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Emoção, Cognição e Aprendizagem Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Ana Claudia Baratieri Zampieri Revisão Textual: Prof.ª M.ª Sandra Regina Fonseca Moreira Introdução às Teorias da Aprendizagem Introdução às Teorias da Aprendizagem • Compreender a evolução histórica das teorias da aprendizagem; • Identificar as diferenças conceituais entre as abordagens de aprendizagem. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução às Teorias da Aprendizagem; • Teorias Comportamentalistas ou Behavioristas; • Teorias Cognitivistas; • Teorias Humanistas. UNIDADE Introdução às Teorias da Aprendizagem Introdução às Teorias da Aprendizagem Como vimos anteriormente, a aprendizagem é um fenômeno complexo e que envolve características e elementos diversos. Por conta disso, muitas são as teorias que se propõem a explicá-la enquanto processo. Ou seja, cada teoria procura elucidar como se dá a apren- dizagem humana. Cada uma delas está fundamentada em conceitos específicos, o que faz ser possível pensar sobra a aprendizagem sob diversos pontos de vista. Para compreendermos a evolução dos conceitos e abordagens sobre a aprendizagem, nesta unidade vamos percorrer um percurso histórico, que nos permitirá conhecer as principais teorias de aprendizagem e suas abordagens. Figura 1 Fonte: Getty Images Moreira (1999) explica de forma bastante simples que uma teoria é uma tentativa humana de sistematizar uma área de conhecimento, dessa forma, uma teoria da apren- dizagem busca interpretar sistematicamente a área do conhecimento chamada aprendi- zagem. Assim, ela representa um ponto de vista particular, de determinado autor, sobre a forma como este interpreta as suas observações da realidade. Dentre as principais teorias, embora nem todas sejam exclusivamente de aprendi- zagem, como é o caso, por exemplo, de teorias do desenvolvimento ou teorias psico- lógicas, há uma possível categorização, de acordo o conceito principal que se propõe a investigar. Assim, as teorias da aprendizagem podem ser categorizadas em: Teorias Comportamentalistas ou Behavioristas; Teorias Cognitivistas e Teorias Humanistas. A figura 2, a seguir, apresenta um enfoque conceitual das principais abordagens teó- ricas, de acordo com o enfoque dado por cada uma delas: 8 9 ENFOQUES TEÓRICOS À APRENDIZAGEM E AO ENSINO COGNITIVISMO ênfase na cognição HUMANISMO ênfase na pessoa algumas ideias básicas COMPORTAMENTALISMO ênfase em comportamentos observáveis alguns conceitos básicos Esquema Signo Construto pessoal PAVLOV WATSON GUTHRIE Ideia-chave: o comportamento é controlado por suas consequências alguns autores comportamentalistas THORNDIKE SKINNER Ideia-chave: construtivismo: o conhecimento é construído alguns autores cognitivistas VYGOTSKYHULL HEBB TOLMAN GESTALT GAGNÉ NOVAK GOWIN PIAGET BRUNER JOHNSON LAIRD AUSUBEL Ideia-chave: pensamentos, sentimentos e ações estão integrados o mais conhecido autor humanista ROGERSKELLY Estímulo Condiciona- mento Reforço Objetivo Comporta- mental Resposta (comporta- mento) Modelo Metal Subsunçor Aprender a aprender Liberdade para aprender Ensino centrado no aluno Crescimento pessoal alguns conceitos básicos Figura 2 – Principais Abordagens Teóricas sobre o Ensino e a Aprendizagem Fonte: Adaptado de MOREIRA, 1999, p. 18 Teorias Comportamentalistas ou Behavioristas Dentre as teorias da aprendizagem denominadas comportamentalistas ou behavio- ristas, o enfoque está nos comportamentos observáveis. Isso significa que a ideia chave dessas teorias é que a aprendizagem efetiva pode ser observada por meio dos compor- tamentos do aprendiz. Figura 3 Fonte: Wikimedia Commons John Broadus Watson (Greenville, 9 de janeiro de 1878 – Nova Iorque, 25 de setembro de 1958) foi um psicólogo estadunidense, considerado o fundador do comportamentalismo (ou simplesmente behaviorismo). Fonte: https://bit.ly/2UBtEy8 9 UNIDADE Introdução às Teorias da Aprendizagem Ostermann e Cavalcanti (2011) classificam o behaviorismo em metodológico e radical. De acordo com as autoras, o behaviorismo metodológico foi criado por John Watson, psicólogo norte americano, enquanto o radical tem como seu principal expoente Skinner. A vertente metodológica tem caráter empirista, o que significa dizer que todo o ser humano aprende a partir do meio em que vive, ou seja, pela experiência. Ainda, Watson acreditava que os indivíduos não carregavam herança