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Andréa Chicri Torga Fundamentos de Rh Andréa Chicri Torga FUNDAMENTOS DE RH Belo Horizonte Junho de 2015 COPYRIGHT © 2015 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Vice Presidência Arthur Sperandeo de Macedo Coordenação de Produção Gislene Garcia Nora de Oliveira Ilustração e Capa Alexandre de Souza Paz Monsserrate Leonardo Antonio Aguiar Equipe EaD CONHEÇA A AUTORA Andréa Chicri Torga é psicóloga formada pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade FUMEC e formada em Ciência da Computação pela Faculdade de Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade FUMEC. Especialista em Gerência de Telecomunicações e Redes de computadores pela Faculdade de Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade FUMEC, em Gestão e Tecnologia da Informação pelo Instituto de Educação Tecnológica (Ietec). Obteve o título de mestre em Educação Tecnológica pelo Centro de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Atua há mais de 15 anos na Educação, atualmente como professora na área de Psicologia, com ênfase em Gestão de Pessoas, nas disciplinas: Gestão por Competências, Fundamentos de Recursos Humanos, Treinamento e Desenvolvimento e Aprendizado Humano. Também atua como psicóloga clínica em consultório particular. Possui uma vasta experiência nas áreas de Informática, em engenharia de software e gerência de projetos e na de Psicologia, em Gestão de Pessoas, Psicanálise e Saúde Mental. A gestão de pessoas vem passando por grandes mudanças, em razão da importância de mudanças significativas no processo de relacionamento entre as organizações e pessoas. As organizações estão percebendo que o capital humano é o grande diferencial frente aos concorrentes e que as pessoas são a chave do sucesso ou do insucesso das estratégias organizacionais, já que são elas que dão vida aos processos. As empresas estão reconhecendo que as pessoas se tornaram a essência de sua vantagem competitiva e isso altera o modo pelo qual tanto as organizações quanto as pessoas encaram a relação com o trabalho, dentro do mundo do trabalho, dando ênfase aos objetivos e resultados da empresa. A gestão de pessoas vem sendo uma aliada à visão estratégica da empresa, o que proporciona uma mudança nas relações entre empregado e empregador, valorizando uma administração conjunta em que os colaboradores são parceiros e não apenas recursos empresariais. Dessa forma, a disciplina de Fundamentos de Recursos Humanos tem a proposta de capacitá-lo a reconhecer a importância das pessoas no contexto organizacional por meio da história da gestão de pessoas, dos métodos, das técnicas e das práticas modernas e atualizadas, e dos principais subsistemas da área de Recursos Humanos. A partir do entendimento dos principais fundamentos de recursos humanos, você terá as competências para compreender sua responsabilidade ética profissional, social e política; para interagir em grupo, visando a um relacionamento hábil e administrando conflitos; para elaborar pesquisas e projetos, articulando teoria e prática, e para conhecer sua contribuição operacional e estratégica. Além disso, perceberá a evolução histórica da gestão de pessoas no Brasil e sua relação com os principais acontecimentos de cada época; conceitos e principais termos em gestão de pessoas; desafios do gestor na contemporaneidade; comportamento e ética; a área como centro de resultados e integrada ao negócio da empresa; a movimentação, a retenção e o desenvolvimento de pessoas; tendências e perspectivas. O principal objetivo da disciplina é oferecer componentes que irão contribuir com uma visão crítica e sistêmica das atividades da APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA área de Gestão de Pessoas, situadas no contexto da estratégia organizacional, bem como elucidar as seguintes competências: • Compreender as tarefas específicas inerentes a área de Gestão de Pessoas, de forma proativa, com autonomia e agilidade. • Compreender sua responsabilidade ética profissional, social e política. • Obter a capacidade de interação em grupo, visando a um relacionamento hábil e à administração de conflitos. • Planejar as ações de Recursos Humanos, tendo em vista alguns subsistemas da área. • Definir políticas de RH alinhadas às estratégias organizacionais. • Elaborar pesquisas e projetos, articulando teoria e prática. • Ter conhecimento da contribuição operacional e estratégica que os sistemas de informação podem trazer a uma organização (ênfase em sistemas voltados para a gestão do RH). A estratégia fundamental da gestão de pessoas está na contribuição conceitual e prática de uma gestão mais humana, saudável e com resultados positivos. Além de legítimos de produtividade, desenvolvimento, qualidade e competitividade. Para isso, a disciplina visa para seus estudantes às seguintes habilidades: • Reconhecer os principais fundamentos da gestão de recursos humanos. • Executar as atividades de RH, vinculadas aos diferentes subsistemas. • Agir com inovação e proatividade no desenvolvimento de ações na Gestão de Pessoas. • Planejar, organizar e dirigir as práticas de Gestão de Pessoas. Esperamos, dessa forma, que a disciplina lhe possibilite uma nova visão sobre a gestão de pessoas e estimule vários debates sobre o tema. Mãos à obra! UNIDADE 1 003 História da gestão de pessoas 004 Conceito de gestão de pessoas dinâmica com os termos utilizados em gestão de pessoas 006 História brasileira das práticas de gestão de pessoas 013 Modelos da gestão de pessoas 015 Revisão 023 UNIDADE 2 025 Gestão de pessoas como um centro de resultados 026 Papéis do gestor de pessoas 027 Revisão 043 UNIDADE 3 045 Planejamento estratégico da gestão de pessoas 046 Conhecendo o negócio da empresa 047 Missão, visão, valores da gestão de pessoas 049 Planejamento de gestão de pessoas 054 Gestão integrada ao negócio 061 Revisão 064 UNIDADE 4 066 Movimentação de pessoas 067 Mercado de trabalho e planejamento do quadro de pessoas 070 Recrutamento e seleção de pessoal 073 Rotatividade e absenteísmo 083 Revisão 088 5 6 7 8 UNIDADE 5 090 Aplicação e remuneração de pessoas 091 Análise e descrição de cargos 092 Sistema de remuneração 098 Avaliação de desempenho 103 Benefícios e serviços sociais 112 Revisão 117 UNIDADE 6 119 Desenvolvimento de pessoas 120 Aprendizagem organizacional, desenvolvimento humano e desenvolvimento organizacional 121 Treinamento e desenvolvimento de pessoal (T&D) 127 Gestão do conhecimento 140 Gestão por competência 145 Revisão 151 UNIDADE 7 154 Mantendo as pessoas na organização (retenção de pessoas) 155 Clima organizacional e administração de conflitos 156 Higiene e segurança do trabalho 161 Bem-estar organizacional (qualidade de vida no trabalho) 167 Revisão 176 UNIDADE 8 179 Tendências e perspectivas para a gestão de pessoas 180 Futuro na gestão de pessoas 181 Comportamento e ética da gestão de pessoas 190 Efeitos perversos da gestão de pessoas a serem evitados 193 Revisão 195 REFERÊNCIAS 197 unidade 1 004 HISTÓRIA DA GESTÃO DE PESSOAS Omundo está mudando com intensidade e proporções cada vez maiores, e as organizações são diretamente impactadas por estas mudanças. Pode-se considerar como exemplos de mudanças: a globalização da economia, o maior valor agregado aos produtos e serviços, a turbulência crescente, as transformações constantes no ambiente organizacional, as mudanças tecnológicas, a concorrência entre as empresas, a maiorcomplexidade das arquiteturas organizacionais e das relações comerciais, etc. Elas estão modificando a forma de administrar as organizações, fazendo com que estas repensem suas práticas e modelos em todos os aspectos. Dessa forma, com a área de gestão de pessoas não foi diferente. Há uma exigência na revisão dos conceitos, práticas, premissas, técnicas e ferramentas utilizadas na gestão de pessoas. Esta unidade visa a discorrer sobre o conceito e os termos da gestão de pessoas, identificando, para isso, os principais períodos das práticas dos recursos humanos, bem como apresentar alguns modelos da gestão de pessoas. O termo Gestão de Pessoas surgiu num determinado período, no mundo corporativo. Esse termo passou a ter um real sentido e significado diante do contexto no qual se apresentou, tornando-se fundamental seu entendimento e a análise histórica do seu surgimento. A evolução para o estágio atual da gestão de pessoas teve, como pano de fundo, outros modelos de gestão que foram evoluindo com o passar dos anos. Inicialmente, a administração de pessoas recebia a denominação de relações industriais voltada para trâmites burocráticos FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 005 e operacionais. Posteriormente, a estrutura era a de departamento de pessoal, também conhecida como administração de recursos humanos, voltada para a departamentalização e gestão do comportamento humano e, atualmente, a denominada gestão de pessoas, voltada para gestão estratégica e global. No Brasil, não foi diferente, a partir dos acontecimentos históricos e administrativos, houve uma evolução nas teorias e práticas da gestão de pessoas. As etapas marcadas por mudanças na gestão de pessoas não são diferentes das marcas históricas que são denominadas: Primeira República, Estado Novo, Segunda República e década de 60 até as datas atuais. Além do contexto e evolução histórica, surgem modelos de gestão de pessoas relacionados a estrutura administrativa das organizações. Na atualidade podemos listar vários modelos, faremos referência a dois: o modelo proposto por Chiavenato (2014) e Dutra (2014). Portanto, o objetivo geral dessa unidade é analisar o processo evolutivo da gestão de pessoas, procurando focar tanto as questões relativas aos conteúdos e processos