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RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 1 SP 1.4 – E TINHA COMO PIORAR... – INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMA 1. ESTUDAR A INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA CONCEITO A insuficiência respiratória aguda (IRespA) é uma síndrome definida pela incapacidade do organismo em realizar as trocas gasosas de forma adequada, de instalação aguda, decorrente da disfunção em um ou mais componentes do sistema respiratório (parede torácica – pleura e diafragma, vias aéreas, alvéolos, circulação pulmonar, sistema nervoso central e periférico). Há incapacidade de fornecer suprimento de O2 suficiente para a manutenção do funcionamento do organismo (diminuição na oxigenação) e/ou incapaz de eliminar gás carbônico (CO2) de maneira adequada (diminuição na ventilação). É válido ressaltar que esses mecanismos podem ser comprometidos de forma independente. Acarreta riscos potenciais à vida, visto que os tecidos não possuem estoque de O2. A velocidade de instalação determina a sua classificação em aguda ou crônica. A diferenciação entre uma forma e outra pode ser esclarecida pela velocidade de instalação dos sintomas e pela gasometria. → Na insuficiência hipercápnica crônica, há tempo da melhor compensação do pH promovido pela alcalose metabólica, compensando a acidose respiratória (pH normal). → Quando há descompensação aguda dos retentores crônicos, surge acidose respiratória mais intensa (pH abaixo do normal). EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO No Brasil, um estudo realizado em 12 UTIs do Hospital das Clínicas da FMUSP em 2011 revelou que dos 1.732 pacientes avaliados, 57% apresentaram IRespA. Dos 889 pacientes que foram admitidos sem IRespA, 141 (16%) desenvolveram essa síndrome na UTI. Os fatores de riscos independentes para o desenvolvimento de IRespA foram idade maior que 64 anos, período de tempo prolongado entre admissão hospitalar e transferência para UTI, cirurgia não programada ou outra condição clínica grave. Dos 984 pacientes que apresentaram IRespA, 475 (48%) evoluíram a óbito na UTI. Da análise, os fatores prognósticos independentes de evolução para óbito foram idade superior a 64 anos, tempo entre admissão hospitalar e transferência para UTI superior a 4 dias, instalação de IRespA já no ambiente da UTI, maior gravidade da doença da admissão na UTI (SAPS superior a 26) e histórico de neoplasia hematológica e SIDA. CLASSIFICAÇÃO A função respiratória é dividida em dois componentes: a ventilação pulmonar e a troca gasosa nas unidades alveolares. Por conta disso, podemos encontrar dois tipos diferentes de Insuficiência Respiratória (IR): • Tipo I: Insuficiência respiratória HIPOXÊMICA; Critério gasométrico: PaO2 < 60mmHg • Tipo II: Insuficiência ventilatória ou IR HIPERCÁPNICA. Critério gasométrico: PaCO2 > 50 mmHg (exceto para pacientes retentores crônicos de CO2) RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 2 1) Insuficiência respiratória tipo 1: HIPOXÊMICA Em geral, surge devido à incapacidade do organismo em oxigenar o sangue. Os dois principais mecanismos fisiopatológicos de hipoxemia em pacientes na UTI e na sala de emergência são distúrbio V/Q e shunt intrapulmonar. ➔ DISTÚRBIO VENTILAÇÃO/PERFUSÃO (V/Q): Em condições fisiológicas, a relação V/Q é heterogênea no parênquima pulmonar. A ventilação e a perfusão são maiores nas bases do que nos ápices pulmonares. A vasoconstrição hipóxica é um fenômeno fundamental para compensar distúrbios pulmonares que acarretam desbalanço da relação ventilação/perfusão. Em condições intraparenquimatosas cujos mecanismos compensatórios são insuficientes, há evolução com hipoxemia. Podem ocorrer duas situações: • Efeito shunt (alvéolos perfundidos, e não ventilados) • Espaço morto (alvéolos ventilados, mas não perfundidos). → Efeito espaço-morto: É a alteração mais frequentemente associada a hipoxemia, observa-se hipoxemia com elevação do gradiente A-a (Alvéolo arterial), geralmente corrigida com a administração de O2. Nos casos muito graves, o efeito está relacionado à retenção de CO2. Consiste em um predomínio de unidades alveolares mal perfundidas e bem ventiladas. Exemplos: choque, hipovolemia, embolia pulmonar. → Shunt intra e extrapulmonar Trata-se de uma forma extrema de distúrbio ventilação/perfusão. No caso do shunt intrapulmonar, há um distúrbio grave da troca gasosa no qual o sangue perfunde o pulmão, porém não é oxigenado, uma vez que os alvéolos estão colapsados ou preenchidos por fluido ou material inflamatório. Fisiologicamente, o sangue proveniente das artérias pulmonares atinge o átrio esquerdo pelas veias pulmonares sem ser minimamente oxigenado, por isso a denominação shunt (desvio). Difere do espaço-morto por não haver a compensação da hipoxemia pela administração de O2. Exemplos: pneumonias, SDRA, atelectasias. Uma das formas de diferenciar as condições supracitadas é a administração de oxigênio em alto fluxo (100%). No distúrbio V/Q há correção da hipoxemia. Já no shunt, a taxa de correção da hipoxemia é menor, frequentemente ausente. Outros mecanismos menos frequentes que podem cursar com hipoxemia são: Difusão de gases prejudicada por espessamento da membrana alvéolocapilar: em repouso e em condições pulmonares fisiológicas, as concentrações de O2 alveolar e capilar se equilibram no primeiro terço da extensão da área de hematose (considerando-se isoladamente uma unidade alveolar). Quando há espessamento da membrana, por exemplo na fibrose pulmonar, esse equilíbrio será mais tardio na superfície de troca e, em condições de esforço ou alto débito cardíaco, insuficiente. O resultado, caso muitas unidades alvéolo-capilares estejam envolvidas, é o aumento do G (A-a) (Alvéolo arterial) e consequente hipoxemia induzida por esforço ou até em repouso em circunstâncias de extenso acometimento parenquimatoso. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 3 É desencadeada pelo aumento da espessura da membrana alveolocapilar, como no acúmulo de proteínas e no edema intersticial. Consequentemente, há diminuição da difusão do O2 alveolar para o capilar pulmonar. A administração de O2 reverte a hipoxemia. Hipoventilação alveolar: é uma causa de IRespA do tipo 2 que também pode cursar com hipoxemia. Em geral, ocasionada por situações que levem a diminuição da ventilação ou expansibilidade da caixa torácica, como intoxicações por depressores do sistema nervoso central e redução da complacência da caixa torácica (cifoescoliose, queimadura elétrica torácica circunferencial, aumento do volume abdominal). Ganha importância clínica à medida que a população mundial se torna mais obesa, e aumenta a incidência da síndrome da hipoventilação alveolar associada à obesidade. Nessas ocasiões, o gradiente A-a (Alvéolo arterial) é normal. Baixa pressão inspirada de oxigênio (PiO2): ocorre em altas altitudes em condições fisiológicas. Vale ressaltar que em elevadas altitudes a fração de O2 no ar atmosférico continua em 21%. Porém, uma vez que o ar é rarefeito, a pressão parcial de O2 se reduz. Também pode ocorrer devido à diminuição ou interrupção de fornecimento de O2 ao paciente – p. ex., término de O2 no cilindro, desconexão do circuito de O2 etc. Vale lembrar que em pacientes com doença pulmonar crônica, a PaO2 basal pode encontrar-se abaixo de 60 mmHg. Nesses pacientes, habitualmente se considera IRespA quando a PaO2 se encontra 10% abaixo do valor basal. ____________________________________________ 2) Insuficiência