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P ág in a1 TRANS ESTRUTURAS CURRICULARES – INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE P ág in a2 Sumário NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 CURRÍCULO ESCOLAR ............................................................................................. 7 CURRÍCULO: HISTÓRIA E CONCEITO ..................................................................... 7 TIPOS DE CURRÍCULO ........................................................................................... 10 FORMAL ................................................................................................................... 10 REAL ......................................................................................................................... 11 OCULTO ................................................................................................................... 12 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR - BNCC ................................................. 14 COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA .............................................. 16 O CURRÍCULO NA BNCC ........................................................................................ 18 O COMPROMISSO DA BNCC COM A EDUCAÇÃO INTEGRAL ............................. 20 ABORDAGENS DISCIPLINARES ............................................................................. 22 CURRÍCULO INTEGRADO ....................................................................................... 23 TRANSDISCIPLINAR ................................................................................................ 24 MULTIDISCIPLINAR ................................................................................................. 24 PLURIDISCIPLINAR ................................................................................................. 25 INTERDISCIPLINAR ................................................................................................. 25 O TRABALHO POR PROJETOS – UMA PERSPECTIVA ABRANGENTE ............... 29 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 31 P ág in a3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. P ág in a4 Introdução Para começo de conversa devemos entender a importância do currículo, que vai muito além de um conceito ou de uma questão meramente burocrática. O currículo norteia toda uma práxis escolar, proporcionando ou não um desenvolvimento, crescimento e alargamento dos horizontes dos educandos. Quanto à origem da palavra, currículo vem do latim “currere”, que significa rota, caminho. Representa, então, a proposta de organização de uma trajetória de escolarização, envolvendo conteúdos estudados, atividades realizadas, competências desenvolvidas, com vistas ao desenvolvimento pleno do estudante. Há distintas concepções de currículo, associadas a diferentes formas de se conceber a educação. De maneira geral, pode-se afirmar que currículo é a seleção cultural de determinados conhecimentos e práticas de ensino-aprendizagem que, produzidos em contextos históricos determinados, procuram garantir aos educandos o direito à riqueza de conhecimentos e de cultura produzidos socialmente. Na perspectiva da educação integral, o currículo alça contemplar o desenvolvimento de todas as potencialidades, ou dimensões formativas, dos sujeitos, considerando não apenas os aspectos intelectuais dos estudantes, mas também os afetivos, corporais, simbólicos e éticos. P ág in a5 Figura 1 – Currículo Escolar Uma estrutura curricular, por sua vez, seria um conjunto de componentes curriculares que estruturam um percurso formativo. Seja na educação básica ou outras, a organização da estrutura curricular deveria pautar-se pelo princípio da flexibilização curricular, o qual consiste em diminuir a carga horária destinada aos componentes curriculares obrigatórios, ampliando as possibilidades de escolha de componentes pelos alunos. Por exemplo, no caso da educação superior, o objetivo é estimular a autonomia dos alunos, bem como tornar o currículo mais facilmente mutável para atender as necessidades da sociedade contemporânea. Uma estrutura curricular possui, obrigatoriamente, carga horária mínima e componentes curriculares mínimos, a serem integralizados pelo aluno para o recebimento do grau relativo à modalidade de formação. No Brasil, conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéticos, traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que P ág in a6 direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Verdade seja dita, a articulação entre teoria e prática é sempre um desafio, não apenas na área da educação. Entre pensar e fazer algo, há uma grande distância que, no entanto, pode ser vencida. Um dos caminhos possíveis para a superação dessa situação é a construção de estratégias de integração entre pressupostos teóricos e práticas, o que, fundamentalmente, caracteriza as oficinas