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Cortes ecocardiográficos fundamentais Dr. Wercules Oliveira Dr. Rafael Piveta Dr. Miguel Osman INTRODUÇÃO Janelas ecocardiográficas são pontos padronizados na parede torácica para o posicionamento do transdutor do ecocardiograma a fim de permitir boa penetração da onda de ultrassom até o coração, sem alteração de sua condução e, assim, formar a adequadamente a imagem ecocardiográfica. Para a realização do ecocardiograma direcionado ao ambiente de terapia intensiva, preconiza-se a realização de 3 cortes ecocardiográficos: paraesternal, apical e subcostal. CORTE PARAESTERNAL - EIXO LONGITUDINAL A janela paraesternal está localizada próxima ao esterno, habitualmente entre o 3° e o 5° espaços intercostais. O indicador luminoso (ou ponteiro) do transdutor deve ser direcionado ao ombro direito (cerca de 9 a 10 horas - considerando 12 horas na fúrcula esternal). Coloque o transdutor contra a borda lateral esquerda do esterno, no ângulo esterno-costal. Comece no espaço intercostal mais alto, onde pode-se adquirir uma boa imagem (3° ou 4°) e vá para o espaço intercostal seguinte, logo abaixo, caso não consiga uma boa imagem. Critério de qualidade para um bom corte paraesternal eixo longitudinal • O septo deve estar o mais horizontal possível. • Não se deve visualizar o ápice do ventrículo esquerdo • Deve-se observar as valvas aórtica e mitral, mas não a tricúspide O que observar num corte paraesternal eixo longitudinal? • RV (right ventricule) / VD (A): o ventrículo direito está no topo da imagem, mais próximo do transdutor. Nesse corte pode-se ver o trato de saída do ventrículo direito.É possível procurar por dilatação de VD ( diâmetro > ⅔ do ventrículo esquerdo). Também pode-se ter uma idéia da contratilidade do VD. • LV (left ventricule) / VE (A): Ventrículo esquerdo. Esse corte é o melhor para a medida do tamanho e da espessura das paredes do VE. • MV (mitral valve): Valva mitral. Esse é um bom corte para olhar a estrutura da valva. Observa-se o folheto anterior no topo e o posterior no fundo. Pode-se usar Doppler colorido para pesquisar regurgitação mitral. • AoV (aortic valve): Valva aorta: Deve-se olhar para a abertura das cúspides. Suspeita-se de estenose aórtica na presença de calcificação das cúspides e/ou na restrição da abertura da valva. Com Doppler colorido pode-se pesquisar regurgitação aórtica. • IVS (interventricular septum): Septo interventricular e PW (posterior wall): parede posterior. Pode-se observar sua espessura e contratilidade. • Ao (aorta) / AO (A): trato aórtico. Pode-se medir o ânulo aortico, as dimensões do seio de Valsalva e as dimensões da via de saída do ventrículo esquerdo. As paredes da aorta devem ser paralelas. • LA (left atrium) / AE (A): átrio esquerdo. Deve ter o mesmo/próximo ao diâmetro da via de saída do ventrículo esquerdo. • Desc Ao: Aorta descendente. Sua identificação auxilia na distinção entre derrame pericárdico e derrame pleural à esquerda. • Pericárdio: É a estrutura mais ecogênica, aparece muito brilhante. Esse é o melhor corte para distinguir derrame pericárdico de derrame pleural. Como melhorar a imagem? • Se for vista a valva tricúspide: angule o transdutor para cima (você está muito alto e seu feixe ultrassônico está anteriorizado). • Se for visto o ápice ventricular: rode o transdutor alguns graus no sentido horário. (você está diminuindo o ventrículo esquerdo). • Se a imagem se perder: Retorne para próximo ao esterno, você pode ter deslizado no tórax (ancore seu pulso mas não coloque muita pressão no transdutor, você irá deslizar). CORTE PARAESTERNAL - EIXO CURTO O transdutor é mantido na mesma localização do paraesternal eixo longitudinal e rodado 90° no sentido horário para que a marca do probe fique voltada para o ombro esquerdo do paciente. Desta forma, realiza-se um corte transversal de ventrículo esquerdo e direito. Critério de qualidade para um bom corte paraesternal eixo longitudinal • O ventrículo esquerdo aparece arredondado e simétrico no centro da tela Mudando-se a angulação do transdutor é possível realizar este corte em diferentes alturas: ao nível da valve mitral (1), ao nível dos músculos papilares (2) e ao nível do ápice cardiaco (3). Corte paraesternal de eixo curto: nível basal (valve aórtica a esquerda e valve mitral a direita). RV: ventrículo direito; TV: valve tricúspide; RA: átrio direito; AoV: valve aórtica; LA: átrio esquerdo; PV: valve pulmonary; IVS: septo interventricular; MV: valve mitral. Esquema mostrando os folhetos anterior e posterior da valva mitral com suas subdivisões em escalopes (lateral, media e central). Corte paraesternal de eixo curto: nível medio (músculos papilares). Neste nível conseguimos ver o ventrículo esquerdo e os músculos papilares antera-lateral e póstero-medial. Importante corte para avaliação da contratilidade segmentar do ventrículo esquerdo. CORTE APICAL DE 4 CÂMARAS Coloque o transdutor no ápice do ventrículo esquerdo localizado onde o ictus cordis é percebido. O transdutor é orientado em direção ao ombro direito com o indicador luminoso na posição de 2 ou 3 horas (para baixo). Deve-se abduzir o braço esquerdo do paciente para aumentar a abertura dos espaços intercostais e melhorar a janela ecocardiográfica. As quatro câmaras cardíacas ( ventrículo esquerdo, átrio esquerdo, ventrículo direito e átrio direito) devem ser visualizadas , assim como as valvas atrioventriculares mitral