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Revisão de Literatura BONO, Edward de. O pensamento criativo. Petrópolis: Edito- ra Vozes, 1970. p. 5 PREFÁCIO O pensamento lógico tem sido exaltado, a partir de Aristó- teles, como o único meio eficaz de se utilizar a mente. No entanto, a própria raridade com que ocorrem novas idéias indicam que elas não procedem necessàriamente de pro- cessos lógicos de pensamento. p. 11 CAPÍTULO I O pensamento vertical tem sido até hoje o único tipo res- peitável de pensamento. (...) constitui o ideal recomendado ao esforço de todos, não importando o grau atingido. A suave progressão do pensamento vertical, de firme de- grau em firme degrau, torna-o bem diferente do pensa- mento lateral. 2 Tôdas as pessoas já se depararam com o tipo de problema que parece insolúvel até que de repente apresenta-se a mais surpreendentemente fácil das soluções. Assim que foi encontrada, a solução revela ser tão óbvia que ninguém compreende como foi tão difícil descobri-la. p. 12 Tal tipo de problema é realmente difícil de ser resolvido enquanto fôr empregado o pensamento vertical. Não há mal nenhum em racionalizar, por meio do pensa- mento vertical, as etapas de uma solução alcançada pelo pensamento lateral. O perigo reside em julgar que, como a solução pôde ser alcançada retrospectivamente pelo pen- samento vertical, todos os problemas podem ser resolvidos de modo igualmente fácil pelos dois tipos de pensamentos. p. 13 Uma das técnicas do pensamento lateral é o uso delibera- do desta capacidade de racionalização da mente. Em vez de proceder passo a passo, como na habitual maneira vertical, toma-se uma nova e bem arbitrária posição. Re- trocede-se então numa tentativa de estabelecer uma ponte lógica entre esta nova posição e o ponto de partida. 3 (...) os dois tipos de pensamento são complementares. Quando o pensamento vertical comum se revela incapaz de solucionar um problema e quando se necessita de uma nova idéia, então o pensamento lateral deveria ser empre- gado. As novas idéias dependem do pensamento lateral, já que o pensamento vertical apresenta limitações inerentes que o tornam muito menos eficaz para êste propósito. A organização funcional da mente como sistema excelente faz com que ela interprete uma situação da maneira mais provável. A ordem de probabilidade é determinada pela experiência e pelas necessidades do momento. p. 14 A função do pensamento é eliminar, permitindo que a ação se processe diretamente após o reconhecimento de uma situação. Se o pensamento vertical é um pensamento de alta proba- bilidade, então o pensamento lateral é um de baixa proba- bilidade. Quando uma linha de pensamento de baixa probabilidade conduz a nova idéia eficaz, então ocorre um << momento 4 de eureka>> e logo aquela linha adquire a mais alta pro- babilidade. Tais momentos constituem sempre a meta do pensamento lateral. Já que êste tipo de pensamento lida com idéias novas, en- tão estaria relacionado com o pensamento criativo. O pensamento criador requer freqüentemente capacidade de expressão, enquanto que o pensamento lateral está aberto para todos os que se interessam por idéias novas. p. 15 (...) com o pensamento lateral, todo o processo é firme- mente controlado. Se o pensamento lateral decide empre- gar o caos, então é o caos <<dirigido>> e não o caos por falta de direção. A diferença entre os pensamentos lateral e vertical reside no fato de que, no primeiro, a lógica está a serviço da mente, enquanto que no segundo ela controla a mente. Só algumas pessoas têm natural aptidão para o pensamen- to lateral, mas todos podem desenvolver uma cera habili- dade nesse sentido, caso trabalhem com deliberação. A 5 educação ortodoxa nada faz para encorajar hábitos de pensar lateralmente; p.16 O pensamento lateral não é nenhuma fórmula mágica que possa ser aprendida de uma vez e depois aplicada. Não há conversão súbita da crença na onipotência do pen- samento vertical para a crença na utilidade do pensamento lateral. O pensamento lateral é uma questão de atenção e prática e não de revelação. p. 17 CAPÍTULO II Seria bem melhor que as novas idéias não passassem de justa recompensa de trabalho árduo e esforço persistente. Se assim ocorresse, a própria sociedade sentir-se-ia muito melhor, encorajando, organizando e reconhecendo o firme esforço subjacente à busca de novas idéias. Infelizmente elas não constituem prerrogativa daqueles que gastam tanto tempo em procura-las e em desenvolvê- las. 6 p. 18 O desenvolvimento completo de uma idéia pode requerer anos de trabalho árduo, mas a própria idéia pode surgir num relâmpago de intuição. A idéia nova não precisa ser precedida por anos de traba- lho, já que o descontentamento com a idéia velha pode ocorrer bem mais depressa que isso. (...) êsses anos de trabalho podem mesmo dificultar o aparecimento de idéias novas (...) O mundo científico está cheio de esforçados cientistas (...) que jamais alcançam idéias novas. Um número vasto de novas idéias aparece quando novas informações, amontoadas pela observação e pela experi- ência, forçam uma reconsideração das idéias velhas. E’ perfeitamente possível examinar-se informações velhas e sair-se com um arranjo muito aceitável e nôvo. p. 19 E’ de pasmar (ou de entusiasmar) o número de novas idéias que jaz adormecido em informações já colhidas e que estão dispostas de determinado modo e que poderiam ser reorganizadas de melhor maneira. 7 (...) o conhecimento técnico adequado parece ser necessá- rio antes que as novas idéias sejam possíveis. (...) por outro lado o conhecimento técnico não é suficien- te, já que as pessoas que o possuem não criam automati- camente as novas idéias. O processo pelo qual as novas idéias surgem pode ser se- parado da verdadeira importância dessas idéias. p. 20 A explicação derrotista para a raridade extrema das idéias novas reside no fato de elas constituírem uma questão de pura chance. A questão resume-se em esperar que a chance provoque uma tal fértil montagem de informações. p. 21 A mente brilha pela capacidade de desenvolver (...) Porém, em contraste com isso, a habilidade em gerar fun- damentalmente novas idéias é pobre. Se a questão do surgimento de novas idéias é encarada passivamente, então nada resta a fazer a não ser esperar, ter fé e rezar. Mas há, entretanto, uma alternativa. Se no- 8 vas idéias constituem matéria de pura chance, como é que algumas pessoas (...) tiveram mais novas idéias do que outras? Tal capacidade não parece estar relacionada com pura in- teligência, mas sim com um hábito, com um modo especial de pensar. A recompensa trazida por novas idéias pode ser bem con- siderável, mas também pode ser bem pobre. p. 22 A única recompensa certa é a do prazer da realização. Tal prazer (...) constitui um entusiasmo superior. p. 23 CAPÍTULO III Há duas maneiras opostas de melhorar um processo. A primeira é tentar melhorá-lo diretamente. A segunda é reconhecer e então remover as influências que inibem o processo. O estudo da burrice pode ser mais útil na compreensão da inteligência. Pode ser mais fácil ver o que falta a uma pes- 9 soa burra do que ver o que uma pessoa inteligente tem demais. Caso se possa ter alguma intuição daquilo que impede a emergência de novas idéias, quer no indivíduo quer na generalidade, então talvez seja possível melhorar a capaci- dade de se ter novas idéias. p. 24 O pensamento lateral torna-se necessário pelas limitações do pensamento vertical. Não