quanto às vinculadas as nomenclaturas e conceitos, como também ilustrar a gestão de pessoas atual com dois modelos possíveis de se aplicar nas organizações. Nessa unidade, apresentaremos uma discussão sobre os principais conceitos da história da gestão de pessoas. Tendo em vista que o foco principal da análise aqui proposta é fazer reflexões sobre o conceito de gestão de pessoas, visto que o mesmo tem sido usado muitas vezes de forma simplificada e ingênua. Faremos, então, reflexões acerca do valor que a gestão de pessoas representa para mundo contemporâneo, principalmente no contexto organizacional. FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 006 CONCEITO DE GESTÃO DE PESSOAS DINÂMICA COM OS TERMOS UTILIZADOS EM GESTÃO DE PESSOAS As organizações sociais surgiram quando o ser humano passou a se associar com seus semelhantes, para fazer as coisas que não seria capaz de fazer sozinho. Ao longo da história, essas organizações foram se desenvolvendo, até chegarem à sociedade atual caracterizada pela modernidade e pela complexidade. Em nossa sociedade atual existem organizações sociais privadas ou públicas, como: escolas, hospitais, igrejas, clubes, etc. ATENÇÃO Cabe ressaltar que “para que exista uma organização, é preciso que existam objetivos comuns, divisão de trabalho, fonte de autoridade e relações entre as pessoas” (LACOMBE, 2005, p. 8). Em outras palavras, são instituições compostas por pessoas com o intuito de atingirem seus objetivos comuns. Nosso estudo dará ênfase às empresas, que são exemplos de organizações sociais. Segundo Chiavenato (2010), as empresas são organizações sociais que utilizam de vários recursos para atingirem seus objetivos, sendo que quanto mais recursos as empresas tiverem, melhor será seu funcionamento e resultado. Os recursos mais importantes são: os materiais, os financeiros, os mercadológicos, os administrativos e os humanos. Estes últimos são os únicos recursos que colocam em ação todos os demais. Alguns autores evoluíram este conceito de recursos humanos para competências, justificando que o termo recurso está relacionado a algo físico e estático, e o termo competências está atribuído às pessoas, que são responsáveis em operá-las e aplicá-las. O que precisamos ressaltar é que as pessoas possuem um papel fundamental no contexto organizacional e, para um melhor aproveitamento e valorização desse insumo, torna-se necessária uma forma de gestão adequada a cada contexto histórico. CONCEITO Segundo Araujo e Garcia (2014), a gestão pode ser entendida pela definição de administração, ou seja, conjunto de esforços que tem por objetivo: planejar; organizar; dirigir ou liderar; coordenar e controlar as atividades de um grupo de indivíduos que se associam para atingir um resultado comum. (ARAUJO; GARCIA, 2014, p. 01) FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 007 Apesar de existirem indícios de uma gestão profissionalizada de empresas desde o século XIX, foi com o advento da Administração Científica que a gestão de pessoas passa a ser sistematizada. Segundo Dutra (2014), a gestão de pessoas estrutura-se no século XX com base na Escola de Administração Científica, condicionando-a aos paradigmas desse movimento na história da administração. Nesse sentido, abordaremos a evolução dessa gestão ao longo do século XX, demarcando três etapas, que segundo Chiavenato (2014) são: departamento de pessoal ou relações industriais, administração de recursos humanos e gestão de pessoas. Mas antes de descrever essas três etapas, vamos falar um pouco sobre as mudanças e as transformações no cenário mundial no decorrer do século XX. Este é caracterizado por trazer grandes mudanças e transformações que influenciaram de forma complexa as organizações, a administração e o comportamento humano. Segundo Chiavenato (2014) e outros autores, podemos visualizar ao longo do século XX três eras organizacionais distintas: a Era da Industrialização Clássica, a Era da Industrialização Neoclássica e a Era da Informação. Visualizar as características de cada uma nos possibilitará uma melhor compreensão das filosofias e das práticas de lidar com as pessoas nas organizações. Vejamos a seguir: a) Era da Industrialização Clássica (1900- 1950) A Era da Industrialização Clássica foi o período que envolveu a primeira metade do século XX. Iniciou-se após a Revolução Industrial e estendeu-se até meados de 1950. A marca desse período foi a ascensão da industrialização e, consequentemente, o surgimento de países desenvolvidos ou industrializados. A teoria administrativa predominante nesse período foi a Teoria da Administração Científica, também chamada administração “taylorista” e/ou “fordista”, fazendo referência aos nomes de seus teóricos Frederick Taylor e Henry Ford. O modelo de organização dessa época foi marcado por características bem específicas, segundo Chiavenato (2014) as empresas passaram a adotar a estrutura organizacional burocrática, caracterizada pelo formato piramidal e centralizador, com ênfase na departamentalização funcional, na centralização das decisões no topo da hierarquia e no estabelecimento de regras e regulamentos internos para disciplinar e padronizar o comportamento das pessoas. (CHIAVENATO, 2014, p. 32) FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 008 As ideias desse movimento voltadas à gestão de pessoas eram de que o ser humano era visto como um ser simples e previsível, cujo comportamento não variava muito. A administração das pessoas recebeu o nome de relações industriais, na qual valorizava-se a constante vigilância e o treinamentoera uma ação considerada suficiente para garantir boa produtividade. “As pessoas eram consideradas recursos de produção, juntamente a outros recursos organizacionais, como máquinas, equipamento e capital” (CHIAVENATO, 2014, p. 32-33) b) Era da Industrialização Neoclássica (1950-1990) A Era da Industrialização Neoclássica teve início logo após a 2ª Guerra Mundial, quando o mundo começou a mudar com maior rapidez e intensidade. As transações comerciais tornaram-se cada vez mais dinâmicas e menos previsíveis, o que acentuou a diversidade e a competição entre as empresas. Segundo Chiavenato (2014), a característica marcante da administração da época foi a visão sistêmica e multidisciplinar, fazendo com que o modelo burocrático, funcional, centralizador e piramidal fosse substituído pela estrutura matricial. A estrutura matricial visou combinar a departamentalização com um esquema lateral de produtos/ serviços, proporcionando, assim, inovação e dinamismo para alcançar maior competitividade. A concepção de Relações Industriais foi substituída por uma nova maneira de gestão de pessoas, a qual recebeu o nome de Administração de Recursos Humanos. Essa administração passou a ver as pessoas como recursos vivos e inteligentes, não mais como fatores inertes de produção. Entretanto, o mundo continuava mudando. Aparecem novos cenários, as empresas começam a ter desafios de conhecer e integrar elementos do ambiente externo, fazendo com que a predominância dos métodos quantitativos e as pessoas serem tratadas de modo uniforme e padronizado não resolvessem mais. c) Era da Informação (1990 até a atualidade) O final do século XX marca, definitivamente, a nova forma mercadológica a ser adotada pelas empresas. É o período que começou no início dos anos 90 e que se mantém na atualidade. A principal característica dessa nova era são as mudanças que são rápidas e muitas vezes imprevistas, turbulentas, e até inesperadas. O mundo como um mercado único é imposto pela nova ordem, diante da estrondosa evolução da tecnologia. As empresas FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 009 O PMI© E O PMBOK© são surpreendidas e procuram se moldar rapidamente dentro desse novo ambiente, objetivando o atendimento ao consumidor, a qualidade dos seus produtos e buscando a competitividade. Segundo Chiavenato (2014), as informações passaram de países, continentes, chegando a todos os lugares, em todos os instantes e muito rapidamente. A economia nacional tornou-se mundial e a competitividade agora é intensa no mundo todo. O capital financeiro, apesar de ser o alicerce que sustenta esse crescimento, já não é visto em primeiro plano de importância. É o conhecimento que passa a ser considerado o bem intangível mais importante e como usá-lo corretamente é sinônimo de obtenção de sucesso. Essa é a era do conhecimento, do capital humano e do capital intelectual. A Administração de Recursos Humanas passa a ser chamada de Gestão de Pessoas. Nesta nova concepção, segundo Chiavenato (2014), as pessoas deixam de ser simples recursos (humanos) organizacionais para serem abordadas como seres dotados de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades, competências, aspirações e percepções singulares. São os novos parceiros internos da organização. Stakeholders de primeira ordem. (CHIAVENATO, 2014, p.35) A partir da evolução das três eras, a concepção sobre o ser humano foi se tornando complexa. De um ser previsível e controlável por meio de estímulos econômicos e medidas punitivas, pouco a pouco foi-se concebendo o ser humano como um ser dotado de vontade própria, que busca ativamente a realização no trabalho, sendo dotado de poder de escolha e capacidade de ação política. Dessa forma, podemos identificar três fases da gestão de pessoas. 