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TEMPOS E MÉTODOS AULA 1 CONVERSA INICIAL Caros alunos, o objetivo desta disciplina de Tempos e Métodos é mostrar a vocês, futuros gestores, a importância de se determinar o tempo correto para a realização de uma tarefa produtiva, suas aplicações e os benefícios que o tempo padrão proporciona às empresas. Muitas empresas atualmente utilizam softwares para cálculo do tempo de fabricação, ou contratam empresas terceirizadas especializadas em determinação de tempos de produção. Contudo, nosso propósito é passar a vocês o detalhamento e o conceito básico desse cálculo, para que, quando tiver a responsabilidade de analisar um tempo de produção, tenha argumentos e capacidade de discutir sobre o método adotado. A busca pela competitividade entre empresas está cada dia mais acirrada. Todo o desperdício deve ser eliminado, os processos devem ser os mais estáveis possíveis, os custos de fabricação devem estar sob controle, os trabalhadores devem ser treinados constantemente para atender a todos os requisitos estabelecidos pela engenharia de processos. Aí vem a pergunta: como conseguir tudo isso sem conhecer em detalhes todo o processo produtivo da empresa? A resposta é complexa, uma vez que existem áreas, dentro das empresas, responsáveis por determinadas tarefas, as quais, atendendo a sua parte corretamente, leva a empresa aos resultados finais com sucesso, e uma das áreas mais importantes dentro de uma empresa, ainda pouco explorada, é a de Tempos e Métodos, a qual é normalmente conduzida pela engenharia industrial. Um posto de trabalho que tenha sido analisado em detalhes e que teve um método de trabalho estabelecido dentro dos padrões que ensinaremos nesta disciplina gerará um produto com qualidade, com um tempo de fabricação padrão e um custo de produção confiável. Nesta aula, vamos conhecer a evolução do estudo de tempos, por meio de cinco temas, a saber: • histórico do estudo de tempos e movimentos; • situação do trabalhador X evolução da indústria; • como se mede um trabalho; • origem do estudo de tempos; • origem do estudo dos movimentos. 2 TEMA 1 – HISTÓRICO DO ESTUDO DE TEMPOS E MOVIMENTOS A arte de se produzir algo é milenar. Muitos anos antes de Cristo já existiam produtos de cerâmica, tecelagem, artefatos de metal, etc., mas tudo era artesanal, feito à mão, assim surgiu o termo conhecido até hoje como manufatura. A evolução desse sistema de produção era muito lenta, não havia demanda, não havia máquinas automáticas, ou seja, produzia-se para consumo próprio e/ou para fazer o escambo (sistema de trocas entre produtos). Figura 1 – Exemplo de atividade de manufatura Fonte: CBC/Shutterstock. Somente no século XVIII, entre os anos de 1765 e 1785, os processos de produção tomaram um rumo diferente, e foi em decorrência do aperfeiçoamento e utilização da máquina a vapor por James Watt (conhecido como o criador da máquina a vapor), dando assim o início à Revolução Industrial. Figura 2 – Representação da máquina a vapor Fonte: Hein Nouwens/Shutterstock. 3 Todo esse processo de aprimoramento se deu na Inglaterra, pois, naquela época, era um país com acúmulo de capitais decorrentes das burguesias, tinha mão de obra disponível e muitas jazidas de carvão, matéria-prima essencial para mover as máquinas a vapor. A partir da invenção da máquina a vapor, apareceu a locomotiva, os barcos a vapor e, com isso, o sistema de transporte se expandiu em todo o mundo, tanto terrestre quanto marítimo. Com a automatização das máquinas, a produção começou a sair das fazendas (pois o custo de uma máquina automatizada era inviável para um artesão) e migrar para as indústrias, as quais, por meio de ferrovias e pelo mar, já podiam exportar seus produtos para toda a Europa e mundo afora. Figura 3 – Representação de embarcação a vapor Fonte: Dn Br/Shutterstock. TEMA 2 – TRABALHADOR VERSUS EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA Toda e qualquer automatização feita em uma empresa visa resolver assuntos relacionados a diversos aspectos, tais como: ergonomia, redução de tempo de fabricação para atender à demanda, melhoria de qualidade, redução do custo de fabricação, segurança do