é possível cavar-se um buraco diferente pelo simples aprofundamento do mesmo buraco. Escavar sempre o mesmo buraco corresponde ao pensa- mento vertical; tentar em outra parte é própriodo pensa- mento lateral. E’ também mais fácil continuar a mesma coisa do que pen- sar em algo nôvo: há nisso um forte cometimento prático. (...) novas idéias de grande significado ou grandes avan- ços científicos freqüentemente surgem de pessoas que 10 ignoraram o buraco sendo escavado e que começaram outro. p. 25 Tal atitude é rara, já que o processo educacional é usual- mente eficaz e a educação é feita no sentido de que as pessoas aceitem os buracos que para elas foram escava- dos por seus mestres. Além disso, a educação não tem nada a ver realmente com o progresso: sua finalidade é tornar bem disponível um conhecimento que parecer ser útil. Ela é comunicativa e não criadora. Aceitar os velhos buracos, ignorá-los em seguida e come- çar de nôvo não é tão fácil quanto não ter conhecimento da existência deles e estar livre para começar em qualquer lugar. E’ uma tentação supor-se que uma mente capaz, ignorante de velhos métodos, tenha boas probabilidades de desen- volver novos. 11 p. 26 Não há progresso, não há realização. Hoje em dia, esta última é cada vez mais importante (...) E’ só por ela que o esforço é julgado (...) Ninguém é pago por ser simplesmente capaz de realiza- ção. Como não há jeito de se avaliar tal capacidade, paga- se e promove-se de acordo com realizações visíveis. E’ muito melhor escavar o buraco errado (...) do que perma- necer inativo imaginando onde iniciar outra perfuração. (...) pode ser muito mais proveitoso ter-se algumas pesso- as tratando de realizar algo certo do que muita gente fa- zendo coisas de menor valor; mas são poucos os dispostos a investir numa mera possibilidade. No sistema atual, quem é que pode permitir-se a pensar? Quem pode dar-se ao luxo do não progredir que representa o pensamento abortivo? p. 27 Já que a mente se senta mais feliz em alargar, por meio da lógica, o buraco existente; já que a educação encoraja is- so; e já que a sociedade providencia técnicos para vigiar tal processo, então é por isso que existem muitos buracos 12 muito bem desenvolvidos e em processo de alargamento sob o impacto do esforço lógico. p. 28 Freqüentemente se subestima o efeito do prodomínio das idéias velhas (...) Parte-se do princípio de que uma velha idéia deve ser con- siderada como um degrau para algo melhor (...) Tal política pode ser prática, porém, pode inibir o apareci- mento de idéias novas. Novas informações que poderiam contribuir para a destrui- ção de uma velha idéia são prontamente incorporadas ne- la, pois quanto mais informações a idéia puder acomodar tanto mais firme ela será. p. 29 Idéias velhas e adequadas (...) acabam por polarizar tudo em volta. Tôda a organização se baseia nelas, tudo se re- fere a elas. Pequenas alterações podem ser feitas nos ar- redores, porém, é impossível uma mudança radical de tôda a estrutura e é muito difícil a mudança do centro de orga- nização para outro local. 13 p. 30 (...) a liberdade de pensamento encontra-se tão limitada pela rejeição de uma idéia como pela sua aceitação. Em ambos os casos, o simples estar consciente de uma ideia particular pode inibir a formação de uma idéia origi- nal numa mente capaz de idéias originais. Quando uma nova idéia se sobrepõe involuntariamente a uma idéia velha, o conhecimento prévio que se tem da última pode muito bem torcer ou inibir a primeira. Os pon- tos de vista de um bom professor são muitas vêzes repeti- dos por seus alunos, cuja capacidade criadora de idéias é assim prejudicada. p. 31 Pode ser tão difícil escapara de uma idéia dominante a ponto de ser impossível sem ajuda externa. Em muitas comunidades fechadas (...) as idéias mostram uma tendência a um forte inatismo. Uma pessoa de fora, ao oferecer um ponto de vista nôvo, pode estimular novas idéias. E’ muito mais fácil aceitar uma idéia organizadora que faz sentido do que duvidar dela e dar-se ao incômodo de pro- 14 vá-la. Quem quer que forneça informações empacotadas (...) tem o direito e talvez mesmo o dever de arranjar o material de uma forma apresentável e isso implica num tema dominante. E’ mesmo muito mais fácil aceitar o em- brulho bem feito que daí resulta. (...) a riqueza de novas informações que é fornecida (...) raramente provoca o aparecimento de novas idéias na au- diência, a qual, por preguiça, continua dominada pelas idéias daqueles que dão as informações. p. 32 A pessoa, ao aceitar uma nova idéia, pode muito bem fa- zer com ela mais do que a pessoa que a originou, pois esta última pode ter atingido o fim da sua habilidade ao desen- volvê-la. Provàvelmente a melhor caricatura do pensador vertical dominado por uma idéia é dada pelo homem que tinha um gato com seu filhote. Cansado de abrir e fechar a porta para o gato sair, êle teve a idéia de fazer um buraco na porta, o qual permitiria as idas e vindas do gato sem inco- modá-lo. Assim que chegou o filhote, êle fez segundo e menor buraco na porta. 15 O primeiro princípio do pensamento lateral é dar-se conta de que uma idéia dominante pode ser um obstáculo em vez de uma conveniência. p. 33 CAPÍTULO IV Aquela parte do mundo que constitui o meio imediato po- deria ser chamada de situação. Outra maneira de encarar o problema seria considerar uma situação como incluindo tudo o que fosse acessível à atenção imediata. Em qual- quer momento a atenção pode estar dirigida apenas para uma parte da situação. O resultado de tal atenção é a per- cepção. Uma percepção consiste de informações obtidas por um número qualquer de sentidos diferentes a partir daquela parte do meio ambiente que está sendo focaliza- da. Todos os sentidos podem contribuir para a percepção, porém, qualquer um dêles também seria suficiente. p. 34 A necessidade de agir é a razão mais premente para a compreensão de uma situação. 16 p. 37 A descrição de qualquer situação depende dos têrmos co- muns com os quais o observador deseja descrevê-la e não da melhor descrição possível. p. 39 (...) as entidades criadas arbitràriamente ficam fortalecidas pela utilidade até um ponto em que não se pode mais du- vidar das suas existências. Quando tal fase é atingida, es- sas estruturas podem mesmo inibir o progresso. A fim de evitar isso, a natureza arbitrária de muitas entidades deve ser acentuada e nenhuma delas deve durar mais do que sua utilidade, já que esta é a sua razão de ser. p. 40 Que uma estrutura possa ser dividida em certas peças, isso não quer dizer que tenha sido montada com essas peças. Muitas vêzes a criação arbitrária de peças (...) é errôneamente tomada não só como atilada percepção de tais peças, mas também da sua extração da estrutura completa. A divisão arbitrária é denominada <<análise dos elementos componentes>>. 