabilidade cromossômica. Estão relacionadas à leucemogênese: • exposição ambiental ou ocupacional a agentes carcinogênicos • tabagismo • benzeno • derivados de petróleo • radiação ionizante (sobreviventes da bomba atômica, radiologistas e técnicos de radiação expostos a altos níveis de radiação no período anterior a 1950, e altas doses de radiação >20Gy para tratamento de linfoma de Hodgkin, câncer de mama, carcinoma de útero e pulmão) • drogas quimioterápicas, como agentes alquilantes e inibidores da topoisomerase II. A LMA pode ser a evolução final de outras doenças hematológicas malignas, como a síndrome mielodisplásica (SMD) e neoplasias mieloproliferativas crônicas, ou benignas, como anemia aplástica e hemoglobinúria paroxística noturna. ____________________________________________ FISIOPATOLOGIA A patogênese da LMA é desconhecida. Alguns fatores ambientais, tais como a exposição à irradiação ionizante e a derivados do benzeno foram associados ao desenvolvimento da doença, mas na maioria dos casos não é possível identificar um agente causal bem definido. Proliferação anormal, expansão clonal, diferenciação aberrante e diminuição da apoptose (morte celular programada) levam à substituição dos elementos sanguíneos normais por células malignas. Na leucemia, uma célula sanguínea que ainda não atingiu a maturidade sofre uma mutação genética que a transforma em uma célula cancerosa. Essa célula RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA anormal não funciona de forma adequada, multiplica- se mais rápido e morre menos do que as células normais. Dessa forma, as células sanguíneas saudáveis da medula óssea vão sendo substituídas por células anormais cancerosas. Sabe-se que a LMA resulta de alterações genéticas cumulativas que, de modo geral, podem ser agrupadas em duas classes: a) alterações que afetam fatores de transcrição mieloides que controlam a diferenciação hematopoética. b) mutações em genes que resultam na ativação anormal da função de proteínas que atuam na transdução de sinais intracelulares, resultando em vantagem proliferativa e/ou resistência à apoptose. Mais de 300 translocações cromossômicas já foram descritas na LMA, as quais, na maioria dos casos, afetam genes que codificam fatores de transcrição importantes para o desenvolvimento hematopoético normal e resultam em perda de função e bloqueio da diferenciação. As translocações na maioria das vezes causam a formação de genes híbridos, contendo sequências de dois genes distintos. As oncoproteínas híbridascodificadas por esses genes anormais apresentam funções aberrantes e interferem nos programas celulares normais de crescimento, diferenciação e sobrevivência. Acredita-se que sua origem ocorra numa célula denominada célula-tronco leucêmica ou célula iniciadora da leucemia. Essa célula compartilha características biológicas com a célula-tronco hematopoética. É uma célula rara, quiescente, que representa de 1:10.000 a 1:10.000.000 células leucêmicas, porém capaz de autorrenovação e de expansão clonal e, portanto, responsável pela sustentação e propagação da LMA. O modelo patogênico atualmente aceito propõe que as mutações responsáveis pela transformação leucêmica e progressão da doença ocorram nas células-tronco primitivas multipotentes. A heterogeneidade da LMA seria resultante de capacidade variável dessas células-tronco primitivas diferenciarem-se e adquirirem marcadores fenotípicos específicos de cada linhagem. Daí a progressão para a leucemia aguda requer uma série de eventos que agem de modo cooperativo com início na expansão clonal de uma célula-tronco leucêmica transformada. Até a presente data não se conhecem os eventos necessários, mas a hipótese vigente é de que haja duas etapas (two-hit hypothesis), ou seja, a doença é resultante da colaboração e da consequência de pelo menos duas classes de mutação: uma que confere vantagem proliferativa e a outra que interfere na diferenciação hematopoética. As mutações em genes codificadores de tirosina- quinases produzem ativação constitutiva (denominadas mutação classe I), como: FLT3-ITD, N- RAS e K-RAS e culminam em vantagem proliferativa. As mutações com perda de função dos fatores de transcrição necessários à diferenciação hematopoética com consequente bloqueio da diferenciação representam a segunda classe de eventos. Esse tipo de mutação (classe II) é representado pelos genes híbridos, gerados a partir de translocações cromossômicas recorrentes como RUNX1-RUNX1T1, CBFB-MYH11, PML-RARA e mutações pontuais RUNXT1T1 e CEBPA. Entretanto, nas leucemias secundárias, relacionadas ao uso de agentes quimioterápicos, outros mecanismos estão envolvidos. O tempo médio de ocorrência de LMA pós-exposição a agente alquilante é de 3 a 5 anos e, geralmente, associada à SMD. Especula-se que nesse período de latência ocorram múltiplos eventos, como mutações gênicas críticas para o fenótipo maligno. Nas LMAs associadas a alterações envolvendo 11q23 que aparecem após uso de agentes inibidores de topoisomerase II (epipodofilotoxinas, antracíclicos), o período de latência é mais curto, em média 12 a 18 meses e não são associadas com fase de SMD pré-LMA. ------------------------------------------------------------------------ Kelly e Gilliland (2002) propuseram um modelo amplamente aceito, no qual a patogênese molecular da LMA seria decorrente de pelo menos dois eventos, que envolvem uma combinação entre mutações pertencentes a duas classes distintas, a saber: 1) Mutações de classe I – conferem vantagens proliferativas e/ou na sobrevida dos progenitores, embora não exerçam efeito direto sobre a diferenciação hematopoética. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA São exemplos as mutações que ativam constitutivamente receptores tirosinocinases, como Flt3 e c-KIT, ou moléculas efetoras ativadas no decorrer das cascatas de sinalização, como n-RAS e k-RAS; 2) Mutações de classe II – geralmente envolvem genes que codificam fatores de transcrição, tais como os Core-Binding Factors (CBF) e o Receptor a do Ácido Retinoico (RARA) e resultam no bloqueio da diferenciação mieloide, além de conferirem alguma vantagem na sobrevida devido à interferência na diferenciação terminal e apoptose. Constituem, portanto, eventos primários na transformação leucêmica. De acordo com esse modelo, o acúmulo de mutações de classes I e II culminaria na transformação maligna dos progenitores hematopoiéticos. Apesar de essa hipótese ter grande respaldo nos modelos, em humanos múltiplos passos parecem ser necessários para o desenvolvimento de leucemia. Os blastos identificados em indivíduos leucêmicos apresentam limitado potencial proliferativo, sugerindo que subpopulações de Células-Tronco Leucêmicas (CTLs), com elevado potencial proliferativo e capacidade de autorrenovação, sejam as responsáveis por repovoar o microambiente a longo prazo e manter o fenótipo leucêmico. Assim, a população de blastos encontrada ao diagnóstico é heterogênea, e uma pequena fração possui características de células-tronco, as quais incluem o estado quiescente, a capacidade de autorrenovação e de reconstituir a massa leucêmica após o tratamento com quimioterápicos. Em última instância, as CTLs são responsáveis pelas recaídas. ____________________________________________ QUADRO CLÍNICO A LMA pega muitas cadeias celulares (neutrófilos, plaquetas, hemácias), e assim, gera mais sinais e sintomas no paciente. Os sintomas e sinais apresentados pelos pacientes com LMA ao diagnóstico em geral decorrem da falência da hematopoese e/ou da infiltração de tecidos por células leucêmicas. Habitualmente os sintomas que precedem a LMA são de curta duração (semanas, raramente meses) e, muitas vezes, inespecíficos (fraqueza, astenia e perda ponderal). A apresentação clínica da LMA pode ser dividida em dois grandes grupos de síndromes: a síndrome da falência medular e a tumoral. ➔ No que tange à síndrome da falência medular, o tecido hematopoético normal é rapidamente substituído por células blásticas leucêmicas, o que leva à redução dos constituintes normais do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas). A anemia por diminuição da produção de hemácias leva a sintomas constitucionais de palidez, astenia, escotomas, vertigem, dispneia aos esforços e palpitações. A redução dos leucócitos manifesta-se clinicamente por infecções, muitas vezes, sem foco definido. A febre é um sintoma comum e pode resultar de infecções ou da própria leucemia A redução das plaquetas cursa com manifestações clínicas de sangramentos cutâneo-mucosos, púrpuras, petéquias, equimoses, epistaxe, gengivorragia, hemorragias oculares e de sistema nervoso central (SNC). Pacientes com leucemia promielocítica aguda (LPA) costumam apresentar sangramentos e coagulopatia associada, a coagulação intravascular disseminada (CIVD). ➔ A síndrome tumoral é representada por infiltração de órgãos (em geral nas leucemias com componente monocítico), cursando com hipertrofia gengival, adenomegalias, hepato e/ou esplenomegalia, infiltração de pele e neuro-menínges (< 5% dos casos, meningite leucêmica e paralisia de pares cranianos). Nas situações de leucostase há elevação abrupta da leucometria (> 100 x 109 /L) e são detectados infiltrados pulmonares, dispneia, sangramento pulmonar e de SNC, e cursam com alta mortalidade. O sarcoma mieloide (ou sarcoma granulocítico ou tumor mieloide extramedular) pode ocorrer em qualquer sítio fora da medula óssea, sendo mais frequente na pele, linfonodos, trato disgestivo, partes moles e testículos. Dor óssea é achado pouco comum, exceto nas leucemias agudas da infância. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA ____________________________________________ DIAGNÓSTICO AVALIAÇÃO CLÍNICA O diagnóstico da LMA deve ser considerado como uma urgência médica devido à alta mortalidade em função da anemia, trombocitopenia (sangramentos espontâneos em SNC, consumo de plaquetas por infecção) e neutropenia (risco de sepse e choque séptico e falência de múltiplos órgãos). A avaliação clínica inclui a história prévia do paciente (exposição ocupacional ou uso de drogas/agentes imunossupressores), presença de doenças pré- existentes que possam interferir ou modificar o tratamento(HAS, DM, insuficiência renal, insuficiência cardíaca congestiva, doenças pulmonares crônicas; essas comorbidades estão associadas a maior risco de toxicidade decorrente da quimioterpia) e a história familiar. O exame físico deve ser minucioso, a fim de se avaliar o estado geral do paciente, potenciais riscos e intercorrências relacionadas à LMA (infecções, abscessos, cor anêmico, sangramento em fundo de olho, infiltração de pele, partes moles, exame neurológico). Na suspeita de abscessos perirretais e vaginais em neutropênicos, devem ser evitados exames invasivos, pois a manipulação poderá disseminar bactérias e propiciar septicemia. Na avaliação do paciente com LMA é imperioso aferir o nível de desempenho (Escala ECOG e/ou Karnofsky). De acordo com estudo do SWOG, a mortalidade da LMA no 30º dia de tratamento é dependente e relacionada à idade do paciente e ao nível de desempenho pela escala ECOG. ____________________________________________ ACHADOS LABORATORIAIS Ao diagnóstico, as contagens hematológicas são muito variáveis nos casos de LMA. → O número de leucócitos está aumentado (leucocitose) em mais da metade dos pacientes, mas a chamada hiperleucocitose, definida como contagens superiores a 100 mil leucócitos/mm³, ocorre em menos de 20% dos casos. → A leucocitose está frequentemente acompanhada por anemia e plaquetopenia. 