operário, etc. e, independentemente da razão, sempre alguém se sentirá prejudicado. As empresas têm donos, acionistas e visam ao lucro, mas muitas automatizações melhoram as condições de trabalho, evitam acidentes de trabalho, etc. Imaginem vocês no século XVIII, quando as pessoas tinham suas máquinas manuais em suas casas, produziam sem pressão de entrega, no tempo que consideravam ideal, na quantidade que queriam, enfim, sem controles e, de repente, os grandes empresários começam a investir em 4 máquinas automatizadas, e cada máquina faz o trabalho de dezenas de trabalhadores. Isso só poderia gerar uma onda enorme de desemprego. A relação trabalho X emprego sempre foi e será reflexo da economia local e, com isso, ambos devem se preparar: o empregado, na busca de capacitação e especialização, ou seja, sua empregabilidade, e as empresas, na retenção de seus talentos. Após a Revolução Industrial não foi diferente, porém ocorreu um ciclo bem interessante, o qual vamos descrever a seguir. • • • • • • Criação das primeiras fábricas de tecido – substituição do artesanal para o mecanizado. Aumento do desemprego (no início) – uma máquina fazia o trabalho de vários trabalhadores. Aumento da demanda de produtos produzidos – produto mais barato, tempo de entrega menor do produto, mais procura. Necessidade de se ter mais máquinas para produzir – aumento de produção nas fábricas de máquinas e mais fábricas. Procura de mão de obra para produzir máquinas – contratação de mão de obra. Procura de mão de obra para operar essas máquinas – volta da oferta de trabalho. Como visto, esse ciclo é bastante comum e ficou muito bem evidenciado na época em que uma parte da população se transferia do campo para a cidade, com intuito de trabalhar nas indústrias. TEMA 3 – COMO MEDIR O TRABALHO Com o aumento do número de empresas e, consequentemente, o aumento da oferta de empregos, ficou claro que a preocupação com o resultado do trabalho humano começa a ser a prioridade dos empresários, afinal, era preciso saber o que cobrar de um trabalhador, o quanto cobrar e como cobrar. Existem diversas maneiras de se medir o trabalho, seguem alguns exemplos: • volume diário de produção; • horas de trabalho da máquina; • quantidade mensal de envios de encomendas (serviços); 5 • quantidade de metros quadrados pintados; • quantidade de atendimentos por hora etc. Vale lembrar que, em uma produção artesanal, os produtos não tinham padronização de tempo, de medidas, cores etc., ou seja, se um artesão recebesse uma encomenda de 20 produtos, certamente um seria diferente do outro, e o tempo de produção também variava de peça a peça. Entretanto, com a industrialização, a produção em série de produtos obrigou os fabricantes a se preocuparem com a padronização. Essa padronização se inicia na concepção do produto e no método de produção, permitindo, assim, produtos intercambiáveis, sempre iguais, com tempos de produção definidos, permitindo-se conhecer as características de cada produto mesmo antes de ser fabricado. Figura 4 – Exemplo de produção padronizada de um produto Fonte: Marcin Balcerzack/Shutterstock. TEMA 4 – ORIGEM DO ESTUDO DE TEMPOS No início do século XX, as empresas começaram a se preocupar com a produtividade de suas instalações, mas, para que isso fosse possível, precisavam saber exatamente o que era feito, como era feito e qual o tempo de se fazer determinada tarefa, pois tendo uma base confiável poderiam aplicar melhorias no sistema atual e observar o resultado. Pensando nisso, Frederick Taylor, considerado o criador do estudo de tempos, fez uma série de observações com intuito de estabelecer métodos de produção em que os trabalhadores pudessem manter o ritmo de trabalho durantesua jornada diária, 6 por isso, a sua preocupação principal era voltada ao efetivo uso do esforço humano na execução das tarefas do dia a dia. Entre diversas observações feitas, a que mais marcou foi o trabalho desenvolvido em uma mina de carvão e minério, onde os trabalhadores usavam pás para mover o material. Taylor observou que a área coberta pelo supervisor da produção era muito grande e, com isso, não tinha condições de observar seus 50 a 60 operários, pois ficavam muito longe um do