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Direitos Humanos e saúde mental

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Direitos Humanos
Direitos Humanos e saúde 
mental - Curso permanente 
Damião Ximenes Lopes
Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
Conteudista/s 
Ana Raquel Torres Menezes (Conteudista, 2023).
Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO
3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sumário
Módulo 1 – Introdução ao Direito Internacional dos Direitos 
Humanos
1. Direitos humanos ................................................................................................ 6
1.1. Conceito de direitos humanos ................................................................................ 6
1.2. Histórico dos direitos humanos ............................................................................ 13
1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais ......................................................... 21
2. Dimensões dos Direitos Humanos ................................................................... 26
2.1. Direitos civis e políticos ........................................................................................... 26
2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais ............................................................... 30
3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de 
Direitos Humanos .................................................................................................. 36
3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .............................................. 36
3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos ..................................................................... 41
3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos ................................................... 48
3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos ............................................................... 58
3.5. Conclusão ................................................................................................................. 61
Módulo 2 – Saúde e Direitos Humanos
1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde ...................63
1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde ........ 65
1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos 
direitos humanos ............................................................................................................ 69
1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde .................... 72
2. Direito à saúde ................................................................................................... 78
2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento .................................. 78
2.2. Direito à saúde mental ........................................................................................... 88
3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde ................93
3.1. Direito à privacidade .............................................................................................. 93
3.2. Direito de não ser discriminado ............................................................................ 98
4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel, 
desumano ou degradante ........................................................................................... 100
3.4. Direito à liberdade ................................................................................................. 104
3.5. Conclusão ............................................................................................................... 108
Módulo 3 – Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados 
em saúde
1. Direitos humanos no contexto da saúde mental.........................................109
1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o 
Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU ....................................... 110
1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no 
contexto da saúde mental ........................................................................................... 122
1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência e saúde mental .......................................................................................... 125
1.4. Quality Rights........................................................................................................... 132
Módulo 4 – Jurisprudência internacional sobre direitos humanos e 
saúde mental
1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de 
Direitos Humanos ................................................................................................ 142
1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU .............................................................. 142
1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos ..... 157
1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos ................. 160
1.4. Conclusão ............................................................................................................... 169
2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .......171
2.1. Caso Ximenes Lopes ............................................................................................ 171
2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental ....................................................... 180
2.3. Conclusão ............................................................................................................... 185
Referências ........................................................................................................... 186
Glossário ............................................................................................................... 197
5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Direitos Humanos e saúde mental – Curso 
permanente Damião Ximenes Lopes.
Este curso tem o objetivo de apresentar os princípios e as normas de direitos humanos 
que devem reger os cuidados em saúde das pessoas com transtorno mental, bem 
como a sua aplicação, de modo a alcançar as melhores práticas estabelecidas com 
base nos padrões internacionais sobre a matéria.
Desejamos um excelente estudo!
6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 Módulo
Introdução ao Direito Internacional 
dos Direitos Humanos1
Olá, estudante!
Neste primeiro módulo, abordaremos os conceitos de direitos humanos e sua 
perspectiva histórica e reconheceremos as dimensões dos direitos humanos, que 
englobam os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Por fim, vamos 
conhecer o Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos.
1. Direitos humanos
Compreender o conceito de direitos humanos. 
1.1. Conceito de direitos humanos 
1.1.1. O que são direitos humanos?
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os direitos 
humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres 
humanos. 
Os direitos humanos orientam o modo como os seres humanos vivem em sociedade 
e entre si, assim como a relação deles com o Estado. Além disso, esses direitos 
determinam obrigações do Estado em relação aos indivíduos. Os direitos humanos 
são direitos que temos simplesmente por existirmos enquanto seres humanos. Eles 
são inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua origem nacional ou 
étnica, nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, idioma ou qualquer outro “status”. 
7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os direitos à vida, à alimentação adequada, à educação, ao trabalho, à saúde e à 
liberdade são alguns exemplos de direitos humanos.
Figura 1 - Direito 
à vida
Figura 2 - Direito à 
alimentação adequadaFigura 3 - Direito 
à educação
Figura 4 - Direito 
ao trabalho
Figura 5 - Direito 
à saúde
Figura 6 - Direito 
à liberdade
Fonte: https://www.flaticon.com/br
Uma característica importante dos direitos humanos é a sua essência ética. Além 
desse aspecto, esses direitos são normas jurídicas estabelecidas em diferentes 
fontes de direito internacional. 
Assim, pode-se dizer que os direitos em questão são demandas sociais que buscam 
realizar bens éticos que permitem que os indivíduos desfrutem de uma vida digna, 
e que sejam reconhecidos pela sociedade. Os direitos humanos desempenham 
a função de concretizar a dignidade humana para que todos os seres humanos 
possam desenvolver suas capacidades pessoais.
1.1.2. Quais são as características dos direitos humanos?
O conceito adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) atribui aos direitos 
humanos as seguintes características: 
https://www.flaticon.com/br
8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 7 - Características dos direitos humanos
Fonte: elaborada pela autora.
O conceito de direitos humanos pode ser aplicado ao âmbito da saúde da seguinte 
forma:
Na esfera da saúde, todos os pacientes, 
independentemente do status pessoal e da relação 
travada com o profissional de saúde ou o provedor 
privado de saúde, ou seja, se de consumo ou de 
usuário de serviço público, são detentores de direitos 
humanos, o que, obviamente, os diferencia dos 
direitos do consumidor, que pressupõe a existência 
de uma relação de consumo (ALBUQUERQUE, 2016, p. 
27).
9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 8 - Direitos humanos e saúde
Fonte: “A young patient has his vital signs checked” by World Bank Photo 
Collection is licensed under CC BY-NC-ND 2.0. To view a copy of this license, visit 
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse.
1.1.3. Conteúdo dos direitos humanos
Conforme você viu anteriormente, os direitos humanos consistem em normas 
jurídicas com essência ética que se encontram em diferentes fontes de direito 
internacional. Assim, entendemos que esses direitos possuem duplo conteúdo: 
ético e jurídico. Se não estiverem presentes em dispositivos legais internacionais, os 
enunciados serão apenas exigências éticas, sem configurar direitos. 
Sobre isso, é importante destacar que apenas fontes de direito internacional podem 
originar direitos humanos: normas constitucionais ou leis nacionais não geram 
direitos humanos.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse
10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 9 –Duplo conteúdo dos direitos humanos
Fonte: elaborada pela autora.
Conforme falamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em 
documentos jurídicos internacionais. Porém, no que diz respeito ao texto, a forma 
como esses direitos estão descritos nos referidos documentos é relativamente 
vaga. Por esse motivo, é necessário pormenorizar o conteúdo dos direitos humanos 
para que possam ser aplicados. A jurisprudência internacional é quem explora e 
demarca esse conteúdo.
1.1.4. Titulares e sujeitos de direitos humanos
Os titulares de direitos humanos são os indivíduos (ou grupos de indivíduos) 
que podem exigir do Estado e de seus agentes que seus direitos humanos sejam 
respeitados, protegidos e colocados em prática. Quando um titular do direito 
humano tem uma demanda, existe do outro lado o sujeito responsável por atender 
a essa exigência, que é o Estado. 
O Estado é o sujeito que tem obrigações para com os indivíduos no plano do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos. Por esse motivo, a relação de direitos humanos 
se estabelece exclusivamente entre o Estado e os indivíduos. 
11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 10 - Titulares e sujeitos de direitos humanos 
Fonte: elaborada pela autora.
Como exemplo, temos a importante situação da primeira condenação do Brasil no 
âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no caso Ximenes Lopes vs. 
Brasil (2006):
O Sr. Damião Ximenes Lopes foi internado na Casa de Repouso 
Guararapes em outubro de 1999. A Casa era um centro de 
atendimento psiquiátrico privado que operava no âmbito do 
Sistema Único de Saúde (SUS), em Sobral, Ceará. O Sr. Ximenes 
Lopes veio a falecer na Casa de Repouso três dias após a sua 
internação. 
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) 
entendeu que o Sr. Damião Ximenes Lopes foi submetido a 
condições desumanas e degradantes durante sua hospitalização, 
tendo sofrido violação da sua integridade pessoal por parte dos 
funcionários da Casa de Repouso Guararapes. 