17 Situações incomuns são sempre decompostas em peças familiares. Encarar tais peças como análise correta da situ- ação é impedir uma explicação melhor que pode necessitar de peças ainda não suficientemente familiares para serem usadas. p. 42 (...) a melhor divisão é aquela que se revela mais proveito- sa (...) Um método por si mesmo não é melhor do que outro, mas pode sê-lo num dado contexto. O contexto inclui a disponibilidade de elementos familiares e de conexões com quem está fazendo a descrição. A própria arbitrariedade do processo divisionário permite que a divisão seja deliberadamente ajustada ao entendi- mento do ouvinte. (...) o repertório de figuras conhecidas e de conexões está sempre crescendo. Uma vez iniciado, o processo encontra em si mesmo a fonte de alimentação, pois as figuras inco- muns são explicadas por aquelas já familiares e se tornam, por sua vez, suficientemente conhecidas para poderem explicar novas figuras incomuns.18 p. 43 (...) surgiu uma figura familiar por observação direta em vez de explicação por figuras já familiares. Desde de que se começa a fazer tal coisa, então todo o crescimento de figuras familiares pode ser levado adiante. p. 48 (...) ainda que uma descrição não seja aparentemente mais adequada que outra, o seu uso em têrmos gerais po- de ser muito diferente mesmo. Mas permitir que a satisfa- ção com determinada explicação impeça a busca de ou- tras, bem, isso é rejeitar o progresso. Quantas pessoas tentariam deliberadamente reinterpretar à luz de nova informação material que já tenha tido expli- cação adequada? Quantas pessoas rejeitariam uma explicação adequada original por outra que não é mais adequada? p. 49 (...) por mais que seja adequada (...) não deve excluir ou- tras descrições (ou explicações) que podem ser ainda mais úteis. Por causa da crescente familiaridade (...) é forte a tentação de se considerar (...) melhor que outras (...). 19 Cada vez que é usada com sucesso (...) se vê fortalecida. Quanto mais útil parece, mais é usada e quanto mais usa- da, mais útil parece. p. 51 (...) quanto mais complexas as unidade de divisão, mais simples seriam as conexões entre as unidades (...) quanto mais simples as unidades, mais complicadas seriam as co- nexões. Tem-se que alcançar um equilíbrio entre a simpli- cidade das unidades e a simplicidade das conexões. A cria- ção de padrões montados de unidades básicas evita o di- lema ao formar grandes unidades que são, contudo, sim- ples. p. 55 O compreender uma situação incomum já é bastante difí- cil, mesmo quando tôda a situação pode ser examinada e quando figuras familiares disponíveis podem ser emprega- das em conexões familiares. Torna-se, porém, muito mais difícil quando parte da situação está obscurecida e não pode ser examinada. Parte de uma situação incomum pode ser inacessível (...) Qualquer que seja a razão para a inacessibilidade, faz-se uma tentativa de compreender tôda a situação por meio 20 de exame cuidadoso de tudo o que possa ser examinado. Forma-se então uma hipótese controlada para explicar a porção inacessível. p. 57 Um exame cuidados (...) pode levar a várias hipóteses (...) (...) suposições naturais (...) acompanham as hipóteses (...) A forma de uma nova figura não pode ser determinada pela necessidade de conformação com aquilo que é um método arbitrário de descrição. E’ verdade que a única hipótese possível é aquela das figu- ras disponíveis (...) Mesmo assim, esta hipótese não passa de hipótese e não constitui prova de que a figura tenha tal forma (...) p. 59 A única prova da hipótese é a sua utilidade e enquanto esta durar ela pode ser conservada. Porém, mesmo essa utilidade não deveria impedir a busca de melhor hipótese (...) 21 (...) uma descrição é tão boa quanto outra qualquer (...) uma hipótese é tão má quanto outra qualquer. Quase todo ato de pensar é ocupado pela tentativa de compreender situações incomuns de ambos os tipos. Tal é a maneira prática pela qual é usado o sempre cres- cente repertório de figuras familiares e de conexões. (...) figuras que surgem por sorte num jôgo podem expli- car uma figura até então sem explicação. O próprio acaso dos processos do jôgo pode produzir combinações que de outra forma talvez jamais seriam imaginadas. p. 61 Assim como as figuras que surgem de arranjos lúdicos (...) são adicionadas ao repertório de figuras incomuns, as co- nexões tornam-se familiares da mesma maneira. O jôgo é (...) uma oportunidade para se perceber conexões que aparecem por acaso. O acaso não tem limites, enquanto que a imaginação os tem. 22 E’ difícil fazer deliberadamente algo que não deve ser deli- berado. E’ difícil apontar para uma direção que não leva a lugar nenhum. p. 63 Se uma hipótese for necessária, e as vêzes êste é o caso, então uma aproximação com a situação pode ser ainda útil. Juntamente com a utilidade de uma tal hipótese apro- ximativa, há sempre a esperança de que ela melhore com o uso ou que seja suplantada por outra melhor. O principal perigo no uso de uma hipótese visìvelmente inadequada é que ela pode tapar uma hipótese melhor. p. 66 Nunca é fácil o abandono de figuras familiares que prova- ram repetidas vêzes a sua utilidade. Mas acaba a hora em que é necessário duvidar-se não do modo pelo qual as figuras familiares são dispostas numa explicação, mas sim das próprias figuras familiares. E’ embaraçoso pensar no número de situações incomple- tamente compreendidas por insistência em explicá-las através de estruturas familiares bem testadas, as quais deveriam ser reexaminadas. 23 p. 69 Quanto mais simples a unidade tanto maior o número de figuras que pode ser descrito de acôrdo com aquela unida- de. Um processo semelhante ocorre (...) no crescimento de qualquer conhecimento. Na medida em que novas infor- mações se tornam disponíveis, um conceito padronizado útil (...) emerge e revela-se proveitoso na explicação do fenômeno. Na medida em que as coisas se complicam, arranjos padrões do conceito original revelam-se proveito- sos. Chega-se finalmente a uma situação que não pode ser explicada nem pelo conceito original nem pelas montagens padronizadas. De repente aparece um conceito mais sim- ples e universal e vê-se que o conceito original é um deri- vado especial dêle. Êste novo conceito, por causa da sim- plicidade, explica todos os fenômenos observados. p. 72 A dificuldade reside na impressão de não haver necessida- de de divisão da unidade <<T>>, a menos que surja uma certa situação para revelá-la como inadequada. Até que se esbarre em tal situação, a unidade <<T>> pode muito bem ser aceita como a unidade básica mais simples. De- 24 vem existir muitas situações analisadas até o estágio <<T>> e que aguardam a tomada de consciência de que novos estágios podem ser proveitosos. (...) as unidades descritivas são arbitrárias; ainda que pos- sam ser de grande utilidade, um compromisso rígido em relação a elas pode impedir a emergência de uma melhor descrição. p. 73 CAPÍTULO V Os princípios do pensamento lateral podem ser considera- dos sob quatro títulos bem genéricos e nada exclusivos. Os títulos são os seguintes: 1. Reconhecimento de idéias dominantes ou polarizadoras. 2. Pesquisa de maneiras diversas de se examinar as coisas. 3. Relaxamento do rígido contrôle exercido pelo pensamento vertical. 4. Uso da sorte. A escolha de um modo qualquer de descrever a figura era arbitrária. Podia ter sido feita por conveniência, simplicida- de ou familiaridade das unidades usadas. 