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José Nazareno Gil Luiz Fernando Gil Cirurgia d0 Terceiro [Violar Passo a Passo **. isaios kí"^J Editora Cirurgia do Terceiro Molar Impactado Passo a Passo O GEN | Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, Roca, AC Farmacêutica, Forense, Método, LTC, E.P.U. e Forense Universitária, que publicam nas áreas científica, técnica e profissional. Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualáveis, com obras que têm sido decisivas na formação acadêmica e no aperfeiçoamento de várias gerações de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, Enferma gem, Engenharia, Fisioterapia, Medicina,Odontologia, Educação Físicae muitas outras ciências, tendo se tornado sinônimo de seriedade e respeito. Nossa missãoé prover o melhor conteúdo científicoe distribuí-lo de maneira flexível e conveniente, a preços justos, gerando benefícios e servindo a autores, docentes, livrei ros, funcionários, colaboradores e acionistas. Nosso comportamento ético incondicional e nossa responsabilidade social e ambiental são reforçados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer o cres cimento contínuo e a rentabilidade do grupo. Cirurgia do Terceiro Molar Impactado Passo a Passo I santos l^~A E d i tora José Nazareno Gil Luiz Fernando Gil Título: Autores: Revisão de Texto: Diagramação: Capa: Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo José Nazareno Gil Luiz Fernando Gil Marilda Ivanov Roberto César Gomes Gilberto R. Salomão Copyright © 2012 by LIVRARIA SANTOS EDITORA LTDA. Uma editora integrante do GEN I Grupo Editorial Nacional Todos os direitos reservados à Livraria Santos Editora Com. Imp. Ltda. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a permissão prévia do Editor. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ G392c Gil, José Nazareno Cirurgia do terceiro molar impactado: passo a passo / José Nazareno Gil, Luiz Fernando Gil. - São Paulo: Santos, 2012. 184p. : il.; 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-7288-926-1 1. Terceiros molares. 2. Dentes - Extração. I. Gil, Luiz Fernando. II. Título. 11-5075. CDD: 617.605 CDU: 616.314-007-089 Isantos t^~J E d i tona Rua Dona Brígida, 7011 Vila Mariana Tel.: 11 5080-0770 | Fax: 11 5080-0789 04111-0811 São Paulo | SP www.grupogen.com.br Autores José Nazareno Gil • Mestre e Doutor em CTBMF pela UFRJ • Residência em CTBMF no Hospital de Ipanema, RJ • Professor das disciplinas de CTBMF I, II, III e IV da UFSC • Professor dos Cursos de Especialização, Mestrado e Doutorado em Implantodontia da UFSC • Coordenador da Residência em CTBMF HU/UFSC • Coordenador do Curso de Cirurgia Oral Menor UniABO/SC • Coordenador do Curso de Cirurgia Avançada para Implantodontia da UFSC Luiz Fernando Gil • Especialista em CTBMFHU/UFSC • Professor do Curso de Cirurgia Oral Menor UniABO/SC • Professor do Curso de Cirurgia Avançada para Implantodontia da UFSC • Mestrando em Implantodontia - CEPID/UFSC Dedicatória Dedico este livro ao meu tio e mestre Adércio Miguel Domingues. Sua sinceridade, honestidade, ensi namentos, dedicação ao ensino, carinho com o aprendizado e amor à ciência jamais esquecerei; servem de exemplos que norteiam as minhas condutas acadêmicas e profissionais. Agradeço a oportunidade que vocême permitiu de estar ao seu lado até hoje. Não existem palavras para dizer o quanto sou grato. José Nazareno Gil Dedico esta obra ao meu pai, Antônio Miguel, à minha mãe, Elisabeth, e ao meu irmão, Felipe, por serem minha base de sustentação; à minha esposa, Renata, pelo amor e paciência incondicionais; à minha avó Nair e tia Nem (em memória) e aos meus avós Deodato e Maria Célia por me ensinarem, através de seus exemplos, que as coisas mais sublimes da vida não são aprendidas nos bancos universitários. Luiz Fernando Gil Ao aceitar o honroso e instigante convite dos meus colegas e amigos, José Nazareno Gil e Luiz Fernando Gil,para prefaciar este maravilhoso livro, decidi: serei isento e sincero. Não abro mão, entre tanto, de celebrar o fato dos dois fazerem parte da minha vida e, ao mesmo tempo, permitirem que eu faça, para sempre, parte da vida deles. José Nazareno Gil é para mim uma referência pessoal, por sua amizade, caráter, prestatividade, disponibilidade, competência, espírito crítico, cora gempara manter as suas convicções e espíritoaberto à evolução do ensino da cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial. Luiz Fernando Gil resume tudo de bom que se pode dizer de um ser humano que valoriza a vida comoum bem precioso e de valor inestimável. Sobri nho que qualquer tio se orgulharia de ter.Atencioso, educado, estudioso, dedicado, inteligente, vivaz, leal e competente. Ao observar a estrutura da obra, constatei que os 17 capítulos atendem todos os aspectos da ci rurgia para remoção do terceiro molar impactado. Dos motivos para a sua remoção, mesmo quando assintomático, até às recomendações pós-operatórias. Do diagnóstico, planejamento, medicação e exames pré-operatórios, até as melhores técnicasde remoção. Sintetiza de forma objetiva as dificuldades, complica ções e avanços. Oferece soluções inovadoras, práticas e de alta qualidade. Viabiliza o desenvolvimento de Prefácio diferentes habilidades e estimula a criatividade, a análise e a investigação. A maravilhosa documentação fotográfica com plementa o excelente texto. Brinda precisamente àqueles que desejarem oferecer a seus pacientes um procedimento cirúrgico de máxima qualidade. Acima de tudo, os leitores vão se extasiar com de talhadas seqüências clínicas que são soberbamente ilustradas. Emconjunto,os autores oferecemos seus saberes acumulados ao longo de muitos anos de trabalho, estudo e suor, de forma pródiga e atual aos poten ciais leitores. Dessa forma, este livro atende uma das minhas crenças: "livro é instrumento de trabalho". Este, por exemplo, deve ser recomendado como parte inerente do processo de ensino-aprendizagem. Éum instrumento quepodeserindicado tantoao iniciante como ao mais veterano especialista. A partir do seu lançamento, este livro passa a ser um instrumento no processo de ensino-aprendiza gem e na transformação do leitor em um ser crítico, capaz de contribuir, criar e construir o saber. Sylvio Monteiro Júnior Professor Titular de Dentística da Universidade Federal de Santa Catarina Consideramos a cirurgia dos terceiros molares impactados uns dos procedimentos mais fascinan tes da Odontologia, em todos os aspectos. E um ato cirúrgico complexo, que exige muito conhecimento científico, técnica e habilidade para ser realizado. Estamos envolvidos com este tipo de cirurgia desde 1980,onde, ainda como graduados, realizáva mos cominexperiência, comdúvidas, mas querendo fazê-la sempre da maneira mais correta possível. Só conseguimos realizá-la da maneira ideal, com toda técnica e instrumental necessários, após concluir nossa pós-graduação em Cirurgia e Traumatolo gia Bucomaxilofacial. A partir daí, colocamos no procedimento mais conhecimento científico, mais experiência e osensinamentosde outros professores renomados. Hoje, podemos dizer, realizamos a cirur gia dos terceiros molares com maestria. Nossa técnica atualmente é sedimentada, simples, fácil de ensinar e de aprender. Temosensinado alunos de graduação, de pós-graduação nosníveis Especiali zação e Atualização desde 1990.Nossos pacientes são acompanhados por longo tempo antes da alta defi nitiva. Isto nos dá a certeza de que o que realizamos permite a recuperação total dos pacientes. Colocamos neste livro toda a experiência cirúrgi ca e de ensinamento do nosso grupo sobre terceiros molares. Está disposto em 17 capítulos, escritos de forma prática e clara, para ler, estudar e praticar. Baseados na literatura atual e em nossa experiência, discutimos o porquê remover os terceiros molares assintomáticos, quais os exames solicitar e como prever as dificuldades da remoção; um passo a passo da seqüência cirúrgica, de como fazer e qual instrumental utilizar nas etapas,desde a exposição do dente, passando pela ostectomia, odontosecção e remoção do dente e sutura. Destacamos ainda, em capítulosespecíficos, detalhescirúrgicos diferenciais sobre as diversas impactações. Ainda abordamos as germectomias e as coronectomias. Gostaria de dizer algumas palavras sobre o Dr Luiz Fernando Gil, o outro autor desta obra. Ele foi incansável para podermos chegar ao final. Con seguiu colocar no papel, por meio de fotografias, desenhos e da sua maneira clara e fácil de escrever o pensamento e a filosofia do nosso grupo de tra balho. Documentou os capítulos com fotografias belíssimas, mantendo um padrão inacreditável. Meu sobrinho e amigo, obrigado! Sem você esse livro nem teria iniciado. Muitos contribuíram para que este sonho se con cretizasse, e por isso temosque agradecer. Obrigado aos amigos e professores Charles Marin, Rodrigo Granato, Antônio Miguel Domingues Gil, Jonathas Daniel Paggi Claus e Eliane Fossati Gonçalves. Em especial agradecemos aos residentes Danielle Sales Marques da Cruz e Victor Lousan do Nascimento Poubel pela contribuição na realização dos