Como falamos acima, no âmbito do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, o Estado é quem tem obrigações para com 
os indivíduos. Sendo assim, a Corte IDH estabeleceu, no caso 
Ximenes Lopes vs. Brasil, que os Estados têm o dever de garantir 
atendimento médico eficaz aos pacientes com transtorno 
mental. Ademais, ressaltou, entre outros aspectos, que o lugar e 
as condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem 
estar de acordo com o respeito à dignidade humana. 
Segundo a Corte, o Estado brasileiro violou, com relação ao 
Sr. Damião Ximenes Lopes, o direito de não ser torturado ou 
submetido a pena ou tratamento desumano ou degradante, 
que é um direito absoluto. O Estado é o sujeito da obrigação 
12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de atender à demanda de direitos humanos e, portanto, é ele 
quem tem o dever de alocar recursos suficientes para satisfazer 
às necessidades básicas dos pacientes e de mover a máquina 
administrativa no sentido de implantar políticas, programas e 
legislações que evitem a prática de tais condutas por parte dos 
profissionais da saúde.
Por esse motivo, o Estado (e não os profissionais da saúde 
envolvidos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil) foi punido no âmbito 
internacional: ele é o responsável por assegurar o cumprimento 
dos direitos humanos com relação aos seus indivíduos. 
Sobre isso, citamos o seguinte trecho do livro “Direitos Humanos dos Pacientes”, da 
especialista e pós-doutora em Direitos Humanos Aline Albuquerque: 
Na esfera dos cuidados em saúde, a responsabilização 
internacional pela violação dos direitos humanos 
recairá sobre o Estado e não sobre os profissionais da 
saúde, embora a prática do ato violador possa ter sido 
efetivada pelos últimos. Sendo assim, o Estado tem o 
dever de adotar medidas legislativas, administrativas 
ou de outra natureza que impeçam a violação dos 
direitos humanos dos pacientes. Contudo, se a 
despeito de tais medidas, houver o desrespeito a 
determinado direito humano, o Estado não pode 
permanecer passivo, pois tem o dever de prover os 
remédios legais efetivos ao paciente para reparar a 
violação ocorrida, assegurando a reparação do dano e 
a responsabilização dos agentes violadores com base 
na legislação nacional. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 27)
É importante esclarecer que as relações entre os indivíduos, entre estes e entidades 
privadas e as relações entre Estados não constituem relações de direitos humanos:
13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 11 - Não são relações de direitos humanos
Fonte: elaborado pela autora
1.2. Histórico dos direitos humanos 
1.2.1. Introdução 
Estudaremos a seguir alguns fatos relevantes na história dos direitos humanos e 
como se deu a evolução desses direitos ao longo do tempo por meio de diferentes 
documentos. O estudo da história está dividido por séculos, para facilitar a 
compreensão do todo.
1.2.2. Antes do século XVIII
Durante a idade média, a concepção sobre a igualdade dos seres humanos era 
fundada em concepções religiosas. A nobreza possuía maior status moral do que o 
chamado Terceiro Estado, o poder político era ilimitado e a relação política da época 
era desigual, pois um dos sujeitos da relação se encontrava “no alto”, enquanto o 
outro estava “em baixo”. 
Os seguintes documentos desse período são considerados importantespara os 
direitos humanos.
 + Carta Magna da Inglaterra (1215)
A assinatura da Carta Magna da Inglaterra, em 1215, trouxe importantes avanços 
no que diz respeito à limitação do poder político. A Carta foi uma reação aos 
excessos cometidos pelo Rei João no exercício dos seus direitos feudais e 
estabeleceu limitações à sua autoridade. 
 + Bill of Rights britânica (Carta de Direitos de 1689)
Ainda no sentido de limitação do poder, a Bill of Rights, de 1689, estabeleceu 
importantes direitos e liberdades. Entre eles, os princípios de eleições livres e de 
14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
liberdade de expressão no parlamento, bem como a proibição de tributar sem a 
aprovação do parlamento, o tratamento justo perante as cortes e os direitos de 
petição. 
Porém, é preciso observar que os avanços promovidos pela Carta de Direitos, 
embora representassem importante evolução de direitos humanos, ainda 
precisariam ser aprimorados ao longo do tempo:
Embora a Bill of Rights britânica de 1689 proibisse 
expressamente o castigo cruel, os juízes ainda 
sentenciavam os criminosos ao pode dos açoites, ao 
banco dos afogamentos, ao tronco, ao pelourinho, 
ao ferro de marcar, a execução por arrastamento 
e esquartejamento [...] ou, para as mulheres, 
arrastamento, esquartejamento e morte na fogueira 
(HUNT, 2009, p. 77).
1.2.3. Século XVIII 
No século XVIII, surgem as primeiras declarações que estabelecem direitos que 
posteriormente seriam reconhecidos como direitos humanos. Foi a primeira vez 
que as ideias liberais foram afirmadas na história, e isso permitiu que os direitos 
humanos fossem reconhecidos em instrumentos normativos dos Estados Unidos 
da América e da França, que podem ser considerados marcos jurídicos.
 
Nesse ponto, é importante que você entenda que os direitos humanos surgiram 
com base em uma teoria de direitos naturais. 
A teoria dos direitos naturais é uma ideia central da filosofia 
política e ética que sustenta que certos direitos são inerentes 
à natureza humana e, portanto, são universais, inalienáveis e 
inerentes a todas as pessoas. Essa teoria foi fundamental para 
a formulação dos direitos humanos, uma vez que os direitos 
humanos são considerados como direitos naturais que todas as 
pessoas possuem simplesmente por serem humanas. 
A teoria dos direitos naturais sustenta que todos os seres 
humanos possuem direitos fundamentais, como o direito à vida, 
à liberdade, à igualdade, à segurança e à dignidade. Esses direitos 
são considerados universais, ou seja, são aplicáveis a todas as 
pessoas, independentemente de nacionalidade, raça, gênero, 
15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
orientação sexual, religião ou de qualquer outra característica 
individual. Os direitos humanos são uma aplicação prática dessa 
teoria, buscando garantir a dignidade e a liberdade de todos os 
seres humanos.
Os direitos previstos nos documentos de direitos humanos do século XVIII previam 
a existência de direitos baseados em preceitos não religiosos.
A ideia mais revolucionária do século XVIII para os 
direitos humanos é a de que todas as pessoas possuem 
direitos inatos, ou seja, nascem com direitos que 
devem ser reconhecidos pela associação política ou 
Estado. [...] Sendo assim, o século XVIII caracterizou-
se pelo reconhecimento de uma esfera de liberdade 
pessoal na qual a associação política ou o Estado não 
poderia adentrar, logo, o indivíduo passa não apenas 
a ter deveres para com a autoridade, mas também 
a ter direitos, que devem ser por esses respeitados. 
(ALBUQUERQUE, 2021, p. 11)
Na era moderna, verifica-se a ascensão dos ideais de liberdade, de direito à 
propriedade privada e de rejeição do poder total e centralizador. Esses ideais 
influenciaram revoluções como a inglesa, a francesa e a haitiana. 
É importante destacar que, embora tenha havido grande avanço em prol dos 
direitos humanos no século XVIII, a afirmação de direitos inatos não abrangeu 
todas as pessoas: mulheres, escravos, minorias religiosas, crianças, pessoas com 
deficiência e privadas de liberdade não foram abarcados. Esse progresso somente 
seria alcançado nos séculos seguintes. 
A seguir, você verá os principais documentos relacionados aos direitos humanos 
que foram implementados no século XVIII, bem como as inovações trazidas por eles.
 + Documentos dos Estados Unidos da América (1776) 
A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) foi o 
primeiro documento que declarou a liberdade de todos os cidadãos. Esse 
documento rechaçou a monarquia, reconhecendo a proteção dos direitos à 
liberdade, à vida e à busca pela liberdade. Veja um trecho da declaração a seguir: 
16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
“Nós consideramos essas verdades como auto evidentes, que todos 
os homens foram criados iguais, que eles são dotados de Direitos 
inalienáveis pelo Criador, dentre eles a vida, a liberdade e a busca pela 
felicidade. Para assegurar esses direitos, os Governos são instituídos 
pelos homens, derivando seu justo poder do consentimento dos 
governados.” (OS TREZE ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,1776, p. 2) 
Essa Declaração foi profundamente influenciada pela Declaração de Direitos 
da Virgínia (1776), que contemplava uma série de direitos considerados inatos, 
como o direito à vida, à segurança, à liberdade, à liberdade de imprensa e de 
religião, e o direito a instituir um novo governo no caso de o governo vigente 
fracassar em seu dever de garantir a segurança pessoal. 