75% dos pacientes apresentam trombocitopenia < 100 x 109 /L e 25% apresentam plaquetas < 25 x 109 /L. → A anemia é, na maioria das vezes, normocrômica e normocítica. → No exame morfológico do sangue periférico, com frequência são detectados mieloblastos. → Deve-se destacar que a detecção de 20% ou mais de mieloblastos entre os leucócitos do sangue periférico é considerada o critério diagnóstico de LMA pela Organização Mundial de Saúde (OMS). PS. Porém não é um critério sine qua non, uma vez que a infiltração leucêmica pode ser detectável apenas na medula óssea em alguns casos (leucemia aleucêmica) e, portanto, o aspirado de medula óssea deve sempre ser obtido. → Da mesma forma que para o sangue, a presença de 20% ou mais de mieloblastos na medula óssea é considerada critério diagnóstico pela OMS. → Além da infiltração por mieloblastos, a análise morfológica do aspirado de medula óssea revela a diminuição do número de células das outras linhagens hematológicas e podem ocorrer também alterações qualitativas (displasia) em alguns casos. → Alterações da hemostasia podem ser encontradas, e a causa mais frequente é o consumo de fatores plasmáticos da coagulação, muitas vezes caracterizando um quadro de CIVD. Assim, podem ser detectados o alargamento do Tempo de Protrombina (TP), do Tempo de Tromboplastina Parcial ativada (TTPa), do Tempo de Trombina (TT), hipofibrinogenemia, aumento de Produtos de Degradação de Fibrina (PDF) e dos D-dímeros de fibrina. Essas alterações são particularmente frequentes na leucemia promielocítica aguda. → Entre as alterações metabólicas detectadas em pacientes com LMA, a hiperuricemia é um achado frequente e decorre da elevada produção e da lise de células tumorais. → Os níveis séricos da enzima Lactato Desidrogenase (LDH) podem também estar aumentados, particularmente nos subtipos monocíticos de LMA. Os demais exames são para avaliações gerais que incluem: função renal (ureia e creatinina), função hepática e hemostática (albumina, AST, ALT, FA, GGT, bilirrubinas, TP, TTPa e fibrinogênio), sorologias (HIV, HTLV1, HCV, HBV, Chagas e sífilis), parasitológicos e demais aspectos (DHL, glicose, ácido úrico, cálcio e fósforo). RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA EXAMES COMPLEMENTARES A função cardíaca deve ser avaliada com raios X de tórax, ECG e ecocardiograma, considerando-se que o paciente será elegível para terapia de indução. ____________________________________________ EXAMES ESPECÍFICOS MIELOGRAMA O mielograma é feito pela aspiração da medula óssea em esterno ou crista ilíaca e o esfregaço é corado por May-Grünwald-Giemsa ou Wright-Giemsa. De acordo com as recomendações da OMS, amostras de medula óssea e sangue periférico devem ser obtidas antes de qualquer intervenção terapêutica. A detecção de pelo menos 20% de blastos leucêmicos em aspirado de Medula Óssea (MO) ou em Sangue Periférico (SP) é necessária para o diagnóstico definitivo. Entretanto, nos casos associados com os rearranjos gênicos PML-RARA, RUNX1-RUNX1T1 e CBFB-MYH11, o diagnóstico pode ser firmado por meio da demonstração dessas alterações gênicas, independentemente do percentual de blastos na MO ou SP. Os mieloblastos típicos são células grandes (15 a 20 µm de diâmetro), cujo núcleo é arredondado ou irregular, com um padrão de cromatina reticulada e múltiplos nucléolos distintos. Eles apresentam pouco citoplasma, geralmente contendo finos grânulos azurófilos e podem conter um número variável de bastonetes de Auer, que consistem em grânulos azurófilos anormais nos lisossomos. Os bastonetes de Auer são patognomônicos de LMA. IMUNOFENOTIPAGEM Para a identificação da linhagem comprometida é necessário que seja feita a imunofenotipagem por citometria de fluxo das células leucêmicas A imunofenotipagem é uma técnica importante na caracterização das LMAs, pois a detecção de marcadores associados a diferentes linhagens pode caracterizar melhor a origem dos mieloblastos. Além disso, a imunofenotipagem pode identificar blastos muito imaturos, que não apresentam os grânulos com mieloperoxidase, e assim podem ser erroneamente classificados como linfoblastos com base nas análises morfológica e citoquímica. Outra situação na qual a imunofenotipagem é fundamental é no diagnóstico da leucemia megacarioblástica aguda, uma vez que, pelos critérios morfológicos e citoquímicos, pode ser confundida com as leucemias linfoides agudas e também com as LMA minimamente diferenciadas. CARIÓTIPO COM BANDA G O cariótipo com banda-G das células leucêmicas é um componente obrigatório, ao diagnóstico, na LMA. As anormalidades cromossômicas são encontradas em aproximadamente 55% dos pacientes e estão intimamente relacionadas ao prognóstico da doença e ao planejamento terapêutico. Em muitos casos as alterações citogenéticas estão relacionadas a subtipos morfológicos e clínicos da doença. De acordo com as alterações citogenéticas estratificam- se três grupos de pacientes: • Favorável (cerca de 25%) • Intermediário (cerca de 65%) • Desfavorável (cerca de 10%) 4. ENTENDER COMO O QUADRO DE LEUCEMIA EVOLUI PARA HEMORRAGIA. 