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Direitos Humanos Direitos Humanos e saúde mental - Curso permanente Damião Ximenes Lopes Enap, 2023 Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF Fundação Escola Nacional de Administração Pública Diretoria de Desenvolvimento Profissional Conteudista/s Ana Raquel Torres Menezes (Conteudista, 2023). Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO 3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Sumário Módulo 1 – Introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos 1. Direitos humanos ................................................................................................ 6 1.1. Conceito de direitos humanos ................................................................................ 6 1.2. Histórico dos direitos humanos ............................................................................ 13 1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais ......................................................... 21 2. Dimensões dos Direitos Humanos ................................................................... 26 2.1. Direitos civis e políticos ........................................................................................... 26 2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais ............................................................... 30 3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos Humanos .................................................................................................. 36 3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .............................................. 36 3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos ..................................................................... 41 3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos ................................................... 48 3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos ............................................................... 58 3.5. Conclusão ................................................................................................................. 61 Módulo 2 – Saúde e Direitos Humanos 1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde ...................63 1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde ........ 65 1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos direitos humanos ............................................................................................................ 69 1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde .................... 72 2. Direito à saúde ................................................................................................... 78 2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento .................................. 78 2.2. Direito à saúde mental ........................................................................................... 88 3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde ................93 3.1. Direito à privacidade .............................................................................................. 93 3.2. Direito de não ser discriminado ............................................................................ 98 4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante ........................................................................................... 100 3.4. Direito à liberdade ................................................................................................. 104 3.5. Conclusão ............................................................................................................... 108 Módulo 3 – Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde 1. Direitos humanos no contexto da saúde mental.........................................109 1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU ....................................... 110 1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no contexto da saúde mental ........................................................................................... 122 1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e saúde mental .......................................................................................... 125 1.4. Quality Rights........................................................................................................... 132 Módulo 4 – Jurisprudência internacional sobre direitos humanos e saúde mental 1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos ................................................................................................ 142 1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU .............................................................. 142 1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos ..... 157 1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos ................. 160 1.4. Conclusão ............................................................................................................... 169 2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .......171 2.1. Caso Ximenes Lopes ............................................................................................ 171 2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental ....................................................... 180 2.3. Conclusão ............................................................................................................... 185 Referências ........................................................................................................... 186 Glossário ............................................................................................................... 197 5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Olá! Desejamos boas-vindas ao curso Direitos Humanos e saúde mental – Curso permanente Damião Ximenes Lopes. Este curso tem o objetivo de apresentar os princípios e as normas de direitos humanos que devem reger os cuidados em saúde das pessoas com transtorno mental, bem como a sua aplicação, de modo a alcançar as melhores práticas estabelecidas com base nos padrões internacionais sobre a matéria. Desejamos um excelente estudo! 6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Módulo Introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos1 Olá, estudante! Neste primeiro módulo, abordaremos os conceitos de direitos humanos e sua perspectiva histórica e reconheceremos as dimensões dos direitos humanos, que englobam os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Por fim, vamos conhecer o Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos Humanos. 1. Direitos humanos Compreender o conceito de direitos humanos. 1.1. Conceito de direitos humanos 1.1.1. O que são direitos humanos? De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os direitos humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres humanos. Os direitos humanos orientam o modo como os seres humanos vivem em sociedade e entre si, assim como a relação deles com o Estado. Além disso, esses direitos determinam obrigações do Estado em relação aos indivíduos. Os direitos humanos são direitos que temos simplesmente por existirmos enquanto seres humanos. Eles são inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua origem nacional ou étnica, nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, idioma ou qualquer outro “status”. 7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Os direitos à vida, à alimentação adequada, à educação, ao trabalho, à saúde e à liberdade são alguns exemplos de direitos humanos. Figura 1 - Direito à vida Figura 2 - Direito à alimentação adequadaFigura 3 - Direito à educação Figura 4 - Direito ao trabalho Figura 5 - Direito à saúde Figura 6 - Direito à liberdade Fonte: https://www.flaticon.com/br Uma característica importante dos direitos humanos é a sua essência ética. Além desse aspecto, esses direitos são normas jurídicas estabelecidas em diferentes fontes de direito internacional. Assim, pode-se dizer que os direitos em questão são demandas sociais que buscam realizar bens éticos que permitem que os indivíduos desfrutem de uma vida digna, e que sejam reconhecidos pela sociedade. Os direitos humanos desempenham a função de concretizar a dignidade humana para que todos os seres humanos possam desenvolver suas capacidades pessoais. 1.1.2. Quais são as características dos direitos humanos? O conceito adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) atribui aos direitos humanos as seguintes características: https://www.flaticon.com/br 8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 7 - Características dos direitos humanos Fonte: elaborada pela autora. O conceito de direitos humanos pode ser aplicado ao âmbito da saúde da seguinte forma: Na esfera da saúde, todos os pacientes, independentemente do status pessoal e da relação travada com o profissional de saúde ou o provedor privado de saúde, ou seja, se de consumo ou de usuário de serviço público, são detentores de direitos humanos, o que, obviamente, os diferencia dos direitos do consumidor, que pressupõe a existência de uma relação de consumo (ALBUQUERQUE, 2016, p. 27). 