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DESIGN THINKING E INOVAÇÃO DOS MODELOS DE NEGÓCIO UNIDADE 4 - Aula 2 EXPONENCIALIDADE E NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO • A exponecialidade nos negócios. • O surgimento de novos modelos de negócio. • Aplicação de Inteligência Artificial (IA) para a obtenção de resultados exponenciais. INTRODUÇÃO Nanotecnologia, manufatura digital robótica e inteligência artificial: o que essas tecnologias têm em comum? Todas elas são íntimas da ideia de exponencialidade, fazendo emergir soluções que vêm transformando o curso das nações, o mundo dos negócios e a vida das pessoas. Logo na introdução, os autores do livro Organizações Exponenciais trazem o seguinte: “em 2011, a Babson’s Olin Graduate School of Business previu que, em dez anos, 40% das empresas da Fortune 500 existentes não mais sobreviveriam” e adicionam: “a vida média de uma empresa da S&P 500 caiu de 67 anos, em 1920, para 15 anos” (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018, s.p). Drones, por exemplo, custavam 100 mil dólares em 2007 e 700 em 2013. A impressão 3D, por sua vez, apresenta uma relação custo-desempenho de 400 vezes em 7 anos e a biotecnologia, com o sequenciamento do DNA humano, 10 mil vezes em 7 anos (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018). Com a aceleração da tecnologia, modelos de negócio baseados em informação passam continuamente por disrupção, negando todas as possíveis previsões que possam ter surgido no passado, na tentativa de prever o futuro. SOBRE EXPONENCIALIDADE E SEU IMPACTO NO MUNDO DOS NEGÓCIOS Uma organização exponencial (ExO) “é aquela cujo impacto (ou resultado) é desproporcionalmente grande – pelo menos dez vezes maior – comparado ao de seus pares, devido ao uso de novas técnicas organizacionais que alavancam as tecnologias aceleradas” (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018, p. 16). Para citar alguns exemplos de ExOs: Airbnb (setor hoteleiro) apresenta 90 vezes mais anúncios por colaborador em comparação a seus pares; Github (software), 109 vezes mais repositórios por colaborador e Google Ventures (investimentos), 2,5 vezes mais investimentos em startups em estágio inicial e 10 vezes mais rápido por meio de processo de design (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018). Figura 1 | Representação gráfica da relação crescimento versus tempo – linear e exponencial. Fonte: Ismail, Gees e Malone (2018). Para atestar exponencialidade em uma organização, portanto, o crescimento ao longo do tempo deve ser como na função matemática: “se dou 30 passos linearmente, são 30 passos; se dou 30 passos exponencialmente, são bilhões de passos” – conhecida frase de Ray Kurzweill. Perceba que aproveitar as tecnologias para disruptar o negócio depende da capacidade das pessoas em aplicá-las para resolver problemas reais. Mas o pensamento linear está tão arraigado nas organizações que o processo de inovação fica comprometido por ser frágil. Dentro da concepção de antifragilidade, proposta por Nassim N. Taleb (2020), o caos e a aleatoriedade fazem parte do crescimento das pessoas e dos sistemas. Perceba que a questão da exponencialidade depende do modelo de negócio, da tecnologia e do mindset das pessoas envolvidas. É preciso pensar de forma disruptiva e estar, o tempo todo, atento às mudanças do mercado. Os autores Ismail, Gees e Malone (2018) analisaram as 100 maiores startups do mundo para identificar pontos de paridade. O resultado do estudo foi uma lista com 10 atributos que caracterizam uma ExO: Figura 2 | Atributos internos (IDEAS) e externos (SCALE). Fonte: elaborada pela autora com base em Ismail, Gees e Malone (2018). Interfaces refere-se à forma como os fluxos e controles internos garantem que a informação (ligada à externalidade da empresa) chegue às pessoas certas, no tempo certo; dashboards, por sua vez, está diretamente associado à forma como os dados são medidos, gerenciados e disponibilizados a todos da empresa; experimentação se relaciona com a capacidade de testar hipóteses, diminuindo desperdícios e time-to-value; autonomia quer dizer empoderamento de times através da autoridade descentralizada; tecnologias sociais, por fim, está associada à transparência e confiança das pessoas nas organizações ao horizontalizar a comunicação. Equipe sob demanda