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Revisão de Literatura PEREIRA, A. A. Tipos: desenho e utilização de letras no projeto tipográfico. 2 ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2007. 140 p. p. 4 TIPOGRAFIA – TIPOLOGIA (...) tipologia é o conjunto de caracteres – letras algaris- mos e sinais –, seu estilo, formato, tamanho e arranjo vi- sual, que constituem a composição dos textos, usada num projeto gráfico. Os caracteres ou tipos pertencem a alfabetos, próprios da escrita das diferentes línguas, em diferentes épocas. p. 6 A tipografia se origina, portanto, no desenho, composição e impressão com tipos. Para o designer, o termo tipologia seria o mais significativo para reunir o estudo dos caracteres, desde a sua criação, desenvolvimento e adequação ao uso; sua relação com todos os processos gráficos; o que diz respeito à diagra- 2 mação é paginação de espaços com composição de textos. Em outras palavras, tudo o que se relaciona a tipos. p. 7 TIPO – FAMÍLIA TIPOGRÁFICA – FONTE (...) Hoje se define tipo como o desenho de caracteres com propriedades visuais uniformes. Família tipográfica é um grupo de tipos unidos por caracte- rísticas similares. Os tipos membros de uma família tipográfica se parecem entre si, mas diferem basicamente na espessura, na largu- ra ou na inclinação. A princípio, para compor uma família, além da versão nor- mal do tipo, também conhecida como “redonda” ou “ro- mana”, duas outras versões são suficientes: a inclinada para a direita, a forma “cursiva” ou “em itálico”, e a de espessura (ou “peso”) maior das hastes, a em negrito ou “bold”. O constante aumento das necessidades de infor- mação levou à ampliação de algumas famílias de tipos. O tipo é alargado ou estreitado e tem as hastes engrossadas 3 ou afinadas em diferentes gradações; as diversas variantes podem ainda ser combinadas. p. 10 Fonte é uma palavra origináriados tipos fundidos do pas- sado, que atualmente se emprega em todos os trabahos de composição eletrônica, muitas vezes sendo confuncida como sinônimo de tipo. Fonte é o jogo completo de carac- teres – letras, algarismos, sinais – fornecido ao usuário de forma que possa compor livremente qualquer texto naque- le tipo. p. 11 CORPO O tamanho do tipo é medido pela sua altura, denominada corpo (...). 4 A unidade de medida do corpo é o ponto (...). No sistema anglo-americano, utilizado atualmente, o ponto mede 0,351 mm, e 12 pontos equivalem a uma paica (...) ou 4,218 mm. O espaço entrelinhas também é medido em pontos. p. 12 SERIFA Quase todos os tipos podem ser classificados em “com serifa” e “sem serifa”, Serifa é um pequeno filete de acabamento que se estende nas terminaões das hastes dos caracteres. Sua origem re- monta aos caracteres romanos antigos, nas pinceladas de arremate das extremidades das letras pintadas nas pare- des de Pompéia e nas inscrições gravadas em predra, ao cinzelar as letras no mármore, no início e no fim das inci- sões. As serifas romanas clássicas nasciam das hastes dos carac- teres como curvas espontâneas e graciosas conferindo e- legência e refinamento aos trabalhos. 5 p. 16 A partir do Romano clássico, inúmeros novos desenhos foram desenvolvidos, com serifas de formas variadas. Ain- da que continuem surgindo diariamente novos tipos, é cer- to que, da totalidade dos existentes, a maioria possui seri- fas. Não existe uma classificação precisa para os certos tipos “com serifa”. Pode-se dizer que, a partir do Renascimento, cinco grupos de Romanos se distinguem: o Veneziano, o Antigo, o de Transição, o Moderno e o Egípcio. p. 34 SANS SÉRIF Os caracteres mais primitivos de todos os alfabetos eram, obviamente, de traços bem simples. Cinco séculos antes de Cristo, verifica-se que os gregos faziam suas inscrições com letras de desenho uniformes, claro e sem serifas. O tipo “sem serifa” reaparece somente no século XIX, pela fundidora Caslon, em 1816 e com Thorowgood, em 1832, como Grotesque, no sentido de “incomum”. As designa- 6 ções Grotesk, na Europa, e a universalmente difundida sans sérif, em francês, são as mais empregadas. p. 46 A máxima simplificação formal dos caracteres os reduz a traços elementares – linhas retas e curvas – sem acaba- mento, o que se costuma chamar de tipo “bastão”. p. 47 Muito se tem questionado sobre qual a melhor legibilidade de textos compostos, se com tipos “com” ou “sem serifa”. Não há uma resposta conclusiva, mesmo com uma dife- rença a favor dos “com serifa”. Mais importante