5. ENTENDER O MIELOGRAMA E SUAS APLICAÇÕES O mielograma, também conhecido como punção aspirativa da medula óssea, é um procedimento médico que visa examinar o funcionamento das células sanguíneas da medula óssea, que se encontra no interior de alguns ossos e é popularmente conhecida como tutano. O exame consiste na retirada de material medular, geralmente, da região da bacia, para que seja analisado em laboratório. Tal exame é fundamental para o diagnóstico de condições graves que afetam as células sanguíneas, como leucemia, linfoma e mieloma. Além disso, RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA também é bastante eficaz na identificação de problemas específicos na medula, como aplasia ou mielodisplasia, bem como no diagnóstico de doenças infecciosas, como a leishmaniose. Dessa forma, o mielograma é um dos métodos de análises clínicas mais importantes para a identificação de problemas hematológicos e de doenças relacionadas à medula óssea. Outros exames, como hemograma e biópsia da medula óssea, também são muito importantes nesse aspecto e podem ser realizados antes ou depois do procedimento, dependendo da condição clínica do paciente. REALIZAÇÃO A punção aspirativa da medula óssea é um procedimento invasivo,que pode causar algum tipo de desconforto, como dor ou sensação de pressão. No entanto, o exame é rápido, seguro, simples e bastante eficiente. No primeiro momento, o paciente é deitado de lado e recebe uma anestesia na parte do corpo onde o material será coletado – geralmente, é a região posterior do quadril. Após a anestesia, uma agulha especial é inserida através da pele até atingir o “tutano” do osso da bacia (osso ilíaco). Em crianças, é comum que o exame mielograma seja realizado na região da tíbia. Nesse momento, são recolhidas amostras de líquido e um pequeno fragmento sólido da medula óssea. Por fim, a agulha é retirada e o material é enviado para análise em laboratório. O paciente recebe um curativo no local da punção e é liberado. O local onde é realizada a punção da medula óssea não interfere no resultado do exame. O osso utilizado para o aspirado da medula pode mudar conforme a idade, o estado clínico do paciente e a expertise do médico. O médico hematologista irá analisar a amostra da medula em microscopia e identificar possíveis alterações, como a diminuição ou aumento da produção das células do sangue, presença de células imaturas, infecções e até metástases. INDICAÇÃO O mielograma serve como um meio de investigação, diagnóstico e acompanhamento de uma série de doenças relacionadas ao funcionamento da medula óssea. Em geral, o exame é solicitado após alterações no hemograma (exame de sangue), ajudando o médico a identificar o motivo de determinada anomalia. Entre as principais doenças que podem ser diagnosticadas e monitoradas com o mielograma, podemos citar: • Anemia. • Anemia aplásica. • Leucemias. • Linfoma de Hodgkin e não Hodgkin. • Doença de Gaucher. • Mielodisplasia. • Leishmaniose visceral. • Metástase de um câncer de medula óssea. Dependendo do resultado do mielograma, pode ser necessária, também, a realização da biópsia da medula óssea – exame mais complexo, que consiste na remoção e análise de um pedaço do osso. CONTRAINDICAÇÃO O mielograma só pode ser realizado com autorização do médico, que verifica, com base no histórico do paciente, se há contraindicações para o procedimento. É raro o caso de uma pessoa que não possa ser submetida ao exame. Uma situação impeditiva é quando o indivíduo apresenta distúrbios graves de coagulação, ou tenha coagulopatia intravascular disseminada. Se a pessoa tiver trombocitopenia (também conhecido como plaquetopenia, que é o indicativo de baixa plaqueta no sangue), pode ser necessária a transfusão de plaquetas antes do procedimento. Além disso, não é indicado que crianças menores de 12 anos, ou pacientes que tenham problemas de mieloma múltiplo ou reabsorção óssea, sejam submetidas ao exame com a punção no osso esterno. Nesses casos, pode ser coletada material de medula óssea da tíbia (osso da perna) ou da crista ilíaca (bacia). https://www.hermespardini.com.br/blog/?p=115 RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA INTERPRETAÇÃO Permite a avaliação qualitativa e quantitativa das células da medula óssea (celularidade/maturação), a identificação das que forem incomuns à sua citologia e de parasitas. Em condições normais a medula óssea é normocelular de acordo com a idade, embora o melhor método para avaliação da celularidade seja a biópsia da medula óssea; a hemodiluição está ausente ou discreta; a relação granulocítica/ eritrocítica varia de acordo com valores de referência para cada idade. Em cada uma das séries há normomaturação, alterações microcíticas e megaloblásticas são ausentes ou discretas, dishemopoese está ausente, assim como células anômalas do tecido hematopoético ou de outro tecido, células de depósito e microorganismos. A atividade fagocítica varia de discreta a moderada. → É fornecida a contagem percentual média de neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e eritroblastos e é calculada a relação Mielóide/Eritróide, parâmetros que variam de acordo com a idade. → É fornecida a contagem percentual média da série granulocítica, mieloblastos, promielócitos, mielócitos, metamielócitos, bastões, segmentados, eosinófilos, basófilos, série eritrocítica (total), linfócitos, plasmócitos, monócitos, megacariócitos, células reticulares e a relação Mielóide/Eritróide e comparada à variação de adultos normais. Algumas alterações podem ser observadas: Celularidade: • Hipocelularidade: hemodiluição, hipoplasia de MO, aplasia de MO, Fibrose de MO. • Hipercelularidade: Reacional à processos inflamatórios/infecciosos, Distúrbios hemolíticos, Doenças