casos. Aos pacientes que permitiram que suas cirurgias fossem fotografadas de maneira exaustiva, o nosso agradecimento. Estamos certos que este livro será útil tanto para estudantes de Odontologia e Cirurgiões Dentistas, como também para especialistas em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Quem fizer uso dele, será auxiliado na remoção dos terceiros mola res, assim como encontrará informações colocadas de maneira didática, para o ensino deste tipo de cirurgia. Então, desfrutem deste livro, leiam-no com aten ção, estudem e pratiquem. hU Capítulo 1 Terceiro Molar Assintomático: Por que Remover?. Capítulo 2 Exames Pré-operatórios Capítulo 3 Medicação Pré-operatória. Capítulo 4 Como Prever a Dificuldade na Remoção do Terceiro Molar Capítulo 5 Instrumental e Seqüência Cirúrgica Capítulo 6 Exposição Ideal: Incisões, Retalhos, Descolamento, Afastamento. Capítulo 7 Ostectomia Necessária Suimano 13 21 27 35 47 67 Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo Capítulo 8 Odontossecção e Remoção do Dente 77 Capítulo 9 ! Toalete da Cavidade e Sutura 89 Capítulo 10 Recomendações Pós-operatórias 107 Capítulo 11 Terceiro Molar Mesioangular 111 Capítulo 12 Terceiro Molar Horizontal 123 Capítulo 13 Terceiro Molar Vertical 133 Capítulo 14 Terceiro Molar Distoangulado 143 Capítulo 15 Terceiro Molar Superior 155 Capítulo 16 Germectomia 165 Capítulo 17 Coronectomia 173 Capítulo 1 Terceiro Molar Assintomático: Por que Remover? As indicações absolutas para a remoção de um terceiro molar incluso ou impactado estão muito bem detalhadas em diversos livros de cirurgia. E grande a demanda de pacientes jovens no consultório, com a presença assintomática (que não produziu nem está produzindo doença) destes dentes, perguntando: este dente não está me incomodando - devo ou não extrair? Quais os problemas que podem me acontecer se eles permanecerem aí? O cirurgião-dentista (CD), ao examinar uma radiografia, pergunta-se: devo indicar a cirurgia de um dente assintomático, com todo o potencial de complicação pós-operatória? É correto esperar o surgimento de uma doença, piorando a saúde do paciente, para indicar a cirurgia? Irá aparecer uma doença se este dente for mantido na boca? Este é um assunto muito controverso na lite ratura. Com este capítulo temos o objetivo de dar Fig. 1.1A subsídios, baseados na literatura e em nossa expe riência, para a tomada destas decisões, discutindo as principais complicações advindas da manutenção de um terceiro molar assintomático. Cárie Dentária A cárie é uma doença multifatorial dependente da presença da placa cariogênica, hábitos de higiene e dieta. Os terceiros molares, por sua posição na arcada e diferentes graus de impactações, tornam-se nichos de acúmulo de placa bacteriana, dificultando ou até mesmo impossibilitando a higienização correta, contribuindo para o desenvolvimento da cárie den tária. A cárie pode aparecer na superfície oclusal do terceiro molar e/ou na face distai do segundo molar (Figs. l.lAeB). Fig. 1.1B Figs. 1.1A,B - (A) Radiografia panorâmica. Observar a presença de cárie oclusal no dente 48 e distai no 47. (B) Visão clínica mostrando a cavitação no dente 48. Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo Em relação à presença de cáries oclusais, Shugars et ai. (2004) avaliaram terceiros molares assintomáti cos em 303 pacientes, concluindo que 39% deles com mais de 25 anos de idade apresentavam pelo menos um terceiro molar cariado. Outro trabalho conduzido por Shugars et ai. (2005), em pacientes com média de idade de 26,6 anos, comparou a experiência de cárie oclusal em terceiros molares assintomáticos no início e final do estudo (média 2,9 anos), contabilizando um aumento de 4%entre estes períodos. Inicialmente, 43% dos pacientes mais velhos (mais de 25anos) apresenta vam pelo menos um terceiro molar com cárie oclusal, contra 9% dos mais jovens. De maneira semelhante, Ahmad et ai. (2008) avaliaram a presença de cárie oclu sal em terceirosmolares assintomáticos, em pacientes com uma média de idade de 20,5anos. A experiência inicial de ausência de cárie evoluiu para 27%no último controle (média de acompanhamento de 5,1 anos). Estes estudos científicos apresentados mostram maior prevalência de cárie oclusal em terceiros mo lares nos grupos etários mais avançados, bem como o aumento da incidência nos grupos mais jovens ao longo do tempo. A remoção precoce destes dentes evita procedimentos restauradores e/ou endodôn- ticos complicados, com redução de tempo, custos e complicações para o paciente. A manutenção de um terceiro molar assinto mático pode também contribuir para o surgimento de cáries distais nos segundos molares. Este tipo de cárie é bastante específico, tendo incidência baixa, não despertando muito interesse por parte dos pro fissionais. Alguns estudos objetivam predizer qual tipo de impactação torna o surgimento destas cáries mais suscetível. McArdle & Renton (2005) avaliaram 100 pacientes que tiveram seus terceiros molares removidos devido à presença de cárie na face distai do segundo molar. Dos 122 dentes extraídos, todos estavam parcialmente erupcionados e 119 estavam impactados na junção cemento-esmalte (JCE) do segundo molar ou muito próximos a ela. Os autores observaram que 82% dos dentes removidos eram mesioangulares com angulação entre 40 e 80° com o plano oclusal mandibular, concluindo que a cárie distai do segundo molar não se desenvolveria na ausência do terceiro molar. Õzeç et ai. (2009) avaliaram a presença de cáries distais em segundos molares, relacionando com ida de, angulação do terceiro molar e sua proximidade com a JCE do segundo molar. Foram estudados 585 terceiros molares parcialmente erupcionados, em pacientes com média de idade de 25,2 anos, sendo observada cárie distai em segundo molar em 20%dos casos. Os autores encontraram maior incidência, esta tisticamente significativa, em terceiros molares com angulações entre 30-90°, em contato com a JCE do segundo molar e em pacientes com maior idade. De maneira semelhante, Chang et ai. (2009)com pararam grupos de pacientes com ou sem cárie na distai do segundo molar, avaliando a idade, angula ção do terceiro molar, sua classificaçãoPell-Gregory em relação ao nível oclusal do segundo molar e dis tâncias entre a JCE do segundo e terceiros molares. A proporção de terceiros molares com angulação de 41-80°, Pell-Gregory A, distâncias entre JCE de 7-9 mm e em pacientes com mais idade (média 33,8 anos) foi significativamente maior no grupo com cárie do que no grupo sem cárie. A literatura nos mostra que este tipo de cárie também é mais prevalente em indivíduos com idade superior a 25 anos. O tratamento de cáries distais em segundos molares pode exigir,além da extração do ter ceiro molar, procedimentos restauradores, endodônti- cos, periodontais ou até mesmo a extraçãodo segundo molar,onerando e piorando a saúde do paciente. Concluímos,a partir dos estudos apresentados, que os terceiros molares com as seguintes característi cas parecem ter maior potencial de desenvolvimento de cárie,commelhor indicaçãode remoçãoprofilática (Fig. 1.2): • parcialmente erupcionados (Pell-Gregory A ouB); • mesioangulares entre 40-80°; • em intimo contato com a JCE do segundo molar, com uma distância de 7-9 mm entre as JCE dos dois dentes. Doença Periodontal O raciocínio que fizemos em relação à cárie dentária pode ser feito com a doença periodontal. A localizaçãoanatômica do terceiro molar pode facilitar a instalação da placa periodontopatogência e dificultar sua remoção por parte do paciente, mesmo nos mais colaboradores e motivados, contribuindo para a pro gressão da doença periodontal (Figs. 1.3e 1.4Ae B). Fig. 1.2 - Radiografia periapical. Presença de ampla cárie distai no dente 47. Em amarelo: maneira de calcular a distância entre as JCE do terceiro e segundo molares. Em vermelho: calcula-se a angula ção do terceiro molar mesioangulado através da intersecção entre o plano oclusal mandibular e a superfície oclusal do terceiro molar. Terceiro Molar Assintomático: Por que Remover? Fig. 1.4A Fig. 1.4B Fig. 1.3 - Ampla lesão endoperiodontal envolvendo o dente 48. A presença de cálculo subgengival é generalizada, mas a progressão da doença, devido às dificuldades de higienização, é maior na região do terceiro molar. Figs. 1.4A.B - (A) Presença de cálculosubgengival (seta amarela) associado ao dente 48, e o defeitoósseo (seta preta) resultante do pro blema periodontal. (B)Após a remoção do dente, pode-se notar a perda óssea considerável na face vestibular do terceiro molar (seta preta) e na distai do segundo molar (seta amarela). Para debater este e outros temas relacionados aos terceiros molares, a AAOMS (Associação Americana de Cirurgiões Bucomaxilofaciais) desenvolveu um trabalho multicêntrico intitulado Wliite paper on third molar data. Este estudo apresenta as melhores evidên cias na literatura sobre o assunto até o ano 2007. Em relação aos aspectos ligados à doença periodontal, este trabalho concluiu que: • a ausência de sintomas não indica ausência de doença. A doença periodontal progride na