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1.INTRODUÇÃO A utilização de leveduras pela indústria vem se mostrando cada vez mais intensa, seja para obtenção de células, obtenção de compostos fermentados ou do produto final por essas produzidos. Devido à baixa complexidade dos processos fermentativos que usam leveduras, esse é muito atrativo, sendo cada vez mais aprimorado para melhor utilização. O presente trabalho consiste da análise do cultivo de leveduras da sepa “Amanda” em caldo de cana, afim de compreender melhor sua cinética, tendo sido realizado um processo de mensuração de células e características do meio (como pH e ºBrix) de acordo com tempos variados em intervalos curtos. Os resultados foram analisado observando pequenas discrepâncias metodológicas na prática e com isso obtendo resultados que se aproximam ao cálculo de reta de primeiro grau. O objetivo final era a caracterização da sepa de acordo com os critérios acima citados: número de células geradas, pH do meio e consumo de açúcar mesurado em ºBrix. 2. REVISÃO 2.1 Leveduras As leveduras são taxonomicamente diversas, incluindo basidiomicetos, ascomicetos e as leveduras imperfeitas, um terceiro grupo. Estas são identificadas de acordo com as características morfológicas e fisiológicas, que são distintas se comparadas às características dos fungos. Uma espécie de leveduras é considerada como uma reunião de uma população de clones ou de uma coleção de linhagens, significando que a descrição padrão de uma espécie é baseada em várias linhagens. Uma diferença significativa para a classificação de espécies é a interfertilidade entre as linhagens de uma mesma espécie e a infertilidade entre linhagens de espécies diferentes. Outro fator de classificação é a diferença nas bases genéticas de cada espécie. Também pode ser diferenciada em relação às estruturas de parede celular, composição química dessas e a similaridade de suas co-enzimas (N. J. W, 1984). Dentre as aplicações, as leveduras são intensamente utilizadas em processos industriais, sendo cultivadas visando à obtenção das suas células, de seus componentes celulares e dos produtos finais obtidos durante a fermentação alcoólica. Suas células são empregadas na panificação e como fontes de alimentos, vitaminas e outros fatores de crescimento. É responsável pela produção de álcool (bioetanol) para uso industrial e conhecidas também por seu papel na produção de bebidas alcoólicas. Além disso, outra aplicação interessante é a utilização dessas para a produção heteróloga de proteínas intra e extracelulares de plantas, animais e humanos (ABREU et al., 2015). Para a obtenção de etanol, a utilização da Saccharomyces cerevisiae continua sendo a mais adequada, pois por se tratar de processos não estéreis, necessita-se de um microrganismo “rústico”, capaz de suportar condições drásticas. Além disso, essas leveduras possuem uma alta eficiência fermentativa, um crescimento rápido, eficiente metabolização de açúcares, habilidade na produção e consumo de etanol, tolerância a altas concentrações do produto e baixos níveis de oxigênio, osmotolerância, tolerância a variações grandes de temperatura e atividade celular em ambientes ácidos (REIS, 2011). Diferenças substanciais entre linhagens dessa espécie justificam a seleção de linhagens mais apropriadas para o ambiente de fermentação alcoólica industrial, existindo atualmente o fornecimento por unidades produtoras de biomassa de grandes volumes de leveduras previamente isoladas durante o período de safra, sendo essas chamadas de leveduras selecionadas. Essas são selecionadas com base na sua produção de glicerol e trealose em condições de estresse (REIS, 2011). 2.2 Caldo-de-cana O caldo-de-cana é constituído em torno de 75-82% por água e sólidos totais dissolvidos (18-25%). Dentre esses sólidos, estão os açúcares, tais como a sacarose (14,5-23,5%), a glucose e a frutose e os não-açúcares orgânicos (0,8-1,5%) e inorgânicos (0,2-0,7%). Os não-açúcares orgânicas são proteínas, aminoácidos, amidas, gorduras e ceras, pectina, ácidos, matérias corantes e os inorgânicos são minerais como a sílica e potássio, em sua maior parte (PRATI, 2008). O caldo é considerado como um líquido opaco, viscoso, variando de cor parda ao verde escuro, cuja composição varia de acordo com a idade, variedade e salinidade da planta de cana, condições climáticas, planejamento agrícola, pragas e doenças. A bebida apresenta uma proporção de sólidos compreendida entre 15 e 25º Brix e o pH do caldo é de caráter pouco ácido, variando entre 5 e 6 (PRATI, 2008). Então, por ser uma bebida rica em açúcares e de baixa acidez, torna-se muito suscetível à deterioração, principalmente por leveduras, resultando em uma fermentação (PRATI, 2008). 