25 p. 74 A escolha de determinado modo de ver as coisas é comu- mente casual e realista. Não há intensa busca par encon- trar o melhor modo. Isso pode ser assim caso não se deseje ir além de uma simples discriminação, mas se há um problema para ser resolvido, então a maneira de examiná-lo faz muita dife- rença. p. 75 Uma mudança bem simples na maneira de examinar algu- ma coisa pode ter efeitos profundos. A mudança de um ponto de vista óbvio para outro menos óbvio pode requerer apenas uma mudança de ênfase. Isso não é particularmente difícil de fazer desde que se adquira o hábito de tentar fazê-lo. Com prática, torna-se possível encontrar e tentar diversas maneiras diferentes de se en- carar um problema ou uma situação. Porém é preciso que haja, em primeiro lugar, um interêsse em fazê-lo, um re- conhecimento da eficácia de mudança de ponto de vista. p. 76 A mudança de atenção pode ser de uma parte do proble- ma para outra ou de uma fase do desenvolvimento para 26 outra, porém a maneira básica de considerar o problema permanece o mesmo. A mente divide a continuidade do mundo em volta em uni- dadesdiscretas. Vê-se obrigada a tanto, em parte, por causa da organização nervosa do cérebro e da consequen- te faixa limitada de atenção. E, em parte, o faz com delibe- ração, a fim de compreender as coisas pela sua decompo- sição em partes que já são familiares. Assim, um processo contínuo de mudança pode ser inter- rompido num ponto conveniente e o que se passou antes e depois do corte pode ser ligado pela conexão familiar de causa e efeito. Uma conexão é o registro de como duas peças se ligavam antes da conexão. Quando a mesma divisão é repetida muitas vêzes, as unidades adquirem identidade própria. p. 77 Aceitar uma informação anterior ao acondicionamento é aceitar um compromisso relacionado com a maneira pela qual aquela informação pode ser montada numa idéia. A flexibilidade da descrição mantém-se enquanto as partes permanecem indenominadas. 27 A fluidez dinâmica do pensamento lateral ‒ contìnuamente formando, dissolvendo e reformando as partes de uma situação, dando-lhes formas sempre diferentes ‒ fica per- dida e com ela a oportunidade de se encontrar a melhor maneira de examinar uma situação. p. 78 A rigidez das palavras associa-se com a rigidez das classifi- cações. E a rigidez das classificações conduz à rigidez na maneira de se encarar as coisas. Novas idéias ocorrem com muito maior freqüência naque- les que podem escapar dessa rigidez de palavras e classifi- cações. Uma técnica para evitar a rigidez das palavras consiste em pensar em têrmos de imagens visuais e não usar palavras de forma alguma. p. 79 (...) a dificuldade só aparece quando se torna necessário expressar em palavras o que foi pensado. 28 Todavia, vale a pena adquirir tal hábito, pois as imagens visuais te uma fluidez e uma plasticidade que as palavras nunca poderão alcançar. A linguagem visual do pensamento faz uso de linhas, dia- gramas, côres, gráficos e muitos outros meios para ilustrar conexões que seriam embaraçosamente descritas em lin- guagem ordinária. Uma técnica muito útil para escapar das partes fixas de um problema é a decomposição dela em partes ainda menores e recombiná-las em novas unidades maiores. Em geral, é muito mais fácil agrupar partes menores em formações diferentes do que dividir a situação em novas partes. O número de maneiras diferentes de ver as coisas é limi- tado não só pela rigidez das unidades descritivas disponí- veis, como também pelo número de conexões disponíveis. p. 80 Com algum esfôrço e muita prática é possível encontrar muitos modos de exame de uma situação além daquele mais provável. No entanto, a maior parte desses modos, 29 talvez todos êles, acabem por revelar-se como sem valor. Tendo feito esfôrço para encontra-los e examiná-los um por um, em geral acaba-se vendo que eles não são tão úteis como a maneira óbvia de examinar a situação. Em que condições é válido o uso do pensamento lateral dessa forma e em que condições pode alguém dar-se por satis- feito com o pensamento vertical? O uso do pensamento lateral é essencial naquelas situa- ções problemáticas, nas quais o pensamento vertical reve- lou-se incapaz de dar solução. Outros problemas (...) podem ser passíveis de solução pelo pensamento vertical, mas o processo é cansativo. Nesses casos, o pensamento lateral pode ser bem útil em conse- guir uma solução melhor, ainda que não seja essencial. Por definição, um problema é uma situação que requer uma resposta e esta não deve ser óbvia. Às vêzes ela só constitui um problema por causa do modo como é encara- da. Vista de outro modo, o curso correto da ação pode ser tão óbvio que o problema desaparece. O número de vezes em que se recorre ao pensamento la- teral é questão de temperamento. 30 Quem tentar usar o pensamento lateral na solução de todo e qualquer problema perderá tempo no princípio, mas o processo tornar-se-á cada vez mais rápido com a prática. p. 81 (...) também dará dividendos sob a forma de respostas mais eficazes a problemas que também tenham respostas pela solução vertical. Pode ser que o maior dos problemas seja a falta aparente de problema. Qualquer empreendimento sem problemas é um empreen- dimento sem muita chance de progresso. Problemas são solavancos que fazem as coisas saírem do curso suave da simples adequação. O dar-se conta de que há problemas que não foram reco- nhecidos pode exigir muito uso do pensamento lateral. Quando é que adequação, complacência e falta de pro- blemas não passam de outros nomes para inadequação e falta de imaginação? 31 p. 82 Uma reorganização de informações não precisa aguardar o impacto de novos fatos; pode ocorrer sempre que alguém reconheça a natureza arbitrária de uma teoria e se revele competente em criar outra diferente. E’ muito freqüente a partir do princípio de que ninguém possui o direito de duvidar de uma explicação a não ser que tenha uma melhor. Ora, êsse é o meio mais eficaz de se inibir uma idéia nova. Como é possível uma maneira diferente de se arrumar as coisas se a maneira velha tem que ser conservada intacta até que a nova esteja comple- ta? Pode-se encarar a interpretação de uma situação como um anagrama. As coisas se encaixam e fazem sentido, mas tal não impede um nôvo arranjo que pode ainda fazer mais sentido. Nenhum modo de ver as coisas é tão sagrado que não possa ser reconsiderado. Nenhum modo de fazer as coisas está livre de ser aperfeiçoado. 32 p. 83 E’ um erro comum supor que um problema pode ser resol- vido não importando o método escolhido (...) Há pensadores verticais que se ofendem com a menor su- gestão de que lógica não é onipotente; não conseguem ver o menor valor no pensamento lateral. Finalmente, deve haver um estágio de conveniência per- ceptiva que precede a lógica. Se essa escolha perceptiva, na qual tôda a estrutura de lógica está fundada, fôr incor- reta, então não se pode encontrar a solução. O pensamen- to lateral evita essa barreira ao tentar um modo atrás de outro e bem deliberadamente. No momento em que um modo é escolhido, então êle é seguido com todo o vigor do pensamento vertical. Depois escolhe-se outro modo e as- sim por diante. p. 84 Freqüentemente a solução lateral de um problema é tida pelos pensadores verticais como um lôgro. Isso prova de modo paradoxal a utilidade do pensamento lateral. Da mesma maneira, o caminho para as novas idéias en- contra-se bloqueado por suposições falsas de uma forma ou de outra. Os pensadores verticais são propensos a tais 33 suposições porque o uso efetivo da lógica requer um con- texto rìgidamente definido. Certas coisas devem ser acei- tas sem investigação. A fluidez de uma situação onde nada é rígido e tudo é pôsto sempre em dúvida faz com que os pensadores verticais se sintam extremamente inconfortá- veis. No entanto, é dêsse caos potencial sem limites que as novas idéias se formam pelo pensamento lateral. A tendência natural da mente é deixar-se impressionar pela interpretação mais provável e então partir dela. A fim de ultrapassar tal tendência natural é preciso que alguém seja deliberado e mesmo artificial. p. 85 Uma técnica, que decepciona de tão simples, é a da prede- terminação do número de modos pelos quais uma situação pode ser vista. Com o passar do tempo e com a prática, o esfôrço de se encontrar outros modos de examinar um problema será menor e, além disso, êsses modos parecerão quase tão razoáveis quanto os mais óbvios. Outra técnica útil consiste em subverter deliberadamente as coisas pela inversão consciente de qualquer conexão. 