Com relação às Declarações de Independência e de Direitos da Virgínia (ambas de 
1776), é importante mencionar ainda a Constituição dos Estados Unidos (1787), 
em que foi introduzida a teoria de Montesquieu sobre a separação dos Poderes 
Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa divisão de Poderes é essencial para que 
sejam asseguradas as liberdades políticas e alguns direitos humanos.
 + Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
A independência dos Estados Unidos exerceu grande influência sobre os 
membros do Terceiro Estado francês. Cansados dos abusos e da corrupção 
do regime político vigente, esse setor da sociedade passou a reivindicar seus 
direitos. Assim, podemos afirmar que existe inegável influência da Declaração 
de Independência dos Estados Unidos sobre a Declaração francesa, aprovada 
em 1789.
É importante destacar que, nesse período, ocorreu a Revolução Francesa. 
Considerada a mais importante das revoluções liberais, a Revolução Francesa teve 
como lema os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Com acontecimentos 
anteriores, como as expedições marítimas e a emergência de uma classe média 
revolucionária, criou-se um ambiente propício para que se contestasse a divisão 
da sociedade. À época, esta se dividia entre indivíduos com título de nobreza 
e pessoas que não os possuíam, sendo a ideia dominante a de que nobres 
detinham um status moral superior. A Revolução Francesa culminou na criação 
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
“A Declaração consiste em um dos documentos de direitos humanos 
mais relevantes do século XVIII, abarcando conceitos de lei universal, 
igualdade entre cidadãos e a soberania coletiva dos indivíduos. A 
Declaração francesa desencadeou um movimento forte em torno 
17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
das ideias liberais que sustentavam os direitos do indivíduo e 
impulsionou a utilização da linguagem dos direitos.” (ALBUQUERQUE, 
2021, p. 11)
Assim, algumas das principais inovações trazidas pela Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão são:
- atribuição da soberania aos indivíduos, e não ao rei;
- rechaço à ideia de privilégios para a ocupação de cargos públicos; e 
- introdução da meritocracia, na medida em que estabelecia que “todos são 
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, 
segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes 
e dos seus talentos”.
1.2.4. Direitos humanosno século XIX
Alguns acontecimentos importantes no século XIX foram:
• a queda de Napoleão na batalha de Waterloo;
• o clima repressivo do Congresso de Viena;
• a Revolução Industrial; e
• a escravidão. 
Em termos de direitos humanos, o século XIX foi marcado pela busca por direitos no 
trabalho, acesso universal à educação, abolição da escravidão e maior expansão 
do direito ao voto. Vamos agora falar sobre os movimentos sociais que aconteceram 
na Europa nesse século e que foram fundamentais para o reconhecimento de novos 
direitos humanos.
Entre os movimentos sociais do século XIX, destacam-se o socialista e o antiescravagista. 
Esses movimentos apoiaram a luta das mulheres por direitos sociais e políticos, 
denunciaram a situação das crianças nas fábricas e reivindicaram o direito de todas 
as crianças à educação pública e o direito de trabalhar em condições seguras, além 
da redução das horas diárias de trabalho. 
Nesse sentido, cabe mencionar a Comuna de Paris, que consistiu em um levante 
popular ocorrido na cidade francesa durante um período de dois meses, entre 18 
de março e 21 de maio de 1871. Cidadãos provenientes das classes mais baixas de 
Paris se uniram em uma mobilização política para manifestar-se contra a crise social 
e política que afetava a França naquele momento. Em 1871, a Comuna liderou uma 
reivindicação por melhores condições de trabalho e desafiou o poderio econômico 
e político dos burgueses, aristocratas e clérigos. Embora tenha sido derrotada, a 
Comuna de Paris inspirou a luta por direitos relacionados ao trabalho em toda a 
Europa e nos Estados Unidos.
18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Ainda no século XIX, a Revolução Industrial provocou o deslocamento de pessoas 
do meio rural para as cidades, gerando condições desumanas de habitação e 
trabalho. As lutas dos trabalhadores por direitos levaram à promulgação de leis 
que proibiram o trabalho infantil e limitaram as horas trabalhadas. A conquista 
de direitos trabalhistas e de seguridade social foi criticada por defensores do livre 
mercado, mas a questão da pobreza tornou-se central no final do século XIX, o que 
levou ao reconhecimento de direitos sociais e ao entendimento de que o Estado 
deveria atuar em prol da proteção dos trabalhadores.
Nesse ponto, podemos destacar o reconhecimento do direito à saúde, que teve 
origem no liberalismo social da América Latina e de lutas políticas locais. O direito 
à saúde tem suas raízes na perspectiva latino-americana de direitos humanos, que 
se baseia em ideias católicas que enfatizam a dignidade humana. A Constituição 
do México, de 1917, foi a primeira a incluir os direitos sociais, inclusive o direito 
das mulheres à atenção médica e obstétrica, assim como a obrigação do Estado de 
adotar medidas preventivas de saúde. Embora essa experiência latino-americana 
seja significativa, o reconhecimento do direito à saúde como um direito humano 
no plano internacional se deve à Primeira Guerra Mundial e ao papel da saúde na 
manutenção da paz global.
Durante o século XIX, a abolição da escravatura foi uma das questões mais importantes 
dos direitos humanos. Portugal aboliu a escravatura, em 1761, apenas na Metrópole 
e em suas colônias nas Índias. A Grã-Bretanha proibiu o tráfico de escravos em 
suas colônias, em 1807, e aprovou a Lei da Abolição, em 1833. A lei britânica teve 
impacto na América Latina, onde a escravidão foi abolida em vários países, como: 
Venezuela, em 1810; Argentina, em 1812; Chile, em 1823; México, em 1829; Peru, 
em 1854; Cuba, em 1880; e Brasil, em 1888. Nos Estados Unidos, a escravidão foi 
mantida na Constituição, em razão dos interesses dos proprietários de fazendas 
do sul. Um tribunal na Carolina do Sul decidiu que as escravas não tinham direitos 
legais sobre seus filhos, o que permitia que as crianças fossem vendidas e separadas 
de suas mães a qualquer momento. Organizações internacionais, como a Sociedade 
Contra Escravidão, empreenderam esforços para obstruir o comércio de escravos 
no Atlântico e proibir a escravidão nas colônias europeias e nos Estados Unidos. A 
Declaração Universal da Abolição do Comércio de Escravos, de 1815, foi o primeiro 
documento internacional contra a escravidão. Acordos bilaterais e multilaterais 
entre países também passaram a proibir o comércio de escravos e a escravidão. 
É importante destacar que o direito ao voto, conquistado no século anterior, era 
restrito ao homem branco proprietário ou detentor de determinada renda.
 
No século XIX, a França foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal para homens, 
mas depois retomou os requisitos referentes à propriedade para o voto. Os socialistas 
defendiam a educação pública para todos como um direito social dos cidadãos e, 
no final do século XIX, acreditava-se que a educação pública seria importante para 
formar um eleitorado educado e mão de obra qualificada. O século XIX apresentou 
19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
avanços em termos de direitos humanos, como a ampliação do direito ao voto, a 
abolição da escravatura e o reconhecimento de direitos trabalhistas e à educação 
pública.
 
Entre os avanços relacionados aos direitos humanos no século XIX, inclui-se o 
surgimento do direito humanitário, com o objetivo de proteger a pessoa durante 
conflitos armados. Em 1859, Henri Dunant fundou o Comitê da Cruz Vermelha e, em 
1864, foi adotada a Convenção para Aliviar a Condição dos Feridos das Forças Armadas 
em Campo, estabelecendo princípios como o auxílio aos feridos sem distinção de 
nacionalidade, a neutralidade do pessoal médico e dos estabelecimentos médicos, 
e o uso do símbolo da cruz vermelha sobre fundo branco.
A partir do estudo de fatos históricos e de movimentos sociais do século XIX, podemos 
compreender o desenvolvimento dos direitos humanos ao longo do tempo. 
