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- -1 SOCIEDADES EMPRESARIAIS TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO Sâmia Frantz - -2 Olá! Você está na unidade . Conheça aqui o que são e para que servem os títulosTeoria Geral dos Títulos de Crédito de crédito e também a história que existe por trás deles: como surgiram e qual a sua importância para o Direito brasileiro e para as relações jurídicas e comerciais. Aprenda sobre os princípios, a classificação e as características inerentes a eles e compreenda como se dá o seu funcionamento por meio de o endosso, aval, aceite e protesto. Bons estudos! - -3 1 Introdução aos títulos de crédito O crédito nada mais é do que a confiança que uma pessoa tem em outra para pagar algo que lhe deve. Essa definição vem da própria origem da palavra: crédito deriva do latim , que, por sua vez, vem de ,creditum credere que significa confiar, ter fé. Na Idade Média, quando A queria comprar algo de B nos mercados e feiras da época e não tinha dinheiro para pagar na hora, poderia voltar para casa com o seu objeto de desejo caso assinasse um documento que tivesse força suficiente para substituir o dinheiro naquele momento e comprovar o valor da dívida no futuro. Esse documento seriam os títulos de crédito, documentos que davam direito de crédito a alguém para cobrar outra pessoa pela dívida que assumira em um momento passado. Essa era a sua finalidade: facilitar a circulação de créditos e oferecer segurança à circulação de valores. Para a legislação atual, o título de crédito é um documento que, ao ser entregue a alguém, confere a ele um direito de crédito de cobrar. Aquele que é credor, portanto, recebe o título como se dinheiro fosse. Para Coelho (2013), os títulos de crédito são documentos que representam obrigações relacionadas à pecúnia (dinheiro). E vai além: título de crédito é um documento e, como documento, reporta um fato, indicando a existência de uma determinada relação de crédito e constituindo-se como prova de que determinada pessoa é credora de outra. Figura 1 - A circulação de um título de crédito Fonte: Andrey_Popov, Shutterstock (2020). #PraCegoVer: A imagem dá destaque às mãos de dois homens, um entregando um cheque para o outro. - -4 Os títulos de crédito são utilizados até hoje, embora alguns já tenham caído em desuso, como é o caso da letra de câmbio. Outros, porém, ainda seguem como boas alternativas para quem prefere pagar mais à frente em vez de desembolsar dinheiro na hora, como acontece com o cheque. De qualquer forma, eles são imprescindíveis para os negócios, uma vez que promovem e facilitam a circulação de créditos e dão segurança aos credores. Mas para que possa cumprir com esse papel, o título de crédito precisa apresentar algumas formalidades. Afinal, eles não são os únicos documentos capazes de provar que determinada pessoa é titular de um direito perante outra. Existem outras formas disso acontecer, como é o caso, também, do contrato de locação (que documenta que o locador é credor dos aluguéis devidos pelo locatário), da escritura pública de compra e venda de imóvel (que comprova a realização do negócio) e a notificação de lançamento fiscal (que dá ao contribuinte a obrigação de pagar determinado tributo ao Estado), por exemplo (COELHO, 2010). Sendo assim, eles se distinguem de qualquer outro documento que possa vir a representar direitos e obrigações devido a três fatores, segundo Coelho (2010): estão relacionados unicamente a relações de crédito (sem envolver, de forma alguma, obrigações de dar, fazer ou não fazer) são definidos, por lei, como título executivo extrajudicial, facilitando a cobrança do crédito em juízo (por ser considerado, pela lei processual como título executivo extrajudicial, que lhe dá força executiva e permite ao credor promover a execução judicial do seu direito, sem a necessidade de passar por um processo de conhecimento) estão sujeitos ao direito cambial, que torna mais fácil a circulação do crédito e negociação do seu direito Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /8d0af920f062fc16ac0db1b66bfd8033 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/8d0af920f062fc16ac0db1b66bfd8033 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/8d0af920f062fc16ac0db1b66bfd8033 1º 2º 3º - -5 1.1 Previsão legal Os títulos de crédito estão previstos no Código Civil, entre os arts. 887 a 926, mas este conjunto de dispositivos se aplica somente quando a lei específica de cada título em espécie apresenta lacunas – e o próprio art. 903 determina isso