34 Reverter ou alterar de outro modo uma conexão (...) é fácil, pois sempre que se define uma direção, define-se também implìcitamente a direção oposta. Ainda outra técnicapara quebrar a rigidez (...) é a de transferir as conexões de uma situação para outra mais fàcilmente examinável. Assim sendo, uma situação abstra- ta pode ser transformada numa analogia concreta. p. 86 A transferência de ênfase de uma parte do problema para outra constitui outra técnica simples. O ter dois modos diferente de examinar alguma coisa dos dois lados do sinal de igualdade torna possível o manejo do todo no sentido de uma resposta. No pensamento late- ral, uma rápida sucessão de meios diferentes de encarar as coisas passa deliberadamente através da mente. As propriedades temporais e probabilísticas do cérebro efetu- am então automàticamente a interação dêsses modos di- versos no sentido de uma resposta eficaz. 35 p. 87 CAPÍTULO VI O terceiro princípio básico do pensamento lateral é saber que o pensamento vertical, pela sua própria natureza, é não sòmente incapaz de gerar idéias novas como chega a ser mesmo inibidor. (...) o pensamento vertical (...) ainda que (...) possa con- duzir a alterações na idéia aceita, não é provável que leve a uma idéia completamente nova. Aceitação e compromis- so constituem a própria oposição ao potencial ilimitado do caos. Através da lama das idéias não formadas, levanta-se, pe- dra por pedra, uma estrada com auxílio da lógica. Cada pedra é colocada firme e corretamente. De fato, cada pe- dra só pode ser colocada se estiver firmemente apoiada na precedente. p. 88 (...) é necessário a certeza em cada estágio ‒ essa é a própria essência da lógica. 36 Mas no pensamento lateral não é preciso estar sempre certo. Só a conclusão final que deve ser certa. A necessidade de estar sempre certo em todos os estágio é provàvelmente a maior barreira para as novas idéias. p. 89 E’ possível identificar muito (...) exemplos de descobertas eficazes situadas no fim de uma linha de raciocínio que certamente não foi correta em todos os estágios. Quando se alcança algo interessante, bem, então é tempo de olhar para trás e ver qual a maneira mais segura de chegar lá de nôvo. Algumas vêzes é bem mais fácil ver qual o mais certo caminho para um lugar só depois de ter chegado lá. O objetivo da lógica deveria ser não tanto a conclusão final que também poderia ser alcançada pelo pensamento late- ral. Infelizmente podem existir desvantagens reais no uso do pensamento vertical desse modo (...) p. 89 - 90 A primeira desvantagem real é que se o pensamento verti- cal encontrar um caminho bem sucedido para uma conclu- são final, então não parecerá haver necessidade de se pro- 37 curar outro e mais direto caminho. Com o pensamento lateral, (...) já que não há compromisso com nenhum ca- minho parcialmente adequado, então pode-se encontrar outro melhor. A segunda desvantagem diz respeito à direção tomada pelo caminho lógico. Tem que haver uma direção a ser seguida, uma direção na qual se exerce esfôrço. Porém, mover-se na direção errada pode ser pior do que ficar parado. A estrada real do pensamento vertical leva direto ao que parece ser a solução do problema, mas a solução mais efi- caz pode exigir que se vá exatamente na direção oposta. p. 91 Já que o pensamento lateral não tem direção fixa, não há dificuldade em afastar-se de um problema a fim de resol- vê-lo. Se a necessidade de estar certo em cada estágio é uma das limitações do pensamento vertical, a necessidade de ter tudo rìgidamente definido é outra. 38 Um pensador lateral pode demorar-se ràpidamente numa palavra, usando-a apenas como apoio passageiro: o pen- sador vertical deve equilibrar-se sòlidamente nela, reco- nhecendo sua firme rigidez. O pensador vertical está sempre a classificar coisas, pois assim a falta de precisão pode ser controlada. O pensador vertical está mais interessado em ver como poderá separar as coisas, enquanto que o pensador lateral o está em ver como poderá juntá-las. p. 92 A rigidez limitante de um símbolo é uma forma de com- promisso que efetivamente impede a livre contração e ex- pansão de uma idéia, as quais podem ser necessárias para o desenvolvimento. Alternar entre períodos de fluidez criadora e de rigidez de desenvolvimento é muito mais profícuo. p. 93 Nos seus estágios iniciais, uma idéia pode existir de uma forma demasiado contraditória para a aceitação lógica. 39 Isso não quer dizer que ela não possa desenvolver-se nu- ma proveitosa idéia nova. As primeiras impressões de uma idéia nova podem ser muito nebulosas para serem captadas e arrumadas numa apresentação lógica. Há uma inclinação natural em se agarrar a uma tal idéia, prolongando-a até se ter consciên- cia completa, com nome e forma precisos. Impede-se o vôo livre das idéias e elas são firmemente fixadas como borboletas na tábua do colecionador. Uma atenção lógica que venha cedo demais e seja entusi- asta demais congela a idéia ou então a força para dentro dos moldes antigos. p. 94 (...) pode ser melhor correr o risco de ter fantasias ocasio- nais sôbre o movimento perpétuo do que varrer todo tipo de idéias úteis por meio do uso energético da lógica num estágio muito inicial. E’ melhor ter bastantes idéias, mesmo que algumas sejam erradas, do que estar sempre certo por não ter idéia nenhuma. Expressar uma idéia é um ótimo meio de organizá-la e, em geral, organização significa arranjo lógico. 40 Expressar uma idéia cedo demais pode comprometê-la numa estrutura de desenvolvimento que talvez não fosse a sua por natureza. Muitas vêzes o uso por demais prematuro do pensamento vertical é devido a uma falta de confiança no pensamento lateral. Uma nova idéia não precisa ser moldada, mas pode ser observada enquanto cresce e negligenciada temporària- mente em caso contrário. Se uma idéia não se desenvolve numa forma útil, então não há muito a ganhar a forçá-la nesse sentido. Quando uma idéia amadureceu e está pronta para um exame cuidadoso, então ela se mostra saliente demais na sua insistência: não há possibilidade de se esconder dela. Quando uma idéia não está madura, a exatidão lógica não apressará o amadurecimento. p. 95 O julgamento lógico é a válvula econômica que intervem entre a concepção de uma idéia e o teste da sua eficácia. Só as idéias que passam por êsse teste é que chegam a alcançar uma prova prática. 41 O julgamento lógico só pode levar em consideração aque- les fatôres que conhece (...) p. 96 O modelo mental do mundo no qual a idéia nova deve ser testada é necessàriamente incompleto, já que está basea- do na imperfeição da experiência. p. 97 (...) apesar de muitas vêzes incorreto, o julgamento lógico continua a ser essencial como modo de seleção, pois não seria prático examinar cada idéia. Mas deve-se temperar o seu uso tendo em vista a sua falibilidade e mesmo contra- riá-lo quando uma idéia puder ser testada com facilidade. Em vez de rejeitar logo uma idéia que dá a impressão de ser lògicamente absurda, deve-se aceitá-la e partir dela em cada direção, isto é, para baixo a fim de encontrar sua ba- se, e para cima, para ver aonde conduz. O objetivo de tal perversidade é questionar o ponto de vista aceito e sobre o qual se apoiava a rejeição lógica ori- ginal. 