nessa ava- liação, além, obviamente, do desenho do tipo em si, é o espacejamento entre caracteres. p. 54 OUTROS TIPOS Ao contrário das grandes famílias tipográficas, há um gru- po variado de outros tipos que não se enquadram em qualquer classificação. Nesse pot-pourri de tipos, a maioria criada para titulagens, estão letras decorativas, tipos cali- gráficos, de traço livre, de formas diferentes. O designer 7 deve usá-los como um chef usa um tempero: dosar na medida certa para não prejudicar o ingrediente principal. Os tipos não precisam ser formais ou rígidos. Tipos caligrá- ficos – por exemplo, têm emprego em todas as épocas. A caligrafia – em grego “escrita bela” – é uma forma de arte altamente cultuada nas civilizações orientais. Ainda que a beleza dos manuscritos possa depender do gosto pessoal, os calígrafos sempre foram profissionais conceituados e virtuosos. Os tipos caligráficos têm desenho e espaçamen- to especiais para que os textos compostos com eles se façam passar por manuscritos. p. 61 A tipografia é suscetível a tendências, como a moda. Os tipos clássicos são eternos; muitos outros tipos consegui- ram vencer o teste do tempo e estão sempre sendo requi- sitados; alguns outros, não tão bons ou apenas excêntri- cos, tiveram vida curta. p. 69 Nas últimas décadas, proliferaram novos tipos. Hoje, mui- tos dos que possuem computador pessoal, com os pro- gramas gráficos apropriados, acreditam que se tornaram 8 designers, capazes até de criar novas fontes. Com fre- quência, pessoas que mal conhecem tipos logo estão dis- cutindo seu design com pretensa autoridade. Entretanto, o mercado é seletivo e os tipos ruins não vingam. p. 70 TIPO E LOGOTIPO Ao projetar um logotipo, a busca natural de novas formas para os seus caracteres raramente se estende a todos os demais caracteres do alfabeto. Essa possível continuidade do trabalho visando criar um tipo novo não é objetivo nem preocupação do projeto da marca, podendo até prejudicá-la na originalidade, sua grande virtude. p. 71 A maioria dos logotipos emprega, de alguma forma, tipos existentes. Os designers usualmente criam uma particula- ridade, através de fundo, cor ou modificação no desenho. p. 72 REDESENHO DE TIPOS 9 Ao longo da história, as mudanças nos processos gráficos sempre levaram ao redesenho de diversos tipos. Mesmo sem a intenção de alterar seu design, a simples tentativa de fazer uma cópia dava lugar a interpretações diferentes dos tipos mais antigos, devido às imperfeições da impres- são. p. 74 O sistema de composição fotográfica – a fotocomposição e as fotoletras – iniciado nos anos 50, conquistou o mercado na década de 60, progrediu imbatível na década seguinte, mas sucumbiu à revolução digital nos anos 80. Na foto- composição, um simples processo fotográfico em preto-e- branco, as matrizes eram filmes negativos dos caracteres de cada fonte. Os textos, assim compostos em papel foto- gráfico, eram a seguir aplicados (colados, tarefa paste up) sobre as áreas previstas nas artes-finais de cada trabalho. As fotoletras eram reproduções fotográficas em preto-e- branco de uma montagem feita a mão com grandes mode- los individuais dos caracteres; sistema artesanal,conse- qüentemente demorado e oneroso, seu uso se restringia a titulagens. 10 A composição fotográfica permitiu pela primeira vez o livre espacejamento entre caracteres, palavras e linhas, até mesmo a sobreposição; ampliações independentes dos padrões de corpos e distorções arbitrárias com o auxílio de lentes apropriadas. p. 76 A revolução digital, iniciada em meados da década de 80, consolidou-se nos anos 90. O computador, com seus pro- gramas gráficos, passou a permitir ao designer elaborar o layout, dispor com total liberdade os textos e as imagens, fazer a composição com os tipos que escolhesse e da for- ma que arbitrasse, manipular à vontade todos esses ele- mentos gráficos até definir qual a solução definitiva, visua- lizando precisamente, na própria tela, o resultado do tra- balho. Naturalmente, por exigência técnica, os tipos precisaram ser convertidos para imagens digitalizadas. É possível que, além dos tipos de uso mais freqüente, tudo o que foi cria- do até hoje em tipos já exista, como redesenho, em fonte digital. p. 77 11 Ao redesenhar ou projetar tipos, é preciso enfocar também alguns pequenos detalhes que envolvem correção ótica e que não são notados pela maioria das pessoas. O desenho de um tipo para textos corridos de jornal, por exemplo, não deve ser