expressamente. O Código Civil, instituído depois de todas elas (apenas em 2002), portanto, procura disciplinar apenas os títulos criados posteriormente e cuja legislação própria não os regula inteiramente. Coelho (2010) lembra, por exemplo, que a letra de câmbio e a nota promissória são disciplinados pela chamada Lei Uniforme de Genebra (LUG) que as regula por completa. O mesmo acontece com o cheque (por meio da Lei 7.357/1985) e a duplicata (por meio da Lei 5.474/1968), que, ao prever tais lacunas, submete o regime legal aplicável à letra de câmbio – portanto, sequer passando pelo Código Civil. Não tem aplicação às disposições do Código Civil, portanto, quando se trata de título de crédito disciplinado exaustivamente por lei própria (COELHO, 2013, p. 278). Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. - -6 1.2 Características Entre todas as características dos títulos de crédito, três são as mais importantes: A solidariedade entre os devedores A obrigação pro solvendo A executividade A significa que todos as pessoas envolvidas de alguma forma no título de créditosolidariedade dos devedores são responsáveis solidárias. Isso inclui não só o devedor principal, como, indiretamente, também os coobrigados (avalistas e endossantes). Ou seja: na hora de cobrar o título, o credor poderá acionar todas estas pessoas: todo mundo que veio antes dele. Aquele que fizer o pagamento, no entanto, tem direito a entrar com ação regressiva contra os outros. Esta regra, porém, só vale para os coobrigados (avalistas ou endossantes), que poderão, posteriormente, fazer a cobrança paralela contra o devedor principal. O devedor principal, por sua vez, não possui esse direito. A obrigação pro solvendo, por outro lado, garante que a mera emissão do título de crédito não tenha força para extinguir a obrigação original, fazendo com que ela se torne adimplida. Ou seja: o documento apenas representa um determinado valor que deve ser pago futuramente e, somente neste momento, a obrigação correspondente será extinta. Na prática, isso significa que a obrigação original continuará existindo (e, em consequência, podendo ser cobrada), mesmo se o título de crédito tiver se perdido ou estiver prescrito. Esta é a regra dos títulos de crédito. A exceção a isso é a chamada que, ao contrário do que acontece com a ,obrigação pro soluto pro solvendo extingue a obrigação original assim que o título é emitido. Tal extinção ocorre a mera entrega ou transferência do título ao credor, pois isso representará o pagamento. Por fim, a executividade representa a força que alguns títulos de crédito possuem para ser objeto de um processo de execução. Isso significa que, para cobrar um título na Justiça, não é preciso passar pelo processo de conhecimento – e, com isso provar a relação jurídica existente entre credor e devedor e buscar o reconhecimento da existência da dívida - para alcançar essa atribuição. O próprio título já faz, sozinho, esse papel, garantindo ao credor a garantia de fazer a cobrança de forma mais rápida e direta. A força executiva do título de crédito é dada pela própria lei: o Código de Processo Civil (CPC) assim o menciona em seu art. 784, incisos I e XII. Entretanto, o título também pode perder essa força, como acontece, por exemplo, nos casos em que o credor nãorespeita o prazo que a legislação concede para que a execução (também chamada de ação cambial) seja ajuizada. Se isso acontecer, no entanto, o credor ainda possui outras alternativas, como o ajuizamento da ação monitória ou, até mesmo, da ação de cobrança. Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. § 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. § 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados. § 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação. 1º 2º Pro Solvendo quer dizer que primeiro recebe-se o valor do título (a promissória), em seguida, dá-se a quitação. PRO-SOLVENDO: Os títulos não se tornam autônomos, não se desligam do negócio respectivo, o preço só se considera real e definitivamente pago depois de saldada a última das notas promissórias. Como ensina Orlando Gomes, as promissórias pro solvendo não foram emitidas para extinguir a dívida oriunda do contrato de compra e venda, mas tão-somente para reforçá-la, para facilitar a obtenção do numerário. E, afinal, se essas notas promissórias não forem pagas? – O vendedor poderá atacar a própria compra e venda e considerar o contrato extinto e resolvido, com as graves conseqüências que este fato acarreta. 