9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 8 - Direitos humanos e saúde Fonte: “A young patient has his vital signs checked” by World Bank Photo Collection is licensed under CC BY-NC-ND 2.0. To view a copy of this license, visit https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse. 1.1.3. Conteúdo dos direitos humanos Conforme você viu anteriormente, os direitos humanos consistem em normas jurídicas com essência ética que se encontram em diferentes fontes de direito internacional. Assim, entendemos que esses direitos possuem duplo conteúdo: ético e jurídico. Se não estiverem presentes em dispositivos legais internacionais, os enunciados serão apenas exigências éticas, sem configurar direitos. Sobre isso, é importante destacar que apenas fontes de direito internacional podem originar direitos humanos: normas constitucionais ou leis nacionais não geram direitos humanos. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse 10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 9 –Duplo conteúdo dos direitos humanos Fonte: elaborada pela autora. Conforme falamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em documentos jurídicos internacionais. Porém, no que diz respeito ao texto, a forma como esses direitos estão descritos nos referidos documentos é relativamente vaga. Por esse motivo, é necessário pormenorizar o conteúdo dos direitos humanos para que possam ser aplicados. A jurisprudência internacional é quem explora e demarca esse conteúdo. 1.1.4. Titulares e sujeitos de direitos humanos Os titulares de direitos humanos são os indivíduos (ou grupos de indivíduos) que podem exigir do Estado e de seus agentes que seus direitos humanos sejam respeitados, protegidos e colocados em prática. Quando um titular do direito humano tem uma demanda, existe do outro lado o sujeito responsável por atender a essa exigência, que é o Estado. O Estado é o sujeito que tem obrigações para com os indivíduos no plano do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Por esse motivo, a relação de direitos humanos se estabelece exclusivamente entre o Estado e os indivíduos. 11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 10 - Titulares e sujeitos de direitos humanos Fonte: elaborada pela autora. Como exemplo, temos a importante situação da primeira condenação do Brasil no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no caso Ximenes Lopes vs. Brasil (2006): O Sr. Damião Ximenes Lopes foi internado na Casa de Repouso Guararapes em outubro de 1999. A Casa era um centro de atendimento psiquiátrico privado que operava no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em Sobral, Ceará. O Sr. Ximenes Lopes veio a falecer na Casa de Repouso três dias após a sua internação. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) entendeu que o Sr. Damião Ximenes Lopes foi submetido a condições desumanas e degradantes durante sua hospitalização, tendo sofrido violação da sua integridade pessoal por parte dos funcionários da Casa de Repouso Guararapes. Como falamos acima, no âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, o Estado é quem tem obrigações para com os indivíduos. Sendo assim, a Corte IDH estabeleceu, no caso Ximenes Lopes vs. Brasil, que os Estados têm o dever de garantir atendimento médico eficaz aos pacientes com transtorno mental. Ademais, ressaltou, entre outros aspectos, que o lugar e as condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem estar de acordo com o respeito à dignidade humana. Segundo a Corte, o Estado brasileiro violou, com relação ao Sr. Damião Ximenes Lopes, o direito de não ser torturado ou submetido a pena ou tratamento desumano ou degradante, que é um direito absoluto. O Estado é o sujeito da obrigação 12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública de atender à demanda de direitos humanos e, portanto, é ele quem tem o dever de alocar recursos suficientes para satisfazer às necessidades básicas dos pacientes e de mover a máquina administrativa no sentido de implantar políticas, programas e legislações que evitem a prática de tais condutas por parte dos profissionais da saúde. Por esse motivo, o Estado (e não os profissionais da saúde envolvidos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil) foi punido no âmbito internacional: ele é o responsável por assegurar o cumprimento dos direitos humanos com relação aos seus indivíduos. Sobre isso, citamos o seguinte trecho do livro “Direitos Humanos dos Pacientes”, da especialista e pós-doutora em Direitos Humanos Aline Albuquerque: Na esfera dos cuidados em saúde, a responsabilização internacional pela violação dos direitos humanos recairá sobre o Estado e não sobre os profissionais da saúde, embora a prática do ato violador possa ter sido efetivada pelos últimos. Sendo assim, o Estado tem o dever de adotar medidas legislativas, administrativas ou de outra natureza que impeçam a violação dos direitos humanos dos pacientes. Contudo, se a despeito de tais medidas, houver o desrespeito a determinado direito humano, o Estado não pode permanecer passivo, pois tem o dever de prover os remédios legais efetivos ao paciente para reparar a violação ocorrida, assegurando a reparação do dano e a responsabilização dos agentes violadores com base na legislação nacional. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 27) É importante esclarecer que as relações entre os indivíduos, entre estes e entidades privadas e as relações entre Estados não constituem relações de direitos humanos: 13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 11 - Não são relações de direitos humanos Fonte: elaborado pela autora 1.2. Histórico dos direitos humanos 1.2.1. Introdução Estudaremos a seguir alguns fatos relevantes na história dos direitos humanos e como se deu a evolução desses direitos ao longo do tempo por meio de diferentes documentos. O estudo da história está dividido por séculos, para facilitar a compreensão do todo. 1.2.2. Antes do século XVIII Durante a idade média, a concepção sobre a igualdade dos seres humanos era fundada em concepções religiosas. A nobreza possuía maior status moral do que o chamado Terceiro Estado, o poder político era ilimitado e a relação política da época era desigual, pois um dos sujeitos da relação se encontrava “no alto”, enquanto o outro estava “em baixo”. Os seguintes documentos desse período são considerados importantespara os direitos humanos. + Carta Magna da Inglaterra (1215) A assinatura da Carta Magna da Inglaterra, em 1215, trouxe importantes avanços no que diz respeito à limitação do poder político. A Carta foi uma reação aos excessos cometidos pelo Rei João no exercício dos seus direitos feudais e estabeleceu limitações à sua autoridade. + Bill of Rights britânica (Carta de Direitos de 1689) Ainda no sentido de limitação do poder, a Bill of Rights, de 1689, estabeleceu importantes direitos e liberdades. Entre eles, os princípios de eleições livres e de 14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública liberdade de expressão no parlamento, bem como a proibição de tributar sem a aprovação do parlamento, o tratamento justo perante as cortes e os direitos de petição. Porém, é preciso observar que os avanços promovidos pela Carta de Direitos, embora representassem importante evolução de direitos humanos, ainda precisariam ser aprimorados ao longo do tempo: Embora a Bill of Rights britânica de 1689 proibisse expressamente o castigo cruel, os juízes ainda sentenciavam os criminosos ao pode dos açoites, ao banco dos afogamentos, ao tronco, ao pelourinho, ao ferro de marcar, a execução por arrastamento e esquartejamento [...] ou, para as mulheres, arrastamento, esquartejamento e morte na fogueira (HUNT, 2009, p. 77). 1.2.3. Século XVIII No século XVIII, surgem as primeiras declarações que estabelecem direitos que posteriormente seriam reconhecidos como direitos humanos. Foi a primeira vez que as ideias liberais foram afirmadas na história, e isso permitiu que os direitos humanos fossem reconhecidos em instrumentos normativos dos Estados Unidos da América e da França, que podem ser considerados marcos jurídicos. Nesse ponto, é importante que você entenda que os direitos humanos surgiram com base em uma teoria de direitos naturais. A teoria dos direitos naturais é uma ideia central da filosofia política e ética que sustenta que certos direitos são inerentes à natureza humana e, portanto, são universais, inalienáveis e inerentes a todas as pessoas. Essa teoria foi fundamental para a formulação dos direitos humanos, uma vez que os direitos humanos são considerados como direitos naturais que todas as pessoas possuem simplesmente por serem humanas. A teoria dos direitos naturais sustenta que todos os seres humanos possuem direitos fundamentais, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à dignidade. Esses direitos são considerados universais, ou seja, são aplicáveis a todas as pessoas, independentemente de nacionalidade, raça, gênero, 15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública orientação sexual, religião ou de qualquer outra característica individual. Os direitos humanos são uma aplicação prática dessa teoria, buscando garantir a dignidade e a liberdade de todos os seres humanos. Os direitos