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Introdução Ana Mae Barbosa O desenvolvimento da criatividade era o objetivo principal do ensino da arte dos anos 1960 aos anos 1980. Os anos 1960 foram marcados pela corrida espacial. O lançamento do primeiro satélite artificial pelos russos (o Sputnik 1, em 1957) antes dos Estados Unidos deixou os estadunidenses estarrecidos e se perguntando: o que há de errado com nossa educação? Alguns educadores reclamavam da falta de estímulo criador na educação. A partir daí até os anos 1970, o que se viu foram projetos, campanhas e verbas para desenvolver a criatividade na educação, e as artes muito ganharam no currículo com essa nova perspectiva. Contudo a reação dos estudantes estadunidenses contra a guerra do Vietnã no fim da década de 70, justamente a geração que fora educada sob o signo do desenvolvimento da criatividade, fez com que o governo restringisse as verbas para a educação criadora a fim de evitar a formação de mentes críticas que se voltassem contra os desígnios do próprio governo que os havia estimulado a serem criativos e, portanto, críticos. Desenvolvimento de criatividade é também desenvolvimento de capacidade crítica; isso os pesquisadores comportamentalistas já haviam descoberto. Agora, no início da década de 2020, educadores de todo o Ocidente recomeçam a falar da criatividade. Este livro tem dez capítulos e uma entrevista. A entrevista representa o elo perdido entre a primeira onda de interesse sobre a criatividade e a segunda onda que se iniciou no século XXI, isto é, entre a visão modernista de criatividade na arte- educação e a visão atual. No intervalo das duas ondas, pelo menos quinze anos se passaram. Os autores deste livro, de países diferentes, têm às vezes uma visão de tempo que difere uns dos outros, como diferem suas culturas, embora estejamos tratando de países europeus e de países colonizados pela Europa. A entrevista com Malcolm Ross foi feita por mim em 1982, ano em que vivi na Inglaterra na School of Art Education de Birmingham, University of Central England, hoje Universidade da Cidade de Birmingham. Na Inglaterra daquela época, um dos últimos livros com foco na criatividade foi o de Malcolm Ross, The Creative Arts. Era o mais lido pelos alunos de pós-graduação na Inglaterra quando lá ensinei em 1982. Era teoricamente muito bem embasado, mas eu desconfiava que, na prática, ele resultava naquilo que combatíamos no Brasil naquele tempo: a polivalência. Procurei o autor para uma entrevista. Ele recebeu a mim e a meu marido de maneira soberba, nos convidou para almoçar e depois conversamos longamente. Pacifiquei-me quando ele me explicou que recomendava o ensino criador das artes integradas só na escola primária. Mas Ross se mostrou muito apreensivo com o futuro do ensino das artes no Reino Unido. Como defensor da arte para o desenvolvimento da criatividade, via um certo tecnicismo e uma separação entre a arte e a vida começarem a dominar. Ele estava com toda razão. A partir dos anos 1980, a aliança entre arte e design na educação inglesa, que garantia conexão com o cotidiano e a vida, além de dar bons resultados econômicos desde o século XIX, foi se esgarçando por intermédio do currículo nacional. Mas hoje se discute a possibilidade de retorno da relação entre arte e design no currículo. Em 1983, voltei da Inglaterra revoltada com a destruição que se avizinhava no ensino da arte e do design e convencida de que deveria ser realizada uma adequação de um projeto que articulasse as duas áreas no ensino médio no Brasil, respeitando nossas características culturais. Aliás, essa articulação já fora tentada por Rui Barbosa, em seus projetos educacionais, embora muito preliminarmente. Fiz, ao longo da década de 1980, várias experiências com cursos de arte e design, para professores da Secretaria de Educação, ministrados na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo-USP, contando com a ajuda de Joyce Leal que, através da Federação das Indústrias, conseguiu não só fazer com que o projeto interessasse a designers como Luiz Cruz, mas também solucionasse problemas práticos. Com a morte precoce de Luiz Cruz veio o desânimo, e com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a completa desilusão. A visão de ensino de arte de Malcolm Ross, embora expressionista e, nesse sentido, datada, era também antecipatória por ser voltada a uma das características da pós-modernidade, a saber, o retorno da ligação da arte com a vida. Esse retorno era discutido naquele ano de 1982 muito animadamente no Centro de Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade de Birmingham, que tive o privilégio de frequentar. Na ocasião, um grupo de intelectuais contestadores, liderados por Richard Hoggard e Stuart Hall, embasaram os estudos culturais e a hoje chamada cultura visual. Richard Hoggard veio ao Brasil a meu convite dar um curso no Museu de Arte Contemporânea da USP. Só tive a dimensão da minha ousadia e da generosidade de Hoggard em aceitar o convite, quando um amigo do British Council me perguntou como eu tivera coragem de chamá-lo ao Brasil. Esse mesmo amigo me recomendou entusiasmado para não largar de Hoggard, porque ele era patrimônio cultural da Inglaterra. A entrevista com Malcolm Ross, professor da Universidade de Exeter, naquele tempo o mais comentado arte-educador da Inglaterra, serve aqui de parâmetro histórico para entendermos os esforços da força-tarefa comandada por John Steers a fim de reformular a educação de arte e design no Reino Unido. Seu artigo demonstra a força da resistência e a propriedade da reavaliação histórica sobre o pensamento em relação à criatividade e ao ensino da arte e do design. Segue-se neste livro o capítulo sobre a história do ensino da arte baseado no objetivo de desenvolver a criatividade. O texto foi escrito por Enid Zimmerman, professora emérita da Indiana University School of Education, com vasta pesquisa em torno da identificação, desenvolvimento, avaliação, e excelência na educação de estudantes artisticamente talentosos. Sua revisão bibliográfica da criatividade nos prepara, em diversos momentos, para entender melhor os atuais objetivos e ações direcionados ao desenvolvimento da criatividade. Trata-se da história iluminando o presente. No capítulo 4, Bernard Darras nos fala sobre a era da industrialização da mudança e afirma: A imaginação, a criatividade e a criação, que serviram para o crescimento e o consumo da sociedade, devem, agora, contribuir para a ‘ecologização’ das nossas comunidades e de todos os setores da educação, que devem unir esforços a fim de criar um novo estilo de vida com e no mundo, bem como uma nova arte de viver juntos. E, por fim, pergunta: “Que contribuições podem nossas disciplinas trazer a essa vida nova e a essa nova arte de viver?” Os capítulos seguintes tentam responder à pergunta de Darras. Anne Harris nos fala do ativismo político e da criatividade, Adolfo Albán Achinte nos aponta o caminho da criação em comunidades e eu destaco o desenvolvimento da criatividade coletiva. O ensino moderno da arte, que se configurou em todo o mundo na ênfase expressionista, pensava em criatividade individual. Hoje a criatividade coletiva e os processos para desenvolvê-la são o foco da arte- educação e do design. Mais uma razão para tentarmos no Ensino Médio a associação entre arte e design. Os designers estão mais avançados que os arte-educadores nas práticas coletivas em direção ao desenvolvimento criador. Os designers lentamente deixaram de se concentrar nos interesses capitalistas e passaram a ter como objetivo as necessidades do ser humano individual (human design). Hoje pensam em influir positivamente nas mudanças da sociedade, valorizando, com bastante ênfase, a criação coletiva. Os capítulos 8 e 9, de duas jovens pesquisadoras, refletem sobre a criatividade e assuntos de grande contribuição científica para desenvolvimentos individuais e sociais. Annelise Nani, que organizou comigo este livro, escreve acerca da criatividade e da neurociência, e Ning Luo tratou, em seu texto, de gênero e criatividade.Vanessa Lambert, por sua vez, no capítulo 10, discute temas que envolvem o processo criativo e a representatividade da mulher negra. Fechando a obra com chave de ouro, publicamos Marie- Françoise Chavanne, ex-presidente da Insea – The International Society for Education Through Art. Nós nos conhecemos em 1984, quando, como presidente da Insea, visitou o Brasil; desde então a admiro. Em texto lido por ela em uma mesa na qual também participei durante o congresso “Création & Créativité: entre formation et recherche”, na Université Paris Descartes, Sorbonne, em 2017, a autora defende a necessidade da volta à criatividade. Com a organização deste livro, quero comemorar o retorno do interesse das pesquisas em relação à criatividade. O ensino da arte e do design e os estudos visuais estão voltando a exigir o desenvolvimento da criatividade como função principal da educação e da compreensão da imagem. Esse novo interesse voltado à criatividade da arte-educação não se baseia nos mesmos princípios que comandavam a arte-educação dos anos 1960. No passado, dos processos envolvidos na criatividade, o ensino da arte valorizava principalmente a originalidade e a fluência, a novidade e a produção de muitas respostas a um problema. Hoje a elaboração, reelaboração, reconstrução, ressignificação e flexibilidade como mudança de categoria são processos nos quais mais investem os arte- educadores. O ensino do design também busca inovação, que tem mais a ver com a elaboração e ressignificação do que com a transitória novidade. A cultura visual americana (do Norte e do Sul) contribuiu para o retorno à criatividade. Assimilada à arte-educação sem grandes lutas, ao contrário do que aconteceu na Europa Continental, combateu os valores hegemônicos, ampliou a capacidade de análise da sociedade e de todas as mídias visuais, mas centrou-se principalmente na crítica à imagem e relegou o processo de criação através da produção de imagens. O retorno à