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Micoses Pulmonares As micoses de distribuição geográfica restrita (ou endêmicas) incluem histoplasmose, coccidioidomicose, blastomicose, paracoccidioidomicose, esporotricose e peniciliose. Dessas, a histoplasmose, coccidioidomicose, blastomicose e paracoccidioidomicose são as micoses com distribuições geográficas mais definidas nas Américas. São consideradas patógenos dimórficos, pois crescem como micélio na natureza e sofrem um processo de morfogênese, transformando-se em leveduras ou esférulas durante a aquisição por humanos, esses fungos são denominados “termodimórficos”. A aquisição ocorre normalmente pela inalação de esporos ou fragmentos micelianos, embora a esporotricose ocorra principalmente por implantação ou inoculação traumática na pele. Os micélios produzem esporos situados na parte externa do fungo e são facilmente aerossolizados quando perturbados no seu habitat; acredita-se que esses esporos (p. ex., conídios, macroconídios, microconídios ou artroconídios) sejam os agentes infecciosos e que a sua inalação leve à doença pulmonar. A gravidade da doença clínica está relacionada à quantidade de inóculo, bem como à suscetibilidade do indivíduo infectado. Defeitos na imunidade celular estão associados à forma mais grave da doença. As infecções latentes podem ser reativadas em indivíduos cujas respostas imunes estão comprometidas, incluindo uso de esteroides, inibição do fator de necrose tumoral, quimioterapia ou infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). As micoses geograficamente restritas são, em grande parte, negligenciadas como etiologias de doenças infecciosas, tais como na pneumonia adquirida na comunidade; por exemplo, não é incomum esses pacientes receberem vários antibióticos antibacterianos por suspeita de infecções anaeróbicas, antes que a histoplasmose seja de fato diagnosticada. Isso se deve à ocorrência da manifestação clínica da doença em regiões geográficas onde os fungos são incomuns ou ausentes, levando à demora no reconhecimento e no tratamento da doença, que requer vários meses a períodos superiores a 1 ano. A terapia prolongada pode ser necessária em condições de imunodeficiência irreversível. Histoplasmose Patogênese A histoplasmose é iniciada pela inalação e deposição de microconídios dentro dos alvéolos. Esse evento é seguido por conversão dos microconídios em células leveduriformes, que começam dentro de algumas horas a poucos dias. A morfogênese é iniciada pela mudança de temperatura e disponibilidade de nutrientes. Notavelmente, apesar do nome da espécie, as células não possuem cápsula. Durante a infecção primária, as células leveduriformes são fagocitadas, entram no compartimento dos endossomos dos fagócitos, que então migram para os linfonodos hilares e mediastinais e posteriormente disseminam-se por via hematogênica, distribuindo o fungo para diversos tecidos. De fato, estudos realizados com autópsias observaram que aproximadamente 70% dos indivíduos com história de histoplasmose desenvolveram granulomas esplênicos. O período de incubação para a manifestação da doença é geralmente de 8 a 17 dias, embora a exposição a uma quantidade elevada de inóculo possa resultar em doença em um período menor que 3 dias. Sabe-se que o controle eficaz da histoplasmose requer ativação da imunidade celular em conjunto com as respostas inatas, pois a ausência de imunidade intacta conduz à doença disseminada e progressiva. Além disso, defeitos na imunidade celular em indivíduos com infecção latente podem resultar em reativação de focos previamente controlados de infecção. Apesar de significativamente menos comum na atual era dos medicamentos antirretrovirais de eficácia comprovada, indivíduos com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) estão em alto risco para a reativação da doença. A histoplasmose também é reativada em pacientes que recebem terapias anticitocinas. A doença reativada também é documentada em receptores de transplante de fígado com doença originada a partir de infecções latentes nos órgãos transplantados e está associada à alta incidência de perda de enxerto e