previstos nos documentos de direitos humanos do século XVIII previam a existência de direitos baseados em preceitos não religiosos. A ideia mais revolucionária do século XVIII para os direitos humanos é a de que todas as pessoas possuem direitos inatos, ou seja, nascem com direitos que devem ser reconhecidos pela associação política ou Estado. [...] Sendo assim, o século XVIII caracterizou- se pelo reconhecimento de uma esfera de liberdade pessoal na qual a associação política ou o Estado não poderia adentrar, logo, o indivíduo passa não apenas a ter deveres para com a autoridade, mas também a ter direitos, que devem ser por esses respeitados. (ALBUQUERQUE, 2021, p. 11) Na era moderna, verifica-se a ascensão dos ideais de liberdade, de direito à propriedade privada e de rejeição do poder total e centralizador. Esses ideais influenciaram revoluções como a inglesa, a francesa e a haitiana. É importante destacar que, embora tenha havido grande avanço em prol dos direitos humanos no século XVIII, a afirmação de direitos inatos não abrangeu todas as pessoas: mulheres, escravos, minorias religiosas, crianças, pessoas com deficiência e privadas de liberdade não foram abarcados. Esse progresso somente seria alcançado nos séculos seguintes. A seguir, você verá os principais documentos relacionados aos direitos humanos que foram implementados no século XVIII, bem como as inovações trazidas por eles. + Documentos dos Estados Unidos da América (1776) A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) foi o primeiro documento que declarou a liberdade de todos os cidadãos. Esse documento rechaçou a monarquia, reconhecendo a proteção dos direitos à liberdade, à vida e à busca pela liberdade. Veja um trecho da declaração a seguir: 16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública “Nós consideramos essas verdades como auto evidentes, que todos os homens foram criados iguais, que eles são dotados de Direitos inalienáveis pelo Criador, dentre eles a vida, a liberdade e a busca pela felicidade. Para assegurar esses direitos, os Governos são instituídos pelos homens, derivando seu justo poder do consentimento dos governados.” (OS TREZE ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,1776, p. 2) Essa Declaração foi profundamente influenciada pela Declaração de Direitos da Virgínia (1776), que contemplava uma série de direitos considerados inatos, como o direito à vida, à segurança, à liberdade, à liberdade de imprensa e de religião, e o direito a instituir um novo governo no caso de o governo vigente fracassar em seu dever de garantir a segurança pessoal. Com relação às Declarações de Independência e de Direitos da Virgínia (ambas de 1776), é importante mencionar ainda a Constituição dos Estados Unidos (1787), em que foi introduzida a teoria de Montesquieu sobre a separação dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa divisão de Poderes é essencial para que sejam asseguradas as liberdades políticas e alguns direitos humanos. + Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) A independência dos Estados Unidos exerceu grande influência sobre os membros do Terceiro Estado francês. Cansados dos abusos e da corrupção do regime político vigente, esse setor da sociedade passou a reivindicar seus direitos. Assim, podemos afirmar que existe inegável influência da Declaração de Independência dos Estados Unidos sobre a Declaração francesa, aprovada em 1789. É importante destacar que, nesse período, ocorreu a Revolução Francesa. Considerada a mais importante das revoluções liberais, a Revolução Francesa teve como lema os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Com acontecimentos anteriores, como as expedições marítimas e a emergência de uma classe média revolucionária, criou-se um ambiente propício para que se contestasse a divisão da sociedade. À época, esta se dividia entre indivíduos com título de nobreza e pessoas que não os possuíam, sendo a ideia dominante a de que nobres detinham um status moral superior. A Revolução Francesa culminou na criação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. “A Declaração consiste em um dos documentos de direitos humanos mais relevantes do século XVIII, abarcando conceitos de lei universal, igualdade entre cidadãos e a soberania coletiva dos indivíduos. A Declaração francesa desencadeou um movimento forte em torno 17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública das ideias liberais que sustentavam os direitos do indivíduo e impulsionou a utilização da linguagem dos direitos.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 11) Assim, algumas das principais inovações trazidas pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão são: - atribuição da soberania aos indivíduos, e não ao rei; - rechaço à ideia de privilégios para a ocupação de cargos públicos; e - introdução da meritocracia, na medida em que estabelecia que “todos são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos”. 1.2.4. Direitos humanosno século XIX Alguns acontecimentos importantes no século XIX foram: • a queda de Napoleão na batalha de Waterloo; • o clima repressivo do Congresso de Viena; • a Revolução Industrial; e • a escravidão. Em termos de direitos humanos, o século XIX foi marcado pela busca por direitos no trabalho, acesso universal à educação, abolição da escravidão e maior expansão do direito ao voto. Vamos agora falar sobre os movimentos sociais que aconteceram na Europa nesse século e que foram fundamentais para o reconhecimento de novos direitos humanos. Entre os movimentos sociais do século XIX, destacam-se o socialista e o antiescravagista. Esses movimentos apoiaram a luta das mulheres por direitos sociais e políticos, denunciaram a situação das crianças nas fábricas e reivindicaram o direito de todas as crianças à educação pública e o direito de trabalhar em condições seguras, além da redução das horas diárias de trabalho. Nesse sentido, cabe mencionar a Comuna de Paris, que consistiu em um levante popular ocorrido na cidade francesa durante um período de dois meses, entre 18 de março e 21 de maio de 1871. Cidadãos provenientes das classes mais baixas de Paris se uniram em uma mobilização política para manifestar-se contra a crise social e política que afetava a França naquele momento. Em 1871, a Comuna liderou uma reivindicação por melhores condições de trabalho e desafiou o poderio econômico e político dos burgueses, aristocratas e clérigos. Embora tenha sido derrotada, a Comuna de Paris inspirou a luta por direitos relacionados ao trabalho em toda a Europa e nos Estados Unidos. 18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Ainda no século XIX, a Revolução Industrial provocou o deslocamento de pessoas do meio rural para as cidades, gerando condições desumanas de habitação e trabalho. As lutas dos trabalhadores por direitos levaram à promulgação de leis que proibiram o trabalho infantil e limitaram as horas trabalhadas. A conquista de direitos trabalhistas e de seguridade social foi criticada por defensores do livre mercado, mas a questão da pobreza tornou-se central no final do século XIX, o que levou ao reconhecimento de direitos sociais e ao entendimento de que o Estado deveria atuar em prol da proteção dos trabalhadores. Nesse ponto, podemos destacar o reconhecimento do direito à saúde, que teve origem no liberalismo social da América Latina e de lutas políticas locais. O direito à saúde tem suas raízes na perspectiva latino-americana de direitos humanos, que se baseia em ideias católicas que enfatizam a dignidade humana. A Constituição do México, de 1917, foi a primeira a incluir os direitos sociais, inclusive o direito das mulheres à atenção médica e obstétrica, assim como a obrigação do Estado de adotar medidas preventivas de saúde. Embora essa experiência latino-americana seja significativa, o reconhecimento do direito à saúde como um direito humano no plano internacional se deve à Primeira Guerra Mundial e ao papel da saúde na manutenção da paz global. Durante o século XIX, a abolição da escravatura foi uma das questões mais importantes dos direitos humanos. Portugal aboliu a escravatura, em 1761, apenas na Metrópole e em suas colônias nas Índias. A Grã-Bretanha proibiu o tráfico de escravos em suas colônias, em 1807, e aprovou a Lei da Abolição, em 1833. A lei britânica teve impacto na América Latina, onde a escravidão foi abolida em vários países, como: Venezuela, em 1810; Argentina, em 1812; Chile, em 1823; México, em 1829; Peru, em 1854; Cuba, em 1880; e Brasil, em 1888. Nos Estados Unidos, a escravidão foi mantida na Constituição, em razão dos interesses dos proprietários de fazendas do sul. Um tribunal na Carolina do Sul decidiu que as escravas não tinham direitos legais sobre seus filhos, o que permitia que as crianças fossem vendidas e separadas de suas mães a qualquer momento. Organizações internacionais, como a Sociedade Contra Escravidão, empreenderam esforços para obstruir o comércio de escravos no Atlântico e proibir a escravidão nas colônias europeias e nos Estados Unidos. A Declaração Universal da Abolição do Comércio de Escravos, de 1815, foi o primeiro documento internacional contra a escravidão. Acordos bilaterais e multilaterais entre