criatividade representa hoje o retorno ao fazer criador e a adesão ao conceito expandido da arte. Na Europa Continental, aconteceu o que Mieke Bal chamou de guerra artificial entre os antigos e os novos. A turma da arte acabou sendo generalizadamente desprezada pelo grupo da cultura visual, que se apresenta como os novos. Os da arte mudam em direção à desierarquização, mas são acusados de antigos pelos da cultura visual. Um grupo liderado por europeus plantou no Brasil a mesma “cizânia”, para usar um termo muito caro às histórias em quadrinhos da personagem Asterix. Entretanto, em países “pop” como os Estados Unidos e o Brasil, o país do Carnaval, essa desavença foi facilmente diluída. Que arte-educador é contra a cultura visual no Brasil? Nenhum! Porém, ainda há dois guetos universitários que, identificados com a cultura visual, são contra a arte, contra a história, e eles acham que foram eles mesmos que descobriram as relações entre a educação e o social no país de Paulo Freire. Infelizmente a beligerância dos adeptos sectários da cultura visual contra a arte na educação enfraqueceu politicamente os arte-educadores e contribuiu para a retirada da obrigatoriedade das artes no ensino médio. O Ministério da Educação havia tentado retirar as artes do currículo em 1996, mas os arte-educadores empreenderam uma luta vitoriosa, telefonando e enviando telegramas aos deputados e senadores que votariam a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Fizemos até performances nas ruas e protestos por ocasião da Bienal de São Paulo. Contudo, em 2018, perdemos a luta e a arte no currículo dos adolescentes, pois estávamos enfraquecidos pelas fake news disseminadas por oponentes da arte-educação e debilitados por conta da atuação de alguns adeptos da cultura visual excludente no Ministério da Educação e em comissões decisórias. O lema dos oportunistas “dividir para reinar” enfraqueceu politicamente a arte-educação no Brasil, mas, apesar disso, o ensino das artes visuais se desenvolveu muito nos últimos trinta anos no país graças aos cursos de pós-graduação que formaram grande número de mestres e doutores, cujas pesquisas iluminaram a arte nas escolas, e ao sistema de cotas nas universidades públicas, que mudou a paisagem cultural de nossas instituições. Os últimos congressos da Federação de Arte Educadores do Brasil, dos quais participei em 2021, 2020 e, de modo online, em 2019-Manaus, mostraram que a cultura visual foi integrada na arte-educação, ampliando positivamente o campo de sentido da arte. O que temos hoje não é apenas ensino de arte, mas também o estudo, nas salas de aula, da imagem de qualquer categoria. No período da epidemia de Coronavírus, por meio da internet tivemos o ensino da arte como campo estendido. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ROSS, Malcolm. The Creative Arts. London: Heinemann Educational Books, 1978. 1. Entrevista de Malcolm Ross a Ana Mae Barbosa Décadas atrás, Malcolm Ross era professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de Exeter, Inglaterra, e famoso em todo o país por seus métodos pouco formais, considerados muito eficientes para a aprendizagem. Naquela época, a área de ensino de arte e design estava sendo mobilizada pela preponderância dos estudos culturais e da multiculturalidade. O livro de Ross, The Creative Arts, foi um dos últimos a abordar a criatividade no ensino das artes e fez um enorme sucesso, pois trazia uma séria fundamentação teórica retirando a criatividade da vala comum da mera rebeldia. As décadas de 1960 e 1970 foram um período muito rico para a educação dos países desenvolvidos, enquanto nós do Terceiro Mundo, especialmente da América do Sul, vivíamos tempos difíceis de ditadura, censura e perseguições que atingiram as universidades e até escolas de educação infantil. Expulsa da Universidade de Brasília, onde tentava fazer uma escolinha de arte baseada em princípios da Bauhaus, integrando arte, design e outras mídias com o objetivo de desenvolver o processo criador de crianças, adolescentes e professores, resolvi vir para São Paulo e me empenhar em estudar. Não havia nem sequer mestrado em Ensino da Arte no Brasil, por isso, entre 1971 e 1998, circulei entre Estados Unidos e Inglaterra fazendo mestrado, doutorado, pós- doutorado e ensinando em universidades as mais diversas como Yale e The Ohio State. Nos Estados Unidos, nos anos 1960 e 1970 foram criadas as open classrooms, os museus para crianças, a pílula anticoncepcional, o rock and roll e surgiu uma geração crítica, os hippies e os ativistas contra a Guerra do Vietnã. A partir daí, calaram sobre criatividade. A educação criativa tinha formado jovens atuantes contra os desígnios do Estado, e era preciso acabar com ela. Só agora a partir das crises do capitalismo é que voltaram a investir na criatividade, mas uma criatividade controlável expressa através do movimento do design thinking passado pelo crivo do neoliberalismo, quase sempre aliado ao mercado. Na Inglaterra, eclodiu o multiculturalismo e os estudos culturais, enfim o respeito à diversidade. Até que, a partir dessas contribuições, nos vimos envolvidos na virada pós- moderna na qual a criatividade foi relativizada em favor da ideia da arte na educação como cultura. O retorno à criatividade na educação para as artes ocorrido no século XXI não repete nem os pressupostos, nem as práticas das décadas de 1960 e 1970, mas repensa a criatividade diferenciando-a do nonsense, do vale tudo e da vaga sensibilidade. Quando entrevistei Malcolm Ross, eu estava fazendo um pós-doutorado na School of Art Education of the University of Central England, antiga Politécnica de Birmingham. Eis a nossa conversa., {interrompida apenas pelo almoço que ele ofereceu a mim e a meu marido.} ANA MAE BARBOSA Gostaria de compreender a situação da educação artística nas Faculdades de Educação aqui na Inglaterra. MALCOLM ROSS Bem, temos um curso de graduação, depois temos o curso de pós-graduação e os avançados. No nível de graduação, os estudantes podem optar por fazer como área principal de estudo ou educação dramática, ou educaçãomusical, ou arte-educação e ensino de inglês. Desse modo, eles terminarão tendo um título (degree) geral, que chamamos de bacharel em educação, porém tendo se especializado em arte, ou em música, ou em drama, ou em ensino de inglês. AMB E qual a duração do curso? MR É um curso de quatro anos. AMB E o ensino da educação artística começa desde o primeiro ano? MR Sim. Ficando bem claro que eles serão especialistas naquele campo e que estudarão nele durante todo o seu treinamento. AMB Eles fazem arte, na prática? MR Sim, fazem coisas, praticam, aprendem gravura, desenho, pintura etc. Mas, é claro, apreendem a ensinar arte. AMB Desde o começo? MR Desde o começo. Então terão estudos gerais e provavelmente também estudos complementares ou de apoio. Creio que não temos, tradicionalmente, nesse nível ou mesmo em qualquer outro nível, a espécie de interabordagem interdisciplinar para a formação de professores de arte, abordagem que eu pessoalmente gostaria que existisse. AMB Como acha que poderia ser essa abordagem interdisciplinar? Isso é motivo de muita discussão no Brasil. Criamos algo totalmente maluco. Em vez de abordagem interdisciplinar, nós criamos o polivalente. Treinamos nossos professores por apenas dois anos. Após o segundo grau (atual ensino médio), eles vão para a universidade e então são treinados por dois anos, para ensinar nas escolas primárias e secundárias, drama, dança, música, desenho geométrico e artes plástica, tudo isso junto. MR Fantástico. AMB É totalmente impossível! Três linguagens em dois anos! E é chamado de polivalente. Eu costumava dizer que era a tradução da abordagem interdisciplinar para os países subdesenvolvidos. MR E qual a sua opinião sobre isso? Que é maluco, mas bom? AMB Não! MR Maluco, mas errado? AMB Eles não podem estar preparados. Não poderão perceber as semelhanças nem as diferenças entre as artes. E na escola, a arte torna-se uma espécie de preparação para uma festa – a festa do Natal, a festa do Dia das Mães. Mas concordo com a abordagem interdisciplinar, porém acho que nessa abordagem temos que estar muito bem preparados pelo menos em uma área, e saber o suficiente sobre as outras áreas, para poder nos comunicar, para saber cojulgar, para trabalharmos juntos. MR Eu não poderia imaginar uma maneira mais radical que essa para começar. Mesmo a esse nível, não acontece muito aqui. Não acontece neste campus particular, de modo algum. Se você toma um lugar muito bom, como o Dartington College… AMB Estive lá, há dois anos. MR Trabalho lá uma vez por semana, e gosto muito de lá. AMB Fiquei fascinada com a abordagem social… MR Sim, é interessante. Lá existe muito pouca comunicação ou colaboração entre as três áreas principais de estudo: drama, os estudos teatrais, desenvolvem-se por um caminho, e a música e a arte por seus caminhos. Quando você vê os três situados desse modo, no mesmo campus, tão próximos entre si, é muito estranho que haja tão pouca interação entre eles. AMB A área mais fraca é a de artes plásticas; teatro e música são mais fortes. MR Certo. Mas essas são as que conseguiram se estabelecer, ter os seus títulos. A Arte sempre teve, tradicionalmente, certos tipos de problemas, de um ou de outro tipo. Acho que essas dificuldades que eles estão tendo com o Departamento de Arte não são apenas devido a eles próprios, mas têm algo a ver com a orientação política nacional, quanto ao número de tais departamentos que devam existir no país e que possam receber alunos novos já graduados. Assim sendo, mesmo que Dartington conseguisse persuadir o Conselho Nacional de que atingiu o nível certo para ser oferecido tais cursos, a política do governo provavelmente não permitiria que tais cursos lhe fossem oferecidos. Mas, voltando ao ponto original, sobre a preparação de professores de arte, concordo com você, e espero que os indivíduos tenham sua própria especialidade, e que saibam algo em profundidade sobre uma área particular. Mas sinto que