1ª fase: Departamento de Pessoal No século XX, após os anos 30, a administração dos recursos humanos ficou conhecida como Departamento de Pessoal ou Relações Industriais (RI). O surgimento do departamento de pessoal ocorreu com o advento da legislação trabalhista e das atividades contábeis. As atividades operacionais e burocráticas eram restringidas e o departamento recebia instruções da cúpula sobre como proceder. Nesse período, segundo Araújo e Garcia (2014), esses departamentos cuidavam basicamente das rotinas trabalhistas e das tarefas administrativas que estavam direcionadas ao recrutamento, seleção, treinamento, admissão, demissão e folha de pagamento. Para Chiavenato (2015), FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 010 Os DP eram órgãos destinados a fazer cumprir as exigências legais a respeito do emprego: admissão por meio de contrato individual, anotação em carteira de trabalho, contagem das horas trabalhadas para efeito de pagamento, aplicação de advertências e medidas disciplinares pelo não cumprimento do contrato, contagem de férias, etc. Mais adiante, os DRI assumem o mesmo papel, acrescentando outras tarefas, como o relacionamento da organização com sindicatos e a coordenação interna com os demais departamentos para enfrentar problemas sindicais de conteúdo reivindicatório. (CHIAVENATO, 2014, p. 37) além das tarefas operacionais e burocráticas, os chamados DRH desenvolvem funções operacionais e táticas, como órgãos prestadores de serviços especializados. Cuidam do recrutamento, seleção, treinamento, avaliação, remuneração, higiene e segurança do trabalho e de relações trabalhistas e sindicais, com variadas doses de centralização e monopólio dessas atividades. (CHIAVENATO, 2014, p.37) O modelo deveria preocupar-se com as transações, os processos e os procedimentos que fizessem o homem trabalhar da maneira mais efetiva possível. Nessa forma de administração “as pessoas são consideradas apêndices das máquinas e meras fornecedoras de esforço físico e muscular, predominando ainda o velho conceito de mão de obra” (CHIAVENATO, 2014, p.37). Para Dutra (2014) essa fase pode ser considerada Operacional, já que o objetivo da gestão de pessoas era basicamente preocupar-se com a operacionalização de captação, treinamento, remuneração, informações e etc. Dessa forma, a produtividade, recompensa e eficiência de custos com o trabalho eram as preocupações principais do modelo da gestão de pessoas, chamado departamento de pessoal. 2ª fase: Administração de Recursos Humanos A partir da década de 60 começa-se a ouvir o termo Administração de Recursos Humanos (ARH), nomenclatura esta que vem a substituir o Departamento de Pessoal. Segundo Chiavenato, nesse período, também chamado como industrialização neoclássica, surgem os departamentos de recursos humanos (DRH), que Dutra (2014) denomina essa fase como Gerencial, já que a gestão de pessoas passa a colaborar nos diferentes processos FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 011 da organização, sendo requisitada como parceira nos processos de desenvolvimento organizacional. Diante das novas exigências do mundo atual, a ARH vem se ajustando rapidamente. Ela está deixando de ser ARH para se transformar em Gestão de Pessoas (GP), “de uma área fechada, hermética, monopolística e centralizadora que a caracterizava no passado, a moderna ARH está se tornando uma área aberta, amigável, compartilhadora, transparente e descentralizada” (CHIAVENATO, 2014, p.38). 3ª fase: Gestão de Pessoas O termo Gestão de Pessoas veio modificar a Administração de Recursos Humanos, na qual os autores dessa concepção passaram a chamar de cooperados ou parceiros aqueles que antes eram denominados de funcionários ou empregados. Antes, os acionistas eram os parceiros mais privilegiados quando da distribuição e apropriação dos resultados da organização. Hoje, já se tem a visão de que os empregados são os parceiros mais íntimos, pois eles estão dentro da organização, dando-lhevida e dinamismo. Dessa forma, a organização deve olhar para o empregado e escolher o que vai querer ver: um recurso organizacional ou um parceiro. Vendo-os como parceiros, passam a ser fornecedores de conhecimentos, habilidades, capacidades e inteligência e transformam-se no capital intelectual da organização. Segundo Chiavenato (2014), as pessoas – de agentes passivos que eram administrados – passam a constituir agentes ativos e inteligentes que ajudam a administrar os demais recursos organizacionais. A virada é fenomenal. As pessoas passam a ser consideradas parceiras ou stakeholders da organização e tomam decisões a respeito de suas atividades, cumprem metas e alcançam resultados previamente negociados e servem o cliente no sentido de satisfazer suas necessidades e expectativas. (CHIAVENATO, 2014, p. 38) A expressão Gestão de Pessoas visa a substituir tanto a nomenclatura como a busca de solução para as demandas de excelência organizacional à Administração de Recursos Humanos (ARH). Nessa nova concepção, segundo o mesmo autor, as práticas de RH são delegadas aos executivos de linha, que passam a ser gestores de pessoas, enquanto as tarefas operacionais e burocráticas estão cada vez mais sendo transferidas para terceiros, o que chamamos de terceirização (outsourcing). FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 012 Segundo Dutra (2014), essa fase pode ser chamada de Estratégica, já que a gestão de pessoas passa a assumir um papel estratégico na organização, sendo responsável por internalizar novos conceitos de pensar as pessoas na geração de valor para as empresas. As pessoas deixam de ser vistas como um problema e passam a ser vistas como desafio e solução em proporcionar a vantagem competitiva organizacional. Assim, as três etapas da gestão de pessoas estão representadas no quadro abaixo: QUADRO 1 – As três etapas da gestão de pessoas Fonte: CHIAVENATO, 2014, P. 29. Formato do trabalho Caracterização total das operações no órgão de RH Responsabilidade de linha e função de straff Descentralização rumo aos gerentes e às suas equipes Burocratizada e operacional. Rotina Departamentalizada e tática Focalização global e estratégica no negócio Decisões vindas da cúpula da organização e ações centralizadas no órgão de RH Decisões vindas da cúpula da área e ações centralizadas no órgão de RH Decisões e ações do gerente e de sua equipe de trabalho Execução de serviços especializados. Centralização e isolamento da área Consultoria interna e prestação de serviços especializados Consultoria interna. Descentralização e compartilhamento Admissão, demissão, controle de frequência, legislação do trabalho, disciplina, relações sindicais, ordem Recrutamento, seleção, treinamento, administração de salários, benefícios, higiene e segurança, relações sindicais. Como os gerentes e suas equipes selecionam, treinam, lideram e recompensam os seus participantes Vigilância, coerção, coação, punições. Confinamento social das pessoas. Atrair e manter os melhores funcionários Criar a melhor empresa e a melhor qualidade de trabalho Nível de atuação Comando da ação CARACTERÍSTICAS RELAÇÕES INDUSTRIAIS ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS GESTÃO DE PESSOAS Tipo de atividade Principais atividades Missão da área Podemos perceber que a mudança das relações industriais para a Administração de Recursos Humanos é facilmente demarcada. No entanto, a passagem da ARH para a gestão de pessoas continua não tão bem definida, embora compreendemos a inevitabilidade dessa passagem. Como não houve essa completa transição, fortaleceremos ao longo do livro o conceito de gestão de pessoas, embora não abandonaremos a ARH. FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 013 HISTÓRIA BRASILEIRA DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS Os padrões de relacionamento entre empresas e empregados, mediados e administrados pela área de RH, sofreram significativa evolução no decorrer do último século, isso não foi diferente no Brasil. Segundo Dutra (2014), para a maior parte dos autores, o processo evolutivo das práticas de gestão de pessoas passou por fases peculiares de nossa história que são propostas pelos mesmos da seguinte forma: • Primeira República (até 1930): período predominado pela atividade industrial e caracterizado por Wood Jr. (1995), citado por Dutra (2014), como pré-jurídico- trabalhista e caracterizado também pela inexistência de legislação trabalhista. Nesse período começou-se a perceber a presença significativa do proletariado e no final dele houve um movimento grevista em busca de melhores condições, e uma legislação que viesse garantir isso. Sobre a gestão de pessoas, segundo Dutra (2014), verificamos a inexistência (...), uma vez que elas eram recursos abundantes, pouco organizados entre si para pressionar as organizações, nos lugares em que as manifestações de trabalhadores eram consideradas caso de polícia; não havia nenhuma legislação que disciplinasse as relações capital e trabalho e não havia preocupação com uma gestão estruturada.