países também passaram a proibir o comércio de escravos e a escravidão. É importante destacar que o direito ao voto, conquistado no século anterior, era restrito ao homem branco proprietário ou detentor de determinada renda. No século XIX, a França foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal para homens, mas depois retomou os requisitos referentes à propriedade para o voto. Os socialistas defendiam a educação pública para todos como um direito social dos cidadãos e, no final do século XIX, acreditava-se que a educação pública seria importante para formar um eleitorado educado e mão de obra qualificada. O século XIX apresentou 19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública avanços em termos de direitos humanos, como a ampliação do direito ao voto, a abolição da escravatura e o reconhecimento de direitos trabalhistas e à educação pública. Entre os avanços relacionados aos direitos humanos no século XIX, inclui-se o surgimento do direito humanitário, com o objetivo de proteger a pessoa durante conflitos armados. Em 1859, Henri Dunant fundou o Comitê da Cruz Vermelha e, em 1864, foi adotada a Convenção para Aliviar a Condição dos Feridos das Forças Armadas em Campo, estabelecendo princípios como o auxílio aos feridos sem distinção de nacionalidade, a neutralidade do pessoal médico e dos estabelecimentos médicos, e o uso do símbolo da cruz vermelha sobre fundo branco. A partir do estudo de fatos históricos e de movimentos sociais do século XIX, podemos compreender o desenvolvimento dos direitos humanos ao longo do tempo. No final do século XVIII, a visão predominante dos direitos humanos enfatizava principalmente os direitos inatos das pessoas, sem levar em consideração as condições sociais e econômicas em que viviam. No entanto, o século XIX trouxe a ampliação dessa concepção de direitos humanos para incluir demandas por uma rede de proteção social para os mais vulneráveis, como trabalhadores, crianças e mulheres. Essa nova forma de liberalismo social propunha uma restrição da liberdade dos mais fortes para proteger os mais fracos. A seguir, você estudará importantes acontecimentos que provocaram o surgimento de novas perspectivas em direitos humanos no século XX. 1.2.5. Direitos humanos no século XX Veja, na animação a seguir, fatos e documentos do século XX que são considerados importantes para a história dos direitos humanos. Animação 1: Histórico dos direitos humanos – Século XX 1.2.6. Direitos humanos no século XXI A partir do século XX, verifica-se um movimento de limitação dos direitos humanos (ou até mesmo de supressão destes). Essa tendência pode ter sido causada por três fatores: + A guerra contra o terrorismo A partir de 11 de setembro de 2001, percebe-se um movimento negativo com relação aos direitos humanos e à democracia. Nesse sentido, pode-se dizer que https://youtu.be/12C7B-L_axQ 20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública os direitos humanos foram marginalizados por meio da aceitação de restrições de algumas liberdades individuais e do emprego de meios condenáveis por agentes estatais. Como exemplo, o Ato para Prover Instrumentos Exigidos para Interceptar e Obstruir o Ato Terrorista, assinado pelos Estados Unidos em 2001 (Ato Patriota), ampliou os poderes do Estado para que este pudesse realizar vigilâncias a pessoas suspeitas de praticar terrorismo. Esse Ato é questionado sob a perspectiva do direito à privacidade. + O avanço do neoliberalismo e a contestação do bem-estar social Nas últimas décadas do século XIX, a visão do Estado como violador dos direitos humanos ganhou ênfase. No século XXI, porém, passa-se a focar no papel do Estado como garantidor e protetor dos direitoshumanos. “O desmantelamento do estado do bem-estar social por meio de políticas liberais-econômicas coloca em risco os direitos à educação, saúde, trabalho e seguridade social. A realização de tais direitos pressupõe uma ambiência política especifica, de modo que o estado assegure para todos os indivíduos certos bens econômicos e sociais, serviços e oportunidades, independentemente do valor que o mercado confere ao seu trabalho.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 30) + A revolução digital A tecnologia digital pode gerar diversos benefícios para o avanço dos direitos humanos. Alguns desses benefícios são o empoderamento e a informação de grupos vulneráveis e a visibilidade dada a violações de direitos humanos. “Nesse sentido, a rede social pode promover o acesso à informação e facilitar debates globais, de modo a fomentar a democracia participativa. No entanto, o lado obscuro da rede social e sua potencialidade de causar graves danos aos indivíduos tem sido objeto dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 31) No que diz respeito ao direito à privacidade, a Assembleia Geral da ONU adotou, em 2013, a Resolução 68/167, em que expressa sua apreensão com o impacto negativo da vigilância e interceptação de comunicações. Nessa Resolução, a Assembleia encoraja os Estados a proteger e respeitar o direito à privacidade, inclusive no contexto da comunicação digital. 21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Outros desafios ao avanço dos direitos humanos no século XXI são os persistentes conflitos armados, o aumento e envelhecimento da população global, as questões ambientais e a questão dos refugiados. Para saber mais sobre a questão dos refugiados, você pode acessar o sítio eletrônico da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR): https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/. Conforme discutido, a evolução dos direitos humanos consiste em um caminho de conquistas que combina o reconhecimento gradativo de direitos com os movimentos sociais que ocorreram paralelamente a estes. Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos últimos séculos, ainda há um longo caminho a ser percorrido até que todas as pessoas tenham acesso a uma vida digna nos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais Conforme estudamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em fontes de direito internacional, porém com certa imprecisão textual, de forma abrangente e abstrata. Assim, o conteúdo desses direitos é explorado e definido pela jurisprudência internacional. Os direitos fundamentais, que conhecemos por estarem preceituados nas Constituições dos países, têm relação com os direitos humanos. Isso vale especialmente no que diz respeito à redação desses dois tipos de direitos, que muitas vezes é semelhante. Existem, porém, algumas diferenças entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, conforme pode ser visualizado no Quadro 1: Quadro 1 - Direitos Humanos e Direitos Fundamentais Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF) Órgão criador da norma Tratados e declarações de organismos internacionais Constituições dos Estados Demarcação de conceito (concretização da norma) Jurisprudência internacional – decisões de órgãos judiciais, quase judiciais e políticos Tribunais nacionais (jurisprudência nacional) https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/ 22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF) Órgãos de monitoramento do cumprimento do direito Sistemas de Direitos Humanos Não há órgãos específicos para o monitoramento, e sim instrumentos jurídicos. No Brasil, esse instrumento é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Mecanismos de monitoramento do cumprimento do direito Relatórios, inquéritos, comunicações entre Estados e comunicações individuais. Não há meios de monitoramento próprios. Medidas de reparação Medidas de reparação na íntegra, garantias de não repetição, satisfação, compensatórias e reabilitação. Não há medidas específicas. Impacto social Linguagem dos ativismos sociais, dos órgãos governamentais e das políticas públicas. Linguagem restrita à esfera jurídica. Fonte: Adaptado de Albuquerque, 2021, p. 79. No sistema jurídico brasileiro, os direitos fundamentais estão definidos nos artigos 5º a 17 da Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns exemplos de direitos fundamentais são os destacados a seguir: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988) 23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública No Quadro 2, visualizaremos algumas diferenças entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, utilizando o direito à saúde como exemplo: Quadro 2 - Direito à saúde Direito à Saúde Enquanto direito humano Enquanto direito fundamental Nome do direito Direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e mental Direito fundamental à saúde Em que norma está disposto esse direito? Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Art. 12) Constituição Federal (Arts. 6º e 196) Quem concretiza o conceito e as obrigações que esse direito gera? Comentário Geral nº 14, produzido pelo Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU Supremo Tribunal Federal Quem monitora o cumprimento desse direito? Sistema ONU de Direitos Humanos ADPF Fonte: elaborado pela autora. A própria CF diferencia os direitos humanos dos direitos fundamentais quando, ao se referir aos direitos humanos, trata-os como direitos conectados com a esfera internacional: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] II - Prevalência dos direitos humanos; (BRASIL, 1988, art. 4º) Ainda, ao abordar obrigações decorrentes de tratados (documentos internacionais), a CF faz referência aos direitos humanos, não aos direitos fundamentais: 24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...] V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; [...] § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (BRASIL, 1988, art. 109) Sendo assim, qual é a relação entre os direitos humanos e os direitos fundamentais? No âmbito nacional, os tribunais têm cada vez mais utilizado normas de direitos humanos como base para suas decisões. No contexto das Américas, a Corte IDH, corte suprema em termos de direitos humanos, definiu que suas decisões podem guiar as autoridades nacionais nas decisões de casos relacionados a direitos fundamentais. Ainda, a Corte IDH tem a autoridade para emitir pareceres consultivos sobre questões relacionadas aos direitos humanos que são protegidos pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos, bem como para avaliar a conformidade das leis nacionais dos Estados com esses mesmos direitos. Por outro lado, os Estados devem colocar em prática as decisões vinculantes da Corte que interpretarem e definirem as normas deproteção dos direitos humanos. 25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 12 - Relação entre direitos humanos e direitos fundamentais Fonte: elaborada pela autora. Sendo assim, pode-se dizer que as jurisdições internas e externas dialogam para que se possa conferir significado e conteúdo concreto aos enunciados de direitos humanos. Para saber mais sobre a história dos direitos humanos, acesse: https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos- direitos-humanos/. https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/ https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/ 26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 2. Dimensões dos Direitos Humanos Reconhecer as dimensões dos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais). Os direitos humanos podem ser classificados em dimensões, para fins didáticos: primeira, segunda e terceira dimensão. Esta unidade irá tratar apenas dos direitos de primeira e de segunda dimensão, pois os chamados direitos de terceira dimensão não estão estabelecidos de forma sólida nas normas dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos. Os direitos humanos passaram por um processo de amplo reconhecimento ao longo dos séculos. Para o autor Norberto Bobbio, esse processo de proliferação se deu de três maneiras: a. O aumento da quantidade de bens considerados merecedores da tutela jurídica. b. O reconhecimento de outros sujeitos de direitos humanos. Por exemplo, as mulheres, as pessoas com deficiência e as crianças só passaram a ser sujeitos de direitos humanos no século XX. Com o avanço dos direitos humanos, outros sujeitos foram reconhecidos, como pessoas com deficiência e pessoas privadas de liberdade. c. A atribuição de direitos humanos que derivam de outros existentes a sujeitos jurídicos particulares. Um exemplo dessa hipótese é o direito da criança de ser ouvida em decisões que lhe são afetas. Assim, percebemos que os direitos humanos que são atualmente reconhecidos nas normas internacionais apresentam características de grupos distintos. Eles derivam de um longo processo de lutas sociais e avanços nas sociedades e na comunidade internacional. 2.1. Direitos civis e políticos Os direitos civis e políticos são fruto desse contexto de desenvolvimento das burguesias europeias e da luta contra o Antigo Regime. Esses direitos se fundamentam em uma perspectiva individualista e liberal política de sociedade, que 27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública defende a limitação do poder estatal com base nos direitos do indivíduo. Alguns dos valores adotados pela perspectiva liberal política são as liberdades de: Figura 13 - Circulação Figura 14 - Crença Figura 15 - Expressão Figura 16 - Autodeterminação da própria vida Figura 17 - Autodeterminação do próprio corpo Fonte: https://www.flaticon.com Os direitos civis e políticos são também chamados de “direitos humanos clássicos” e de “direitos de liberdade”. Eles abarcam as chamadas liberdades negativas de religião, de opinião, de imprensa, de não ser torturado e de ter sua vida privada respeitada, ou seja, a liberdade de não sofrer interferência estatal nessas áreas. https://www.flaticon.com 28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 18 - Limite às liberdades individuais Fonte: Imagem elaborada pela autora. Os direitos civis e políticos possuem aplicação imediata. Isso quer dizer que, uma vez ratificada a normativa que prevê esses direitos, os Estados são obrigados a aplicá-los. Por exemplo, uma vez que o Brasil se comprometeu, por meio do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos adotado pela ONU em 1966, a não prender um indivíduo arbitrariamente, ele se torna imediatamente obrigado a cumprir essa determinação. Nesse ponto, os direitos civis e políticos se diferenciam dos direitos econômicos, sociais e culturais, pois estes demandam gastos públicos maiores para que possam ser implementados. Falaremos mais sobre esse assunto mais adiante. O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) estabelece, no Artigo 2.1, a aplicação imediata de todos os direitos nele previstos: Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer condição. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1966, Art. 2.1) 29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública A obrigação que esse artigo impõe tem, ao mesmo tempo, caráter positivo e negativo: O caráter positivo consiste na obrigação estatal de adotar medidas legislativas, judiciais, administrativas e outras para cumprir todas as obrigações decorrentes dos direitos civis e políticos previstos no Pacto. O negativo implica o dever de abster-se de violar qualquer um desses direitos, por exemplo, de impedir que alguma pessoa manifeste sua opinião sobre o governo, ou de prendê-la arbitrariamente. (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 110) O Quadro 3 apresenta exemplos de direitos civis e de direitos políticos: Quadro 3 - Exemplos de direitos civis e políticos Direitos Civis Direitos Políticos Direito à vida Direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu país, quer diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos Direito à liberdade Direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país Direito à segurança pessoal Direito a não ser mantido em escravatura ou em servidão Proibição à escravatura e trato dos escravos, sob todas as formas Direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica Direito a ter uma nacionalidade Direito à propriedade Fonte: Elaborado pela autora. 30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) foi promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 592, de 6 de julho de 1992. Acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1990-1994/d0592.htm A seguir, estudaremos os direitos econômicos, sociais e culturais. 2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais Os direitos econômicos, sociais e culturais frequentemente demandam a atuação do Estado para serem implementados. Essa ação se materializa mediante políticas públicas e o fornecimento de bens e serviços. O documento das Nações Unidas que aborda os direitos econômicos, sociais e culturais é conhecido como Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, datado de 1966. O Pacto apresenta vários trechos que ressaltam a importância de os Estados tomarem medidas para garantir a implementação desses direitos. Abaixo estão alguns exemplos desses trechos: ARTIGO 2º 1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas. ARTIGO 6º 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito. 2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm 31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e econômicas fundamentais. ARTIGO 12 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental. 2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam necessárias para assegurar: a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento são das crianças; b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente; c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças; d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em caso de enfermidade. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966, arts. 2º, 6º e 12) Diferentemente dos direitos civis e políticos, que são normas de aplicação imediata, os direitos econômicos, sociais e culturais são normas de realização progressiva. Esses direitos são garantidos pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado pela ONU em 1966. Esse documento estabelece que o Estado se compromete a adotar medidas para o pleno exercício dos direitos neles reconhecidos. Nesse sentido: • As medidas devem ser adotadas por esforço próprio ou pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo dos recursos disponíveis. • Tais medidas visam assegurar, progressivamente, e por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no pacto. • A adoção de medidas legislativas é particularmente importante nesse contexto. 