3º - -7 - -8 1.3 Princípios Os títulos de crédito também são orientados por alguns princípios universais, que regem toda a matéria e, portanto, todas as espécies de documento. Tais princípios são comuns em todo o mundo e podem ser extraídos do conceito de títulos de crédito dado pelo jurista italiano Cesare Vivante e aceita pela doutrina de forma quase absoluta. Diz Vivante (apud Coelho, 2013, p. 273) que título de crédito é um documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Dessa curta definição, utilizada até hoje, extraem-se os quatro princípios gerais mais importantes da matéria: carturalidade, literalidade, autonomia e abstração. Cartularidade Diz respeito à ideia de papel (cártula significa papel), fazendo referência ao fato de que é necessária a apresentação do documento para exercer o direito de cobrá-lo. “Sem o preenchimento dessa condição, mesmo que a pessoa seja efetivamente a credora, não poderá exercer o seu direito de crédito” (COELHO, 2013, p. 273). Literalidade Significa que o título só á válido em relação àquilo que está expresso nele. O credor, então, só poderá exigir do devedor o que estiver escrito no documento, nada mais do que isso. “O que não se encontra expressamente consignado no título de crédito não produz consequências” (COELHO, 2013, p. 274). A própria lei, no entanto, prevê algumas exceções, especialmente nos casos em que o preenchimento está incompleto: se o local da emissão estiver em branco, por exemplo, valerá o domicílio do emitente; e se faltar a data de vencimento, será à vista. Autonomia Garante que novas relações jurídicas possam ser firmadas com base no mesmo título sem que haja vínculo com aquelas que foram feitas anteriormente. Ou seja, a cada relação jurídica importa apenas as partes que lhe dizem respeito, sem se contaminar com aquelas que vieram antes dela. “Se uma dessas obrigações for nula ou anulável, eivada de vício jurídico, tal fato não comprometerá a validade e eficácia das demais obrigações constantes do mesmo título de crédito” (COELHO, 2013, p. 274-275). Abstração Permite que o título possa circular normalmente no mercado, mantendo a sua validade mesmo que a relação que o deu origem esteja viciada ou irregular (quando a assinatura inicial é falsa ou a pessoa que o assinou o fez por 1º princípio 2º princípio 3º princípio 4º princípio - -9 meio de coação, por exemplo). Uma vez emitido, o título se liberta de sua causa e, assim, ela não poderá ser alegada futuramente para invalidar as obrigações decorrentes do título. Fique de olho O título de crédito permite que o terceiro de boa-fé possa, inclusive, completar de próprio punho as informações que faltam no título, sem que isso venha a torná-lo nulo ou anulável. Isso pode acontecer, inclusive, com o próprio valor, caso esteja em branco. O título só corre o risco de ser nulo ou anulável se esse terceiro estiver de má-fé, ou, então, se o documento tiver um vício de forma tão grosseiro que qualquer pessoa leiga poderia perceber que há algo errado. Seria o caso de um cheque preenchido em uma folha A4, por exemplo. - -10 2 Classificação dos títulos de crédito Conforme já mencionado, os títulos de crédito precisam seguir um padrão específico para serem assim considerados. Assim, a doutrina os classifica em quatro critérios: 2.1 Quanto à estrutura A estrutura de um título de crédito pode ser de dois tipos: ordem de pagamento e promessa de pagamento. A o acontece por meio da participação de três figuras. Aquele que emite o título (emitenterdem de pagamento ou sacador) dá a ordem para que outro agente (sacado) faça o pagamento a uma determinada pessoa (beneficiário). É o caso da letra de câmbio, do cheque e da duplicata mercantil, por exemplo. A p , por sua vez, envolve a participação de apenas duas figuras. Aquele que emite umaromessa de pagamento promessa de pagamento (promitente) para que outro possa recebê-lo (beneficiário). É o caso da nota promissória e das cédulas de crédito. 