ausência destes; • a presença de bactérias patogênicas e indi cadores da inflamação, bem como profundi dade de sondagem igual ou maior que 4 mm existem nos e ao redor dos terceiros molares assintomáticos; • defeitos periodontais ao redor de terceiros molares pioram com o passar da idade; • o aumento da severidade da doença perio dontal na presença de um terceiro molar irrompido; a natureza progressiva desta doença nos demais dentes da arcada quando um terceiro molar irrompido está presente; sua relação com a doença periodontal severa e refratária; um pior resultado do tratamento da doença periodontal, apoiam a hipótese de que a presença de um terceiro molar irrompi do é preditor de doença periodontal. Outros estudos na mesma linha foram publicados após este documento da AAOMS. White et ai. (2008) estudaram indivíduos com quatro terceiros molares assintomáticos, em uma média de idade de 26,2 anos e com controle médio de 5,9 anos. Todos os dentes da arcada foram sondados e classificados da seguinte maneira: • ausência de doença: sondagem periodontal menor que 4 mm; • doença incipiente: de 1 a 3 locais com sonda gem periodontal igual ou maior que 4 mm; • doença inicial: quatro ou mais locais com profundidade igual ou maior que 4 mm. Os autores concluíram que os pacientes com doença incipiente ou inicial ao redor do terceiro 3 Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo molar no início do estudo tinham significativamente mais chances de desenvolver esta doença na região do terceiro molar e dos demais dentes da arcada, quando avaliados no acompanhamento. Moss et ai. (2009)estudaram adultos e idosos para avaliar a severidade da doença periodontal nestes grupos etários, quando um terceiro molar irrompi do estava presente. Foram avaliados 6793 pacientes com uma média de idade de 62,4 anos, através de sondagem periodontal em todos os dentes presentes. Quando havia um terceiro molar irrompido, foi en contrado piora significativa da média de sondagem periodontal, bem como o aumento de locais com pro fundidade de sondagem maior ou igual a 4 mm, com níveis de inserção clínica maior ou igual a 3 mm nos primeiro e segundo molares, quando comparados com o grupo sem terceiro molar irrompido. Blakey et ai. (2010) estudaram a prevalência de doença periodontal em jovens, nas regiões diferentes do terceiro molar, quando da presença de terceiros molares irrompidos. Foram avaliados clínica e ra- diograficamente 411 pacientes com uma média de 26 anos e divididos em dois grupos, os sem terceiros molares irrompidos e os com pelos menos um ter ceiro molar irrompido. O grupo com terceiro molar irrompido foi significativamente mais suscetível a ter pelo menos um local com profundidade de sondagem maior ou igual a 4 mm nas regiões diferentes dos ter ceiros molares, quando comparados com o grupo sem terceiros molares irrompidos. Diante do impacto negativo da presença dos terceiros molares com relação ao início, progressão e severidade da doença periodontal, nos parece benéfico ao paciente a extração profilática destes. E importante estabelecer parâmetros de avaliação do periodonto dos terceiros molares, através de radiografias, profundida de de sondagem, presença de sangramento à sondagem e nível de inserção clínica. Desta maneira, pode-se de terminar quais indivíduos são mais suscetíveis, tornan do a indicação da remoção cirúrgica mais precisa. Fratura de Mandíbula O espaço ocupado por um terceiro molar im pactado no ramo e/ou corpo da mandíbula reduz a quantidade e resistência óssea, concentrando forças, tornando a região mais suscetível à fratura (Fig. 1.5). Desta maneira, quanto maior o grau de impactação, maior a predisposição de um indivíduo a sofrer uma fratura de mandíbula neste local, quando exposto a um traumatismo. A afirmação feita é respaldada por alguns estudos. Subhashraj (2009) observou, através de radiografias, 2033 pacientes com fratura de mandíbula. Ao rela cionar a presença de terceiro molar, ficou constatado que dos 341 pacientes com um terceiro molar não irrompido, 265 (77,7%) possuíam uma fratura de ân íG gulo mandibular, demonstrando risco maior quando comparado com ausência, erupção parcial ou total destes. Analisando suas posições, houve associação significativa de maior suscetibilidade de fratura de ângulo mandibular em terceiros molares Classe C-III de Pell e Gregory (Fig. 1.6). Meisami et ai. (2002) em estudo biomecânico concluíram que a resistência mandibular é dada pelas corricais e não pela parte medular. Estabeleceram que a presença de um terceiro molar na região do ângulo mandibular, quando em posição mais superficial, rom peria a cortical superior, tornando a mandíbula mais fraca e suscetível a fraturas nesta região (Fig. 1.7). Duan & Zang (2008), após a observação de 700 pacientes com fratura mandibular, constataram que a presença de um terceiro molar aumenta significati vamente o risco de fratura de ângulo mandibular. A freqüência maior estava nos terceiros molares Classe B-II de Pell e Gregory, demonstrando que o rompi mento da cortical aumentaria o risco de fratura. Re sultados semelhantes foram obtidos por Thangavelu et ai. (2010), que encontraram, após a análise de 200 pacientes com fratura de ângulo mandibular, maior freqüência desta em pacientes com terceiro molar Classe B-II. (Fig. 1.8) Dentre os muitos estudos em relação a este as sunto, há tendência maior de relacionar os terceiros molares mesioangulares, Classe B-II, às fraturas de ângulo mandibular. Independentemente do grau de impactação, é forte a associação da presença do ter ceiro molar com o aumento da freqüência de fraturas de ângulo mandibular. Não há como comparar a complexidade e os riscos da extração de um terceiro molar com o tratamento de uma fratura de ângulo mandibular (Fig. 1.9). A ocorrência de uma fratura favorável oudesfavorável ao tratamento exigirá a redução cirúrgica e/ou o blo queio maxilomandibular, com todos os seus riscos e inconvenientes, como: possibilidade de parestesias relacionadas ao nervo alveolar inferior, dificuldade de alimentação e higienização com socialização prejudi cada, acessos cirúrgicos intra e/ou extrabucais, uso de miniplacas e miniparafusos para fixação. Convém lembrar que estes procedimentos requerem, na maioria das vezes, hospitalização e anestesia geral (Fig. 1.10). Dessa maneira, concluímos que a extração de um terceiro molar assintomático contribui, e muito, para a prevenção de uma fratura mandibular. Cistos e Tumores A possibilidade de transformação cística e tumo- ral ao redor de um terceiro molar é bem relatada na literatura (Figs. 1.11A-F e 1.12A,B). Dentre os vários trabalhos relacionando a presença do terceiro molar e o surgimento de cistos e tumores, há consenso de que a freqüência é muito baixa. Terceiro Molar Assintomático: Porque Remover? Fig. 1.7 Fig. 1.8 Fig. 1.9 Fig. 1.10 Fig. 1.5 - Dente 48 impactado. A presença do terceiro molar no ângulo mandibular reduz sua resistência, tornando-o mais suscetível a fraturas. Fig. 1.6 - Relação entre o grau de impactação do terceiro molar e a presença de fraturas de ângulo mandibular: impactações C-lll, por ocu parem maior volume ósseo nesta região, estariam mais relacionadas às fraturas de ângulo mandibular. Fig. 1.7 - Relação entre o grau de impactação do terceiro molar e a presença de fraturas de ângulo mandibular: a resistência da mandíbula nesta região estaria relacionada à integridade da cortical superior. Dessa maneira, terceiros molares total ou parcialmente irrompidos esta riam mais relacionados às fraturas de ângulo mandibular. Fig.1.8- Terceiro molarmesioangular Classe B-II de Pelle Gregory relacionado à fratura de ângulo mandibular. Notarque o dente já rompeu a cortical mandibular superior. Fig. 1.9 - Fratura de ângulo mandibular relacionada a um germe de terceiro molar. Após a redução cruenta, a fratura de ângulo mandibular foi fixada com duas miniplacas 2.0 mm. Fig. 1.10 - Transoperatório de redução cruenta de fratura de ângulo mandibular, sob anestesia geral. A fixação da fratura foi obtida através da instalação de uma miniplaca de 2.0 mm na borda superior da mandíbula. Note a complexidade do procedimento (amploacesso para expor a fratura), quando comparada com a extração de um terceiro molar. •8 Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo Fig. 1.11A Fig. 1.11B Fig. 1.11C Fig. 1.11D Fig. 1.11E Fig. 1.11F Fig. 1.12A Fig. 1.12B Figs. 1.11A-F - Cistos relacionados aos terceiros molares inferiores. Figs. 1.12A.B - (A) Posição ectópica do dente 28 deslocado pelo cisto. (B) Tomografia computadorizada mostrando grande cisto deslocando o dente 28. Realizar este tipo de cirurgia é tecnicamente difícil e mais complexa quando comparado a uma exodontia comum. IíG Guven et ai. (2000) analisaram retrospectiva mente 9.994 terceiros molares impactados, apresen tando 231 cistos (2,31%) e 79 tumores (0,79%), sendo dois deles malignos (0,02%). E mportante salientar que destes 310 pacientes, 131não possuíam sintomas relacionados à doença. Al-Khateeb & Bataineh (2006) estudaram 2432 terceiros molares inferiores