pedagógicas (PAVIANI; FONTANA, 2009). Para contemplarmos as possibilidades de estruturas curriculares, veremos ainda a inter, a multi e a transdisciplinaridade. Interdisciplinaridade é um conceito que se refere ao processo de ligação existente entre duas ou mais disciplinas, a partir de algo que é comum entre elas. Por isso a interdisciplinaridade propõe a capacidade de dialogar entre as diversas ciências, fazendo entender o saber como um todo, e não como partes fragmentadas. Multidisciplinar, por sua vez, significa reunir várias disciplinas em busca de um objetivo final. Multi, é uma palavra de origem latina (multus), que significa múltiplo, ou seja, aquilo que abrange muitos fatores. Ex: multicelular (que tem muitas células), multicolor (que tem muitas cores), multiforme (que tem muitas formas) etc. Na transdisciplinaridade há uma intercomunicação entre as disciplinas de tal modoque não existem fronteiras entre as disciplinas. Ao mesmo tempo em que procura uma interação máxima entre as disciplinas, respeita suas singularidades, onde cada uma colabora para um saber comum, o mais completo possível, sem transformá-las em uma única disciplina. A ideia de transdisciplinaridade surgiu para superar o conceito de disciplina, que se configura pela departamentalização do saber em diversas matérias, em que cada disciplina é abordada de modo fragmentado e isolada das demais. P ág in a7 Currículo Escolar Ao tomarmos por base Jean Piaget, Lev S. Vygotsky e outros pesquisadores do desenvolvimento humano, veremos que suas análises no campo da educação nos levam a constatar que a construção do conhecimento se dá a partir da interação do sujeito com o mundo à sua volta. Neste contexto, o currículo escolar se apresenta como o agente principal na construção do saber e na liberdade a ser alcançada através do conhecimento. Na pedagogia tradicional, ele categoricamente é conteudista e fragmentado, aprisionando o aluno em aspectos unilaterais de uma realidade que, na contramão, é multifacetada. No entanto, felizmente temos outros caminhos a seguir na atualidade, como por exemplo, o uso da Pedagogia de Projetos, que tem como objetivo trabalhar a interdisciplinaridade, oportunizando olhar o mundo com outros e bons olhos, modelo este que de alguns anos para cá vem conquistando seu espaço. A diversidade cultural, a crítica e a problematização são características positivas que vem à tona junto com a pedagogia de projetos. Currículo: história e conceito Datam do século XVI, os registros históricos de quando, e em que circunstância, aparece, pela primeira vez, a palavra curriculum aplicada aos meios P ág in a8 educacionais. Tais registros evidenciam que currículo esteve ligado à ideia de “ordem como estrutura” e “ordem como sequência”, em função de determinada eficiência social. Assim, na Universidade de Leiden (1582), os registros constam que “tendo completado o curriculum de seus estudos” o certificado era concedido ao aluno. As ideais de sequência, de terminalidade, de completude, de integralidade trazem embutida a ideia de intencionalidade. Uma instituição universitária só poderia atribuir a alguém o título após o cumprimento de todas as exigências de um percurso ou trajetória acadêmica. Donde se supõe que o diploma, grau ou título era somente concedido, após o alcance dos propósitos da instituição, de acordo com os parâmetros de avaliação sobre a eficiência da escolarização e sua eficácia social. Esses registros históricos expressam que a inovação pedagógica do currículo é um fato histórico de extrema relevância. Coloca em pauta a ideia de que os diversos elementos de um curso educacional devem ser tratados como uma peça única expressa na globalidade estrutural e na completude sequencial, conforme os parâmetros de cada época histórica (SILVA, 2006). Para o Centro de Estudos em Avaliação Institucional (CEAE, 2007), o termo currículo é encontrado em registros do século XVII, sempre relacionado a um projeto de controle do ensino e da aprendizagem, ou seja, da atividade prática da escola. Desde os seus primórdios, currículo envolvia uma associação entre o conceito de ordem e método, caracterizando-se como um instrumento facilitador da administração escolar. O CEAE (2007) apresenta duas grandes vertentes do campo do currículo no século XX: a primeira, cuja preocupação central é a construção de modelos de desenvolvimento curricular; e a segunda, na qual a ênfase recai na compreensão do currículo escolar como espaço conflitivo de interesses e culturas diversos. O currículo tem que ser entendido como a cultura real que surge de uma série de processos, e não como um objeto delimitado e estático que se pode planejar e depois implantar. É preciso dispensar a ideia de que as decisões já vêm prontas. Desde as tarefas acadêmicas reais que são desenvolvidas, a forma como a vida interna das salas de aula e os conteúdos de ensino se vinculam com o mundo exterior, as relações grupais, o uso e o aproveitamento de