os professores de arte deveriam ao menos ter consciência de que têm muito em comum com outros professores de outras artes, de modo que as artes sejam identificadas como uma área particular do currículo, e que tenha uma espécie de oferta particular de artes, para apresentar às crianças. Deveria haver certa coerência, certa mutualidade, uma compreensão mútua do que está se passando nas diferentes áreas, para que o ensino de música, por exemplo, possa ser em certo sentido semelhante ao ensino de teatro, que as crianças improvisem e usem as mídias de modo bem pessoal, para que quando passem, digamos, do teatro para a música, não se encontrem em mundos inteiramente diversos, para que as duas coisas não possam contradizer uma à outra. Tem que haver certo entendimento comum entre todos nós, professores, a respeito da função das artes dentro do currículo como um todo, e da sua atração para as crianças experimentarem. AMB Sim, deve haver uma conexão entre as diferentes formas de arte. MR Elas devem, ao menos, aderir à mesma filosofia. AMB Sim. MR A mesma noção do papel da arte na sociedade. AMB Tive uma escola de arte no Brasil, [a Escolinha de Arte de São Paulo], durante quase quatro anos [1968-1971]. Depois decidi que realmente sou uma pessoa que precisa trabalhar por um salário. Não posso ser dona de uma escola. A parte financeira era uma loucura completa. Dávamos muitas bolsas, o aluguel da casa aumentou muito. Tivemos que fechar a escola. Tínhamos teatro, música, artes plásticas e dança. As crianças tinham que experimentar tudo, meninos e meninas. MR Que idade tinham os alunos? AMB De dois anos e meio até dezoito. MR Dois anos e meio? AMB Sim, tínhamos uma experiência para preparar para alfabetização. Através da arte, eliminávamos de cara a ideia de desenvolvimento de motricidade através de exercícios convencionais. MR Para desenvolver o controle motor fazendo trabalhos criativos? AMB Sim, através de trabalhos criativos. Foi uma ótima experiência, e agora ela está madura; a mesma professora, [Madalena Freire], continuou a experiência em outra escola, e este ano ela vai publicar um livro sobre os resultados: uma experiência de dez anos. A abordagem era muito ligada a Paulo Freire, pois todos nós éramos estudantes ativos de Paulo Freire. Ele procurou nos dar certa orientação, de Genebra para São Paulo, através de cartas, de livros que nos enviava. A experiência foi difícil no que diz respeito à música – a música não deu certo. Conseguimos trabalhar em conjunto em teatro, expressão corporal, artes plásticas – mas quanto à música, só conseguimos encontrar professores treinados nos métodos de Kodali, de Or�. Era um tanto instrumental para nós. MR Não se aplicava à sua abordagem… AMB Foi uma experiência violenta, para um trabalho interdisciplinar. Eles não entendiam a nossa abordagem, nossos propósitos, nosso objetivo. MR Quem eram esses professores de música? AMB Todos treinados, geralmente, em conservatórios de música. MR Professores de música brasileiros? AMB Sim. MR E lá a influência de Kodali e de Or� é grande? AMB É muito grande. E alguns deles tinham tido bolsas de estudo para a Alemanha para estudar Or�. Não sei como, mas Kodali é muito usado no sul do Brasil, do Rio Grande do Sul até São Paulo. MR Obviamente eu não teria pensado que o método de Kodali e mesmo o de Or� fossem adequados à sua cultura. Esse é o problema. AMB Pelo menos não foi adequado para o nosso objetivo. MR Para o modo como queriam trabalhar. AMB Para o modo como trabalhávamos. MR Sim. AMB Estávamos apenas tentando começar um estudo em profundidade do campo de referências das crianças, para desenvolver a aprendizagem a partir delas próprias, e não a partir de fora. Não para fornecer um código, mas para ajudá- las a encontrar seu próprio código, no mundo de arte dos adultos. MR Como resolveram o problema? Ou ainda não o resolveram? AMB Oh! Não resolvemos. Fechamos a escola antes disso. Nunca resolvemos o problema do ensino da música. Tivemos apenas um professor que trabalhava em uníssono conosco, mas estava envolvido coma política de resistência à ditadura, e teve de fugir[1]. MR Isso é espantoso. Meu próprio sentimento é que a música – sinto pessoalmente cada vez mais – que a música é o início de tudo. Sei que é absolutamente ridículo enfatizar uma forma de arte mais que outra. Mas, para mim, neste momento pelo menos, a música é o mais sensível e adaptável meio de todas elas, realmente. AMB Concordo, pois os adolescentes, por si mesmos, viram- se para a música a fim de educar seus sentimentos. E no Brasil a música popular é a mais bem-sucedida forma de arte, mais democratizada e tem reconhecimento internacional. MR E os pequeninos também. Até uma criança de dois anos e meio é capaz de responder musicalmente, de usar a música da maneira que eu entendo pelo menos, diretamente. Mães e filhos, crianças cantam, dançam, dançam rock. É tudo parte da experiência musical e, logicamente, nos dias de hoje, desde bem pequenas, as crianças ouvem rádio, música, captando a linguagem da música rapidamente. Fico espantado. Tenho dois filhos pequenos e fico admirado como eles cantam tanto, inventam tanta música. Não tinha pensado que crianças tão pequenas fizessem isso: criancinhas de quatro, de três anos, cantam o tempo todo. Meu trabalho em Dartington é principalmente com música e improvisação. AMB Fiquei fascinada com Dartington, com o ambiente. É muito especial. Foi difícil me concentrar enquanto estava lá, pois estava tão envolvida sensorialmente pela paisagem. MR É muito lindo. AMB Muito lindo e muito emocionante. MR Sim, muito monástico, retirado do mundo. Um templo, um paraíso. AMB Agora compreendi como a educação artística é lecionada aqui. MR Temos cursos de pós-graduação, cursos adiantados. Em resumo, nossos pós-graduados chegam com títulos especiais em música, ou arte ou outra coisa. E a suposição é que eles irão se especializar nessas áreas. Eles recebem ajuda de caráter profissional, quando vêm para cá. Assim, serão treinados – se chegam com um título em inglês, ou em teatro, ou em educação artística –, irão se especializar em inglês, ou em teatro, ou em educação artística. E então temos um curso de educação geral. Trabalho bastante com pós-graduados. Dou um curso interdisciplinar para eles chamado “As Artes na Educação”. Nele, minha abordagem é quanto aos movimentos em todos os tipos de diferentes meios, procurando extrair certos princípios comuns básicos. AMB É como resolver certos problemas com os diferentes meios. MR Correto! É como ter à mão os diferentes meios (mídias) – pois se hoje você está com vontade de ir nessa direção, você pode ir –, escrever, por exemplo, escrever música através de colagem, ou de coisas visuais. AMB Você leciona no nível de graduação ou só se dedica aos pós-graduados? MR Não, de jeito algum! Gosto muito de lecionar aos não graduados, mas, em parte por uma condição histórica, não trabalho muito nesse nível. Porque, logicamente, a equipe que estava lecionando aos não graduados, em sua maioria continua aqui, e a maioria ainda está lecionando, apesar de ter sido absorvida pela organização da universidade. E estamos ainda muito identificados com nossas antigas responsabilidades. E vim para a universidade para trabalhar com as unidades dos cursos adiantados, e a maior parte do meu trabalho ainda é nessa área. Trabalho um pouco com os pós-graduados e quase nada com os não graduados. Há bastante gente fazendo um bom trabalho nessa área e eu não sou necessário. Por outro lado, estou muito interessado em desenvolver o programa de mestrado (master), que é o novo curso que estou dando. Eu o iniciei há dois anos. AMB É um mestrado em educação? MR É um mestrado em arte-educação. Em educação criativa de arte. O importante é ser em educação criativa de arte – assim tenho músicos, dançarinos, escritores, toda sorte de gente. E não é um curso em tempo integral. Tradicionalmente, sempre demos cursos de tempo integral aqui; pessoas, que foram dispensadas de suas escolas por um ano, vêm para cá, fazem seus cursos e voltam com um título mais alto. Mas por causa de falta de dinheiro, por causa da idiota política do governo [já se iniciava a destruição neoliberal de Margaret Thacher], existe uma ênfase em dispensar apenas alguns poucos professores para os cursos integrais – mas nunca os da área de artes. Esses professores têm que ser professores de matemática, ciências etc. Estamos apenas pensando em como será possível treinar mais tecnólogos e melhorar o estado econômico do país. AMB A arte tornou-se design… MR A arte tornou-se design, o teatro tornou-se numa espécie de engenharia social ou coisa parecida. E todas essas coisas que estão acontecendo agora, obviamente, não concordo com elas. Mas sofro de falta de alunos, porque eles simplesmente não estão sendo dispensados. Assim, começamos um curso de tempo parcial. Está indo muito bem. Normalmente, esses cursos de mestrado têm por volta de oito estudantes para cada orientador. No primeiro ano peguei dezesseis alunos, e peguei outros doze no segundo ano. Isso quer dizer que tenho cerca de 25, 26 alunos fazendo cursos de mestrado. Atualmente, é o maior curso avançado na escola de educação. É ridículo. AMB Quantos orientandos? MR Oriento os 26. Eu deveria ter no máximo doze, mas toda essa gente queria vir, e acho muito difícil dizer não, porque eles têm estado à espera por tanto tempo por uma oportunidade de obter um título mais alto. E eles não têm nenhuma chance de fazer cursos, e estão dispostos a pagar por eles. Eles vêm de Wales, Cambridge, Liverpool, Birmingham etc. AMB Eles têm que vir aqui toda semana? MR Sim. O único jeito de podermos fazer um curso dessa maneira foi eles vindo cinco fins de semana. Durante dois anos. Também têm que fazer dois cursos de verão, que constituem a residência, o contato mais direto. Nós produzimos materiais como este formulário, gravamos fitas, falamos no telefone, escrevemos longas cartas. Procuramos nos manter em contato, como uma espécie de Open University[2]. Eles fazem um número de tarefas