exatamente o mesmo quando aplicado nas manchetes. Para um determinado tipo ser usado, tanto em corpos pequenos como em grandes, são exigidos diversos ajustes óticos. p. 78 Um exemplo típico da necessidade de correção ótica ocor- re no ângulo de encontro de duas hastes do caracter. São cantos que tendem a parecer arredondados e, na impres- são, correm o risco de efetivamente encher de tinta. O recurso é abrir “luzes”, discretas reentrâncias nos vértices desses ângulos. p. 79 Variações de desenho e correções óticas são soluções não só para os problemas de textos impressos, como também para o de textos para serem lidos à distância ou em baixas condições de visibilidade. 12 p. 86 TIPOS NO MONITOR Os tipos na tela do terminal de vídeo devem ser conside- rados sob dois aspectos: dos textos para serem diretamen- te lidos na tela pelo usuário e dos produzidos pelo compu- tador como ferramenta a serviço do designer, quando se objetivam saídas em forma de impressão ou como fotolitos e outras matrizes. Em ambos os casos, o usuário convive com a resolução nas telas, que não é alta (em algumas, chega a 96 dpi). Isso não causa grave prejuízo à legibilidade, porque a vi- sualização é sempre feita a uma certa distância do moni- tor, mas basta se chegar próximo da tela para constatar que a imagem não alcança a perfeição de uma fotografia. Para a leitura na tela, existem requisitos próprios e algu- mas fontes foram concebidas especificamente em função das limitações do meio. Um aspecto peculiar da leitura na tela é que a imagem, formada por pontos, atinge os olhos como luz direta, irra- diada pelo tubo de raios catódicos. Quando se lê um livro, 13 é no papel que incide a luz, e o efeito sobre os olhos é to- talmente diverso. p. 87 As diferenças entre tipos na tela e tipos impressos sobre papel, ou outro suporte estático, dependem de inúmeras variáveis. A princípio, observa-se que a leitura em tela é mais lenta que a sobre papel e que os tipos “sem serifa” tendem a ser mais legíveis, enquanto que os “com serifa” proporcionam melhor “leiturabilidade”. O tamanho mínimo dos caracteres (altura das maiúsculas) deve ser algo entre 2,5 a 3 mm (corpo 10) e o ideal come- ça próximo a 4 mm (corpo 14/15); o espacejamento entre letras deve ser folgado, bem como o entre linhas. p. 91 MAIÚSCULAS / MINÚSCULAS – CAIXA ALTA / BAIXA Para o dia-a-dia, os antigos romanos faziam uso de um desenho informal das maiúsculas, a capitalis rustica, que pouco diferia da capitalis monumentalis, e possuíam ainda uma forma tosca de escrita cursiva. Embora alguns vissem ali o embrião das letras minúsculas, a verdadeira origem 14 dessas “letras menores” foram as letras unciais, surgidas por volta do século IV, usadas em toda a Idade Média na escrita e cópia de livros de textos cristãos. O estilo uncial existia também em manuscritos gregos, desde épocas mais remotas. p. 96 O uso de letras maiúsculas e minúsculas se faz com algu- mas variantes: MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS ou CAIXA ALTA E BAIXA: maneira mais comum de se escrever textos; proporciona às palavras e frases perfeita definição visual. TUDO EM MAIÚSCULAS ou CAIXA ALTA: apropriada para títulos e textos de poucas palavras; em textos mais longos, afeta a legibilidade, a leitura é mais lenta e ocupa mais espaço. p. 97 TUDO EM MINÚSCULAS ou CAIXA BAIXA: geralmente ina- dequada; a falta de maiúsculas causa estranheza ao leitor e diminui a força da mensagem. 15 INICIAIS EM MAIÚSCULAS: todas as palavras têm suas iniciais em maiúsculas, exceto os artigos, preposições e conjunções; excelente para títulos e sinalização. Existe a variante seletiva: algumas palavras são enfatizadas com suas iniciais em maiúsculas. p. 98 VERSAL/VERSALETE: compor em “versal/versalete” (mai- úsculas/maiúsculas menores) é compor todas as letras em maiúsculas, usando, no lugar das que seriam em minúscu- las, letras maiúsculas com altura idêntica à das minúsculas do mesmo corpo (small caps, em inglês, maiúsculas pe- quenas). Chama-se também de “caixa alta em alta e bai- xa” (CAAb) e a diferença entre as duas alturas, na prática, é arbitrária; na composição eletrônica, pode-se determinar percentualmente a altura da menor em relação à maior ou aceitar o padrão automático do programa. Há muito se usa esse modo particular de compor textos; em especial, para dar destaque a títulos. p. 99 Ao se optar por um determinado corpo, a referência natu- ral de tamanho que vem à mente é a altura das letras