(DUTRA, 2014, p. 32) formatação de um corpo de leis para disciplinar as relações de capital e trabalho, pela criação de uma estrutura de sindicatos de trabalhadores e de empresas e pela formação de uma estrutura jurídica para mediar conflitos entre capital e trabalho. (DUTRA, 2014, p. 32) • Estado Novo (de 1930 a 1945): nesse período houve alterações significativas em relação ao trabalho no país, onde, no Governo de Getúlio Vargas, foi instituído o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Assim, segundo Dutra (2014) foi possível a Segundo Gil (2007, p. 53), dentre os eventos mais importantes dessa época estão: a proibição dos movimentos grevistas, a criação do imposto sindical e a Consolidação das Leis do Trabalho (1943). Podemos dizer que a Administração FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 014 de Recursos Humanos atuou de forma legal, disciplinadora e punitiva, sendo que o administrador cuidava basicamente das partes burocráticas e disciplinares. A partir de 1945, é que começou a ressurgir o movimento dos operários, sendo assegurado o direito de greve. De acordo com Dutra (2014, p. 32), esse período ficou marcado pelo início da gestão burocrática e legalista das pessoas, que perdura até os dias atuais na maioria das empresas. • Segunda República (de 1945 a 1964): o país vive, nesse período, um processo de redemocratização, tendo em vista uma preocupação com o desenvolvimento econômico e com a intensificação dos investimentos na indústria. Começou a haver mudanças significativas no campo das relações de trabalho. Conforme Dutra (2014, p.33), “esse momento marca o início de uma gestão mais profissionalizada de pessoas, extremamente impregnada do referencial taylorista”. • Após 1964: os primeiros 30 anos serão marcados pela intervenção estatal, sendo revertida apenas nos anos 90. Com as inúmeras mudanças nos anos 70 a 90, principalmente no setor econômico, que teve uma grande expansão, a área de recursos humanos foi bastante afetada. O paradigma taylorista/fordista de gestão encontra espaço para sua consolidação e expansão. Segundo Dutra (2014) foi um período de desvalorização das áreas de recursos humanos, principalmente no que se refere a cargos (descrição de cargos) e salários (remuneração justa). O desenvolvimento econômico da década de 70 trouxe maior competitividade por quadros e preocupação com a capacidade de atração e retenção de pessoas, daí a necessidade da profissionalização da gestão de pessoas, em que as atividades mais complexas eram exatamente as relativas as questões de remuneração (...). (DUTRA, 2014, p. 33) A partir dos anos 90 o país passou a iniciar seu processo de integração no mercado mundial. As greves diminuíram e os trabalhadores passaram a rever suasposições. Diante desse cenário, a função de recursos humanos começa a passar por diversas reformas estruturais profundas, buscando resultados eficazes. Assim, da década de 90 em diante, assistimos à profundas alterações, tanto no olhar para administração empresarial FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 015 em geral, quanto para a área de Gestão de Recursos Humanos. Esse novo olhar traz não só mudanças constantes, compatíveis com o mundo das tecnologias de comunicação e informação em permanente evolução, como uma valorização cada vez mais presente das possibilidades individuais, aliada ao desempenho coletivo. MODELOS DA GESTÃO DE PESSOAS As modernas organizações visam adaptar- se rapidamente às mudanças ambientais e às novas requisições do mundo dos negócios. Assim, precisam implantar um Modelo de Gestão de Pessoas compatível com sua dinâmica organizacional e que ofereça resultados de valor para a organização. ATENÇÃO Isso não significa que a Gestão de Pessoas não deva executar processos da Administração de Recursos Humanos, conforme vimos anteriormente, mas o novo cenário em que as organizações modernas estão inseridas exige um novo papel da Gestão de Pessoas. Para isso, ela precisa de um modelo de gestão que altere o foco da mera execução de processos e tarefas para o foco nos resultados. O conceito de modelo de gestão de pessoas é uma formulação bastante abrangente, cujo propósito é dar nome e identidade ao resultado de um grande processo de mudança nas políticas, práticas, e processos de gestão. Diante da diversidade de modelos propostos por vários autores da Gestão de Pessoas, escolhemos dois modelos para ilustrarmos esse conteúdo: o modelo proposto por Joel Souza Dutra (2014) e o de Idalberto Chiavenato (2014). O Modelo de gestão de pessoas proposto por Dutra (2014): Para Dutra (2014), “o modelo de gestão é uma lente que nos ajuda a enxergar a realidade em sua totalidade e complexidade, descortina o invisível, ou seja, as relações ou situações subjacentes a nossa compreensão” (DUTRA, 2014, p. 41). O mesmo autor enfatiza que o modelo de gestão, além de oferecer suporte para a compreensão da realidade, ele deve possibilitar a construção de diretrizes e instrumentos que assegurem uma gestão competente. Para isso, segundo o mesmo autor, a construção do modelo precisa seguir algumas premissas, que são: ter o foco no desenvolvimento ao invés de foco no controle (estimular a participação do funcionário a dar diferentes sugestões, soluções, decisões, etc); ter o foco no FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 016 processo em vez de foco nos instrumentos (quebra-se aquela visão fracionada das atividades individuais e passa-se a pensar no todo); ter o foco no interesse conciliado em vez de foco no interesse da empresa (rompe com a burocracia para dar uma atenção maior ao dinamismo da relação empresa-funcionário); e a última premissa, ter o foco no modelo integrado e estratégico em vez de foco no modelo constituído por partes desarticuladas entre si (volta-se a necessidade de alinhamento das políticas e de práticas para a efetiva transformação). Dutra (2014), propõe um Modelo de Gestão de Pessoas e utiliza a balança “como representação do contínuo equilíbrio que deve ser perseguido entre empresa e pessoas, e ambas têm papéis importantes nesse equilíbrio” (DUTRA, 2014, p.47). FIGURA 1 – Modelo de Gestão de Pessoas Fonte: DUTRA, 2014, p. 47 Para o autor, os chamados processos de gestão são os garantidores do equilíbrio que deve ser construído entre empresa e pessoas. Porém, os mesmos não são suficientes, o que torna necessário um conjunto de políticas e práticas organizacionais que sirvam de apoio. Estas são chamadas de bases estruturais. Os elementos do Modelo de Gestão proposto por DUTRA (2014) seriam assim caracterizados: a. Papel das pessoas: as pessoas estão adquirindo mais consciência da responsabilidade que possuem do seu papel e da valorização organizacional. Assim, elas devem gerir o próprio desenvolvimento e cobrar das empresas condições objetivas para tal. No final da década de 90, as pessoas passaram a assumir um papel mais participativo, criando uma consciência maior do seu ser, da empresa e do ambiente a sua volta. b. Papel das empresas: as empresas não exercem apenas suas funções objetivas e práticas, elas possuem um comprometimento com as pessoas envolvidas no seu processo. Dessa forma, compete a elas procurar os estímulos dessas pessoas como meio de diferenciação FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 017 e competitividade. Alcança- se a cidadania organizacional motivando as pessoas a encarar desafios e sempre demonstrando um comprometimento para com as mesmas. c. Processo de gestão de pessoas: processos de gestão são “interações entre partes com um objetivo e dentro de parâmetros previamente definidos” (DUTRA, 2014, p. 49). Enquanto os fatores “Pessoas” e “Empresas” demonstram um aspecto mais estratégico e de princípios, esse módulo colocará tudo isso em prática. No entanto, para isso devemos classificar os objetivos e parâmetros dos processos de gestão quanto à função. Sendo assim, temos: • Movimentação: são os processos que oferecem suporte a toda ação de movimento das pessoas que possuem relação com a empresa. Refere-se à captação, internalização, transferências, promoções, expatriação e recolocação das pessoas na organização. • Desenvolvimento: são os processos que visam às práticas e aos procedimentos para o desenvolvimento das pessoas na organização. Diz respeito à capacitação, à carreira e ao desempenho. • Valorização: são os processos que criam condições para a distinção e a valorização das pessoas na organização. Referem-se à remuneração, à premiação, aos serviços e às facilidades. FIGURA 2– Processos de gestão de pessoas Fonte: DUTRA, 2014, p.50 d. Bases estruturais: correspondem aos compromissos mútuos estabelecidos entre empresas e pessoas, que são traduzidos nas políticas e nas práticas que orientam os comportamentos, como: clima, saúde e segurança, ergonomia, contrato psicológico, preservação biopsicossocial, etc. Valorização Movimentação Desenvolvimento Gestão de pessoas FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 018 e. Processos de apoio: compreendem as ligações não interligadas unicamente à gestão de pessoas, e que têm uma visão voltada um pouco mais ao exterior. Seriam processos de: • Informações: fluxo que integra a empresa com as pessoas. • Comunicação: são os canais e veículos que possibilitam a interação da empresa com as pessoas e com a comunidade. • Relações sindicais: trata da questão de relacionamento entre as pessoas da organização e suas representações sindicais. • Relações com a comunidade: conjuntos de práticas para aproximar a comunidade que rodeia a empresa. DUTRA (2014) enfatiza que não basta aplicar o modelo, é importante a empresa verificar se distorções na aplicação do mesmo estão ocorrendo. Para isso ele propõe três indicadores quanto ao desenvolvimento e valorização, são eles: a entrega, os padrões de complexidade e o espaço ocupacional. Sobre o indicador entrega, o autor sugere a avaliação da pessoa pela entrega daquilo que ela agrega à organização, como: os efeitos de sua admissão, demissão, promoção, aumento salarial, etc. Para Dutra (2014), olhamos as pessoas pelo que elas fazem e não pelas entregas, e “ao olharmos as pessoas por sua capacidade de entrega, temos uma perspectiva mais adequada para avaliá-las, para orientar seu desenvolvimento e para estabelecer recompensas” (DUTRA, 2014. p. 54). O nível de complexidade avalia as condições e níveis de entrega das pessoas. O nível de agregação de valor dessa pessoa, para a empresa e para o mercado, é o que hoje estásendo valorizado. Observa-se cada vez mais que as pessoas enfrentam desafios mais complexos a todo tempo, sem necessariamente ter a ver com cargos hierarquicamente superiores, definindo o desenvolvimento de uma pessoa como “a capacidade de assumir e executar atribuições e responsabilidades de maior