durante esses dois anos, que constituem o trabalho do curso, e então têm que fazer uma longa dissertação. E provavelmente, para a maioria deles, levará três anos para tirar o título. Podem tirá- lo em dois anos se conseguirem fazer a dissertação a tempo. Mas as chances de fazerem isso, quando trabalham em tempo integral, são praticamente nulas. E muitos têm que pagar do próprio bolso. Portanto, são muito dedicados, um pessoal formidável. Estou muito feliz de trabalhar com eles. E atualmente eles são minha principal responsabilidade. Recebo ajuda de meus colegas com as aulas e outras coisas. Porém tenho que orientá-los, verificar seus trabalhos, aconselhá-los… AMB Um trabalho grande. MR Bem grande. Espero que se torne menor. AMB Tenho dois alunos para mestrado e dois para doutoramento. MR Isso é razoável, assim você pode lecionar… AMB Comecei a orientar estudantes – chamamos de orientação, em vez de “tutoring” – comecei a orientar estudantes apenas no ano passado. Conseguir o tempo integral na minha escola é difícil, principalmente sendo mulher, pois muitos homens que começaram a ensinar muito depois de mim tiveram o tempo integral e eu não. Quando eu me rebelava, diziam que eu tinha marido para me sustentar. Como protesto, resolvi não orientar, embora a pós-graduação em arte-educação tenha sido criada por mim. Operou-se uma contradição: havia o curso, mas não havia orientador, pois eu era a única doutora em arte-educação, e só doutores podem orientar. Foi como consegui meu tempo integral. Podemos receber só dois alunos por ano. O limite é de doze. JOÃO ALEXANDRE BARBOSA[3]: Eu tenho dezessete. MR E qual é a sua cadeira? JAB Teoria Literária. MR E vocês estão trabalhando no mesmo lugar? AMB Na mesma universidade, mas ele na Faculdade de Filosofia e Letras e eu na de Comunicações e Artes. ■ ■ AMB Como se sente… Acho que você é o mais produtivo escritor em educação artística atualmente na Inglaterra. Sendo o mais importante escritor sobre educação artística, agora, como se sente lecionando arte num Departamentode Educação, em vez de num Departamento de Educação Artística? Você acredita que exista algum tipo de preconceito em relação à arte, por parte dos professores da educação geral? MR Deus do céu! Vamos ver se entendi direito sua pergunta. AMB Creio que são duas… MR Você está querendo saber se eu sinto que, ao trabalhar num lugar como este, existe um preconceito em relação às artes? Acho que existe por aí, em quase todos os níveis, uma discussão sobre educação no momento[4]. Não é uma conspiração contra as artes; nem mesmo um preconceito em relação às artes. É mais um sentimento de que existem outras prioridades. E essas prioridades são de algum modo legítimas. Ninguém quer ser pego dizendo que eles são contra as artes, ou que eles entendem que não deveria haver lugar para as artes na educação. Mas se você pega a maioria dos pronunciamentos oficiais recentes do Conselho do Departamento de Educação e Ciência, a estrutura para o currículo, o seu papel no currículo escolar inteiro, você conhece esses documentos e sabe que é preciso procurar muito para achar neles alguma menção sobre as artes. E, no entanto, eu li ontem um relatório muito interessante do Comitê de Educação, Ciência e Arte, da Casa dos Comuns, falando sobre o currículo escolar e sobre esses pronunciamentos do Departamento de Educação Ciência e Arte, dizendo que eles sentem muito o fato de as humanidades e artes terem sido, aparentemente, negligenciadas e ignoradas. Porque, eles fazem questão de frisar, não pode haver educação civilizada que ignore as artes, e de fato eles sugerem que muitos de nossos problemas culturais nos dias de hoje, por exemplo, o despovoamento do campo, poderiam, até certo ponto, serem corrigidos por uma aplicação de dinheiro para apoiar atividades culturais e atividades artísticas. E, aparentemente, nos EUA, está havendo um reconhecimento desse tipo de relação entre a, digamos, moral de uma comunidade e a disponibilidade de atividades culturais e artísticas dentro dessa comunidade. Portanto é como afirmar que é uma visão muito acanhada do Departamento de Educação e Ciência não reconhecer de fato a importância social das artes. Elas são interrelacionadas. Pessoalmente, uma opinião bem pessoal, acho que a posição do estudo, na instituição onde trabalho, dá preferência às pessoas que trabalham, digamos, nas áreas onde os currículos têm maior demanda, são mais reconhecidos, do que na área das artes. Não há dúvida quanto a isso. Veja, não é um preconceito consciente, não é uma política consciente. Apenas existe o sentimento de que não podemos apoiar tudo igualmente, e de que algumas coisas são mais comerciáveis – podemos dizer assim? –, alguns outros cursos são mais atraentes para os partidos locais e para orçamentos reduzidos etc. A fim de manter este instituto funcionando e florescendo, temos de fornecer o tipo de cursos que os partidos locais estão preparados para apoiar, e francamente pouquíssimos partidos locais colocam as artes entre suas prioridades. Agora, quando vou para Dartington, sinto imediatamente que estou falando com pessoas que entendem minha linguagem, que sabem como desejo trabalhar, que respeitam o modo como trabalho, e então você descobre que tem de trabalhar num lugar como este para advogar a arte, com todo tipo de dificuldades, que começam pelo fornecimento do local de trabalho. Eu quero um piano na minha sala, preciso de um determinado espaço de chão, tenho que poder armazenar grandes folhas de papel; não há condições convenientes num lugar como este. Você terá de lutar para conseguir… Ninguém se opõe a você; dizem: daremos o que for possível. Mas talvez seja preciso fazer muito por si próprio. Espera-se até mesmo que eu recrute os alunos! E é tudo um pouco cansativo, a maneira como um lugar desses funciona normalmente. Não encontro antagonismo, nenhuma oposição direta, mas a não ser que eu esteja disposto a fazer um esforço imenso, nada aconteceria. Acho que o ponto principal é esse: nada aconteceria. Não haveria curso de mestrado em artes, como parte da política da instituição. Ninguém diria se eu não dissesse, mas olhem para os nossos cursos: têm toda uma área de estética que foi negligenciada, e me dispor a lecionar nos fins de semana, e a entrar em toda essa espantosa… negociação curricular… AMB Gostaria que falasse sobre seus escritos. Que repercussão, que influência acha que seus escritos em educação artística, os livros que escreveu em educação artística, têm sobre o ensino das artes? MR Essa é uma pergunta muito dolorosa de se tentar responder. Não tenho dados concretos sobre isso. A pergunta geral: até que ponto os professores de arte leem livros sobre educação artística? Certamente há professores que queimam as pestanas de tanto ler livros. Quando eles voltam para cá, para fazer cursos, ou quando fazem cursos em outras universidades que conheço, como Dartington, ou em outra qualquer, eles lerão as coisas que escrevi, do mesmo modo como lerão Elliot Eisner, Lowenfeld etc. Eles lerão esses livros e serão, até certo ponto, suponho, influenciados por eles. Mas não estou certo quanto ao resto da vasta população de professores. Apenas 5% da população de professores frequenta cursos. Porém, suponho que você pode exercer influência sobre o que acontece nas escolas de um modo pouco menos direto, influenciando os orientadores, ou aquelas pessoas que estão realmente lecionando para professores; influenciando um pouco os fazedores da política, e certamente os professores-chefes, os chefes de departamentos nas escolas e as autoridades locais; inspetores e conselheiros. Esses são os que precisam ler hoje em dia; eles sabem disso e o fazem. AMB Mas não liam… MR Mas agora sim, eu acho. Porque tem havido uma crescente pressão, nos últimos anos, para que as escolas sejam claras sobre o que eles estão fazendo. AMB O que fazem. Para dar demonstração teórica. MR Para demonstração, é isso mesmo. Bem, não simplesmente isso. A pressão tem sido para que elas prestem contas, para que mostrem o que estão fazendo. Para pôr os pais a par de que tipo de escola é. Para produzir uma espécie de prospecto, no qual sejam descritos os tipos de cursos que estão oferecendo. Tem havido uma pressão semelhante, partindo do governo, sobre as autoridades locais, para que estas façam uma declaração sobre o tipo de princípios que esperam encontrar personificados nas escolas. E assim, por todo o país você tem encontros em nível de partido local, com os conselheiros se reunindo para tentar explicar detalhadamente o que está sendo feito, ou o que pensam que está acontecendo nas escolas; e no nível do ensino, nas escolas individuais, e dentro das escolas, no plano do departamento, as pessoas têm que fazer declarações sobre o que estão fazendo. Portanto é aí que começam a procurar livros, escritos, declarações, para encontrar ajuda a fim de formular suas ideias. AMB Qual de seus livros é considerado o mais importante? MR Creio que tenho uma cópia dele por aqui. Sim, é The Creative Arts. AMB Está esgotado. MR Vendeu bem, não é? Acho que The Creative Arts, provavelmente porque, antes de tudo, ele atua como uma espécie de… Acho que ele ajuda as pessoas a entenderem melhor a arte… Pessoas que pensam que gostam de arte, muitas vezes acham que os livros são esotéricos ou difíceis demais, e talvez achem a maneira como escrevo mais compreensível. E penso que as pessoas gostam da conexão que estabeleço entre as noções expressas de artes visuais, drama, música etc. AMB Em geral, David Thistlewood e você são considerados seguidores da obra de Herbert Read. O que acha disso? MR Na verdade, fico muito feliz com isso. Estou fortemente ligado à filosofia de Herbert Read. E isso me alegra… quero dizer, fico muito lisonjeado, honrado, em pensar que sou colocado nesse tipo de dimensão. Penso que está certo. Nosso sentimento sempre foi de considerar a arte como uma propriedade do indivíduo, que tem sua validade educacional, simplesmente porque ela responde diretamente, ela vai ao encontro das necessidades do