2.3 Processo de Fermentação em Batelada Submerso As fermentações descontínuas, ou também conhecidas como fermentações por batelada, vêm sendo utilizadas pelo homem desde a Antiguidade, e hoje ainda são as mais empregadas para obtenção de diversos produtos fermentados. Inicialmente, na solução nutriente esterilizada são inoculados e incubados os microrganismos, permitindo que a fermentação ocorra sob condições ótimas. No decorrer do processo nada é adicionado, com exceção de oxigênio, no caso de processos aeróbicos, antiespumante, e ácido ou base para o controle do pH. Uma das características desse processo, é então, o volume constante. Essa fermentação pode levar a baixos rendimentos quando o substrato é adicionado de uma só vez, pois esse pode exercer efeitos de inibição, repressão ou desvio do metabolismo celular a produtos que não são de interesse. Além disso, apresenta “tempos mortos”, ou seja, tempos no qual o fermentador não está sendo utilizado para a fermentação, mas sim para carga e descarga de materiais e também o período correspondente à lavagem e esterilização do equipamento (SCHMIDELL et al., 2001). Por outro lado, apresenta vantagens como menores riscos de contaminação, grande flexibilidade de operação por poder utilizar o mesmo fermentador para a produção de diferentes produtos, condições de controle mais estreito da estabilidade genética do microrganismo e a possibilidade de realizar fases sucessivas no mesmo recipiente, isto é, sem necessidade de transferir o material para outro fermentador (SCHMIDELL et al., 2001). Existe ainda, o processo descontínuo alimentado, que é definido como uma técnica em processos microbianos, onde um ou mais nutrientes são adicionados ao fermentador durante o cultivo e em que os produtos permanecem ali até o final da fermentação. Em alguns casos, todos os nutrientes são adicionados gradualmente à dorna. Para outros autores, é estendido esse conceito para o acréscimo de aditivos, tais como precursores de produtos. A vazão de alimentação pode ser constante ou variar de acordo com o tempo e a adição de mosto pode ser contínua ou intermitente. Nesse, a mudança de volume pode ocorrer, dependendo da taxa de evaporaçãodo sistema e da concentração de substrato (SCHMIDELL et al., 2001). Uma vantagem desse processo é que devido à flexibilidade de utilização de diferentes vazões para a adição do meio nutriente, torna-se possível controlar a concentração de substrato no fermentador, de modo a interferir no metabolismo microbiano, para que seja alternada para a via metabólica desejada, levando ao acúmulo de um produto específico. Também, cada condição de trabalho pode levar a diferentes perfis de concentração de substrato, células e produtos. Além disso, esse processo é muito satisfatório quanto à operação e eficiência de conversão de açúcares a álcool (SCHMIDELL et al., 2001; PACHECO, 2010). A produção industrial de etanol se classificam em processos de batelada e contínuos, sendo para essa finalidade utilizado o processo em batelada do tipo alimentado. A nível industrial, os biorreatores, também chamados dornas, são reatores de aço do tipo tanque agitado, normalmente fechadas e mantidas a uma temperatura de 33 a 35ºC até o fim do processo, quando a concentração de etanol se situa entre 7 e 12º GL. No início da fermentação são utilizadas altas concentrações celulares, de cerca de 10^7 células/mL. Ao final da fermentação a concentração atinge valores de 10 a 100 vezes maiores que o inicial (PACHECO, 2010). 2.4 Fatores que afetam a fermentação alcoólica Diversos fatores físicos, químicos e microbiológicos afetam o rendimento da fermentação e a eficiência da conversão de açúcar em etanol. Durante os processos fermentativos, a levedura pode estar exposta a diversos fatores estressantes. Dentre esses fatores, os mais frequentemente citados são a concentração de teores alcoólicos, a temperatura elevada, a acidez do meio (inclusive no tratamento ácido), a presença de sulfito, a contaminação bacteriana e a contaminação com leveduras não Saccharomyces (PACHECO, 2010). A faixa de temperatura para o processo de fermentação alcoólica é de 25 a 36ºC, sendo que abaixo dessa pode-se retardar o processo e acima pode ocasionar a evaporação do álcool produzido e pode favorecer o surgimento de contaminações. O pH ideal para favorecer a multiplicação da levedura e inibir o aparecimento de outros microrganismos está entre 4,0 e 5,0. Nos mostos industriais o pH está entre 4,5 e 5,5 (PACHECO, 2010). 