em jordanianos, com relação a várias alterações, entre elas a radiolucidez pericoronária. Todas elas foram histologicamente estudadas e classificadas como cistos ou tumores em 1,2%e 0,5% da totalidade dos casos, respectivamente. O cisto mais comum foi o dentígero e o tumor mais presente foi o ameloblastoma. Foram detectados 2 casos de carcinoma de células escamosas. Trabalhos diferentes dos anteriores procuraram avaliar o potencial de tranformação cística ao redor dos terceiros molares inferiores impactados. Baykul et ai. (2005) avaliaram histologicamente folículos pericoronários em pacientes que possuíam aspecto radiográfico de normalidade (capuz pericoronário menor que 2,5 mm). Das 94 peças cirúrgicas obtidas, 47 (50%) possuíam alterações císticas em análise histo- lie,Terceiro Molar Assintomático: Por queRemover? lógica. A maioria destes se encontrava em indivíduos com faixa etária entre 20-25 anos. Estudo semelhante conduzido por Saravana & Subhashraj (2007) avaliou 100 pacientes com terceiros molares assintomáticos e com radiolucidez pericoronal menor que 2,5 mm. Al terações císticas foram observadas em 46% dos casos, com incidência maior no grupo etário de 20-24 anos. Podemos concluir desses trabalhos que se a opção para estes casos fosse a manutenção destes dentes, os pacientes necessitariam de cirurgia muito mais complexa (marsupialização com posterior exodontia ou enucleação cística com exodontia concomitante) em idade mais avançada, com maior grau de morbi- dade e complicações pós-operatórias. Não é possível negar a baixa freqüência destas doenças, quando comparadas com doenças mais bran das, como a cárie e a doença periodontal. Como tam bém é impossível comparar o tratamento de um ame loblastoma com o de uma cárie distai em um segundo molar causada pela presença do terceiro molar. Realizar uma boa marsupialização cística na re gião de um terceiro molar é tecnicamente difícil (Figs. 1.13A,B), bem como a manutenção da higiene da loja Fig. 1.13A Fig. 1.13B Figs. 1.13A.B - (A) Marsupialização do cisto apresentado na figura 1.11C. Acesso intrabucal ao ramo mandibular para expor a lesão. (B) Note a grande ostectomia realizada para a exposição da cápsula cística. Este será o tamanho da comunicação da loja cirúrgica com a cavi dade bucal. '8 Cirurgia do Terceiro MolarImpactado - Passoa Passo cirúrgica por parte do paciente. Se empregada, neces sitará longos períodos de acompanhamento, extração do terceiro molar incluso, bem como possível segun do tempo cirúrgico para o fechamento da cavidade (Figs. 1.14A,B). Se a opção for pela enucleação, haverá mais possibilidade de complicações trans (fraturas patológicas, danos ao nervo alveolar inferior etc.) e pós-operatórias (Figs. 1.15A,B). Com relação aos tumores benignos, as grandes ressecções geralmente são empregadas, causando enormes defeitos na continuidade mandibular, mui tas vezes difíceis de reconstruir. Qual profissional gostaria de indicar o acompanhamento de um tercei ro molar incluso e, após alguns anos, através de um achado radiográfico, diagnosticar um tumor benigno Fig. 1.14A Fig. 1.15A ou maligno relacionado a ele? Se considerarmos o grau de complexidade destas doenças e todas suas conseqüências para o paciente, mesmo possuindo baixa freqüência, optamos pela extração do terceiro molar assintomático (Figs. 1.16A-F). Consideramos prudente não esperar que estas doenças se desenvol vam (Figs. 1.17A,B). Apinhamento Dental E comum o profissional se deparar com pacien tes que culpam a erupção dos terceiros molares pelos seus apinhamentos dentais, principalmente da bateria anteroinferior. Sabe-se que a causa do Fig. 1.14B Fig. 1.15B Figs. 1.14A.B - (A) Presença do dente 38 incluso associado a um tumor odontogênico ceratocistico. (B) Observar a quantidade de remoção óssea necessária para a marsupialização e remoção do dente. Esta cirurgia apresenta mais morbidade quando comparada apenas com a exodontia do terceiro molar incluso. Figs. 1.15A.B - (A) Paciente com grande cisto mandibular recidivado, com histórico de extração de terceiro molar seguida de enucleação cística. (B) Três anos antes, o paciente apresentava um cisto relacionado ao dente 48. A dificuldade de enucleação nesta região foi a provável causa da manutenção e do crescimento posterior da lesão. Terceiro MolarAssintomático: Por queRemover? Fig. 1.16E Fig. 1.16F Figs. 1.16A-F - Este caso mostra uma possível conseqüência da não remoção de um terceiro molar impactado. (A) Amelobiastoma rela cionado ao dente 38 impactado. (B) Acesso submandibular para a mandibulectomia segmentar, necessária para a ressecção do tumor. (C) Peça cirúrgica ressecada. (D) Observe o defeito ósseo criado após a mandibulectomia. Placa de reconstrução instalada. (E) Enxertoósseo de crista ilíaca para reconstruir o defeito. (F) Resultado pós-operatório imediato obtido. apinhamento dental é multifatorial, contudo, a con tribuição dada pela presença de um terceiro molar ainda é incerta. O White paper on third molar data, após uma revisão criteriosa da literatura presente a respeito deste tema, chegou às conclusões descritas a seguir: • Existem estudos que suportam e refutam o papel do terceiro molar no desenvolvimento do apinhamento dental. Os estudos que su portam esta teoria sugerem que, embora o ter ceiro molar influencie o apinhamento dental, este papel não tem significância clínica. Édifícil estabelecer, com osestudos presentes até o momento, uma causa e efeito relacio nando a presença dos terceiros molares e o apinhamento dental. Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo K X ^*" ^~ jC Fig. 1.17A Fig. 1.17B Figs. 1.17A,B - Paciente com 60 anos de idade apresentando os dentes 38 e 48 inclusos. Observar que o dente 48 encontra-se sem doença, já o dente 38 apresenta um amelobiastoma. Como não podemos prever o surgimento destas doenças, é preferível realizar a exodontia na juventude a ressecar um amelobiastoma na terceira idade. Fig. 1.18- Não há como negar que o mau posicionamento do dente 47 possa estar relacionado com a presença do dente 48. A correção ortodontica do caso só será possível após a extração do terceiro molar incluso. Não acreditamos que a presença de um terceiro molar inferior possa ser responsável pelo apinhamento dos incisivos inferiores. Entretanto, a presença destes dentes pode causar mau posicionamento do segundo molar (Fig. 1.18) e impedir a distalização ortodontica destes dentes. Nestes casos, a extração destes dentes, mesmo quando assintomáticos, está indicada. 10 Referências 1. Ahmad N, Gelesko S, Shugars D et ai. Caries experience and periodontal pathology in erupting third molars. J Oral Maxillofac Surg 2008;66(5):948-53. 2. Al-KhateebTH, Bataineh AB.Pathology Associated With Impacted Mandibular Third Molars in a Group of Jorda- nians. J Oral Maxillofac Surg 64:1598-1602, 2006. 3. Baykul T, Saglam AA, Aydin U et ai. Incidence of cystic changes in radiographically normal impacted lower third molar folheies. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2005;99:542-5. 4. Brakley GH, Gelesko S, Marciani RD et ai. 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Os exames complementa- res, por mais modernos e valiosos que sejam, não substituem o exame clínico. Realizar a cirurgia sem conhecer o paciente (e sua radiografia panorâmica) é para nós inadmissível. A avaliação completa do paciente, independentemente da idade que possua, é um grande aliado na prevenção de urgências, bem como das complicações trans e pós-operatórias. Debateremos neste capítulo quais critérios devem ser utilizados para se solicitar exames complemen- tares: • Quando devo solicitar exames de sangue? • Qual o melhor exame de imagem a ser pe dido? • Em quais casos devo lançar mão de uma tomografia computadorizada? Esperamos que ao final deste capítulo o leitor possa criar bases para responder esta e outras per guntas. Exames Laboratoriais O cirurgião deve ter em mente três variáveis a serem avaliadas antes de solicitar exames laborato riais: a cirurgia a ser executada, a classificação ASA a que pertence o paciente e sua idade. A análise destes três elementos orienta na tomada de decisão para qual paciente é necessário solicitar determinado tipo de exame. Capítulo 2 Exames Pré-operatórios a. b. Tipo de Cirurgia: podemos classificar a cirur gia de um terceiro molar incluso como Catego ria I, que representa um procedimento cirúrgi co pouco invasivo, com pouca perda sangüínea e risco mínimo para o paciente, independente da técnica anestésica a ser empregada (local ou geral). Intervenções nesta categoria são geralmente realizadas de maneira segura em caráter ambulatorial. Ao considerarmos esta variável isoladamente, o paciente submetido à extração de um terceiro molar incluso não necessitaria exame laboratorial. Classificação ASA: outro fator a ser consi derado, e que pode variar em nosso caso, é a classificação ASA a que pertence o paciente. A maioria dos que nos procuram é ASA I, por serem jovens e, de maneira geral, hígidos. Esta regularidade do tipo de paciente é que faz alguns cirurgiões não