materiais, as práticas de P ág in a9 avaliação, etc., tudo isso é dinâmico e muda de acordo com cada realidade (SACRISTÁN, 1995). Forquin (1996) conceitua currículo como o conjunto daquilo que se ensina e daquilo que se aprende, de acordo com uma ordem de progressão determinada, no quadro de um dado ciclo de estudos. Um currículo é, assim, um programa de estudos ou um programa de formação, mas considerado em sua globalidade, em sua coerência didática e em sua continuidade temporal, isto é, de acordo com a organização sequencial das situações e das atividades de aprendizagem às quais dá lugar. Segundo Moreira e Silva (2005), o currículo é considerado um artefato social e cultural. [...] transmite visões sociais particulares e interessadas, [...] produz identidades individuais e sociais particulares. [...] não é um elemento transcendente e atemporal – tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e da educação. Os autores dizem, ainda, que deve ser atacada a disciplinaridade do currículo, fazendo-se necessária uma “desconstrução” dessa estrutura e que a indiferença para com os saberes populares deve ser eliminada. Tyler (1983) considera o currículo como um conjunto de elementos que, de certo modo e em certo grau, podem ter influência sobre o aluno no processo educativo. Assim, os planos, programas, atividades, material didático, edifício e mobiliário escolar, ambiente, relações professor-aluno, etc., constituem elementos significativos deste conjunto. Para Libâneo (2001), o currículo consiste no conjunto de conhecimentos e habilidades intelectuais selecionados dos bens culturais disponíveis, transformados em saber escolar (portanto, suscetíveis de serem ensinados e apropriados pelos alunos) por um processo de adequação entre conhecimentos e habilidades socialmente necessários e as condições socioculturais e psicológicas de alunos pertencentes a determinados grupos sociais, matriculados numa determinada escola, tendo em vista uma aprendizagem duradoura e efetiva em termos de seus efeitos na prática social. O currículo representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mais do que isso, ele representa a P ág in a1 0 introdução de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e afirma os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes sobre outros grupos, com frequência discriminando certos grupos raciais, de classe ou gênero (MCLAREN, 1977, p. 216, apud CEAE, 2007). Tipos de currículo Foi a partir da década de 1960 que os pedagogos e outros teóricos acharam conveniente distinguir o currículo em três tipos (formal, real e oculto). Podemos também falar em integrado, multi, trans, interdisciplinar. Estes últimos deixaremos para a unidade que chamamos “abordagens curriculares”. Formal Chama-se educação formal a que é ministrada formando parte do sistema de educação oficialmente reconhecido, com estrutura e organização aprovada pelos organismos competentes e cujos produtos (aprendizagem ou desempenhos alcançados pelo aluno) são verificados por meio de avaliação e legitimados por diplomas ou certificados (DAVINI, 1989). O chamado “currículo formal” (também conhecido como currículo prescrito), é o currículo em sua forma mais idealizada. Ele é “prescrito” porque é pensado fora das especificidades de uma sala de aula, quer dizer, vem antes do contato efetivo entre professores(as) e estudantes. Aparece, por exemplo, nas diversas formasde diretrizes curriculares (nacionais, estaduais, de educação especial etc.) e constitui- se de um conjunto de conhecimentos que a escola e o sistema de ensino julgam imprescindíveis para os(as) estudantes em determinada disciplina ou em determinado ano escolar. Nesse tipo, as disciplinas que compõem o currículo são campos de conhecimentos específicos, delimitados e estanques, que devem ser esgotados por P ág in a1 1 professores e alunos em prazos convencionalmente estabelecidos, de um semestre ou um ano. Geralmente, estes setores de conhecimentos se classificam em disciplinas científicas e disciplinas técnicas ou aplicadas, sendo mais frequente as primeiras antecederem as segundas e as atividades práticas se realizarem em laboratórios ou espaços educativos onde se reproduzem, simultaneamente, os problemas da realidade (DAVINI, 1989). São características desse tipo de currículo: o formalismo, que se define por transmitir conhecimentos que foram parcelados em disciplinas; estudar isoladamente os problemas e processos concretos do contexto social em que estão inseridos e transmitir aprendizagem por acumulação de informações obtidas em livros; o convencionalismo e a rigidez. No processo de ensino são estipulados prazos e períodos estereotipados pelo hábito, que se constituem verdadeiros obstáculos da aprendizagem. Finalmente, este tipo de currículo se fundamenta em uma concepção pedagógica para a qual aprender é, em grande medida, memorizar informações ou executar mecanicamente determinados procedimentos. Para finalizar, Davini (1989) infere