mortalidade. Os neutrófilos são considerados as primeiras células de defesa na resposta à infecção pulmonar com H. capsulatum. Os neutrófilos humanos inibem efetivamente o fungo, e os grânulos azurófilos são responsáveis por esse efeito fungistático. Macrófagos residentes e inflamatórios contêm números significativos de células leveduriformes após 3 dias da infecção experimental e essas células fúngicas permanecem essencialmente em macrófagos inflamatórios até o final da primeira semana. Embora os sistemas experimentais demonstrem que as células dendríticas e os macrófagos murinos falhem em controlar a replicação e facilitem a disseminação, células dendríticas e macrófagos humanos, particularmente macrófagos ativados, podem matar eficazmente as células leveduriformes de H. capsulatum. Além disso, células dendríticas humanas podem inibir a germinação conidial, modificando a progressão subsequente da doença pela apresentação de antígenos do fungo às células T CD8 +. Vários estudos experimentais sugerem que as células T CD8 + são fundamentais na eliminação inicial das células leveduriformes de H. capsulatum, enquanto as células T CD4 + são importantes para a sobrevida do hospedeiro. O papel do anticorpo na histoplasmose é controverso, embora estudos revelem que os anticorpos monoclonais possam modificar a patogênese da doença. Consistente com um papel-chave das células B na histoplasmose, um estudo observou que a depleção de células B aumenta significativamente a gravidade da doença. Entre os diversos elementos da imunidade inata responsáveis pelo aumento de imunidade protetora contra o H. capsulatum, destacam-se várias citocinas, incluindo interleucina-12, fator de necrose tumoral (TNF)-α, fator estimulador de colônia de granulócitos e macrófagos e interferon-γ. A capacidade dos linfócitos e fagócitos para produzir essas citocinas constitui o principal mecanismo efetor de resistência do hospedeiro. Destaca-se o papel fundamental do TNF, como descrito anteriormente, em virtude da associação da citocina ao desenvolvimento de histoplasmose grave. A inibição de TNF parece diminuir o controle do crescimento intracelular dos fungos e acarreta a desregulação do desenvolvimento dos granulomas contendo células leveduriformes de H. capsulatum e/ou incapacidade para formar novos granulomas. Em condições de imunidade intacta, a formação do granuloma pode ser caseosa e indistinguível daquela causada por Mycobacterium tuberculosis. Como na tuberculose, a resolução dos granulomas pode resultar também na calcificação das lesões, principalmente nos linfonodos e também no fígado e baço. Manifestações clínicas A gravidade da histoplasmose está estritamente relacionada ao número de esporos inalados, à virulência da cepa infectante e ao status imunológico do indivíduo exposto. A manifestação clínica mais comum é a pneumonia, embora a doença possa envolver virtualmente qualquer tecido e possa manifestar-se como uma sepse fulminante, disseminada e fatal. A infecção com uma baixa carga do inóculo resulta no desenvolvimento de doença autolimitante em 1% dos indivíduos, enquanto 99% apresentam a infecção subclínica. A infecção geralmente resulta em uma doença respiratória branda, frequentemente assintomática, mas que pode progredir para a doença sistêmica com risco à vida, particularmente em indivíduos imunocomprometidos. Na condição de infecção pelo HIV, a histoplasmose disseminada é considerada uma doença definidora de AIDS, apesar de a prevalência de histoplasmose em indivíduos com HIV ter diminuído com os regimes antirretrovirais atualmente disponíveis. Histoplasmose Aguda Como observado, a consequência mais comum após exposição ao H. capsulatum é a ocorrência de uma infecção assintomática. Entretanto, de 1 a 3 semanas após a aquisição, a doença aguda pode manifestar-se. A histoplasmose sintomática normalmente desenvolve-se como umadoença com sintomas gripais, com uma evolução rápida para febre, calafrios, dor de cabeça, mialgia, tosse não produtiva e dor torácica. As radiografias torácicas geralmente não são reveladoras, embora a linfadenopatia mediastinal com ou sem opacidades possa estar presente. Na doença