genética relacionada à apren- dizagem e que os processos mentais não eram passíveis de estudo, uma vez que não poderiam ser observados. Conheça um pouco sobre do Behaviorismo Radical de Skinner, no vídeo a seguir. Disponível em: https://youtu.be/nYuHMobXwnE A vertente do behaviorismo radical não concorda que o indivíduo nasce como uma tábula rasa. Nessa abordagem, os processos mentais são de natureza física, material e, consequentemente, mensuráveis. Você lembra da unidade anterior, na qual estudamos o empirismo como concepção de aprendizagem? As ideias de Watson convergem com a visão de que o indivíduo nasce como uma página em branco. Outra premissa do behaviorismo metodológico é a de que o comportamento é pre- visível, por meio da equação estímulo-resposta, ou seja, a cada estímulo que pode ser considerado um evento, por exemplo, haveria um comportamento correspondente, con- siderado como resposta a esse evento. Assim, além de prever o comportamento, seria possível controlá-lo. [...] para Watson, ao se acreditar que o comportamento humano era igual ao de uma máquina, por exemplo, tornava-se possível prever e controlar o comportamento das pessoas como consumidoras, assim como se previa o comportamento de qualquer máquina; bastava apenas apresentar-lhe um estímulo emocional ou condicional. Com base nesse pensamento, Watson propôs pesquisas em laboratório a respeito do comportamento do consumidor. (NOGUEIRA; LEAL, 2015, p. 66) Você acredita que o comportamento pode ser controlado? Reflita sobre as ideias de Watson. Como elas se relacionam com a aprendizagem? Watson foi bastante influenciado pelas ideias de Ivan Pavlov, um fisiologista russo que, ao estudar reflexos inatos em cães, observou que seus sujeitos experimentais haviam aprendido novos reflexos, ou seja, estímulos que não produziam determinadas respostas, e passaram a produzi-las. Sua descoberta lhe rendeu nomear esse fenômeno de Condicio- namento Pavloviano (MOREIRA; MEDEIROS, 2018). 10 11 Pavlov postulou que o reflexo condicionado teria um papel importante no comportamento hu- mano e, consequentemente, na educação. Assim, seu trabalho forneceu bases para que John Watson fundasse o comportamentalismo (ou behaviorismo) no mundo ocidental (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 17). O experimento de Pavlov sobre a aprendizagem de novos reflexos foi feito utilizando- -se um cão, carne e o som de uma sineta como estímulos, e a resposta observada foi a de salivação. O que Pavlov fez foi apresentar um e logo em seguida o outro, para o cão. A carne (que despertava a salivação) e o som da sineta (que não despertava a salivação), medindo a quantidade de gotas de saliva produzidas (resposta) quando os estímulos eram apresentados. Após algum tempo, Pavlov apresentou para o cão apenas o som da sineta, e mediu a quantidade de saliva produzida. Ele observou que o som da sineta passou a produzir a salivação do cão, ou seja, o cão havia aprendido um novo reflexo (MOREIRA; MEDEIROS, 2018, p. 32). O experimento de Pavlov está apresentado na Figura 4. Figura 4 – Etapas do Experimento de Pavlov Fonte: Adaptado de NOGUEIRA; LEAL, 2015, p. 68 Assim, o que esses conceitos e experimentos apresentados até aqui têm a ver com a aprendizagem? O experimento proposto por Pavlov evidencia que os reflexos, ou seja, as respostas a determinados estímulos podem ser aprendidos. Você começa a suar e a tremer ao ouvir o barulho feito pelos aparelhos utilizados pelo den- tista? Seu coração dispara ao ver um cão? Você sente náuseas ao sentir o cheiro de determi-nadas comidas? Você tem algum tipo de fobia? Muitas pessoas responderiam “sim” a essas perguntas. Contudo, para todas essas pessoas, até um determinado momento de sua vida, responderiam “não”. Portanto, estamos falando sobre aprendizagem e sobre um tipo de aprendizagem chamado Condicionamento Pavloviano (MOREIRA; MEDEIROS, 2018, p. 29). 