respiratória tipo 2: HIPERCÁPNICA A hipercapnia é definida como uma elevação na pressão parcial de CO2 (PaCO2). Os níveis de CO2 arterial são diretamenteproporcionais à taxa de produção de CO2 tecidual (VCO2), e inversamente proporcionais à taxa de eliminação do CO2 pelos alvéolos (ventilação alveolar). A ventilação alveolar (Va) é definida pelo volume minuto expirado proveniente de áreas pulmonares perfundidas. Sendo assim, é determinada pelo volume minuto expirado (Ve) e a razão entre o espaço morto (Vd) e o volume corrente (Vt). PaCO2 = (k) × VCO2/[VE(1 – VD/VT)] Dessa forma, a elevação da PaCO2 pode resultar tanto do aumento da produção em situações de alta demanda metabólica (p. ex., sepse, grandes queimados, febre) como da diminuição da excreção de CO2. Salienta-se que o espaço morto é definido por áreas pulmonares que não realizam trocas gasosas, por serem ventiladas, mas não perfundidas. O espaço morto pode ser compreendido por: Anatômico: região localizada entre as vias aéreas superiores e os bronquíolos terminais, na qual o O2 e o CO2 não podem ser trocados. Alveolar: o espaço morto alveolar reflete áreas alveolares que são ventiladas, porém possuem sua perfusão diminuída ou ausente. Desta forma, o espaço morto alveolar é o inverso do shunt (áreas não ventiladas, porém perfundidas). O aumento do espaço morto alveolar é o principal mecanismo de hipercapnia em pacientes com doenças pulmonares (DPOC, fibrose intersticial, vasculites pulmonares). Fisiológico: é a combinação do espaço morto anatômico com o alveolar. A redução do volume minuto alveolar é seguramente a principal causa de hipercapnia. Na prática clínica, DPOC é o protótipo de doença associada a aumento da PaCO2. O grande marco da insuficiência da ventilação pulmonar é a hipercapnia (retenção de CO2) levando à acidose respiratória. Durante a hipoventilação, o ar alveolar não é adequadamente renovado, acumulando CO2 (que continua vindo dos capilares). O resultado é um aumento da Pco2 alveolar, fazendo aumentar automaticamente a Pco2 arterial (hipercapnia), Quando a hipercapmia se desenvolve de forma lentamente progressiva, há tempo suficiente para os rins reterem bicarbonato, numa resposta compensatória bastante eficaz para manter os pHs sanguíneos próximos a normalidade, como acontece nos retentores crônicos de CO2, ou seja, nos pacientes RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 4 com DPOC ou com síndrome de Pickwick (obesidade + apneia do sono). Ao analisarmos uma gasometria de um paciente com DPOC compensado, observamos uma acidose respiratória crônica (paco2 e bicarbonato aumentados, mas pH discretamente reduzidos). Por definição, nesse distúrbio acidobásico teremos uma base excess elevado, representando a retenção de bases (bicarbonato) pelo organismo. O paciente tolera muito bem a acidose respiratória crônica, mantendo-se lucido e ativo. Ex 1: pH = 7,32; PaCO2 = 80 mmHg; HCO3 = 40 mEq/L; BE = +10 mEq/L Já no paciente com uma DPOC descompensada, vamos ter uma acidose respiratória crônica agudizada. Na qual temos um aumento de PCO2, em um tempo rápido que não permitiu que os rins retessem mais base. Por isso, a tendência é o pH despencar, porem mantendo uma base excess elevado. Ex 2: pH = 7,15; PaCO2 = 120 mmHg; HCO3 = 42 mEq/L; BE = +10 mEq/L Já em um paciente com uma acidose respiratória aguda, observamos um pH sanguíneo muito mais baixo e um base excess normal. Isso significa que esse distúrbio pode ter ocorrido em algumas horas ou poucos dias. O paciente não tolera esse distúrbio, evoluindo rapidamente com a síndrome da carbonarcose, marcada por acidose grave, redução do sensório, edema cerebral, instabilidade hemodinâmica e até PCR. Ex 3: pH = 7,15; PACO2 = 80 mmHg; HCO3 = 27 mEq/L; BE = +1,5 mEq/L. 3) MISTA Ocorre associação entre os dois tipos. Um exemplo são casos de pacientes com IRespA tipo I (hipoxêmica) que, na tentativa de compensação de hipoxemia, evoluem com fadiga da musculatura respiratória, evoluindo com hipercapnia importante. Vale ressaltar que isso ocorre em fase avançada da IRespA hipoxêmica. ETIOLOGIA RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 5 FISIOPATOLOGIA As trocas gasosas são reguladas pelos pulmões, que possuem como finalidade ofertar oxigênio ao sangue e consequentemente aos tecidos, e remover o CO2 produzido por meio do metabolismo celular. O oxigênio é transportado no sangue de duas formas – uma pequena quantia dissolvida no plasma (devido a sua baixa solubilidade), e a segunda e mais importante: ligado à molécula de hemoglobina. Em condições normais, grande parte da hemoglobina está saturada com oxigênio, sendo essa concentração demonstrada pela saturação de O2 (SatO2), visto que os níveis de hemoglobina são constantes. A curva de dissociação da hemoglobina demonstra a relação entre a SatO2 e a pressão parcial arterial de O2 (PaO2). O formato curvilinear evidencia dois aspectos peculiares protetores contra a hipóxia tecidual. A região superior em platô demonstra que reduções significativas na PaO2 ainda são compatíveis com uma SatO2 próxima da normalidade. A porção de queda íngreme da curva mostra que, a despeito da rápida dessaturação, a PaO2 se mantém relativamente preservada. Essa observação aponta para a continuidade de oferta tissular de O2 mesmo na vigência de níveis reduzidos de SatO2. A capacidade da hemoglobina de carrear O2 é regulada por diversos fatores metabólicos que regulam a eficiência da oxigenação tecidual e da captação de O2 nos pulmões. A curva é desviada para a direita (efeito Bohr) em situações de aumento de temperatura, aumento da pressão parcial de CO2 ou de H + (redução de pH) ou aumento de 2,3- difosfoglicerato, o que facilita a liberação de O2 aos tecidos. O oxigênio inspirado é transferido dos alvéolos pulmonares para a corrente sanguínea nos capilares pulmonares. Na circunstância de diminuição da pressão parcial de O2 na corrente sanguínea (PaO2), os quimiorreceptores localizados no seio carotídeo irão estimular a ventilação para aumentar a disponibilidade de oxigênio nos pulmões e consequentemente na corrente sanguínea. Ademais, em áreas com diminuição da PO2 alveolar, ocorrerá vasoconstrição para desviar o sangue para áreas mais ventiladas – processo conhecido como vasoconstrição hipóxica. A capacidade de fornecer oxigênio aos tecidos é sintetizada pela fórmula DO2 = CaO2 × Q, sendo o CaO2 o conteúdo arterial de oxigênio (função principalmente da hemoglobina e de sua saturação por oxigênio) e Q o débito cardíaco. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 6 Logo, anemias profundas reduzem a oferta de O2 ao limitarem o CaO2 (dependente da hemoglobina, da SatO2 e da PaO2). A diminuição da capacidade de transporte de oxigênio estimula as células peritubulares renais a produzirem eritropoietina, hormônio que determina o aumento da massa eritrocitária – porém, esse processo leva de dias a semanas para ser completo. O CO2 é produto do metabolismo celular. Sua eliminação se dá por meio do transporte pela corrente sanguínea até os capilares alveolares e exalação pelos pulmões. Também há excreção renal, onde o CO2 e água formam o ácido carbônico (H2CO3), que se dissocia em H + e HCO3 – . O CO2 é altamente solúvel no sangue, sendo carreado principalmente de três formas: bicarbonato (70-85%), dissolvido (5-10%) e ligado à hemoglobina (10- 20%). Uma vez que o seu transporte não é limitado por uma molécula carreadora, diferentemente do oxigênio, sua concentração não é expressada na forma de saturação. Dada a proporcionalidade linear entre pressão parcial de CO2 (PaCO2) e seu conteúdo corporal, conforme ilustrado na Figura 2, resume-se o transporte de CO2 à PaCO2, com níveis finamente regulados de normalidade entre 35 e 45 mmHg. A elevação da PaCO2 estimula a ventilação,o que aumenta sua eliminação pelos pulmões. Em algumas situações, a exemplo de pacientes com DPOC, esse mecanismo é menos eficaz. Conforme pormenorizado a seguir, situações de prejuízo à ventilação alveolar acarretam hipercapnia. A exalação adequada do CO2 é essencial para manutenção do pH plasmático em níveis adequados – alterações agudas/crônicas da PaCO2 ativam mecanismos de compensação. AVALIAÇÃO DA OXIGENAÇÃO Os principais mecanismos utilizados para a avaliação de oxigenação em pacientes críticos são: Saturação de oxigênio (SatO2) A SatO2 avalia a proporção de hemoglobina à qual há O2 ligado. Pode ser mensurada tanto não invasivamente por oximetria de pulso (método mais comum), como invasivamente, por coleta de gasometria arterial. Os valores considerados normais não são bem estabelecidos, assim como os limiares fidedignos para hipóxia tecidual. Porém, considera-se normal o valor de SatO2 > 95% em repouso. ! Em pacientes com doenças pulmonares crônicas, como por exemplo DPOC avançada, o limiar pode ser menor (SatO2 88-92%). ____________________________________________ Pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2) A PaO2 reflete a concentração de oxigênio dissolvido no plasma. É mensurada pela gasometria arterial. Os valores para normalidade também não são bem estabelecidos, porém admite-se PaO2 > 80 mmHg como normal. ____________________________________________ Gradiente alvéolo-arterial de oxigênio [G (A-a)] O gradiente alvéolo-arterial é definido pela diferença entre a concentração de oxigênio alveolar (PAO2) e a concentração de oxigênio arterial (PaO2). G (A-a) = PAO2 – PaO2 Como não há como determinar a PAO2, foi criada uma fórmula para mensurá-la, que é calculada através da equação do gás alveolar: PAO2 = (FiO2 × [Patm – PH2O]) – (PaCO2 ÷ R) RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 7 Podemos simplificar a fórmula para: G (A-a) = 150 – (PaCO2 × 1,25) – PaO2 O G (A-a) se eleva com a idade, e pode ser estimado pela equação: G (A-a) esperado = 2,5 + 0,21 × idade em anos Os valores exatos do G (A-a) podem variar conforme a fonte de suplementação de oxigênio, sendo que nesses casos valores em ar ambiente, ventilação mecânica e uso de máscara não reinalante (FiO2 100%) são mais fidedignos. Em geral, assumimos que o G (A-a) é normal quando < 10 mmHg. O gradiente alvéolo-arterial pode auxiliar na diferenciação da hipoxemia decorrente de hipoventilação alveolar difusa ou alterações de trocas gasosas por condições pulmonares intrínsecas. Valores normais de G (A-a) na vigência de hipoxemia sugerem hipoventilação alveolar – por exemplo, uso de sedativos/opioides, doenças neuromusculares. Já valores superiores ao esperado sugerem alterações no processo de oxigenação, como efeito shunt, distúrbio V/Q e alterações na barreira de troca. ____________________________________________ PaO2 /FiO2 A relação PaO2 /FiO2 é geralmente utilizada durante a ventilação mecânica invasiva e não invasiva. Sua aplicabilidade em situações em que a via aérea não está pressurizada é incerta. Os valores entre 300-500 mmHg são considerados normais. Desta forma, consideramos que o paciente apresenta algum distúrbio da troca gasosa no caso de valores < 300 mmHg; valores abaixo de 200 mmHg indicam hipoxemia grave. QUADRO CLÍNICO ▶ Aparência: Sudorese, cianose (paO2 abaixo de 50 mmHg), uso de musculatura acessória, tiragem intercostal (retração inspiratória dos espaços intercostais), cornagem; ▶ Hemodinâmica: Taqui/bradicardia, hiper/hipotensão, arritmias; ▶ Ausculta: Roncos/sibilos (asma/DPOC), estertores (pneumonia, congestão pulmonar), ausência de murmúrio vesicular (atelectasia, derrame pleural, silêncio auscultatório). ................................................................................... Não é possível definir um valor determinado de hipoxemia que represente risco a todos os pacientes. Alguns com doença pulmonar crônica são previamente habituados a saturações tão baixas quanto 80%, embora outros já apresentem alterações clínicas quando discretamente hipoxêmicos. Alterações neurológicas são esperadas quando a PaO2 cai rapidamente a níveis menores que 45 mmHg (SatO2 aproximada de 80%), com possível perda de consciência abaixo de 30 mmHg. Nos pacientes com insuficiência respiratória aguda, a taquipneia é a alteração no exame físico mais frequente (FR > 20 ipm), principalmente naqueles com IRespA hipoxêmica. Além disso, observam-se sinais de uso de musculatura acessória, como batimento de asa de nariz, tiragem intercostal, retração de fúrcula e, em casos mais graves, respiração paradoxal (fadiga da musculatura diafragmática); gasping não é considerado um padrão com incursões respiratórias adequadas e o paciente deverá ser manejado como parada respiratória. A despeito dessas considerações, é frequente que muitos pacientes hipoxêmicos apresentem-se ao departamento de emergência apenas com sintomas inespecíficos, como agitação ou confusão, sem desconforto respiratório evidente. Outro achado que pode ocorrer é a cianose. A cianose central ocorre quando os níveis séricos de desoxi- RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 8 hemoglobina são superiores a 4 g/dL – é um sinal tardio de hipoxemia. Em pacientes com anemia, a cianose pode ocorrer de forma ainda mais tardia. Uma gama variada de achados clínicos é dependente da gravidade da hipóxia tecidual e suas respectivas disfunções orgânicas, da acidose respiratória (quando presente) e da causa primária da condição. A insuficiência respiratória hipercápnica (do tipo 2) pode se apresentar de forma mais sutil. A taquipneia frequentemente é menos proeminente, caso presente. Vale ressaltar que se a causa da hipercapnia é depressão respiratória por acometimento central ou por drogas depressoras do SNC, o paciente invariavelmente estará eupneico ou bradipneico, nunca taquipneico. Os sinais precoces podem ser sutis e incluem agitação, fala indistinta, asterixis (flapping) e diminuição do nível de consciência. As manifestações variam conforme a gravidade e a rapidez de instalação. Vale ressaltar que indivíduos normais geralmente não apresentam rebaixamento do nível de consciência com níveis de PaCO2 < 75-80 mmHg; enquanto pacientes com hipercapnia crônica não costumam apresentar sintomas com níveis de PaCO2 < 90-100 mmHg. Outros sinais podem ser observados na hipercapnia, como sibilância (sugerindo broncoespasmo – asma ou DPOC), crepitações (sugerindo preenchimento alveolar – consolidações ou edema agudo de pulmão) ou ainda diminuição do murmúrio vesicular (sugerindo pneumotórax, derrames pleurais). DIAGNÓSTICO A avaliação diagnóstica da IR engloba a anamnese e o exame físico. Com base nessa avaliação, procuram-se definir o tipo e a causa com o auxílio de exames laboratoriais e radiológicos. ANAMNESE E EXAME FÍSICO A história clínica é de grande importância para o diagnóstico etiológico da IR. O tempo de instalação dos sintomas e a presença de tosse, secreção, dor torácica, febre e progressão da dispneia são alguns dos dados que devem ser colhidos. Apesar de ser um sintoma cardinal na hipoxemia, a dispneia nem sempre está presente, mesmo em situações de hipoxemia intensa. Antecedentes de tabagismo, asma, bronquite crônica, trauma e cirurgia torácica também são de grande valia