complexidade” (DUTRA, 2014, p. 55). O espaço ocupacional é derivado da relação entre a entrega e a complexidade. Seria uma forma da empresa valorizar as competências e comprometimento dos seus profissionais. Duas variáveis são necessárias para a ampliação do espaço ocupacional, são elas: as necessidades das empresas e a competência da pessoa em atendê-las. Para Dutra (2014) “é importante percebermos a ampliação de espaço ocupacional como uma indicação do desenvolvimento da pessoa e de sua FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 019 maior capacidade de agregar valor, devendo, portanto, estar atrelada ao crescimento salarial” (DUTRA, 2014, p. 57). Assim, o modelo de Dutra propõe uma atenção para a inovação de um sistema de gestão que estimule e suporte o desenvolvimento mútuo, tanto da empresa quanto de seus colaboradores. Tudo de maneira transparente, simplificada e passível de mudanças. O Modelo de gestão de pessoas proposto por Chiavenato (2014): No mundo de constantes mudanças, as organizações veem aplicando a abordagem sistêmica na organização, na tentativa de substituir a tradicional abordagem que separa e segmenta suas atividades. A ênfase está em juntar e não mais em separar. O foco não está mais nas tarefas, mas nos processos. A moderna Gestão de Pessoas consiste em várias atividades, como descrição e análise de cargos, planejamento de RH, recrutamento, seleção, orientação e motivação das pessoas, avaliação do desempenho, remuneração, treinamento e desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde e bem-estar dentre outros. Com isso, a Gestão de Pessoas passa por esse momento de mudanças em que, segundo Chiavenato (2014), os movimentos de reorganização empresarial, como Processo é um conjunto de atividades estruturadas e destinadas a resultar em um produto especificado para determinado cliente. É uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com começo e fim, entradas e saídas claramente identificadas. (CHIAVENATO, 2014, p.15) Seguindo a linha de pensamento, o autor propõe seis processos básicos para compor a Gestão de Pessoas: 1. Processo de agregar pessoas: utilizado para incluir e suprimir novas pessoas na empresa. Nesse processo podemos listar as atividades de recrutamento e seleção de pessoas. 2. Processo de aplicar pessoas: utilizado para desenhar as atividades que as pessoas irão desempenhar na empresa, orientar e acompanhar seu desempenho. As atividades encontradas nesse processo são de desenhos de cargos e avaliação de desempenho. 3. Processo de recompensar pessoas: utilizado para motivar e incentivar as pessoas, como também ajudá-las a reengenharia e o downsizing, provocaram a substituição da organização funcional pela organização em rede de equipes voltadas para processos. Segundo o autor, FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 020 satisfazer suas necessidades individuais mais elevadas. Aqui incluem recompensas, benefícios e serviços sociais. 4. Processo de desenvolver pessoas: utilizado para capacitar e incrementar o desenvolvimento profissional e pessoal. Envolvem atividades como treinamento e desenvolvimento, gestão do conhecimento e gestão de competências, aprendizagem corporativa, programas de mudanças e desenvolvimento de carreiras. 5. Processo de manter pessoas: utilizado para criar condições ambientais e psicológicas satisfatórias para as atividades das pessoas. Incluem administração da disciplina, higiene, segurança e qualidade, clima e manutenção das relações sindicais. 6. Processo de monitorar pessoas: utilizado para acompanhar e controlar as atividades das pessoas, e verificar resultados. Incluem banco de dados e sistemas de informações gerenciais. FIGURA 3 – Processos básicos de gestão de pessoas Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 19. Esses processos estão diretamente e intimamente relacionados entre si, de tal maneira que se interpretam e se influenciam reciprocamente. FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 021 Segundo Chiavenato (2014), todos esses processos são desenvolvidos através de uma análise de influências ambientais externas e influências organizacionais internas para obter a melhor compatibilização entre si. Assim, podemos dizer que isso é um modelo de diagnóstico da Gestão de Pessoas, ilustra-se na figura abaixo: FIGURA 4 – Modelo de diagnóstico de gestão de pessoas Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 15. Como já mencionamos, a presença de um mercado altamente competitivo tem exigido das empresas do atual século uma constante reconfiguração de suas estruturas, a fim de conseguirem maior e melhor posicionamento entre as suas concorrentes. Assim, as empresas estão aderindo aos modelos de gestão orientados aos processos, visando à otimização do fluxo das atividades, à eliminação do retrabalho e ao alcance da qualidade máxima do resultado final. Nas próximas unidades veremos alguns processos propostos por esses dois autores de forma mais detalhada, juntamente com as principais ferramentas e práticas específicas dos mesmos. FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 022 APLICAÇÃO PRÁTICA Texto retirado e adaptado do livro Gestão com Pessoas: uma abordagem aplicada às estratégias de negócios, de Tkeshy Tachizawa et al, p. 47. Estudo de caso: Petroquímica S.A. A Petroquímica S.A. adota modernos instrumentos de gestão de pessoas, combinados com conceitos tradicionais de administração de recursos humanos. O modelo de gestão de pessoas é descentralizado. As atividades-meio de assessoramento são exercidas por um departamento subordinado ao diretor de administração, e as atividades de gestão das pessoas que compõem cada área da empresa são exercidas pela própria chefia de tais unidades organizacionais sob orientação funcional daquele departamento. Com base no preceito de que os responsáveis por um processo devem ter plena responsabilidade e autoridade sobre os recursos de que necessitam para atingir seus propósitos, a organização transferiu para o controle das próprias equipes as atividades de gestão de pessoas relativas a recrutamento, seleção, treinamento, integração, promoção, monitoramento da satisfação e desligamento de colaboradores. Como parte de sua política de transferência, o funcionário tem acesso a todas as informações relativas ao seu plano de carreira, ao seu prontuário médico e à sua remuneração mensal, com os respectivos descontos e pontuação considerada para o pagamento da remuneração variável (bônus por resultado). As atividades de gestão de pessoas são em geral desenvolvidas por comitês participativos que podem restringir-se à própria equipe interessada ou contar também com a participação de convidados de outras equipes. O tradicional papel de uma unidade de recursos humanos foi substituído pela função de consultoria interna, com profissionais encarregados não só de acompanhar e apoiar ações desenvolvidas pelas equipes, mas também de elaborar estudos, simulações, planos e propostas para a gestão de pessoas. A gestão de pessoas é hoje mais uma atividade normal em qualquer área da empresa, sendo exercida pelas mesmas pessoas que atendem às demandas técnicas. A organização e distribuição das atividades obedecem a um sistema de gestão conhecido internamente como “gestão da evolução profissional”, que atende às necessidades do planejamento e controle da gestão de pessoas segundo as demandas efetivas de cada equipe e, ao mesmo tempo, privilegia o desenvolvimento, o crescimento e a valorização dos colaboradores. Tal sistema está intimamente relacionado aos produtosda equipe e às habilidades necessárias à geração desses produtos. Cada habilidade é descrita de forma a estabelecer um perfil de responsabilidade e autonomia que permite a orientação dos colaboradores certificados. A certificação em uma habilidade equivale a um FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 023 REVISÃO contrato de prestação de serviço firmado entre o time e o colaborador. O plano de habilidade da equipe, no qual é especificada a quantidade de certidões necessárias a cada uma das habilidades envolvidas num determinado processo, orienta a identificação, a análise e o planejamento da demanda. A partir da demanda, a equipe desenvolve negociação interna, buscando selecionar o colaborador com melhores condições de atendê- la. Para tanto, deve observar a disponibilidade de recursos orçamentários para o treinamento e a futura remuneração da futura habilidade. Para estar disponíveis, tais recursos devem ter sido previstos na negociação anual do orçamento da equipe. O treinamento é realizado segundo o programa previsto na descrição da habilidade. A certificação em uma habilidade ocorre somente quando o colaborador obtém aproveitamento no programa de treinamento e atinge um desempenho satisfatório no exercício das atividades especificadas para a habilidade. Para avaliar essa condição, forma-se um comitê de certificação constituído por colaboradores da equipe e, eventualmente, representantes de alguns clientes e fornecedores internos. A gestão da evolução profissional e permanentemente monitorada pelos executivos, que são os responsáveis diretos pela aprovação de qualquer alteração no conjunto de habilidades específicas proposta pelas equipes interessadas sempre que constatem variações quantitativas ou qualitativas nas demandas de suas atividades. Esse mecanismo confere a flexibilidade necessária ao sistema, permitindo seu constante aprimoramento. Em resumo, a gestão de pessoas foi analisada quanto à evolução dos seus conceitos e práticas – das relações industriais até a gestão de pessoas – e quanto a sua inserção no contexto organizacional atual. Verificamos que um longo caminho foi percorrido, mas é essencial que a área de gestão de pessoas continue evoluindo, pois as organizações estão cada vez mais competitivas. Também vimos que o modo como a estrutura de uma organização é definido é de suma importância para o alcance dos resultados, e os modelos para se definir a gestão de pessoas dependem da estrutura organizacional. Diante das pressões externas e internas do mundo contemporâneo, propomos dois modelos voltados para a gestão de pessoas que estimulem e ofereçam suporte ao desenvolvimento mútuo das empresas e seus funcionários. FUNDAMENTOS DE RH unidade 1 024 PARA SABER MAIS Filme: TEMPOS Modernos. Direção: Charlie Chaplin. Produção: Patríciu Santans. Estados Unidos: United Artists 1936. (87 min.) P&B. Artigos, dissertações e teses: ABRÃO, Adriana Thomé Yázigi. Realidade e Tendências da Gestão de Recursos Humanos. 