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Psicologia do Esporte Professor Me. Nilson Lucas Dias Gabriel EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP G118p Gabriel, Nilson Lucas Dias Psicologia do esporte / Nilson Lucas Dias Gabriel. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 103 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-19-9 1. Esportes – Aspectos psicológicos. I. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 796.077 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 https://doi.org/10.33872/edufatecie.formsociocultural.2019 UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte AUTOR Professor Mestre Nilson Lucas Dias Gabriel Nascido em Curitiba/PR, aos 15 anos mudei para a cidade de Manaus onde iniciei em 2011 a minha graduação em Psicologia no Centro Universitário do Norte (UniNorte). Du- rante os cinco anos de formação desenvolvi trabalhos e pesquisas acadêmicas na área da Fenomenologia husserliana e do Existencialismo francês. Em 2017, já graduado, ingressei no Programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (PPI- -UEM) na área de concentração: Constituição do Sujeito e Historicidade, onde pesquisei “A Concepção de Liberdade na Biografia e na Obra Pele Negra, Máscaras Brancas de Frantz Fanon”, dando continuidade aos meus interesses iniciais de pesquisa. Ao término do processo de mestrado, dei início ao doutoramento na mesma instituição de ensino do mestrado, com a mesma orientadora, visando à superação do projeto anterior rumo a construção da tese de doutorado. Para além disso, ministro cursos, atuo na docência e desenvolvo pesquisas investigando as relações do pensamento do psiquiatra martinicano Fanon com a Psicologia fenomenológico-existencial. ● Doutorando em Constituição do Sujeito e Historicidade em Psicologia pelo PPI-UEM (Programa de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá). ● Mestre em Constituição do Sujeito e Historicidade em Psicologia pelo PPI-UEM (Progra- ma de Pós-Graduação em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá). ● Bacharel em Psicologia pela UniNorte (Centro Universitário do Norte). ● Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-brasileiros (NEIAB-UEM). ● Pesquisador associado a ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores Negros). ● Integrante do Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisa em Fenomenologia e Existencialismo (LIEPPFEX/CNPQ), e do grupo de estudos em Fenomenologia e Existencialismo (GEFEX). ● Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário da UniFatecie. ● Coordenador de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) da UniFatecie. ● Professor de pós-graduação na Universidade Paranaense (UNIPAR). ● http://lattes.cnpq.br/4651490737502216 UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caro aluno, cara aluna, seja muito bem-vindo(a)! Fico feliz em estar com você mediando o seu interesse pela disciplina Psicologia do Esporte, do curso de bacharelado em Psicologia, na modalidade EAD. A partir da sua escolha teremos a oportunidade de trilharmos juntos num dos caminhos possíveis para os estudos da Psicologia do Esporte no Brasil. A nossa apostila foi construída para atender a ementa da nossa disciplina, que tem como objetivo introduzir os conceitos fundamentais da Psicologia do Esporte, e suas relações interdisciplinares, tendo em vista uma perspectiva crítica do campo de atuação e das questões éticas que envolvem a atuação profissional do(a) psicólogo(a) do esporte no Brasil. As referências utilizadas para essa caminhada foram selecionadas a partir dos ob- jetivos destacados acima, de modo a contribuir para além do proposto, fornecendo também a você aluno e aluna da disciplina, trabalhos, pesquisas, produções artísticas que tenham como tema fundamental a prática esportiva e suas relações com a Psicologia, capazes de possibilitar reflexões éticas, técnicas e teóricas para você, querido(a) aluno(a) interes- sado(a) na disciplina e no seu campo de atuação como possibilidade prática do fazer-se psicólogo(a). Imagino que esteja ansioso(a) para já entrarmos nas discussões centrais, mas an- tes vou apresentar para você os temas que serão abordados em cada módulo. Em nosso primeiro módulo teremos um vislumbre do desenvolvimento da Psicologia do Esporte no Brasil e no mundo, tendo seu marco histórico científico ao final do século XIX e início do século XX, mas que como você verá, é um campo em ascensão mas que as suas reflexões se dão há muito tempo… desde a filosofia grega. Nesse mesmo tópico estudaremos as variadas denominações e definições da Psicologia do Esporte, e sobre as suas áreas e campos de atuação, abraçando toda a sua dimensão ética. Pegando carona na dimensão ética da Psicologia do Esporte, sendo esta dimensão de enorme importância para a sua compreensão, na segunda unidade aprenderemos sobre os aspectos éticos e sociais e discutiremos sobre o campo de atuação e preparação psico- lógica, próprio da Psicologia do Esporte, dialogando com a construção da nossa primeira unidade e terceira unidade, destacando-se assim a interdisciplinaridade da disciplina bem como, a relação entre as próprias unidades. Os aspectos psicológicos abordados de maneira breve na terceira unidade, estão intrinsecamente relacionados a outras disciplinas da Psicologia, e por isso são entendidos aqui, como matérias próprias do campo da ciência psicológica e componentes pontuais e fundamentais para o desenvolvimento da prática profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte. Dessa forma, dividimos os chamados processos psíquicos ou como convencionou-secha- mar, de processos psicológicos básicos, em três diferentes e complementares dimensões: dimensão cognitiva, dimensão emocional e dimensão psicossocial, trabalhando desde a personalidade, atenção, concentração, motivação e ansiedade, até a formação de grupos, equipes e os aspectos de liderança. Partindo do pressuposto de que são várias as temáticas que podem ser conside- radas transversais à Psicologia do Esporte, trataremos algumas delas na nossa quarta e última unidade. Aqui foram delimitados quatro grandes temas: primeiro, reflexões acerca do mito do herói e o atleta; posteriormente, a questão racial no Brasil e o que a Psicologia do Esporte tem a ver com isso; no terceiro tópico abordaremos as discussões de gênero e sexualidade em relação ao mundo esportivo; e por fim, no último tópico falaremos breve- mente da agressão e da violência como uma problemática transversal e importante para a Psicologia do Esporte no Brasil. Espero que seja um processo de aprendizado para você, assim como foi para mim compor essa disciplina. Dessa forma, espero que o presente material possa contribuir para a sua caminhada, assim como, dialogicamente contribuiu para a minha, de modo, a incorporar, as temáticas, as referências, às discussões éticas, políticas, sociais e técnicas na sua trajetória acadêmica e profissional. Um ótimo estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Introdução à Psicologia do Esporte UNIDADE II ................................................................................................... 26 O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética UNIDADE III .................................................................................................. 46 Aspectos Psicológicos do Desempenho Esportivo UNIDADE IV .................................................................................................. 72 Temas Transversais à Psicologia do Esporte 7 Plano de Estudo: ● Desenvolvimento histórico internacional; ● História e Produção de conhecimento no Brasil; ● Possíveis definições da Psicologia do Esporte; ● Campos e áreas de atuação. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar o desenvolvimento histórico da Psicologia do Esporte no âmbito internacional e nacional; ● Compreender as diferentes definições da Psicologia do esporte e suas relações; ● Discutir os campos e áreas de atuação da Psicologia do Esporte. UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte Professor Me. Nilson Lucas Dias Gabriel 8UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte INTRODUÇÃO Querido(a) aluno(a), seja muito bem vindo(a). Se inicia agora o caminho que trilha- remos juntos na disciplina Psicologia do Esporte e espero que seja um caminho de muitos aprendizados. Nesta primeira unidade, será feito primeiramente um apanhado histórico da Psicologia do Esporte, tanto nos seus contextos internacionais quanto nos nacionais, quando ainda nem mesmo existia essa denominação. Você vai perceber que as reflexões sobre as relações entre psicologia e esporte existem há bastante tempo, desde pelo menos, Aristóteles e Platão na Grécia. Como verá, no Brasil o desenvolvimento e reconhecimento da Psicologia do Esporte se dá um pouco mais tardiamente, ainda que tenhamos iniciativas já em meados do século XX. É um campo em ascensão, que tem tido grande crescimento na área da Psicologia, com uma diversidade de compreensões e entendimentos, que tem enriquecido muito o debate que será tratado aqui nesta unidade. Seguindo nessa linha, será trabalhado um pouco sobre as definições que envolvem a Psicologia do Esporte. Tem uma série de denominações, como por exemplo, psicologia do esporte, psicologia no esporte, psicologia da atividade física, entre outros, que com certeza você já ouviu falar, vamos aprender que essas definições possuem diferenças e perspectivas distintas. Por fim, no último tópico, será discutido sobre as áreas e campos de atuação da psicologia do esporte. Você poderá perceber que a área possui uma diversidade grande de campos e possibilidades de intervenção, necessitando de formação aprofundada para um trabalho profissional qualificado. Após esse breve apanhado do que você vai estudar nesta primeira unidade, convi- do você a conhecer o universo da Psicologia do Esporte! Bons estudos! 9UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte 1. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO INTERNACIONAL Fonte: Pierre de Coubertin - Congresso do ISSP https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pierre_de_Coubertin_-_ISSP_Congress_(35085075163).jpg Caro aluno, cara aluna, neste primeiro tópico do nosso módulo, abordaremos os aspectos históricos da psicologia do esporte a fim de contextualizá-la no âmbito internacio- nal. Para facilitar sua leitura e aprendizado, no decorrer dos tópicos abreviamos em alguns momentos a nomeação da Psicologia do Esporte, para PE. Vamos aos estudos! A origem da psicologia do esporte remonta ao final do século XIX e início do século XX, com os estudos e pesquisas voltadas para as relações intrínsecas entre os aspectos psicológicos e os aspectos fisiológicos, com foco no esporte (SAMULSKI, 1992). E, se quisermos, podemos voltar ainda mais longe, quando na Grécia Antiga, Aristóteles e Platão especulavam filosoficamente sobre a função perceptual e motora dos movimentos por meio de conceitos de “corpo e alma” (Vieira et. al., 2010, p. 393). Dessa forma, o desenvolvimento da Psicologia do esporte se confunde com o desenvolvimento da própria Psicologia enquanto ciência e suas relações com o pensamento filosófico. A Psicologia foi reconhecida como área científica de investi- gação somente com a fundação do seu primeiro laboratório no ano de 1879, sob a responsabilidade de Wilhelm Wundt (1832-1920), poucos anos antes dos primeiros trabalhos relacionando os aspectos físicos e psicológicos tendo como foco o esporte. 10UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte Nesse sentido, ao final do século XIX e XX, esses trabalhos eram divulgados sob a nomenclatura de Psicologia do Esporte, no entanto, de acordo Dante Junior (1992) ainda não havia uma definição exata para a área e nem de seus objetivos. Os trabalhos de Stearn (1895), Fitz (1895), Triplett (1898), Lesaft (1901) e muitos outros trabalhos da época eviden- ciam esse fato histórico. O interesse pela psicologia do esporte aumentou consideravelmente com o resgate dos Jogos Olímpicos - também originados na Grécia, assim como a filosofia ocidental, cita- da anteriormente -, com a realização constante de eventos esportivos e com o crescimento do esporte como fenômeno social. Mas, foi somente na década de 1920, que a psicologia do esporte “conheceu seu período mais fértil para defini-la como uma disciplina de cunho acadêmico e científico” (JUNIOR, 1992, p. 74). Tal fato será evidenciado primeiramente pela criação dos laboratórios e institutos de psicologia do esporte na antiga União Soviética em 1920, nos Estados Unidos em 1925, na Alemanha Oriental em 1928 e no Japão. Como também, pelas publicações das obras “Corpo e alma no desporto: uma introdução à psicologia do treinamento” do autor Schulte, publicada no ano de 1921 e “Psicologia do esporte” de Coleman Robert Griffith (1893- 1966), nos Estados Unidos em 1928. A antiga União Soviética também desenvolveu muitas técnicas nessa área de estudo, e despontou como grande impulsionadora da psicologia aplicada ao esporte, destacando nesta última os psicólogos: Avksentii Puni e Piotr Rudick (SAMULSKI, 1992, p. 74). SAIBA MAIS Coleman Griffith, o primeiro professor e psicólogo a oferecer um curso em Psicologia do Esporte numa Universidade, fundou no ano de 1925, em sua cidade natal Illinois, nos Estados Unidos, o primeiro laboratório de psicologia do esporte já registrado; foi tam- bém o primeiro psicólogo a trabalhar num clubeesportivo, no Chicago Cubs, um time de baseball em 1938. Esses motivos o credenciam como o pai da psicologia do esporte por muitas referências científicas do campo. Fonte: VIEIRA et. al. Psicologia do Esporte: uma área emergente da Psicologia. Psicologia em Estu- do, Maringá, v. 15, n. 2, p. 391-399, abr./jun. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pe/v15n2/ a18v15n2.pdf. Acesso em: 05 mai. 2020 11UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte Outro período histórico fundamental para a compreensão do contexto das produções da psicologia do esporte internacionalmente, diz respeito ao momento antes e ao momento depois da Segunda Guerra Mundial. Antes do início da Segunda Guerra, o desenvolvimento da psicologia do esporte se dava com a criação de laboratórios e o desenvolvimento de estudos na área, no entanto, com o desenrolar da segunda grande guerra no mundo, este campo sofreu uma significativa perda em suas produções. Com o término da Segunda Guerra, num contexto de Guerra Fria, houve um crescimento rápido das práticas esportivas, ocasionando uma ampliação da visibilidade da psicologia desportiva, bem como o desenvolvimento de diversas publicações que irão se tornar ao longo da história grandes referências na área. Um exemplo desse crescimento de visibilidade é que dentre os anos 1940 e 1950, alguns cursos de Educação Física na Rús- sia, já começam a inserir a Psicologia do Esporte em suas grades curriculares (SAMULSKI, 2009). Nesse mesmo contexto, no ano de 1965, foi criada a Sociedade Internacional da Psicologia do Esporte (ISSP) a partir da realização do 1º Congresso Mundial de Psicologia do Esporte, em Roma, na Itália, tendo como primeiro presidente o italiano F. Antonelli, que passou a congregar pessoas interessadas no tema internacionalmente. Além disso, nessa época temos o desenvolvimento de diversos outros laboratórios e institutos, como a Sociedade Norte-Americana de Psicologia do Esporte e Atividade Física (NASPSPA) criada em 1968, que também contribuiu sobremaneira para a ampliação da produção e da divul- gação de conhecimento temático da Psicologia do Esporte, tendo como um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento científico da área Franklin Henry, da Universidade da Califórnia. Nos jogos Olímpicos de 1968, que aconteceram no México, profissionais da psico- logia realizaram trabalhos voltados a atletas de alto rendimento, corroborando para o de- senvolvimento de teorias e técnicas que seriam melhor desenvolvidas na década seguinte, voltadas para o desempenho de atletas que, já nesse momento, procuravam na psicologia do esporte métodos de treinamento capazes de melhorar os seus rendimentos. Foi então, a partir do ano de 1970, que a Psicologia do Esporte começou a ser desenvolvida também na América Latina, e no final dessa mesma década, em 1979, foi fun- dada a Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOBRAPE), tema que vamos estudar no próximo tópico. 12UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte 2. HISTÓRIA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO BRASIL Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/39/1958_VM-final_Sverige-Brasilien.jpg Autor: Aftonbladet. E depois da contextualização internacional, chegamos, finalmente, ao desenvolvi- mento da psicologia do esporte na América Latina, logo também no Brasil, que desde, pelo menos, os anos 1930 tem registros de publicações sobre as relações da psicologia com as práticas esportivas. Nessa década, na Revista do Exército, por exemplo, eram formuladas algumas questões relacionadas à educação física, movimento tido por alguns autores como o delineamento inicial de uma psicologia do esporte no Brasil. Todavia, aqui no país, temos como marco de inserção na área de atuação e de produção de conhecimento um dos maiores eventos esportivos em escala mundial. Segundo Rubio (2002), este marco é a sexta edição da Copa do Mundo Fifa de Fu- tebol, sediada na Suécia e realizada no ano de 1958. Na referida edição, além da seleção masculina de futebol consagrar-se campeã, foi a primeira vez que num evento de tamanha magnitude, uma seleção masculina de futebol contou com os estudos psicológicos de João Carvalhaes (1917-1976), que trouxe grandes contribuições para a área da Psicologia do Esporte no Brasil, colaborando para com o seu reconhecimento no país. 13UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte SAIBA MAIS A seleção brasileira de futebol masculino consagrou-se campeã pela primeira vez, em toda a sua história, na sexta edição das Copas do Mundo Fifa de futebol, realizada em 1958 na Suécia. E além de nomes como Pelé, Djalma Santos, Zagallo entre outras es- trelas brasileiras do futebol mundial, João Carvalhes, pioneiro da psicologia do esporte no Brasil, foi um dos nomes responsáveis por esse grande sucesso da seleção nacional, ganhando, inclusive, reconhecimento internacional. Fonte: WAENY, Maria Fernanda Costa; AZEVEDO, Mônica Leopardi Bosco de. João Carvalhaes: pioneiro da Psicologia do Esporte. Conselho Regional de Psicologia - São Paulo, São Paulo, s. d. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/memoria/joao/artigo.aspx. Acesso em: 28 jul. 2020. A relação da psicologia do esporte com o futebol brasileiro é intrínseca, parte dos instrumentos psicométricos utilizados na época foram utilizados na seleção brasileira duran- te a copa do mundo de 1958. Ao se ter uma relação de profissionalização no Brasil desde a década de 1920, com remuneração alta até para os padrões da época (RUBIO, 2002), o futebol, desde esse período, já se diferenciava de outros esportes que eram marcados ainda, por um forte amadorismo. É da década de 1950 à década de 1980 que a psicologia do esporte construiu basicamente o seu referencial teórico. E mesmo com a sua inserção já no ano de 1958 no país, tal fato, não foi o suficiente para representar uma ampliação imediata do campo. E por isso, apesar de se ter formulações relacionadas a Psicologia do Esporte há mais de cem anos, esta, ainda nos dias atuais, é considerada um campo novo e emergente no Brasil. A primeira sociedade de psicologia do esporte fundada em terras tupiniquins acon- teceu no ano de 1979. De lá para cá, o Brasil tem ocupado uma posição de liderança referente aos outros países da América Latina. Segundo Samulski (2009), tal destaque fica comprovado no alto volume de publicações, na grande quantidade de congressos realiza- dos e na quantidade de laboratórios de Psicologia do Esporte existentes no país. Apesar disso, a psicologia desportiva ainda é um campo que merece melhor atenção na formação profissional em Psicologia, uma vez que a maioria dos cursos de psicologia não possuem disciplinas obrigatórias acerca da psicologia do esporte. Nesse sentido, essa dinâmica aponta para uma lacuna na formação profissional. 14UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte Posto isto, foi somente nos anos 2000 que a área foi reconhecida no país como uma especialidade da Psicologia. Desde então, tem crescido o número de psicólogos(as) que têm escolhido esse campo de atuação, impulsionados(as) também pelo crescimento da área e da procura por essa especialidade. A produção de conhecimento sobre psicologia do esporte no Brasil se dá, em sua maioria, de acordo com Torres, Carvalho e Castro (2020), nas regiões Sul e Sudeste, tendo havido nos últimos anos um crescimento de produções na região Nordeste. Somente no Brasil, como afirma Samulski (2009, p. 3) “foram realizados doze congressos brasileiros, três congressos sul-americanos e cinco simpósios internacionais” até a data de 2009, como podemos conferir na tabela abaixo, que explicita a lista dos congressos brasileiros e con- gressos mundiais de Psicologia do Esporte, com os respectivos anos e locais elencados pelo autor: TABELA 1: CONGRESSOS MUNDIAIS E BRASILEIROS DE PSICOLOGIA DO ESPORTE Fonte: Elaboração feita por Samulski (2009, p.3) Apesar de todo esse crescimento,Rubio (2002) destaca que, a área da Psicologia do Esporte ainda carece de referenciais e desenvolvimento de instrumentos próprios para a área, uma vez que há uma larga utilização de instrumentos advindos da psicologia clínica e da área educacional que possuem outras finalidades, bem como, a existência de um despreparo profissional para a atuação no campo, uma vez que até o presente momento o tema ainda é incipiente na formação. Outro aspecto importante a ser apontado, é que os estudos sobre Psicologia do Esporte ainda estão concentrados nos Programas de Pós-Graduação em educação física, 15UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte revelando uma necessidade de aprofundamento na área da Psicologia (VIEIRA, L.; JU- NIOR, J.; VIEIRA, J.), dado a importância da pós-graduação como um importante veículo de produção e divulgação de conhecimento no Brasil. Vale aqui ressaltar, que de início, os instrumentos e técnicas utilizados também eram de forte influência estrangeira. Principalmente advindos de Cuba e da União Soviética. Somente com o seu desenvolvimento histórico é que esse instrumental foi se adequando às particularidades brasileiras, levando em consideração o contexto e as singularidades nacionais, embora esse fato persista fortemente ainda hoje, sendo alvo de ampliada crítica na literatura da área. Essa crítica reflete sobre a necessidade de se fazer as mediações com o contexto brasileiro, que possui outras características e que precisam ser levadas em consideração. Dentro disso, é importante ainda evidenciarmos que não é possível considerar o esporte dissociado do contexto social ao qual está inserido. Dessa forma, a Psicologia do Esporte também traça correlações com a Psicologia Social, na medida em que o es- porte assume contornos determinados pelo meio social. Como exemplo, numa sociedade capitalista, assistimos a uma crescente monetização da prática do esporte e superação de um caráter amador, com o crescimento cada vez mais de investimentos e patrocínios empresariais, principalmente no futebol. Atualmente, o esporte é um dos maiores fenômenos sociais do nosso século. Por isso, os aspectos emocionais têm sido considerados um referencial importante na prática esportiva de alto rendimento, e com isso, tem aumentado a importância do trabalho psicoló- gico na área esportiva. Mas para discutirmos com melhor propriedade, precisamos levantar alguns questionamentos, afinal, do que se trata a psicologia do esporte? O que ela é? Quais são os seus objetivos? Se trata de uma área de estudo exclusiva à psicologia? Tais respostas, abordaremos em nosso próximo tópico. 16UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte 3. POSSÍVEIS DEFINIÇÕES DA PSICOLOGIA DO ESPORTE A Psicologia do Esporte, estabelecerá ao longo de seu desenvolvimento histórico, conceitual e técnico, relações com várias áreas do conhecimento científico e esportivo. Para continuarmos é importante ter em mente, que mesmo com todas essas relações, de acordo com por Samulski (2009), a ciência psicológica é considerada a “ciência-mãe” da psicologia do esporte. Há diversas concepções sobre o que seria psicologia do esporte. Segundo Rubio (1999), a Psicologia do Esporte se constitui como uma subárea das chamadas “Ciências do Esporte”, que é composta também por outras subáreas como a antropologia, a sociologia, a filosofia do esporte, entre outras, que tem integrado um campo chamado de “pluridisci- plinar” (BRACHT, 1995). Vale ressaltar que essa inclusão da Psicologia do Esporte como uma subárea das Ciências do Esporte não é homogênea, autores como Feltz (1992), tem defendido que ela se constitui numa subdisciplina da Psicologia. No que se refere à denominação de campo pluridisciplinar, é considerado desta forma porque, de acordo com Rubio (1999), ainda falta uma ação conjunta entre essas subáreas para que possamos denominá-las de interdisciplinares, ou seja, que expressem formulações e ações mais integradas, ainda que mantendo as suas especificidades. Vieira et. al. (2010) no entanto, nos apresenta a psicologia do esporte como uma área tanto da Psicologia, como das Ciências do Esporte, como também ainda, do próprio Esporte, sendo ao mesmo tempo, um campo de intervenção profissional e uma disciplina 17UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte acadêmico-científica. Já o autor Samulski (2009, p.3), coloca que a psicologia do esporte em sua concepção, “representa uma das disciplinas da ciência do esporte”, como também se constitui num “campo da psicologia aplicada”. A psicologia do esporte, vinculada anteriormente a aspectos que correspondiam a dimensões puramente biológicas, hoje adota concepções sociais, clínicas e educacio- nais, atuando e estudando situações que envolvem personalidade, motivação, agressão, estresse, entre outros aspectos e recebe influência e contribuições de diversos campos do conhecimento. Nos últimos anos temos assistido a um crescimento do seu campo de atuação e pesquisa no Brasil. Diante das diversas problemáticas apresentadas na área, pode ser percebido um aperfeiçoamento crescente e a consolidação de um arsenal teórico e meto- dológico. Alguns autores e autoras referências na área têm defendido que é preciso uma ampliação do entendimento da psicologia do esporte, uma vez que, fatores, por exemplo, emocionais que influenciariam no desempenho de atletas em sua prática esportiva, é afeta- do também pelo contexto social ao qual está inserido. Nesse aspecto, há a defesa de uma Psicologia Social do Esporte, visto que, nessa perspectiva se pode considerar que “toda Psicologia é Social, sem que todas as áreas da psicologia sejam reduzidas a Psicologia Social” (RUBIO, 2002, p. 5). Tendo esse debate como referência, a postura adotada nesse material de estudo, é que nenhuma concepção se encontra fechada e muito menos carrega em si uma espé- cie de “verdade absoluta” acerca da psicologia do esporte. Nesse sentido, divergências e diferenciações são extremamente importantes para o enriquecimento do debate e profícuo para a construção de conhecimento. Convidamos você a refletir junto conosco sobre a psicologia do esporte como uma das especialidades da ciência psicológica. De acordo com Rubio (2002, p. 3), “nem toda psicologia aplicada ao esporte é psicologia do esporte”. Tendo em vista esse aspecto, a autora traça uma diferença entre a Psicologia do Esporte e a Psicologia no esporte. Para a autora, a Psicologia do Esporte caracteriza-se por ter “como meio e fim o estudo do ser humano envolvido com a prática de atividade física e esportiva competitiva e não competitiva” (RUBIO, 2002, p. 3). Nessa concepção temos uma caracterização bas- tante ampla no que diz respeito às atividades físicas, esportivas competitivas ou não. Sobre a produção de conhecimento na área, Rubio (2002, p. 3) continua: “podem abarcar os processos de avaliação, as práticas de intervenção ou a análise do comportamento social 18UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte que se apresenta na situação esportiva a partir da perspectiva de quem pratica ou assiste ao espetáculo.” Ainda segundo a autora, no que diz respeito a Psicologia no Esporte, esta cor- responde a “transposição