na anamnese. O paciente confuso, diaforético, com a fala entrecortada ou incapaz de falar, cianótico, utilizando musculatura respiratória acessória (retração da fúrcula esternal, retração da musculatura intercostal e escalenos) e respiração paradoxal (elevações intercaladas entre o tórax e o abdome durante o ciclo respiratório), obviamentenecessita de suporte ventilatório, prioritário à determinação do tipo de IR associado ao quadro. A história sugestiva de insuficiência respiratória aguda de causa pulmonar inclui tosse — produção de escarro e hemoptise — e dor torácica pleurítica — sibilância. ____________________________________________ EXAMES COMPLEMENTARES 1) GASOMETRIA ARTERIAL A gasometria arterial é essencial na avaliação do paciente com IRespA. TIPOS: A gasometria arterial permite classificar a IRespA em tipo 1 e tipo 2, → TIPO 1: Para diferenciar com precisão a insuficiência ventilatória da insuficiência respiratória hipoxêmica RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 9 (distúrbio V/Q ou shunt), utilizamos o cálculo do gradiente alveoloarterial de oxigênio: (P(A-a)O2) É a diferença entre a pO2 alveolar (PAO2) e a pO2 arterial (PaO2). Simplificando, o gradiente nos informa como está a passagem do oxigênio do alvéolo para o capilar. Para levar quadros de hipoxemia, a diferença do ar no alvéolo para o vaso está alta, porque estamos com problema de entrar oxigênio no vaso. Dessa forma, o gradiente vai estar alto {G(Aa) O2>15- 20}. → TIPO 2: Já na hipercapnica, como o problema é no CO2, o oxigênio vai estar atravessando livremente, então esse gradiente vai estar normal {G(A-a)O2 <10-15}. ....................................................................................... GRADIENTE ALVEOLAR-ARTERIAL: A gasometria arterial permite realizar o cálculo do G (A-a). Em pacientes com PaCO2 elevada (> 45 mmHg) e um gradiente A-a dentro da normalidade, há alta suspeição de hipoventilação global. Naqueles com G (A-a) alto e PaCO2 elevada, sugere-se a presença de doença pulmonar intrínseca que possa contribuir para a IRespA. ....................................................................................... GRAVIDADE: Além de poder avaliar a gravidade da hipoxemia: Relação PaO2 /FiO2 < 200 mmHg denota hipoxemia grave. ....................................................................................... CLASSIFICAR TEMPO: A gasometria arterial ainda auxilia a distinguir se a IRespA tipo 2 é aguda, crônica ou crônica agudizada. Na acidose respiratória crônica compensada, a PaCO2 está acima do limite (45 mmHg), porém o pH é normal ou próximo ao normal (pH 7,33-7,35) – secundária compensação renal. Nesses pacientes, a compensação renal ao distúrbio crônico fica evidente pela elevação de valores séricos de bicarbonato, que é uma marca da retenção crônica de CO2. Já em pacientes com acidose respiratória aguda ou crônica agudizada, a PaCO2 está acima do limite (45 mmHg), acompanhada por acidemia (pH < 7,35). Em pacientes com acidose respiratória crônica agudizada, o pH é inferior ao predito. ____________________________________________ 2) ELETROCARDIOGRAMA O eletrocardiograma é fundamental na avaliação do paciente crítico. Pode auxiliar na averiguação de doenças cardiológicas – sinais que sugiram cardiopatia podem estar presentes em pacientes com edema agudo de pulmão cardiogênico, síndrome coronariana aguda; sinais de isquemia ou infarto levando a insuficiência respiratória – p. ex., choque cardiogênico; sinais indiretos que podem auxiliar no diagnóstico etiológico da IRespA – como padrão S1Q3T3, bloqueio de ramo direito em pacientes com suspeita de tromboembolismo pulmonar; taquicardia atrial multifocal em pacientes com DPOC etc. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 10 3) RAIO X DE TÓRAX O raio X de tórax auxilia na identificação etiológica. Devido à sua praticidade e disponibilidade, pode ser realizado no leito na sala de emergência, assim que se tenha garantido a estabilização inicial. As alterações no raio X de tórax podem demonstrar a causa (infiltrados bilaterais, consolidações, sinais de bronquiectasias, contusão pulmonar), assim como possíveis complicações associadas (pneumotórax, derrame pleural, hemotórax). A presença de infiltrado localizado sugere pneumonia, neoplasia ou infarto pulmonar, enquanto alterações difusas sugerem SDRA, edema pulmonar cardiogênico, hemorragia alveolar ou infecções, como pneumocistose e tuberculose miliar. ____________________________________________ 4) TOMOGRAFIA (TC) DE TÓRAX A TC de tórax pode apresentar sinais que auxiliem na identificação da etiologia da IRespA, assim como edema agudo de pulmão, doença pulmonar crônica (intersticiopatia, DPOC, bronquiectasias), pneumotórax etc. Salienta-se que a estabilidade clínica deve ser levada em consideração para eventual transporte à sala de tomografia. Em pacientes com alta probabilidade pré-teste para tromboembolismo pulmonar (TEP), ou baixa probabilidade pré-teste que tenham D-Dímero > 500 ng/mL (ver capítulo específico), a angiotomografia de tórax pode evidenciar falhas de enchimento da artéria pulmonar e seus ramos, diagnosticando ou excluindo TEP. TRATAMENTO O tratamento da insuficiência respiratória visa à manutenção fisiológica do sistema respiratório, ou seja, prover oxigenação suficiente aos tecidos e a remoção do CO2 de forma adequada, até que a causa básica que levou à IRespA seja controlada. Assim, a definição do fator etiológico é de suma importância, visto que as medidas de suporte auxiliam como ponte até o tratamento definitivo. De forma sistemática, o ABCDE é a primeira etapa na avaliação do paciente com insuficiência respiratória aguda. Airway (vias aéreas): assegurar que a via aérea está pérvia é o primeiro passo. Caso a avaliação inicial demonstre via aérea obstruída, devemos desobstruí-la para permitir a ventilação de forma adequada. Em casos de obstrução alta, a laringoscopia ou broncoscopia podem ser necessárias para a remoção do corpo estranho. Em pacientes com obstruções glóticas ou infraglóticas, a realização de cricotireoidostomia ou traqueostomia de emergência pode ser necessária. Breathing (respiração): os pacientes que apresentam via aérea pérvia, porém sem respiração espontânea e/ou com rápida deterioração clínica, comprometimento orgânico e/ou ausência de reflexo faríngeo/proteção de via aérea, devem ser prontamente submetidos a intubação orotraqueal. Naqueles que apresentam vias aéreas pérvias e possuem respiração espontânea, a suplementação de oxigênio em pacientes hipoxêmicos objetivando correção da oxigenação de forma adequada até a intervenção na causa básica será a próxima etapa do tratamento. A oxigenação pode ser reavaliada acuradamente por meio da oximetria de pulso e da gasometria arterial. ....................................................................................... O paciente com queixa de dispneia ou desconforto respiratório apresenta necessidade de avaliação emergencial com suplementação de O2, até ser determinado que ele não esteja hipoxêmico. O suporte com oxigenoterapia tem como objetivo saturação de O2 maior do que 90% e paO2 acima de 60 mmHg, para que não ocorra lesão tecidual causada pela hipoxemia. Para tal suporte, podemos utilizar vários dispositivos, como cateteres nasais, máscaras faciais e, em casos selecionados, ventilação não invasiva e ventilação mecânica invasiva. São princípios gerais do tratamento: • Manter via aérea adequada: intubação orotraqueal, aspiração das vias aéreas, fisioterapia