2.2 Quanto à emissão Existem duas maneiras de emitir um título de crédito: a causal (ou não abstrata) ou a não causal (ou abstrata). A é aquela só ocorre mediante a existência de uma origem específica e prevista em lei. O casoemissão causal mais clássico é o da duplicata, cuja emissão está vinculada a uma nota fiscal de compra e venda ou de prestação de serviços. Já a é aquela que não possui uma origem pré-determinada e, portanto, podem ser emitidosemissão não causal em qualquer situação. - -11 2.3 Quanto ao modelo Os títulos, para serem emitidos, podem ter dois modelos: livre e vinculado. O é aquele que não precisa estar em conformidade com nenhuma exigência legal ou,modelo livre simplesmente, “não precisa observar um padrão normativamente estabelecido” (COELHO, 2013, p. 276). Isso significa que a pessoa que o emitir não precisa observar nenhum padrão: pode fazê-lo, inclusive, em qualquer papel, como acontece com a letra de câmbio e a nota promissória. O é aqueleque precisa respeitar um padrão previamente estabelecido em lei para que omodelo vinculado título possa produzir os efeitos a que se propõe. Segundo Coelho (2013), são aqueles para os quais o direito definiu um padrão para o preenchimento dos requisitos específicos de cada um. É o caso, por exemplo, do cheque, cuja folha deve ser emitida pelo banco dentro dos requisitos que a lei impõe. 2.4 Quanto à circulação Para que possa circular, o título deve atender a dois fatores: ao portador ou nominativo. Ao portador é aquele cujo credor não está identificado no título. Neste caso, a mera posse do documento legitima a exigência, fazendo com que a transferência do crédito seja feita por meio da tradição. Atualmente, a legislação brasileira não permite a circulação de um título sob tais condições – a Lei 8.021/1990 proibiu e o art. 907 do Código Civil o configurou como nulo. A única exceção é o cheque com valor igual ou inferior a R$ 100. Nominativo é aquele que exige a identificação do beneficiário no documento. É a regra para o cheque com valor acima de R$ 100 e para todos os demais títulos previstos no ordenamento. - -12 3 Procedimentos básicos da circulação do título de crédito A regra básica de um título de crédito é a sua própria circulação. Por este motivo, é importante entender os caminhos que ele pode tomar enquanto cumpre com esse papel e as consequências que cada uma dessas etapas também podem gerar. - -13 3.1 Endosso O endosso nada mais é do que a do título de crédito de um titular para outro. Essa transferênciatransmissão acontece quando, por exemplo, um beneficiário utiliza o título para pagar outra dívida, transferindo a uma terceira pessoa o direito de receber aquele valor. A quantia dessa dívida, no entanto, precisa ser igual à que consta no título, já que o endosso só pode ser total – o endosso parcial é vedado, por força do art. 912 do Código Civil e do art. 12 do Decreto 57.663/1966. Coelho (2013) lembra, neste caso, que, apesar do conceito de transferência do título, a alienação do crédito fica condicionada à tradição (entrega efetiva da posse e da propriedade), justamente em decorrência do princípio da cartularidade. Para tanto, aquele que transmite (o endossante) precisa apenas lançar a sua assinatura no verso do documento para que aquele que irá recebê-lo (endossatário) possa gozar de todos os direitos inerentes a ele. Esse procedimento faz com que o endossante se torne garantidor solidário do título – e, portanto, poderá ser acionado futuramente para fazer o pagamento integral do título. O endosso, portanto, produz dois efeitos (COELHO, 2013): • transmite o título para outra pessoa, repassando, com isso, a sua titularidade • garante o título, vinculando o endossante ao seu pagamento na qualidade de coobrigado Essa garantia solidária acompanha a transmissão de forma automática e só não ocorre em três situações: se houver a expressão sem garantia transcrita ao lado do nome do endossante que assinou o título, cláusula que permite ao endossante transferir a titularidade do documento sem se obrigar ao seu pagamento se o endosso foi realizado após o protesto ou após o prazo previsto para o protesto se o endosso tiver cláusula proibitiva de novo endosso, feita por meio da indicação expressa da cláusula não à ordem ao lado do nome do endossante que assinou o título. É importante ressaltar, no entanto, que a referida cláusula não impede o endosso propriamente dito. Ela significa que o endossatário não irá garantir o título para terceiros, caso ele continue a ser transmitido a partir de então: a sua responsabilidade está restrita apenas para o seu endossante. • • 1 2 3 - -14 Ela indica também que todas as transferências a partir dela não ocorrerão por meio dos efeitos de endosso, mas, sim, da chamada (arts. 294 e 296 do Código Civil, art. 20 do Decreto 57.663/1966 e art.cessão civil de crédito 27 da Lei 7.357/1985). O endosso, portanto, só poderá ocorrer o título de crédito não conter nenhuma menção ou, então, a expressão à – que pode ser expressa ou tácita.ordem O endosso pode se apresentar de duas formas: Endosso em preto Ocorre quando a pessoa para quem o título está sendo transferido (endossatário) está