32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Os Princípios de Limburg são diretrizes interpretativas especificamente relacionadas ao artigo 2º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Eles preceituam que compete aos Estados dar início imediato à adoção de medidas para a plena realização dos direitos sociais, econômicos e culturais. Ou seja, diferentemente dos direitos civis e políticos, cuja própria aplicação é imediata, no caso dos direitos econômicos, sociais e culturais, o que deve ser imediato é a adoção das medidas para a aplicação dos direitos. Os Estados deverão, assim, fazer uso dos meios apropriados, incluindo medidas legislativas, administrativas, judiciais, econômicas, sociais e educacionais, consistentes com a natureza dos direitos, a fim de realizá-los. Ainda no que diz respeito aos recursos, os Princípios de Limburg preceituam que os Estados devem prever recursos efetivos, e que é esse mesmo Estado parte quem avalia a adequação dos meios a serem aplicados por ele. A obrigação de realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais existe independentemente do aumento de recursos, pois o que é imposto aos Estados é que utilizem de forma eficaz os recursos disponíveis. Assim, para verificar se o Estado cumpre suas obrigações relacionadas à realização progressiva desses direitos, deve-se observar se os recursos disponíveis estão sendo utilizados de forma eficiente. Existem, porém, algumas obrigações derivadas dos direitos econômicos, sociais e culturais que não se sujeitam à realização progressiva. Elas se chamam obrigações essenciais. Nesse sentido, o Comentário Geral nº 3 do Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU trata da natureza das obrigações dos Estados partes constantes no artigo 2º, parágrafo 1º, do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. De acordo com o Comentário nº 3, os Estados têm a obrigação fundamental de assegurar como mínimo a satisfação de níveis essenciais de cada um dos direitos enunciados no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. É por esse motivo que existem algumas obrigações derivadas dos direitos econômicos, sociais e culturais que são classificadas como obrigações essenciais e que possuem caráter imediato. Assim, veja alguns trechos do Comentário Geral nº14/2000 sobre a obrigação essencial derivada do direito à saúde, que é um direito social: 33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 19. No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade de acesso aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm uma obrigação especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes, o necessário seguro médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer descriminação com base em motivos internacionalmente proibidos na prestação de cuidados de saúde e de serviços de saúde, em especial no que respeita às obrigações fundamentais do direito à saúde. 22. O artigo 12º, n.º 2 alínea a) descreve a necessidade de adotar medidas para reduzir a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento saudável de bebés e crianças. Em subsequentes instrumentos internacionais de direitos humanos é reconhecido que crianças e adolescentes têm o direito de gozar o melhor estado de saúde possível e o acesso a centros de tratamento de doenças. Uma atribuição inapropriada de recursos de saúde pode dar lugar a uma discriminação que poderá não ser manifesta. Por exemplo, os investimentos não devem favorecer desproporcionadamente os serviços curativos caros que muitas vezes são apenas acessíveis a uma pequena fração privilegiada da população, em detrimento da atenção primária e preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da população. (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 2000, p. 8) Um aspecto importante relacionado aos direitos econômicos, sociais e culturais é a vedação ao seu retrocesso. Conforme a jurisprudência internacional, a adoção de medidas que possam limitar os recursos destinados a gastos sociais podem ser ou não, por si só, violadoras dos direitos humanos. Sobre isso, o Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU entende que: O fato de que até em tempos de severas restrições de recursos disponíveis, se causadas por um processo de ajustamento, de recessão econômica ou por outros fatores, os membros vulneráveis da sociedade podem e de fato devem ser protegidos pela adoção de programas relativamente de baixo custo para o alcance das metas almejadas. (COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 1990, p. 12) 34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Isso quer dizer que, se o Estado limitar os recursos com gastos sociais, ele pode ser responsabilizado internacionalmente por violar direitos humanos. As medidas que retroagem em termos de direitos sociais são aquelas que fazem com que os Estados abandonem políticas e programas destinados a assegurar os direitos sociais. Além disso, as restrições causadas por essas medidas repercutem negativamente sobre a fruição desses direitos. Um exemplo disso seria o corte de gastos públicos com cuidados em saúde materno-infantil e o aumento considerável da mortalidade materna e infantil. Conforme afirmado anteriormente, os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes, inter-relacionados e de igual importância. À luz dessa afirmação, verifique no Quadro 4 a diferenciação entre os direitos civis e políticos, e os direitos econômicos, sociais e culturais: Quadro 4 - Diferenças entre as dimensões de direitos Critério de distinção Direitos civis e políticos Direitos econômicos, sociais e culturais Fundamento teórico-filosófico Burguesia e liberalismo político Movimentos sindicalistas, socialistas e contestação do liberalismo político e econômico Tipo de obrigação Ênfase na obrigaçãode respeitar Ênfase na obrigação de realizar Aplicação do direito Aplicação imediata Realização progressiva Exigibilidade perante Cortes Exigibilidade jurisdicional ampla Exigibilidade jurisdicional restrita Estado Estado democrático Estado do bem- estar social Finalidade primordial Autonomia Proteção do Estado Fonte: Adaptado de Albuquerque, Barroso. 2021, p. 118. O direito à saúde é considerado um direito de segunda dimensão porque sua realização depende de ações positivas por parte do Estado para garantir o acesso a serviços e recursos de saúde adequados para toda a população. Ou seja, é um direito que exige uma intervenção ativa do Estado para ser efetivado, diferentemente dos direitos de primeira dimensão, como a liberdade de expressão e de associação, que são direitos negativos e que não requerem ações estatais para sua proteção. 35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, além do direito à saúde, incluem: • Direito à educação: este direito exige que o Estado providencie educação gratuita e de qualidade para todos os cidadãos, além de garantir igualdade de acesso e oportunidades educacionais. • Direito à previdência social: este direito implica que o Estado forneça proteção social aos cidadãos em situações de desemprego, velhice, doença, acidente, entre outras. • Direito ao trabalho: este direito implica que o Estado tome medidas para garantir o pleno emprego e para proteger os direitos trabalhistas dos cidadãos, incluindo salário justo, condições de trabalho adequadas e proteção contra discriminação no local de trabalho. Para compreender como funcionam as obrigações geradas pelos direitos de primeira e de segunda geração, bem como as violações a esses direitos no âmbito internacional, ouça o podcast a seguir: Podcast 1 - Dimensões dos Direitos Humanos Como vimos, nosso estudo não aborda os chamados direitos humanos de terceira dimensão, visto que esta classificação não apresenta significativa relevância. Isso acontece porque esses direitos não são usualmente objeto de peticionamento e monitoramento dos órgãos internacionais de direitos humanos, ou seja: não é comum que se denuncie a violação desses direitos aos sistemas de direitos humanos e nem que esses sistemas possuam mecanismos para acompanhar o cumprimento de tais direitos. Nesse contexto, é importante destacar que os direitos humanos não são meramente ideias morais ou defesas de alguns grupos. A força desses direitos se baseia em dois pilares: - São direitos de todas as pessoas, independentemente de qualquer fator ou característica pessoal. - Os direitos humanos geram obrigações jurídicas para os Estados: são práticos, concretos e jurídicos. https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu 36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos Humanos Entender os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos com enfoque nos Sistemas ONU e Interamericano de Direitos Humanos. 