42 Não há nada mais triste que uma nova idéia ser a princípio ignorada e então redescoberta mais tarde. O pensamento lateral dá margem à imaginação. Se ela provoca o nascimento de uma idéia, tanto melhor; caso contrário, não há tentativa de fazê-lo. Pode ser pro- veitosa mais tarde. Dessa forma, a riqueza de uma consciência aberta abarca tudo o que é oferecido, sem necessidades de explicação, classificação ou construção em cada instante. E’ em tal situação que a chance pode gerar novas idéias. p. 99 CAPÍTULO VII Oquarto princípio básico do pensamento lateral é o do uso da chance na geração de idéias. (...) os acontecimentos que ocorrem por acaso não podem ser comandados (...) isso é que constitui o seu valor no surgimento de idéias novas. Sem interferência nos processos da chance, é possível o seu uso deliberado com a finalidade de alcançar um con- texto apropriado para seu surgimento e para auferir o re- sultado das suas interações. 43 p. 100 O primeiro passo é reconhecer as valiosas contribuições para o progresso que vieram de acontecimentos ao acaso, isto é, de acontecimentos que não foram planejados. p. 101 A maioria das pessoas tem experiências de acontecimentos significantes que aconteceram por acaso. Não são apenas acontecimentos por acaso que podem le- var a idéias novas. Às vêzes toda uma corrente de aconte- cimentos contribui para isso. p. 102 Olhando para trás, sempre é possível a construção de cor- rentes significantes de acontecimentos que conduzem a grandes idéias. Elas não provam nada, mas mostram que o acaso é útil ao permitir que se observe algo que podia nunca ser buscado. (...) o objetivo da chance, na geração de idéia novas, é permitir a observação de algo que não seria procurado (...) 44 p. 103 Assim como uma experiência cuidadosamente planejada não passa de tentativa de forçar a natureza pelos cami- nhos da investigação lógica, da mesma forma o jôgo é uma tentativa de encorajar o aparecimento ao acaso de fenômenos que não são buscados. A própria falta de utilidade do jôgo constitui a sua maior vantagem. E’ esta falta de objetivo ou de compromisso que permite à chance a justaposição de coisas que, de outro modo, não se arrumariam de tal jeito, e a construção de uma seqüência de acontecimentos que também não ocor- reria de outro modo. A aparente inutilidade do jôgo desencoraja naturalmente muita gente de jogar. Os pensadores verticais envergo- nham-se em jogar, mas a única coisa vergonhosa é a ina- bilidade de jogar. p. 104 Poderia ser que o brincar fôsse ativamente desencorajado pelos lógicos adultos, que ressaltam a sua inutilidade e definem maturação como sendo a responsabilidade de comportar-se ùtilmente. 45 Durante o jôgo as idéias surgem e dão origem a outras idéias. Elas não se seguem numa progressão lógica (...). Elas podem não se revelar úteis de imediato (...). Mesmo que não surja nenhuma idéia específica, a familia- ridade geral com a situação trazida pelo jôgo pode revelar- se como contexto útil para o desenvolvimento de idéias futuras. Outro método de se encorajar as interações ao acaso das idéias é o velho <<vale tudo>>. Um grupo de pessoas reunidas para a discussão de um problema tenta largar as suas inibições lógicas e dizer o que vier à cabeça (...) Uma técnica proveitosa para o estímulo de novas idéias é expor-se deliberadamente a uma multidão de estímulos num lugar que estiver cheio de coisas não conscientemen- te desejadas. p. 105 Ainda outro método de encorajar a interação ao acaso das idéias consiste no entrelaçamento deliberado das várias linhas de pensamento que podem ocupar a mente em momentos diversos. 46 Os pensamentos desenvolvidos a propósito de um assunto servem para o avanço de outro. Maneiras de examinar coi- sas, convencionais em determinado campo, tornam-se ori- ginais quando aplicadas noutro. p. 106 Muitos são os cientistas que começam fazendo uma expe- riência e acabam fazendo outra. Mesmo quando uma ex- periência fracassa completamente, as razões do fracasso podem dar mais informações do que no caso de ser bem sucedida. Às vezes a experiência se processa perfeitamen- te bem, mas uma observação incidental em determinado ponto conduz a uma importante descoberta, e a experiên- cia original é abandonada. p. 107 (...) não é provável que a interação ao acaso forneça no- vas idéias se a informação dada não passa de informação relevante ou já estiver organizada em pequenos tópicos. Para que os processos de chance possam funcionar as in- formações contidas em estruturas velhas e rígidas devem ser liberadas, a fim de que se processe a interação com outras informações. 47 Procurar tão-sòmente uma informação relevante é tentar avaliar a completa utilidade dessa informação antes mes- mo do seu exame. E’ inútil tentar desenvolver uma nova idéia ao considerar apenas informações relevantes para a idéia velha. Por de- finição relevância significa idéia preconcebida. De maneira geral, a mente deveria receber informações de qualquer fonte e ao acaso. Tais informações não devem estar classificadas ou selecionadas e sim entregues a uma livre interação. A mente deveria tornar-se uma casa aberta para qualquer informação (...) p. 108 Na prática, tal atitude é impossível. A quantidade de in- formação disponível cresce de tal modo que a massa total de palavras impressas dobra cada dez anos. A única saída parece ser a diminuição progressiva do cam- po de interêsse por meio crescente de especialização. Termina-se por ter um efeito semelhante ao do pensamen- to vertical (...) O resultado é que mal se espera o surgi- mento de novas idéias pela aceitação de informações pro- cedentes de outro campo. 48 À medida em que as idéias se tornam mais básicas, o in- ter-relacionamento com outros campos fica mais evidente; em vez de diminuir, o campo de importância aumenta. p. 109 A mente que melhor se aproveita das oportunidades trazi- das pelo acaso pode ser comparada ao mecânico habilido- so que faz andar quase qualquer carro. Seria injusto inve- jar a sua boa sorte proporcionando-lhe sempre carros sem defeito. Com a prática de olhar as coisas de modos diferentes, a capacidade de encontrar um contexto para qualquer in- formação aumenta muito. Ao aperfeiçoar-se na prática do pensamento lateral, as conjunções e oferecimentos ao acaso de idéias e informações ficam cada vez mais provei- tosas. p. 110 Uma técnica útil, que às vêzes ajuda na formação de idéias novas ou de novas maneiras de ver as coisas, consiste em apanhar um objeto e ver de que modo êle teria importân- cia para o assunto em consideração. 49 O objeto selecionado pode revelar-se importante ao ofere- cer uma nova maneira de ver as coisas; por sugerir um nôvo tipo de conexão ou princípio; como um laço com al- gum assunto mais pertinente; como uma linha de pensa- mento a ser evitada. Essa estrutura de pensamento pode já existir ou pode crescer ràpidamente em tôrno do assunto, a fim de dar-lhe um contexto e, portanto, um significado. A habilidade de se concentrar num problema, com exclu- são de todos os outros assuntos, é tida usualmente como virtude. Tal procedimento impede efetivamente a formação de no- vas idéias, já que qualquer influência externa, que poderia levar a uma nova maneira de tratar o problema, é excluída deliberadamente. Uma forma bem conhecida de aliviara esterilidade da con- centração é a interrupção periódica, a fim de considerar qualquer outro assunto que não tenha nada a ver com o problema principal. Contudo, é bem mais eficaz o permitir a entrada de influências externas (...) enquanto o proble- ma está sendo examinado. 