1998. 128 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Escola de Administração de Empreas - Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1998. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/ bitstream/handle/10438/5126/1199900870. pdf?sequence=1>. Acesso em: 27 abr. 2015. ALMEIDA, Luciana Pavanelli von Gal de; FERRAZ, Clarice Aparecida. Políticas de formação de recursos humanos em saúde e enfermagem. REBEn. n. 61, v. 1, Brasília, jan.-fev. 2008. p. 31- 5. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ reben/v61n1/05>. Acesso em: 27 abr. 2015. BARBOSA, Allan Claudius Queiroz. Relações de trabalho e recursos humanos em busca de identidade. Rev. Adm. empress. v. 45, n. especial, São Paulo. set.-dez. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v45nspe/ v45nspea10.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2015. BENGSTON, Bjorn; JARVSTRAND, Goran. Introdução à Gestão de Recursos Humanos. Trad. Luiz S. Macêdo de Oliveira. Projeto EUROBRASIL, 2000. Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.escoladegoverno.pr.gov.br/ arquivos/File/Ministerio_do_Planejamento/ introducao_a_gestao_de_RH.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2015. 2UNIDADE unidade 2 026 FUNDAMENTOS DE RH GESTÃO DE PESSOAS COMO UM CENTRO DE RESULTADOS A necessidade de repensar suas estratégias e modelos fez com que as organizações refutassem as gestões engessadas, sem dimensões competitivas adequadas para o cenário contemporâneo. Assim, já faz algum tempo que a administração de recursos humanos passou de um simples departamento de pessoal para uma área de transformação nas organizações, provocando mudanças e oferecendo estratégias e sustentação na implementação das mesmas. A perspectiva de gestão das empresas do século XXI é algo cada vez mais inovador, não há modelos prontos, como uma receita, com medidas previamente estabelecidas. No contexto da gestão de pessoas, as pessoas passam a significar o diferencial competitivo que mantém e promove o sucesso organizacional, bem como sua vantagem competitiva. As empresas de sucesso já perceberam que somente poderão mantê-lo se forem capazes de otimizar o retorno sobre os investimentos de todos os parceiros, principalmente de seus funcionários. A empresa que opta pela nova gestão de pessoas certamente obterá resultados benéficos à sua estrutura organizacional, aumentando a produtividade, garantindo a sobrevivência do negócio e propiciando satisfação dos empregados. Para isso, as empresas contam com ferramentas de gestão capazes de mobilizar, engajar, utilizar e fomentar as pessoas em suas atividades, a partir de mudanças de conceitos e práticas gerencias, visando resultados satisfatórios. unidade 2 027 FUNDAMENTOS DE RH PAPÉIS DO GESTOR DE PESSOAS Atualmente, para que a gestão de pessoas possa contribuir para a vantagem competitiva das organizações, além de estar atenta aos fatores internos e externos que a influencia, ela precisa desempenhar papéis cada vez mais complexos e variados. Tal realidade tem exigido que os profissonais da área de gestão de pessoas repensem sua atuação, proporcionando um processo de mudanças de suas posições e funções na organização. Dessa forma, a área de recursos humanos passa a buscar soluções para a aquisição de uma visão estratégica, de participação constante e invocação no contexto empresarial. Segundo Ribeiro (2012): Nesta unidade, iniciaremos algumas reflexões acerca da gestão de pessoas, a fim de elucidar a importância da mesma como uma área no contexto organizacional, bem como um comportamento, ou seja, uma forma de gestão. Veremos que cada executivo ou líder de dentro da organização tem a responsabilidade de lidar diretamente com seus subordinados, tomando decisões e definindo objetivos relacionados aos mesmos. Para isso, ele precisa receber assessoria e consultoria do órgão de gestão de pessoas, que lhe proporcionará as políticas e procedimentos adotados pela organização. Dessa forma, se faz necessário saber quais são os papéis e desafios do atual gestor de pessoas e das políticas apresentadas pela GP, analisando a função de staff e de linha da gestão de pessoas. Além de apresentar algumas ações da GP que dinamizam intensamente as potencialidades da empresa contribuindo para o sucesso da mesma. o objetivo principal da área de recursos humanos é administrar as relações da organização com as pessoas que a compõe, consideradas, hoje, parceiras do negócio, e não mais meros recursos empresariais. Essa tarefa passou a ser o maior desafio interno das empresas, em plena era da informação – uma função estratégica demais para permanecer centralizada e monopolizada nas mãos de poucos especialistas, que atuam simplesmente na esfera tática ou operacional. (RIBEIRO, 2012, p. 1) A gestão de recursos humanos passou a ser exercida não apenas pela sua área específica, mas por todos os líderes de equipe,que passaram a ter como atribuição a gestão de pessoas. Essa mudança de perspectiva levou unidade 2 028 FUNDAMENTOS DE RH à descentralização dos processos da administração de recursos humanos, que passaram a ser absorvidos pelas diversas áreas da empresa, sendo responsabilidade de cada líder a gestão de seus colaboradores. Cabe, então, à nova área de RH, atuar como um agente facilitador do processo de gestão de pessoas, propiciando às demais áreas da empresa os recursos e instrumentos necessários a esse novo desafio. As organizações estão priorizando seus desafios de mudanças e transformações. Os papéis assumidos pelos profissionais exigem um reposicionamento que envolve e adiciona valores às organizações e que os conduz a servir aos seus objetivos e à criação de vantagem competitiva. Um dos principais fatores que impulsionam as mudanças dentro das organizações é desempenhado pela gestão de pessoas, que direciona as políticas e práticas relativas ao potencial humano nas empresas. Para Chiavenato (2014), os papéis assumidos pelos profissionais da gestão de pessoas são múltiplos, e estão em constantes mudanças. Eles passaram de operacional e burocrático para estratégico, de curto prazo para longo prazo, de administrativo para consultivo, do foco na função para foco no negócio, conforme a figura: FIGURA 5 – Os novos papéis da gestão de pessoas Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 41. unidade 2 029 FUNDAMENTOS DE RH Outro autor que elucida os papéis da gestão de pessoas é Ulrich. Segundo Ulrich (1997), citado por Chiavenato (2014), a área de gestão de pessoas pode mudar seu foco e contribuir efetivamente para os resultados institucionais. Para isso, os papéis principais da gestão de pessoas são: a. Administração de estratégias de recursos humanos: Como a gestão de pessoas pode ajudar a alavancar a estratégia organizacional, contribuindo para a compreensão e disseminação da mesma. b. Administração da infraestrutura da empresa: Como a gestão de pessoas pode ajudar a organização a ser eficiente e eficaz a partir dos seus serviços oferecidos. c. Administração da contribuição dos funcionários: Como a gestão de pessoas pode ajudar no desenvolvimento do capital intelectual da empresa, ajudando no envolvimento e desenvolvimento de seus funcionários. d. Administração da transformação e da mudança: A característica principal é se tornar o agente da mudança, ajudando a organização a se tornar criativa, renovadora e inovadora. Segundo Ulrich (1997), citado por Chiavenato (2015), a área de recursos humanos deve focalizar não apenas as atividades ou trabalhos a serem feitos, mas também as metas e os resultados esperados, para criar valor e obter resultados. E, a partir daí, estabelecer os papéis e as atividades dos parceiros da organização, apresentados na figura abaixo em que os eixos vertical e horizontal representam o foco e as atividades de RH. O foco vai do estratégico de longo prazo ao operacional de curto prazo, sendo que os profissionais de RH precisam aprender a ser estratégicos e operacionais, focalizando o longo e o curto prazo. As atividades se estendem da administração de processos (ferramentas e sistemas de RH) à gestão de pessoas. unidade 2 030 FUNDAMENTOS DE RH FIGURA 7 – Definição dos papéis da GP propostos por Ulrich Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 43. Para um melhor entendimento dos papéis propostos por Ulrich, ele propõe a consideração de três pontos: os resultados que devem ser atingidos ao executar cada papel, a imagem visual ou a metáfora característica que acompanha cada papel e as atividades que o profissional de RH deve executar ao desempenhar os papéis, conforme o quadro abaixo: FIGURA 6 – Modelo de múltiplos papéis do RH na construção de uma organização competitiva Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 42. unidade 2 031 FUNDAMENTOS DE RH Ao definir os papéis a serem desempenhados pelo profissional de RH, Ulrich deixa claro que este é focalizado como um profissional