mieloproliferativas, Doenças linfoproliferativas, Leucemias agudas. • Relação G/E: útil na avaliação de hipo ou hipercelularidade das séries granulocítica ou eritrocítica, como especificado abaixo. Série eritrocítica: • Hipocelular: hipoplasia ou aplasia pura de série vermelha , associadas a doença congênita: Síndrome de Blackfan Diamon; ou adquirida: Crises aplásticas de anemias hemolíticas, Infecção por parvovírus, Timoma, Paraneoplásica, Drogas, etc. • Hipercelular: anemias hemolíticas, anemias por perdas, policitemia secundária ou vera, reacional a quadros inflamatórios, etc. • Parada de maturação: recuperação pós aplasia, Sindrome Mielodisplásica. • Alterações megaloblásticas ou megaloblastóides: anemia megaloblástica por def. de vit B12 e/ou ácido fólico, associadas a drogas (ex: sulfonamidas, Methotrexate), Mielodisplasias, etc. • Alterações microeritroblásticas: talassemias, anemia ferropriva. • Diseritropoese: Síndrome Mielodisplásica, Anemia megaloblástica, Secundária à drogas (ex. QT). Série granulocítica: • Hipocelular: Hipoplasia/ Aplasia de MO, Secundária a drogas (Ex: Cloranfenicol, QT), Secundária a Radioterapia, Fibrose de Medula óssea, Osteopetrose, etc. • Hipercelular: Reacional a processos inflamatórios/infecciosos, Doenças mieloproliferativas, uso de fatores estimuladores de colônias de granulócitos (G-CSF), Recuperação pós quimioterapia. • Parada de maturação: recuperação pós aplasia, secundária a drogas (ex: sulfonamidas, MTX), Síndrome Mielodisplásica. • Alterações megaloblásticas/ megaloblastóides: Deficiência de B12 e folato, Secundárias a drogas (sulfonamidas, MTX), Sindrome Mielodisplásica. • Disgranulopoese: Idem diseritropoese. Série linfoplasmocitária: • Linfocitose: Doenças linfoproliferativas crônicas, raramente em quadros reacionais. • Hipocelularidade Linfocitária: pode estar associada a imunodeficiência adquirida, ou ser apenas relativa em medulas onde outras séries estão muito aumentadas. • Plasmocitose: reacionais a processos inflamatórios ou neoplásicos e Mieloma Múltiplo. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Série monocítica-macrofágica: • Monocitose: Leucemia Mielomonocítica Crônica (adulto ou juvenil), raramente em recuperação pós quimioterapia. A presença de células reticulares é habitual na medula óssea, porém em alguns casos pode haver aumento da atividade fagocitária (Processos reacionais inflamatórios, Síndrome Mielodisplásica, Doenças infecciosas virais, bacterianas ou parasitárias comprometendo MO, citotoxicidade por drogas, etc.). Série Megacariocítica: • Hipocelularidade: Hipoplasia ou aplasia de medula óssea primárias ou associadas a uso de drogas, quimio e/ou radioterapia, Púrpura amegacariocítica adquirida ou congênita (Trombocitopenia com Ausência de Radio). • Hipercelularidade: Reacionai a processos inflamatórios ou hemorrágicos, Recuperação pós quimio/radioterapia, Púrpura Trombocitopênia Imunológica. • Dismegacariopoese: idem diseritropoese. 6. ELUCIDAR AS INDICAÇÕES PARA HEMOTRANSFUSÃO DE PLAQUETAS. INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES Os concentrados de plaquetas (CP) unitários contêm aproximadamente 5,5 x 1010 plaquetas em 50-60mL de plasma, já as unidades por aférese contêm, pelo menos, 3,0 x 1011 plaquetas em 200-300mL deplasma (correspondente a 6-8U de CP unitários). Basicamente, as indicações de transfusão de CP estão associadas às plaquetopenias desencadeadas por falência medular, raramente indicamos a reposição em plaquetopenias por destruição periférica ou alterações congênitas de função plaquetária. a) Plaquetopenias por falência medular A discussão inicial que surge quanto à indicação de transfusão de CP em pacientes portadores de plaquetopenias associadas à falência medular (doenças hematológicas e/ou quimioterapia e radioterapia) refere-se à utilização de transfusões profiláticas. Nas situações de plaquetopenias por tempo determinado, frequente- mente associadas a métodos terapêuticos para doenças oncológicas ou onco-hematológicas, como quimioterapia, radioterapia e transplante de células progenitoras hematopoiéticas, indica-se a transfusão profilática: • se contagens inferiores a 10.000/µL na ausência de fatores de risco; • se inferiores a 20.000/µL na presença de fatores associados a eventos hemorrágicos como febre (>38°C), manifestações hemorrágicas menores (petéquias, equimoses, gengivorragias), doença transplante versus hospedeiro (GVHD – graft versus host disease), esplenomegalia, utilização de medicações que encurtam a sobre- vida das plaquetas (alguns antibióticos e antifúngicos), hiperleucocitose (contagem maior que 30.000/mm³), presença de outras alterações da hemostasia (por exemplo, leucemia promielocítica aguda) ou queda rápida da contagem de plaquetas. Alguns trabalhos identificam duas situações especiais: • Pacientes pediátricos toleram contagens plaquetárias mais baixas, definindo-se como critério de indicação de transfusão de CP contagens inferiores a 5.000/µL em pacientes estáveis; • Pacientes adultos portadores de tumores sólidos teriam maior risco de sangramento quando submetidos à quimioterapia e/ou à radioterapia associados à necrose tumoral, sendo indicado trans- fusão de CP se contagens inferiores a 20.000/µL. Em situações em que a plaquetopenia por falência medular tem um caráter crônico (por exemplo, pacientes portadores de anemia aplástica grave ou síndrome mielodisplásica), os pacientes devem ser observa- dos sem transfusão de CP. Esta estaria indicada profilaticamente somente se contagens inferiores a 5.000/µL ou se inferiores a 10.000/ µL, na presença de manifestações