respiratória; RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 11 • Corrigir oxigenação inadequada: suplementação de O2 (para saturação maior que 90%); • Tratar a causa-base da IR: pneumonia, intoxicação exógena por opiáceos, DPOC descompensado, crise asmática; • Manter o débito cardíaco e o transporte de O2 adequados: garantia de níveis pressóricos adequados: hidratação, drogas vasoativas; manutenção de níveis adequadosde hemoglobina (Hb)/hematócrito (Ht); • Prevenir complicações do tratamento (barotrauma/volumotrauma): evitação de pressões de pico/platô muito altas. ____________________________________________ VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA (VNI): Refere-se à ventilação com pressão positiva mediada por uma interface (nasal, oronasal, máscara facial e capacete), sem a necessidade de intubação orotraqueal. É indicado para pacientes incapazes de manter ventilação espontânea. Oferece altos fluxos de 02 com FiO2 variáveis e ajustáveis. Principais indicações: DPOC exacerbada, Pneumonias, Edema agudo de pulmão, doenças neuromusculares, asma. Principais contraindicações: parada respiratória, instabilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível de consciência, pneumotórax, trauma de face. ____________________________________________ VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA É considerada tratamento-padrão para casos mais graves ou refratários de IR e está indicada quando o paciente não é capaz de realizar trocas gasosas adequadamente, mesmo com suplementação de O2. A ventilação mecânica invasiva necessita de acesso endotraqueal (cânula vaso ou orotraqueal, traqueostomia ou cricotireoidostomia), por isso está sujeita a maiores complicações, além de necessitar de ambiente de terapia intensiva. Tem como objetivos reverter a hipoxemia, a acidose respiratória aguda e a fadiga muscular e reduzir o consumo de O2 sistêmico e miocárdico, além de permitir sedação e analgesia adequadas para cada caso. Indicação: Anormalidades da ventilação: • Fadiga da musculatura respiratória; • Doença neuromuscular; • Drive ventilatório diminuído; • Obstrução das vias aéreas; • Anormalidades da parede torácica. Anormalidades da oxigenação: • Hipoxemia refratária; • Trabalho respiratório excessivo. Outras indicações: • Redução da pressão intracraniana; • Diminuição do consumo de O2. ....................................................................................... O tratamento da IR envolve o escalonamento de diversas medidas terapêuticas, conforme evolução e resposta do paciente a essas medidas. A seguir, é apresentada uma sequência de terapêuticas adicionais disponíveis para suporte e reversão da IR. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 12 2. ESTUDAR A DPOC (CLÍNICA, EXAMES, COMPLICAÇÕES) CONCEITO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é caracterizada por uma crônica e difusa das vias aéreas inferiores, de caráter irreversível, com destruição progressiva do parênquima pulmonar, causada por enfisema, bronquite crônica ou ambos. Habitualmente, já existe uma lesão pulmonar extensa quando o paciente começa a sentir dispneia ao esforço. Esse fato ocorre devido à progressão lenta da doença e a adaptação do paciente à sua capacidade física diminuída. Funcionalmente é caracterizada por redução no volume expiratório forçado de primeiro segundo (VEF1) < 80% do predito após uso de broncodilatador ou uma relação do VEF1 sobre a capacidade vital forçada (CVF) < 70%. A definição de DPOC depende da exclusão de outras doenças que causam obstrução de vias aéreas, como fibrose cística e bronquiectasias. A associação com tabagismo representa mais de 80% dos casos de DPOC, mas a inalação de poeiras ambientais e fatores genéticos, como a deficiência de α-1 antitripsina, também estão associados. A exacerbação aguda de DPOC é definida pela Global Initiative of Obstructive Lung Disease (GOLD) como “um evento agudo caracterizado por um agravamento dos sintomas respiratórios do paciente que está além das variações normais do dia a dia e que leva a uma mudança na medicação”. EPIDEMIOLOGIA DPOC é a terceira maior causa de morte no mundo (5 milhões de mortes anuais ou 6% do total), com 90% das mortes ocorrendo em países com menor desenvolvimento. Pelo menos 7 milhões de brasileiros são portadores de DPOC, com prevalência entre tabagistas de longa data RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 13 de aproximadamente 15%. A doença é responsável por 107 mil internações e mais de 35 mil mortes ao ano. É caracteristicamente uma doença de mais velhos, manifestando-se na quinta ou sexta década de vida. A preponderância no sexo masculino é explicada basicamente pela maior prevalência do tabagismo nos homens. Segundo dados do DATASUS, o número de internações de pacientes com DPOC apresenta redução maior do que 50% nos últimos 10 anos, o que pode estar associado com redução da prevalência de tabagismo, melhora do cuidado ambulatorial ou subnotificações. As exacerbações agudas de DPOC representam cerca de dois terços do custo financeiro total direto com doença. Os pacientes com DPOC apresentam exacerbações regulares, em média, 2 a 3 vezes ao ano. Os pacientes tabagistas ativos têm exacerbações mais frequentes do que os não tabagistas; assim, parar de fumar pode reduzir em até um terço os episódios de exacerbações. A taxa de mortalidade intra-hospitalar da exacerbação de DPOC que cursa com acidose e hipercapnia é de cerca de 11%, com taxas de mortalidade em 6 meses e um ano de 33% e 43%, respectivamente. Aqueles que sobreviveram à primeira hospitalização apresentam uma taxa de 50% de reinternação em 6 meses após a alta. FATORES DE RISCO O tabagismo é sem dúvidas, o principal fator de risco para a DPOC, havendo uma história positiva em 90% dos casos. As substancias do tabaco causam uma série de alterações nas vias aéreas, como: • Estimulam a produção de muco e a hipertrofia das glândulas submucosas; • Reduzem ou bloqueiam o movimento ciliar das células epiteliais; • Ativam macrófagos alveolares a secretarem fatores quimiotáticos (especialmente IL-8) que estimulam o recrutamento alveolar de neutrófilos; • Ativam neutrófilos que passam a produzir enzimas proteolíticas como a elastase; • Inibe a atividade da alfa-1-antitripsina, enzima inibidora da elastase. Outros fatores de risco incluem: o tabagismo passivo, a poluição atmosférica extra e intradomiciliar (ex: fogões a lenha), bem como a exposição ocupacional a poeiras orgânicas (minas de carvão), fumaças (ex: cadmio) e vapores. Estes podem ser aditivos aos efeitos do tabagismo ou explicar a ocorrência de DPOC em não tabagistas. Crianças expostas ao tabagismo materno, inclusive durante a gestação, apresenta crescimento pulmonar reduzido, o que é fator de risco para DPOC no futuro. A deficiência de alfa-1-antitripsina é uma doença genética recessiva que cursa frequentemente com enfisema pulmonar isolado em crianças e adolescente. A ausência da ação dessa enzima deixa livre a elastase neutrofílica que vai degradando paulatinamente o parênquima pulmonar. O tratamento desses pacientes pode ser feito com a infusão venosa semanal de alfa-1- antiprotease. Quando suspeitar: • Enfisema em jovem < 45 anos • Enfisema predominante em bases pulmonares (nasal e panacinar) • Enfisema em não tabagista • Hepatopatia associada • História familiar positiva FISIOPATOLOGIA DPOC apresenta classicamente dois polos de doença, que apresentam definições clínicas e anatomopatológicas diferentes: Bronquite crônica: É definida pela presença