indivíduo: homem emulher. O que não significa que nossa ênfase seja sobre a individualidade a qualquer preço. Não estamos afirmando que o indivíduo seja contra a sociedade, contra os grupos formados por ela. Na verdade, nossa noção de individualidade deve abranger o sentido original desse termo, que é “in- dividido”. O indivíduo é de fato a comunidade, o grupo não dividido, do qual todos fazemos parte. E uma das coisas que estou realmente interessado em promover nesse momento, é algum tipo de noção das experiências de participação (sharing) de arte: tanto na resposta à arte quanto na produção da arte. Estou muito interessado em algumas das coisas que os antropólogos têm escrito sobre arte comunitária, e sobre essa noção de arte como uma espécie de área limítrofe entre o sagrado e o secular. Algo através do qual os indivíduos, e também os grupos de indivíduos, as comunidades, podem estabelecer um sentido de totalidade, um sentido de unicidade. AMB Às vezes penso que estou de volta ao século XIX, porque as discussões são quase as mesmas… A luta entre a educação de arte e o design. Pode explicar sua posição? MR É um meio termo entre… AMB Conheço sua posição em relação à polêmica, mas gostaria que fosse mais claro… MR Na discussão entre arte e design temos tantos tipos de diferentes tomadas de posição extremas, não é? Temos, por exemplo, a facção a favor da arte, que acredita que a educação artística consiste principalmente em levar as crianças a entender sua herança cultural – as obras de arte no sentido estrito do termo –, o produto dos últimos quinhentos anos da Civilização Ocidental. E no extremo oposto, temos um tipo de noção muito funcionalista… Temos uma espécie de abordagem mais funcionalista, que pensa que o desenho, o fazer marcas, pode servir para fins muito pragmáticos, muito utilitários, que o desenho pode ser utilizável, que existem “problemas” com o meio ambiente, as indústrias, ou com qualquer outro campo, que podem ser resolvidos por certos tipos de habilidades: olhar, fazer, articular, e que a maneira de se justificar a arte na educação é dar-lhe essa espécie de aplicação, muito útil, muito pragmática, prática. Há algo de positivo em muitos desses argumentos, me parece. E, no entanto, eu não gostaria de me definir por nenhuma das duas direções. Acho que enfatizar, de um lado, uma visão de educação artística que esteja ligada às grandes obras de arte e à apreciação das grandes obras de arte; uma visão dessas sugere que estamos tentando fornecer um público maior, tornar nossas tradicionais obras de arte mais acessíveis às classes operárias etc. Isso me parece arrogante, disparatado. E a outra visão é secular demais para o meu gosto. Portanto, o que estou tentando fazer é, suponho, não importa por qual meio, encorajar as crianças e os alunos a desenvolver sua percepção do caráter expressivo, do sentido, da sensualidade – ou do sentido sensual dos fenômenos do mundo; objetos, espaços, lugares, e também sinais e marcas e as coisas que fazemos, as imagens… AMB Você se interessa pela antropologia por causa da maneira como ela entende o mundo? MR Correto. Sim, as teorias dos engajamentos naquilo que a antropologia chama de abismo regenerativo de uma comunidade, a sua imersão regular é tão harmoniosa, tão ritual que se torna regenerativa. Penso que as artes pertencem a essa área, fazem parte, junto com o espiritual e o ritualístico, dessa espécie de área regenerativa. E a propósito disso, fiquei interessado em ler, outro dia, sobre os maias, que não é uma coisa da qual eu entenda, mas que provavelmente você entende melhor… Você sabe sobre a arte maia, não? AMB Sei… MR E suspeito que a arte maia esteja impregnada com essa noção regenerativa. Mas é uma maneira de ver o mundo. Penso que existem três aspectos de relação com o mundo: um é que toda percepção é ilusão, e que criamos nosso mundo através de nossos atos de sensação. Mas o que produzimos, aquilo a que nós respondemos, é uma ilusão, é uma fabricação, é apenas uma sombra do real, noção semelhante à platônica. Além desse mundo ilusório estão as essências, está o mundo real. E o mundo real é uma espécie de promessa oculta. Mas temos consciência de que ele está lá. A terceira noção é uma noção de revelação, que nos permite, através do espiritual, através da arte, através desse processo regenerativo, perceber, ocasionalmente, essa realidade, romper essa membrana de ilusão e sentir o real. E o meu sentimento é de que a educação artística devia nos colocar em contato com essa sensação de realidade, do nosso ser, o qual não está operando pragmaticamente, ou em termos de consciência, mas estamos permitindo que a consciência seja inundada pela inconsciência. É a única maneira que podemos falar sobre isso. Temos realmente que invocar essas espécies de situações para as crianças, para as pessoas com quem estamos trabalhando. Assim podemos participar em certos tipos de danças, ou em certos tipos de experiências musicais. Se você realmente rabisca com um pincel, ou segue com ele por desenhos e padrões, a consciência se dissolve e você começa a perceber formas, usando tipos de recursos e dispositivos para experiências articuladoras que, de outra forma, estariam fora de alcance ou não disponíveis. E quando nos comportamos assim, nós sentimos uma qualidade de envolvimento muito maior, sentimos que estamos usando mais de nós próprios, e somos capazes, eu acho, de perceber e organizar, sendo deliberados, pragmáticos, conscientes e intencionais sobre ela. É permitir ao não proposital trabalhar, permitir a intuição, permitir que se desenvolva o tácito, o silencioso, o implícito. E para mim, a educação estética diz respeito a sentir prazer; não apenas sentir, mas sentimento e mente, o ser total. AMB De certo modo, você faz certa diferenciação entre a educação estética e a educação artística. Em seu livro, você afirma: uma coisa é educação artística outra coisa é educação para a arte. MR Certo. Mas é uma simplificação, e uma simplificação inteiramente vulgar. Mas sempre me preocupei com aquilo que se chama de uma noção de arte mercadoria. Você pode distinguir uma arte mercadoria e uma arte uso: a arte como algo que você usa e a arte como algo que é apenas uma mercadoria, a qual possuímos ou vendemos ou trocamos. O valor de troca é oposto ao valor de uso. Acho que grande parte da noção que o homem comum tem de arte diz respeito à arte como uma mercadoria, como algo que pertence aos ricos, aos burgueses, que você compra ou paga por, ou seleciona ou guarda, e acho que muito da prática nas escolas está relacionada com tais obras que têm sido veneradas, porque possuem valor de raridade, ou porque parecem ser um tipo de exemplo alternativo da excelência humana, de certa maneira, e são objetos valorizados, raros e espantosos. Ao mesmo tempo, estão tentando levar as pessoas a ver como essa experiência é banal. Quão imediata, quão natural, quão acessível ela é. Como se pode incorporar essa espécie de decisões e julgamentos a cada aspecto da vida cotidiana. E, é lógico, dar acesso àquelas ocasiões especiais, quando você esquece tudo mais, e se entrega ao estético. AMB Encontrei algo comum ao seu pensamento e ao de John Dewey e Susane Langer. Você cita os dois frequentemente. Gostaria de saber quais as influências mais importantes na sua formação. MR Na verdade não sei. Certamente Dewey, Read, são as pessoas a quem mais devo. Depois, é claro, o período em que trabalhei com Witkin[5] foi o momento em que as coisas realmente se cristalizaram. AMB Aquele projeto… MR O projeto no qual trabalhamos juntos. Porque usamos muito Langer. Read também é alguém que nós dois achamos muito importante. Sua noção de significado e corpo me ajudou bastante. Nos últimos anos, Read significou muito para mim. A partir daí passei a seguir em outras direções. E como eu disse, os antropólogos. E através deles estou interessando por formas diferentes, em períodos anteriores da arte. Estou interessado, por exemplo, na arte maia; e particularmente interessado na arte mesopotâmica. Penso que issodeve ser fascinante, o modo como a arte fazia parte dessas comunidades. E de Gaston Bachelard, você gosta? Você gosta de seus escritos? Acho maravilhoso. Não entendo muito o que ele escreve. Considero sua Poética do Espaço legível. A retórica poética é impossível; e a psicologia é árida; a psicanálise também é árida, e não entendo alguns trechos. Ele trata dos valores dos sonhos – ou algo assim. Sei o que essas coisas significam, pois procurei invocar esses tipos de experiências no meu trabalho prático com as crianças, com os jovens e adolescentes com os quais trabalho aqui. AMB Encontrei arte-terapeutas que mencionaram Bachelard. Mas nunca encontrei um arte-educador, aqui na Inglaterra, que o conhecesse. Você é o primeiro. MR Eu o acho maravilhoso. E nesses últimos anos ele tem sido uma espécie de figura-chave para mim. Muito do trabalho prático que faço – trabalho muito mais de modo prático do que teórico – dirijo sessões. AMB Como dirige as sessões? MR É difícil generalizar. AMB Como fugir dos clássicos seminários? MR Nenhum problema quanto a isso. Em primeiro lugar, tento criar uma espécie de espaço especial, no limite. Deixamos o mundo para trás. Deixamos para trás toda a espécie de práticas… Durante as sessões… AMB Durante os fins de semana? MR Durante os fins de semana. E começamos apenas andando por aí, e às vezes fechando os olhos; ou também pode acontecer de cantarmos algo, ou ainda há a possibilidade de começarmos a improvisar sons. Nós nos recordamos da supremacia dos sentidos, dos meios e espaços. Começamos a ver espaços novamente e a sentir o caráter emocional dos materiais, do meio. Gosto muito de rabiscar (doodling) como princípio. Em outras palavras, gosto de deixar as coisas acontecerem. Gosto que as pessoas apenas comecem a descobrir propostas no processo de ativar o meio. Isso é uma espécie de retardamento da mente, esse ativar o meio, fazer o meio trabalhar, comprometer-se com o meio. Não dizer que você quer fazer algo ou escrever algo hoje, nem