e tricúspide. A intersecção entre as quatro câmaras deve aparecer como uma cruz com a linha vertical representada pelo pelos septos interventricular e interatrial. A linha horizontal consiste no alinhamento das valvas tricúspide e mitral. Critério de qualidade de imagem • O ápice do VE deve ser próximo ao probe e as linhas do crux-cordis devem ser horizontal e vertical. • Deve-se visualizar as valvas tricuspide e mitral abrindo e fechando completamente, bem como os átrios. • Cuidado para não encurtar o ápice do VE que pode aparecer arredondado e hipercinético. Solucionando problemas • Se o crux-cordis estiver inclinado para a direita da tela, você está com o transdutor exageradamente posicionado medialmente e deve então rodar o transdutor lateralmente. • Se o crux-cordis estiver inclinada para esquerda da tela você está muito lateral (menos frequente), e então deve rodar o transdutor medialmente. • Se as valvas mitral e tricúspide não forem vistas o transdutor está apontado muito profundamente. Deve-se angular o transdutor para cima, para visualizar os átrios. • Se o ápice do VE não for visto ou se o ápice estiver encurtado, você não está na janela apical. Deve deslocar o transdutor um ou dois espaços intercostais mais abaixo. • Se for visto um ventrículo direito arredondado, você provavelmente está muito medial e muito alto. No entanto, nesse ponto será mais fácil olhar e alinhar o feixo numa regurgitação tricúspide. • RV / VD (B): ventrículo direito. No corte apical 4 câmaras, normalmente o VD não deve ser maior que ⅔ do tamanho do VE. Pode-se estimar a função de VD olhando o movimento vertical do ânulo lateral tricúspide. A contração do VD é principalmente longitudinal. • RA / AD (B): atrio direito. • TV: valva tricúspide. Deve estar poucos milímetros mais apical que a valva mitral. É possível avaliar uma regurgitação tricúspide com Doppler colorido. Nesse corte temos um bom alinhamento do feixe do Doppler com o jato regurgitante permitindo fazer a estimativa da pressão sistólica de VD. • LV / VE (B): ventrículo esquerdo. É possível avaliar a função total do ventrículo esquerdo e a contratilidade do septo interventricular, ápice e parede lateral. • LA / AE (B): átrio esquerdo. Nesse corte é possível medir os eixos longo e curto do AE e sua área e volume. Na maioria das vezes é possível ver a entrada de veias pulmonares no AE. • MV: valva mitral. O folhetoanterior é próximo ao septo e o folheto posterior é lateral. O corte apical 4 câmaras é útil para avaliar a direção de um jato regurgitante e para quantificar estenose mitral. CORTE APICAL DE 5 CÂMARAS O corte apical 5 câmaras pode ser adquirido a partir do 4 câmaras inclinando a ponta do transdutor anteriormente até a visualização da via de saída do ventrículo esquerdo e a aorta. Corte apical 5 câmaras. Correlação anatomo (A) – Ecocardiográfica (B) Neste corte conseguiremos ver a via de saída do ventrículo esquerdo e a aorta. Aqui também podemos estudar o fluxo transvalvar aórtico por meio do Doppler colorido e espectral. CORTE APICAL DE 2 CÂMARAS O Corte apical 2 câmaras pode ser obtido a partir do corte apical 4 câmaras direcionando o indicador luminoso do transdutor para o ombro esquerdo do paciente. Este corte é uma forma interessante de avaliar as paredes inferior e anterior, bem como a dinâmica do fluxo transvalvar mitral. CORTE SUBCOSTAL O paciente deve estar deitado em decúbito dorsal com o abdome relaxado. Se ele estiver consciente e cooperativo pode-se pedir que ele dobre os joelhos melhorando o relaxamento abdominal facilitando a aquisição de imagens. Às vezes gases abdominais podem prejudicar a penetração do ultrassom e impedir a visualização de algumas imagens. A janela subcostal ou subxifoide está localizada medialmente, sob o processo xifóide. O indicador luminoso (ponteiro) está na posição de 3 horas e o transdutor é orientado em direção ao esterno do paciente. Será mais fácil adquirir a imagem se o transdutor for colocado primeiro na posição vertical, 3 a 4 centímetros abaixo do processo xifóide e então angulado para cima até que as quatro câmaras sejam vistas. COMO ACESSAR A VEIA CAVA INFERIOR ( VCI) A partir do corte subcostal 4 câmaras direcione o transdutor medialmente para visualizar o átrio direito à direita da tela e observar uma grande parte do fígado. Então rode o transdutor 90 graus antihorário até o longo eixo da VCI através do fígado e entrando no átrio direito. É muito importante visualizar a VCI com o átrio direito, já que VCI é paralela à aorta abdominal e tem quase o mesmo diâmetro e aparência, pode ser muito difícil distinguir uma da outra. Visualizar a fusão com o átrio direito é o único jeito de estar 100% certo de que você está olhando para VCI e não para a aorta. Outra importante dica é que a aorta tem pulsabilidade. VCI atravessando o fígado e “entrando” no átrio direito Aorta abdominal “atravessando” o fígado. A medida do diâmetro da VCI e sua variação respiratória é o pilar da avaliação do status de volume do paciente. A medida é feita 2 a 3 cm antes da sua fusão com o átrio direito, na interface com sangue. Para avaliar as variações respiratórias, deve-se comparar o menor e maior diâmetro da VCI. Um jeito fácil de determinar os diâmetros extremos é usar imagem em modo M (tem melhor resolução temporal). Na mesma imagem será vista a variação do diâmetro da VCI durante o ciclo respiratório.
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