maiúsculas. Quando o texto é em “caixa alta e baixa”, tor- 16 na-se necessário verificar também a altura das minúsculas do tipo escolhido. Poucos reparam que a razão entre a altura das minúsculas (x-height, em inglês, ou a altura da letra “x” minúscula) e a das maiúsculas difere de tipo para tipo e isso influi no aspecto geral da composição. A variação do x-height muda a “tonalidade” do texto composto – da chamada “mancha” de impressão de texto – e, portanto, interfere na escolha do entrelinhamento. Note-se ainda que muita diferença ou pouca diferença en- tre as alturas de maiúsculas e minúsculas prejudicam a legibilidade. Nos projetos de tipos para uso específico, co- mo jornais, sinalização etc., o x-height é criteriosamente estudado, visando melhor legibilidade. Em caso de se de- cidir, por exemplo, entre dois tipos “sem serifa” que pos- suam desenhos muito semelhantes, o de maior x-height tenderá a ser mais legível. p. 100 Ao se desenvolver uma fonte tipográfica do alfabeto latino, às 26 maiúsculas se juntam as correspondentes minúscu- las, as small caps (maiúsculas pequenas ou versalete), os 17 ditongos (unidos), as ligaturas, as letras modificadas para algumas línguas, os acentos, os sinais de pontuação, os algarismos, as frações, os símbolos matemáticos, os sím- bolos monetários, diversos outros símbolos e pictogramas, além de, opcionalmente, a versão para o alfabeto grego. Uma fonte de uso internacional pode ultrapassar 250 ca- racteres. p. 104 LEGIBILIDADE Cabe ao designer conseguir que as mensagens visuais se façam entender de forma clara, rápida e precisa, com o compromisso de nelas incorporar a estética. A tipologia deve fazer passar as mensagens eficientemen- te, razão pela qual é indiscutível a importância da legibili- dade. Em inglês, o termo legibilidade tem duas versões: legibility (legibilidade) se refere às qualidades inerentesaos tipos em si, que os fazem reconhecíveis e claros para serem li- dos; readability (“leiturabilidade”) diz respeito à qualidade do conforto visual, à qualidade de compreensão dos tex- 18 tos, ao que torna aprazível sua leitura. Na prática profissi- onal, é de se esperar que o texto se torne legible e reada- ble. As pesquisas sobre legibiidade são pouco concludentes, devido a diversos fatores, a começar pelas variantes: tipo, versão, corpo, alinhamento, espacejamento. Daí para o contexto visual onde se insere a composição: fundo, con- traste, cor. Pode-se dizer que, em relação aos tipos clássi- cos, em idênticas situações, as diferenças de legibilidade são pequenas. Os espacejamentos – entre caracteres, entre palavras e entre linhas – são fundamentais para determinar o grau de legibilidade. Nos textos corridos, como em livros e jornais, os tipos “com serifa” são os escolhidos por sua melhor readability. As letras maiúsculas são menos legíveis que as minúscu- las; as versões semi-bold são mais “visíveis”; as itálicas são um pouco menos legíveis que as redondas etc. p. 105 19 (...) um texto tipologicamente mal projetado, num layout mal resolvido, vai afastar o leitor, mesmo que esteja com- posto num tipo absolutamente legível. p. 108 No caso de placas de rodovias, por exemplo, a legibilidade é, sem margem de dúvida, prioridade máxima. São ele- mentos de comunicação para bom ou mau tempo, e a in- formação necessita ser passada em frações de segundos. p. 109 Já no caso de uma revista para público jovem, presumin- do-se o leitor confortavelmente instalado, com boa ilumi- nação e tempo livre para dedicar-se à leitura, é lícito fazer concessões à ousadia, manipulando a tipologia, com a le- gibilidade em segundo plano. Os tipos servem para “vestir” as idéias, valorizando e real- çando a mensagem, sem chamar muita atenção para eles próprios. A boa solução em tipologia desperta o interesse e torna atraente a leitura. p. 122 ESPACEJAMENTO ENTRE CARACTERES 20 A composição de um texto se faz numa sequência em que as distâncias entre cada caracter e o seguinte devem ser estudadas caso a caso. Os caracteres têm formas distintas e cada combinação, dois a dois, pede uma distância dife- rente. Para uma sensação visual agradável, as distâncias resultam desiguais. Em tipologia, há uma lei óptica: cada palavra propõe um problema visual de espacejamento entre as suas letras. O critério consiste em se avaliar a área dos vazios ou bran- cos, que interagem como em vasos comunicantes (em lin- guagem gráfica, branco é todo o fundo visível onde está impresso o caracter, mesmo que seja em outra cor). O espacejamento proporcional correto faz com que as á- reas brancas pareçam homogêneas. São compensações entre preto e branco, ou forma e contraforma, ditadas pela percepção visual, que garantem harmonia à leitura. 