mesmo um soneto – você não tem um tema, um assunto –, nem mesmo sobre sua mãe, ou sobre a morte de uma flor, não, apenas interaja com o meio, apenas comece a fazer esses rabiscos. Uma das melhores sessões que tive no último período com os meus pós-graduandos foi fazendo música. Eles desconheciam inteiramente essa maneira de trabalhar. Havia apenas um músico lá, uma jovem, que abandonou o curso no final dessa sessão e nunca mais voltou. Na minha opinião, foi a melhor sessão de música que eu já havia feito até então. E deu início aos trabalhos do período de maneira maravilhosa. Mas comecei só dizendo para todos eles – “apenas andem pelo espaço, e agora escutem os sons no espaço enquanto andam”. Agora comecem a procurar as coisas que produzem sons, ou que vocês podem produzir sons com elas. Escutem, e encostem suas cabeças nelas. Ponham suas cabeças junto delas e as ouçam. Assim nós ligamos nossos ouvidos; tornamo-nos todos ouvidos. Então começamos a tagarelar um pouco. Agora, um pouco de silêncio. Quando eu me deixo ir desse modo, eu penso: “agora nós vamos ter silêncio em meio às vozes”. Daí usamos alguns objetos de som natural, mais alguns instrumentos. E apenas sentamos em volta e deixamos partir o barco. Então eu propus três exercícios relacionados com as cores. E disse ao grupo: “faremos um pouco de música vermelha, um pouco de música verde e um pouco de música azul”. E foi só quando chegamos à música azul que a coisa pegou. E foi maravilhoso! É como se você tivesse que fazer uma porção de marcas e gestos muito óbvios, e dar-lhes um clique. Então uma porção de nervosismo está fora do caminho, porque as pessoas estão repletas de silêncio e também de espaço. Pensam que devem fazer alguma coisa com eles. Mas o que eventualmente se estabelece é uma espantosamente fina, tênue, espécie de pele, de membrana de som – com as pessoas adicionando pedacinhos, num padrão que seria impossível de predizer, ou de fazer uma notação. Mas nessa membrana de som nós vivemos a música! E você não conseguiria dizer onde acabava a música e nós começávamos. E terminar uma experiência como essa é saber que você restabeleceu contato com a fonte desse tipo de energia e sentido. E você olha para a cara das pessoas, e elas estão diferentes. AMB E a musicista que saiu, nunca explicou por quê? MR Eu nunca mais a vi. Achei que ela era útil. Estava trabalhando com o interior de um piano, muito direitinho. Pode ser que não tenha sido por causa da sessão de música. Sou cético quanto a isso, pois tenho tido mais dificuldade com os músicos, com M maiúsculo, do que com qualquer outro grupo de pessoas com quem eu tenha que trabalhar ou falar. Os músicos me consideram um verdadeiro castigo… AMB Que tipo de educação artística você teve? MR Em inglês. Escrever teatro particularmente. Teatro é a forma de arte com que trabalhei – representei e dirigi um pouco. AMB Gostei muito do seu conceito de criatividade. A ideia é de que a criatividade é um modo de conhecimento. Vai um pouco contra Guilford, que concebe a criatividade como produção; a completa operação para a produção. Concordo com você, e sempre achei que a maneira de adquirir conhecimento pode ser criativo ou não criativo. Conhece Silvano Arietti? Ele escreveu um livro chamado Creativity. Acho que trabalha em Nova York. MR Como se escreve o nome do autor? AMB Silvano A-r-i-e-t-t-i. MR Muito obrigado. AMB Sua abordagem é semelhante à dele. MR Vou comprá-lo. AMB Minha próxima pergunta é sobre a necessidade que o professor de arte tem de aceitar a arte popular dos adolescentes. Acha que é um meio de se comunicar com as noções de arte que os alunos trazem? MR Acho que fico dividido sobre esse problema. Tenho dois sentimentos conflitantes sobre isso. AMB Acho que seus interesses antropológicos têm algo contra essa posição. MR Têm sim. Veja, para um professor de música, que fica genuinamente animado pela música pop, que pessoalmente a considera atraente e algo que poderia apreciar, então partilhar isso com as crianças, me parece bom. Não vejo por que não. E para as crianças fazerem sua própria música pop, dançar pop, tem que ser bom, tem que ser direito. O que me preocupa, e onde ponho muitas objeções, é o professor tradicional de música pegar a música pop e transformá-la em música de escola tradicional ao analisá-la. É uma espécie de suborno. Mas o que eles tentam fazer é submetê-la a todos os velhos processos tradicionais de análise, musicologia etc. Assim, fazemos um projeto de música pop. AMB Mas respeitando o contexto? MR Sim, retirada de seu contexto social e pessoal torna-se apenas um exercício acadêmico. E as crianças acham isso muito aborrecido; não querem sentar-se e ficar olhando, mesmo que o professor de música termine por elogiar e apreciar o trabalho de um Beatle. Assistir sentado a uma análise que compara os Beatles com Schubert, e que mostra como a música dos Beatles também emprega os mesmos tipos de estratagemas técnicos é acadêmico e também condescendente. Quando são as crianças que usam a música, é bem diferente; e, eu diria, artística, esteticamente expressa mais. Assim não se deve fazer isso, e estragar a música deles, para eles. Do mesmo modo que não se deve, numa escola primária, convidá-las a ler livros sobre a origem da trompa, e fazer desenhos e escrever sua história, em vez de tocar a bendita trompa, e dançar ou rabiscar ou fazer música. Existe também uma ideia de que nós vamos nos sentar e escutar os garotos e depois eles vão escutar a nossa música; faremos uma espécie de negociação tácita com eles. Os professores de música precisam compreender a legitimidade, o papel legítimo dessa música, digamos, nas vidas dos jovens africanos, dos jovens jamaicanos e dos jovens ocidentais. Devem estar prontos para apoiar esse tipo de atividade, quando ela tem valor, quando os envolve. É sobre isso que estão acostumados a falar quando estão juntos. E se envolver nessa espécie de música é ajudar as crianças a participar mais ativamente. AMB Você acha que existe uma diferença entreeducação das sensações e educação emocional? MR Sim. Vou lhe dizer o que penso. Eu estava fazendo uma sessão de movimento. Na verdade, era uma sessão de movimento e ciência. É uma coisa linda de se fazer. Você vagueia pelo espaço, os olhos fechados, fazendo palavras, inventando palavras, sons: lá-lá-lá, bou-bau. E as outras pessoas fazem o mesmo. E se torna muito visual, de algum modo, mesmo de olhos fechados. A gente se torna ciente, visualmente, de uma nova espécie de espaço, de sons criados, de texturas. E quem está fazendo isso precisa de muita concentração para ir bastante longe nessa viagem. E dez minutos depois de ter começado essa sessão, entra um professor de música e diz: “Co�, Hum – Será que podia… Fulano de tal está aqui?” Fui depressa até ele e disse: “Não, acho que não.” E ele: “Alguém sabe onde está Fulano de tal?” E pronto. Acabou-se tudo. A suposição é que você poderia entrar em qualquer de suas aulas e interrompê-lo desse modo, a qualquer hora, sem estragar a experiência na qual ele está envolvido. Deve ser isso, se ele faz isso na minha aula… AMB Ou ele pensa que não está acontecendo nada em sua aula! MR Ele supõe que não está acontecendo nada. Portanto, ele pode me interromper! É isso mesmo. Sei que, de maneira geral, eu poderia entrar em suas aulas e apenas parar um instante dizendo: “Será que eu poderia dar um aviso?” Eu poderia interromper e não haveria problema. Porque ele não está operando da maneira que eu opero. É tudo muito consciente, muito linear, estruturado e acadêmico. Nós estamos falando sobre, estamos olhando para, estamos fazendo marcas, estamos usando símbolos objetivos, abstratos. Você pode parar isso a qualquer momento. Mas tente parar o que estou fazendo, a qualquer instante, e gritarei de dor verdadeira, de angústia. Algo assim aconteceu numa sessão em que tomei parte. Havia alguém dirigindo a sessão. E eu estava longe, participando de algo. Ele parou a sessão e disse: “Acho que vamos parar agora, porque tem três pessoas lá fora, paradas. Acho que elas não estão se divertindo, e estou preocupado com o que estão pensando.” E nós todos dissemos como nos sentíamos. E eu disse: “Eu sinto como se tivesse sido puxado pelas raízes, e arrastado gritando de volta a alguma espécie de mundo que eu havia deixado.” E todos olharam para mim: “Ele está exagerando de novo. Ele está maluco. Ele é sempre tão dramático! Ele não pode estar se sentindo assim.” Mas eu disse: “Eu me sinto assim! Eu estava trabalhando em outro meio, em outra dimensão de pensar, que era muito importante para mim, e onde eu estava aprendendo algo, e onde eu ia receber algo talvez. E vocês me fazem abandonar tudo por isso aqui? Bem, eu largo tudo, mas é como me acordar no meio de um sonho; vocês me acordam, vocês dizem: ‘Acorde! Acorde!’ E eu: ‘Sim! Sim!’ Vocês compreendem? Ok, eu acordo.” Esse é o efeito no meu ser, na minha consciência. E, provavelmente, ficarei flutuando no ar por horas. Sou sensível demais, demais. Mas é assim que quero trabalhar em minhas sessões e com as crianças. Quero que a educação de arte seja sobre como obter essa espécie de elevação para um outro mundo, onde você pode fazer figuras, de acordo com essas outras leis não ritmadas. E onde você pode usar forças, ideias, um sentido de forma, e onde um sentido do significado da arte opera. Mas existem outros muito mais intuitivos do que anteriormente. A maioria dos estudantes de arte faz trabalhos para as faculdades e, em casa, fazem trabalhos para si próprios. AMB E às vezes, no colégio, eles fazem o trabalho que agrada o professor. É incrível como as crianças nos usam. Eu me lembro de a minha filha dizer: “Eu sei, para a escola faço esse tipo de desenho, porque é o que a professora gosta.” MR Isso mesmo. E em casa eles fazem o que gostam. AMB Bem, acho que já perguntei demais. MR Sim, mais do que demais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROSS, Malcolm. The Creative Arts. London: Heinemann Educational Books, 1978. WITKIN, Robert Winston. The Intelligence of Feeling. London: Heinmann Educational Books, 1974. 