multifacetado, extremamente capaz e conhecedor de todos os aspectos organizacionais, o que mostra a necessidade de o mesmo se adequar à nova realidade do acirramento da concorrência, necessidade essa decorrente do efeito da globalização e do desenvolvimento tecnológico nas empresas. O autor, porém, não fecha os olhos para os paradoxos (na verdade, desafios) existentes no desempenho de alguns papéis. O maior paradoxo para o profissional de RH é o exercício do papel de parceiro estratégico para a organização, com a defesa dos interesses dos funcionários e empresariais. A resolução desses conflitos exige que as partes envolvidas compreendam que o profissional de RH deve: 1) ser, concomitantemente, a voz da direção e a dos funcionários; 2) deter uma visão inovadora, proativa, com vistas à modernização da empresa. Tal equilíbrio no exercício de ambos os papéis passa pelo processo da confiança mútua a ser estabelecida na organização. O sucesso do desempenho da gestão de pessoas e os resultados favoráveis para a organização dependerão da confiança que a administração da organização depositar no profissional de recursos humanos (enquanto parceiro empresarial) e nos funcionários (participantes do contexto e também parceiros). Enfim, a gestão de RH moderna exige a multiplicidade de funções: parceria estratégica, especialização administrativa, defesa do capital humano e promoção de mudanças. Os papéis desempenhados na organização influenciam direta e indiretamente o seu desempenho competitivo, o modelo apresentado ressalta a importância da gestão de pessoas que interliga o profissional com a organização. Os papéis da gestão de pessoas contribuem significativamente com o desempenho, colaborando com a estratégia organizacional, a eficiência dos serviços prestados, o comprometimento e envolvimento dos colaboradores com a organização, e com a criatividade de uma equipe sólida e inovadora que reduz custos operacionais aumentando valores do capital humano. Segundo Chiavenato (2014), para que essa transformação seja plenamente possível e para que a GP possa se situar na dianteira, e não simplesmente acompanhar de longe e com significativo atraso o que ocorre nas demais áreas da empresa, torna-se necessário que assuma uma nova estrutura e desenvolva novas posturas a fim de dinamizar intensamente as suas potencialidades e contribuir para o sucesso da empresa. (CHIAVENATO, 2014, p.44) unidade 2 032 FUNDAMENTOS DE RH DESAFIOS DO GESTOR DE PESSOAS Em um mundo de mercado caracterizado pela inovação tecnológica, pela globalização, pela forte competição entre organizações, pela gradativa e intensa desregulamentação dos negócios e pelas mudanças demográficas, políticas e culturais – que provocam mudanças rápidas, turbulências e incertezas – as organizações precisam ser rápidas, ágeis e eficazes. A área de recursos humanos deixou de ser um mero departamento de pessoal para se tornar o personagem principal de transformação dentro de uma organização. Como já falamos anteriormente, pouco tempo atrás o departamento de RH atuava de forma mecanicista, em que a visão do empregado prevalecia à obediência e à execução da tarefa, e a do chefe o controle centralizado. Hoje o cenário é diferente, os empregados são chamados de colaboradores/parceiros, os chefes são chamados de gestores, e ambos passam a assumir novas responsabilidades. Segundo Chiavenato (2014), o presidente da organização é responsável pela equipe de diretores; cada diretor é responsável pela equipe de gerentes; cada gerente é responsável pela equipe de supervisores e assim sucessivamente. No contexto atual, os diretores, gerentes, coordenadores, supervisores, dentre outros, são denominados “gerentes de linha” ou líderes, e os mesmos são autorizados a dirigir A figura abaixo ilustra as novas características na nova gestão de pessoas: FIGURA 8 – As novas característicasda GP Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 44. unidade 2 033 FUNDAMENTOS DE RH FIGURA 9 – Liderança de lideranças Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 20. Os profissionais passam a ter um desafio constante no dia a dia de sua profissão. Há uma expectativa de que eles: estejam sempre atualizados, sejam flexíveis, saibam tomar decisões em prol dos objetivos organizacionais, aloquem os recursos de forma inteligente e busquem a valorização das pessoas na organização. Para tanto, as organizações devem possuir recursos, conhecimentos, habilidades e competências e, acima de tudo, líderes que incorporem essas novas características. Todos os líderes passam a ser, de certo modo, gerentes de recursos humanos, uma vez que precisam se envolver em atividades como recrutamento, entrevistas, seleção, treinamento, administração de conflitos, dentre outros. Segundo Araújo e Garcia (2014), o trabalho de seus funcionários e pela realização das metas básicas da organização. Essa “responsabilidade de linha é indelegável e compete a cada executivo de linha de toda organização”. (CHIAVENATO, 2014, p.20) unidade 2 034 FUNDAMENTOS DE RH A mudança no papel dos gerentes é um dos novos paradigmas mais importantes da gestão de pessoas, tornando o desenvolvimento de lideranças um dos assuntos mais recorrentes no contexto organizacional. Desenvolver líderes capazes de alinhar as expectativas do grupo com os objetivos da empresa, além de manter um relacionamento de parceria com os demais e com a área de recursos humanos. As lideranças devem ser legitimadas tanto pelo enfoque do empregado quanto pelo da empresa, para que possam efetivamente atuar como elos entre esses dois polos, buscando agir de maneira conciliatória na resolução dos conflitos surgidos. Assim, um dos maiores desafios da gestão de pessoas é possibilitar a interação de dois grupos de executivos: de um lado os especialistas em GP, que atuam como consultores internos, e de outro lado os gerentes de linha (gerentes, supervisores, etc.), que estão envolvidos diretamente nas atividades de GP por serem responsáveis pela utilização eficaz de seus subordinados. Segundo Chiavenato (2014), a base para uma boa gestão de pessoas é: acreditar no ser humano e seu potencial; estimular os liderados a darem o melhor de si e atingirem padrões de desempenho mais elevados; gostar de ajudar as pessoas a se desenvolverem e atingirem metas cada vez mais desafiadoras; assumir o papel de comando e a responsabilidade que daí advém; adotar condutas que mantenham um vínculo emocional construtivo com as pessoas – respeito, apoio, orientação. Atualmente, a consultoria interna passou a ser uma ferramenta nas organizações, no sentido de detectar os interesses e as necessidades do cliente interno, empregando de maneira eficiente as informações recebidas para o desenvolvimento dos funcionários e dos líderes. Sua finalidade principal é proporcionar o vínculo dos profissionais da área de recursos humanos com os demais. Segundo Ribeiro (2012), o gestor de pessoas deve ser hábil no sentido de identificar eventuais ruídos no relacionamento entre as pessoas, visando ao melhor clima possível, assegurando um desenvolvimento regular dos trabalhos na organização. O melhor clima possível não elimina a existência de conflitos, mas deve eliminar o conflito predador, aquele que só traz a instabilidade e a incerteza. O limite entre o conflito possível e o não aconselhável é sua função. A melhor compreensão sobre limites será dada a partir da história do gestor: seu currículo oculto, sua formação, leituras e a melhor apreensão possível do mundo das organizações. (ARAÚJO e GARCIA, 2014, p. 05) unidade 2 035 FUNDAMENTOS DE RH A implantação do processo de consultoria interna de recursos humanos possibilita a descentralização das informações facilitando o fluxo da comunicação e oferecendo ao seu funcionário melhor atendimento, aproximando-se dele e conhecendo as suas reais necessidades. Essa ferramenta também tem como objetivo elucidar as tendências da área de gestão de pessoas e ter sua atuação de acordo com suas estratégias e com as da organização. PARA QUEM A GESTÃO DE PESSOAS TRABALHA As empresas são estruturadas e administradas de acordo com as teorias que prevalecem, utilizando vários princípios e pressupostos que delineiam as maneiras pelas quais as organizações e seus recursos são geridos. Com a área de gestão de pessoas não é diferente e, sabendo dessa estrutura administrativa nas organizações, podemos desenhar um organograma em que é possível identificar onde se encontra a área de recursos humanos e quem está na sua gerência. Mas será que a gestão de pessoas tem que ser subordinada a alguém? Onde se encontra a gestão de pessoas na estrutura organizacional? Para entendermos para quem a gestão de pessoas trabalha, o conceito de que administrar pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff é imprescindível. Para Chiavenato (2014), o papel principal da área de recursos humanos é fornecer assessoria e consultoria para os gerentes ou líderes de cada área na organização. a consultoria interna é cada vez mais utilizada pelas empresas como forma de integrar a área de recursos humanos aos negócios da organização. A novidade não é mais a mudança que vem ocorrendo na área de recursos humanos, e sim no modo como o profissional deve se preparar para exercer seu trabalho, ou seja, investindo na própria carreira, buscando atualização constante e adquirindo a famosa multifuncionalidade, para que possa atuar como consultor interno de recursos humanos – novo perfil que as empresas têm exigido dos futuros contratados e dos próprios funcionários. (RIBEIRO, 2012, p. 8-9) unidade 2 036 FUNDAMENTOS DE RH Segundo Chiavenato (2014), a atividade integrada e equilibrada de uma tríade constituída por três componentes básicos é a função central da gestão de pessoas. Esses componentes são: Há um princípio básico em GP: gerir pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff. Trata-se de uma responsabilidade indelegável de cada executivo ou líder dentro da organização. Quem deve gerir as pessoas é o próprio executivo ou líder que tem a responsabilidade de lidar diretamente com seus subordinados, tomar decisões a respeito deles, definir seus objetivos individuais ou grupais e padrões de desempenho, liderá-los, orientá-los e engajá- los na organização. (...) Para que o executivo possa assumir com plena autonomia essa responsabilidade de gerir seu pessoal, ele precisa receber assessoria e consultoria do órgão de GP, que lhe proporciona os meios e os serviços de apoio, bom como as políticas e os procedimentos adotados pela organização. (CHIAVENATO, 2014, p. 19-20) 1. Executivo como gestor de pessoas: Presidente, diretor, gerente ou supervisor como líderes de uma equipe de pessoas. 