21 p. 123 p. 124 É possível aumentar ou diminuir por igual o espacejamento padrão nos programas gráficos através do recurso deno- minado tracking. Existe ainda o kerning, ajuste fino para algumas combinações de caracteres (...), em que uma le- tra invade o espaço da outra. A legibilidade ótima ocorre no modo normal de compor, com espacejamento proporcional padrão. Para preservar a legibilidade, os excessos devem ser evitados; os espace- jamentos reduzidos ao extremo ou os exageradamente folgados mostram-se prejudiciais à leitura. p. 126 O espacejamento entre palavras está naturalmente subor- dinado ao espacejamento entre caracteres. A princípio, no 22 uso comum, o espacejamento máximo aceitável entre pa- lavras é o chamado Em space. Essa medida é a largura da letra M do tipo composto. Um Em space ou Em square (espaço ou quadrado eme, em inglês) é, na prática, um quadrado de lado igual à medida do corpo adotado. O Em equivale ao quadratim do sistema Didot. O espacejamento entre palavras deve sempre harmonizar com o espacejamento entre caracteres. Ele é padronizado na composição digital como “um espaço”, idêntico ao do processo tipográfico. Quando necessário, a variação dos dois espacejamentos tem que ser conjunta e proporcional. Afastar-se do espacejamento automático padrão entre pa- lavras é desaconselhável. Aumentar o espacejamento de- sagrega o texto; reduzi-lo em demasia pode ligar as pala- vras. Em ambos os casos, a legibilidade fica prejudicada. p. 127 ARRANJO DAS LINHAS E BLOCOS DE TEXTO O arranjo ou layout de um texto pode admitir diferentes soluções ou ser mais restrito, dependendo, a princípio, da natureza de cada trabalho onde ele vai ser inserido (...). 23 São inúmeros fatores que liberam ou que estreitam os ca- minhos do design gráfico e que sugerem qual ou quais as soluções adequadas para o arranjo das linhas e blocos de texto. Uma vez compostos, os textos ganham personalidade, moldada pelo criador gráfico. Cada mensagem adquire uma “voz” particular na forma em que está projetada. Co- mo num discurso, ela pode ser passada em tom firme, cla- ro, com eloqüência, ou ser entrecortada, abafada e ma- çante. Os textos compostos são “sons” visuais orquestra- dos pelo designer. p. 128 Em primeiro lugar, há necessidade de estabelecer harmo- nia entre o corpo, o espacejamento entre caracteres, o comprimento (número de caracteres) das linhas e o espa- cejamento entre linhas. Para projetar textos corridos, como em livros, por exem- plo, o corpo mais empregado é entre 10 e 12, conforme o tipo escolhido. O espacejamento entre caracteres ideal é o padrão, com ótima legibilidade e que proporciona uma to- nalidade uniforme aos textos. As linhas muito curtas ou 24 muito longas cansam e acabam com o ritmo de leitura; nas linhas longas, o número máximo de caracteres, ou melhor, de “toques” (incluindo cada espaço entre palavras como um caracter) por linha é de 60 a 65. Já o entrelinhamento (espacejamento entre linhas) deve garantir a devida fluidez à leitura. Entrelinhamento aperta- do exige esforço para distinguir as linhas, enquanto que o afastamento excessivo pode dispersá-las. Há um consenso de que o entrelinhamento ideal esteja entre 1/4 e 1/3 aci- ma do corpo do texto. Por exemplo: compor 9/12 (corpo 9, com entrelinhamento real de 3, total de 12) ou em 14/18 (corpo 14, com entrelinhamento real de 4, total de 18). p. 129 Um texto em bloco de linhas horizontais pode ser alinhado de cinco maneiras: à esquerda, à direita, justificado (ali- nhado pelos dois lados), centralizado ou em contorno. p. 134 A HIERARQUIA VISUAL 25 Hierarquia visual é o termo que melhor traduz como se guia o modo de ver ou, em outras palavras, qual o roteiro que o olhar percorre pelos elementos do plano gráfico. A hierarquia visual, na prática, funciona pela ordem em que se é levado a ler, o que não é tão simples de ser e- quacionado. Para o designer solucionar bem qualquer la- yout, com uma correta hierarquia visual, é preciso conhe- cer percepção visual. Os teóricos da Gestalt (configuração ou forma – no sentido usual de “boa forma”, em alemão), Escola de Psicologia Experimental do início do século XX, estudaram em pro- fundidade o fenômeno da percepção, matéria essencial no campo