3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos (Sistemas Internacionais de DH) são os conjuntos de normas, órgãos e mecanismos internacionais que surgiram, a partir de 1945, com o intuito de promover a proteção dos direitos humanos no mundo. Assim, eles se caracterizam por apresentar três elementos: • Normas • Órgãos • Mecanismos Para que uma região do planeta possa contar com um Sistema Internacional de DH, esses três elementos precisam estar presentes. As normas dos Sistemas Internacionais de DH compreendem o conjunto de tratados, declarações, princípios e outras normativas que integram esses Sistemas. Alguns exemplos de normas, nesse contexto, são os tratados, acordos, pactos, convenções, declarações, princípios, diretrizes, entre outros. Os órgãos são as instâncias e os organismos criados para monitorar o cumprimento dos tratados pelos Estados e aplicar as disposições desses tratados nos casos concretos específicos ou nas situações de graves violações de direitos humanos. Os órgãos de direitos humanos podem ser classificados como políticos, quase judiciais ou judiciais: 37Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quadro 5 - Tipos de órgãos de Direitos Humanos Políticos Quase judiciais Órgãos judiciais Não recebem comunicações e petições individuais e, portanto, não expedem recomendações destinadas a casos específicos e assim não responsabilizam o Estado por violação de direitos humanos. Processam petições e comunicações individuais, e desse processamento resulta uma decisão que serve de base para recomendações que ensejam a responsabilização internacional do Estado. Detêm o poder jurisdicional, logo, proferem sentenças internacionais. Fonte: Elaborado pela autora. Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o monitoramento da aplicação dos tratados pelos Estados. Quadro 6 - Tipos de mecanismos Tipo de mecanismo Definição Procedimento iniciado por comunicação interestatal (entre Estados) Comunicação feita por um Estado contra outro Estado perante órgão de direitos humanos Procedimento iniciado por petição/comunicação individual Petição ou comunicação feita pela vítima/representante ou peticionário ao órgão de direitos humanos Procedimento iniciado por comunicação coletiva Comunicação feita por uma organização não governamental a um órgão de direitos humanos Relatório Documento que contempla a situação de direitos humanos referente a um Estado, grupo ou temática Visita in loco Visita realizada em qualquer lugar da jurisdição de determinado Estado com o intuito de analisar a situação de direitos humanos Inquérito Averiguação confidencial de denúncia de sistemática violação de direitos humanos, que pode abranger visita ao Estado Medidas Cautelares Medida requerida ao Estado a fim de prevenir dano irreparável à vítima em determinado caso Fonte: Elaborado com base em Albuquerque; Barroso. 2021, p. 178. 38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Outro ponto relevante que deve ser mencionado refere-se à jurisprudência em direitos humanos. Para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, a jurisprudência é constituída pelas decisões reiteradas das Cortes de Direitos Humanos, mas não somente delas: também estão incluídos nesse conjunto os documentos produzidos pelos diversos mecanismos de direitos humanos aprovados pelos Estados que integram a comunidade internacional. Atualmente, há quatro Sistemas de Direitos Humanos. Um deles tem abrangência global, pois envolve todos os países membros da ONU (Sistema ONU de Direitos Humanos). Além desse sistema, que é universal, há três Sistemas Regionais de Direitos Humanos, abarcando, cada um deles, um continente: Sistema Interamericano de Direitos Humanos, Sistema Europeu de Direitos Humanos e Sistema Africano de Direitos Humanos. Nesta unidade, abordaremos os Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos. Para saber mais sobre o Sistema Africano de Direitos Humanos, acesse: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/ sistema_africano.asp É importante destacar que as experiências em direitos humanos de outras regiões do planeta, como a da Liga Árabe ou da Ásia, não podem ser categorizadas como Sistemas, pois não compreendem os três elementos necessários para a classificação em Sistema de Direitos Humanos. A ONU tem incentivado os Estados a criarem Sistemas Regionais de Direitos Humanos, visto que estes muitas vezes se mostram mais eficazes por três motivos principais: 1) São mais próximos das realidades dos Estados que os integram; 2) Possuem maior capacidade de lidar com questões de direitos específicas da região; 3) Esses sistemas contam com Cortes de Direitos Humanos e, portanto, têm maior poder de constrangimento e persuasão jurídica. Nesse sentido,a Corte Interamericana e a Corte Europeia são consideradas exemplos da maturidade dos sistemas judiciais de proteção dos direitos humanos em nível regional. Assim, a ONU enfatiza o papel dos sistemas regionais na promoção e proteção desses direitos. Não existe, porém, hierarquia entre os Sistemas Global e Regionais de Direitos Humanos. https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp 39Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública É importante esclarecer que diferentes órgãos de direitos humanos proferem diferentes tipos de decisões, que são elaboradas após o trâmite de comunicação ou petição relacionada a um caso específico de violação de direitos humanos. Como dito anteriormente, os órgãos judiciais e quase judiciais são os órgãos capazes de proferir decisões. As decisões tomadas por cada um desses órgãos possuem diferentes naturezas jurídicas: Figura 19 - Natureza das decisões de órgãos de direitos humanos Fonte: Elaborada pela autora. Assim, você pode perceber que os Estados devem cumprir tanto as sentenças quanto as recomendações dos relatórios, porque ambos derivam da ratificação de tratados, não importando se a decisão é proveniente de órgão judicial ou quase judicial. Ou seja: Os Estados que aderem aos tratados e demais normas de direitos humanos têm o dever de adimplir suas obrigações e, conseguintemente, executar espontaneamente os preceitos contidos na sentença e nos relatórios dos órgãos quase judiciais. (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 181). 3.1.1. Princípios que regem os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos Os Sistemas Internacionais de Direitos humanos são guiados por alguns princípios. Vejamos a seguir. 40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3.1.1.1. Princípio da subsidiariedade ou complementaridade Os Sistemas de DH atuam de forma subsidiária com relação aos órgãos e remédios domésticos. Assim, os órgãos de direitos humanos serão acionados pelas vítimas e peticionários somente após o Estado não ter respondido adequadamente às violações (conforme as normas de direitos humanos). Assim, perceba que o primeiro responsável pela observância dos direitos humanos é o Estado, e os próprios tratados de direitos humanos atribuem importantes funções de proteção aos órgãos dos Estados. Quando os Estados ratificam esses tratados, passam a ter a obrigação geral de adequar o seu ordenamento jurídico interno às diretrizes de proteção dos direitos humanos estabelecidas no instrumento que ratificaram. Para compreender como se dá a aplicação do princípio da subsidiariedade a um caso concreto, veja o vídeo a seguir, que demonstra esse princípio aplicado ao caso Ximenes Lopes vs. Brasil (2006), o primeiro caso de condenação do Estado brasileiro no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. Vídeo 1 - O princípio da subsidiariedade aplicado ao caso Ximenes Lopes vs. Brasil 3.1.1.2. Princípio da livre escolha Graças ao princípio da livre escolha, a vítima de violação de direitos humanos pode escolher para qual Sistema de Direitos Humanos deseja apresentar o seu caso, depois que os mecanismos internos do Estado não tiverem funcionado. A vítima deve, porém, escolher um Sistema ao qual o Estado que ela pretende denunciar seja subordinado. Por exemplo, uma vítima de violação de direitos humanos no Brasil não pode apresentar uma petição contra o Estado perante a Corte Europeia de Direitos Humanos, pois o Estado brasileiro não está submetido a essa jurisdição. 3.1.1.3. Princípio da boa-fé e princípio da cooperação e do diálogo Os princípios da boa-fé e da cooperação e do diálogo serão apresentados juntos devido à concordância desses temas. Nesse sentido, é importante frisar que os Órgãos de Tratados do Sistema ONU de DH adotam o chamado “diálogo construtivo” como metodologia de trabalho, especialmente quando examinam os relatórios dos Estados. https://youtu.be/i_p9y65PzfQ https://youtu.be/i_p9y65PzfQ 41Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos O Sistema ONU é o sistema global de direitos humanos e possui diversos órgãos e normas. A seguir, vamos falar um pouco sobre a ONU e sobre esse Sistema, apresentando os pontos mais relevantes no âmbito da unidade estudada. A ONU passou a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após ter sido ratificada a sua Carta pelos países membros originários, entre eles: China, Estados Unidos, França, Reino Unido, União Soviética e Brasil. Os propósitos da ONU são, de acordo com a Carta das Nações Unidas: • Manter a paz e a segurança internacionais • Desenvolver relações amistosas entre as nações • Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter ° Econômico ° Social ° Cultural ° Humanitário • Promover e estimular o respeito aos direitos humanos • Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações 3.2.1. Normativas de direitos humanos O sistema ONU de Direitos Humanos é composto por diversos instrumentos normativos. Entre eles está a Carta Internacional de Direitos Humanos, que é composta por: • Declaração Universal dos Direitos Humanos • Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos • Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Além disso o Sistema ONU conta com sete Convenções Temáticas que incluem: 1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1965) 2. Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979) 3. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) 4. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) Falaremos a seguir sobre algumas normativas de direitos humanos. Para melhor compreensão, consulte a imagem a seguir sempre que precisar, durante a leitura sobre os instrumentos normativos do Sistema ONU. 42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 20 - Normativas do Sistema ONU Fonte: Elaborada pela autora. Veja a seguir os instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos Humanos, os principais direitos protegidos por eles e sua relevância universal. Quadro 7 - Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos e principais direitos protegidos por eles Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Direito à vida Direito ao trabalho Liberdade de pensamento, consciência e religião Direito à educação Direito à igualdade perante a lei Direito à saúde Proibição da tortura e tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes Direito à alimentação adequada Direito à liberdade e à segurança pessoal Direito à moradia adequada Liberdade de expressão Direito à segurança social Direito à privacidade Direito à cultura Direito à participação política Direito ao meio ambiente saudável Fonte: Elaborado pela autora. 43Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quadro 8 - Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais Protege os direitos civis e políticos dos indivíduos, como a liberdade de expressão, de reunião pacífica e de participação política Protege os direitos econômicos, sociais e culturais dos indivíduos, como o direito ao trabalho, à educação, à saúde e à segurança social. Visa à garantia da liberdade e dignidade humana, incluindo o direito à vida e a proibição da tortura. Visa à garantia da igualdade social e à eliminação das desigualdades econômicas, promovendo a distribuição justa dos recursos sociais e econômicos. A aplicação dos seus princípios é fundamental para a promoção da democraciae do Estado de direito. A aplicação dos seus princípios é fundamental para a promoção da justiça social e da dignidade humana É um instrumento essencial na proteção dos direitos humanos e na luta contra a discriminação e a violência. É um instrumento essencial na promoção da justiça social, na luta contra a pobreza e na garantia da igualdade social. Fonte: Elaborado pela autora. Além dos instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos Humanos, o conjunto normativo da ONU também contém sete Convenções Temáticas. São elas: • Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965) • Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979) • Convenção contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984) • Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) • Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes (1990) • Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) • Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (2006) 44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Cada uma dessas convenções possui um órgão de monitoramento, que supervisiona seu cumprimento pelos Estados que ratificaram o tratado correspondente. Por exemplo, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, constituído por doze peritos. Veja, a seguir, mais algumas informações acerca das duas Convenções mais relevantes para o escopo desta unidade: a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: + Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes Há diversas normativas no âmbito da ONU sobre o tema da tortura e de outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi adotada em 1984. De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa, a fim de: • Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões; • Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; • Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza. A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com seu consentimento e aquiescência. + Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Assim como a tortura, o assunto dos direitos das pessoas com deficiência também foi abordado em outros instrumentos normativos da ONU, como a Declaração dos Direitos das Pessoas com Retardo Mental de 1971. A definição de pessoa com deficiência, para essa Convenção, compreende as pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza: • Física • Mental • Intelectual • Sensorial 45Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Em interação com diversas barreiras, esses impedimentos podem obstruir a participação plena e efetiva dessa pessoa na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. A Convenção defende o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver na comunidade com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas. Estes são os princípios da Convenção: a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a Liberdade de fazer as próprias escolhas, e a Independência das pessoas b) A não discriminação c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade e) A igualdade de oportunidades f) A Acessibilidade g) A igualdade entre o homem e a mulher h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade Ainda, a Convenção trata do reconhecimento igual perante a lei, ou seja, as pessoas com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei. Isso quer dizer que elas têm capacidade legal e igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida. A Convenção pede que os Estados adotem as medidas apropriadas e efetivas para assegurar às pessoas com deficiência o direito de, como as demais pessoas: • possuir ou herdar bens; • controlar as próprias finanças; • ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro; • não serem arbitrariamente destituídas de seus bens. Como afirmado anteriormente, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência monitora essa Convenção. 3.2.2. Os sistemas de direitos humanos da ONU O Sistema ONU de Direitos Humanos é estruturado em dois outros sistemas: o Sistema Baseado na Carta da ONU e o Sistema Baseado nos Tratados. Veja a seguir uma ilustração dos dois sistemas de direitos humanos da ONU posicionados lado a lado, para a melhor compreensão, e consulte-a sempre que necessário: 46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Figura 21 - Os dois sistemas de direitos humanos da ONU Fonte: Elaborada pela autora. 3.2.2.1. O Sistema Baseado na Carta O Sistema Baseado na Carta é relacionado aos direitos protegidos pela Carta da ONU. Esse sistema é composto pelo Conselho de Direitos Humanos, que é um órgão da Carta. O Conselho é de natureza política, por isso não recebe comunicação ou petição relacionada a caso singular de violação de direitos humanos, e é composto por representantes dos Estados. Como o Conselho de Direitos Humanos se baseia na Carta das Nações Unidas, todos os Estados membros se encontram submetidos a ele. Na figura a seguir, observe como está estruturado o Sistema Baseado na Carta da ONU: Figura 22 - Sistema Baseado na Carta da ONU Fonte: Elaborada pela autora. Veja, a seguir, um resumo das atribuições de cada um desses mecanismos: 47Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública Quadro 9 – Atribuições dos mecanismos do Sistema Baseado na Carta da ONU Mecanismos Funções Revisão Periódica Universal A proposta é realizar revisões periódicas universais baseadas em informações objetivas e confiáveis sobre o cumprimento das obrigações e compromissos de direitos humanos de cada Estado, garantindo a universalidade e igualdade de tratamento para todos os Estados membros da ONU. Os Estados avaliam mutuamente a situação de direitos humanos em seus respectivos países e têm a oportunidade de demonstrar as ações desenvolvidas para melhorar essa situação. O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos 47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos. Procedimento de Queixa Qualquer pessoa, grupo ou organização pode apresentar uma comunicação confidencial sobre violações graves e sistemáticas de direitos humanos em qualquer parte do mundo. Um grupo de trabalho verifica se a queixa preenche os requisitos necessários para prosseguir e, em seguida, um outro grupo analisa a comunicação e a resposta do Estado denunciado, apresentando um relatório com recomendações ao Conselho de Direitos Humanos. Procedimentos Especiais Os procedimentos especiais consistem em especialistas independentes que elaboram relatórios e orientações sobre direitos humanos, seja a partir de uma perspectiva temática ou de um país específico. Eles monitoram e informam sobre violações de direitos humanos, recomendando soluções e realizando missões para avaliar a situação em um país e apresentando relatórios ao Conselho de Direitos
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