hemorrágicas. Estudos recentes demonstraram que em situações de plaquetopenias por falência medular associada ao transplante autólogo de célula hematopoiética é seguro não transfundir CP mesmo se contagens inferiores a 10.000/µL na ausência de sangramento se for possível manter um controle rigoroso do paciente com disponibilidade imediata de transfusão se surgirem manifestações hemorrágicas menores. Esta conduta diminui o risco de refratariedade plaquetária, RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA o custo hospitalar relacionado ao procedimento e o consumo de CP, sem comprometer a segurança do paciente. b) Distúrbios associados a alterações de função plaquetária Pacientes portadores de alterações da função plaquetária raramente necessitam de transfusões de CP. Nas situações de disfunções congênitas como trombastenia de Glanzmann (deficiência congênita da GPIIb/IIIa), síndrome de Bernard-Soulier (deficiência da GPIb/IX), síndrome da plaqueta cinza (deficiência dos grânulos alfa) etc., a ocorrência de sangramentos graves é pouco frequente. A recomendação terapêutica é de transfusão de CP pré-procedimentos cirúrgicos ou invasivos e no caso de sangramentos após utilização, sem resultados, de outros métodos como agentes antifibrinolíticos e DDAVP (1-deamino-8-D-arginina vasopressina). Frequentemente, em pacientes submetidos a procedimentos cardíacos cirúrgicos, com utilização de circulação extracorpórea por tempos superiores a 90-120min, a função plaquetária pode estar comprometida, por mecanismos associados à ativação plaquetária, desencadeando sangramento difuso intraoperatório. Nesta situação, mesmo com contagens superiores a 50.000/µL, está indicada a transfusão de CP. c) Plaquetopenias por diluição ou destruição periférica Quatro situações importantes podem ser caracterizadas neste grupo, no qual temos uma diluição da concentração das plaquetas ou um consumo aumentado e/ou destruição por mecanismos imunes: Transfusão maciça: espera-se uma contagem de plaquetas inferior a 50.000/µL se aproximadamente duas volemias sanguíneas forem trocadas do paciente. Nesta situação, recomenda-se a transfusão de CP se a contagem for inferior a 50.000/µL e se inferior a 100.000/µL na presença de alterações graves da hemostasia, trauma múltiplo ou de sistema nervoso central; Coagulopatia intravascular disseminada (CID): nesta situação, a reposição de plaquetas e fatores de coagulação é desencorajada, pois não há evidências de efeitos benéficos profilaticamente, porém, em presença de sangramentos, mesmo que sem gravidade no momento, deve-se iniciar a reposição de fatores de coagulação (PFC) e de CP objetivando contagens superiores a 20.000/µL; Plaquetopenias imunes: a mais frequente forma de plaquetopenia imune é a púrpura trombocitopênica imune (PTI), associada à presença de autoanticorpos antiplaquetas. Nesta situação, a transfusão de CP é restrita a situações de sangramentos graves que coloquem em risco a vida dos pacientes. A terapêutica de reposição deve ser agressiva e sempre associada a formas de tratamento específico como altas doses de corticóides e imunoglobulina. Dengue Hemorrágica: a trombocitopenia que acompanha os casos de dengue hemorrágica é causada pela presença de anticorpos que, dirigidos contra proteínas virais, apresentam reação cruzada contra antígenos plaquetários. Na prática, esta plaquetopenia se comporta como a da PTI, portanto não há indicação para a transfusão profilática de CP independentemente da contagem de plaquetas no sangue periférico. A transfusão profilática de CP também não está indicada nas trombo- citopenias que podem acompanhar a Leptospirose e as Riquetsioses. d) Procedimentos cirúrgicos ou invasivos em pacientes plaquetopênicos Existe uma grande variedade de dados associados a indicações de transfusão de CP em pacientes plaquetopênicos submetidos a procedimentos cirúrgicos ou invasivos, porém a dificuldade de comparação entre os trabalhos leva a uma dificuldade de definição de critérios conclusivos. Existe um consenso que contagens superiores a 50.000/ µL são suficientes para a maioria dos casos, exceto para procedimentos neurocirúrgicos e oftalmológicos para os quais níveis mais elevados são exigidos (superiores a 80.000 a 100.000/µL). O Quadro 4, a seguir, demonstra diferentes critérios de indicação para transfusão de CP em situações cirúrgicas específicas que podem ser utilizados como orientação de conduta. Cabe ainda ressaltar que, nestes procedimentos, a habilidade do profissional que os executa é rele- vante na ocorrência de complicações. RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Na púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) e na plaquetopenia induzida por heparina (PIH) a indicação de transfusão de CP está restrita a situações de sangramento grave, colocando em risco a vida do paciente. A transfusão profilática mesmo para realização de procedi- mentos invasivos e/ou cirúrgicos deve ser evitada, pois alguns trabalhos científicos demonstram piora do quadro clínico ou risco de ocorrência de fenômenos tromboembólicos. COMPATIBILIDADE ABO E RHD As plaquetas possuem antígenos ABO na sua superfície e níveis de expressão variáveis individualmente. Existem evidências de que a transfusão de CP ABO incompatíveis reduz, aproximadamente, 20% o incremento da contagem pós transfusional e parece ser mais rele-vante quando os títulos de anticorpos naturais presentes no receptor são elevados associado à alta expressão do correspondente antígeno nas plaquetas do CP, situação esta pouco frequente. O significado clínico da transfusão de CP ABO incompatível