11 UNIDADE Introdução às Teorias da Aprendizagem Algumas teorias são consideradas transitórias entre o comportamentalismo e o cogniti- vismo, a saber são as teorias de Robert Gagné, Edward Tolman e a teoria da Gestalt. Nem todas são propriamente teorias da aprendizagem, mas ocupam um lugar importante no entendimento desse processo. A seguir, vamos conhecer a abordagem cognitivista. Teorias Cognitivistas As chamadas teorias cognitivistas consideram que a maturação biológica, o conheci- mento prévio, a interação com o meio e com as outras pessoas, a linguagem e afetividade têm enorme relevância no processo de aprendizagem (LAKOMI, 2014). Enfatizam o processo de cognição, considerando que é por meio deste que a pessoa atribui significados à realidade em que se encontra. Essa abordagem ocupa-se do processo de compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação, processos esses envolvidos na cognição (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011). Moreira (1999) considera que o surgimento do cognitivismo se dá em oposição ao behaviorismo, mais ou menos na mesma época. Para os cognitivistas, o foco deveria estar nas variáveis que ocorrem entre o estímulo e a resposta dos comportamentalistas, ou seja, nas cognições, na percepção, tomada de decisão, resolução de problemas e compreensão, os chamados processos mentais superiores, mas de maneira objetiva e científica, e não especulativa. Avançando nessa perspectiva, acreditava-se que a cognição se dá por cons- trução, surge então o construtivismo. O construtivismo é uma posição filosófica cognitivista interpretacionista. Cognitivista porque se ocupa da cognição, de como o indivíduo conhece, de como ele constrói sua estrutura cognitiva. Interpretacionista porque pressupõe que eventos e objetos do mundo são interpretados pelo sujeito cognoscente. O ser humano tem a capacidade criativa de interpretar e representar o mundo, não somente de responder a ele. (MOREIRA, 1999, p. 15) O vídeo a seguir ilustra o Construtivismo e a teoria de Jean Piaget. Disponível em: https://youtu.be/tRO0wUFprnk O construtivismo é a teoria que toma por base que o ser humano não tem acesso a uma realidade objetiva, um vez que essa está sendo construída e, ao mesmo tempo, transformada por esse ser humano, que também se modifica nessa relação. “Em vez de comportamentos ou habilidades como meta de instrução, são enfocados o desenvolvi- mento de conceitos e a compreensão, em profundidade” (FOSNOT, 1998, p. 28). Becker (2001), ao conceituar o construtivismo, salienta que o conhecimento não é dado pelo meio social, e tampouco nasce com o indivíduo. Antes, ele é construído na interação entre o sujeito e o meio, seja físico ou social, e esta construção vai depender das condições tanto do sujeito, quanto do meio. 12 13 Figura 5 Fonte: Getty Images Jean Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Em seus estudos, Piaget não teve como propósito desenvolver uma teoria de aprendizagem, mas uma teoria do desenvolvimento. Sua preo- cupação central era o sujeito epistêmico, ou seja, o estudo dos processos de pensamentos presentes desde a infância inicial até a idade adulta (PIOVESAN et al., 2018, p. 77). Não é possível falar de construtivismo sem remetermos aos principais conceitos pro- postos por Piaget. O autor considera que o ser humano é um organismo em desenvol- vimento, tanto no sentido físico e biológico, como em termos cognitivos. A entender o organismo como uma estrutura, Piaget propôs que o mecanismo que promove mudanças cognitivas é a equilibração (PIAGET, 1970 apud FOSNOT, 1998). Segundo Fosnot (1998), a equilibração foi descrita por Piaget como o processo dinâmico de comportamento autorregulado que põe em equilíbrio dois comportamentos polares: a assimilação e a acomodação. A assimilação organiza as experiências a partir de nossas próprias estruturas lógicas e entendimentos. É uma tendência de ver o mundo a partir de nossos próprios conceito, preservando nossa autonomia. Esse processo resulta, muitas vezes, na busca por novos conhecimentos. Assim, o organismo tenta reconstituir comportamentos anteriores, con- servando o seu funcionamento, sendo estes seguidos por acomodações, que são os resul- tados das pressões do ambiente. (FOSNOT, 1998). A acomodação é um comportamento reflexivo, integrador, que serve para mudar o nosso próprio eu e explicar o objeto para que funcionemos em relação a ele com equilíbrio cognitivo. Ainda, para entendermos plenamente a equilibração, precisamos pensá-la dinamicamente, considerando que o processo de equilibração não é sequencial: assimilação-conflito-acomodação, mas sim equilíbrios progressivos que nos permitem adaptação e organização, crescimento e mudança (FOSNOT, 1998). 