da teoria e da técnica das várias especialidades e correntes da Psicologia para o contexto esportivo” e um importante detalhe, tanto no que diz respeito “a aplicação de avaliações para a construção de perfis”, como “no uso de técnicas de intervenção para a maximização do rendimento esportivo.” (RUBIO, 2002, p. 3). De acordo com a Federação Europeia de Associações de Psicologia do Esporte (FEPSAC), a psicologia do esporte [...] refere-se aos fundamentos psicológicos, processos e consequências da regulação psicológica das atividades relacionadas ao esporte, de uma ou mais pessoas praticantes dos mesmos. O foco desse estudo está nas diferentes dimensões psicológicas da condutahumana, ou seja, afetiva, cognitiva, mo- tivadora ou sensório-motora. Os sujeitos investigados são os envolvidos nos esportes ou exercícios, como atletas, treinadores, árbitros, professores, psicó- logos, médicos, fisioterapeutas, espectadores, pais. (SAMULSKI, 2009, p. 3) Tendo em vista, portanto, o campo de investigação tanto dos esportes como das atividades físicas, Samulski (2009, p. 3) irá compreender duas nomenclaturas, a da psi- cologia do esporte e da psicologia do exercício, compreendendo ambas como o “estudo científico de pessoas e seus comportamentos no contexto do esporte e dos exercícios físicos e a aplicação desses conhecimentos”. Posto isso, corroborando com a definição de Samulski (2009), para Weinberg e Gould (1992, apud SAMULSKI, 2009, p. 3). [...] os psicólogos do esporte precisam entender e ajudar os atletas de elite, crianças, atletas jovens, atletas portadores de limitações físicas e mentais, pessoas de terceira idade e pessoas que praticam atividades esportivas no seu tempo livre, com a finalidade de desenvolver uma boa performance, uma satisfação pessoal e um bom desenvolvimento da personalidade por meio da participação. Dessa forma, baseado nas formulações de Nitsch (1989 apud SAMULSKI, 2009, p.3), compreende que a psicologia do esporte “analisa as bases e os efeitos psíquicos das ações esportivas”, tendo em vista tanto a análise dos processos psicológicos básicos, a exemplo da cognição, motivação, emoção, entre outros; como também, “a realização de tarefas práticas do diagnóstico e da intervenção.” Nesse sentido, sua função e ação consiste “na descrição, na explicação e no prognóstico de ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar programas, cientificamente fundamentados, de intervenção, levando em consideração os princípios éticos” (Nitsch, 1986, p.189 apud SAMULSKI, 2009, p. 3). Posto isso e após toda essa discussão, observa-se o desenvolvimento de um cam- po denominado psicologia do esporte, relacionado às atividades físicas e do lazer, sendo componente curricular importante dos cursos de educação física, como também, uma área 19UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte de atuação emergente para a psicologia, que deparados com um crescimento da demanda por sua atuação, “enfrentam grandes dificuldades para intervir adequadamente, já que os cursos de graduação em Psicologia ainda não formam nem qualificam o graduando para esta possibilidade de prática” (RUBIO, 1999, p.61), apesar dessa área, como considera Samulski (2009), também ser considerada uma área filha da ciência mãe psicológica. 20UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte 4. CAMPOS E ÁREAS DE ATUAÇÃO A psicologia do esporte ainda que seja um campo em ascensão para psicólogos, não se constitui em uma área exclusiva da psicologia, tanto assim, que ainda não temos uma delimitação exata das suas atribuições enquanto profissional, indicando a necessida- de de desenvolvimento e consolidação desse aspecto, apesar dos inegáveis avanços nos últimos anos. Segundo Martens (1987), a psicologia do esporte tem passado por diversas trans- formações. O autor destaca dois principais campos de atuação para o psicólogo do esporte, sendo eles: a área acadêmica, na qual, a atuação estaria ligada a pesquisa e a produção de conhecimento da disciplina Psicologia do Esporte e a Psicologia do Esporte aplicada, cujo interesse estaria na atuação e intervenção propriamente dita. De acordo com Rubio (1999), baseada nas elaborações de Lesyk (1998 apud RU- BIO, 1999), há a indicação de, pelo menos, três alternativas de atuação para o psicólogo do esporte. Sendo elas: 1. O trabalho clínico, que envolve a capacitação do profissional para trabalhar na área do esporte, o que requer uma formação específica com conhecimentos em Psicologia e Educação Física; 2. A prática de pesquisa, cujo objetivo é produzir e divulgar conhecimentos sobre o campo, aspectos do campo, problemáticas, etc. sem que haja uma intervenção direta e por fim; 3. O educador, que leciona a disciplina de Psicologia do Esporte, seja no curso de Psicologia, seja no curso de Educação Física. 21UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte Segundo a mesma autora, há ainda outras formulações no que se refere às possibili- dades de intervenção na área da psicologia do esporte, como as formuladas por Singer (1988): [...] o especialista em psicodiagnóstico – faz uso de instrumentos para ava- liar potencial e deficiências em atletas; o conselheiro – profissional que atua apoiando e intervindo junto a atletas e comissão técnica no sentido de lidar com questões coletivas ou individuais do grupo; o consultor – busca avaliar estratégias e programas estabelecidos, otimizando o rendimento; o cientista – produz e transmite o conhecimento da e para a área; o analista – avalia as condições do treinamento esportivo, fazendo a intermediação entre atletas e comissão técnica; o otimizador – com base numa avaliação do evento espor- tivo busca organizar programas que aumentem o potencial de performance (RUBIO, 1999, p. 62, grifos da autora). Podemos constatar a partir do exposto que existe uma diversidade de campos de atuação na psicologia do esporte, com possibilidade de abertura de novos campos e áreas de intervenção profissional para o(a) psicólogo(a) do esporte, já que se trata de um campo em ascensão. Esse processo aponta também para uma necessidade de aprofundamento na formação para ser um profissional qualificado, com um conhecimento amplo e diversificado. Considerando outros aspectos, Samulski (1992), indica quatro campos principais de aplicabilidade da psicologia do esporte: 1. O esporte de rendimento, onde o psicólogo atua para otimizar o rendimento do(a) atleta e/ou equipe, é a modalidade mais conhecida, principalmente o trabalho com atletas de alto rendimento, mas não se limita apenas a esta; 2. O esporte escolar, no qual a ação profissional busca atuar na influência e impac- to do esporte no processo social e educativo na criança, adolescente e adulto que pratica, como por exemplo, no desenvolvimento psicomotor, essa modalidade não se preocupa necessariamente com o desempenho e sim com o desenvolvimento; 3. O esporte recreativo, onde a atuação profissional do psicólogo busca compreen- der os diferentes motivos, impulsos e impactos na prática do esporte realizado de maneira recreativa; 4. O esporte de reabilitação, que busca intervir na utilização do esporte como reabi- litação das pessoas praticantes, seja por lesões, seja por algum tipo de deficiência. Dentro desses aspectos destacados, é importante ressaltarmos, que seja qual for a área ou campo de atuação, é necessário ter compromisso com a qualificação e aprofun- damento de conhecimento na área a qual pretende atuar. Nesse sentido, é necessário, por exemplo, que conheça profundamente a modalidade de esporte em que o(a) psicólogo(a) for atuar. É preciso ter conhecimento sobre fisiologia do exercício, nutrição esportiva, história do esporte, entre outros conhecimentos que constituem o universo da intervenção profissio- nal nesta especialidade de atuação, constituindo assim, um conhecimento interdisciplinar. Tendo em vista esses aspectos, o(a) psicólogo(a) do esporte precisa atuar com atenção, compromisso, dedicação e rigor científico. Fazendo-se um esforço de minimizar 22UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte os riscos de simplificar a psicologia do esporte ou transformá-la em uma salada de frutas sem aprofundamento, por beber de diversas fontes e perspectivas. Nesse ínterim, é importante pontuar que o trabalho se dá eminentemente numa equipe interdisciplinar, ou seja, com profissionais muitas vezes, da área da medicina, da nutrição, da fisioterapia, entre outras áreas e, como dito anteriormente, é preciso conhecer as diversas linguagens utilizadas na área de atuação para conseguir se comunicar. Na área da psicologia do esporte, o trabalho nunca se dá sozinho, dessa forma, é essencial sabertrabalhar em equipe, ainda que o trabalho seja com um(a) atleta individual. Ainda iremos, mais à frente, falar sobre os procedimentos, formas e instrumentos de intervenção. No entanto, cabe aqui evidenciar que o procedimento que mais dá visibi- lidade ao Psicólogo do Esporte é a avaliação psicológica em atletas. É um procedimento que também causa grande apreensão nos(as) profissionais pois envolve processos éticos regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Esse processo é chamado de psicodiagnóstico e envolve a prognosticação dos resultados esportivos e avalia caracterís- ticas da personalidade do(a) atleta, os estados emocionais, entre outros fatores. Há ainda, uma área até o presente momento pouco explorada pelos profissionais da psicologia desportiva, mas que tem ganhado atenção nos últimos tempos, que é a área de atuação ligada a projetos sociais, no qual, os(as) profissionais, ou seja, os(as) psicó- logos do esporte, atuam com a prática esportiva para o desenvolvimento da cidadania, promovendo educação social por meio do esporte e da atividade física, nesse sentido, o esporte é um meio e não um fim. REFLITA Atualmente treinador do time profissional masculino de futebol do São Paulo Futebol Clube, Fernando Diniz é formado em psicologia. Em seu trabalho de conclusão de curso, Diniz, afirma que “O futebol deveria, pelo apelo popular que possui, ter um compromis- so de relevância social ajudando, em especial aos jovens sonhadores na formação de indivíduos, educando-os, com capacidade crítica para serem muito mais do que artistas efêmeros da bola, pessoas com autonomia e força para se posicionarem, dignamente, na sociedade sem dependerem do futebol.” Fonte: GROSSI, Bruno; LIMA, Vanderlei. O enigma Fernando Diniz. UOL Esportes, São Paulo, 15 nov. de 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/o-enigma-fernando-diniz/#te- matico-1. Acesso em: 14 jun. 2020. 23UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) estudante, você chegou ao final desta unidade e durante o seu de- senvolvimento foi estudado diversos aspectos e temáticas que envolvem a psicologia do esporte. Espero que você consiga se lembrar. Como foi dito no início da unidade, o objetivo é que você saia conhecendo introdutoriamente o campo da psicologia do esporte, como percebido, uma área cheia de desafios, mas que com as ferramentas fornecidas, eu e você desbravamos juntos(as). Provavelmente, você só deve ter ouvido falar da psicologia do esporte recentemen- te, porém, como foi demonstrado, esta remete à idade antiga e começou o seu desenvolvi- mento de fato no contexto internacional, no século XIX e vem se tornando uma importante área no esporte, com uma produção de conhecimento diversa. No Brasil, seu marco de inserção se dá num importante contexto nacional, a Copa do Mundo de 1958, e vai ser reconhecida internacionalmente, tendo como expoente o conceituado psicólogo no esporte João Carvalhaes. Esse marco, porém, não representa uma ampliação de fato da área nacionalmente, o que só vai ocorrer no final do século XX e início do século XXI. O Brasil é um importante produtor e divulgador de conhecimentos na área da psi- cologia do esporte, ocupando um papel de destaque na América Latina. Nesse sentido, pudemos acompanhar, eu e você, que há diversas áreas e possibilidades de intervenção profissional na psicologia do esporte, e que ainda é um campo em desenvolvimento, ne- cessitando de um olhar mais ampliado e de uma qualificação do debate na formação em psicologia no Brasil. Por fim, gostaria de parabenizá-lo(a) por ter concluído esta etapa de estudos e espero que você, assim como eu, também tenha se apaixonado pela Psicologia do Esporte em toda a sua complexidade. Muito obrigado pela companhia e nos vemos na próxima unidade! 24UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte LEITURA COMPLEMENTAR CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Manual do Conselho Regional de Psicologia. São Paulo, 2001. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/co- municacao/manuais.aspx. Acesso em 29 mai. 2020. CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Avaliação psicológica: Diretrizes na regulamentação da profissão, 2010. Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/ comunicacao/manuais.aspx. Acesso em 28 mai. 2020. CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO.Manual de Orientações: Legislação e Recomendações para o Exercício Profissional do(a) Psicólogo(a), 2014. Dispo- nível em: http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/manuais.aspx. Acesso em 28 mai. 2020. 25UNIDADE I Introdução à Psicologia do Esporte MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Um psicólogo no futebol: relatos e pesquisas Autor: João Carvalhaes Editora: Esportes Educação Ano: 1975 Sinopse: O autor apresenta tópicos diversos, desde a seleção de árbitros de futebol até a análise de várias profissões necessárias ao mais popular de nossos esportes, passando pela dinâmica de grupo, o condicionamento, a sociometria, a comunicação etc. Esses trabalhos, diferentes em conteúdo, reunidos nesse livro, constituem o insumo de um demorado período de trabalho. É a vida de um profissional - 17 anos servindo ao esporte - em que algumas contrariedades não abalaram o espírito científico, a de- dicação, pertinácia. Assim, em algumas passagens o livro é um depoimento. (SILVA, 1975) FILME/VÍDEO Título: Pioneiro da Psicologia no Esporte, João Carvalhaes Ano: 2000 Sinopse: A situação de João Carvalhaes no esporte começou com o boxe, passou pelos cursos para juízes e árbitros de futebol e pelo acompanhamento de equipes durante campeonatos em nível internacional. Sua atuação ganhou visibilidade em 1958, quando integrou a equipe técnica da Seleção Brasileira de Futebol, cam- peã da Copa do Mundo, na Suécia. Preocupado com a formação integral do atleta e com o rigor científico em seu trabalho, João Carvalhaes aplicou testes, fez dinâmicas de grupo e conversas individuais, ao mesmo tempo em que publicou artigos, proferiu pa- lestras e participou de congressos. Nessa interseção, inaugurou, em âmbito mundial, a Psicologia do Esporte e expôs o trabalho do psicólogo ao grande público. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=_TVsprVcayQ WEB Site do projeto História e memória da Psicologia em São Paulo: http://www.crpsp.org.br/memoria/joao/fichatecnica.aspx 26 Plano de Estudo: ● A Psicologia do Esporte como Especialidade da Psicologia; ● Questões Éticas e Sociais Envolvidas na Atuação do(a) Psicólogo(a); ● Questões para a Avaliação Psicológica no Esporte; ● Programa de Psicologia Aplicada ao Esporte. Objetivos da Aprendizagem: ● Compreender a dimensão ética do trabalho profissional do(a) psicólogo(a) do esporte; ● Refletir sobre a Psicologia do Esporte como especialidade da Psicologia e de outras perspectivas científicas; ● Discutir a avaliação psicológica e a preparação no contexto esportivo. UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética Professor Me. Nilson Lucas Dias Gabriel 27 INTRODUÇÃO UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética Querido(a) aluno(a), fico feliz em tê-lo(a) mais uma vez aqui. Espero que esteja gostando e se descobrindo ao aprender mais sobre a Psicologia do Esporte. Após pas- sarmos juntos por algumas definições da Psicologia do Esporte e da sua área de atuação, chegou a hora de uma discussão bem clara e necessária da respectiva área, a defesa de uma Psicologia do Esporte como uma especialidade da Psicologia. Como veremos a seguir, a Psicologia do Esporte está num campo de disputa científico, na qual a ciência Psicológica é uma das ciências em questão. Nesta segunda unidade, lançaremos luz também as discussões de aspectos éticos e sociais da Psicologia do Esporte. Você sabia que algumas referências da área defendem o fazer de uma Psicologia Social do Esporte? No decorrer da unidade,você entenderá bem o porquê. Das dimensões fundamentais do campo esportivo do trabalho profissional do psi- cólogo(a) estão o processo avaliativo e a preparação psicológica esportiva. Caminhando junto de algumas referências, você poderá notar, o uso de nomenclaturas como: testagem psicológica, testes psicológicos, utilizados fazendo referência ao processo de avaliação psicológica, o que é uma tomada de posição errônea, uma vez que testes e avaliação são diferentes no fazer profissional do(a) psicólogo(a). Por fim, o último tópico, é a respeito do planejamento sistemático da preparação psicológica, tendo em vista a concepção amplificada do termo, sem jamais reduzi-lo a uma mera atividade técnica reducionista. Minha aproximação do campo da área esportiva em relação minha área de forma- ção, a psicologia, se deu também por suas relações éticas, sociais e de responsabilidade profissional. Por isso, fico feliz que tenha chegado até aqui, continuemos. 28UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética 1. A PSICOLOGIA DO ESPORTE COMO ESPECIALIDADE DA PSICOLOGIA Se você se recordar bem, levando em consideração o crescimento do campo de tra- balho e de discussões e produções científicas em Psicologia do Esporte, o que tem gerado uma significativa projeção do campo, foi mencionado na unidade anterior que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) regulamentou, por meio da Resolução CFP 013/2007 o Título Profissional de Especialista em Psicologia do Esporte, juntamente com outras Especialida- des como a Psicologia Clínica, Hospitalar, Escolar/ Educacional, entre outras. De acordo com esta Resolução, a atuação do(a) psicólogo(a) do esporte se direciona [...] tanto para o esporte de alto rendimento, ajudando atletas, técnicos e co- missões técnicas a fazerem uso de princípios psicológicos para alcançar um nível ótimo de saúde mental, maximizar rendimento e otimizar a performance, quanto para a identificação de princípios e padrões de comportamentos de adultos e crianças participantes de atividades físicas. (CONSELHO FEDE- RAL DE PSICOLOGIA, 2007, p. 11) Dessa forma, a atuação profissional em psicologia do esporte está voltada para a compreensão de teorias e técnicas psicológicas que possam ser utilizadas no contexto esportivo e no universo da atividade física, seja ela individual ou coletiva, para competição ou não competitiva, além da possibilidade de também poder ser para fins de reabilitação ou de educação social. Como também mencionamos, o(a) psicólogo(a) do esporte atua também dentro