parece pouco relevante. Contrariamente, existem evidências de que a transfusão de CP ABO incompatíveis desenvolva refratariedade de causa imune - associada à aloimunização - com maior frequência quando comparada com trans- fusões de plaquetas ABO idênticas. Em resumo, deve-se preferir trans- fusão de CP ABO compatível, porém, se esta não for possível, optar por transfusões de unidades ABO incompatíveis em pacientes que não necessitarão de suporte crônico. A aloimunização contra o antígeno RhD está associada à contaminação por hemácias dos CP. Alguns estudos demonstram a ocorrência desta aloimunização em aproximadamente 10% dos pacientes RhD negativos transfundidos com CP RhD positivos, esta é menos frequente em pacientes onco-hematológicos e pediátricos e nos que recebem CP obtidos por aférese (pela menor contaminação por hemácias) e pode ser evitada utilizando-se imunoprofilaxia anti-D (imunoglobulina anti-D). DOSE E MODO DE ADMINISTRAÇÃO A dose preconizada é de 1 unidade de CP para cada 7 a 10 kg de peso do paciente, porém pode-se considerar também a contagem de plaquetas desejada dependendo da presença ou ausência de sangramento como segue: Transfusões terapêuticas (contagem desejada superior a 40.000/µL): • Adultos > 55kg de peso – dose mínima de 6,0 x 1011 (8-10U de CP unitários ou 1U CP obtidos por aférese). • Pacientes 15-55 kg de peso – dose mínima de 3,0 x 1011 (4-6U de CP unitários ou 0,5-1U CP obtidos por aférese). • Crianças < 15 kg – dose de 5-10 mL/kg. Transfusões profiláticas (contagem desejada superior a 25.000/µL): • Adultos > 55 kg de peso – dose mínima de 4,0 x 1011 (6-8U de CP unitários ou 1U CP obtidos por aférese). • Pacientes menores – dose 1U de CP unitários para cada 10 kg de peso. A dose de plaquetas pode ser calculada de maneira mais detalhada ou precisa, identificando-se o incremento plaquetário desejado (IP) e levando-se em conta a volemia sanguínea (VS) e o sequestro esplênico estimado (aproximadamente 33%), utilizando-se para isso a fórmula abaixo: RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA Doses menores (1,5 x 1011 ou 3-4U de CP unitárias) podem ser utiliza- das nos casos de transfusões profiláticas em pacientes estáveis sem sangramento e mantidos em ambiente hospitalar com acompanhamento próximo. Nesta situação, a necessidade transfusional é mais frequente, porém tem se demonstrado bastante segura. O tempo de infusão da dose de CP deve ser de aproximadamente 30min em pacientes adultos ou pediátricos, não excedendo a velocidade de infusão de 20-30mL/kg/hora. A avaliação da resposta terapêutica a transfusão de CP deve ser feita através de nova contagem das plaquetas 1 hora após a transfusão, porém a resposta clínica também deve ser considerada. Em pacientes ambulatoriais, a avaliação laboratorial 10min após o término da transfusão pode facilitar a avaliação da resposta e possui resultados comparáveis. 7. COMPREENDER O PAPEL DA ATENÇÃO HOSPITALAR AO SUPORTE PACIENTE E FAMÍLIA (EQUIPE MULTIDISCIPLINAR) O tratamento oncológico envolve etapas diversas e para cada uma delas existe um profissional especializado para oferecer o melhor atendimento. Para cada paciente, as condições podem ser diferentes, cada membro dessa equipe desenvolve um papel importante e essencial. Desde o diagnóstico até o acompanhamento após o tratamento, os profissionais atuam de forma relacionada e especializada, aliando seus conhecimentos para conseguir formar essa equipe e ter mais eficiência. Um médico oncologista pode passar cerca de 10 anos estudando antes de se tornar um especialista, sendo 6 anos de formação em medicina, a pós-graduação em oncologia e mais 2 ou 3 anos de residência clínica ou estágio em instituição reconhecida. Mesmo assim, seria praticamente impossível que esse profissional trabalhasse sozinho. É essencial ter o apoio de um enfermeiro oncologista, por exemplo, para aplicar e intermediar o tratamento entre paciente e médico. Além dele, existem outros profissionais envolvidos que se dedicam a ajudar de outras formas, como o nutricionista, já que a alimentação é primordial em qualquer tratamento médico. Para determinar um plano de tratamento, é preciso saber tudo a respeito do paciente, suas condições, tipo de tumor, medicamentos disponíveis, entre diversos outros detalhes. É por isso que existe a equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer. Como é composta a equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer? • Médico oncologista: O médico oncologista é quem irá avaliar as condições do tumor, de saúde do paciente, o tratamento indicado, e a evolução do tratamento. O médico oncologista determina o rumo geral do tratamento, qual a forma de tratamento a ser aplicada, se será necessário realizar cirurgia, quimioterapia, radioterapia, ou alguma outra forma de tratamento. Ele também avalia a resposta do tratamento para saber se o mesmo está sendo eficaz ou se é necessário mudar a forma de tratamento. Além disso, também avalia os efeitos colaterais que podem surgir ao longo do tratamento oncológico. • Enfermeiro oncológico: Especializado no atendimento de pacientes com câncer, o enfermeiro oncológico é, na maioria das vezes, quem administra (aplica) o tratamento, acompanha os procedimentos com o paciente, colhe informações acerca de efeitos colaterais, avalia suas queixas e o orienta sobre a doença. Quanto aos efeitos colaterais, esses devem ser passados ao médico oncologista também, mas geralmente é o enfermeiro quem tem o papel de registrar essas informações. O enfermeiro oncologista aplica a medicação, realiza curativos quando necessários e