No final do século XVIII, a visão predominante dos direitos humanos enfatizava 
principalmente os direitos inatos das pessoas, sem levar em consideração as 
condições sociais e econômicas em que viviam. No entanto, o século XIX trouxe a 
ampliação dessa concepção de direitos humanos para incluir demandas por uma 
rede de proteção social para os mais vulneráveis, como trabalhadores, crianças 
e mulheres. Essa nova forma de liberalismo social propunha uma restrição da 
liberdade dos mais fortes para proteger os mais fracos. A seguir, você estudará 
importantes acontecimentos que provocaram o surgimento de novas perspectivas 
em direitos humanos no século XX.
1.2.5. Direitos humanos no século XX
Veja, na animação a seguir, fatos e documentos do século XX que são considerados 
importantes para a história dos direitos humanos.
Animação 1: Histórico dos direitos humanos – Século XX
1.2.6. Direitos humanos no século XXI
A partir do século XX, verifica-se um movimento de limitação dos direitos humanos 
(ou até mesmo de supressão destes). Essa tendência pode ter sido causada por três 
fatores:
 + A guerra contra o terrorismo
A partir de 11 de setembro de 2001, percebe-se um movimento negativo com 
relação aos direitos humanos e à democracia. Nesse sentido, pode-se dizer que 
https://youtu.be/12C7B-L_axQ
20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
os direitos humanos foram marginalizados por meio da aceitação de restrições 
de algumas liberdades individuais e do emprego de meios condenáveis por 
agentes estatais. 
Como exemplo, o Ato para Prover Instrumentos Exigidos para Interceptar e 
Obstruir o Ato Terrorista, assinado pelos Estados Unidos em 2001 (Ato Patriota), 
ampliou os poderes do Estado para que este pudesse realizar vigilâncias a pessoas 
suspeitas de praticar terrorismo. Esse Ato é questionado sob a perspectiva do 
direito à privacidade.
 + O avanço do neoliberalismo e a contestação do bem-estar social
Nas últimas décadas do século XIX, a visão do Estado como violador dos direitos 
humanos ganhou ênfase. No século XXI, porém, passa-se a focar no papel do 
Estado como garantidor e protetor dos direitoshumanos. 
“O desmantelamento do estado do bem-estar social por meio de 
políticas liberais-econômicas coloca em risco os direitos à educação, 
saúde, trabalho e seguridade social. A realização de tais direitos 
pressupõe uma ambiência política especifica, de modo que o estado 
assegure para todos os indivíduos certos bens econômicos e sociais, 
serviços e oportunidades, independentemente do valor que o 
mercado confere ao seu trabalho.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 30)
 + A revolução digital
A tecnologia digital pode gerar diversos benefícios para o avanço dos direitos 
humanos. Alguns desses benefícios são o empoderamento e a informação de 
grupos vulneráveis e a visibilidade dada a violações de direitos humanos. 
“Nesse sentido, a rede social pode promover o acesso à informação 
e facilitar debates globais, de modo a fomentar a democracia 
participativa. No entanto, o lado obscuro da rede social e sua 
potencialidade de causar graves danos aos indivíduos tem sido objeto 
dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.” (ALBUQUERQUE, 
2021, p. 31)
No que diz respeito ao direito à privacidade, a Assembleia Geral da ONU adotou, 
em 2013, a Resolução 68/167, em que expressa sua apreensão com o impacto 
negativo da vigilância e interceptação de comunicações. Nessa Resolução, a 
Assembleia encoraja os Estados a proteger e respeitar o direito à privacidade, 
inclusive no contexto da comunicação digital.
21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Outros desafios ao avanço dos direitos humanos no século XXI são os persistentes 
conflitos armados, o aumento e envelhecimento da população global, as questões 
ambientais e a questão dos refugiados. 
Para saber mais sobre a questão dos refugiados, você pode acessar 
o sítio eletrônico da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR): 
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/.
Conforme discutido, a evolução dos direitos humanos consiste em um caminho de 
conquistas que combina o reconhecimento gradativo de direitos com os movimentos 
sociais que ocorreram paralelamente a estes.
Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos últimos séculos, ainda há um 
longo caminho a ser percorrido até que todas as pessoas tenham acesso a uma vida 
digna nos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais 
Conforme estudamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em 
fontes de direito internacional, porém com certa imprecisão textual, de forma 
abrangente e abstrata. Assim, o conteúdo desses direitos é explorado e definido 
pela jurisprudência internacional. 
Os direitos fundamentais, que conhecemos por estarem preceituados nas 
Constituições dos países, têm relação com os direitos humanos. Isso vale 
especialmente no que diz respeito à redação desses dois tipos de direitos, que 
muitas vezes é semelhante. Existem, porém, algumas diferenças entre os direitos 
humanos e os direitos fundamentais, conforme pode ser visualizado no Quadro 1:
Quadro 1 - Direitos Humanos e Direitos Fundamentais
Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF)
Órgão criador da norma
Tratados e declarações 
de organismos 
internacionais
Constituições dos Estados 
Demarcação de conceito 
(concretização da norma)
Jurisprudência 
internacional – decisões 
de órgãos judiciais, quase 
judiciais e políticos 
Tribunais nacionais 
(jurisprudência nacional)
https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/
22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Direitos Humanos (DH) Direitos Fundamentais (DF)
Órgãos de 
monitoramento do 
cumprimento do direito
Sistemas de Direitos 
Humanos
 
Não há órgãos específicos 
para o monitoramento, 
e sim instrumentos 
jurídicos. No Brasil, esse 
instrumento é a Arguição 
de Descumprimento 
de Preceito 
Fundamental (ADPF).
Mecanismos de 
monitoramento do 
cumprimento do direito
Relatórios, inquéritos, 
comunicações entre 
Estados e comunicações 
individuais. 
Não há meios de 
monitoramento próprios.
Medidas de reparação 
Medidas de reparação 
na íntegra, garantias de 
não repetição, satisfação, 
compensatórias 
e reabilitação. 
Não há medidas 
específicas. 
Impacto social 
Linguagem dos ativismos 
sociais, dos órgãos 
governamentais e das 
políticas públicas. 
Linguagem restrita 
à esfera jurídica. 
Fonte: Adaptado de Albuquerque, 2021, p. 79.
No sistema jurídico brasileiro, os direitos fundamentais estão definidos nos artigos 5º 
a 17 da Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns exemplos de direitos fundamentais 
são os destacados a seguir: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, 
nos termos seguintes: [...]
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, 
a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na 
forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)
23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
No Quadro 2, visualizaremos algumas diferenças entre os direitos humanos e os 
direitos fundamentais, utilizando o direito à saúde como exemplo:
Quadro 2 - Direito à saúde
Direito à Saúde
Enquanto direito 
humano
Enquanto direito 
fundamental
Nome do direito
Direito de toda pessoa 
de desfrutar o mais 
elevado nível de saúde 
física e mental
Direito fundamental 
à saúde
Em que norma está 
disposto esse direito?
Pacto Internacional 
sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais (Art. 12)
Constituição Federal 
(Arts. 6º e 196)
Quem concretiza o 
conceito e as obrigações 
que esse direito gera?
Comentário Geral nº 
14, produzido pelo 
Comitê sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais da ONU
Supremo Tribunal Federal
Quem monitora 
o cumprimento 
desse direito?
Sistema ONU de 
Direitos Humanos ADPF
Fonte: elaborado pela autora.
A própria CF diferencia os direitos humanos dos direitos fundamentais quando, ao 
se referir aos direitos humanos, trata-os como direitos conectados com a esfera 
internacional:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais 
pelos seguintes princípios:
[...]
II - Prevalência dos direitos humanos; (BRASIL, 1988, art. 4º)
Ainda, ao abordar obrigações decorrentes de tratados (documentos internacionais), 
a CF faz referência aos direitos humanos, não aos direitos fundamentais:
24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
[...]
V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;   
[...]
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral 
da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações 
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais 
o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, 
em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de 
competência para a Justiça Federal.   (BRASIL, 1988, art. 109)
Sendo assim, qual é a relação entre os direitos humanos e os direitos fundamentais? 
No âmbito nacional, os tribunais têm cada vez mais utilizado normas de direitos 
humanos como base para suas decisões. No contexto das Américas, a Corte IDH, 
corte suprema em termos de direitos humanos, definiu que suas decisões podem 
guiar as autoridades nacionais nas decisões de casos relacionados a direitos 
fundamentais. 