que o currículo que se sustenta na estrutura formal do conhecimento terá que enfrentar sempre a contradição que se estabelece entre o conhecimento parcelado e a realidade como instância totalizadora, entre os dados abstratos e a prática. Real O “currículo real” engloba um conjunto de conhecimentos prescritos pelas instituições de educação, ganha efetividade no dia-a-dia da sala de aula, nas relações que se estabelecem entre professores(as) e estudantes, nas particularidades de suas vivências e de suas maneiras de pensar. Ele é composto, por exemplo, de todas aquelas adaptações feitas cotidianamente pelo professor que percebe que um determinado assunto despertou o interesse dos(as) estudantes, ou das estratégias usadas para aproximar a temática de suas realidades. Anote aí: O currículo real é o currículo idealizado pela prática do professor, ou seja, é experimentado, é a reação dos alunos ante ao que está sendo aprendido, P ág in a1 2 compreendido e retido pelos mesmos. A característica marcante deste currículo é a contextualização dos conteúdos e o que efetivamente passa em sala de aula. Oculto Uma vez entendido o conceito de currículo escolar, investigar-se-á, agora, o lado oculto do currículo, o lado que não nos interessa, mas que, infelizmente, está presente no cotidiano da prática escolar. Acredita-se que a expressão Currículo Oculto tenha sido utilizada pela primeira vez por Philip Jackson, em 1968, em um livro intitulado Life in classrooms. Para Silva (2003, p.78) “o currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma explícita, para aprendizagens sociais relevantes”, ou seja, todas as atitudes, os comportamentos e os valores que permeiam a vida dos alunos como forma de enquadrá-los às estruturas da sociedade capitalista e que são transmitidas no ambiente escolar, contribuem para a formação do currículo oculto e, de certa forma, consideram-se aprendizagens sociais relevantes, porém não para os alunos, mas para a minoria da sociedade que detém o poder político-educacional e que exige que sua cultura seja transmitida nas escolas na tentativa da legitimação de seu poder opressivo. Neste sentido, o currículo oculto surge como forma de consolidação das classes economicamente privilegiadas da sociedade. Assim, o currículo oculto transforma a escola em um espaço de transmissão da doutrina capitalista, a qual, segundo Silva (2003) produz e legitima os interesses econômicos e políticos das elites empresariais. O que ocorre é que a escola, de modo particular a sala de aula, passa a ser um local exclusivo do reprodutivismo dos valores, das atitudes e dos comportamentos da classe privilegiada. Estes elementos acabam sendo impostos nos currículos escolares, mas não são parte integrante da vida e do cotidiano de muitas crianças, as quais são preparadas para a absorção de uma cultura que não as satisfaz e que, portanto, nada tem a contribuir em sua formação. Nota-se, contudo, que o currículo oculto reproduz, através da cultura escolar, as estruturas sociais e a ideologia dominante do capitalismo. Com isso, o currículo P ág in a1 3 oculto interfere na subjetividade dos alunos, os quais passam a ser inibidos e impedidos de manifestarem-se quanto à própria atuação no mundo. Um exemplo da presença do currículo oculto nas salas de aula é a própria forma de organização da classe. Geralmente as carteiras são dispostas em filas indianas (uma atrás da outra) em que cada aluno tem sua atenção voltada sempre para frente com o fim único de interromper toda e qualquer forma de comunicação com os outros alunos. Esse exemplo é reflexo de uma grande relação de poder em que o professor ocupa a posição central da sala e é detentor do conhecimento produzido e acabado. Os alunos são considerados como sujeitos pacientes desse tipo de organização educacional e, no geral, são simples reprodutores do conhecimento recebido. Com relação aos propósitos do currículo oculto, Silva (2003, p. 78) diz que: Para a perspectiva crítica, o que se aprende no currículo oculto são fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações que permitem que crianças e jovens se ajustem da forma mais conveniente às estruturas e às pautas de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas e, portanto, indesejáveis, da sociedade capitalista. Entre outras coisas o currículo oculto ensina, em geral, o conformismo [...] Numa perspectiva mais ampla, aprendem-se através do currículo oculto, atitudes e valores próprios de outras esferas sociais, como, por exemplo, àqueles ligados à nacionalidade. O “currículo oculto”, é constituído por todos os saberes que não estão prescritos nas diretrizes curriculares, mas que acabam por afetar, positiva ou negativamente, o processo de aprendizagem dos conhecimentos escolares. São os conhecimentos adquiridos fora da escola, com a família, os amigos; ou, ainda, no espaço escolar, nas brincadeiras dos corredores, na forma de dispor as carteiras, na maneira de se comportar diante de professores(as) e colegas etc. Anote aí: P ág in a1 4 Figura 2 – Tipos de currículo Base Nacional Comum Curricular - BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). P ág in a1 5 Figura 3 - BNCC Este documento normativo aplica-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN) (BRASIL, 2013). Referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e daspropostas pedagógicas das instituições escolares, a BNCC integra a Política Nacional da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação. Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a superar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e seja balizadora da qualidade da educação. Assim, para além da garantia de acesso e permanência na escola, é necessário que sistemas, P ág in a1 6 redes e escolas garantam um patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes, tarefa para a qual a BNCC é instrumento fundamental. Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a “educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza” (BRASIL, 2013a), mostrando-se também alinhada à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). É imprescindível destacar que as competências gerais da Educação Básica, apresentadas a seguir, inter-relacionam-se e desdobram-se no tratamento didático proposto para as três etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), articulando-se na construção de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB. Competências gerais da Educação Básica 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a P ág in a1 7 criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. Figura 4 – Competências gerais da BNCC 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. P ág in a1 8 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. O currículo na BNCC A BNCC é o documento de base para elaboração dos currículos, compreendendo o conjunto de aprendizagens essenciais a serem garantidas a todos. Elaborar um currículo, portanto, corresponde a contextualizar a BNCC à realidade de cada um dos entes federados, considerando cada etapa da Educação Básica e as modalidades de ensino: educação especial, indígena, quilombola, profissional, jovens e adultos e do campo. A parte diversificada do currículo, como indicam a LDB no art. 26 e as DNC, estará contemplada na elaboração de cada P ág in a1 9 currículo. Não se trata de acrescer habilidades (objetivos de aprendizagem), mas sim de contemplar a realidade local nos objetivos de aprendizagem propostos pela BNCC. Dessa forma, os currículos desenvolvidos nas escolas estarão em consonância com o Projeto Político Pedagógico e a aprendizagem terá sentido para os alunos e alunas, bem como para os profissionais da educação, pais ou responsáveis. O currículo deve ser ajustado continuamente para garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, e contemplar estratégias e ações didático- pedagógicas que promovam a interdisciplinaridade entre os diferentes componentes das áreas curriculares. A consideração das modalidades de ensino visa incorporar as especificidades de cada uma delas, sempre assumindo que todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos são capazes de aprender, independentemente de etnia, necessidades específicas, idade, bens materiais, ou local de moradia. O objetivo da BNCC é ser uma referência nacional para assegurar a todas as crianças, jovens e adultos o domínio de conteúdos e o desenvolvimento de competências específicas de cada etapa da Educação Básica. Esse propósito será alcançado mediante condições garantidas pela União, Estados, Municípios e DF aos profissionais que atuam diretamente nas escolas, conforme mostramos no quadro abaixo (SOARES, 2017). P ág in a2 0 Figura 5 – Responsabilidades e competências dos entes federados para implementação da BNCC O compromisso da BNCC com a educação integral A sociedade contemporânea impõe um olhar inovador e inclusivo a questões centrais do processo educativo: o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado. No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de informações. Requer o desenvolvimento de competênciaspara aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. P ág in a2 1 Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita, o seu compromisso com a educação integral. Reconhece, assim, que a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades. Independentemente da duração da jornada escolar, o conceito de educação integral com o qual a BNCC está comprometida se refere à construção intencional de processos educativos que promovam aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea. Isso supõe considerar as diferentes infâncias e juventudes, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar novas formas de existir. Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida (BRASIL, 2018). Anote aí: Na BNCC, são contemplados elementos cognitivos, sociais e pessoais a serem desenvolvidos pelos alunos. Se aplicam a toda a área do conhecimento, independente do componente curricular. A ideia não é planejar uma aula específica sobre as competências contempladas na Base Comum Curricular, mas articular a sua aprendizagem à de outras habilidades relacionadas às áreas do conhecimento. P ág in a2 2 A priorização do desenvolvimento de competências é muito mais moderna e efetiva do que olhar para o desenvolvimento de um conteúdo específico. Vale ressaltar que, a BNCC diz aonde se quer chegar com a educação, mas os responsáveis pelos caminhos para chegar até lá são os currículos. Figura 6 – Educação Básica: competências gerais da BNCC Abordagens disciplinares P ág in a2 3 Currículo Integrado O currículo integrado pode ser definido como um plano pedagógico e sua correspondente organização institucional que articula dinamicamente trabalho e ensino, prática e teoria, ensino e comunidade. As relações entre trabalho e ensino, entre os problemas e suas hipóteses de solução devem ter sempre, como pano de fundo, as características socioculturais do meio em que este processo se desenvolve. O Currículo Integrado é uma opção educativa que permite: a) Uma efetiva integração entre ensino e prática profissional; b) A real integração entre prática e teoria e o imediato teste da prática; c) Um avanço na construção de teorias a partir do anterior; d) A busca de soluções específicas e originais para diferentes situações; e) A integração ensino-trabalho-comunidade, implicando uma imediata contribuição para esta última; f) A integração professor–aluno na investigação e busca de esclarecimentos e propostas; g) A adaptação a cada realidade local e aos padrões culturais próprios de uma determinada estrutura social (DAVINI, 1989, p. 284). Se a intenção é aderir a uma pedagogia que pretende preparar o aluno como sujeito ativo, reflexivo, criativo e solidário, os processos de memorização de informações e a execução mecânica de certos comportamentos deverão ser deixados de lado. O que importará será a criação de condições para que o aluno possa construir ativamente o seu próprio conhecimento. Assim, a aprendizagem se dará como resultado da assimilação ativa a partir da própria prática do sujeito e das sucessivas mudanças provocadas pela informação gradativamente assimilada. P ág in a2 4 Transdisciplinar Nessa abordagem tem-se o currículo transdisciplinar quando há coordenação de todas as disciplinas num sistema lógico de conhecimentos, com livre trânsito de um campo de saber para outro (ANDRADE, 2007). Na transdisciplinaridade, a cooperação entre as várias matérias é tanta, que não dá mais para separá-las: acaba surgindo uma nova “macrodisciplina”. Um exemplo de transdisciplinaridade são as grandes teorias explicativas do funcionamento das sociedades. Esse é o estágio de cooperação entre as disciplinas mais difícil de ser aplicado na escola, pois há sempre a possibilidade de uma disciplina “imperialista” sobrepor-se às outras (ABUD, 1999). Na prática transdisciplinar, bastante utópica, haveria uma proposta de sistema sem fronteiras entre as disciplinas, sendo impossível distinguir onde uma começa e outra termina. Para Fazenda (1995), este nível de abrangência negaria a possibilidade do diálogo, condição “sine qua non” para o exercício efetivo da interdisciplinaridade. Entretanto, Hernández (1998) percebe que a prática da pesquisa nas ciências e na tecnologia leva a efeito cada vez mais a transdisciplinaridade, no momento de organizar grupos e projetos de pesquisa; ele argumenta que essa realidade vem acontecendo na área biomédica, na ecologia, na paleontologia, mas reconhece a dificuldade de exercê-la adequadamente no contexto escolar, sem que se efetivem mudanças estruturais nas escolas e nos cursos de licenciatura. Multidisciplinar Para Andrade (2007) o currículo multidisciplinar é um modelo fragmentado em que há justaposição de disciplinas diversas, sem relação aparente entre si; onde os alunos recebem informações incompletas e têm uma visão fragmentada e deformada do mundo. Já no entendimento de Abud (1999), na multidisciplinaridade, recorremos a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. P ág in a2 5 Segundo Fleck (2007) é um termo que pode ser utilizado quando da integração de diferentes conteúdos de uma mesma disciplina. Ex.: meio ambiente (água-ar-solo), tendo ainda como outra possibilidade, a justaposição de diferentes conteúdos de disciplinas distintas, sem preocupação de integração, o que no seu entendimento não levaria a uma prática cooperativa. Pluridisciplinar Quando se justapõem disciplinas mais ou menos vizinhas nos domínios do conhecimento, formando-se áreas de estudo com conteúdos afins ou coordenação de área, com menor fragmentação, tem o currículo pluridisciplinar (ANDRADE, 2007). Fleck (2007) considera que nessa prática já existem pequenos sinais de cooperação entre as diferentes disciplinas, mas os objetivos continuam distintos, e cita como exemplo, a Copa do Mundo, onde cada