50 O uso da chance é passivo, porém cauteloso. Não é fácil fazer um esfôrço consciente para evitar um es- fôrço consciente. No princípio, a espera de que algo surja por acaso pode parecer duvidosa. A própria definição de acaso sugere que nada pode aparecer, e a tentação de organizar uma linha de pensamento é forte. E’ necessário (...) ter confiança de que, se a espera fôr bem passiva, então algo acabará por surgir (...) (...) à medida que se consiga mais habilidade com o pen- samento lateral, então as idéias começam a aparecer. A confiança cresce e, à medida que isso ocorre, o pensar semdirigir conscientemente o pensamento fica mais fácil; e, à medida que fica mais fácil, torna-se também mais efi- caz. p. 112 CAPÍTULO VIII Ler sobre pensamento lateral é quase tão desajeitado quanto escrever a respeito dêle (...) A descrição do processo em termos abstratos dá a impres- são de incerteza e remove tôda a vivacidade e vigor que fazem parte de um processo prático. 51 A aplicação prática do pensamento lateral é mais útil que a possibilidade filosófica; portanto, a melhor maneira de descrever os processos laterais é mostrá-los em ação. Mas essa análise descritiva não é muito satisfatória. Ela tem que ser de segunda mão e dependeria dos pensamen- tos registrados de quem tenha tido as novas idéias. Tais pensamentos são registrados depois de aparecida a idéia, às vêzes muito tempo depois. O registro pode não ser ori- ginal e sim de algum discípulo admirador. Usando a visão retrospectiva (...) é muito fácil racionalizar o surgimento de uma idéia. p. 113 (...) é freqüente que as contribuições do acaso sejam igno- radas, enquanto são realçadas as cuidadosas deliberações da lógica. O pensamento vertical é um modo respeitável de alcançar uma idéia; retrospectivamente não é difícil ar- rumar uma estrutura lógica para algo que surgiu realmente de outro modo. Seria bom supor que o esfôrço pela simplicidade fôsse uma tentativa de inverter a tendência para a crescente comple- xidade, porém, muito contribuíram a preguiça e a falta de habilidade técnica. 52 p. 115 (...) o desenvolvimento da idéia dependeu do afastamento de noções prévias, da relutância em abandonar um princí- pio que, de início, parecia adequado, de uma memória boa e, especialmente, do efeito estimulante de um objeto não relacionado. p. 116 (...) um estímulo não procurado pode provocar uma se- quência de idéias (...) p. 117 O estágio seguinte no desenvolvimento da idéia implicou no abandono de tudo que se tinha alcançado. p. 118 O jogo <<L>> é um bom exemplo da utilidade de brincar ao acaso combinado com uma rígida idéia de qual deve ser o resultado definitivo. Nesse caso, a brincadeira ao acaso foi lindamente livre e não dirigida, pois não havia necessidade de criar nada, e a única consideração era a da simplicidade. 53 A dificuldade com a brincadeira ao acaso é que ela fre- qüentemente não parece trazer recompensa no momento; não se pensa que possa dar dividendos mais tarde. p. 119 Em muitos exemplos (...) um estímulo não procurado de- sencadeou uma proveitosa linha de pensamento. Em vez de esperar por um tal encontro de sorte ou de se expor a estímulos ao acaso, é possível agarrar-se conscientemente a qualquer coisa do ambiente e permanecer com ela até que mostre uma importância qualquer para o problema em questão; o objeto deve ser escolhido bem ao acaso; não há utilidade nenhuma em escolher um objeto que já pare- ce ter importância. p. 121 Por vêzes é curioso ver como dois problemas bem diferen- tes podem ser resolvidos quase simultâneamente. p. 122 Muitas vêzes a dificuldade em buscar algo reside no fato de que se tem em mente não o princípio em si e sim al- guma personificação particular dêle. Pode ser um exercício 54 interessante tentar encontrar exemplo de algo em particu- lar que é requerido para se testar uma idéia. Em si mesma, a escolha de objetos simples não vale mais que a de objetos sofisticados que, em geral, funcionam melhor; a única vantagem é que os objetos simples são encontrados com mais facilidade sempre há uma certa impaciência em testar uma idéia para ver se ela funciona em princípio, isso antes de um posterior aperfeiçoamento. Não raro é interessante olhar apenas para um objeto e tentar desenvolver uma idéia a partir dêle. Desta feita não se trata de relacionar o objeto com determinado problema e sim de uma brincadeira mental. p. 123 Dependendo do método empregado, os problemas podem ser testados de maneira fácil ou então de modo bem mais complicado. p. 124 E’ muitas vêzes surpreendente a utilidade dos objetos or- dinários quando vistos à luz de qualquer necessidade es- pecial. 55 p. 125 Muitos (...) exemplos (...) poderiam ter sido perfeitamente testados de maneira adequada por cuidadosas delibera- ções lógicas; talvez até de modo melhor. O que interessa é saber se êles teriam realmente seguido tal caminho. Muitas idéias foram provocadas ou desenvolvidas por coisas que não foram ativamente procuradas. Ora, muitas idéias surgiram exatamente porque não havia compromisso com um modo fixo de ver as coisas. O que interessava era o processo e não o produto. p. 126 CAPÍTULO IX Já que a maioria das pessoas não trabalha em pesquisa e nem está interessada em inventar, o pensamento lateral poderia dar a impressão de um luxo dispensável. Isso seria um êrro, pois a maneira de pensar que foi ilustrada com idéias científicas ou simples invenções pode ser igualmente aplicada a outras situações. O processo é básico. As experiências pessoais de cada um podem revelar exem- plos isolados de pensamento lateral que foram bem úteis no momento. 56 p. 127 E’ muito fácil deixar-se conduzir pelo caminho da mais alta probabilidade. Pode-se estar preparado para deixar de lado os benefícios do pensamento lateral na base de que não se está interessado em ter idéias novas; mas estará alguém preparado para aceitar as restrições do pensamento verti- cal? As novas idéias constituem o aspecto positivo do pen- samento lateral, mas aquêles que nunca o usam não só deixam de lado êsse aspecto: incorrem também numa desvantagem definida. Essa desvantagem consiste na ma- neira pela qual essas pessoas podem ser manipuladas, já que suas mentes seguem sempre um caminho de alta pro- babilidade. No jiu-jitsu, toma-se vantagem da direção previsível de um ataque para virar, contra um oponente, a própria força. O mesmo pode ocorrer em relação aos processos previsíveis da mente de um pensador vertical. p. 129 (...) é fácil tirar vantagem das pessoas que usam apenas o pensamento vertical ou de alta probabilidade. Pessoas de confiança, vendedores, políticos e persuasores profissio- nais de todos os tipos estariam praticamente desemprega- 57 dos se não fôsse mais natural para a mente empregar o pensamento vertical do que o lateral. As pessoas que têm a tendência de usar mais naturalmen- te, no seu trabalho, o pensamento lateral são os jornalistas e propagandistas; êles desenvolvem as suas aptidões para ver as coisas de diferentes modos. p. 140 Entre os pensadores verticais mais rígidos estão os advo- gados, os médicos e, em parte, os homens de negócios; todos êles preferem que as coisas sejam rígidas, definidas, ortodoxas (...) Em que classificação cairia o artista? No mundo da arte, o pensamento lateral dá a impressão de estar agindo sempre sob o nome mais apropriado de pensamento criador. O artista está aberto a idéias, influên- cias e oportunidades. O inconveniente com o pensamento criador na arte é que êle pode ser fàcilmente parado a meio caminho. Com efei- to, os menos talentosos não têm escolha. 