aguda, aproximadamente 10% dos pacientes apresentam sintomas reumatológicos, tais como artrite ou artralgia grave acompanhada por eritema nodoso. Além disso, a pericardite pode desenvolver-se na doença aguda, embora seja tipicamente uma manifestação tardia após a resolução dos sintomas pulmonares. A maioria dos pacientes com histoplasmose pulmonar aguda recupera-se depois de várias semanas sem sequelas, mas pacientes ocasionais podem queixar-se de fadiga que persiste por meses. As radiografias subsequentes podem parecer normais ou mostrar um nódulo calcificado único ou não calcificado, ou uma lesão numular (em forma de “moeda”), ou mesmo um padrão miliar de granulomas calcificados indistinguível daquele encontrado em certos pacientes com tuberculose. O aspecto miliar é mais comum na doença associada a uma alta exposição do inóculo. Apesar de ser bem reconhecido que as lesões pulmonares numulares possam ser sequelas da histoplasmose, as ressecções cirúrgicas continuam sendo realizadas por causa da suspeita de neoplasia. A tomografia por emissão de pósitrons pode ter valor limitado, porque pode revelar a captação aumentada em nódulos resultantes da histoplasmose. Histoplasmose Disseminada A disseminação rápida de H. capsulatum pode ocorrer em um hospedeiro infectado, porque o fungo é transportado intracelularmente por fagócitos dos pulmões via linfáticos hilares para a circulação sistêmica. A disseminação da histoplasmose ocorre comumente em indivíduos com imunossupressão preexistente, muitas vezes devido à presença de doenças malignas, uso de corticosteróides ou AIDS. As manifestações clínicas da histoplasmose disseminada podem variar de indolentes a fulminantes. Os pacientes geralmente manifestam febre, perda de peso e sintomas respiratórios, além de desenvolverem com frequência hepatomegalia e/ou esplenomegalia. As lesões cutâneas e das membranas mucosas não são incomuns, sendo que os pacientes devem ser considerados quanto à presença de doença disseminada, caso o H. capsulatum seja isolado desses sítios. Pacientes com doença aguda frequentemente apresentam anemia, trombocitopenia, leucopenia e teste de função hepática anormais, assim como coagulopatias. A doença intravascular não é comum, mas, é interessante notar que as formas miceliana e de levedura podem estar presentes na vegetação.A disfunção adrenal pode desenvolver-se em cerca de 50% dos pacientes com histoplasmose disseminada e é variavelmente reversível com o tratamento antifúngico. O envolvimento mucocutâneo é incomum em indivíduos imunocompetentes, mas pode estar presente como uma lesão ulcerada, principalmente na pele, mucosa oral e/ou trato gastrointestinal. A doença progressiva aguda é letal sem o tratamento. Histoplasmose Pulmonar Crônica A doença respiratória crônica pode desenvolver-se em indivíduos com doenças pulmonares de longa duração que adquirem H. capsulatum, particularmente enfisema ou doença pulmonar obstrutiva crônica. A doença manifesta-se após infecção aguda ou por causa de reativação da infecção latente. A histoplasmose crônica é caracterizada por opacidades pulmonares progressivas, indolentes, fibrose e cavitação. A maioria dos pacientes apresenta queixas que incluem febre, perda de peso, tosse cada vez mais acentuada e dispneia, uma manifestação clínica e radiologicamente similar àquela observada na tuberculose cavitária. Sem a terapia, a doença progride em aproximadamente 50% dos indivíduos afetados. Transmissibilidade Em geral, o H. capsulatum não é contagioso pelo contato de uma pessoa com outra. No entanto, o fungo pode ser transmitido aos receptores de transplante pelo órgão transplantado. A doença reativada pode desenvolver-se durante a imunossupressão em receptores de transplante com infecção latente por H. capsulatum. Diagnóstico O “padrão-ouro” para o diagnóstico é a cultura de H. capsulatum; contudo, o crescimento do fungo leva um tempo mínimo de 1 semana e pode não ser detectado por aproximadamente 1 mês. A broncoscopia com biópsia pode fornecer o mecanismo mais efetivo para a rápida visualização do fungo no tecido. A visualização direta do fungo nas secreções respiratórias tem alta