identificada no documento Endosso em branco (ou incompleto) Ocorre quando essa pessoa não está identificada no título. Neste caso, segundo Coelho (2013), o título pode passar de nominativo para ao portador, fazendo com que o endossatário possa transferir o crédito nele representado por mera tradição e sem se vincular na qualidade de coobrigado. Além disso, existem diversas espécies de endosso. As mais comuns são: Endosso tardio É aquele realizado após o prazo do protesto, ou após a própria realização do protesto, que acaba por produzir efeitos de cessão de crédito. Endosso-mandato Ocorre quando o portador do título transfere o documento a outra pessoa para que ela, em seu nome, realize a cobrança, requeira o protesto (em caso de não pagamento), ou, ainda, dê quitação a ele. Neste caso, o titular (endossante-mandante) continua proprietário do documento: o que ele transfere é apenas a posse a outrem (endossatário-mandatário). Essa outorga de poderes impede, por exemplo, que o endossatário-mandatário realize um endosso puro. Mas para que essa relação se configure, é preciso que o titular insira no documento a expressão , ou, ainda, . E assim que o título for pago, opor procuração valor a cobrar dou poderes a... endossatário-mandatário tem o dever de restituir o valor recebido ao endossante-mandante. Endosso-caução (endosso-garantia ou endosso pignoratício) - -15 Ocorre quando o portador do título o transfere a outra pessoa como garantia de uma obrigação assumida por ele. Neste caso, novamente apenas a posse do documento é transferida: ela fica em poder do credor para que ele possa satisfazer seu crédito por meio do título, caso a dívida em questão não seja paga. Para tanto, é preciso que seja incluída no verso do documento a expressão .valor em garantia - -16 3.2 Aval O aval é garantia pessoal dada por um terceiro de que o título será pago por aquele que o deve. Trata-se de um instituto autônomo, cuja proteção permanece mesmo que a obrigação principal que originou o título apresente algum vício grave – com exceção de um vício de forma. Esta é a forma que a legislação encontrou de dar segurança ao credor, portanto, de que a obrigação será, de fato, cumprida. Ao dar esta garantia, o avalista passa a fazer parte das pessoas envolvidas na transação. Isso significa que ele passa a responder pelo pagamento do título da mesma maneira que o devedor principal. Neste sentido, o aval se parece muito com o instituto da fiança, no Direito Civil. Porém, há diferenças importantes entre os dois, especialmente no que implica em consequências. O aval se constitui por meio da simples assinatura feita na frente do título. Mas não haverá problema se ela for dada no verso do documento, desde que não se confunda com um endosso. E assim como acontece no endosso, o aval também pode ser em preto ou em branco. Aval em preto Indica expressamente quem é a pessoa que está sendo avalizada Aval em branco Não indica quem é o avalizado No entanto, pode acontecer também do devedor contar com dois ou mais avalistas. Quando isso acontece, esses avais podem ter sido dados de forma simultânea, ou então, sucessiva - situações que refletem na responsabilidade que terão os avalistas. Os são aqueles que foram dados ao mesmo tempo,avais simultâneos sem indicar qual deles veio primeiro. Isso significa que os avalistas assumem uma responsabilidade solidária pelo pagamento do valor acordado – e podem, portanto, ingressar com ação regressiva contra o outro, desconsiderando a parte que lhe diz respeito. Por outro lado, os são aqueles que informam, por meio de data ou outro formato, a ordem emavais sucessivos que foram dados. Quando isso acontece, o segundo aval tem o papel de avalizar o primeiro aval (que, porsua vez, avalizava o devedor principal). Neste caso, diferente do aval simultâneo, o avalista tem direito de buscar a regressiva do valor integral da obrigação, em relação a todos os outros avalistas constituídos anteriormente. Além disso, o aval pode ser pode ser total ou parcial e a própria lei de cada título é que dá, ou não, essa permissão - na duplicata, por exemplo, o aval somente poderá ser total. Quando o avalista só assina o título significa que está garantindo o valor integral do documento. Mas se ele assina e indica determinado valor ao lado, o aval é parcial: ele garante o título apenas até aquele valor. - -17 Também não importa se o aval for dado antes ou depois do vencimento do título, uma vez que, em ambos os casos, os efeitos serão os mesmos. 