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CIÊNCIAS POLÍTICAS Apresentação da disciplina Gabriel Soares @gabriel.soaresa gs.azevedo11@gmail.com Prof. Me. Gabriel Soares de A Filho O principal alicerce do pensamento político moderno é a separação da política e da religião Para que tal diferenciação fosse realizada foram necessários muitos séculos de evolução tanto das formas de governo, quanto do pensamento humano Esse processo tornou-se crucial para todos os embates filosóficos posteriores como, por exemplo, a noção de contrato social, tripartição do poder, liberalismo, e socialismo. É necessário, antes de se entrar no pensamento político moderno, procurar entender como era tratada a política no período pré-moderno, tanto na Antiguidade clássica, quanto no período medieval. De uma forma geral, há, nesses momentos, a visão da política não como um campo autônomo, mas, sim, sempre dependente, inferior a outro, como a própria religião A teoria política clássica, com Platão, por exemplo, tratava a política de forma idealizada, sempre buscando realizar um determinado objetivo ligado à natureza humana, ou seja, não como um fim em si mesmo, apenas como um “caminho” Na sua obra “A República”, Platão busca formular um Estado ideal, representando fielmente, de acordo com a sua concepção, a natureza humana, ou seja, a política seria apenas uma forma de se representar a essência humana Com o fim do Império Romano do Ocidente, em 476, tem início o momento histórico caracterizado como Idade Média, no qual há uma forte ligação entre religião e política: “Ao privilegiar a historicidade das ideias e do pensamento político medieval, não se pode deixar de relacionar o poder, o Estado, as formas de governo e a legitimidade das leis com a cultura clerical e com a valoração extremada das forças religiosas” (WOLKMER, 2001, p.29) Com isso, o conceito de política torna-se subsidiário à religião, essa sendo a pedra fundamental da legitimidade das formas de governo. A política seria apenas a representação mundana do divino, dessa forma, o sistema político absolutista, característico da época, é legítimo, pois o monarca é o representante de Deus na Terra. A partir desse cenário prévio já exposto, é possível tratar do pensamento político moderno. Pensadores como Nicolau Maquiavel, Thomas More e Martinho Lutero, por exemplo, estão inserido em um contexto de intensa efervescência cultural e política, o chamado Renascimento, sendo o antropocentrismo, uma das principais ideias difundidas nesse período. Dessa forma, o foco, agora, é na centralidade das ações humanas e como estas influenciam todo o contexto no qual são desenvolvidas as práticas sociais. Como afirma Luís Felipe Miguel: A quase simultaneidade de Maquiavel, More e a Reforma não representa uniformidade de conteúdo. Suas obras têm objetivos diferentes, relacionam-se de forma diferente com os eventos da época, estão escritas em estilos diferentes e até tratam de problemas diferentes. O príncipe é um manual de governo, enquanto A Utopia é uma narrativa fantasista, para ficar apenas no exemplo mais óbvio. Em grande medida, seus autores ignoravam as obras ou mesmo a existência uns dos outros O que têm em comum é que, embora involuntariamente, todas contribuíram para a autonomização de uma esfera política, independentemente da religião (ou da moral). Há, em Maquiavel e More como em Lutero e Calvino, a afirmação da ideia de que não havia qualquer ordem divina ou natural determinando como deveriam ser as instituições políticas. (MIGUEL, 2015, p. 8) Esse enfoque na centralidade das ações humanas e a, consequente, separação da política e da religião foi o fator decisivo para que se pudesse discutir questões como a legitimidade do Estado, direitos políticos e a cidadania a partir de fundamentos autônomos Isso se deve, justamente, ao fato de que a política, agora, é tratada como um fim em si mesmo, com todas as suas formulações dependendo, não mais de fatores extramundanos, mas, exclusivamente, das ações do homem Ao fazer a distinção política/religião, os pensadores não estão mais presos a dogmática religiosa, podendo, assim, estruturar as mais diversas concepções políticas Com essa breve descrição do processo de transição do pensamento político pré-moderno para o moderno, é possível relacionar com o próprio momento no qual estamos inseridos, como os entraves à inclusão na esfera da cidadania e a garantia de igualdade política nos regimes políticos contemporâneos Apesar de ser um longo trajeto de secularização da política, pode-se inferir que não houve uma inclusão de todos os segmentos sociais no processo político. O ator político, nos três períodos citados, Antiguidade, Idade Média e Modernidade, foi sempre o ser humano do sexo masculino, rico e branco e esse fator gerou, e ainda gera, importantes reflexões sobre noções de cidadania de outros grupos, como mulheres e negros. Portanto, assim como a mais importante questão da teoria política antes da Era Moderna foi separar os conceitos de política e religião, e poder, assim, discutir assuntos sobre o Estado, direitos políticos e cidadania A grande questão da teoria política contemporânea deve ser como os grupos que foram marginalizados durante toda a história possam, agora, ser completamente integrados na esfera da cidadania e tenham sua igualdade política garantida
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