especificidade, mas baixa sensibilidade, podendo ser dificultada pela localização do fungo dentro de macrófagos. Na doença disseminada, o fungo geralmente é detectado em aspirados da medula óssea e pode ser ainda identificado no sangue periférico, principalmente nas camadas leucoplaquetárias. Na ausência de culturas positivas, as técnicas sorológicas, tais como imunodifusão, fixação de complemento, ensaio imunoenzimático e radioimunoensaio, são utilizadas para fornecer evidência imunológica de infecção por H. capsulatum. Tratamento A maioria dos indivíduos que adquirem H. capsulatum é assintomática ou desenvolve uma síndrome gripal leve e autolimitada. A menos que o paciente seja imunocomprometido, não há necessidade para administração imediata de antifúngicos nessas circunstâncias. Se um paciente apresenta a doença sintomática por mais de 3 semanas ou se um paciente tem a doença moderada, o itraconazol é o antifúngico de escolha. O uso de voriconazol e posaconazol pode ser considerado em pacientes que não respondem ao itraconazol. Em comparação ao itraconazol, a anfotericina lipossomal é mais eficaz na eliminação de H. capsulatum. Em pacientes com hipoxemia ou desconforto respiratório significativo, o uso de corticosteróides deve ser considerado, particularmente em indivíduos infectados com HIV recebendo terapia antirretroviral e que estão em risco para o desenvolvimento de síndromes de reconstituição imune. Blastomicose História e epidemiologia O B. dermatitidis é um fungo encontrado no solo associado às margens de rios. Consequentemente, os fatores de risco para aquisição do fungo incluem exposições a cursos de água, solos ou madeiras. Acredita-se que a infecção por B. dermatitidis ocorra após inalação de conídios aerossolizados, e as manifestações clínicas comuns incluem pneumonia, lesões cutâneas e ósseas, além de envolvimento do trato geniturinário. Patogênese Após inalação, os conídios são fagocitados por neutrófilos e macrófagos, que podem matar as células e/ou inibir a morfogênese para conídios. A célula leveduriforme é mais resistente à morte, principalmente por neutrófilos, e a levedura inibe diretamente a atividade enzimática da sintase de óxido nítrico induzida em macrófagos. A disseminação das células leveduriformes pode ocorrer por via hematogênica ou linfática dos pulmões para qualquer tecido. Nos tecidos, os infiltrados neutrofílicos são observados no início da doença seguidos por uma resposta granulomatosa caracterizada por células gigantes multinucleadas e granulomas não caseosos. A ativação de respostas mediadas por células T efetoras é requerida para deter a doença. BAD-1, um fator de virulência essencial de B. dermatitidis que apresenta atividade de adesina, promove a doença por supressão da resposta inflamatória do hospedeiro ao inibir a citocina TNF-α. Consequentemente, o resultado dessa dinâmica entre respostas do hospedeiro e do patógeno determina as manifestações clínicas da doença. Existem dois grupos genéticos distintos de B. dermatitidis; os isolados do grupo 1 geralmente causam doença restrita aos pulmões, enquanto os isolados do grupo 2 têm propensão aumentada para causar doença disseminada. Manifestações clínicas A infecção pulmonar com B. dermatitidis leva à infecção assintomática, pneumonia aguda ou crônica, ou doença disseminada. A infecção é assintomática em aproximadamente 50% dos indivíduos. A doença sintomática desenvolve-se geralmente após um período de incubação de 4 a 8 semanas ou mais. Alguns estudos sugerem umasazonalidade para a ocorrência de blastomicose, que corresponde às atividades ao ar livre nas regiões endêmicas, resultando em infecções no final do verão e início do outono e posterior manifestação de doença extrapulmonar no ano seguinte. O quadro clínico inicial na forma branda da doença manifesta-se com sintomas gripais, incluindo febre, tosse, mialgias e artralgias. Blastomicose Pulmonar Aguda O diagnóstico de blastomicose pulmonar é frequentemente tardio, pois as manifestações não são suficientemente distintas daquelas observadas na pneumonia bacteriana adquirida na comunidade, para levantar a suspeita do diagnóstico de micose. Além