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Tiro final – Revisão – Delta PCPE 1 de 508 gran.com.br https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 2 de 508 gran.com.br APRESENTAÇÃO Olá, futuro(a) Delegado(a) de Polícia Civil de Pernambuco! Elaboramos este material de revisão final com os tópicos que nossos professores julgam ser os essenciais para esse tiro final a poucos dias da sua prova. O material está direcionado para a sua banca, com muitas jurisprudências relevantes, questões apenas do CEBRASPE, tanto objetivas, quanto subjetivas, inclusive comentadas. Além disso, para auxiliar na memorização do conteúdo, o material está repleto de esquemas, tabelas, “bizus”, dicas, ilustrações, e muito mais, sempre buscando o trazer o melhor a vocês. Por isso, não se assustem com o número de páginas, garantimos que a leitura será leve e fluirá muito bem. Dividimos o seu material em duas parte: • Parte I – matérias do núcleo duro (Penal, Processo Penal, Constitucional, Administrativo, Legislação Extravagante) • Parte II – matérias periféricas (Civil, Processo Civil, Ambiental, Tributário, Criminologia, Medicina Legal, Legislação Estadual) Não temos tempo a perder, bora começar? BONS ESTUDOS! https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 3 de 508 gran.com.br SUMÁRIO GERAL 1. PENAL GERAL……………………………………………………………………………….……………...04 2. PENAL ESPECIAL……………………………..………………………………….……………………….83 3. PROCESSO PENAL……………………………………………..………………………………………150 4. CONSTITUCIONAL……………………………………………..………………………………………262 5. ADMINISTRATIVO……………………………………………………………………………………….350 6. LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE………………………………………….………………………434 https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 4 de 508 gran.com.br SUMÁRIO DIREITO PENAL 1. PRINCÍPIOS E GARANTIAS .................................................................................................................... 5 1.1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS .............................................................................................. 5 1.2. FONTES DO DIREITO PENAL ............................................................................................... 9 1.3. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ....................................................................................... 10 2. DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL .............................................................................................. 18 3. ESCOLAS PENAIS ................................................................................................................................ 19 3.1. TABELA RESUMO ............................................................................................................... 19 4. A LEI PENAL ......................................................................................................................................... 20 4.1. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL .................................................................................... 20 4.2. CLASSIFICAÇÃO DA LEI PENAL ......................................................................................... 20 4.3. LEI PENAL NO TEMPO ....................................................................................................... 22 4.4. LEI PENAL NO ESPAÇO ...................................................................................................... 26 5. TEORIA DO CRIME ............................................................................................................................... 32 5.1. INFRAÇÃO PENAL .............................................................................................................. 32 5.2. CONCEITO DE CRIME ......................................................................................................... 34 5.3. FATO TÍPICO ....................................................................................................................... 36 5.4. ILICITUDE ........................................................................................................................... 51 5.5. CULPABILIDADE ................................................................................................................. 56 6. ITER CRIMINIS ...................................................................................................................................... 64 6.1. FASES DO CRIME ............................................................................................................... 64 6.2. TEORIAS QUE DIFERENCIAM ATOS PREPARATÓRIOS DE EXECUTÓRIOS ...................... 65 6.3. TENTATIVA ......................................................................................................................... 66 6.4. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA, ARREPENDIMENTO EFICAZ E ARREPENDIMENTO POSTERIOR .................................................................................................................................. 