do design. Os postulados da Gestalt passaram a influenciar a Filosofia e a Estética nas gerações seguintes (...). Perceber uma imagem visual implica participar de um pro- cesso de organização visual. p. 135 26 A ordem natural de leitura, no mundo ocidental, é da fren- te para trás, de cima para baixo, da esquerda para direita, na horizontal. Sob o aspecto da organização do mundo visual, o tamanho é o primeiro e mais simples elemento de expressão. Nas imagens primitivas, a hierarquia do tama- nho (escala espacial) correspondia diretamenteà impor- tância (escala de valores). Num raciocínio primário, a ordem de importância começa- ria sempre pelo tamanho dos caracteres do título, do subtí- tulo e do texto em si, com o corpo maior em primeiro lugar e assim por diante, mas está comprovado que, na verda- de, a hierarquia visual não precisa seguir este estereótipo. A atenção do espectador pode passar de um a outro dos componentes visuais não necessariamente nessa ordem. Além das diferenças de tamanho, são as posições, as for- mas, os contrastes, as cores e as texturas que irão condu- zir a visão no seu percurso, e cabe ao designer definir as relações entre tantas possibilidades. p. 137 OS MEIOS E OS AMBIENTES EM COMUNICAÇÃO 27 Os meios – do latim media (em inglês, pronuncia-se mídia) – de comunicação determinam os parâmetros do projeto de tipologia. Um livro, um perfil de empresa, um anúncio, uma página da Internet, um letreiro ou um painel de expo- sição direcionam a tipologia de formas diferentes. Um ca- tálogo precisa ser atraente em todas as suas páginas; uma placa de sinalização deve informar rapidamente e com cla- reza; um cartaz permite uma infinidade de soluções criati- vas. Observam-se ainda os ambientes em que esses media se apresentam, que possam limitar a visibilidade e a atenção do observador: período ou velocidade de visualização, dis- tância, condições de tempo (visão embaçada) e condições de iluminação. p. 141 Pouco se repara na composição de corpos muito peque- nos, como em mapas e listas telefônicas. Nestas em parti- cular, a intenção é colocar o máximo de texto no mínimo de espaço, com perfeita legibilidade, apesar de habitual- mente impressas em papel de qualidade inferior. 28 Problemas de legibilidade são comuns nos textos informa- tivos, em corpos pequenos, de rótulos e embalagens. Mui- tas vezes, o motivo é o processo de impressão de baixa qualidade e as superfícies (substratos) – o papel ou outros materiais – não permitirem impressão nítida, em razão da própria natureza da produção industrial de cada item. O designer deve estar atento a essas restrições técnicas. 29 Revisão de Literatura SAMARA, Timothy. Elementos do design: guia de esti- lo gráfico. Porto Alegre: Bookman, 2010. 272 p. p. 116 ESCOLHENDO E UTILIZANDO TIPOGRAFIA Os elementos básicos As letras do alfabeto ocidentalsão formadas a partir de um sistema de linhas com relações visuais intrincadas quase invisíveis. Se estiverem configuradas em um tamanho pa- drão de leitura, o olho percebe as letras como tendo mes- mo peso, tamanho e largura. Esse é o aspecto mais crucial da tipografia: a uniformidade estilística evita a distração durante o processo de leitura. É crucial perceber e entender essas questões ópticas e seu efeito sobre espacejamento, organização e comunização estilística, legibilidade e composição. 30 p. 118 Forma e contraforma: a óptica do espacejamento O espacejamento das letras em palavras, orações e pará- grafo é essencial para criar um valor de cinza uniforme que evite a distração do leitor. Examinar letras reunidas como uma palavra oferece uma dica de qual deve ser o espaço entre elas em uma face de tipo e em um tamanho específicos. 31 p. 119 Sequências de letras configuradas uniformemente mos- tram uma alternância padronizada e rítmica de preto e branco – forma e contraforma se repetem no mesmo ritmo da esquerda para a direita. A principal dificuldade de se alcançar um tipo uniforme- mente espacejado é que as letras têm densidades diferen- tes. (...) impulsos direcionais de diferentes traços e a vari- ação de tamanhos e formas das contraformas. Para corrigir essas disparidades, faces de tipo digitais são programadas para adicionar e subtrair o espaço entre os diferentes pares de letras, dependendo das combinações. Esses conjuntos de letras, chamados “pares de kerning”, são adequados para a maioria dos casos de combinação de formas de letra, mas não todos. Invariavelmente, o desig- ner precisará