significa reconhecer a obsolescência acelerada do capital intelectual da empresa – é preciso oxigenar as ideias; fazendo uso da conexão anywhere, anytime, possível pela democratização do acesso à internet, as empresas podem entrar ou criar/administrar comunidades que compartilhem o mesmo propósito e se diferenciam do restante, criando uma identidade comum que extrapola a transação comercial ou, ainda, atrair a multidão com estratégias ligadas ao PTM (veja a seguir); algoritmos servem para processar a imensidão de dados, fornecendo inteligência para o negócio manter vantagem competitiva; ativos alavancados referem-se à ação de alugar, compartilhar ou alavancar ativos ao invés de deter propriedade sobre eles; engajamento, por fim, agrupa técnicas (sorteios, concursos, cupons, etc.) para socializar e fomentar feedbacks positivos. Além dos atributos listados acima, é importante que a empresa tenha um Propósito Transformador Massivo (PTM). Exemplo: TED, “ideias que merecem ser espalhadas” e Quirky, “tornar a invenção acessível”. Nenhuma traz uma declaração que traduz, na prática, o que essas empresas entregam. Mas perceba que pode ser algo compartilhado, mesmo em termos de valores, com pessoas em todo o mundo. Elas pensam grande para pensar junto. A RELAÇÃO ENTRE MODELOS DE NEGÓCIO E A EXPONENCIALIDADE “Quando você acessa recursos e os habilita para informação, o resultado principal é que seus custos marginais caem para zero” (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018, p. 46). A lógica de rede beneficia, em especial, empresas que usam a informação através e para as pessoas, veja o caso do Google e Waze. E foi exatamente esse blind spot que comprometeu a Kodak quando ela alocou mais de 8 bilhões de dólares para adquirir uma empresa de sensores de tráfego. Em pouco tempo, a Waze acumulava mais informações do que a outra empresa avaliada em bilhões, e comprada pela Kodak, apenas habilitando o acesso às informações do GPS dos smartphones de seus usuários que, por sinal, ingressavam na plataforma a taxas exponenciais. Deter recursos, canais e pessoas não faz sentido para a estratégia organizacional de uma empresa que pretende ter perenidade no futuro. O livro O que a Google faria? (2010), do jornalista Jeff Jarvis, endereça algumas premissas que parecem corresponder ao mindset exponencial: o cliente está no controle, as pessoas possuem facilidade em se juntar em prol de um objetivo comum, o mercado de massa foi substituído pelo mercado de nichos, a empresa deve ser capaz de conversar com o mercado, a economia passa a obedecer a uma lógica de abundância – e não mais de escassez, permitir que o cliente faça parte do processo produtivo, as empresas mais bem-sucedidas são aquelas organizadas sob a lógica de rede e, por fim, ter propriedade sobre pessoas, canais, produtos ou mesmo propriedade intelectual não garante mais sucesso (JARVIS, 2010). É possível enxergar a relação próxima de tais regras de mercado (listadas acima) com os atributos característicos das ExOs, não é mesmo? E tudo isso refere-se não somente à base tecnológica, mas também à importância de reconhecer o papel das pessoas e da cultura de testes para criar uma ExO. As empresas devem desenvolver a capacidade de conversar com o mercado, com as pessoas. Com isso, conforme destaca Jeff Jarvis (2010), identificar oportunidades de negócios sob a lógica de rede, ou seja, soluções em plataformas que deem controle e liberdade às pessoas. Exemplos de negócios que atuam como plataforma: AirBnB, Udemy, Hotmart, YouTube, Amazon, Wikipedia dentre outras. Há um incômodo significativo que as empresas exponenciais causam nos demais players de determinado segmento, a exemplo de gigantes do e-commerceno setor de vendas. (Amazon, Mercado Livre e Ali Express), as MOOCs (Massive Open On-line Course) frente às universidades ou, ainda, plataformas como Uber e 99 Taxi para os taxistas. Pivotar a empresa pode ser uma ação que irá assegurar a perenidade do negócio e somente pessoas capazes de desaprender e aprender coisas novas poderão liderar nesse cenário. E você, escolhe fazer parte de qual grupo de pessoas? EXEMPLOS PRÁTICOS DE TECNOLOGIA QUE HABILITA A EXPONENCIALIDADE À medida que o custo da tecnologia cai, novos modelos de negócio são habilitados. Hoje, você encontra startups no ecossistema brasileiro que ofertam produtos