2. Especialista em GP: O profissional de RH, generalista ou especialista, que fornece serviços ou consultoria interna aos executivos da organização. 3. Pessoas: Todas as pessoas que compõem o quadro da organização, sem exceção de nível hierárquico – presidência, diretoria, gerência, executivos e todos os funcionários – ou a área de atualização – como finanças, marketing, produção/ operações e RH. As pessoas estão integradas em equipes sob a condução de um executivo que recebe consultoria interna de executivos da GP. (CHIAVENATO, 2014, p. 20) unidade 2 037 FUNDAMENTOS DE RH A figura abaixo ilustra uma ideia condensada dessa tríade: FIGURA 10 – A tríade que integra a GP Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 20. Segundo Chiavenato (2014), lidar com pessoas sempre foi parte integral da responsabilidade de linha de cada executivo, desde o presidente até o mais baixo nível de supervisão. Assim, para o mesmo autor, as organizações bem-sucedidas definem as seguintes responsabilidades de linhapara os gerentes: • Colocar a pessoa certa no lugar certo, isto é, recrutar e selecionar. • Integrar e orientar os novos funcionários na equipe. • Treinar e preparar as pessoas para o trabalho e para o futuro. • Avaliar e melhorar o desempenho de cada pessoa no cargo ocupado. • Desenvolver relações agradáveis de trabalho e ganhar cooperação. • Interpretar e aplicar as políticas e procedimentos da organização. • Controlar o nível dos custos trabalhistas. • Desenvolver habilidades e competências de cada pessoa. • Criar e manter elevado moral e motivação na equipe. • Proteger a saúde e proporcionar condições adequadas de trabalho. (CHIAVENATO, 2014, p. 25) unidade 2 038 FUNDAMENTOS DE RH As empresas sempre se depararam com o desafio de quanto centralizar ou descentralizar sua área de recursos humanos, na qual sempre predominou forte tendência para a centralização e concentração da prestação de serviços para as demais áreas da organização. Mas, segundo Chiavenato (2014), com o princípio da responsabilidade de linha e função de staff em funcionamento, ocorre uma descentralização da GP no nível dos executivos de linha de um lado, enquanto de outro se mantém a função de assessoria e consultoria interna pelo órgão de GP. FIGURA 11 – A função de staff e a responsabilidade de linha na GP Fonte: CHIAVENATO, 2014, p. 25. Dessa forma, tanto os executivos de linha quanto os profissionais de RH, cada qual no seu papel, visam proporcionar o melhor na condução e gerenciamento das pessoas em direção aos objetivos organizacionais, e simultaneamente possibilitando o alcance dos objetivos individuais. Mas essa interação entre linha e staff não está, necessariamente, livre de conflitos, pois esses executivos tomam decisões sobre as mesmas pessoas. Geralmente, os conflitos ocorrem porque o executivo de staff está preocupado com suas funções básicas de proporcionar consultoria, aconselhamento e informação sobre sua especialidade e ele não tem autoridade para intervir sobre o executivo de linha. Já este, tem plena autoridade para tomar decisões relacionadas com suas atividades e sua equipe de trabalho. unidade 2 039 FUNDAMENTOS DE RH Na tentativa de minimizar o problema, Chiavenato (2014) propõe três maneiras para reduzir o conflito entre linha e staff: 1. Demonstrar aos executivos de linha os benefícios de usar programas de GP. 2. Atribuir responsabilidades por certas decisões de GP exclusivamente aos executivos de linha e outras exclusivamente aos executivos de GP. 3. Treinar ambos os lados executivos de linha e executivos de GP - em como trabalhar juntos e tomar decisões conjuntas. Esta alternativa é mais eficaz se a organização tem um padrão de carreiras que proporciona o rodízio entre posições de linha e de staff. A rotação de cargos entre linha e staff ajuda cada grupo a compreender melhor os problemas do outro lado. (CHIAVENATO, 2014, p. 23) Os executivos de linha preparados e orientados pela área de recursos humanos passam a ser os novos gestores de pessoas, o que significa uma ampliação das decisões e ações a respeito das pessoas na organização, não sendo mais uma exclusividade da área de ARH. O importante é que haja colaboração, cooperação e integração entre ambas as partes – entre executivos de linha e executivos de GP – na perspectiva de contribuir para a eficiência e eficácia da GP. PROMOVENDO AS AÇÕES DE GESTÃO DE PESSOAS (ENDOMARKETING) Nas organizações, uma das principais preocupações dos gestores tem sido descobrir novas formas e mecanismos de promover a motivação e a satisfação no ambiente de trabalho, com o intuito de integrar os trabalhadores aos objetivos e às estratégias organizacionais. Assim, tem-se discutido uma relação entre marketing, endomarketing e gestão de pessoas. Segundo Kotler (2000), marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas podem obter aquilo de que necessitam e desejam, por meio da criação, oferta e troca de produtos e serviços. Já o endomarketing ou marketing interno, com também é conhecido, vem sendo apresentado como uma alternativa moderna para aumentar a relação entre organizações e seus funcionários. Segundo França (2008), unidade 2 040 FUNDAMENTOS DE RH Sendo assim, o endomarketing se tornou uma importante ferramenta de gestão de pessoas para a empresa devido ao fato que tem como premissa básica o alinhamento entre funcionários e os objetivos organizacionais da empresa. Segundo Bekin (1995), citado por França (2008), o endomarketing compreende algumas atividades, que são: • A comunicação interna: É a principal técnica do endomarketing que visa facilitar e fortalecer o vínculo e relacionamento entre empresa e funcionários. As funções da comunicação se referem ao controle, à motivação, à expressão emocional e às informações organizacionais; • Recrutamento e seleção: Quando a empresa conhece o perfil do profissional necessário para seu quadro de funcionários, ela tende a evitar a ineficiência e rotatividade organizacional; • Treinamento sob a óptica de educação e desenvolvimento: O treinamento é fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários; • Planos de carreira: Visam a perspectiva de crescimento profissional na própria empresa; • Motivação, valorização, comprometimento e recompensa: O endomarketing se preocupa com motivação dos funcionários buscando apoiar medidas importantes para sua concretização; • Pesquisa de mercado de clientes internos: Faz-se um diagnóstico para identificação de necessidades e desejos dos funcionários, bem como identificar as falhas da organização que necessitam de correções; • Segmentação do mercado de clientes internos: A proposta é criar segmentos homogêneos com a finalidade de adequar os produtos aos específicos segmentos buscando a qualidade; O marketing visa à satisfação das necessidades e desejos dos clientes, por entender que é dessa satisfação que vem o sustento da empresa. Assim, preza o bom relacionamento entre a empresa e seus clientes, caracterizado pela troca de bens e serviços por recursos financeiros. O endomarketing, por sua vez, cuida do relacionamento entre a empresa e seus empregados. Isso significa que os empregados passam a ser tratados como clientes internos, cujas necessidades e desejos precisam ser satisfeitos. (FRANÇA, 2008, p. 149) unidade 2 041 FUNDAMENTOS DE RH • Demissão: É considerado o momento mais delicado na gestão de pessoas, fazendo-se necessárias algumas medidas, como comunicação interna dos recursos reais da organização, programas de demissão voluntária, serviços de recolocação, entre outros. Como podemos perceber, as atividades do endomarketing são coincidentes às atividades da gestão de pessoas, o tornando um modelo de gestão de pessoas que faz uso de conceitos e técnicas de marketing. Segundo França (2008), o endomarketing, na sua função de atrair, desenvolver, motivar e comunicar- se com os empregados, faz uso dos processos de RH – recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, remuneração e planejamento de carreira. E também utiliza de técnicas oriundas do marketing, como comunicação, pesquisa e segmentação de mercado. (FRANÇA, 2008, p. 151) Como vimos nos itens anteriores, a responsabilidade em assumir a autoria dos processos referentes ao público interno passa a ser de todos os gestores da organização. Com a comunicação não é diferente, é responsabilidade de todos. Porém, repassá-las no tempo certo através de canais adequados com coerência e transparência é tarefa do programa de endomarketing, que geralmente é coordenado pela área de gestão de pessoas, pela área de marketing, pela parceria entre as duas áreas e pelos demais gestores da organização. O endomarketing deve ser trabalhado como uma ferramenta de comunicação e integração,
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