3. Metodologia Para realização da técnica, foi utilizada a levedura Amanda como inóculo. Inicialmente foi feita a contagem de células da solução a partir de uma câmara de Neubauer. Uma vez efetuada a contagem de células e que constatou-se que a amostra estava viável para continuar com a técnica foi separado 150 mL dessa solução e essa foi introduzida em 1,5L de solução de caldo de cana, previamente autoclavado, para que a levedura se reproduzisse no caldo e fosse possível a determinação da cinética. Esse caldo foi levado a um shaker onde permaneceu sob agitação constante por 8 horas e depois foi separado em frascos pequenos, esterilizados com álcool, para realização das medições de acordo com os tempos para estudo da cinética: pré-inóculo, tempo 0, 1, 2, 3, 4, 5 , 6, 7 e 8 divididos em 5h de intervalo. Após a realização das separações foi efetuada a análise de contagem de células ao longo do tempo novamente com auxílio de uma câmara de Neubauer e posteriormente foram feitas também análises de pH e Brix. Após essas medições foram feitas análises para mensurar a obtenção de álcool proveniente da fermentação. 4. Resultados e Discussão Em relação ao estudo das curvas cinéticas do primeiro experimento, visando a produção de células para posterior fermentação alcoólica, os resultados obtidos não foram satisfatórios, tendo os valores de R da contagem, pH e Brix de 0,83; 0,64 e 0,79, respectivamente. Esses valores foram gerados pela equação de primeira ordem, equação essa que apresentou maiores Rs. Como todos esses se apresentaram abaixo de 0,90, tem-se um resultado relativamente ruim, que pode acarretar em uma fermentação alcoólica com um rendimento menor que o desejado. Para a fermentação alcoólica, os dados do estudo de cinética se mostraram mais promissores, tendo na equação de primeira ordem os melhores valores de R, sendo esses, para a contagem, pH e Brix, de 0,8916; 0,8352 e 0,91, considerados, então, valores próximos ou acima de 0,90, mostrando-se um processo fermentativo eficiente. A quantidade de células aumentou, porém não de forma expressiva, assim apresentando resultados fora do padrão, pois deveria ter uma concentração por volta de 10 vezes maior, no mínimo. O pH e o Brix diminuíram significativamente de acordo com os estudos e os gráficos 2 e 3, provando a conversão de açúcares em etanol. Além disso, a produção de etanol nessa fermentação de 44h foi de 4,4% em volume, ou seja, 66 mL de álcool. Assim, poder-ia-se ter um rendimento mais alto se o processo todo tivesse apresentado bons resultados, o que não aconteceu devido aos problemas mostrados no estudo cinético de produção das leveduras. A seguir estão dispostos os gráficos resultantes do estudo durante a fermentação alcoólica. Gráfico 01: equação de primeira ordem para contagem de células. Gráfico 2: equação de primeira ordem para o pH do processo. Gráfico 3: equação de primeira ordem para o Brix do processo. 5. Conclusão A partir desse trabalho podemos entender de que forma melhorar as variáveis que interferem no problema de fermentação, podendo dessa forma criar sistemas de trabalho com melhorias, buscando garantir resultados mais efetivos para a técnica. A importância da fermentação faz com que os processos devam ser estudados de forma a serem sempre implementados de acorodo com o microrganismo utilizado. No trabalho os resultados se mostraram insatisfatórios ou medianos, coisa que para um processo industrial é danoso e pode oferecer riscos elevados pensando no sustento de um comércio. Assim sendo, entendemos a necessidade de adaptação do microrganismo e otimização do meio e procedimento para obtenção de melhores resultados. REFERÊNCIAS ● ABREU, Jéssica Aline Soares de; ROVIDA, Amanda Flávia da Silva; PAMPHILE, João Alencar. Fungos de Interesse: Aplicações Biotecnológicas. Revista Uningá Review. Vol. 21, n.1, p. 55-59. Jan - Mar 2015. ● BORZANI, Walter; LIMA, Urgel de Almeida; AQUARONE, Eugênio. Engenharia bioquímica. São Paulo: E. Blücher, 2001. 300 p. Biotecnologia; v. 2. ● N.J.W, Kreger-van Rij. The Yeasts: A Taxonomy Study. 3. ed. Groningen, The Netherlands. Elsevier Science Publishers B. V. Amsterdam. 1984. ● PACHECO, Thályta Fraga. Fermentação Alcoólica com leveduras de características floculantes em reator tipo torre com escoamento ascendente . Universidade Federal de Uberlândia, 2010. ● PRATI, Patricia; CAMARGO, Gisele Anne. Características do Caldo de Cana e sua influência na estabilidade da bebida. BioEng, Campinas, v. 2, n. 1, p. 37-44. jan/abr 2008. ● REIS, Vanda Renata. Caracterização de linhagens selvagens deSaccharomyces cerevisiae isoladas de processos fermentativos para produção de etanol. Piracicaba, 2011. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, 2011.
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