Ainda, a Corte IDH tem a autoridade para emitir pareceres consultivos sobre questões 
relacionadas aos direitos humanos que são protegidos pelo Sistema Interamericano 
de Direitos Humanos, bem como para avaliar a conformidade das leis nacionais dos 
Estados com esses mesmos direitos.
Por outro lado, os Estados devem colocar em prática as decisões vinculantes da 
Corte que interpretarem e definirem as normas deproteção dos direitos humanos. 
25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 12 - Relação entre direitos humanos e direitos fundamentais
Fonte: elaborada pela autora.
Sendo assim, pode-se dizer que as jurisdições internas e externas dialogam para 
que se possa conferir significado e conteúdo concreto aos enunciados de direitos 
humanos. 
Para saber mais sobre a história dos direitos humanos, acesse: 
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-
direitos-humanos/. 
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/
https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/
26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
2. Dimensões dos Direitos Humanos
Reconhecer as dimensões dos direitos humanos (direitos civis, 
políticos, econômicos, sociais e culturais). 
Os direitos humanos podem ser classificados em dimensões, para fins didáticos: 
primeira, segunda e terceira dimensão. 
Esta unidade irá tratar apenas dos direitos de primeira e de segunda dimensão, pois 
os chamados direitos de terceira dimensão não estão estabelecidos de forma sólida 
nas normas dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos. 
Os direitos humanos passaram por um processo de amplo reconhecimento ao 
longo dos séculos. Para o autor Norberto Bobbio, esse processo de proliferação se 
deu de três maneiras: 
a. O aumento da quantidade de bens considerados merecedores da tutela 
jurídica. 
b. O reconhecimento de outros sujeitos de direitos humanos. Por exemplo, 
as mulheres, as pessoas com deficiência e as crianças só passaram a ser 
sujeitos de direitos humanos no século XX. Com o avanço dos direitos 
humanos, outros sujeitos foram reconhecidos, como pessoas com 
deficiência e pessoas privadas de liberdade.
c. A atribuição de direitos humanos que derivam de outros existentes a 
sujeitos jurídicos particulares. Um exemplo dessa hipótese é o direito da 
criança de ser ouvida em decisões que lhe são afetas.
Assim, percebemos que os direitos humanos que são atualmente reconhecidos nas 
normas internacionais apresentam características de grupos distintos. Eles derivam 
de um longo processo de lutas sociais e avanços nas sociedades e na comunidade 
internacional. 
2.1. Direitos civis e políticos
Os direitos civis e políticos são fruto desse contexto de desenvolvimento das 
burguesias europeias e da luta contra o Antigo Regime. Esses direitos se 
fundamentam em uma perspectiva individualista e liberal política de sociedade, que 
27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
defende a limitação do poder estatal com base nos direitos do indivíduo. 
Alguns dos valores adotados pela perspectiva liberal política são as liberdades de:
Figura 13 - Circulação Figura 14 - Crença Figura 15 - Expressão
Figura 16 - Autodeterminação 
da própria vida
Figura 17 - Autodeterminação 
do próprio corpo
Fonte: https://www.flaticon.com
Os direitos civis e políticos são também chamados de “direitos humanos clássicos” 
e de “direitos de liberdade”. Eles abarcam as chamadas liberdades negativas de 
religião, de opinião, de imprensa, de não ser torturado e de ter sua vida privada 
respeitada, ou seja, a liberdade de não sofrer interferência estatal nessas áreas.
https://www.flaticon.com
28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 18 - Limite às liberdades individuais
Fonte: Imagem elaborada pela autora.
Os direitos civis e políticos possuem aplicação imediata. Isso quer dizer que, uma 
vez ratificada a normativa que prevê esses direitos, os Estados são obrigados a 
aplicá-los. Por exemplo, uma vez que o Brasil se comprometeu, por meio do Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos adotado pela ONU em 1966, a não 
prender um indivíduo arbitrariamente, ele se torna imediatamente obrigado a 
cumprir essa determinação. 
Nesse ponto, os direitos civis e políticos se diferenciam dos direitos econômicos, 
sociais e culturais, pois estes demandam gastos públicos maiores para que possam 
ser implementados. Falaremos mais sobre esse assunto mais adiante. 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) estabelece, no Artigo 2.1, 
a aplicação imediata de todos os direitos nele previstos:
Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir 
a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a 
sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação 
alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de 
outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou 
qualquer condição. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1966, Art. 2.1)
29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A obrigação que esse artigo impõe tem, ao mesmo tempo, caráter positivo e negativo:
O caráter positivo consiste na obrigação estatal de 
adotar medidas legislativas, judiciais, administrativas 
e outras para cumprir todas as obrigações 
decorrentes dos direitos civis e políticos previstos 
no Pacto. O negativo implica o dever de abster-se de 
violar qualquer um desses direitos, por exemplo, de 
impedir que alguma pessoa manifeste sua opinião 
sobre o governo, ou de prendê-la arbitrariamente. 
(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 110) 
O Quadro 3 apresenta exemplos de direitos civis e de direitos políticos:
Quadro 3 - Exemplos de direitos civis e políticos
Direitos Civis Direitos Políticos
Direito à vida
Direito de tomar parte na direção dos 
negócios públicos do seu país, quer 
diretamente ou por intermédio de 
representantes livremente escolhidos
Direito à liberdade Direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país
Direito à segurança pessoal
Direito a não ser mantido em 
escravatura ou em servidão
Proibição à escravatura e trato dos 
escravos, sob todas as formas
Direito ao reconhecimento, 
em todos os lugares, da sua 
personalidade jurídica
Direito a ter uma nacionalidade
Direito à propriedade
Fonte: Elaborado pela autora.
30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) foi 
promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 592, de 6 de julho 
de 1992. Acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/1990-1994/d0592.htm
A seguir, estudaremos os direitos econômicos, sociais e culturais.
2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais
Os direitos econômicos, sociais e culturais frequentemente demandam a atuação 
do Estado para serem implementados. Essa ação se materializa mediante políticas 
públicas e o fornecimento de bens e serviços.
O documento das Nações Unidas que aborda os direitos econômicos, sociais e 
culturais é conhecido como Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais 
e Culturais, datado de 1966. O Pacto apresenta vários trechos que ressaltam a 
importância de os Estados tomarem medidas para garantir a implementação desses 
direitos. Abaixo estão alguns exemplos desses trechos:
ARTIGO 2º
1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, 
tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, 
principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos 
disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios 
apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto, 
incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.
ARTIGO 6º
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que 
compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida 
mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas 
apropriadas para salvaguardar esse direito.
2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar 
o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica 
e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm
31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno 
emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das 
liberdades políticas e econômicas fundamentais.
ARTIGO 12
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de 
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim 
de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam 
necessárias para assegurar:
a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o 
desenvolvimento são das crianças;
b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;
c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais 
e outras, bem como a luta contra essas doenças;
 d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços 
médicos em caso de enfermidade. 
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966, arts. 2º, 6º e 12)
Diferentemente dos direitos civis e políticos, que são normas de aplicação imediata, 
os direitos econômicos, sociais e culturais são normas de realização progressiva.
Esses direitos são garantidos pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais, adotado pela ONU em 1966. Esse documento estabelece que o 
Estado se compromete a adotar medidas para o pleno exercício dos direitos neles 
reconhecidos. Nesse sentido:
• As medidas devem ser adotadas por esforço próprio ou pela 
assistência e cooperação internacionais, principalmente 
nos planos econômico e técnico, até o máximo dos recursos 
disponíveis. 
• Tais medidas visam assegurar, progressivamente, e por 
todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos 
reconhecidos no pacto. 
• A adoção de medidas legislativas é particularmente 
importante nesse contexto.
32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Os Princípios de Limburg são diretrizes interpretativas especificamente relacionadas 
ao artigo 2º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
Eles preceituam que compete aos Estados dar início imediato à adoção de medidas 
para a plena realização dos direitos sociais, econômicos e culturais. 
Ou seja, diferentemente dos direitos civis e políticos, cuja própria 
aplicação é imediata, no caso dos direitos econômicos, sociais e 
culturais, o que deve ser imediato é a adoção das medidas para a 
aplicação dos direitos. 