de tosse produtiva, na maioria dos dias, por mais de 3 meses por 2 anos consecutivos sem outra explicação aceitável. As principais alterações patológicas são a hipertrofia e hiperplasia das glândulas submucosas secretoras de muco associadas a um aumento no número de células caliciformes da mucosa (daí o estado hipersecretor), presente principalmente nas vias aéreas proximais. Além disso, observa-se uma redução do lúmen das vias aéreas distais devido ao espessamento da parede brônquica por edema e fibrose. A exposição inalatória provoca uma resposta inflamatórianas vias respiratórias. O processo é mediado pelo aumento das atividades da protease, liberadas pelos neutrófilos e pela diminuição da RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 14 atividade da antiprotease. O muco acumula-se nas vias aéreas, principalmente durante a noite, pois o tabagismo inibe a atividade ciliar do epitélio brônquico. Enfisema pulmonar: É definido como um alargamento dos espaços aéreos distais aos bronquíolos, decorrente da destruição da parede dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal. Vários processos fisiopatológicos pulmonares podem cursar com enfisema, mas na DPOC o enfisema ocorre sem fibrose significativa. É caracterizado por progressiva dispneia causada por perda de retração elástica e destruição enzimática das paredes alveolares. Relembrando a mecânica ventilatória do pulmão, sabemos que no processo ventilatório temos uma expansão do alvéolo com uma consequente diminuição da pressão ali dentro, o que acaba atraindo o ar para dentro do alvéolo. Já o processo de expiração é passivo, que com o relaxamento do diagrama temos a volta do alvéolo para seu formato anterior com a expulsão do ar. Essa volta do alvéolo se dá às custas das fibras elásticas que estão presentes no interstício alveolar, caracterizando a complacência do alvéolo. Como o alvéolo ele é cheio de fibras elásticas, a expulsão do ar se dá de forma reflexa, com o retorno dessas fibras elásticas para seu estado retraído. O que acontece no enfisema, é que com a destruição do parênquima pulmonar, vamos ter destruição dessas fibras elásticas, tendo uma maior dificuldade para retrair o alvéolo. Portanto, o enfisema resulta de um desequilíbrio entre proteases (as quais digerem elastina e outras proteínas estruturais da parede alveolar) e antiproteases (as quais protegem contra essa agressão). A mais importante antiprotease pulmonar é a alfa-1- antitripsina, proveniente do plasma. Fumar cigarro estimula os leucócitos polimorfonucleares dentro do pulmão a criar radicais livres e oxidantes, resultando em estresse oxidativo. Esse estresse oxidativo inativa antiproteeases de proteção e causa peroxidação lipídica nas vias respiratórias e alvéolos. ....................................................................................... A obstrução das vias aéreas e a hiperinsuflação são as características mais marcantes da DPOC. Isso porque na inspiração geralmente não vamos ter limitação, ou seja, o ar consegue entrar. Porém a fase expiratória depende em grande parte da elasticidade pulmonar, que vai estar reduzida devido a diminuição do tecido elástico na parede dos alvéolos e o edema e a fibrose nos pequenos brônquios. Esses fatores predispõem ao colapso das vias aéreas, impedindo a eliminação do ar armazenado nas porções periféricas do pulmão. Logo, com essa dificuldade na expiração, o ar não consegue sair do alvéolo, no fenômeno que chamamos de aprisionamento de ar, que promove um aumento característico do volume residual funcional e da capacidade pulmonar total. Então o paciente fica hiperinsuflado, ou seja, ele sempre vai ter um volume residual aumentado nos alvéolos. E isso vai atrapalhar também as trocas gasosas porque começa a acumular ar velho dentro dos alvéolos, um ar que não está oxigenado, que já está cheio de gás carbônico, pois não está ocorrendo uma troca gasosa. Por isso, esses pacientes podem acabar evoluindo para uma hipoxemia. Essa hiperinsuflação pode ser notada na radiografia de tórax ou até mesmo no exame físico, no famoso tórax em tonel. Como a troca gasosa está comprometida, vamos ter o surgimento de alvéolos mal ventilados, porém bem perfundidos. Nesses alvéolos, o sangue venoso passa recebendo pouco O2, um mecanismo denominado shunt parcial. Se esse shunt for grande, a mistura de sangue mal oxigenado produzira hipoxemia e RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 15 dessaturação da hemoglobina. A este fenômeno, denomina-se distúrbio V/Q (ventilação e perfusão). Inicialmente a hipoxemia ocorre apenas no exercício físico. Com o progredir da doença, pode ocorrer em repouso sendo um sinal de mal prognostico. A diminuição do CO2 também pode estar comprometida, ocorrendo mais tardiamente. Nas fases mais avançadas da doença vamos ter 3 mecanismos que atuam em conjunto para a retenção progressiva de CO2: 1. Agravamento do distúrbio V/Q 2. Aumento do espaço morto fisiológico - áreas ventiladas sem perfusão. 3. Hipossensibilidade do centro respiratório bulbar ao CO2. Estes pacientes começam a reter CO2 de forma lenta e progressiva (acidose respiratória crônica), estimulando o rim a reter mais bicarbonato e assim compensar a acidose respiratória crônica. A gasometria do retentor de CO2 apresenta altos níveis de PCO2, com bicarbonato e base excesso elevados e geralmente uma discreta acidemia. Durante a descompensação do quadro, seja por infecção, broncoespasmo ou drogas depressoras respiratórias, pode haver fadiga respiratória, levando a um aumento agudo do PCO2, o que faz o pH cair subitamente. Logo, por esse efeito da carbonarcose, o paciente começa a ficar desorientado, agitado e depois sonolento, caracterizando uma acidose respiratória crônica agudizada. A intervenção nesses casos é mandatória, com intubação orotraqueal e ventilação mecânica, pois esses pacientes podem evoluir para uma PCR. QUADRO CLÍNICO A queixa mais marcante dos pacientes com DPOC é a dispneia aos esforços. A evolução é insidiosa, progressiva, marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensantes, como por exemplo, uma infecção respiratória. Com o avançar da doença, a dispneia acaba por ser desencadeada com níveis cada vez menores de esforços, podendo evoluir para dispneia em repouso. Eventualmente, pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna. A tosse é outro sintoma de extrema frequência na DPOC, sendo comumente acompanhada de expectoração e muitas vezes precedendo o quadro dispneico. ____________________________________________ FATORES PRECIPITANTES E DE RISCO PARA EXACERBAÇÃO Os pacientes com DPOC possuem uma baixa reserva pulmonar. Nesse caso, qualquer insulto sobre o aparelho respiratório pode piorar o quadro clínico, levando à exacerbação da dispneia e eventualmente à insuficiência respiratória. Exacerbação aguda de DPOC é definida como piora dos sintomas da doença, caracterizada por três sintomas cardinais: 1. Aumento de dispneia. 2. A produção de expectoração aumenta em volume. 