conduzirem uma boa anamnese, deixando de solicitar exames importantes na condução do seu plano cirúr gico. E recomendável solicitar exames labo ratoriais para pacientes ASA II ou superior, de acordo com sua doença preexistente. O quadro 2.1 mostra as indicações dos exames que solicitamos com mais freqüência em nos sa prática diária, de acordo com o problema apresentado pelo paciente. Gostaríamos de ressaltar que qualquer alteração nestes valores, sendo o paciente ciente ou não de sua doença, indica seu encaminhamento ao médico assis tente. O tratamento e a liberação para o procedimento cirúrgico dependem da avaliação médica. c. Idade: o terceiro fator a se avaliar é a idade do paciente que será operado. Para procedimen tos sob anestesia geral, pacientes com mais de50 anos de idade e saudáveis necessitam reali zar eletrocardiograma, radiografia de tórax e hemograma completo. Não solicitamos estes exames, mas acreditamos ser prudente que 3õ) Cirurgia do Terceiro MolarImpactado - Passoa Passo uma avaliação médica recente tenha sido feita antes de submeter estes pacientes à cirurgia sob anestesia local, uma vez que, pelo fator idade, são mais propensos a complicações transoperatórias (Fig. 2.1). Quadro 2.1 - Exames laboratoriais freqüentemente utilizados, de acordo com a doença preexistente. Exame Indicação Leucograma Infecção recente HIV Quimioterapia/radiação Uso crônico de corticoides Hematócrito Anemias Hemoglobina Contagem de hemácias Contagem de plaquetas Histórico de sangramento Doenças hepáticas Glicemia Diabetes Tempo de sangramento Desordens sangüíneas Tempo de protrombina Coagulopatias Tempo de tromboplas- Alcoolismo tina ativada Terapia com anticoagulante Doenças hepáticas Histórico de AVC Exames de Imagem A radiografia panorâmica é, sem dúvidas, o exame radiográfico mais utilizado na avaliação dos terceiros molares, sendo nossa primeira escolha para a avaliação do caso. Entretanto, solicitamos radiogra fias periapicais da região de terceiro molar, de forma complementar, quando estes dentes já apresentarem rizogênese completa. A tomada periapical apresenta menos distorção e melhor detalhamento no estudo da anatomia radicular (número, formato, dilacerações e divergências) (Figs 2.2A,B). A panorâmica, por sua vez, permite a avaliação completa de todos os dentes da arcada e estruturas adjacentes em um único exame, sendo mais rápida e com menor dose de radiação para o paciente, quando comparada com um levantamento periapical comple to (Fig. 2.3). A radiografia panorâmica apresenta as seguintes utilidades no diagnóstico e planejamento da cirurgia de terceiro molar: • identificar a presença dos terceiros molares; • localizar posições ectópicas; • demonstrar a posição do terceiro molar (an gulação e posicionamento vertical); • indicar doenças relacionadas ao terceiro ou segundo molar (cárie, doença periodontal, cistos etc); • relacionar o canal mandibular ao terceiro molar inferior; Exodontia de terceiro molar Paciente ASA I Idade inferior a Idade superior ou 50 anos igual a 50 anos Paciente ASA II Solicitar exame de acordo com a doença preexistente Encaminhar para avaliação médica Exames norma,s Exames alterados Agendar cirurgia Encaminhar para avaliação médica Fig. 2.1 - Fluxograma de conduta frente aos diversos tipos de pacientessubmetidos à cirurgia de terceiros molares, em relação à idade e classificação ASA. ^!W ,4 • relacionar o seio maxilar ao terceiro molar superior. Uma limitaçãoda radiografia panorâmica, sendo ela digital ou convencional, é a impossibilidade de mostrar a relação tridimensional dos ápices dos tercei ros molares com o canal mandibular. Esta avaliação é importante naprevenção ediminuição daincidência de alterações neurológicas relacionadas aonervoaveloar inferior (NAI). O trabalho clássicode Rood & Shehab (1990) listouas características em tomada panorâmica que indicavam maior riscode dano ao NAI: • Escurecimento da raiz do terceiro molar: indica contato íntimo da raiz com o canal mandibular, o que resulta em sua menor densidade radiográfica (Fig. 2.4A). • Interrupçãoda cortical do canalmandibular: a linha radiopaca fica descontínua devido à inserção da raiz no canal (Fig. 2.4B). Fig. 2.2A Exames Pré-operatórios • Divergência do canal mandibular: ocorre mudança na sua direção quando em contato com a raiz (Fig. 2.4C). • Desvio ou estreitamento da raiz do terceiro molar: observa-se dilaceração abrupta da raiz ou diminuição do seu diâmetro, quando em contato com o canal mandibular (Fig. 2.4D). • Estreitamento do canal mandibular (Fig. 2.4E). Valelembrar que a radiografia panorâmica apre senta, para este fim, pobre sensibilidade (capacidade de identificar uma relação íntima com o NAI) e boa especificidade (capacidade de excluir uma relação íntima com o NAI). Isto significa que a radiografia panorâmica é melhor para excluir a relação da raiz com o canal mandibular quando da ausência dos sinais radiográficos, do que confirmar uma relação real quando os sinais radiográficos estão presentes. Fig. 2.2B Fig. 2.3 Figs. 2.2A.B - Diferença de detalhes entre radiografias panorâmica e periapical para a avaliação de terceiros molares. (A) Atomada pa norâmica não mostra com nitidez a morfologia radicular. (B) Radiografia periapical mostra com mais detalhes o terço apical da raiz (seta amarela). Fig. 2.3-A radiografia panorâmica deve ser o primeiro exame radiográfico a ser solicitado na avaliação dos terceiros molares. r-U Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Possoa Passo Fig. 2.4A Fig. 2.4B Fig. 2.4C Fig. 2.4D Fig. 2.4E Figs. 2.4A-E - Desenho esquemático e tomada panorâmica dos cinco indicativos de risco de dano ao NAI. (A) Escurecimento da raiz do terceiro molar; (B) Interrupção da corticaldo canal mandibular; (C) Divergência do canal mandibular; (D) Mudança na morfologia da raiz do terceiro molar; (E) Estreitamento do canal mandibular. Sedaghatfar et ai. (2005) procuraram estabelecer a especificidade e sensibilidade da radiografia pa norâmica em relação aos cinco indicativos de risco aumentado de dano ao NAI. Foram avaliados 230 pacientes, identificando sinais radiográficos de risco ao NAI, relacionando-as à exposição intraoperatória do nervo. Os autores encontraram sensibilidade variando de 42-75% e especificidade de 66-91%. De todos os sinais radiográficos estudados, o escureci mento da raiz obteve maior relação com a exposição intraoperatória do NAI. Uma importante revisão sistemática e meta-aná- lise sobre este assunto foi publicada por Atieh (2010). Este autor revisou 940 estudos e selecionou apenas 5 deles, considerando sua relevância. Uma amostra de 1179pacientes foi obtida, testando-se a sensibilidade e especificidade da radiografia panorâmica em detectar a exposição intraoperatória do NAI, na presença de três sinais radiográficos, os quais o autor considerou como principais. Transcrevemos a seguir os resulta dos, de acordo com o sinal radiográfico analisado: Escurecimento da Raiz Descontinuidade do Canal Mandibular Divergência do Canal Mandibular lí\l 16 Sensibilidade: 51,2% Especificidade: 89% Sensibilidade: 53,5% Especificidade: 80% Sensibilidade: 29,4% Especificidade: 94,7% O autor conclui que a tomografia computado rizada (TC) deve ser solicitada quando mais de um sinal radiográfico estiver presente, já que a sensibi lidade do exame estaria alta, aumentando a chance de haver uma relação real entre os ápices e o canal mandibular. Ao observarmos na radiografia panorâmica mais de um dos cinco indicativos de maior risco de envol vimento da raiz do terceiro molar com o NAI, pode mos lançar mão da TC. A TC ConeBeam está cada vez mais acessível,demonstrando com grande precisão a posição tridimensional da raiz do terceiro molar com o canal mandibular. Dessa maneira, discordamos de muitos profissionais que solicitama TCde rotina para seus pacientes para a avaliação e o planejamento em cirurgias de terceiros molares. A TC apresenta dose de radiação e custo superior quando comparada com a radiografia panorâmica. Tantanapornkul et ai. (2007) conduziram um es tudo objetivando comparar a radiografia panorâmica e a TC Cone Beam em relação às suas capacidades de indicar a posição real do terceiro molar em relação ao canal mandibular. Foram avaliados 120 pacientes, num total de 142 terceiros molares com indicativos de relação com o NAI. Estes dentes foram removidos e o alvéolo foi inspecionado para a visualização da ex posição do NAI. Após a análise estatística, os autores obtiveram os seguintes resultados: • Escurecimento da raiz, perda da continuidade e divergência do canal mandibular e estreita- mento radicular foram sinais na radiografia panorâmica estatisticamente correlacionados com exposição do NAI. • A radiografia panorâmica apresentou sensi bilidade de 70% especificidadede 63%. • A TC Cone Beam obteve sensibilidade de 93% e especificidade de 77%. ATC Cone Beam mostrou-se superior à radiografia panorâmica (diferença estatisticamente significante) na predição de exposição do NAI. Os autores con cluem que a TC Cone Beam tem sua importância na avaliação dos terceiros molares