68 6.5. CRIME IMPOSSÍVEL............................................................................................................ 72 7. CONCURSO DE PESSOAS ................................................................................................................... 73 7.1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ............................................................................................ 73 7.2. REQUISITOS ....................................................................................................................... 74 7.3. TEORIAS SOBRE CONCURSOS DE PESSOAS ................................................................... 74 7.4. AUTORIA ............................................................................................................................. 74 7.5. COAUTORIA ........................................................................................................................ 78 7.6. PARTICIPAÇÃO ................................................................................................................... 79 7.7. CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES CULPOSOS .......................................................... 80 7.8. CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS ......................................................... 80 7.9. PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS .................................................................. 81 7.10. (IN)COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS, CONDIÇÕES E ELEMENTARES ........ 82 7.11. COLABORAÇÃO PREMIADA E CONCURSO DE PESSOAS ................................................. 82 https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 5 de 508 gran.com.br 1 – PRINCÍPIOS E GARANTIAS 1.1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS O conceito de “Direito Penal” passa por três aspectos: (CESPE - 2015 - TJ-DFT - Técnico Judiciário - Administrativa) - Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção do direito acerca do delito, em uma visão legislativa do fenômeno; sob o prisma material, o conceito de crime é pré-jurídico, ou seja, é a concepção da sociedade a respeito do que pode e deve ser proibido. ITEM CORRETO! Conforme o entendimento doutrinário, as missões do Direito Penal dividem-se em duas, quais sejam: IMEDIATA MEDIATA • Assegurar bens jurídicos • Controle social; e • Limitação do poder punitivo estatal. Neste cenário, destaca-se o “funcionalismo”, corrente doutrinária que visa analisar a real função do Direito Penal e se apresenta entre “funcionalismo teleológico (ou moderado)” e “funcionalismo sistêmico (ou radical)”. Enquanto o primeiro visa assegurar proteção do bem jurídico (aqueles valores indispensáveis à convivência harmônica em sociedade), o segundo tem por objetivo assegurar o império da norma, validando o sistema. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE6 de 508 gran.com.br Ademais, o Direito Penal possui as seguintes classificações doutrinárias: SUBSTANTIVO ADJETIVO É o direito material, que cria as infrações penais (crimes + contravenções). É o direito formal, que trata das normas processuais. OBJETIVO SUBJETIVO Também chamado de “ius poenale”, é o conjunto de leis penais em vigor. Também chamado de “ius puniendi”, é o direito que o Estado possui de punir o infrator. Divide-se em: POSITIVO É a capacidade conferida ao Estado de criar e executar normas penais. NEGATIVO É a faculdade de derrogar ou restringir preceitos penais por meio da declaração de inconstitucionalidade. COMUM ESPECIAL É a norma penal objetiva aplicada através da justiça comum. É a norma penal objetiva aplicável por órgãos especiais e constitucionalmente previstos. Ex.: Justiça Militar, Eleitoral etc. Obs.: a distinção acima não pode ser confundida com legislação penal comum (CP) e legislação penal especial (leis extravagantes). https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 7 de 508 gran.com.br DE EMERGÊNCIA PROMOCIONAL SIMBÓLICO O Estado, atendendo demandas de criminalização, edita leis que cumprem função meramente representativa, assumindo feição punitivista e ignorando as garantias dos indivíduos. Afasta-se de seu caráter subsidiário e fragmentário. O Estado, objetivando concretizar seus fins políticos e efetivar políticas públicas, emprega leis buscando a transformação social. Afasta-se do princípio da intervenção mínima. O Estado, utilizando-se do medo e da sensação de insegurança da população, emprega instrumento demagógico ao Direito Penal, aprovando leis mais severas, mas que, na prática, mostram-se inócuas. Faz com que a sociedade tenha a falsa sensação de proteção. Se manifesta pelo “direito penal do terror” em duas facetas: inflação legislativa e hipertrofia do Direito Penal. DE INTERVENÇÃO COMO PROTEÇÃO DE CONTEXTOS DA VIDA EM SOCIEDADE O maior expoente desse viés é Winfried Hassemer, que defende o desalargamento do Direito Penal através da sua administrativização. Para tanto, o Direito Penal deveria ser utilizado apenas na proteção de infrações de bens jurídicos individuais e de perigo concreto. Já as infrações de bens jurídicos difusos (ou coletivos) e de perigo abstrato, deveriam