3. Há mudança nas características do escarro (se torna purulento). Cerca de 70% das exacerbações são causadas por processos infecciosos bacterianos ou virais e os outros 30% são causados por fatores como poluentes ambientais, broncoespasmo, tromboembolismo pulmonar (TEP) etc. ____________________________________________ RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 16 CLASSIFICAÇÃO DAS EXACERBAÇÕES O GOLD 2018 propôs uma classificação para exacerbações conforme tratamento necessário: → Exacerbação leve: tratada apenas com broncodilatadores de curta duração. → Exacerbação moderada: tratada com broncodilatadores de curta duração e antibióticos e/ou glicocorticoides. → Exacerbação grave: necessidade de hospitalização ou paciente com insuficiência respiratória. Os pacientes podem ser classificados em relação à DPOC de acordo com a classificação GOLD, que utiliza critérios espirométricos. O mMRC avalia apenas a dispneia, ao passo que o CAT fornece uma avaliação sintomática mais abrangente. Em suma, a interpretação final da classificação deve ser: ____________________________________________ EXAME FÍSICO O exame físico geralmente inclui sibilância, taquipneia e comprometimentorespiratório, como dificuldade de falar devido a esforço respiratório, uso de musculatura acessória e movimentos torácicos ou abdominais paradoxais (assincronia entre tórax e abdome durante a respiração). Os achados do exame físico variam de acordo com a forma predominante da doença (enfisematoso ou bronquítico). Um fato que chama atenção na respiração do paciente com DPOC é a fase expiratória que esta prolongada em relação à fase inspiratória. Os pacientes podem apresentar sinais de hipertensão pulmonar, como edema periférico, P2 hiperfonética, estase jugular, sinal de Kussmaul (aumento da turgência jugular durante a inspiração), pulso paradoxal (queda superior a 10 mmHg da pressão arterial sistólica durante a inspiração) e hepatomegalia, indicativos de cor pulmonale. Alteração do estado mental pode refletir hipercapnia ou hipoxemia. Atenção também deve ser dada aos achados físicos que possam sugerir comorbidades ou diagnóstico alternativo, como febre, hipotensão, crepitações finas bibasais e edema periférico. O baqueteamento digital, embora possa estar associado a DPOC e a hipoxemia, pode sugerir a presença de shunt ou de neoplasia pulmonar. Histórias prévias de exacerbações devem ser questionadas, verificando o número, o uso de glicocorticoides sistêmicos e se as exacerbações requereram hospitalização ou suporte ventilatório. ------------------------------------------------------------------------ O estereótipo do enfisematoso é do tipo “pink puffers” ou “sopradores róseos”. Na inspeção notam-se apenas a vermelhidão (Pletora: policitemia reativa à hipoxemia crônica, mediada pelo aumento da eritropoetina renal) e o aumento do diâmetro antero-posterior (tórax em tonel). Geralmente são magros, às vezes consumidos pela doença, apresentando dispneia do tipo expiratória “sopradores”, mas sem sinais de cor pulmonale e hipoxemia significativa. Já o estereotipo do bronquítico grave é do tipo “blue bloaters” ou “inchados azuis”. Estes pacientes possuem um distúrbio mais grave da troca gasosa do que o enfisematoso, apresentando-se com hipoxemia significativa, manifestada com cianose. A hipoxemia leva ao cor pulmonale, e portanto ao quadro de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica, daí o corpo inchado. Em geral, esses pacientes são RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 17 obesos e apresentam a síndrome de apneia do sono. A ausculta pulmonar revela uma série de ruídos adventícios, tais como sibilos, roncos, estertores crepitantes, associados à diminuição do murmúrio vesicular. DIAGNÓSTICO A DPOC deve ser considerada em pacientes fumantes, ex-fumantes ou com histórico de exposição ocupacional ou ambiental a agentes nocivos (forno à lenha, sílica, queima de biomassa, uso de carvão ou querosene para cozinhar ou aquecer) com mais de 40 anos que apresentem sintomas respiratórios crônicos, incluindo tosse, sibilância/chiado no peito, dispneia aos esforços e expectoração. Sinais ao exame físico, como cianose, tórax em barril/ hiperinsuflação pulmonar e tiragem intercostal, apontam para a existência de DPOC em fase avançada. Além da presença de sintomas respiratórios crônicos e de fatores de risco, o diagnóstico de DPOC requer a demonstração de distúrbio ventilatório de tipo obstrutivo não completamente reversível, por meio de prova de função pulmonar completa com broncodilatador (espirometria). Em todos os outros pacientes, recomendam-se os seguintes exames: Radiografia de tórax: recomendada em todos os pacientes avaliados no DE, pois revela anormalidades que cursam com mudança no planejamento terapêutico em cerca de 20% dos casos. Achados típicos de DPOC incluem diafragma direito abaixo da sétima costela, aumento do espaço retroesternal e diâmetro cardíaco < 11,5 cm. Achados que sugiram fator precipitante incluem consolidações pneumônicas e pneumotórax. O Raio-X só se encontra alterado nos casos mais avançados de DPOC. Os sinais clássicos na radiografia são: • Retificação de hemicúpulas; • Hiperinsuflação pulmonar (aumento do número de costelas visíveis na incidência PA - mais de 9/10 arcos costais). • Hipertransparência; • Aumento dos espaços intercostais; • Redução do diâmetro cardíaco (coração em gota). • Aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil. • Espessamento brônquico. Hemograma completo: indicado em todos os pacientes com indicação de internação. Pode apresentar leucocitose pode ocorrer em pacientes infectados, e eitrocitose (policitemia - hematócrito maior que 55%). A hipoxemia é um estimulo importante para a produção de eritropoietina pelos rins, levando ao aumento da produção de hemácias na medula óssea. Eletrólitos e função renal: devem ser colhidos em todos os pacientes com indicação de internação. Pode ocorrer hipocalemia como efeito adverso do uso repetido de broncodilatadores. ECG: deve ser realizado em todos os pacientes com dor torácica, taquicardia ou bradicardia. Achados sugestivos de hipertensão pulmonar como onda p pulmonale e desvio do eixo QRS para a direita podem ser encontrados. Taquicardias, em particular a taquicardia atrial multifocal, são comuns em pacientes com exacerbação aguda de DPOC. TC de tórax: A TC de tórax é considerada atualmente o teste definitivo para o estabelecimento da presença ou não de enfisema nos pacientes. Todavia, na prática, este exame influencia pouco nas decisões terapêuticas, existindo apenas uma indicação precisa e aceita: avaliação dos pacientes candidatos à terapia cirúrgica da DPOC (cirurgia de redução do volume pulmonar), neste caso, a TC orienta que porção do parênquima deve ser preferencialmente ressecada RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 18 Gasometria arterial: indicada em todos os pacientes com indicação de internação hospitalar ou se houver suspeita de acidose respiratória aguda ou crônica agudizada ou se for previsto suporte ventilatório: PaO2 < 60 mmHg e/ou PaCO2 > 50 mmHg: insuficiência respiratória PaO2 < 50 mmHg; PaCO2 > 70 mmHg e pH < 7,3: episódio grave. A gasometria arterial pode estar cronicamente alterada na DPOC nos casos mais avançados da doença. O dado mais comumente encontrado é uma hipoxemia, que pode ser leve, moderada ou grave (PaO2 < 55mmHg ou SaO2 < 88 mmHg. A hipercapnia com acidose respiratória crônica, marcada pelo aumento compensatório do bicarbonato e do BE ocorrem nos casos mais avançados da doença. O pH não está muito distante da faixa normal, porem discretamente baixo. Entretanto, nos estados de descompensação, pode haver piora importante da hipoxemia e da hipercapnia, levando a acidose respiratória agudizada. Troponinas: considerar em pacientes com taquicardia ou isquemia miocárdica potencial. D-dímero: avaliação de pacientes em que se considera o diagnóstico diferencial de insuficiência cardíaca ou de TEP. O D-dímero não costuma ser útil em pacientes com DPOC. Espirometria: Esse é o exame mandatório na avaliação de um paciente com suspeita de DPOC. Isso porque ele nos dará informações acerca do grau de obstrução das vias aéreas. E as principais medidas a serem avaliadas são o VEF1 e a relação VEF1/CVF (índice de Tiffenau). Utilizamos como critério diagnóstico para DPOC uma relação VEF1/CVF inferior a 70% do previsto, sem alterações significativas após a prova broncodilatadora. Repetir se VEF1/CVF entre 0,6-0,8. O grau de obstrução é diretamente quantificado pelo VEF1, que deve ser acompanhado de forma seriada no portador de DPOC, pelo menos anualmente. O FEF 25-75% é outro parâmetro que deve ser analisado, sendo o primeiro a se alterar na DPOC! Logo, trata-se do marcador mais sensível (e precoce) de obstrução das vias aéreas, ainda que não sirva para confirmaro diagnóstico. TRATAMENTO OBJETIVOS DO TRATAMENTO: • Aliviar os sintomas • Melhorar a qualidade de vida • Prevenir progressão da doença • Melhorar a tolerância a exercícios • Prevenir e tratar exacerbações • Reduzir a mortalidade Apenas 3 condutas provaram aumentar a sobrevida do portador de DPOC: (1) Abstenção ao tabagismo; (2) Oxigenoterapia domiciliar em pacientes com hipoxemia crônica e grave em repouso. (3) Cirurgia pneumorredutora em pacientes selecionados. ____________________________________________ TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO Educação em Saúde: Medidas educativas podem ser realizadas em consultórios, salas de espera, em visitas domiciliares, por meio de grupos terapêuticos e de convívio. Temas a serem abordados: O que é o DPOC? Por que fazer exercícios? Como utilizar adequadamente os medicamentos? Reconhecimento precoce das exacerbações. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 19 Cessação do Tabagismo: Foi comprovado que parar de fumar desacelera a evolução da doença, fazendo com que os valores do VEF1 sejam compatíveis com a normalidade cerca de um ano após a interrupção do habito de fumar. Se a abstenção for tardia, não há retorno da função pulmonar, porem esta tende a permanecer estável. Assim, todos os tabagistas portadores de DPOC devem ser fortemente aconselhados a parar de fumar. Existem 3 opções de tratamento farmacológico para auxiliar a abstenção do paciente: • Reposição de nicotina: seja por meio de goma, pastilhas, adesivo ou spray; • Bupropiona (150mg 12/12h): é um inibidor seletivo da receptação de serotonina, que se mostrou eficaz na manutenção da abstenção ao cigarro, diminuindo a sensação de fissura. • Vareniclina (1mg 12/12h): é um agonista parcial dos receptores nicotínicos de acetilcolina no SNC. Reabilitação pulmonar e fisioterapia respiratória: A inserção de pacientes com DPOC em um programa de reabilitação pulmonar contribui para a melhora da qualidade de vida, redução de exacerbações e hospitalização e melhora da capacidade para realizar exercícios físicos. Em caso de indisponibilidade de serviços de reabilitação pulmonar, os profissionais de saúde devem estimular os pacientes com DPOC a praticar exercícios físicos no domicílio, como caminhar, subir escadas, sentar e levantar da cadeira e realizar exercícios físicos com os membros superiores. Indicado para pacientes nos grupos B, C e D. Orientação alimentar e nutricional: são necessárias orientações quanto ao peso saudável e melhora alimentar. Apoio psicossocial: Resultados compilados da literatura demonstraram prevalência expressiva de ansiedade e depressão em indivíduos com DPOC moderada e grave. A ansiedade clinicamente significativa manifesta-se em 40% a 96% desses pacientes, enquanto a depressão pode estar presente em 51% a 74% dos casos. Oxigenoterapia domiciliar: A oxigenoterapia domiciliar continua (>15h/dia) é uma das medidas que aumenta a sobrevida do DPOC quando bem indicada. O O2 é ministrado por cânula nasal em baixo fluxo (1-3L/min), tendo como meta manter a SaO2 > 90%. Para pacientes com hipoxemia apenas durante exercício, não há indicações. Vacinação: A vacinação contra influenza, pneumococo e COVID é indicada para todos os portadores de DPOC. Tratamento cirúrgico: A cirurgia de redução do volume pulmonar consiste num procedimento em que parte do pulmão é ressecada com o objetivo de reduzir a hiperinsuflação, melhorando a mecânica ventilatória, bem como o próprio distúrbio V/Q. Este tipo de abordagem é indicado para pacientes enfisematosos que apresentam hiperinsuflação pulmonar sintomática e refratária ao tratamento medicamentoso. Trata-se de uma das condutas que comprovadamente aumenta a sobrevida na DPOC. ____________________________________________ TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Na fase estável da DPOC, com objetivo de reduzir sintomas e prevenir exacerbações, podemos lançar mão dos broncodilatadores e antiinflamatórios, de preferência pela via inalatória (ação tópica potente com pouca chance de efeitos sistêmicos). Os broncodilatadores podem ser se curta ou longa ação, sendo preferível no tratamento de manutenção os de longa ação, visto que os de curta são reservados como terapia de resgate para sintomas eventuais. BRONCODILATADORES INALATÓRIOS: A) AGONISTAS BETA-2-ADRENÉRGICOS ➔ β-agonistas de curta ação: SABA, os agonistas beta-2 adrenérgicos de ação curta são chamados de SABA. Sendo os principais: salbutamol, fenoterol e terbutalina. ➔ β-agonistas de longa ação: LABAs atuam através da ativação de receptores β-2- adrenérgicos, causando broncodilatação. O efeito broncodilatador dos LABAs confere diminuição da hiperinsuflação dinâmica, aumento de capacidade inspiratória e da capacidade de exercício em estudos fisiológicos. principal efeito colateral do uso prolongado de LABAs é o risco de taquiarritmias, principalmente em pacientes com arritmia prévia ou insuficiência cardíaca. RENATA LIMA – MEDICINA – 7º SEMESTRE – TUTORIA 20 Sendo os principais: formoterol, salmeterol, indacaterol e olodaterol. B) ANTAGONISTAS MUSCARÍNICOS (principal receptor inibido é o M3) ➔ Anticolinérgico de curta ação: SAMAs, sendo os principais: brometo de ipratrópio ou de oxitrópio. ➔ Anticolinérgico de longa ação: LAMAs possui efeito broncodilatador, além de redução na taxa de exacerbações e hospitalizações; melhora de sintomas, principalmente dispneia e tolerância ao exercício; melhora na qualidade de vida global e relacionada a domínios de saúde; e redução no uso de medicação de resgate. A reação adversa mais comum do uso de LAMA é boca seca. Sendo os principais: tiotrópio, brometo de glicopirrônio, umeclidínio e brometo de aclidínio. Comparando LABA com LAMA, os LAMA se mostraram mais eficazes em reduzir o risco de exacerbações, por isso são as drogas de escolha no paciente de maior risco. ➔ Corticoide Inalatório: Os CIs são medicações anti-inflamatórias, cuja forma de administração inalatória confere uma grande vantagem reduzindo os efeitos sistêmicos indesejados. São bem estudados e utilizados na asma. Na DPOC, o corticoide inalatório não é imprescindível. Inclusive, não é indicado em monoterapia justamente pelo maior risco de pneumonia. Seu papel na DPOC é adjuvante, sempre combinado com um LABA em pacientes que continuam tendo exacerbações com o uso LABA, especialmente aqueles que apresentam contagem elevadas de eosinófilos (>300/microlitro). Também é possível combinar LAMA+LABA+CI em casos refratários. Os principais CI são: beclometasona, budesonida, mometasona e fluticasona. O corticoide sistêmico (oral) não tem papel no tratamento de manutenção, acarretando mais riscos do que benefícios.
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