impactados. Susarla et ai. (2010) procuraram avaliar a relação da integridade do canal mandibular e tamanho do defeito cortical vistos na TC com a exposição tran- soperatória do NAI. Após analisar 80 pacientes, com um total de 52 terceiros molares com perda da conti nuidade do canal mandibular, os autores concluíram que o os defeitos corticais, principalmente aqueles Fig. 2.5A Fig. 2.5C1 Exames Pré-operatórios superiores ou iguais a 3 mm estão estatisticamente associados à maior exposição do NAI e subsequente risco de parestesia. Dessa forma, o cirurgião tem bases suficientes para saber quando e qual exame pedir, para que possa mudar seu planejamento cirúrgico. Em nossa rotina, quando recebemos uma radiografia panorâ mica com mais de um indicativo dos já citados, solici tamos sempre uma TC, de preferência do Cone Beam. Uma vez avaliada esta tomografia, observamos se a relação de contato íntimo com o NAI é real. Havendo perda da continuidade do canal mandibular, inde pendentemente do tamanho do defeito, oferecemos ao paciente a coronectomia ou o acompanhamento clínico-radiográfico (Figs. 2.5A-C). Optando o pa ciente pela remoção convencional, o mesmo assume o risco da possibilidade de distúrbio neurossensorial. A figura 2.6 resume o nosso protocolo para solicita ção de exames de imagem em cirurgias de terceiros molares. Fig. 2.5B1 Fig. 2.5B2 Fig. 2.5C2 Figs. 2.5A-C -Avaliação dos exames de imagem tendo em vista o risco de dano ao NAI. (A) radiografia panorâmica evidenciando dois indicativos de contato do terceiro molar com o NAI nos dentes 38 e 48: interrupção da cortical do canal mandibular e fim abrupto da raiz. (B1 e B2) Corte tomográfico confirmando o íntimo contato entre as raízes e o canal mandibular. (C1 e C2) Controle do caso após 1 ano da realização da coronectomia. Observar a migração radicular dos dentes 38 e 48, diminuindo o contato com o NAI. 33 Cirurgia do Terceiro MolarImpactado - Passoa Passo Exames de imagem para terceiros molares Radiografia panorâmica Avaliar indicativos de contato com NAI (rever Figs. 2.4A-E) Presença de mais de um indicativo de contato com NAI Nenhum ou apenas um indicativo de contato com NAI TC ConeBeam indicada Terceiro molar com rizogênese incompleta Nenhum outro exame indicado Terceiro molar com rizogênese completa Radiografia periapical indicada Fig. 2.6 - Fluxograma resumindo de maneira lógica a escolha frente os diferentes exames de imagem disponíveis para a avaliação de ter ceiros molares. Referências 2. 3. 4. 18 American Society of Anesthesiologists Task Force on Pre- anesthesia Evaluation. Practice advisory for preanesthesia evaluation. Anesthesiology 2002;96(2):485-96. Atieh MA. 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Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:253-9. 16 17 18 3 Capítulo 3 Medicação Pré-operatória Toda vez que o profissional prescreve um medi camento no pré-operatório é com o objetivo de evitar situações passíveis de ocorrerem no pós-operatório, como diminuir a incidência de infecção, ou ainda dimi nuir a magnitude de eventos que são esperados, como edema, dor e trismo. O cirurgião poderá optar, dessa maneira, por duas categorias principais de fármacos: os antibióticos e os corticóides. Também de maneira pré-operatória podemos utilizar medicamentos para controle da ansiedade. A cirurgia de terceiro molar talvez seja, dentre todos os procedimentos realizados pelo cirurgião-dentista, o que desperta mais medo e ansiedade. Está no imagi nário popular o mito que a extração do terceiro molar é sempre difícil, demorada, resultando em muita dor e edema pós-operatórios. Quando nos deparamos com um paciente com este perfil na avaliação pré- -operatória, podemos utilizar medicamentos para o controle da ansiedade. Debateremos neste capítulo estas três categorias de medicamentos, com sua indicação de uso e proto colo por nós preconizado. Análise dos trabalhos mais relevantes em relação aos antibióticos e corticóides será feita, na tentativa de elucidar este tema, ainda muito controverso. Antibioticoterapia ProfiláticaA discussão da necessidade ou não da antibio ticoterapia profilática será feita aqui para os pa cientes saudáveis. As indicações precisas para seu uso como, por exemplo, em pacientes suscetíveis à endocardite bacteriana, não serão aqui abordadas. Os procedimentos cirúrgicos bucais, por estarem em contato com o trato alimentar, são classificados como potencialmente contaminados, sendo esperada uma taxa de infecção em torno de 10%. Segundo Wood & Dellinger (1998), os procedimentos cirúrgicos em locais potencialmente contaminados, contaminados ou infectados necessitam de antibioticoterapia pro filática. Este fato seria, por si só, um motivo para seu uso na cirurgia dos terceiros molares inclusos. Os profissionais que são contra o uso do anti biótico profilático baseiam-se em três argumentos principais: • as baixas taxas de infecção pós-operatória em cirurgias de terceiros molares; • o aumento da resistência bacteriana; • aparecimento de reações adversas. Aqueles que argumentam que a infecção pós- -operatória em cirurgias de terceiros molares não é um evento comum de acontecer estão corretos neste ponto, o que também é constatado em nossa rotina. Halpern & Dodson (2007) citam que a taxa de infec ção pós-operatória em cirurgias de terceiros molares varia de 1,2 - 27%, sendo que a maioria dos estudos mostra uma taxa inferior a 5%, não associada a com plicações mais sérias, como a celulite facial. A possibilidade do aumento da resistência bacte riana é pouco respaldada cientificamente. Desconhe cemos, até o presente momento, algum estudo que faça relação do uso de antibioticoterapia profilática em cirurgias bucais com o surgimento de resistência bacteriana. De acordo com Peterson et ai. (2003) a pro- filaxia antibiótica diminui o uso total de antibióticos, e seu uso correto altera pouco a flora do paciente, não estimulando a resistência bacteriana. O surgimento de reações adversas é inerente ao uso do antibiótico, sendo ele administrado de forma profilática ou não. Catalogar o índice de reação adver sa de um antibiótico é tarefa difícil, havendo poucos estudos na literatura a esse respeito. Solensky (2003) numa revisão sobre a epidemiologia das reações alérgicas aos antibióticos beta-lactâmicos, cita que estes eventos são reportados por 10% dos pacientes. Entretanto, quando estes são submetidos a testes alérgicos, cerca de 90%não possuem anticorpos IgE para penicilina, isto é, não eram verdadeiramente alérgicos, tolerando muito bem a administração deste antibiótico. • 21 • Cirurgia do Terceiro MolarImpactado - Passoa Passo A respeito deste tema Ozgun et ai. (2010) rela tam que o uso incorreto da profilaxia antibiótica, na utilização de antibióticos de amplo espectro e por períodos prolongados, contribuem na seleção de mi croorganismos resistentes e aumentam os custos do tratamento. A aplicação em momento inoportuno, por sua vez, reduz a eficácia da terapia. Segundo os auto res, a profilaxia cirúrgica tem seu maior benefício na diminuição dos índices de infecção pós-operatória, no período de hospitalização e no uso do antibiótico para fins terapêuticos (quando a infecção se estabelece). Sabemos que o tema é extremamente controver so. Existem diversos estudos, bem delineados, que apoiam e outros que refutam o uso da antibioticote rapia profilática, sendo as revisões sistemáticas e as meta-análises as melhores evidências científicas. O cirurgião tem hoje respaldo científico para utilizá-la ou não nas cirurgias de terceiros molares inclusos, ficando a escolha a critério próprio. Hojeutilizamos a profilaxia antibiótica na exodon tia de terceiros molares inferiores inclusos baseada na única meta-análise de ensaios clínicos randomizados a respeito deste assunto, publicada por Ren &Malms- tron (2007). Os autores realizaram pesquisa em base de dados, sendo selecionados inicialmente os ensaios clínicos envolvendo antibioticoterapia profilática e exodontia de terceiros molares inferiores. Após análise inicial foram excluídos os estudos não randomizados, sem grupo controle ou que não apresentavam os resultados em relação à infecção e alveolite seca. Os principais resultados encontrados listamos a seguir: • Em relação à alveolite seca, 2.932 pacientes foram randomizados em 16 ensaios clínicos. A taxa de alveolite seca encontrada no grupo que recebeu antibiótico prévio foi de 6,2% e de 14,4% no grupo controle, diferença esta estatisticamente significante. • Quando o parâmetro avaliado foi infecção pós-operatória, 2.936 pacientes foram ran domizados em 12 ensaios clínicos. Infecção pós-operatória ocorreu em 4% dos pacientes que receberam profilaxia antibiótica, contra 6,1%do grupo controle, sendo esta diferença significante. Os autores avaliaram ainda qual a melhor droga a ser utilizada, bem como seu esquema de admi nistração. As principais conclusões obtidas por este estudo foram: • O uso de antibiótico é efetivo para reduzir a freqüência de alveolite seca e infecção pós- -operatória em cirurgias de terceiros molares inferiores; • As