disciplina trabalha aspectos que lhe são inerentes, sem que haja correlação e integração. Contudo, o conhecimento não foi integrado. Interdisciplinar Voltada para a formação do indivíduo, a interdisciplinaridade propõe a capacidade de dialogar com as diversas ciências, fazendo entender o saber como um todo e não partes, ou fragmentações (FAZENDA, 1994). Assim podemos dizer que a interdisciplinaridade trata-se de uma proposta onde a forma de ensinar leva em consideração a construção do conhecimentopelo aluno, que como defende Pombo (2004) “Visa integrar os saberes disciplinares”, e não elimina-los. Não se tratar de unir as disciplinas, mas é fazer do ensino uma prática em que todas demonstrem que fazem parte da realidade do educando. Trata-se de uma prática que não dilui as disciplinas no contexto escolar, mas que amplia o trabalho disciplinar na medida em que promove a aproximação e a P ág in a2 6 articulação das atividades docentes numa ação coordenada e orientada para objetivos bem definidos (CARLOS, 2006). Com isso o saber continua dividido, mas o aluno compreende que a ramificação do saber é apenas uma forma facilitada de se estudar a parte de um todo; e que o mesmo vale para as disciplinas, onde cada conteúdo destas faz parte de uma totalidade. Para Andrade (2007), a interdisciplinaridade é entendida como uma nova concepção de divisão do saber, frisando a interdependência, a interação, a comunicação existente entre as disciplinas e buscando a integração do conhecimento num todo harmônico e significativo; as informações, as percepções e os conceitos compõem uma totalidade de significação completa e o mundo já não é visto como um quebra-cabeça desmontado. Para Abud (1999), o ensino baseado na interdisciplinaridade proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Neste caso, a tônica é o trabalho de integração das diferentes áreas do conhecimento, um fazer pedagógico de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao planejamento. As diferentes disciplinas não aparecem de forma fragmentada e compartimentada, pois a problemática em questão levará à unificação. Na interdisciplinaridade existe uma coordenação (individual ou coletiva) que realiza as necessárias conexões (FLECK, 2007). Deliza (2006) citando Bochiniak (2000, p. 68) define em poucas palavras o que é interdisciplinaridade: “atitude de superação de toda e qualquer visão fragmentada e ou dicotômica que ainda mantemos de nós mesmos, do mundo e da realidade”, e ainda sobre como escolher conteúdos a mesma autora aborda que o que se pretende destacar é o alerta da Pedagogia da Pesquisa para o fato de que nessa medida perde e ganha importância o processo de seleção de conteúdos a ser repensado pela escola, porque nessa perspectiva interdisciplinar o enfoque estabelecido para a escolha dos conteúdos desloca-se para a efetiva função maior que eles tenham na escola, qual seja, a de constituírem em meros pretextos sobre os quais desenvolver as atividades (DELIZA, 2006). P ág in a2 7 O início do movimento pela interdisciplinaridade surgiu na Europa, principalmente na França e Itália, em meados de 1960, bem como surgiu nessa época, reivindicações por parte de professores e alunos para a criação de um novo estatuto de universidade e de escola, que acabasse com o conhecimento fragmentado e desconectado do cotidiano. Foi o começo do questionamento sobre as barreiras entre as disciplinas, suas fronteiras e limitações, enfim, indagava-se sobre o saber tradicional que subdivide as áreas do conhecimento no currículo. No trabalho de Siqueira (2001) encontra-se que, no caso do Brasil, em meados da década de 1970, Japiassú foi um dos primeiros autores a refletir sobre o termo interdisciplinaridade em seu livro “Interdisciplinaridade e Patologia do Saber”. Para Fazenda (1995, p. 39) a interdisciplinaridade “é uma relação de reciprocidade, de mutualidade, um regime de copropriedade que iria possibilitar o diálogo entre os interessados”. Luck (1995 apud Siqueira, 2001, p. 92) reflete sobre o assunto e, segundo ela, a interdisciplinaridade pressupõe mais que a interação entre duas ou mais disciplinas, “a interdisciplinaridade pretende superar a fragmentação do conhecimento e para tanto necessita de uma visão de conjunto para que se estabeleça coerência na articulação dos conhecimentos”. Essa noção de conjunto se dá no engajamento de educadores das diferentes áreas do conhecimento entre si, a fim de tornar possível o diálogo e uma aproximação dos conteúdos estudados sistematicamente com o cotidiano. Enfim, um trabalho que se constitua interdisciplinar necessita de uma equipe engajada que possa dialogar e contribuir com informações acerca dos diferentes conteúdos das disciplinas e presume uma reciprocidade entre seus participantes, dependendo basicamente de uma atitude ou de várias atitudes (SIQUEIRA, 2001). Anote aí: P ág in a2 8 Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao mesmo tempo. A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a