de febre e tosse, a hemoptise branda pode estar presente. A resolução da doença pode ocorrer, mas a incidência de resolução sem subsequente disseminação é desconhecida. Os achados radiológicos podem variar bastante na doença aguda e essas manifestações podem estar presentes também na forma crônica da doença. A apresentação clínica mais comum é a consolidação focal ou difusa dos espaços aéreos. Todavia, até mesmo pacientes assintomáticos podem desenvolver lesões (expansivas, cavidades) ou nódulos solitários ou múltiplos. A blastomicose progressiva aguda é rara, mas a doença pulmonar pode progredir para a SDRA, que está associada a taxas de mortalidade. A doença progressiva pode manifestar-se como opacidades multilobares difusas, infecção endobrônquica ou blastomicose miliar. Aproximadamente metade dos pacientes com doença grave é imunossuprimida, incluindo pacientes com câncer, receptores de transplante, pacientes em tratamento com antagonistas de TNF ou indivíduos com infecção avançada pelo HIV. Blastomicose Pulmonar Crônica Similar à histoplasmose e à coccidioidomicose, a blastomicose pode manifestar-se como uma pneumonia crônica que é indistinguível da tuberculose ou de doenças malignas pulmonares. Pacientes com a blastomicose crônica frequentemente relatam estar doentes por um período superior a 2 meses, com sintomas de febre, perda de peso, sudorese noturna, tosse e dores torácicas. Os achados radiológicos mais comuns incluem consolidações, lesões expansivas e opacidades fibronodulares intersticiais. A cavitação é incomum, embora pequenas efusões pleurais possam estar presentes. Doença Extrapulmonar O sítio mais frequente de disseminação é a pele com uma lesão verrucosa em crosta com micro-abscesso central drenante, também se observam lesões nodulares, pustulares ou ulcerativas. Múltiplas lesões geralmente estão presentes e as membranas mucosas também podem estar envolvidas. O B. dermatitidis também pode infectar os ossos e o terceiro sítio mais frequente de doença extrapulmonar é o trato geniturinário. Transmissibilidade A B. dermatitidis geralmente não é transmissível de uma pessoa para outra. No entanto, casos raros de suposta transmissão sexual entre casais, assim como de aquisição intrauterina foram documentados. Diagnóstico O padrão-ouro para o diagnóstico de blastomicose é a cultura. Todavia, as culturas são problemáticas, pois mesmo com os espécimes obtidos de broncoscopia, a taxa de cultura positiva não é maior do que 67%. A observação direta é o método diagnóstico mais rápido. Tratamento Em um indivíduo imunocompetente, a doença aguda é frequentemente leve e resolvida sem a necessidade de terapia antifúngica. Entretanto, as recomendações clínicas sugerem que o tratamento deve ser considerado para qualquer paciente, porque atualmente não é possível determinar a probabilidade de disseminação extrapulmonar. Blastomicose Leve a Moderada O consenso atual é que pacientes com a blastomicose pulmonar leve a moderada devem receber itraconazol por 6 meses. Os níveis de itraconazol devem ser monitorados após 2 semanas de administração e periodicamente durante o tratamento devido às variações nos níveis sanguíneos. A terapia para a blastomicose leve a moderada não é alterada se houver disseminação não meníngea, exceto na condição de doença óssea, quando a terapia é estendida por 1 ano. Blastomicose Moderadamente Grave a Grave Pacientes com a blastomicose pulmonar moderadamente grave à forma de alto risco à vida, incluindo SDRA, devem ser tratados inicialmente com anfotericina B lipossomal ou anfotericina convencional até a melhora clínica ser evidente (geralmente 1 a 2 semanas), alterando-se posteriormente para o itraconazol (200 mg, duas vezes ao dia, durante 6 a 12 meses). As formulações lipossomais geralmente são preferíveis. Embora existam dados limitados que apoiem o uso de corticosteróides, a administração de esteróides pode ser benéfica na condição de doença extensiva com hipoxemia. Se os pacientes apresentam meningite, a anfotericina com ou sem fluconazol (800 mg/dia) ou itraconazol (200 mg, duas vezes ao dia) é utilizada inicialmente (em geral por 4 a 6 semanas), seguindo-se