Os Estados deverão, assim, fazer uso dos meios apropriados, incluindo medidas 
legislativas, administrativas, judiciais, econômicas, sociais e educacionais, 
consistentes com a natureza dos direitos, a fim de realizá-los. Ainda no que diz 
respeito aos recursos, os Princípios de Limburg preceituam que os Estados devem 
prever recursos efetivos, e que é esse mesmo Estado parte quem avalia a adequação 
dos meios a serem aplicados por ele. 
A obrigação de realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais 
existe independentemente do aumento de recursos, pois o que é imposto aos 
Estados é que utilizem de forma eficaz os recursos disponíveis. Assim, para verificar 
se o Estado cumpre suas obrigações relacionadas à realização progressiva desses 
direitos, deve-se observar se os recursos disponíveis estão sendo utilizados de 
forma eficiente. 
Existem, porém, algumas obrigações derivadas dos direitos econômicos, sociais e 
culturais que não se sujeitam à realização progressiva. Elas se chamam obrigações 
essenciais. 
Nesse sentido, o Comentário Geral nº 3 do Comitê sobre os Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais da ONU trata da natureza das obrigações dos Estados partes 
constantes no artigo 2º, parágrafo 1º, do Pacto Internacional sobre os Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais. 
De acordo com o Comentário nº 3, os Estados têm a obrigação fundamental 
de assegurar como mínimo a satisfação de níveis essenciais de cada um dos 
direitos enunciados no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e 
Culturais. É por esse motivo que existem algumas obrigações derivadas dos direitos 
econômicos, sociais e culturais que são classificadas como obrigações essenciais e 
que possuem caráter imediato.
Assim, veja alguns trechos do Comentário Geral nº14/2000 sobre a obrigação 
essencial derivada do direito à saúde, que é um direito social:
33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
19. No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade de acesso 
aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm uma obrigação 
especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes, o necessário seguro 
médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer descriminação com base 
em motivos internacionalmente proibidos na prestação de cuidados de saúde e 
de serviços de saúde, em especial no que respeita às obrigações fundamentais 
do direito à saúde.
22. O artigo 12º, n.º 2 alínea a) descreve a necessidade de adotar medidas para 
reduzir a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento saudável de bebés 
e crianças. Em subsequentes instrumentos internacionais de direitos humanos é 
reconhecido que crianças e adolescentes têm o direito de gozar o melhor estado 
de saúde possível e o acesso a centros de tratamento de doenças. Uma atribuição 
inapropriada de recursos de saúde pode dar lugar a uma discriminação que 
poderá não ser manifesta. Por exemplo, os investimentos não devem favorecer 
desproporcionadamente os serviços curativos caros que muitas vezes são apenas 
acessíveis a uma pequena fração privilegiada da população, em detrimento 
da atenção primária e preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da 
população. 
(COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 2000, p. 8)
Um aspecto importante relacionado aos direitos econômicos, sociais e culturais é 
a vedação ao seu retrocesso. Conforme a jurisprudência internacional, a adoção 
de medidas que possam limitar os recursos destinados a gastos sociais podem ser 
ou não, por si só, violadoras dos direitos humanos. Sobre isso, o Comitê sobre os 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU entende que: 
O fato de que até em tempos de severas restrições de recursos disponíveis, se 
causadas por um processo de ajustamento, de recessão econômica ou por 
outros fatores, os membros vulneráveis da sociedade podem e de fato devem 
ser protegidos pela adoção de programas relativamente de baixo custo para o 
alcance das metas almejadas. 
(COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 1990, 
p. 12)
34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Isso quer dizer que, se o Estado limitar os recursos com gastos sociais, ele pode 
ser responsabilizado internacionalmente por violar direitos humanos. 
As medidas que retroagem em termos de direitos sociais são aquelas que fazem 
com que os Estados abandonem políticas e programas destinados a assegurar os 
direitos sociais. Além disso, as restrições causadas por essas medidas repercutem 
negativamente sobre a fruição desses direitos. Um exemplo disso seria o corte de 
gastos públicos com cuidados em saúde materno-infantil e o aumento considerável 
da mortalidade materna e infantil. 
Conforme afirmado anteriormente, os direitos humanos são universais, indivisíveis, 
interdependentes, inter-relacionados e de igual importância. À luz dessa afirmação, 
verifique no Quadro 4 a diferenciação entre os direitos civis e políticos, e os direitos 
econômicos, sociais e culturais:
Quadro 4 - Diferenças entre as dimensões de direitos
Critério de distinção Direitos civis e políticos Direitos econômicos, 
sociais e culturais
Fundamento 
teórico-filosófico
Burguesia e 
liberalismo político
Movimentos sindicalistas, 
socialistas e contestação 
do liberalismo político 
e econômico
Tipo de obrigação Ênfase na obrigaçãode respeitar
Ênfase na obrigação 
de realizar
Aplicação do direito Aplicação imediata Realização progressiva
Exigibilidade 
perante Cortes
Exigibilidade 
jurisdicional ampla
Exigibilidade 
jurisdicional restrita
Estado Estado democrático Estado do bem-
estar social
Finalidade primordial Autonomia Proteção do Estado
Fonte: Adaptado de Albuquerque, Barroso. 2021, p. 118. 
O direito à saúde é considerado um direito de segunda dimensão porque sua 
realização depende de ações positivas por parte do Estado para garantir o acesso a 
serviços e recursos de saúde adequados para toda a população. Ou seja, é um direito 
que exige uma intervenção ativa do Estado para ser efetivado, diferentemente dos 
direitos de primeira dimensão, como a liberdade de expressão e de associação, que 
são direitos negativos e que não requerem ações estatais para sua proteção.
35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, além do direito à saúde, incluem:
• Direito à educação: este direito exige que o Estado providencie educação 
gratuita e de qualidade para todos os cidadãos, além de garantir 
igualdade de acesso e oportunidades educacionais.
• Direito à previdência social: este direito implica que o Estado forneça 
proteção social aos cidadãos em situações de desemprego, velhice, 
doença, acidente, entre outras.
• Direito ao trabalho: este direito implica que o Estado tome medidas para 
garantir o pleno emprego e para proteger os direitos trabalhistas dos 
cidadãos, incluindo salário justo, condições de trabalho adequadas e 
proteção contra discriminação no local de trabalho.
Para compreender como funcionam as obrigações geradas pelos direitos de 
primeira e de segunda geração, bem como as violações a esses direitos no âmbito 
internacional, ouça o podcast a seguir:
Podcast 1 - Dimensões dos Direitos Humanos
Como vimos, nosso estudo não aborda os chamados direitos humanos de terceira 
dimensão, visto que esta classificação não apresenta significativa relevância. Isso 
acontece porque esses direitos não são usualmente objeto de peticionamento e 
monitoramento dos órgãos internacionais de direitos humanos, ou seja: não é 
comum que se denuncie a violação desses direitos aos sistemas de direitos humanos 
e nem que esses sistemas possuam mecanismos para acompanhar o cumprimento 
de tais direitos.
Nesse contexto, é importante destacar que os direitos humanos 
não são meramente ideias morais ou defesas de alguns grupos. A 
força desses direitos se baseia em dois pilares:
- São direitos de todas as pessoas, independentemente de 
qualquer fator ou característica pessoal.
- Os direitos humanos geram obrigações jurídicas para os Estados: 
são práticos, concretos e jurídicos.
https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu
36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas 
Regionais de Direitos Humanos
Entender os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos 
com enfoque nos Sistemas ONU e Interamericano de Direitos 
Humanos. 
3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos 
Humanos
Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos (Sistemas Internacionais de DH) 
são os conjuntos de normas, órgãos e mecanismos internacionais que surgiram, 
a partir de 1945, com o intuito de promover a proteção dos direitos humanos no 
mundo. 
Assim, eles se caracterizam por apresentar três elementos: 
• Normas
• Órgãos 
• Mecanismos
Para que uma região do planeta possa contar com um Sistema Internacional de DH, 
esses três elementos precisam estar presentes. 
As normas dos Sistemas Internacionais de DH compreendem o conjunto de tratados, 
declarações, princípios e outras normativas que integram esses Sistemas. Alguns 
exemplos de normas, nesse contexto, são os tratados, acordos, pactos, convenções, 
declarações, princípios, diretrizes, entre outros. 