parte e o todo, entre o todo e a parte. A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da ação didático- pedagógica mediada pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a organização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico, embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de modo restrito e, às vezes, equivocados (e Resolução CNE/CEB nº 4/2010). A interdisciplinaridade é, portanto, entendida aqui como abordagem teórico- metodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho de integração das diferentes áreas do conhecimento, um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao planejamento. Essa orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta temática trabalhada transversalmente ou em redes de conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático e integrado e disposição para o diálogo (BRASIL, 2013). A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em caminhos facilitadores da integração do processo formativo dos estudantes, pois ainda permite a sua participação na escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vista, a interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade ou do trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos, organizados em redes de conhecimento, contribuem para que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes de seus direitos e deveres e da possibilidade de se tornarem aptos a aprender a criar novos direitos, coletivamente. De qualquer forma, esse percurso é promovido a partir da seleção de temas entre eles o tema dos direitos humanos, recomendados para serem abordados ao P ág in a2 9 longo do desenvolvimento de componentes curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação temática, em função de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo ou pela comunidade educacional, respeitadas as características próprias da etapa da Educação Básica que a justifica (BRASIL, 2013). O trabalho por projetos – uma perspectiva abrangente A prática pedagógica por meio do desenvolvimento de projetos é uma forma de conceber educação que envolve o aluno, o professor, os recursos disponíveis, inclusive as novas tecnologias, e todas as interações que se estabelecem nesse ambiente, denominado ambiente de aprendizagem. São características interessantes do trabalho por projetos: 1) Ele rompe com o esquema tradicional de ensino por disciplinas: o recurso da divisão do saber em compartimentos passou a se revelar como insuficiente ou desapropriadopara enfrentar os desafios impostos hoje à construção do conhecimento, quer em âmbito geral, coletivo do desenvolvimento científico e tecnológico, quer no individual de cada aluno, em seu processo de formação através do sistema de escolarização. 2) Possibilita reunir o que já foi aprendido pelo aluno e o que pode vir a sê- lo nos vários campos do conhecimento: os projetos envolvem os saberes já acumulados pelos alunos e todo o potencial possível de novos conhecimentos a serem adquiridos. As possibilidades de abertura são ilimitadas, levando a escola a se projetar além de suas fronteiras, multiplicando os alvos de sua ação. 3) Leva à construção de conhecimento pela investigação própria dos alunos: se o professor se preocupar em desenvolver nos alunos uma atitude permanente de indagação, com perguntas a respeito de problemas significativos e se eles forem estimulados a buscarem respostas, já teremos uma boa iniciação aos passos introdutórios de uma verdadeira pesquisa. P ág in a3 0 4) Articula o trabalho individual e coletivo e valoriza atitudes e comportamentos sociais: diferentemente da ótica individualista, que supõe o sucesso de cada um, isoladamente, a partir do domínio dos conhecimentos previstos e avaliados de forma tradicional, o trabalho por projetos privilegia a evolução de todo grupo, sem desconsiderar também o crescimento de cada um dos participantes. Todos aproveitam do alcance dos objetivos e do processo de atingi-los, em busca de aprendizagens significativas. 5) Combina o trabalho escolar e o de várias outras instituições e agências: trabalhando com projetos, a escola multiplica as fontes de informação e de interação, seja na própria instituição como fora dela, na comunidade local, nacional e mundial, sem esquecer da mobilização possível e necessária das famílias, cuja contribuição tem ficado muito restrita à busca das notas, conceitos ou pareceres, especialmente quando os alunos apresentam problemas de aprendizagem e/ou de conduta. Além das famílias, são importantes nesse contexto as igrejas, os clubes, as associações profissionais, as empresas, as ONGs, as bibliotecas, jornais, rádios, TVs, a informática e as múltiplas linguagens que fazem parte do nosso contexto (LÜDKE, 2003, p. 5 apud FLECK, 2007, p.4). P ág in a3 1 Referências ABUD, K.M. O mundo não é um quebra-cabeças. Revista Nova Escola. Ed. agosto de 1999. ANDRADE, R. 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