outro. Ao longo de suas observações, notou que, quando o operário pegava carvão, enchia a pá com cerca de 1,5 kg, e a mesma pá, com minério de ferro, chegava a 17 kg. Com base nesses dados e preocupado com a performance do operário, Taylor se dedicou a determinar o melhor método no qual o operário pudesse produzir mais com menos cansaço físico. Para isso, destacou dois operários que trabalhavam em pontos distantes um do outro e colocou dois observadores para medir o tempo de trabalho e produção de cada um. Aos poucos, foi modificando a forma e o tamanho da pá e, após muitos testes, chegou à conclusão que o peso ideal a ser carregado por pá seria de 9,75 kg. Montou, então, um almoxarifado com pás específicas, assim, quando o operário ia para a mina de carvão, usaria um tipo de pá e, para o minério de ferro, outro tipo de pá. Nesse tempo, Taylor também criou o departamento de planejamento, o qual era o responsável por treinar os operários, determinar o método e distribuir o trabalho, chegando ao ponto de realizar os pagamentos por produtividade. Após três anos de trabalho nesse projeto, a empresa produzia com 140 operários o mesmo que fazia com 500 anteriormente. Em razão desse e de outros trabalhos relacionados a métodos de trabalho, Taylor é conhecido como o pai da administração científica, saindo do sistema empírico para determinar tempos de fabricação para métodos científicos. Dividiu esse método científico em duas partes: a primeira era um método analítico na decomposição das tarefas em elementos, explorar a análise dos movimentos, determinar o tempo por tipo de movimento entre outros; a segunda parte é construtiva, que objetivava um agrupamento de movimentos comuns, procurava fatores de correção de tempo entre tarefas executadas por pessoas mais treinadas em relação às não bem treinadas, analisava, também, as operações com ferramentas, higiene e segurança do trabalho. 7 Hoje, o profissional de uma empresa tem informações suficientes e condições de preparar um posto de trabalho com um método ideal, atendendo a todos os requisitos necessários para se atingir os objetivos, mas deve ter em mente que todo método estabelecido pode ser melhorado, ou seja, a busca diária para se melhorar a produtividade deve ser constante. TEMA 5 – ORIGEM DO ESTUDO DOS MOVIMENTOS Acompanhando a mesma linha de Taylor, o casal Frank e Lillian Gilbreth foram os precursores do estudo dos movimentos, pois, após o detalhamento de uma tarefa em pequenas partes, esse casal se dedicou a observar essas pequenas partes e as dividiu ainda mais, chamando cada movimento de therbligs, um anagrama de seu nome. No primeiro momento, o casal identificou 17 elementos básicos e, alguns anos depois, um aluno de Frank adicionou o 18o elemento, denominado segurar. Com auxílio de fotos e filmagens de diversos operários assentando tijolos, Gilbreth determinou um novo método de assentamento de tijolos, reduzindo de 18 diferentes movimentos para apenas cinco, obtendo o mesmo resultado final, porém com o trabalhador menos cansado fisicamente. O grande feito desse casal, ao determinar esses elementos, é o fato de utilizar tais movimentos para a elaboração de tabelas de tempos predeterminados. Por meio dessas tabelas, é possível determinar o tempo de uma tarefa antes mesmo de ser implantada na produção. É um método muito usado no planejamento inicial de um produto, facilitando até mesmo o cálculo do custo de fabricação de um novo produto. FINALIZANDO Nesta aula, você conheceu o histórico do estudo de tempos e movimentos, assim como os reflexos na vida do trabalhador após a Revolução Industrial. Aprendeu, também, os benefícios oriundos dos trabalhos desenvolvidos por Taylor e pelo casal Gilbreth. Verifique, agora, alguma tarefa sendo executada e comece a pensar qual movimento feito poderia ser eliminado. Até a próxima aula e bons estudos. 8 REFERÊNCIAS AGOSTINHO, D. S. Tempos e métodos aplicados à produção de bens. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. BARNES, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: projeto e medida do trabalho. 6. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1983. 9
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