2. Criatividade: Ilusões, Realidades e Novas Oportunidades[6] John Steers INTRODUÇÃO Tenho idade suficiente para me lembrar de que a criatividade estava no topo da agenda educacional nos anos 1960 e no princípio dos 1970, mas depois parece que desapareceu. Os que ensinam as artes acreditavam piamente que a criatividade estava no centro de tudo o que faziam – alguns até chegavam a pensar que só eles tinham essa prerrogativa no currículo. Dez anos depois o tópico reapareceu com um apoio retórico crescente, de tal modo que está hoje no centro da política educativa. Com certeza é uma notícia muito boa mas, e isso é a minha questão essencial, como é que as artes podem promover a criatividade dentro dos moldes inflexíveis do sistema escolar contemporâneo? A criatividade é difícil de definir. Uma definição aproximada foi tentada por Rob Pope. Ele propôs que criatividade era a ‘‘capacidade de produzir, fazer, ou tornar algo em uma coisa nova e válida tanto para si como para os outros”[7]. Podemos pegar centenas de definições de criatividade e depressa percebemos que ela pode ser pensada como um ato, um conceito, uma estratégia ou até uma ideologia tácita. Seja tomada em uma dessas acepções ou em uma combinação de várias acepções, ou em todas elas, sugiro que não se limite a criatividade aos que em certo período de tempo foram considerados gênios. Trata-se de um atributo humano comum. A maioria das pessoas resolve problemas de todas as espécies no seu dia a dia com algum grau de criatividade. CRIATIVIDADE NAS ESCOLAS I Claro que há alguns exemplos excelentes de ensino criativo das artes e, para onde quer que olhemos no mundo, podemos encontrar excelentes professores de artes que devem ser reconhecidos. Mas estamos enganados se pensarmos que isso é norma. Muitas preocupações graves têm sido expressas durante várias décadas sobre ortodoxias dominantes nas abordagens ao ensino das artes. Ortodoxia é a antítese de criatividade. Ao longo dos últimos vinte anos, muitos autores de artigos da revista britânica International Journal of Art & Design Education têm chamado a atenção dos leitores para assuntos que devem ser reequacionados, para a necessidade de se repensar a educação da arte e do design. Essas chamadas de atenção refletem sobre a necessidade de se reformar o currículo, e parece que as críticas têm muito em comum[8]. Investigações recentes mostraram que o entendimento dos professores sobre o que vem a ser “criatividade” varia muito[9]. O modo como a criatividade deveria fazer parte do currículo escolar também é sujeito a diferentes interpretações. Alguns professores identificam a criatividade com áreas particulares do currículo, outros argumentam que ela é sinônimo de resolução de problemas, imaginação e capacidades de pensamento lateral/divergente. Possivelmente poderemos concordar que embora a criatividade não seja a única prerrogativa das artes, estas deveriam ter um papel significante no currículo em relação ao assunto. Na Inglaterra, o declínio do interesse pela criatividade coincidiu com o desenvolvimento do currículo nacional na segunda metade dos anos 1980, e com a introdução de exames nacionais mais prescritivos. Isso pareceu ter retirado todo incentivo às abordagens inovadoras do currículo, houve um sentimento de que o problema do que ensinar fora finalmente codificado e portanto não era necessário procurar mais nada. Parece que nunca houve verdadeiramente uma intenção de inibir a criatividade em vez de promovê-la, mas, na vaga dos programas rígidos que enfatizavam o modelo das capacidades/competências-chave[10], foi o que aconteceu. Alunos criativos precisam de professores criativos que não tenham medo de correr riscos. Infelizmente, isso pressupõe uma visão e um envolvimento excepcional num sistema educacional altamente estratificado, que incita ao conformismo do currículo estandardizado, com a sua avaliação estandardizada, tarefas de avaliação e metas de avaliação estandardizadas, rankingde escolas, iniciativas constantes para subir os resultados, regimes de inspeção intimidatórios, magros recursos e formação profissional limitada. Tais condições restringem severamente os professores, impedindo-os de assumir riscos e olhando para eles como simples operacionais: eles “executam o currículo”. Parece que há muito poucas recompensas, se houver alguma, para as iniciativas criativas: tal indicador não era evidente nas listas de verificação usadas pelos inspetores das escolas para quem não interessa referir o grau de educação criativa na aprendizagem e na avaliação. É frequente dizer que muitos professores, especialmente os professores de artes, estão predispostos para a criatividade; eles precisam tratar o currículo com desenvoltura para eles mesmos e para os jovens. Porém, tal como Arthur Cropley escreveu: “os professores que fomentam a criatividade são os que promovem a ‘flexibilidade’, que aceitam ‘sugestões alternativas’ e que encorajam ‘a expressão de ideias’”[11]. Infelizmente, num sistema educativo altamente monitorado, aqueles que assumem riscos podem ser uma minoria e existe a tendência contraditória para convencer os professores a adotar o sistema de prescrição segura para que os alunos tenham boas notas nos exames. Os alunos são treinados a responder por segurança, replicando respostas de anos anteriores nos exames, e a criatividade que se pode encontrar nos trabalhos dos alunos é realmente a do professor que fez o projeto e não dos alunos. Esse tipo de abordagens frequentemente ajuda os alunos a produzir trabalhos que podem ser bem classificados nos exames externos. Isso é muito importante porque os professores são avaliados unicamente através da percentagem das notas altas nos resultados dos exames nacionais. Esse tipo de situação de prescrição assídua e de diretivas do professor recolhe dividendos, mas a consequência é que o trabalho obtido tipifica a ortodoxia do estilo “School art” que é perpetuado. Até o O�ce for Standards in Education percebeu o perigo evidente em algumas escolas onde o desenvolvimento dos programas para os alunos entre onze e quatorze anos não era mais do que uma preparação para os exames que eles teriam que fazer aos dezesseis anos[12]. Eles salientaram que o currículo nacional estava prestes a se tornar um estilo particular de trabalho associado às boas notas nos exames. A anedota seguinte ilustra talvez o que algumas pessoas com autoridade pensam da criatividade. O fato aconteceu durante uma mesa redonda num programa de televisão sobre criatividade, onde um membro da mesa e eu estávamos extrapolando sobre a importância da criatividade. Um orador que pertencia a um dos “examination boards”[13] estava visivelmente agitado e acabou por dizer que estes estavam muito interessados em promover mais criatividade: “eles querem ver mais criatividade”. E enfatizou a frase “criatividade é muito importante”. Mas, continuou ele, “a criatividade tem de ser cuidadosamente controlada! E é frequentemente controlada”. Claro que a criatividade pode ser problemática. Ela não está associada só ao aparecimento de ideias inventivas, inovadoras e imaginativas, mas também a ideias que podem ser radicais, heréticas ou revolucionárias. Quais são os limites da criatividade nas escolas? Deveriam existir limites à criatividade nas escolas? Deveriam existir mais alguns limites para além daqueles impostos pela decência comum e pelas práticas da segurança e saúde? CRIATIVIDADE NAS ESCOLAS II Existem aspectos que devem ser encarados na sala de aula ou estúdio de criação e que podem estar em conflito com o éthos de muitas escolas, instituições sociais que dão muito valor a um certo grau de conformismo. Os indivíduos criativos 1. 2. 3. 4. 5. 6. podem revelar características, capacidades e habilidades que os professores têm dificuldade em gerir. Por exemplo: Tolerância pela ambiguidade: quantas vezes cortamos coisas para eliminar incertezas? Jogar com ideias, materiais e processos: quantas vezes dissemos aos alunos para pararem de fazer disparates e fazer apenas o que lhes tinha sido pedido para fazer? Habilidades para concentração e persistência, continuar a insistir num e preocupar-se com um problema em vez de procurar soluções prematuras: quantas vezes dizemos aos alunos que o trabalho tem que ser acabado no prazo? Vontade de explorar associações insólitas e ideias aparentemente desconexas: quantas vezes dizemos “volta ao seu trabalho, não foi isso que eu disse para você fazer, para de perder tempo”. A autoconsciência e coragem para prosseguir com as suas ideias contra uma possível oposição: quantas vezes interpretamos isso como mau comportamento e insubordinação? Confiança, autoestima para assumir riscos intuitivos e intelectuais (se calhar, a essência da criatividade está no “pensamento arriscado”): então, por que muitas vezes dizemos que é melhor jogar pelo seguro, ficar nas rotinas estabelecidas, não arriscar a sorte? Poderemos honestamente dizer que a nossa principal finalidade é promover ativamente a criatividade em cada criança? Dewulf e Baillie identificaram quatro elementos no processo criativo: Preparação – na qual o problema ou questão é definida, reformulada e redefinida, partindo de fatos dados para chegar a fatos compreendidos. Geração – partindo dos caminhos habituais do pensamento, listando conceitos associados, brainstorming. Incubação – um estímulo subconsciente, normalmente depois de um período de relaxamento ou atenção relaxada. Verificação – onde as ideias são analisadas, arrumadas e avaliadas, passando ao planejamento da ação e implementação[14]. A criatividade não pode ser reduzida a uma fórmula: normalmente há um longo período de incubação antes que as ideias surjam naquele momento elusivo do “Eureka!” A serendipity[15] desempenha um papel-chave no desenvolvimento de produtos criativos. Requer um tipo de “espaço” raro nas escolas dirigidas por objetivos que dificilmente poderão deixar entrar o acidental das descobertas inesperadas que surgem às vezes quando são procuradas outras coisas