de equipes multidisciplinares ou interdisciplinares, utilizando-se dos instrumentos mais ade- 29UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética quados de acordo com os objetivos do(a) atleta e/ou equipe em questão, desde a iniciação esportiva até as atividades de alto rendimento. Importante ressaltar que os órgãos representativos da profissão (a saber: Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia), destacadamente o Conselho Regional de Psicologia do estado de São Paulo (CRP-SP), entendendo a diversidade de temas, de teorias e de metodologias da Psicologia na área esportiva, reconhecem a importância da Psicologia do Esporte e as discussões a ela ligadas e vêm, principalmente nos últimos anos, promovendo e impulsionando debates, eventos e produzindo materiais que qualifiquem a formação e a atuação profissional em Psicologia do Esporte. SAIBA MAIS O Brasil teve seu primeiro congresso brasileiro de psicologia do esporte, realizado na cidade de Porto Alegre, no ano de 1981. De lá para cá, muitas cidades brasileiras têm sediado o congresso nacional da área. No ano de produção desse material, estamos na edição VII, com previsão de realização em setembro de 2021 na cidade de Petrolina-PE. Fonte: O autor Um exemplo dessa dinâmica, é o caderno temático “Psicologia do Esporte: con- tribuições para a atuação profissional”, elaborado pelo CRP São Paulo, que entre outras questões, aborda o histórico e o desenvolvimento da Psicologia do Esporte no Brasil, com- preendendo o esporte como um fenômeno social importante do nosso tempo, bem como, a formação, questões éticas e possibilidades de intervenção na área. Para além disso, tem se posicionado, com diversas notas públicas, no que tange à desqualificação da atuação da Psicologia, como ciência e profissão, nessa área de in- tervenção. Como também, realizando pesquisas para conhecer as necessidades, o perfil e as condições de trabalho dos(as) profissionais que atuam nesse campo, com o objetivo de construir melhores respostas e orientações sobre essa especialidade da Psicologia. 30UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética SAIBA MAIS No ano de 2016, durante uma mesa redonda organizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), composta por Antonio Conte, Levir Culpi e Dunga, técnicos da sele- ção italiana, do time brasileiro Fluminense e da seleção brasileira de futebol masculino, respectivamente. Dunga, no referido momento, exprimiu seu desconhecimento acerca do trabalho profissional do(a) psicólogo(a) na seleção brasileira de futebol masculino: “O jogador chega na seleção depois de uma viagem de 11 horas, tem poucos dias até o jogo. Ele vai abrir o coração dele (para um psicólogo) em meia hora? (...) Eu vou ver o psicólogo e vou perguntar: “Quem é esse cara? Será que ele vai contar para o dirigente? Será que ele vai contar para o treinador?”. Desculpa meu modo sincero de falar, mas eu sou autêntico. Tem coisas inviáveis na seleção brasileira.” (GLOBO ESPORTE, 2016). Fonte: Globo Esporte Em um mapeamento realizado também pelo CRP-SP, em 2012, sobre os desafios e perspectivas do futuro profissional de psicólogos(as) do esporte, foi realizado em ques- tionário com profissionais da área, que entre as questões postas no estudo, colocaram que ainda há grandes desafios a serem enfrentados pelos(as) profissionais na área. Dentre esses desafios, destacam-se: 1. a necessidade de reconhecimento da área e uma melhor comunicação com os(as) demais profissionais do esporte; 2. a importância de uma qualificação e inserção efetiva do debate na formação em Psicologia e; 3. Uma ampliação das áreas e das possibilidades de intervenção. Os(as) participantes da pesquisa indicam ainda que o Conselho Regional de Psicologia “pode contribuir para o desenvolvi- mento e valorização da área” (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2012, p. 6). Tendo em vista essas considerações, a psicologia do Esporte contribui na prepara- ção e avaliação de atletas e praticantes de atividades físicas a partir de um conjunto de ins- trumentos e técnicas orientadas para o desempenho destes. É importante, como veremos no próximo tópico, que essas ações sejam baseadas nos preceitos éticos definidos pela legislação profissional, bem como, leve em consideração fatores sociais que interferem nessa atuação. 31UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética 2. QUESTÕES ÉTICAS E SOCIAIS ENVOLVIDAS NA ATUAÇÃO DO/A PSICÓLOGO/A DO ESPORTE Como vimos, historicamente, a Psicologia do Esporte tem se preocupado com a preparação psicológica para aumentar o rendimento esportivo, lidando com aspectos psicológicos do desempenho no esporte como estresse, concentração, motivação, entre outros, que vão ser importantes, sobretudo, para o esporte de alto rendimento, que é o ramo de trabalho que mais ganhou notoriedade no fazer profissional do(a) psicólogo(a) do esporte, sendo muitas vezes reduzido a este. Rubio (2007, p. 306), destaca que esse aspecto, da psicologia do esporte voltada apenas para o esporte de alto rendimento na busca pela vitória, tem sido uma grande problemática. Pois, outras possibilidades de atuação têm sido subsumidas por esta, “como as atividades físicas de tempo livre, a iniciação esportiva,a reabilitação de ex-enfermos” ou de pessoas com deficiências, “bem como os projetos sociais que têm o esporte como uma atividade meio, e não fim”, além de um reducionismo da própria Psicologia do Esporte voltada para atletas e equipes de alto rendimento. No entanto, a autora acentua que este é um desafio que tem acompanhado o desen- volvimento da Psicologia do Esporte e tem sido alvo de reflexões e problematizações que vêm apontando para a necessidade de sistematização das possibilidades de intervenções da psicologia do esporte para além dos atletas de alto rendimento, com o objetivo de ampliar as reflexões sobre o tema para que elas sejam aprimoradas e ampliadas. Como também, 32UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética mesmo no esporte de alto rendimento, em que os resultados “satisfatórios” possam ser combinados com o bem-estar físico e psicológico dos(as) atletas. Diante de uma crescente visibilidade dos fatores psicológicos que se relacionam mais diretamente com a prática esportiva, vemos também o crescimento do que tem se chamado de “esporte espetáculo” (RUBIO, 2007). Nessa dinâmica do esporte espetáculo, temos uma alta exposição de atletas ou de equipes, numa trama que envolve propaganda de produtos e/ou de patrocinadores. Na qual, se coloca sempre a necessidade de alto rendimento desses(a) atletas ao nível máximo. Em meio a todo esse contexto encontra-se o trabalho do psicólogo do esporte, que se depara com questões éticas a lidar, bem como, todas as questões morais que circundam o meio esportivo. Nesse sentido, o esporte deve ser compreendido como um espaço circundado de valores morais, uma vez que se constitui em uma criação humana e que reflete os valores de um tempo histórico e de uma dada sociedade. Desse modo, é necessário situar os(as) atletas, as equipes esportivas e o próprio esporte na “realidade social e cultural vividas” (RUBIO; CAMILO, 2019, p. 11). Tendo em vista esse aspecto ético do esporte e do exercício, Rubio (2007), defende a necessidade de se analisar a prática do(a) psicólogo do esporte em relação aos valores e princípios defendidos pela Psicologia, uma vez que esses princípios são balizados por um código de ética profissional que orienta e normatiza a atuação do psicólogo também numa perspectiva política. Essas considerações são necessárias porque o campo do esporte se constitui hoje numa área com diversos interesses e perspectivas envolvidas, tornando-se um fenômeno social extremamente importante e complexo, necessitando de uma reflexão no campo da ética. Sobre essa última assertiva, a autora destaca que A necessidade da vitória a qualquer custo, da adequação às mudanças de regras e calendários e os interesses comerciais de clubes e patrocinadores chega ao psicólogo do esporte como um imperativo de sua função no clube ou time, levando-o a uma necessária e constante reflexão sobre seu papel social e profissional, daí a importância da clareza sobre a concepção de ser humano e de Psicologia com que se atua (RUBIO, 2007, p. 308). 33UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética SAIBA MAIS A última atualização do código de ética profissional do psicólogo do ano de 2005, ela- borado pelo Conselho Federal de Psicologia, tem descrito como primeiro princípio fun- damental: “O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.” Fonte: CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n° 010, de 21 de julho de 2005. Aprova o Có- digo de Ética Profissional do Psicólogo. Disponível em: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/ codigo-de-etica-psicologia.pdf. Acesso em: 28 jul. 2020. Dessa forma, é necessária uma atuação crítica, atenta e propositiva seja qual for a área de atuação. É importante ressaltar que, como já evidenciamos rapidamente na pri- meira unidade, o trabalho do/a psicólogo/a do esporte nunca se dá sozinho, há diversas profissões envolvidas, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, podendo trabalhar até ao lado de técnicos, no caso de uma equipe esportiva, entre outras. Daí a necessidade de se ter clareza sobre o fazer profissional, e quais os limites éticos desse fazer. Um outro cuidado importante na atuação profissional do(a) psicólogo(a) do esporte diz respeito a uma perspectiva estritamente tecnicista, de supervalorização da técnica em detrimento da dimensão ética e política do fazer profissional e de estabelecimento de histó- ricas dicotomias sujeito x objeto, mente x corpo, ainda presentes na Psicologia geral, quiçá na Psicologia do Esporte. Como ressalta Luccas (2000), sem desprezar a importância da técnica, é preciso desenvolver uma prática que leve em consideração a crítica sobre sua própria prática, ou seja, que reflita sobre si mesma, como também é preciso que se leve em consideração o contexto econômico, político e social que envolve a sua atuação. Fora desse aspecto, para o autor, a atuação profissional não é uma atuação ética. A preparação psicológica de atletas em contextos competitivos, tratadas muitas vezes de forma dissociada do contexto social ao qual o(a) atleta ou equipe estão inseri- dos, precisa ser aliada não apenas e unicamente ao rendimentos desses(as) atletas, mas também aos seus interesses pessoais, bem como a outros interesses envolvidos, como dos técnicos, do clube, patrocinadores, o que muitas vezes não tem sido considerado pela Psicologia do Esporte e fazendo com que o psicólogo desempenhe um papel de mediador em meio a tantos interesses diversos. 34UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética Tendo em vista essa problemática, Rubio (2007) vai defender uma ampliação do olhar da psicologia do esporte, muitas vezes focada no desenvolvimento de habilidades individuais, para a compreensão desse complexo de relações que envolve o esporte como um fenômeno social culturalmente determinado. Desse modo, como vimos também na primeira unidade, a autora defende a perspectiva de uma Psicologia Social do Esporte, considerando que toda psicologia é social, sem que seja reduzida a Psicologia Social. Essa perspectiva traz para o bojo do debate o entendimento sobre o desenvolvimen- to do esporte e as suas configurações atuais como um fenômeno social relevante, que vai reproduzir e influenciar os valores da sociedade ao qual está inserido. Um exemplo dessa dinâmica é a busca incessante por rendimento e produtividade e a transformação de atletas e equipes em “produtos” comerciais, revelando a dinâmica capitalista da sociedade e sua busca por lucro em qualquer contexto. Desse modo, “o espaço esportivo foi transformado em um setor da vida econômica e em uma área de consumo muito importante e dinâmica” (RUBIO, 2007, p. 311). Tendo em vista essas considerações, temos um conceito importante na área espor- tiva que é o “fair play”, que num sentido literal significa “conduta ética”. De acordo com Rubio (2007), esse conceito passou a integrar o contexto esportivo a partir do final do século XIX, e se refere, de maneira geral, a princípios éticos que regem a prática de atletas e demais envolvidos com o esporte. Essa noção foi atribuída por Pierre de Coubertin, o fundador dos jogos olímpicos modernos, que também atribuiu uma conotação de cavalheirismo ao conceito. No entanto, apesar de ser um termo usado largamente no esporte, ainda carece de maiores elucidações, no sentido de desvelar o que de fato significa, como também, as diferentes interpretações que podem aparecer, a depender das perspectivas individuais, culturais e sociais, o que confere, na maioria das vezes, um caráter subjetivo, já que se referem a valores éticos e morais construídos socialmente. Um outro aspecto que vale a pena ser ressaltado,é que, principalmente no tra- balho com atletas de alto rendimento, muitas vezes, o(a) psicólogo(a) tem maior contato com meios de comunicação social e é necessário que se resguarde os aspectos éticos segundo o recomendado pelo Código de Ética Profissional, que em seu artigo 2º, alínea Q, preconiza ser vedado ao psicólogo(a) “Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações” Sendo permitido o uso desses meios de comunicação zelando “para que as informações prestadas disseminem o conhecimento a respeito das 35UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética atribuições, da base científica e do papel social da profissão” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005, p. 11-15). Levando em conta essas considerações, é importante considerar que o(a) psicólo- go(o) do esporte atua em um ambiente extremamente complexo e tem sido chamado(o) a intervir nesse ambiente. O esporte se constitui hoje num fenômeno de grande importância social que tem se transformado no decorrer do tempo, ganhando amplitude e se profissio- nalizando. Isso implica no fazer profissional do(o) psicólogo(a) do esporte que precisa lidar com diversos fatores, não apenas individuais do(a) atleta, como também fatores externos que não só influenciam, mas compõem a prática esportiva. O que torna imprescindível uma atuação crítica, comprometida e ética. 36UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética 3. QUESTÕES PARA A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO ESPORTE O título deste tópico foi inspirado no texto elaborado pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo CRP-SP, publicado no ano de 2000, enfeixado no livro Psicologia do Esporte organizado por Katia Rubio, que como você deve ter observado pelo número de citações e referências ao longo da nossa unidade e módulos, é uma das principais re- ferências no campo da Psicologia do Esporte no Brasil e dos estudos olímpicos no mundo. Tendo o presente texto como referência, o processo de avaliação psicológica é também conhecido como situação de psicodiagnóstico. Ao se tratar do contexto esportivo, logicamente a avaliação psicológica está dirigida a prática esportiva, ao mesmo passo que ocorre com o psicodiagnóstico esportivo, que nessa perspectiva, corresponde ao levan- tamento dos aspectos psicológicos do atleta ou da relação do mesmo com a modalidade esportiva escolhida (COZAC, 2004). Nesse sentido, o objetivo geral do psicólogo do esporte na investigação diagnós- tica é “determinar o nível de desenvolvimento de funções e capacidades do atleta com a finalidade de prognosticar os resultados esportivos.” (COMISSÃO DE ESPORTE DO CON- SELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2000, p. 155). A importância de seu objetivo é tamanha, que autores como Fleury (2002) apontam para o trabalho de avaliação psicológica como a primeira etapa do profissional de psicologia na área da Psicologia do Esporte. 37UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética Isto posto, o diagnóstico psicológico, ou o psicodiagnóstico, tendo como foco o esporte de alto rendimento, tem por finalidade avaliar, as características de personalidade do atleta, o nível de seus processos psíquicos, os estados emocionais situacionais do treinamento e da competição, e as relações interpessoais do atleta de alto rendimento em relação a sua equipe esportista (COMISSÃO DE ESPORTE DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2000). Dessa forma, o método utilizado para a avaliação na qual o psicodiagnóstico está orientado, tem como horizonte os aspectos psicológicos em sua dimensão cognitiva, psi- cossocial e emocional. Sobre essa última assertiva, a Comissão de Esporte do Conselho Regional de Psicologia De São Paulo (2000, p. 156) considera que: Os métodos utilizados para esse fim podem ser tanto da categoria de análise de particularidades de processos psíquicos nos quais se enquadram os pro- cessos sensórios, sensórios-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de ordem psicossociais nos quais são estudadas as particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua dinâmica. Nesse sentido, os métodos de avaliação da Psicologia do esporte, correspondem aos mesmos princípios e atendem às mesmas particularidades da Psicologia, como já foi mencionado no tópico anterior. Segundo a resolução do CFP nº007/2003 a avaliação psicológica é definida como processo científico-técnico, voltado para as relações entre indivíduo e sociedade, a fim de compreender as características psicológicas que surgem daí (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003). Garcia e Borsa (2016, p. 1552) na realização de uma pesquisa científica sobre a prática da avaliação psicológica em contextos esportivos descrevem um programa de ava- liação psicológica fundamentada em Fleury que estabelece como foco a investigação das características dos esportistas, os requisitos técnicos do esporte e os objetivos específicos da atividade de treino. Posto isto, Garcia e Borsa (2016, p. 1552) reafirmam, a partir de um referencial teórico amplo e consistente, que o processo de avaliação psicológica em contexto esportivo tem como alicerce “as entrevistas, a aplicação de questionários, a observação sistemática de treinos e jogos e, com ressalvas a aplicação de testes psicológicos.” Diante o exposto a partir do pressuposto da Psicologia do Esporte, como uma especialidade da ciência psicológica, regulamentada no Brasil no ano de 1962, em inter- secção com a educação física e com as ciências do esporte, a carência do referencial teórico e prático da Psicologia do Esporte evidencia algumas questões fundamentais e problemáticas incontornáveis para a compreensão do processo de avaliação psicológica 38UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética na Psicologia do Esporte desenvolvida no Brasil. Discussão esta, a ser desbravada por nós nas seções subsequentes, muito bem acompanhados(as) das referências do campo. O primeiro deles reside no uso de instrumentos de avaliação psicológica de outras áreas da Psicologia, mais precisamente a clínica e a educacional, aplicadas ao contexto próprio do campo de