58 Há um entusiasmo em trocar as limitações da ordem esta- belecida pelo potencial ilimitado do caos, porém isso mui- tas vêzes é tido como realização em vez de ser apenas o primeiro estágio na direção dela. O verdadeiro objetivo do pensamento lateral não é chafurdar no caos informe e sim sair dele com uma nova idéia eficaz. O ideal perseguido no pensamento lateral é a simplicidade da extrema sofisticação, a simplicidade de uma idéia que é bem eficaz na ação, ainda que elementar na sua forma. p. 131 Uma idéia verdadeiramente nova nunca parece bizarra, pois possui uma independência e uma plenitude próprias. Idéias bizarras nãosão novas e sim simples distorções do velho. A distorção deliberada de uma idéia velha foi suge- rida antes (...) só como técnica e não como realização. p. 132 O pensamento criador verdadeiro pode ser uma forma es- pecialmente talentosa do pensamento lateral (...) O pensamento lateral procura mesmo escapar do domínio das matérias rígidas e aceitas de ver as coisas: mas o ob- 59 jetivo da fuga é uma ordem nova e mais simples e não desordem. p. 133 O pensamento lateral procura ainda mais a fluidez que permite com que uma idéia seja trocada por outra melhor ainda, e assim por diante. O bom humor tem muito que ver com pensamento lateral. Êle ocorre quando a maneira mais provável de ver as coi- sas sofre um choque pela súbita tomada de consciência de que há outra maneira. Com bom humor a mente oscila entre o modo óbvio de ver as coisas e o inesperado (...) E’ essa oscilação que é pecu- liar ao pensamento lateral relacionado com humor. Quem tem bom senso de humor deveria compreender me- lhor a natureza do pensamento lateral do que alguém des- tituído dele. p. 134 CAPÍTULO X O objetivo do pensamento lateral é produzir idéias novas. 60 Ninguém está interessado numa idéia nova como tal, mas sim em novas idéias efetivas. A eficácia de uma idéia nova não depende apenas da idéia, mas também da habilidade da pessoa que a julga. Infelizmente, a melhor base para um bom julgamento é a experiência passada; no entanto, por definição, as novas idéias não podem ser sempre julgadas na base de experi- ências passadas. A inércia de pensamento é uma relutân- cia em abandonar o passado, enquanto que o pensamento baseado na quantidade de movimento (momentum) repre- senta o desejo de continuar o passado no futuro; ambos podem fazer sentido, porém, não fazem o melhor uso de novas idéias. p. 135 A relutância em aceitar uma nova idéia vê-se combinada com a opinião de que, se a idéia é boa mesmo, ela triunfa- rá no fim. O uso do pensamento lateral (...) compreende todos os campos nos quais novas maneiras de ver as coisas possam ser úteis. 61 p. 136 O pensamento lateral não diz apenas respeito à pesquisa e ao desenvolvimento, mas também à organização, método, análise de valôres e pesquisa operacional. (...) uma nova idéia pode levar a melhora ainda mais adi- ante. Não há limite para o efeito de uma idéia nova (...) O hábito de pensar lateralmente não é desenvolvido em parte alguma da educação ortodoxa. A capacidade de ge- rar idéias fica a cargo de uma aptidão natural que sobrevi- veu a anos de pensamento vertical. p. 137 Uma idéia nova provoca uma segunda idéia nova na mes- ma mente ou noutra, e uma espécie de reação em cadeia se segue (...) As pessoas que não podem apreciar novas idéias (...) al- gumas são necessárias para evitar uma explosão destruti- va; mas em grande número elas impedem que (...) produ- za energia. Não há razão para não adquirir hábitos de pensamento lateral. 62 Não há fórmula mágica que, uma vez aprendida, possa ser aplicada com grande eficácia. (...) o pensamento lateral é mais um hábito mental que conhecimento de determinada técnica. Êsse hábito pode ser adquirido por treino específico (...) p. 138 Pode-se sentir que o hábito de examinar as coisas de dife- rentes maneiras diminuiria a eficácia daquelas que acham a rapidez de decisão mais importante que sua natureza. Não é fácil sair de um modo de ver as coisas para encon- trar outro. O alvo do pensamento lateral seria encontrar o modo certo de encarar o problema. Dêsse jeito, o conhecimento básico em determinado cam- po podia ser plenamente utilizado. A utilidade de ver um problema não reside apenas no con- fronto com experiências de campos diferentes, mas tam- bém no fato de que a pessoa estranha não está prêsa ao modo de ver as coisas daqueles mais próximos ao proble- ma. 63 p. 139 O valor de uma visão externa é bem reconhecido pelo uso de consultores em vários campo, dos quais não se espera apenas competência na especialidade, mas também a van- tagem de examinar as coisas de um modo nôvo. O pensamento lateral vale mesmo quando só funciona co- mo catalisador para provocar novos rumos de pensamen- to, novas interações. Ao tomar-se uma decisão, pode ser útil tanto o próprio pensamento lateral como o de outra pessoa na geração de alternativas, de modo que a rejeição destas possa fortale- cer a decisão. Não há dúvida de que há pessoas com mais tendência a novas idéias do que outras. Poucas vêzes, no entanto, essas pessoas são exploradas a fundo. p. 140 Os homens com idéias são frequentemente acusados de preguiça e falta de interêsse, e as acusações podem ser perfeitamente válidas, pois quem mostra entusiasmo no 64 desenvolvimento das suas próprias idéias pode mostrar menos no desenvolvimento das idéias dos outros. Infelizmente, o homem de idéias é obrigado, em boa parte de sua carreira, a levar avante idéias geralmente inferiores de um organizador. p. 141 As pessoas de idéias costumam desprezar os chamados implementadores (...) O que elas não percebem é serem os implementadores que fazem realmente o trabalho útil e sem êles as novas idéias seriam sem valor. O conjunto ideal de pesquisa seria de um homem de idéias e de um implementador (...) p. 142 Uma forma de assegurar resultados é apoiar projetos que já foram realizados e fazê-los de um modo um pouco dife- rente: o resultado fica sendo mais ou menos conhecido de antemão. O perigo está em que os projetos fechados tendem a ter apoio por parecerem mais reais que os projetos vagos, que 65 dependem do desenvolvimento de novas idéias duranto a marcha dos trabalho. (...) não se pode esperar que testes comuns de inteligên- cia indiquem os pensadores laterais. p. 143 (...) o pensamento lateral é o campo das respostas de bai- xa probabilidade, dos modos de ver as coisas diferente- mente. p. 145 SUMÁRIO (...) três temas básicos (...) formam a base do pensamento lateral: 1. Os limites do pensamento vertical como método de gerar novas idéias. 2. O uso do pensamento lateral na geração de novas idéias. 3. O objetivo do pensamento lateral em produzir novas idéias simples, razoáveis e eficazes. A necessidade de pensar lateralmente (...) é ditada pela organização funcional do cérebro que determina a estrutu- ra do pensamento.
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