corrigir o espacejamento incomum que o sof- tware do computador não é capazz de resolver. p. 120-121 Corpo e espacejamento 32 O desenho de uma face de tipo tem impacto sobre a per- cepção de seu tamanho. A diferença no espacejamento e no tamanho aparente po- de variar em até dois ou três pontos, dependendo da face de tipo. Configurar o texto em uma face menor ou maior do que o tamanho ótimo de leitura também tem impacto sobre o espacejamento. Uma leitura cômoda e eficiente de textos longos, como livros, jornais ou periódicos, acontece quan- do o corpo da face está entre 9 e 14 pontos (...). O espa- 33 cejamento ótimo no corpo de leitura implica a alternância uniforme entre os traços e as contraformas. À medida que o corpo da face é diminuído, o espaço entre letras deve ser aumentado para permitir que os olhos separem as le- tras com clareza. No outro extremo, o espçao entre letras deve ser reduzido à medida que o corpo da face aumenta além do tamanho de leitura. p. 122-123 Variações visuais As formas de letra em todas as faces variam dos seus ar- quétipos em seis aspectos: caixas-altas/caixas-baixas, pe- so, contraste, largura, portura e estilo. 34 Considere que nem todos os leitores perceberão as mes- mas associações em uma dada face; o designer deve ava- liar cuidadosamente sua seleção de faces no contexto do público de um determinado trabalho. Além disso, misturar faces de tipo incongruentes com o tema em questão (...) muitas vezes adiciona camadas surpreendentes de comu- nicação. (...) as características dos desenhos das faces afetam suas qualidades funcionais, tornando algumas mais legíveis em certos tamanhos ou afetadas pelas cores de uma maneira específica. p. 124-125 Classificações de estilo 35 p. 126-127 Saiba o quê e por quê: os detalhes Selecionar uma face de acordo com uma sensação ou es- tado de espírito é uma tarefa que (...) depende da reação instintiva do designer ao ritmo ou às formas inerentes de um estilo específico. 36 Algumas faces (...) parecem velozes ou lentas, espessas ou finas; essas qualidades podem ser rapidamente atribuí- das à interação dos contraespaços, aos pesos e contrastes de traço, às junções, etc. Muitas faces também evocam associações com temas cul- turais por causa do seu uso comum na propaganda ou em outros locais de cultura pop para temas específicos (...). No entanto, o desenho instrínseco de uma face envolve formas que podem ser lidas como outras formas encontra- das em nossos ambientes. Ao escolher uma face adequada, analise as imagens que acompanham o texto ou pense nos objetos ou lugares re- lacionados ao tema do texto para buscar inspiração. p. 132-133 Avaliando a contagem de caracteres, entrelinha e parágra- fo A largura de um parágrafo depende principalmente do corpo do tipo utilizado e, consequentemente, do número de caracteres que uma linha pode conter. Independente- mente do corpo do tipo ou da maturidade do leitor, entre 37 50 e 80 caracteres (incluindo espaços) podem ser proces- sados antes de um retorno de linha. Com uma média de palavras entre 5 e 10 linhas, isso daria aproximadamente 8 a 12 palavras por linha. Alcançar essa contagem de carac- teres determina a largura de um parágrafo. A entrelinha (...) depende da largura do parágrafo, do cor- por do tipo e do seu espacejamento. O espaço entre as linhas deve ser visivelmente maior do que a altura óptica das linhas, mas apenas o suficiente para que ele não per- maneça visível. De maneira semelhante, e entrelinha não deve ser muito compacta para evitar que o leitor confunda a linha que acabou de ler com uma nova linha. À medida que a largura do parágrafo aumenta, o tamahoda entreli- nha também deve aumentar para que o início das linhas seja mais facilmente distinguível. Estranhamente, à medida que diminui a largura de pará- grafo, a entrelinha também deve aumentar: do contrário, o leitor poderia ler várias linhas juntas (...). p. 134-135 Lógica de alinhamento 38 A tipografia pode ser posicionada em inúmeras configura- ções, chamdas alinhamentos. Ela pode ser posicionada (...) alinhado à esquerda (...) alinhado à direita (...) centraliza- do (...) ou (...) justificado (...). O texto justificado é o único posicionamento em que as linhas têm o mesmo comprimento. No texto alinhado à esquerda, à direita, ou centralizado, os comprimentos irre- gulares das linhas criam uma forma suave no lado não- alinhado que é chamada de “margem irregular”. O alinhamento do texto tem efeito sobre o espacejamento dentro dele e, portanto, sobre a busca de um posiciona- mento desejável do texto. Em um parágrafo alinhado à esquerda e irregular à direita (...) alinhado à direita e irre- gular à esquerda (...) centralizado (...) os espaços entre palavras são uniformes. Mas o espaço entre palavras em um texto justificado varia porque a largura do parágrafo é corrigida matematicamen- te e as palavras em uma dada linha precisam estar alinha- das nas duas margens – independentemente do número de palavras ou do comprimento que elas têm. (...) a vari- ação no espaço entre palavras é o problema mais difícil de resolver. 