digitais para, simplesmente, capturar leads e vendê-los com maior qualidade a outras empresas – o modelo de negócio é complexo, mas encontra viabilidade em meio ao contexto atual. Aos 14 anos de idade, um jovem chamado Jack Andraka desenvolveu uma solução para identificar câncer pancreático em estágio inicial. E o mais incrível está por vir: a solução é 26 mil vezes mais barata, 400 vezes mais sensível e 126 vezes mais rápida quando comparada com os diagnósticos do mercado (ISMAIL; GEES; MALONE, 2018). O método do jovem pode ainda identificar câncer de pulmão e de ovário. Pessoas como Jack serão responsáveis por tangibilizar a exponencialidade, fomentando a disrupção em todos os segmentos do mercado. Outro exemplo para ilustrar como tecnologias habilitam exponencialidade, refere-se à aplicação de Inteligência Artificial para aumentar o ticket-médio em lojas virtuais, marketplaces e e-commerces, à medida que, com o histórico e comportamento de compra, consegue indicar produtos de forma personalizada e automática. Há bem pouco tempo, a indicação personalizada de itens era inimaginável – como um vendedor ou uma vendedora poderia ter acesso a essas informações e, ainda, cruzar os dados a uma velocidade rápida o suficiente para entregar uma experiência fluida na loja física? Noutro segmento, empresas de convênio médico já utilizam dados de redes de farmácia para cruzar informações e calibrar o preço do plano de saúde – nesse ponto, atenção: não vamos entrar em discussões éticas e morais, mas gostaria que você refletisse, por um momento, sobre o emprego da tecnologia para benefício próprio, visando somente o lucro e negligenciando o bem comum. Ainda sobre outra vertente do mercado, mais especificamente na malha rodoviária, também existem tecnologias que permitem o planejamento de rota, coordenação de destinos e prazos, para extrair maior eficiência da frota logística. Mas imagine o impacto quando os drones e robôs forem barateados a ponto de serem uma opção viável de entrega sob demanda. Muitas empresas terão que se reinventar para empregar novas tecnologias e manter a competitividade no mercado. Um outro exemplo disruptivo significativo é a formação de redes de profissionais autônomos que podem ser facilmente encontrados por grandes empresas para contratação, sob demanda, de mão de obra qualificada. Essa estratégia reduz o custo do capital intelectual da empresa, além de garantir uma oxigenação e diversidade de ideias importante para o processo de inovação. A Amazon Mechanical Turk e GigWalk são exemplos de plataforma que entregam tal solução para o mundo corporativo. Ampliando a sua visão crítica, pense um momento sobre a informação do parágrafo acima: como essa realidade pode te afetar individualmente? Pois bem, ao flexibilizar e ganhar liberdade na contratação de profissionais, a empresa tem ao seu dispor pessoas do mundo todo, com skills que podem ser cruciais para o desenvolvimento de projetos e novos produtos. Mas, ao mesmo tempo, você vai competir com pessoas de todo o mundo, ou seja, a concorrência por trabalho passa a ser global – nesse contexto, é cada vez mais importante que você se posicione no mercado de modo a demarcar a sua identidade, skills e capacidade intelectual criativa – declare o seu PTM! Saiba mais Ray Kurzweil foi o primeiro a publicar, em 2005, através do livro A Singularidade está próxima o termo “exponencialidade”. No Ted Talk The accelerating power of technology, o inventor e futurista norte-americano fala um pouco mais sobre as suas ideias para o futuro. KURZWEIL, R. The accelerating power of technology. TED Talk. 2005. Disponível em: https://www.ted.com/talks/ray_kurzweil_on_how_technology_will_transform_us/ transcript#t-68941. Acesso em: 28 nov. 2021. REFERÊNCIAS ISMAIL, S.; GEES, Y. V.; MALONE, M. S. Organizações Exponenciais: por que elas são 10 vezes melhores, mais rápidas e mais baratas que a sua (e o que fazer a respeito). Rio de Janeiro: Alta Books, 2018. JARVIS, J. O que a Google faria? – Como atender às novas exigências do mercado. Barueri, SP: Manole, 2010. MATTOS, T. Vai lá e faz: como empreender na era digital e tirar ideias do papel. Caxias do Sul – RS: Belas Letras, 2017. TALEB, N. N. Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos. 1. ed. Porto Alegre-RS: Objetiva, 2020.
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