por 6 a 12 meses de tratamento com um azólico, sendo que muitos especialistas sugerem um mínimo de 12 meses. O voriconazol deve ser considerado para uso na doença refratária. Equinocandinas não são recomendadas, devido à resistência intrínseca de Blastomyces para essa classe de antifúngicos. Pacientes imunocomprometidos devem ser tratados por um período mínimo de 12 meses ou a terapia mantida indefinidamente, se a imunodeficiência for irreversível. Paracoccidioidomicose Patogênese P. brasiliensis cresce como um micélio que produz clamidoconídio, conídios terminais e artroconídios, sendo este último considerado o agente infeccioso. Em tecidos ou à temperatura superior a 37°C, as células leveduriformes predominam, normalmente constituídas por células-mãe ovóides com 5 a 30 μm de diâmetro, exibindo vários blastoconídios (formando uma “roda de leme”). É interessante notar que, a doença clínica em homens e mulheres ocorre na proporção de aproximadamente 13:1, mas pode chegar a 150:1. P. brasiliensis expressa receptores para o β-estradiol na membrana celular dos conídios; a ligação a esses receptores inibe a morfogênese para a célula leveduriforme, bloqueando a progressão da doença. Mulheres não estão protegidas contra a infecção, mas a doença clínica é menos provável. O tabagismo também pode exacerbar a doença, embora o mecanismo seja incerto. A resposta inicial do hospedeiro ao P. brasiliensis consiste predominantemente em neutrófilos, seguida pelo recrutamento de macrófagos e formação do granuloma. Esse processo é altamente regulado por respostas celulares; às respostas tipo Th1 são protetoras, enquanto as respostas Th2 são comuns em pacientes incapazes de controlar a doença. Indivíduos em tratamento com esteróides, pacientes recebendo quimioterapia ou pacientes submetidos a transplantes de órgãos estão em alto risco para o desenvolvimento de doença grave. Manifestações clínicas A grande maioria das infecções é assintomática e a maioria das aquisições são na infância. Existem dois padrões de manifestação da doença: a forma aguda ou subaguda (também chamada tipo juvenil) e a forma crônica (ou tipo adulto). Os pacientes com a doença aguda frequentemente apresentam febre, perda de peso e linfadenopatia. Além disso, os pacientes podem apresentar hepatoesplenomegalia, lesões intestinais e doença óssea com ou sem disfunção da medula óssea. Por outro lado, a forma crônica envolve os pulmões em aproximadamente 90% dos pacientes, provavelmente devido à reativação da doença latente. Contudo, uma nova aquisição do fungo é possível. A doença é confinada aos pulmões em aproximadamente 25% dos pacientes, com os demais apresentando doença multifocal, incluindo disseminação para as membranas mucosas, linfonodos, pele, adrenais e outros órgãos. As manifestações da doença podem mimetizar a tuberculose, que também pode coinfectar cerca de 10% desses pacientes. Os achados radiológicos são inespecíficos e variam de opacidades difusas à presença de massas e cavidades. A linfadenopatia é muitas vezes uma característica evidente. Complicações em longo prazo desenvolvem-se em mais de 50% dos pacientes com doença pulmonar crônicaexpressiva, em grande parte devido à função respiratória diminuída resultante da formação de fibrose ou de cavidades; a cor pulmonale é comum nesses pacientes. Além disso, a compressão de estruturas, incluindo a traqueia, pode ocorrer. Nódulos residuais solitários sem calcificação são comuns. Diagnóstico O diagnóstico pode ser confirmado pela detecção de anticorpos. No entanto, a cultura e a microscopia geralmente são utilizadas no diagnóstico em áreas endêmicas. Tratamento A anfotericina é utilizada como terapia inicial. O cetoconazol ou itraconazol são os azólicos mais utilizados na paracoccidioidomicose. O itraconazol é atualmente o antifúngico de escolha, pois seu uso é associado às menores taxas de recidiva em comparação ao cetoconazol. Os regimes de tratamento com os azólicos variam de 6 meses a 18-24 meses, dependendo da taxa de resposta clínica e da evidência de eliminação fúngica, conforme refletidas pelo teste sorológico.
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