Os órgãos são as instâncias e os organismos criados para monitorar o cumprimento 
dos tratados pelos Estados e aplicar as disposições desses tratados nos casos 
concretos específicos ou nas situações de graves violações de direitos humanos. Os 
órgãos de direitos humanos podem ser classificados como políticos, quase judiciais 
ou judiciais: 
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Quadro 5 - Tipos de órgãos de Direitos Humanos
Políticos Quase judiciais Órgãos judiciais
Não recebem 
comunicações e 
petições individuais e, 
portanto, não expedem 
recomendações 
destinadas a casos 
específicos e assim 
não responsabilizam 
o Estado por violação 
de direitos humanos.
Processam petições e 
comunicações individuais, 
e desse processamento 
resulta uma decisão 
que serve de base 
para recomendações 
que ensejam a 
responsabilização 
internacional do Estado.
Detêm o poder 
jurisdicional, logo, 
proferem sentenças 
internacionais.
Fonte: Elaborado pela autora.
Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o monitoramento da 
aplicação dos tratados pelos Estados.
Quadro 6 - Tipos de mecanismos
Tipo de mecanismo Definição
Procedimento iniciado por 
comunicação interestatal 
(entre Estados)
Comunicação feita por um Estado contra outro 
Estado perante órgão de direitos humanos
Procedimento iniciado por 
petição/comunicação individual
Petição ou comunicação feita pela 
vítima/representante ou peticionário 
ao órgão de direitos humanos
Procedimento iniciado por 
comunicação coletiva
Comunicação feita por uma 
organização não governamental a 
um órgão de direitos humanos
Relatório
Documento que contempla a situação 
de direitos humanos referente a 
um Estado, grupo ou temática
Visita in loco
Visita realizada em qualquer lugar da jurisdição 
de determinado Estado com o intuito de 
analisar a situação de direitos humanos
Inquérito
Averiguação confidencial de denúncia de 
sistemática violação de direitos humanos, 
que pode abranger visita ao Estado
Medidas Cautelares Medida requerida ao Estado a fim de prevenir dano irreparável à vítima em determinado caso
Fonte: Elaborado com base em Albuquerque; Barroso. 2021, p. 178.
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Outro ponto relevante que deve ser mencionado refere-se à jurisprudência 
em direitos humanos. Para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, a 
jurisprudência é constituída pelas decisões reiteradas das Cortes de Direitos 
Humanos, mas não somente delas: também estão incluídos nesse conjunto os 
documentos produzidos pelos diversos mecanismos de direitos humanos 
aprovados pelos Estados que integram a comunidade internacional.
Atualmente, há quatro Sistemas de Direitos Humanos. Um deles tem abrangência 
global, pois envolve todos os países membros da ONU (Sistema ONU de Direitos 
Humanos). Além desse sistema, que é universal, há três Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos, abarcando, cada um deles, um continente: Sistema Interamericano de 
Direitos Humanos, Sistema Europeu de Direitos Humanos e Sistema Africano de 
Direitos Humanos. Nesta unidade, abordaremos os Sistemas ONU, Interamericano 
e Europeu de Direitos Humanos. 
Para saber mais sobre o Sistema Africano de Direitos Humanos, 
acesse: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/
sistema_africano.asp
É importante destacar que as experiências em direitos humanos 
de outras regiões do planeta, como a da Liga Árabe ou da Ásia, não 
podem ser categorizadas como Sistemas, pois não compreendem 
os três elementos necessários para a classificação em Sistema de 
Direitos Humanos. 
A ONU tem incentivado os Estados a criarem Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos, visto que estes muitas vezes se mostram mais eficazes por três motivos 
principais: 
1) São mais próximos das realidades dos Estados que os integram; 
2) Possuem maior capacidade de lidar com questões de direitos específicas da 
região; 
3) Esses sistemas contam com Cortes de Direitos Humanos e, portanto, têm 
maior poder de constrangimento e persuasão jurídica. Nesse sentido,a Corte 
Interamericana e a Corte Europeia são consideradas exemplos da maturidade dos 
sistemas judiciais de proteção dos direitos humanos em nível regional.
Assim, a ONU enfatiza o papel dos sistemas regionais na promoção e proteção 
desses direitos. Não existe, porém, hierarquia entre os Sistemas Global e Regionais 
de Direitos Humanos. 
https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp
https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp
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É importante esclarecer que diferentes órgãos de direitos humanos proferem 
diferentes tipos de decisões, que são elaboradas após o trâmite de comunicação 
ou petição relacionada a um caso específico de violação de direitos humanos. Como 
dito anteriormente, os órgãos judiciais e quase judiciais são os órgãos capazes 
de proferir decisões. As decisões tomadas por cada um desses órgãos possuem 
diferentes naturezas jurídicas: 
Figura 19 - Natureza das decisões de órgãos de direitos humanos
Fonte: Elaborada pela autora.
Assim, você pode perceber que os Estados devem cumprir tanto as sentenças 
quanto as recomendações dos relatórios, porque ambos derivam da ratificação de 
tratados, não importando se a decisão é proveniente de órgão judicial ou quase 
judicial. Ou seja:
Os Estados que aderem aos tratados e demais normas de 
direitos humanos têm o dever de adimplir suas obrigações e, 
conseguintemente, executar espontaneamente os preceitos 
contidos na sentença e nos relatórios dos órgãos quase judiciais. 
(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 181).
3.1.1. Princípios que regem os Sistemas Internacionais de Direitos 
Humanos 
Os Sistemas Internacionais de Direitos humanos são guiados por alguns princípios. 
Vejamos a seguir. 
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3.1.1.1. Princípio da subsidiariedade ou complementaridade
Os Sistemas de DH atuam de forma subsidiária com relação aos órgãos e remédios 
domésticos. Assim, os órgãos de direitos humanos serão acionados pelas vítimas 
e peticionários somente após o Estado não ter respondido adequadamente às 
violações (conforme as normas de direitos humanos). 
Assim, perceba que o primeiro responsável pela observância dos direitos humanos é 
o Estado, e os próprios tratados de direitos humanos atribuem importantes funções 
de proteção aos órgãos dos Estados. Quando os Estados ratificam esses tratados, 
passam a ter a obrigação geral de adequar o seu ordenamento jurídico interno às 
diretrizes de proteção dos direitos humanos estabelecidas no instrumento que 
ratificaram. 
Para compreender como se dá a aplicação do princípio da subsidiariedade a um 
caso concreto, veja o vídeo a seguir, que demonstra esse princípio aplicado ao caso 
Ximenes Lopes vs. Brasil (2006), o primeiro caso de condenação do Estado brasileiro 
no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. 
Vídeo 1 - O princípio da subsidiariedade aplicado ao caso Ximenes 
Lopes vs. Brasil
3.1.1.2. Princípio da livre escolha 
Graças ao princípio da livre escolha, a vítima de violação de direitos humanos pode 
escolher para qual Sistema de Direitos Humanos deseja apresentar o seu caso, 
depois que os mecanismos internos do Estado não tiverem funcionado. A vítima 
deve, porém, escolher um Sistema ao qual o Estado que ela pretende denunciar 
seja subordinado. Por exemplo, uma vítima de violação de direitos humanos no 
Brasil não pode apresentar uma petição contra o Estado perante a Corte Europeia 
de Direitos Humanos, pois o Estado brasileiro não está submetido a essa jurisdição. 
3.1.1.3. Princípio da boa-fé e princípio da cooperação e do diálogo
Os princípios da boa-fé e da cooperação e do diálogo serão apresentados juntos 
devido à concordância desses temas. 
Nesse sentido, é importante frisar que os Órgãos de Tratados do Sistema ONU 
de DH adotam o chamado “diálogo construtivo” como metodologia de trabalho, 
especialmente quando examinam os relatórios dos Estados. 
https://youtu.be/i_p9y65PzfQ
https://youtu.be/i_p9y65PzfQ
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3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos 
O Sistema ONU é o sistema global de direitos humanos e possui diversos órgãos 
e normas. A seguir, vamos falar um pouco sobre a ONU e sobre esse Sistema, 
apresentando os pontos mais relevantes no âmbito da unidade estudada.