atuação da Psicologia do Esporte. Concomitante a esse, outra questão para a temática da avaliação psicológica em situação esportiva se dá no uso de instrumen- tos de avaliação psicológica importados de outros países, como dos Estados Unidos, de países Europeus e da Rússia, cada qual com sua realidade histórica, social, econômica, política, racial diferente da realidade brasileira. No primeiro caso, significa dizer que, percebida a limitação do uso dos testes exclu- sivos aos psicólogos(as) de formação, adaptados de outras áreas para a avaliação de atle- tas de alto rendimento, em contrapartida, notada essa inadequação, tão logo a necessidade de instrumentos com as mais diversas finalidades e voltados para o contexto esportivo, profissionais de outras áreas e campos profissionais desenvolveram muitas ferramentas para a avaliação dos atletas. O que, ainda, de acordo com o texto: [...] traz algumas consequências, às vezes desastrosas, uma vez que todo procedimento diagnóstico envolve aproximação, análise e devolutiva ao inte- ressado, e a efetividade desse processo reside na postura que o profissional envolvido tem diante dos resultados obtidos. Em outras palavras, investiga- dores, professores e profissionais envolvidos em avaliação psicológica são unânimes em afirmar que um único teste não é definitivo, nem categórico ou final. Ele registra o momento em que a pessoa avaliada passa, e, sendo o ser humano dinâmico e mutável, essa avaliação também pode sofrer trans- formações [...] (COMISSÃO DE ESPORTE DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃOPAULO, 2000, p. 157). Já no caso da segunda problemática apontada, que diz respeito a importação de instrumentos estrangeiros, há primeiro de se reconhecer e considerar o acúmulo e produção de conhecimento científico na área da Psicologia do Esporte, produzido ao longo dos anos com referencial teórico e metodológico próprio, atendendo assim às diferentes demandas, para as diferentes temáticas base para a Psicologia do Esporte: personalidade, motivação, confiança, ansiedade, atenção, etc. (COMISSÃO DE ESPORTE DO CONSELHO REGIO- NAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2000, p. 157). No entanto, cabe assinalar, em total acordo com o referido texto, que para aplica- ção desses testes no Brasil com o mesmo êxito e eficácia que tiveram em seus respectivos países é fundamental que “passem por uma adaptação à população brasileira. O processo de adaptação refere-se desde às especificidades da população até aspectos socioculturais mais gerais”, pois corremos o risco ao apenas traduzi-los e aplicá-los sem adaptá-los à 39UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética nossa realidade, de enquanto profissionais, colocarmos em “risco a carreira desses atleta ou sua manutenção na equipe, pela falta de um perfil desejado para a posição ou função ocupada” (COMISSÃO DE ESPORTE DO CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2000, p. 157). Em concordância com Garcia e Borsa (2016) cabe assinalar, um fator que vem dificultando a compreensão do processo de avaliação do psicólogo(a) na área esportiva: a diferenciação da testagem psicológica e dos testes psicológicos, da avaliação psicoló- gica. Segundo a cartilha elaborada pelo CFP (2013, p. 13) “a avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações provenientes de diversas fontes, dentre elas testes, entrevistas, observações e análise de documentos”. Ou seja, a avaliação psicológica, pode ser composta ou não pela testagem psicológica e de testes psicológicos, dentre outras fontes de informação. Já a testagem psicológica “pode ser considerada um processo diferente, cuja principal fonte de informação são os testes psicológicos de diferen- tes tipos.” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2003, p. 13). Como dito anteriormente, vale mais uma vez ressaltar que a depender de sua finalidade, a realização da avaliação psicológica, na interpretação dos dados colhidos, pode contribuir positivamente na carreira do atleta, tendo em vista sua avaliação, como pode também contribuir para a exclusão do atleta do contexto esportivo, se levarmos em consideração o procedimento da devolutiva dos resultados, como o encaminhamento dos resultados para a comissão técnica responsável. Na pesquisa de Garcia e Borsa (2016, p. 1552), citada anteriormente, foi utiliza- do de um questionário semidirigido para 6 (seis) profissionais brasileiros(as) atuantes no campo da psicologia do esporte, com o objetivo de “analisar como a avaliação psicológica está sendo conduzida em contextos esportivos, mais especificamente na fase inicial de um trabalho de acompanhamento psicológico de atletas ou equipes desportivas”. Para apresen- tação dos resultados de pesquisa construíram uma tabela contendo os testes psicológicos mencionados pelos participantes da referida pesquisa, com o nome do teste, seu objetivo, e a situação do parecer do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI). Certamente, se tal tabela, como resultado de pesquisa não nos serve para termos conhecimento de todos os testes psicológicos possíveis aplicados no contexto do esporte, de acordo com o SATEPSI nos ajuda a conhecer alguns dos testes favoráveis ou não, frequentemente requisitados para a testagem, como instrumento do processo de avaliação psicológica e como instrumento voltado para o contexto esportivo, desenvolvido para ava- liação dos atletas. De todo modo, Vieira et. al. (2008), recomenda a implementação de um programa de psicologia aplicada ao esporte seguindo um total de quatro etapas: primeiro o contato inicial; depois a avaliação psicodiagnóstica; em terceiro lugar o programa de intervenção e; por fim avaliação dos resultados, tema referente ao nosso próximo e último tópico. 40UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética 4. A PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO ESPORTIVO Como já trabalhamos, o desenvolvimento da Psicologia do Esporte como uma especialidade da Psicologia – como aqui estamos abordando, entendendo que existem outras compreensões e práticas de trabalho – exige o aprimoramento de métodos e técni- cas ligadas a esse campo de atuação e pesquisa. Dentro disso, temos o desenvolvimento de diversas práticas ligadas a preparação psicológica, principalmente no esporte de alto rendimento, que é onde se tem uma maior abordagem. Tendo em vista essa perspectiva, Markunas (2010, p. 33) destaca que existem duas tendências dentro da Psicologia do Esporte que vão abordar a relação do sujeito com o esporte, sendo [...] uma relacionada às características, traços, processos, estados e quali- dades psicológicas no esporte (como ansiedade, estresse competitivo, es- tratégias de coping, etc.) e outra relacionada à prática esportiva no que diz respeito às características da modalidade, seu modo de ensinamento e trei- namento, evidenciando suas demandas e exigências psicológicas, o que, por sua vez, explicita a interdependência da preparação psicológica e do treina- mento esportivo. Nesse sentido, podemos inferir que o treinamento dentro do contexto esportivo, se refere a maximização dos rendimentos do(a) atleta ou equipe, através de um planejamento sistemático, com um objetivo determinado e dentro de um período específico de acordo com as necessidades do(a) atleta. Sobre esse último aspecto – do período específico – é chamado na literatura de “periodização” (BARBANTI, 1979; BOMPA, 1999; etc.) no qual, é 41UNIDADE II O Trabalho Profissional do(a) Psicólogo(a) do Esporte e sua Dimensão Ética efinido um ciclo de treinamento próprio para o contexto, buscando os melhores resultados possíveis. É em meio a todo esse enredo que se encontra a Psicologia. Esta, por sua vez, com- põe todo o processo de preparação da pessoa praticante de esporte competitivo. É possível compreender, portanto, que “todo componente físico, técnico e tático da ação esportiva tenha um correlato psicológico, o que acarreta na possibilidade de treinamento de diversas habilidades psicológicas” para potencializar a produtividade, conforme as características e capacidades de cada atleta (MARKUNAS, 2010, p. 35). No que diz respeito ao componente físico, este, de acordo com a autora, correspon- de ao grau de conscientização que o sujeito tem sobre a ação realizada no sentido de obter resultados satisfatórios, já os componentes técnico e tático dependeria da conformação das técnicas utilizadas, bem como, da conformação do próprio esporte, já que demanda estratégias e táticas diferenciadas. Este último – o componente tático – envolve um plano prévio, mas que também demanda capacidade e preparação psicológica do(a) atleta para adaptar esse plano à situação, já que esta é dinâmica. Levando em conta essas considerações, é importante ressaltar que a preparação psicológica aplicada ao contexto esportivo se relaciona direta e intrinsecamente com o pro- cesso de treinamento. De tal modo que deve acompanhar toda a vida do(a) esportista, não sendo compreendida, em hipótese alguma, fora do treinamento desportivo. Dessa forma, o(a) psicólogo(a) do esporte precisa “conhecer e manejar a teoria do treinamento esportivo, estabelecendo em parceria com os diversos profissionais envolvidos no processo, as for- mas e possibilidades de intervenção” (MARKUNAS, 2010, p. 38). Pudemos perceber que, segundo a perspectiva que adotamos neste trabalho, ape- sar de se ter na literatura diversas compreensões, entendemos a preparação psicológica tal qual abordada por
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