39 Um método para minimizar esse problema é encontrar a largura ótima do parágrafo alinhado à esquerda para o tipo antes da justificação – e então aumentar um pouco a lar- gura do parágrafo ou condensar o corpo da face de tipo em meio ponto ou um ponto. Um parágrafo um pouco mais largo também permite al- guma flexibilidade na maneira como as palavras são que- bradas de uma linha para outra e dá ao designer mais op- ções de quebrar o texto novamente a fim de que ele se ajuste dentro de um bom espacejamento. Parágrafos irregulares oferecem a oportunidade de evitar problemas de espacejamento inerentes ao texto justifica- do. O posicionamento irregular (...) apresenta o efeito textural destacado de uma margem orgânica cuja oposição à mar- gem rígida do alinhamento comunica um contraste visual imediato com a página e também fornece uma separação óptica entre os parágrafos dispostos horizontalmente. p. 138 O parágrafo ótimo 40 Uma configuração desejável de parágrafo é aquela em que inúmeras variáveis alcançam um equilíbrio harmônico. Co- mo o texto corrido estendido é uma das considerações mais importantes para uma publicação, encontrar o pará- grafo ótimo é uma maneira de começar a desenvolver a estrutura tipográfica geral. O designer pode primeiro fazer algumas considerações sobre a face de tipo do texto, com base no seu sentido de adequabilidade a partir de um ponto de vista conceitual e considerando os atributos visuais (...) e configurar um pa- rágrafo de texto em uma largura e um tamanho arbitrá- rios. Avaliando a partir dessa primeira tentativa, o designer po- deria optar por ajustar o corpo do texto, aumentar ou di- minuir seu espacejamento geral, abrir e fechar as entreli- nhas, (...). Ao comparar os resultados dessas variações, o designer será capaz de determinar a configuração de texto mais confortável para uma leitura prolongada. Nessa análise, o designer descobrirá que, várias opções para largura e entreinha são ótimas, mas ele precisará es- colher uma como padrão para a publicação. 41 Essa escolha tem implicação no tamanho da página, no número de colunas de texto que poderia caber nela e nos tamanhos ótimos para outros agrupamentos de texto (...). p. 141 Separando parágrafos (...) a definição de parágrafo como uma unidade informa- cional emergiu (...) como uma maneira de ajudar os leito- res a navegar pelo texto. (...) as colunas [de texto] começaram a ser configuradas com retorno de linha, mas sem espaço entre os parágra- fos; em vez disso, o início de um novo parágrafo era indi- cado por um recuo (...). Essa abordagem é adequada prin- cipalmente na configuração justificada. A profundidade do recuo é subjetiva e precisa ser perceptível. Em geral, recuos não são uma boa ideia se o texto tiver uma margem irregular (...) parecendo um pouco desleixa- do ou fazendo com que as linhas no topo das colunas alte- rem o alinhamento. 42 p. 147 Tipografia também é visual Tipografia é visual; no espaço, funciona da mesma manei- ra que pontos, linhas, quadrados, campos de textura e padrões em qualquer composição. Reconhecer essa verdade em relação à tipografia, compre- endendo-a e sentindo-a intuitivamente, oferece ao desig- ner a possibilidade de transformar a tipografia e as ima- gens em protagonistas de igual importância. Cor tipográfica Além da maneira como a tipografia é posicionada, suas qualidades rítmicas espaciais e texturais são considerações importantes. O termo empregado para designar essas qua- lidades como um todo é “cor tipográfica”. Cores tipográfi- cas são semelhantes às cores cromáticas (...) mas lidam apenas com as modificações em luz e sombra, ou valor. Alterar as cores tipográficas dos componentes tipográficos separa-os da superfície e introduz a ilusão de profundidade espacial e uma sensação de ritmo cambiante.
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