auxilia o paciente da forma que for preciso, dando apoio imediato às suas solicitações e necessidades. • Nutricionista: A alimentação é a melhor forma que temos de nutrir o nosso organismo para que ele se mantenha forte e reaja de maneira positiva ao tratamento. Por isso, o nutricionista desempenha um papel muito importante para a equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer. Ele é quem vai determinar a dieta do paciente, o que é recomendado e o que não deve ser consumido, a RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA quantidade de cada nutriente, entre outros detalhes relativos à alimentação. O nutricionista também pode indicar alimentos a fim de amenizar e combater os efeitos colaterais, como as náuseas, por exemplo. • Farmacêutico: O farmacêutico é um especialista em medicamentos e sua relação com o organismo do paciente. Ele poderá avaliar a qualidade de um fármaco, sua composição, seus efeitos sobre o paciente, os fornecedores do medicamento e as reações adversas do paciente. Atuando juntamente com o restante da equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer, o farmacêutico consegue ajudar a determinar os melhores medicamentos a serem utilizados em cada caso, a fim de maximizar a eficiência e minimizar riscos de reações adversas. Além disso, ele faz o acompanhamento do paciente, avaliando suas condições e resposta aos fármacos. • Equipe radioterápica: No caso da radioterapia, existe toda uma outra equipe dentro da equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer. Desde o médico rádio-oncologista, que determina a necessidade da radioterapia, até o técnico radioterápico, que posiciona o paciente e opera o equipamento. Esta equipe contém cerca de 10 profissionais exclusivamente dedicados à radioterapia dentro da equipe multidisciplinar no tratamento contra o câncer. Alguns têm a funçãoexclusiva de analisar os resultados dos exames, enquanto outros determinam a dose e intensidade do feixe de radiação a ser aplicado. Existem ainda profissionais de apoio, como psicólogos, equipe de terapia, odontologista, assistente social, entre outros. Tudo isso para que o paciente possa passar pelo tratamento com todo o suporte que puder ter. Entidades de apoio ao paciente com câncer e seus familiares O Brasil possui organizações não governamentais (ONGs) e instituições voltadas para inspirar e apoiar pacientes durante o tratamento. Elas ganham cada vez mais força e começam a ser mais familiares à população, oferecendo todo tipo de apoio relacionado à doença. São instituições sem fins lucrativos que trabalham fornecendo informações, apoio jurídico, psicológico e encabeçando movimentos por políticas públicas em favor dos pacientes oncológicos. O Instituto Vencer o Câncer (IVOC) é uma dessas entidades. Nas palavras de Rita Domingues, coordenadora do projeto, um câncer pode ser devastador para mente e espírito, mas informação e apoio fortalecem o paciente e alimentam a esperança e a confiança na equipe médica e no próprio tratamento. “Como cidadãos, precisamos nos sentir respeitados, acolhidos e ter acesso a uma comunicação clara”, ressalta. O IVOC, conforme a coordenadora, procura oferecer informação com credibilidade, na linguagem do paciente e de seus familiares, evitando ruídos e entendendo o momento dos pacientes. Tanto que as informações do portal dizem respeito a tópicos variados, desde controle de efeitos colaterais até humanização do tratamento e cuidados com o espírito, passando por direitos dos pacientes. A Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) é outro exemplo. A entidade trabalha para democratizar o tratamento de pessoas com doenças do sangue e vários tipos de câncer, por meio da mobilização de parceiros e atores da área da saúde, oferecendo apoio jurídico, psicológico, nutricional e informativo para pacientes e seus familiares. Melissa Pereira, gerente de apoio ao Paciente da Abrale, faz a mesma relação entre o trabalho das ONGs e o ganho de confiança no sucesso do tratamento. “A busca por informação empodera o paciente, dando a ele base para discutir com o seu médico as melhores opções de tratamento e mais confiança para enfrentar essa jornada”, afirma. Também voltado para a divulgação de informação, defesa de direitos e aprimoramento de políticas públicas, o Instituto Oncoguia tem a missão de promover a qualidade de vida de pacientes com câncer. Para Luciana Holtz, psico-oncologista e presidente da entidade, essa atuação tem potencial para ser um “divisor de águas” na vida do paciente. O Oncoguia disponibiliza um telefone que pode ser acionado gratuitamente para orientações sobre o tema (0800- 773-1666). GAPC – Grupo de apoio a pessoas com câncer: Amenizar o sofrimento de pacientes portadores de RENATA LIMA – MEDICINA – 6º SEMESTRE – TUTORIA câncer é um desafio a ser assumido por todos: governo, ONGs, empresas e sociedade. O GAPC é uma entidade sem fins lucrativos que ajuda gratuitamente os portadores de câncer e suas famílias há mais de 17 anos. Fornece medicamentos, próteses, fraldas, perucas, suplementos alimentares, atendimento psicológico, fisioterapêutico, nutricional e terapias alternativas, além de palestras e cursos de orientação sobre recursos e direitos, e também auxilia a viabilizar recursos de direito perante a rede pública. Trabalha também na frente de prevenção realizando eventos para chamar atenção da população para a importância do tema e do diagnóstico precoce, elabora e distribui material informativo com explicativos sobre alguns tipos de câncer e forma de prevenção.
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