penicilinas e o metronidazol foram efe tivos para reduzir as taxas de alveolite seca, X sendo que o último não se mostrou eficaz em reduzir a infecção pós-operatória; • O antibiótico só é efetivo quando dado no pré-operatório, sendo ineficaz quando admi nistrado após a cirurgia; • Uma dose única de antibiótico administrado 1 hora antes da cirurgia parece ser a estratégia com melhor custo benefício. Este estudo, embora seja a melhor evidência dis ponível, deve servir como um bom argumento para o uso do antibiótico prévio à cirurgia, mas não como a regra absoluta. Mais estudos são necessários sobre este assunto para que se chegue a uma conclusão definitiva. O uso ou não da profilaxia antibiótica, como colocado anteriormente, é da escolha do cirurgião. Contudo, ao decidir pelo seu uso, deve fazê-lo da maneira correta. Muitos colegas utilizam o antibió tico de maneira equivocada, quando o objetivo é a diminuição do risco de infecção pós-operatória. Julgamos importante reforçar a maneira correta de administração da antibioticoterapia profilática, para que se possa tirar o melhor proveito dela. A profilaxia cirúrgica compreende a utilização do antibiótico por um curto período de tempo, contra determinados patógenos antes de entrar em contato com a ferida cirúrgica. Para que se possa tirar maior proveito, o antibiótico de espectro adequado deve estar em concentração suficiente no sítio cirúrgico enquanto a incisão estiver aberta e susceptível à contaminação bacteriana. Dessa maneira, a correta profilaxia fica dependente de três fatores básicos: escolha correta do tipo e concentração do antibiótico e o tempo correto para sua administração. Os agentes causadores das infecções odontogêni- cas são bem conhecidos, devendo o antibiótico a ser escolhido ser eficaz na eliminação desses microor ganismos (bactericida) e de espectro reduzido, para que altere pouco a microbiota indígena do paciente. Assim, a escolha principal recai sobre a penicilina, podendo ser substituída nos alérgicos pelos macro- lídeos (Azitromicina) ou pelas lincosaminas (Clin- damicina). Após selecionado o antibiótico correto, deve-se administrá-lo em uma concentração alta, para que esteja em doses corretas no sítio cirúrgico. Há con senso que a droga a ser administrada de maneira profilática deva ser utilizada em uma concentração no mínimo duas vezes a dose terapêutica usual. Para as penicilinas, onde são usualmente utilizadas doses terapêuticas de 500 mg, está indicado o uso de 1 g. Para os alérgicos, pode-se optar pela Clindamicina 600 mg ou Azitromicina 500 mg. O último fator a ser considerado é o momento oportuno para o emprego do antibiótico. De acordo com Peterson et ai. (2003), o correto para a profila- xia cirúrgica seria administrar o antibiótico antes da cirurgia, no máximo 2 horas antes da incisão. Vimos anteriormente, na revisão sistemática de Ren & Malmstron (2007), que o antibiótico aplicado após a cirurgia não apresenta nenhum benefício. Usual mente, recomenda-se administraro fármaco 1 hora antes da cirurgia, podendo manter seu uso por no máximo 24 horas após a cirurgia. De acordo com o exposto, adotamos como regime profilático o seguinte esquema: Primeira escolha: amoxicilina em dose única de 1 g, uma hora antes da cirurgia. Alérgicos à penicilina: clindamicina em dose única de 600 mg ou azitromicina em dose única de 500 mg, uma hora antes do procedimento. De maneira alguma, o uso da profilaxia cirúrgica pode resultar em negligência das manobras de assep sia, como a esterilização correta do material, desinfec- ção dos utensílios não esterilizáveis e antissepsia do campo operatório. A manutenção da cadeia asséptica é a forma sacramentada de diminuir a possibilidade de surgimento de infecção pós-operatória. Corticoide Toda cirurgia, seja ela simples ou complexa, resulta em traumatismo tecidual. Este traumatismo, iniciado com a incisão e terminado com a sutura final, desencadeia no paciente a liberação de mediadores da inflamação como a prostaglandina, histamina, bradicinina, serotonina, entre outros. Os eventos decorrentes da inflamação resultam em edema, dor e perda de função por parte do paciente. Se por um lado a inflamação é responsável pelo reparo tecidual, seu excesso causa dor e desconforto adicional ao paciente. Os corticóides são drogas que reduzem a resposta inflamatória pela diminuição da permeabilidade ca pilar e síntese de prostaglandinas. Como resultado, há a diminuição, teoricamente, da magnitude da dor, edema e trismo pós-operatórios. O seu uso como medicação pré-operatória em cirurgias de terceiros molares também é controverso na literatura. Não há consenso sobre a sua validade, qual a melhor forma de administração, bem como reações adversas, como o atraso do reparo tecidual. Há sim boas evidências apontando para seu uso, com bons resultados e de maneira segura. Markiewicz et ai. (2008) realizaram uma revisão sistemática da literatura, bem como uma meta- -análise para observar o efeito do uso do corticoide nas cirurgias de terceiros molares, em relação ao edema, dor e trismo. De 599 artigos analisados sobre MedicaçãoPré operatória o tema, apenas 12 foram considerados relevantes e com bom delineamento. Listamos a seguir os prin cipais resultados. • Edema: indivíduos que receberam corticoide prévio à cirurgia apresentaram redução sig nificativa do edema, 1-3 dias após a cirurgia, bem como do 4Q ao 7° dias pós-operatórios, quando comparados com o grupo controle. • Trismo: os pacientes que fizeram uso do cor ticoide apresentaram maior grau de abertura bucal (estatisticamente significativo) quando comparados com o grupo controle, nos dois períodos de tempo. • Dor: durante o período de avaliação inicial, aqueles pacientes que receberam corticoide apresentaram redução significativa da dor, quando comparados com o grupo controle. Quando avaliados do 4aao 7° dia pós-opera tório, não houve diferença estatisticamente significativa. Os autores concluem que o uso de corticóides no pré-operatório produz uma redução moderada dos sintomas da inflamação até o 7° dia pós-operatório. Pelos poucos estudos presentes avaliando a dor, os mesmos consideram fracos os resultados desta meta- -análise em relação a este fator. Mais recentemente, Dan et ai. (2010) realizaram um estudo semelhante ao anterior, avaliando o efei to do corticoide no edema e analgesia, bem como o risco de desenvolvimento de efeitos colaterais, em cirurgias bucais. Após a exclusão dos trabalhos com pouco valor científico e o cruzamento dos relevan tes, os autores concluíram que o uso do corticoide prévio à cirurgia bucal diminui a dor e o edema de maneira significativa, sem aumento da infecção pós- -operatória e com efeitos adversos mínimos. Um grande problema encontrado pelos estudos citados foi a padronização do tipo de corticoide utilizado, sua dose, momento e via de aplicação. Sem sombra de dúvidas, a administração por via oral é a mais prática e mais utilizada no consultório odontológico. Optamos pelo uso da dexametasona, por apresentar duração mais longa e maior potência quando comparado com a prednisona. Baseamos nosso protocolo de uso dos corticóides pelo estudo de revisão conduzido por Alexander & Throndson (2000) a cerca deste tema. Os pontos de maior inte resse clínico são descritos a seguir. • O uso dos corticóides está contraindicado em pacientes com tuberculose, infecções fúngicas ou virais ativas, glaucoma primário e pacien tes com tendências psicóticas. Apesar de estas contraindicações serem para o uso prolonga do do fármaco, deve ser também utilizado com prudência em períodos curtos. r 23 \í\VI Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo • A literatura mostra que quando o corticoide é utilizado por 3-5 dias não resulta em risco ao paciente. Os efeitos sistêmicos são pouco perceptíveis, não excedendo às variações normais do organismo. O uso de uma dose de até 12 mg de dexametasona não resulta em efeitos colaterais. • Todos corticóides devem ser administrados antes da cirurgia, e não durante ou depois dela. As formas orais devem ser administra das de 2-4 horas antes da cirurgia. Apesar deste estudo apresentar um guia para o uso do corticoide, não se coloca como protocolo definiti vo, necessitando de mais estudos a respeito do tema. Apresentamos aqui o protocolo por nós utilizado. Dose profilática de 12mg de dexametasona, 2-4 horas antes da cirurgia. Reservamos o uso deste fármaco aos terceiros molares inferiores impactados abaixo do plano oclusal do segundo molar, onde maior traumatismo tecidual é esperado. Lembramos que, apesar de o corticoide ser um bom coadjuvante, a melhor forma de diminuir a dor, o edema e trismo pós-operatórios é utilizar boa técnica cirúrgica, com traumatismo tecidual mínimo. Ansiolíticos A ansiedade frente ao tratamento odontológico é sentida por grande parte dos pacientes, variando de um nervosismo "normal" até casos graves de fobias. O controle do medo e da ansiedade deve ser preocupa çãobásica do cirurgião-dentista (CD),principalmente para aqueles que trabalham com cirurgia. Controlar a ansiedade do