3.3 Aceite O aceite nada mais é do que o ato de reconhecimento da dívida pelo devedor principal, que, ao confirma-la, se torna obrigado a fazer o pagamento ao credor. Trata-se, basicamente, da mera assinatura dada por ele no documento, em momento oportuno a sua emissão. Segundo a lei, apenas dois títulos precisam de aceite: a letra de câmbio e a duplicata. Coelho (2013, p. 288) explica que o aceitante é o devedor principal da letra de câmbio. Isto significa que, no vencimento, o credor do título deverá procurar, inicialmente, o aceitante para cobrar o seu pagamento. Somente na hipótese de recusa de pagamento pelo devedor principal, é que o credor poderá cobrar o título, em determinadas condições, dos coobrigados. Cada título de crédito, em espécie, tem o seu devedor principal, em relação aos qual se aplica esta regra. Enquanto na letra de câmbio, o aceite é facultativo; na duplicata, ele é obrigatório e as únicas possibilidades de recusa estão sinalizadas pela lei que a rege. No cheque e na nota promissória, por outro lado, a figura do aceite não faz sentido porque a formatação de ambos os títulos já vincula a assinatura do devedor no momento da sua emissão. O aceite pode ser e . E a sua falta ou recusa – nos casos dos títulos em que ele é necessário - significatotal parcial que o devedor ainda não faz parte da relação cambial. Neste caso, o protesto se torna indispensável para fazer a prova desta vinculação (art. 44 do Decreto 57.663/1966). Segundo Coelho (2013), como o devedor não está obrigado a dar o aceite ao título que lhe foi apresentado, a sua opção pela recusa é comportamento lícito. No entanto, a lei lhe reserva consequências, como forma de proteger os interesses do credor: ocorrerá, neste caso, o vencimento antecipado, permitindo ao credor cobrá-lo de forma imediata. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /3dd2ef1a887ed09ee52e5b9478e4d870 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/3dd2ef1a887ed09ee52e5b9478e4d870 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/3dd2ef1a887ed09ee52e5b9478e4d870 - -18 3.4 Protesto O protesto é um ato formal que serve para oficializar o não cumprimento de uma obrigação ou a não assinatura do título (alguns títulos permitem a assinatura posterior do devedor). É uma alternativa extrajudicial que o credor possui para tentar receber o valor que lhe é de direito sem que necessite recorrer ao Judiciário – mas se esta for a sua vontade, trata-se de um requisito essencial à ação cambial para que o título possa ser cobrado. É feito, portanto, de forma administrativa no próprio Tabelionato de Protestos de Títulos. O protesto é obrigatório em três situações: Para suprir o aceite não dado pelo devedor Só ocorre na duplicata e na letra de câmbio e deve, obrigatoriamente, ser feito antes do vencimento. Para atestar a não devolução do título Isso ocorre nos casos em que o devedor fica com o documento para assinar o aceite e não o entregar de volta. É passível de acontecer na duplicata e na letra de câmbio, que são os únicos títulos que necessitam de aceite. Para provar a falta de pagamento Pode ser realizado em qualquer título de crédito, como tentativa de recebimento e só pode ser feito após o vencimento. O protesto também é requisito indispensável para o credor mover a ação judicial cabível para cobrar o título. Isso acontece nos casos em que há necessidade de: pedir a falência do devedor por impontualidade (art. 94 da Lei 11.101/2005 – Lei de Falências) executar os devedores indiretos, como endossantes e avalistas Fique de olho O protesto não é necessário no cheque, porque a própria apresentação dele já produz tal efeito. Também não é exigido nos títulos onde houver a cláusula sem despesas, que é inserida pelo próprio pelo emitente (cláusula sem despesa significa que o título não precisa do protesto para ser cobrado), segundo o art. 46 do Decreto 57.663 e o art. 50 da Lei 7.357/1985). Cartorio 1 2 3 1 - -19 O prazo para que o credor possa realizar o protesto está fixado nas leis especiais que regulam cada um dos títulos de crédito. Não se trata, porém, de um vencimento fatal: o credor pode protestar o título mesmo depois desse prazo e enquanto existir a obrigação. É o chamado .protesto posterior No entanto, há um importante efeito que surge a partir do protesto posterior. Quando isso acontece, o credor não poderá mais cobrar a dívida dos devedores indiretos, apenas do devedor principal. Endossantes e avalistas, portanto, ficam livres de tal responsabilidade. No entanto, quando é feito de forma tempestiva (dentro do prazo), o protesto tem o efeito de interromper