completamente diferentes. É importante salientar que a criatividade não é um processo linear e normalmente é consequência da interação de vários elementos, de várias fases que são revistas e revisitadas, por exemplo, quando se encontram becos sem saída. Isso sugere que o tempo é uma componente-chave do espaço criativo se queremos que o fluxo criativo floresça. Como poderemos acomodar isso com os horários escolares, em que na melhor das hipóteses as artes têm uma hora entre uma hora de matemática e uma hora de história, semana após semana? Existem outras preocupações igualmente importantes tanto para professores como para alunos, uma atmosfera forte de confiança mútua e suporte afetivo. Os alunos desejarão assumir riscos criativos se acharem que as suas ideias serão esmagadas logo que forem pronunciadas? O uso construtivo de métodos sensíveis de questionamento é essencial para promover desafios intelectuais. Devemos deixar os alunos desenvolver um sentido real de autoria das tarefas, problemas ou trabalhos e devemos fomentar a sua autoconfiança através de um feedback positivo. Seguramente, a falta de preocupação com a criatividade ou a falta de oferta de oportunidades apropriadas no currículo não é um problema recente. Muito antes do Currículo Nacional Inglês, Leslie Perry dizia que a criatividade não era uma chave dourada para o sucesso da aprendizagem para todos os alunos. Afirmava que a chave estava na mediação entre conhecimento e criatividade, nas ligações da criatividade com o conhecimento, hábitos e outros aspectos perfeitamente razoáveis do currículo: Aqueles que transmitem o conhecimento somente a partir de processos de memória deveriam ter em conta que o conhecimento é o produto de processos criativos ocorridos no passado. Aqueles que ensinam processos criativos sem ter em conta o papel do passado deveriam estar cientes de que a criatividade do passado foi preservada e é continuada no presente através do conhecimento aprendido.Seguramente se adotarmos o papel da criatividade como o que pode aparecer, então aparece o que pode e não chegam muitas coisas. O currículo perde a estrutura e a forma e temos turmas cheias de alunos apáticos. Se o conhecimento é o que puder aparecer, então teremos um fosso entre memória e compreensão, o que acarretará em falta de vitalidade, e então teremos turmas cheias de alunos apáticos.[16] Há um outro aspecto-chave da criatividade nas escolas. Deverá ser avaliado? E poderá ser avaliado? Howard Gardner questionou a validade dos testes de criatividade afirmando que a criatividade não é a mesma coisa que inteligência – embora esses dois traços estejam correlacionados, um indíviduo pode ser bem mais criativo do que inteligente ou bem mais inteligente do que criativo[17]. Muito antes Gardner, Ellis Paul Torrance tinha levantado questões similares. Segundo Torrance: “se quiséssemos identificar crianças dotadas a partir de testes de inteligência teríamos que eliminar aproximadamente 70% das mais criativas”[18]. Ele notou que os professores classificavam melhor as crianças com altos resultados nos testes de QI, mas diziam que as crianças criativas aprendiam tanto quanto as mais inteligentes sem fazer tanto esforço. Por quê? Ele suspeitou que as crianças criativas estavam aprendendo e pensanado quando parecia que só estavam brincando. Tais alunos são difíceis de gerir na sala de aula, porque frequentemente seguem as suas prioridades, fazem o que querem e quando querem em vez de seguir as prioridades e atividades ditadas pelo professor. O que lhes acontece depois? Qual a consequência? Parece que o processo criativo pode ser avaliado tal como Lars Lindström demonstrou, desde que sejam usados instrumentos de avaliação sensíveis e autênticos, integrando evidência variada; mas precisamos nos assegurar de que a avaliação não tenha inflência sobre o currículo[19]. Está claro que o éthos no qual a criatividade floresce nem sempre se adapta às prescrições do currículo nacional, sistema de avaliação e sistema de inspecção. Para finalizar, vejamos este conselho de um professor da Califórnia: E agora vamos ao que interessa: a criatividade requer perícia; mas não sabemos muito bem o que é isso. Se colocarmos demasiada ênfase na especialização, restringimos o campo. Imaginemos o impossível: muitas ideias a princípio, ideias no ar durante os primeiros pensamentos, podem parecer malucas. Têm que impor as suas ideias senão pensarão que suas ideias são disparatadas. As ideias malucas permanecerão disparatadas se não sobreviverem à crítica. Finalmente, sejam persistentes; os grandes problemas raramente se resolvem nas primeiras tentativas, mas lembrem-se de fazer pausas, elaborem um pouco para voltar a tentar de modo mais arejado.[20] NOVAS OPORTUNIDADES As boas notícias são que os tempos estão mudando depressa no Reino Unido. As mudanças podiam parecer imperceptíveis a princípio, mas apresentam agora verdadeiras oportunidades e desafios para os professores de artes. Em 1997, o governo trabalhista já havia demonstrado algum interesse nas indústrias criativas e em sua importância crescente para a economia britânica. O relatório do governo All Our Futures: Creativity, Culture and Education (Todos os Nossos Futuros: Criatividade, Cultura e Educação) foi publicado em 1999 e incluía uma grande lista de recomendações para a reforma educativa. O primeiro-ministro Tony Blair disse: “Nossa finalidade deve ser criar uma nação onde os talentos criativos de todos sejam utilizados para gerar uma verdadeira economia de empresas para o século XXI, onde irão competir cérebros e não músculos.”[21] Mas esse relatório parece que teve muito pouco impacto na revisão do currículo em 2000. Algum tempo depois, o governo investia mais de 100 milhões de libras no “Creative Partnerships”, um projeto piloto que queria investigar o impacto do aumento de oportunidades criativas e culturais no ensino/aprendizagem nas escolas. O então Secretário de Estado da Educação declarou: “A criatividade não é um acréscimo, deve ser vital e fazer parte integral da experiência das crianças nas escolas. A investigação demonstrou que, se assim for, podemos contribuir para uma melhoria da aprendizagem e aumento dos padrões ao longo da escola no seu todo.”[22] Quase ao mesmo tempo, a QCA – Qualifications and Curriculum Authority (Autoridade de Qualificações e Currículo) lançou um debate nacional para consultar opiniões a respeito do futuro do currículo. Os contribuidores dessa empreitada foram convidados tendo como base a ideia de que deveriam preparar um desafiante currículo para o século XXI. Reconheceu-se que as mudanças na sociedade, o impacto das novas tecnologias, a nova compreensão da aprendizagem, globalização e preocupações de política pública deveriam ser levadas em conta. As preocupações levantadas centraram-se em criar mais espaço para aprendizagem personalizada e desenvolvimento pessoal, menos prescrição, mais inovação, mais motivação dos alunos e claro aumento dos padrões e melhoria das capacidades e competências essenciais. A maneira como foi desenvolvido o novo currículo foi a mais colaborativa até agora. As Associações profissionais em cada disciplina tiveram um lugar e estiveram envolvidas na feitura dos novos programas e dos exames. O resultado foi a mais coerente visão que surgiu até agora sobre o currículo. Ela foi baseada em finalidades e valores claros e será implementada a partir de setembro de 2008. Oferece mais flexibilidade, menos prescrição, mais autonomia para os professores. Proporciona espaço para ensino individualizado, desenvolvimento pessoal e desenvolvimento do programa Every Child Matters (Cada Criança Importa). Há mais oportunidades para coerência e relevância, ligando a aprendizagem à vida fora da escola e promovendo transdisciplinariedade. Embora haja mais ênfase nas capacidades[23], não se trata de capacidades funcionais, mas de capacidades alargadas para a aprendizagem e para a vida. O novo currículo oferece oportunidades reais para a renovação e revigoração através de maior decisão local e flexibilidade. Um aspecto interessante é a maneira como a criatividade atravessa todo o currículo – não apenas as artes. As finalidades gerais incluem o desenvolvimento de aprendizes de sucesso criativos capazes de identificar e resolver problemas. O lugar do pensamento criativo e crítico no currículo é proeminente nas dimensões transdisciplinares. Segundo a Qualifications and Curriculum Authority, a criatividade envolve o uso da imaginação e intelecto para gerar ideias, perspectivas e soluções para problemas e desafios. Aliadas ao pensamento crítico, que envolve avaliação e raciocínio, as atividades criativas podem produzir resultados originais, expressivos e com valor; a criatividade e o pensamento crítico desenvolvem nos jovens capacidades para terem ideias originais e produzir ações válidas. Experimentar as maravilhas do gênio humano nas artes, ciências, tecnologias pode despertar entusiasmos individuais que contribuirão para a realização pessoal. A criatividade pode ser uma atividade individual ou de grupo. Ao participar de atividades criativas, os jovens podem desenvolver capacidades para construir e gerir as suas vidas na sociedade. Cada um de nós tem potencial para atividades criativas e essas atividades podem ter um impacto positivo na autoestima, equilíbrio emocional e realização pessoal. Podem desbloquear o potencial dos indivíduos e das comunidades para resolver problemas pessoais, locais e globais. A criatividade é possível em todas as áreas da atividade humana, desde o mais excepcional até o mais comum aspecto da vida quotidiana. A criatividade e o pensamento crítico não são disciplinas do currículo, mas são aspectos cruciais da aprendizagem e devem atravessar o currículo e a vida da escola.[24] A QCA continua sugerindo que, para desenvolver a criatividade e o pensamento crítico, eles devem ter oportunidades ao longo do currículo para: usar a imaginação a fim de explorar possibilidades; gerar ideias,
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