paciente também traz benefícios ao profissional, que passa a realizar o procedimento de maneira mais rápida, tranqüila e segura. Conhecer e conversar primeiro com o paciente é imprescindível. Ao questionarmos sobre experiên cias anteriores frente ao tratamento odontológico, teremos uma boa idéia do possível comportamento do paciente diante do ato cirúrgico. Em posse destas informações, poderemos lançar mão ou não de um ansiolítico. Entretanto, o uso destes é apenas um item de um protocolo a ser adotado pelo cirurgião para o controle da ansiedade. Diminuir o tempo na sala de espera, demonstrar confiança e utilizar palavras po sitivas durante o tratamento, realizar uma anestesia profunda são alguns exemplos de outras ações que compõem este protocolo. De acordo com Peden (2008), a sedação consciente pode ser definida como uma "técnica onde o uso de drogas produz um estado de depressão do sistema BB nervoso central (SNC), permitindo a realização do tratamento, onde o contato verbal é mantido durante todo o período da sedação. O nível de consciência a ser obtido deve ser aquele onde o paciente mantém- -se consciente, com seus reflexos protetores ativos, estando apto a entender e responder a comandos verbais". São diversos os fármacos utilizados para este fim, sendo administrados por via oral, nasal ou endovenosa. Em Odontologia, os benzodiazepínicos são as drogas de escolha, sendo administradas por via oral. Os benzodiazepínicos atuam em receptores específicos no SNC, que estão relacionados aos receptores do ácido gama-aminobutírico (GABA). GABA é um neurotransmissor inibidor do SNC, que filtra e diminui as informações dirigidas ao cérebro. Os benzodiazepínicos facilitam a ação de GABA, aumentando o tempo para que um novo impulso excitatório seja transmitido pelos neurônios. Dessa maneira, a diminuição dos impulsos que chegam ao cérebro produz sedação, diminuição da ansiedade, relaxamento muscular, amnésia e efeitos anticon-vulsivantes. Como estes fármacos atuam de maneira indireta no SNC, dependendo da presença de uma substância endógena, apresentam boa margem de segurança clínica. Os efeitos fisiológicos destes medicamentos no organismo não se restringem ao SNC. Em relação ao sistema respiratório, uma depressão moderada é esperada, sendo clinicamente insignificante em pacientes saudáveis. Esta depressão deve ser con siderada em idosos e pacientes que apresentem comorbidades relacionadas ao sistema respiratório. As alterações cardíacas são praticamente insignifi cantes, sendo representada por uma queda tênue da pressão arterial. E importante que o paciente sedado seja monitorado através de um oxímetro de pulso, que mede os batimentos cardíacos e a saturação de oxigênio.Níveis de saturação abaixode 90%merecem atenção especial do profissional, que deve solicitar ao paciente que respire profundamente e, na falha deste, administrar oxigênio via cânula nasal em um volume 2-3 l/min. Os benzodiazepínicos estão contraindicados nos seguintes casos: • hipersensibilidade aos benzodiazepínicos; • miastenia gravis; • Insuficiência respiratória grave; • glaucoma de ângulo agudo; • apneia do sono; • gestantes e lactantes, a menos que não haja alternativa mais segura. Independentemente do trimestre em que será utilizado (o Ia tri mestre o que apresenta maior risco),o médico assistente deve ser contatado. O uso com precaução deve ser observado nas seguintes situações: • uso concomitante de outros agentes depres- sores do SNC; • histórico de dependência de drogas; • insuficiência respiratória; • idosos e debilitados; • comprometimentos renal e hepático. Os benzodiazepínicos de uso mais comum são o diazepam e o midazolam. Ambos apresentam boa segurança e eficácia de uso. Apresentamos aqui o protocolo de uso destas duas drogas, sendo que nossa escolha recai sobre o midazolam, pois tem seu início de ação mais rápido e menor meia-vida plasmática, quando comparado com o diazepam. Midazolam 7,5-15 mg: administrar 30 minutos antes do procedimento ou Diazepam 5-10mg: administrar 1 hora antes do procedimento. Deve-se informar ao paciente que faça uma refei ção leve e utilize seus medicamentos de uso normal, sem restrições. Toda vez que for optado pela sedação consciente, o paciente deve vir acompanhado, já que não estará apto a sair em via pública, dirigir e operar máquinas após o procedimento. Referências 1. Alexander RE, Throndson RR. A review of perioperative corticosteroid use in dentoalveolar surgery. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 90:406 2000. 2. Dan AEB, Thygesen TH, Pinholt EM. Corticosteroid Administration in Oral and Orthognathic Surgery: A 3. 10. II 12 13 Medicação Pré-operatória SystematicReview of the Literature and Meta-Analysis. J Oral Maxillofac Surg 2010 68:2207-20. Dione AR, Yagiela JA, Moore PA, Gonty A, Zuniga J, Beirne OR. Comparing efficacy and safety of four intra- venous sedation regimens in dental outpatients. JADA 132 2001. Garip H, Gurkan Y, Toker K, Goker K. A comparison of midazolam and midazolam with remifentanil for patient- controlled sedation during operations on third molars. British J Oral Maxillofac Surg 45 (2007) 212-216. Halpern LR, Dodson TB. Does prophylactic adminis tration of systemic antibiotics prevent postoperative inflammatory complications after third molar surgery? J Oral Maxillofac Surg 2007 65:177-185. Markiewicz MR, Brady MF, Ding EL, Dodson TB. Cor- ticosteroids reduce postoperative morbidity after third molar surgery: A systematic review and meta analysis. J Oral Maxillofac Surg 66:1881, 2008. Meechan JG. Controlled-sedation for oral surgery - per- tinent papers published during 2004-2006: A personal choice. British J Oral Maxillofac Surg 2007 45:396-98. Ozgun H, Ertugrul MB, Soyder A, Ozturk B, Aydemir M. Peri-operative antibiotic prophylaxis: Adherence to guidelines and effects of educational intervention. Int J Surg. 2010: 8:159-63. Peden, CJ.Sedation for dental and other procedures. Ana- esthesia and intensive care medicine 2008 9:8 334-37. Peterson LJ, Ellis E. III, Hupp JR, Tucker MR. Cotempo- rary oral and maxillofacial surgery. St Lovis: CV Mosby, 2003. Solensky R. 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O conhecimento destes sistemas, bem como de outros fatores que influenciam na dificuldade da remoção dos terceiros molares, permitem ao cirurgião realizar a cirurgia de maneira segura, sistemática e previsível. A classificação dos terceiros molares baseia-se primordialmente na análise radiográfica destes, con firmada durante o ato operatório. Durante o estudo da radiografia, o cirurgião deve focar-se em diversos fato res, que determinarão o protocolo cirúrgico, tais como qual o tipo de retalho a ser realizado, a quantidade de remoção óssea, entre outros. Este capítulo tem por ob jetivoapresentar quais os fatores que mais influenciam na dificuldade do procedimento cirúrgico. Anatomia do Dente a. Tamanho da coroa: coroas volumosas necessi tam maior remoção óssea para sua exposição, bem como maior necessidade de odontossec ção para sua remoção (Figs. 4.1A,B). b. Morfologia radicular: a presença de anomalias de forma e número da porção radicular do terceiro molar dita a necessidade ou não de separação radicular. Em geral na presença de dilacerações, convergência ou divergência radicular, a odontossecção estará indicada (Fig. 4.2). Posicionamento do Dente Este fator deverá ser analisado sob três aspectos. a. Angulação dodente: este fator determina como o ciente deve ser seccionado e discrimina diferentes graus de dificuldade, de acordo com a classificação. Baseia-se na angulação Fig. 4.1A Fig. 4.1B Figs. 4.1A,B - (A) Terceiro molar com coroa pequena. O círculo representa a quantidade de ostectomia para sua exposição. (B) Terceiros molares com coroas volumosas necessitam de maior remoção óssea para exposição, bem como possível odontossecção para sua remoção. Cirurgia do Terceiro Molar Impactado - Passo a Passo do terceiro molar inferior em relação ao longo eixo do segundo molar, possuindo quatro categorias, apresentadas aqui em ordem crescente de dificuldade: mesioangular (Fig. 4.3A); horizontal (Fig. 4.3B); vertical (Fig. 4.3C); distoangular (Fig. 4.3D). Fig. 4.2 Fig. 4.3A Fig. 4.3C Relação do dente com o ramo mandibular (Pell e Gregory 1,2 e 3): Este segundo aspecto faz a relação do posicionamento do terceiro molar em relação ao ramo mandibular, o que deter minará maior ou menor cobertura óssea do dente, no sentido anteroposterior. Pell e Gregory 1 - o diâmetro mesiodistal do dente encontra-se completamente à frente da borda anterior do ramo mandibular. Se relacionarmos esta angulação com o tipo de angulação, é esperado que os terceiros mola res verticais tenham maior possibilidade de erupcionarem (Fig. 4.4A). Pell e Gregory 2 - Cerca de metade da coroa do dente encontra-se encoberta pelo ramo mandibular. Em relação à Classe 1, será ne cessária a remoção óssea da parte distai da coroa (Fig. 4.4B). Pell e Gregory 3 - Nestes casos, o terceiro molar encontra-se completamente dentro do
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