13 UNIDADE Introdução às Teorias da Aprendizagem O esquema conceitual proposto por Piaget é representado na Figura 6. Acomodação Adaptação com o meio Assimilação Processo de integração dos dados da experiência nas estruturas do sujeito. Modi�cação das estruturas do sujeito para se adaptar aos novos elementos oriundos do meio. Figura 6 – Processo de assimilação e acomodação Fonte: Adaptado de PIOVESAN et al., 2018, p. 78 Resumindo, as teorias cognitivistas ocupam-se de explicar o processo do conhecer por meio dos aspectos cognitivos, ou seja, o que acontece com o sujeito que aprende. A próxima abordagem teórica, a humanista, tem uma perspectiva um pouco distinta. Vamos conhecer? Teorias Humanistas O foco das teorias humanistas é perceber o aprendiz enquanto pessoa. Nessa perspec- tiva, consideram-se os sentimentos, as emoções, a realização e o crescimento pessoal, e não somente os aspectos intelectuais do sujeito. Pensamentos, sentimentos e ações são vistos como integrados. Assim, não se trata de considerar o comportamento e a cognição desvinculados dos as- pectos afetivos. O principal autor da abordagem humanista é Carl Rogers (MOREIRA, 1999). O objetivo de Rogers, em sua abordagem humanista, não é o controle do compor- tamento, o desenvolvimento cognitivo ou a formulação de um bom currículo, mas o crescimento pessoal do aluno. Essa abordagem considera o aluno como pessoa e figura central no processo de aprendizagem, sendo que o ensino deve facilitar a sua autorrealização, visando à apren- dizagem como um todo, transcendendo e englobando as aprendizagens afetiva, cogniti- va e psicomotora (OSTERMAN; CVALCANTI, 2011). Ainda para Rogers, o objetivo educacional deve ser a facilitação da aprendizagem. Dessa forma, o único homem educado é o homem que aprendeu a aprender; o homem que aprendeu a adaptar-se e que é capaz de perceber que nenhum conhecimento é es- tável, mas que é necessário o processo de buscar conhecimento. 14 15 Cabe ao professor ser um facilitador, apresentando-se também como pessoa para com seus alunos, desenvolvendo dessa forma sua confiança e aceitação. Ainda, como em todas as relações, há de haver a comunicação em uma perspectiva empática (OSTERMAN; CAVALCANTI, 2011). Para Rogers, a aprendizagem significante envolve a pessoa inteira do aprendiz (senti- mentos, assim como intelecto) e é mais duradoura e penetrante. Além disso, aprender a ser aprendiz, isto é, ser independente, criativo e autoconfiante é mais facilitado quando a autocrítica e a auto avaliação são básicas e a avaliação por outros tem importância secundária (OSTERMAN; CAVALCANTI, 2011, p. 38). O vídeo a seguir apresenta as ideias de Carl Rogers e sua relação e contribuição para o campo da Educação. Disponível em: https://youtu.be/KiO-WhwVws0 Em síntese, embora não tenhamos contemplado todas as teoriasque se propõem a elucidar o processo de aprendizagem, nesse breve percurso percorrido foi possível com- preender os distintos pontos de vista que contribuem para o entendimento do campo da educação. É importante enfatizar que, ao analisarmos a realidade que nos cerca, as três abor- dagens: comportamentalista, cognitivista e humanista, encontram-se presentes no dia a dia das escolas. Na próxima unidade, abordaremos a aprendizagem significativa. Até lá! 15 UNIDADE Introdução às Teorias da Aprendizagem Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Revista Nova Escola: Construtivismo – Conexão Futura – Canal Futura https://youtu.be/zXLEF_WV0hA Escola – mais laboratório e menos auditório | Fernando Becker | TEDxUnisinos https://youtu.be/xjfKBGIHPjs Leitura Construtivismo na prática https://bit.ly/3lG6UsM Inspirado na Escola da Ponte, projeto forma educadores para serem mediadores https://bit.ly/2UByqvy 16 17 Referências BECKER, F. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. FOSNOT, C. T. Construtivismo: Teorias, perspectivas e prática pedagógica. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artmed, 1998. LAKOMI, A. M. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Curitiba: Intersaberes, 2014. MOREIRA, M.; A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora pedagógica e univer- sitária, 1999. MOREIRA, M. B.; DE MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do compor- tamento. Porto Alegre: Artmed, 2018. NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico. Curitiba: Intersaberes, 2015. OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. de H. Teorias de aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf, 2011. PIOVESAN, J. et al. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Santa Maria, RS: NTE, 2018. 17
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