A ONU passou a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após ter sido 
ratificada a sua Carta pelos países membros originários, entre eles: China, Estados 
Unidos, França, Reino Unido, União Soviética e Brasil. Os propósitos da ONU são, de 
acordo com a Carta das Nações Unidas: 
• Manter a paz e a segurança internacionais
• Desenvolver relações amistosas entre as nações
• Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas 
internacionais de caráter 
 ° Econômico 
 ° Social 
 ° Cultural
 ° Humanitário
• Promover e estimular o respeito aos direitos humanos 
• Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações
3.2.1. Normativas de direitos humanos
O sistema ONU de Direitos Humanos é composto por diversos instrumentos 
normativos. Entre eles está a Carta Internacional de Direitos Humanos, que é 
composta por: 
• Declaração Universal dos Direitos Humanos 
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
• Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Além disso o Sistema ONU conta com sete Convenções Temáticas que incluem:
1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação Racial (1965)
2. Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação 
contra as Mulheres (1979)
3. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)
4. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)
Falaremos a seguir sobre algumas normativas de direitos humanos. Para melhor 
compreensão, consulte a imagem a seguir sempre que precisar, durante a leitura 
sobre os instrumentos normativos do Sistema ONU.
42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 20 - Normativas do Sistema ONU
Fonte: Elaborada pela autora.
Veja a seguir os instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos 
Humanos, os principais direitos protegidos por eles e sua relevância universal.
Quadro 7 - Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos
Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos 
e principais direitos protegidos por eles
Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos
Pacto Internacional sobre Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Direito à vida Direito ao trabalho
Liberdade de pensamento, 
consciência e religião Direito à educação
Direito à igualdade perante a lei Direito à saúde
Proibição da tortura e tratamentos 
cruéis, desumanos ou degradantes Direito à alimentação adequada
Direito à liberdade e à 
segurança pessoal Direito à moradia adequada
Liberdade de expressão Direito à segurança social
Direito à privacidade Direito à cultura
Direito à participação política Direito ao meio ambiente saudável
Fonte: Elaborado pela autora.
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Quadro 8 - Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos
Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos
Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos 
Pacto Internacional sobre Direitos 
Econômicos, Sociais e Culturais
Protege os direitos civis e 
políticos dos indivíduos, como 
a liberdade de expressão, 
de reunião pacífica e de 
participação política
Protege os direitos econômicos, sociais 
e culturais dos indivíduos, como 
o direito ao trabalho, à educação, 
à saúde e à segurança social.
Visa à garantia da liberdade 
e dignidade humana, 
incluindo o direito à vida e 
a proibição da tortura.
Visa à garantia da igualdade social e à 
eliminação das desigualdades econômicas, 
promovendo a distribuição justa dos 
recursos sociais e econômicos.
A aplicação dos seus princípios 
é fundamental para a 
promoção da democraciae do Estado de direito.
A aplicação dos seus princípios é 
fundamental para a promoção da 
justiça social e da dignidade humana
É um instrumento essencial 
na proteção dos direitos 
humanos e na luta contra a 
discriminação e a violência.
É um instrumento essencial na promoção 
da justiça social, na luta contra a pobreza 
e na garantia da igualdade social.
Fonte: Elaborado pela autora.
Além dos instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos Humanos, 
o conjunto normativo da ONU também contém sete Convenções Temáticas. São 
elas:
• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial (1965)
• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres (1979)
• Convenção contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes (1984)
• Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)
• Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os 
Trabalhadores Migrantes (1990)
• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)
• Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os 
Desaparecimentos Forçados (2006)
44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Cada uma dessas convenções possui um órgão de monitoramento, que supervisiona 
seu cumprimento pelos Estados que ratificaram o tratado correspondente. Por 
exemplo, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência é o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 
constituído por doze peritos. 
Veja, a seguir, mais algumas informações acerca das duas Convenções mais 
relevantes para o escopo desta unidade: a Convenção contra a Tortura e Outras 
Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Convenção 
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:
 + Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes 
Há diversas normativas no âmbito da ONU sobre o tema da tortura e de outras 
penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A Convenção contra a 
Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi 
adotada em 1984. 
De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou 
sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma 
pessoa, a fim de: 
• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões; 
• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou 
seja suspeita de ter cometido; 
• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas por qualquer motivo 
baseado em discriminação de qualquer natureza.
A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um 
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou 
por sua instigação, ou com seu consentimento e aquiescência. 
 + Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
Assim como a tortura, o assunto dos direitos das pessoas com deficiência também 
foi abordado em outros instrumentos normativos da ONU, como a Declaração 
dos Direitos das Pessoas com Retardo Mental de 1971.
A definição de pessoa com deficiência, para essa Convenção, compreende as 
pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza:
• Física 
• Mental 
• Intelectual
• Sensorial 
45Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Em interação com diversas barreiras, esses impedimentos podem obstruir 
a participação plena e efetiva dessa pessoa na sociedade em igualdade de 
condições com as demais pessoas. 
A Convenção defende o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver 
na comunidade com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas. 
Estes são os princípios da Convenção:
a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a 
Liberdade de fazer as próprias escolhas, e a Independência das pessoas
b) A não discriminação
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência 
como parte da diversidade humana e da humanidade
e) A igualdade de oportunidades
f) A Acessibilidade
g) A igualdade entre o homem e a mulher 
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com 
deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua 
identidade
Ainda, a Convenção trata do reconhecimento igual perante a lei, ou seja, as 
pessoas com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em qualquer lugar 
como pessoas perante a lei. Isso quer dizer que elas têm capacidade legal e 
igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida.
A Convenção pede que os Estados adotem as medidas apropriadas e efetivas 
para assegurar às pessoas com deficiência o direito de, como as demais pessoas: 
• possuir ou herdar bens; 
• controlar as próprias finanças; 
• ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de 
crédito financeiro; 
• não serem arbitrariamente destituídas de seus bens.
Como afirmado anteriormente, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com 
Deficiência monitora essa Convenção.
3.2.2. Os sistemas de direitos humanos da ONU
O Sistema ONU de Direitos Humanos é estruturado em dois outros sistemas: o 
Sistema Baseado na Carta da ONU e o Sistema Baseado nos Tratados. Veja a 
seguir uma ilustração dos dois sistemas de direitos humanos da ONU posicionados 
lado a lado, para a melhor compreensão, e consulte-a sempre que necessário:
46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Figura 21 - Os dois sistemas de direitos humanos da ONU
Fonte: Elaborada pela autora.
3.2.2.1. O Sistema Baseado na Carta 
O Sistema Baseado na Carta é relacionado aos direitos protegidos pela Carta da 
ONU. Esse sistema é composto pelo Conselho de Direitos Humanos, que é um 
órgão da Carta. O Conselho é de natureza política, por isso não recebe comunicação 
ou petição relacionada a caso singular de violação de direitos humanos, e é composto 
por representantes dos Estados. Como o Conselho de Direitos Humanos se baseia na 
Carta das Nações Unidas, todos os Estados membros se encontram submetidos a ele. 
Na figura a seguir, observe como está estruturado o Sistema Baseado na Carta da 
ONU: 
Figura 22 - Sistema Baseado na Carta da ONU
Fonte: Elaborada pela autora.
Veja, a seguir, um resumo das atribuições de cada um desses mecanismos:
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Quadro 9 – Atribuições dos mecanismos do Sistema Baseado na Carta da ONU
Mecanismos Funções
Revisão 
Periódica 
Universal
A proposta é realizar revisões periódicas universais baseadas 
em informações objetivas e confiáveis sobre o cumprimento 
das obrigações e compromissos de direitos humanos de 
cada Estado, garantindo a universalidade e igualdade de 
tratamento para todos os Estados membros da ONU. 
Os Estados avaliam mutuamente a situação de direitos 
humanos em seus respectivos países e têm a oportunidade 
de demonstrar as ações desenvolvidas para melhorar essa 
situação. O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos 
47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos.
Procedimento 
de Queixa
Qualquer pessoa, grupo ou organização pode apresentar 
uma comunicação confidencial sobre violações graves e 
sistemáticas de direitos humanos em qualquer parte do 
mundo. Um grupo de trabalho verifica se a queixa preenche 
os requisitos necessários para prosseguir e, em seguida, 
um outro grupo analisa a comunicação e a resposta do 
Estado denunciado, apresentando um relatório com 
recomendações ao Conselho de Direitos Humanos.
Procedimentos 
Especiais
Os procedimentos especiais consistem em especialistas 
independentes que elaboram relatórios e orientações sobre 
direitos humanos, seja a partir de uma perspectiva temática 
ou de um país específico. Eles monitoram e informam sobre 
violações de direitos humanos, recomendando soluções e 
realizando missões para avaliar a situação em um país e 
apresentando relatórios ao Conselho de Direitos

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