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EPIDEMIOLOGIA PROF.ª DRª WILZA LEITE UNAMA Macapá – AP 2024 Vigilância epidemiológica O QUE É VIGILÂNCIA? CONSIDERAÇÕES GERAIS O termo vigilância, conforme o significado que lhe é dado na área da saúde, tem, pelo menos, duas conotações: a de observação de pessoas e a de danos à saúde, com vistas a possibilitar alguma forma de intervenção ou controle. Vigilância de pessoas: Observação sistemática de determinados indivíduos para facilitar o pronto diagnóstico de infecções ou doenças de que podem ser acometidos. • Trata-se de uma estratégia de uso frequente na prática clínica e na de saúde pública, de que é exemplo o exame periódico de portadores de alguma característica que os coloquem em maior risco de morbidade (lactentes, gestantes) ou, quando já doentes, para detectar complicações tão cedo quanto possível. CONSIDERAÇÕES GERAIS • O exame periódico é realizado em indivíduos expostos a um fator considerado prejudicial para a saúde (trabalhadores) ou em pessoas suscetíveis que tiveram contato com um doente. Em certas ocasiões, a quarentena pode ser instituída. Ex.: Afastamento de crianças da escola e da população economicamente ativa na pandemia. • Finalidade principal: Tomar, ao primeiro sinal de alarme, uma pronta atitude de natureza médica, odontológica ou de outro teor. • A vigilância pode ser parte de pesquisas sobre a história natural da doença, como é o caso da investigação do estudo de fatores de risco e de prognóstico, ou da eficácia de uma vacina, medicamento, cirurgia, diagnóstico precoce ou outro tipo de intervenção. CONCEITO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Sistema de coleta, análise e disseminação de informações relevantes para a prevenção e o controle de um problema de saúde pública. • As variações de frequências de uma doença são imediatamente notadas quando, em curto prazo, o número de casos assume valores excepcionalmente altos ou baixos; por exemplo, as epidemias explosivas, consequentes à intoxicação alimentar. • Na maioria das vezes, as mudanças de incidência das doenças não são assim tão nítidas. Com a finalidade de detectar variações de tendências, traçar o perfil de doenças e problemas julgados prioritários, e agir em função deste diagnóstico, a sociedade custeia um sistema conhecido como vigilância epidemiológica. OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos específicos • Informar sobre a magnitude e a distribuição dos agravos à saúde, na população, usualmente em termos de morbidade e mortalidade; • Recomendar ou iniciar ações oportunamente, a fim de circunscrever o problema, se possível, na fase inicial de expansão, reduzir os seus níveis de morbidade e mortalidade, ou até mesmo eliminar o agravo à saúde, na localidade; • Avaliar medidas de saúde pública; por exemplo, o impacto de campanhas de vacinação ou a proteção e a segurança conferidas por um produto, como vacinas e medicamentos. Objetivo geral Gerar a informação pertinente e promover o seu uso com o propósito de tomar medidas para melhorar a saúde pública. ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA • O sistema de vigilância epidemiológica é planejado e mantido com determinadas características, para que possa realizar as atividades que lhe são próprias; • A situação pode requerer atuação imediata, nos pontos vulneráveis da rede causal, seja direcionada às pessoas ou ao meio ambiente. Por vezes, recomendam-se medidas de médio e longo prazos para resultados mais duradouros; • Tais medidas tomam a forma de recomendações exclusivas para a área da saúde ou, ao contrário, extensivas também a outros setores; • Todas as informações e as ações subsequentes são divulgadas, para conhecimento dos profissionais de saúde e do público em geral. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS Um número limitado de agravos à saúde é objeto de vigilância. As autoridades sanitárias decidem quais são eles e passam a acompanhar a evolução de suas incidências, recorrendo às fontes de dados disponíveis ou criando novas, para alimentar o sistema de vigilância epidemiológica. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE CASOS A base do sistema de vigilância epidemiológica é a notificação compulsória de casos. Trata-se de uma comunicação oficial, às autoridades sanitárias, da ocorrência de um agravo à saúde. Qualquer pessoa pode fazê-la: médico, enfermeiro. • Como ponto de partida para investigações que beneficiam diretamente o paciente, seus familiares, vizinhos e toda a comunidade; • Para averiguar, quando da investigação dos casos, as falhas das medidas de controle implantadas; • Para fornecer os elementos necessários para a composição de indicadores que reflitam o quadro epidemiológico da doença, na coletividade, e o impacto das medidas de controle. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE CASOS Lista de doenças sujeitas à notificação compulsória • Dentre as centenas de agravos à saúde que poderiam ser objeto de vigilância, apenas alguns são selecionados com essa finalidade. • Em regiões onde a vigilância epidemiológica não funciona a contento, postula-se que haja apenas um mínimo de dados coletados de forma rotineira, nos serviços de saúde: é o caso, por exemplo, de ficarem sujeitas à notificação apenas limitado número de doenças de maior importância em saúde pública enquanto as informações sobre as demais passam a ser obtidas por outros meios, como os inquéritos https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/notificacao-compulsoria https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/notificacao-compulsoria PRINCIPAIS FONTES DE DADOS NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA DE CASOS Diretrizes do Ministério da Saúde • A definição do elenco de doenças sujeitas à notificação, em um país, depende de orientação geral do Ministério da Saúde. Periodicamente, faz-se a revisão e a atualização da lista, mediante a introdução ou retirada de algumas doenças. Isto é universal. Em cada país, há um órgão central que toma estas decisões. • A relação elaborada pelo Ministério da Saúde, no Brasil, incorpora as doenças sujeitas ao “Regulamento Sanitário Internacional” (cólera, peste e febre amarela) e as que são objeto de vigilância da OMS, de importância epidemiológica no País (poliomielite e malária). Inclui também as doenças de particular importância para a saúde pública, geralmente as que requeiram investigação epidemiológica ou a aplicação imediata de medidas especiais de controle. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS PRONTUÁRIOS MÉDICOS • Os diagnósticos das internações e das consultas podem complementar as notificações, seja para acrescentar dados não-preenchidos, mas previstos no prontuário, ou dados ainda desconhecidos por ocasião da notificação, ou para detectar novos casos, não-notificados. • As doenças que requerem internação podem ser acompanhadas, apenas, com informações de hospitais, especialmente em determinadas épocas. Esse procedimento foi seguido, em algumas cidades brasileiras, durante o auge da epidemia de meningite meningocócica em 1970. • O próprio funcionamento de um hospital gera problemas, que podem ser acompanhados através de um sistema de notificações voluntárias ou com o uso de processos mais elaborados. É o caso da vigilância das infecções hospitalares, em que há procura ativa de casos. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS ATESTADOS DE ÓBITO Fonte de informação complementar às notificações. • Os atestados de óbito servem de mecanismo de alerta, na detecção de epidemias. Contar com um registro de óbitos abrangente e com atestados preenchidos, implantando-se paralelamente um processo de análise de dados, rápido e eficiente, para que a tendência do evento seja detectada em tempo útil. •Os funcionários que lidam com o registro de mortalidade, nas secretarias de saúde, comunicam à vigilância epidemiológica os óbitos entre cujas causas aparecem doenças sujeitas ao controle, quer se trate de causa básica ou associada do falecimento. • Em alguns estados, tal comunicação já é feita de rotina, por meio de cópias das próprias declarações de óbito.PRINCIPAIS FONTES DE DADOS RESULTADOS DE LABORATÓRIOS • Os laboratórios, por serem locais de confirmação diagnóstica, constituem recursos valiosos para detectar casos de doenças sujeitas a notificação. Ex.: biópsia; • Os dados laboratoriais de boa qualidade, não só complementam as notificações compulsórias, mas têm também o caráter de recurso adicional, para as investigações epidemiológicas, visando a precisar o diagnóstico etiológico. • O laboratório de microbiologia é particularmente útil em vigilância epidemiológica, pois retém informação pormenorizada sobre agentes infecciosos isolados de amostras enviadas a exame por motivos clínicos diversos. • Laboratórios mais bem equipados assim como os de “referência”, que realizam exames especializados, são valiosos para a verificação do progresso da infecção na comunidade e a identificação de microrganismos responsáveis por epidemias. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS RESULTADOS DE LABORATÓRIOS Epidemiologia molecular • A integração da biologia molecular na investigação epidemiológica deu origem a um novo campo do saber, denominado “epidemiologia molecular”. • Seu objetivo é tipar, em investigações epidemiológicas, os agentes de doenças, através de técnicas de genética molecular. • A validade destas técnicas é muito maior do que as tradicionais provas diagnósticas, o que se traduz por melhores oportunidades para investigar o papel dos agentes e dos fatores de risco na ocorrência e distribuição das enfermidades. Na atualidade, a epidemiologia molecular é mais uma ferramenta, de alta sensibilidade e especificidade, com que o pessoal de saúde conta para elucidar epidemias. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS BANCOS DE SANGUE Exemplos: Doença de Chagas, hepatite, sífilis, soropositividade. • Em outras cidades, especialmente as de grande porte, um enorme contingente de pessoas também é examinado em bancos de sangue. No entanto, representa uma amostra selecionada. • A padronização dos procedimentos, em especial, o método de triagem e as técnicas laboratoriais empregadas, tornaria os bancos de sangue locais privilegiados para estudo, em indivíduos adultos, da tendência secular destas infecções. • Os achados, em doadores de sangue, tendem a estar bem correlacionados com os resultados de inquéritos populacionais, o que faz com que sejam postulados como indicadores epidemiológicos, de obtenção rápida, em substituição aos inquéritos, em locais onde tais investigações não possam ser realizadas. Constituem importante fonte de informação sobre a morbidade. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS INVESTIGAÇÃO DE CASOS E DE EPIDEMIAS Alguns casos notificados são objeto de pesquisa domiciliar ou institucional. • As doenças de maior gravidade ou de baixa incidência, especialmente quando objeto de programas de erradicação e controle (poliomielite, sarampo e malária em certas regiões), são as mais adequadas para a investigação de casos individuais. • Esta segue uma rotina preestabelecida, e o pessoal delas encarregado é especialmente treinado para a tarefa. Os seus objetivos são os de confirmar o diagnóstico, seguir a cadeia epidemiológica, identificar os contatos e proteger os suscetíveis, na tentativa de bloquear a transmissão. • O trabalho de campo, durante a investigação de casos isolados ou no decurso de epidemias, faz aparecer numerosos outros casos que permaneceriam desconhecidos. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS INQUÉRITOS COMUNITÁRIOS • Identificar a situação de uma comunidade quanto a um dado evento, em geral, com o objetivo de determinar frequência, distribuição e fatores a ele relacionados. • Podem ser feitos por meio de entrevistas, exame físico ou exame laboratorial; nesta última modalidade, as investigações sorológicas têm importância especial. • Focalizam uma só doença (malária) ou um grupo delas (afecções respiratórias); cobrem toda a população ou apenas amostras; abrangem toda a comunidade ou limitam-se a grupos especiais, como escolares ou trabalhadores da indústria. • A dificuldade em obter dados válidos e confiáveis em sistemas rotineiros de notificação de doenças faz com que os inquéritos sejam utilizados como fonte de informação suplementar. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS DISTRIBUIÇÃO DE VETORES E RESERVATÓRIOS • O conhecimento do tipo de vetor responsabilizado pela transmissão, de sua distribuição e densidade, de seus hábitos, inclusive resistência a inseticidas, auxilia na indicação de caminhos mais apropriados para o seu controle. • As preocupações das autoridades sanitárias quanto ao comportamento dos mosquitos transmissores da dengue, para os quais é montado um sistema de vigilância, constituem exemplo. Uma outra ilustração é o programa de vigilância de vetores resistentes aos inseticidas. Cada doença tem, no seu complexo causal, as suas próprias especificidades, de modo que as estratégias de controle variam. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS USO DE PRODUTOS BIOLÓGICOS • A coleta de dados sobre o uso de certos produtos, como medicamentos, vacinas, soros, imunoglobulinas e inseticidas, pode complementar informações rotineiras sobre morbidade e proporcionar uma melhor noção sobre a imunidade da população. • Há diversos níveis onde a informação pode ser buscada: “aquisição” do produto, a sua “distribuição” ou a “utilização” pela população. • Em geral, a informação referente à utilização de um produto é de maior serventia do que a de aquisição e distribuição. Ex.: Vacinação de febre aftosa, vacinação de rotina contra o sarampo. PRINCIPAIS FONTES DE DADOS NOTÍCIAS DA MÍDIA • Os jornais, a televisão e o rádio, muitas vezes, são os primeiros a alertar as autoridades sanitárias sobre a possível ocorrência de casos e epidemias. Tais notícias devem ser levadas em consideração pelos profissionais de saúde. • Nas áreas rurais, eventuais rumores e comentários dos habitantes locais constituem fonte importante de informação: uma ilustração é a morte de macacos, sem causa aparente, o que faz pensar na possibilidade de febre amarela silvestre. Não é somente em relação às doenças infecciosas que as notícias da imprensa são úteis para o pessoal de saúde. Elas também o são no caso de compor um banco de dados sobre as causas externas de óbitos. Tais informações, se investigadas, são valiosas para a identificação precoce de problemas ou na detecção de casos que passariam despercebidos. ESTUDO DE CASO Mariana está fazendo aniversário e para comemorar seus 30 anos resolveu fazer uma festa para seus amigos e familiares na melhor casa de eventos da cidade onde mora. Mariana encomendou junto ao Buffet uma feijoada. Na data prevista, um dia ensolarado, Mariana recebeu cerca de 150 pessoas no local. A festa iniciou por volta das 11h e foi até às 17h, como previsto. Por volta das 20h, Juliana que participou da festa procurou o pronto socorro da cidade, com queixas de fortes dores abdominais, episódios agudos de vômitos e diarreia intensa. Logo em seguida, Carlos, que também esteve na comemoração, procurou o serviço de urgência com a mesma sintomatologia. Roberta, esposa de Carlos, apresentou as mesmas queixas além de dores de cabeça. Durante toda a madrugada, diversas pessoas que estiveram na festa apresentaram queixas parecidas e foram atendidas no pronto socorro. No dia seguinte, o serviço de vigilância em saúde foi notificado ao aumento abrupto e inesperado de casos de infecção intestinal no serviço médico local que relatavam o mesmo acontecimento. Qual o papel do serviço de Vigilância no caso apresentado? Qual a melhor abordagem a ser feita? REFERÊNCIA PEREIRA, M. G. Epidemiologia – Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2023.
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