o prazo de prescrição para que o credor possa ajuizar uma ação cambial (execução). Neste caso, um novo prazo começa a contar do zero a partir deste momento. A determinação é feita pelo Código Civil, em seu art. 202, inciso III. Quadro 1 - Prazos para protesto de cada título Fonte: Elaborado pela autora (2020). O procedimento para efetuar o protesto é regulado pela Lei 9492/1997. Ele começa com a apresentação do título no cartório, onde o tabelião verifica se ele contém todas as formalidades. Ele não checa, no entanto, se título está dentro do prazo ou se está prescrito: o seu papel ali se limita apenas a analisar se o documento apresentado é, de fato, considerado um título. ver LEI Nº 9.492, DE 10 DE SETEMBRO DE 1997 - Define competência, regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras providências. - -20 O devedor principal, então, é intimado e recebe o prazo de três dias para se manifestar perante o cartório. Durante este período, surgem três possibilidades (para o devedor): fazer o pagamento (para o próprio cartório) fazer uma sustação de protesto, por meio do ajuizamento de uma tutela provisória de urgência cautelar antecedente (trata-se de uma petição simples para requerer, de forma cautelar, que o título não seja protestado) não fazer nada Apenas se o devedor não fizer nada ao longo do prazo de três dias, o título será protestado. Todas as outras alternativas conseguem evitar o protesto. A partir daí, a única opção que ele tem é pedir o cancelamento do protesto. Figura 2 - Procedimento administrativo do protesto Fonte: Elaborado pela autora (2020). O cancelamento do protesto só pode ser pleiteado pelo devedor por três motivos, segundo o art. 26 da Lei 9.492 /1997: defeito do protesto Fique de olho A sustação de protesto só ocorre antes do protesto. Depois que ele é protestado pelo cartório, não poderá mais ser sustado. Neste caso, a única opção é o cancelamento, conforme previsão expressa do art. 26 da Lei 9.492/1997. A tutela provisória de urgência: é um dos dispositivos judiciais que permite a antecipação e asseguração de um direito da parte, seja para que o direito pedido no processo seja adquirido antes do final do mesmo (tutela antecipada) ou para assegurar que o direito pedido no processo será atingido no fim do mesmo (cautelar). fazer parar ou parar; suspender(-se), interromper(-se) 1 - -21 defeito do título reconhecido por sentença pagamentodo título protestado Somente na hipótese do pagamento do título que está protestado, o cancelamento poderá ser requerido no próprio Tabelionato. Nos outros dois casos, a única opção de requerer o cancelamento é mediante medida judicial definitiva (no caso, decisão transitada em julgado). Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /63fbafdc2b4c58cd957ee9efd606e858 é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • entender o que são os títulos de crédito, como surgiram e para que são usados até hoje; • conhecer o que caracteriza os títulos de crédito e quais são os princípios jurídicos que regulam a sua circulação; • aprender sobre a maneira como o Direito brasileiro os classifica e como isso afeta a sua circulação; • compreender os principais elementos que circundam a utilização dos títulos de crédito, como o endosso, o aval, o aceite e o protesto, e conhecer como cada um influencia no processo. Referências BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto. >. Acesso em: 19 jan. 2020.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm COELHO, F. U. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.Curso de Direito Comercial _____. : direito de empresa. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.Manual de Direito Comercial NEGRÃO, R. : títulos de crédito e contratos empresariais. São Paulo:Manual de direito comercial e de empresa Editora Saraiva, 2010. VIDO, E. . São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.Curso de Direito Empresarial • • • • https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/63fbafdc2b4c58cd957ee9efd606e858 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/63fbafdc2b4c58cd957ee9efd606e858 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm 2 3 Olá! 1 Introdução aos títulos de crédito Assista aí 1.1 Previsão legal 1.2 Características 1.3 Princípios 2 Classificação dos títulos de crédito 2.1 Quanto à estrutura 2.2 Quanto à emissão 2.3 Quanto ao modelo 2.4 Quanto à circulação 3 Procedimentos básicos da circulação do título de crédito 3.1 Endosso 3.2 Aval 3.3 Aceite Assista aí 3.4 Protesto Assista aí é isso Aí! Referências