ser tutelados pela Administração Pública, por meio de um sistema jurídico diverso, com sanções mais brandas, garantias materiais e processuais mais flexíveis e sem risco de privação da liberdade do infrator. Este seria o “Direito de Intervenção”, situado abaixo do Direito Penal, mas acima do Direito Administrativo. O formulador desse viés foi Günter Stratenwerth, cuja perspectiva se contrapõe à de Winfried Hassemer. Aqui, o enfoque máximo deveria ser dado à proteção dos interesses difusos e coletivos, colocando os direitos individuais em segundo plano. O Direito Penal seria transformado em um direito de gestão punitiva de riscos gerais. GARANTISTA O garantismo, utilizando-se dos direitos fundamentais consagrados na Constituição, passa a estabelecer o objeto e os limites do Direito Penal nas sociedades democráticas. Luigi Ferrajoli divide as máximas do garantismo em 10 axiomas que, ordenados em série e conectados sistematicamente, constituem as regras fundamentais do Direito Penal: 1) Nulla poena sine crimine; 2) Nullum crimen sine lege; 3) Nulla lex (poenalis) sine necessitate; 4) Nulla necessitas sine injuria; 5) Nulla injuris sine acione; 6) Nulla actio sine culpa; 7) Nulla culpa sine judicio; 8) Nullum judicio sine accusatione; 9) Nullum accusatio sine probatione; e 10) Nulla probatio sine defensione. Neste tema, cumpre destacar a crítica ao chamado “garantismo hiperbólico monocular”. É hiperbólico porque é aplicado de uma forma ampliada, desproporcional; e é monocular porque só enxerga os direitos fundamentais do réu (só um lado do processo). Contrapõe-se ao “garantismo penal integral”, que resguarda os direitos fundamentais afetos à coletividade. DO AUTOR DO FATO Punem-se os indivíduos em razão de suas condições pessoais. É utilizada no pós- crime e não para incriminar alguém. Punem-se as condutas lesivas praticadas pelos indivíduos. É a adotada para incriminar alguém. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 8 de 508 gran.com.br VELOCIDADES DO DIREITO PENAL 1ª VELOCIDADE • Jesús-Maria Silva Sánchez; • Procedimento mais vagaroso; • Respeito aos direitos e garantias fundamentais; • Penas privativas de liberdade; • Delitos mais graves; Ex.: CPP. 2ª VELOCIDADE • Jesús-Maria Silva Sánchez; • Procedimento mais célere; • Flexibilização de direitos e garantias fundamentais; • Penas alternativas; • Delitos menor gravidade; Ex.: JECRIM. 3ª VELOCIDADE • Jesús-Maria Silva Sánchez; • Procedimento mais célere; • Flexibilização e até a supressão de direitos e garantias fundamentais; • Penas privativas de liberdade; • Direito Penal do Inimigo; • Delitos de maior gravidade; Ex.: ORCRIM. 4ª VELOCIDADE • Daniel Pastor; • Está ligada ao Direito Penal Internacional; • Flexibilização de direitos e garantias fundamentais; • Aplicada aos chefes do Estado; • Neopunitivismo; Ex.: TPI. 5ª VELOCIDADE • Sociedade com maior assiduidade do controle policial; • Maior densidade da presença de policiais nas ruas. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RO - Delegado de Polícia) - Ao tratar de determinada função do direito penal, Cleber Masson esclarece que esta é “inerente a todas as leis, não dizendo respeito somente às de cunho penal. Não produz efeitos externos, mas somente na mente dos governantes e dos cidadãos. (...) Manifesta-se, comumente, no direito penal do terror, que se verifica com a inflação legislativa (direito penal de emergência), criando-se exageradamente figuras penais desnecessárias, ou então com o aumento desproporcional e injustificado das penas para os casos pontuais (hipertrofia do direito penal).” O autor ainda conclui que a função deve ser afastada, pois cumpre funções governamentais, ou seja, tarefas que não podem ser atribuídas ao direito penal. No texto apresentado anteriormente, Cleber Masson está se referindo à função denominada: simbólica. ITEM CORRETO! (CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-AC - Promotor de Justiça Substituto) - O garantismo hiperbólico é uma consequência da racionalidade do garantismo monocular, que, por sua vez, acarreta uma proteção sistêmica. ITEM INCORRETO, pois há nessa alternativa uma indução que o garantismo hiperbólico se origina através do garantismo monocular, sendo que são um só e complementares! (CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-AC - Promotor de Justiça Substituto) - O garantismo penal evoluiu para uma visão integral, protegendo, além dos direitos individuais, também https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 9 de 508 gran.com.br direitos sociais e coletivos, bem como os deveres, nos quais se insere, além do dever de investigar, processar e punir, também o direito das vítimas. ITEM CORRETO! (CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil) - O direito penal do autor poderá servir de fundamento para a redução da pena quando existirem circunstâncias pessoais favoráveis ao acusado. ITEM CORRETO! (CESPE - 2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - Consultor Legislativo Área XI) - O direito de punir do Estado está vinculado ao direito penal substantivo, ou direito penal objetivo. ITEM INCORRETO, pois o direito de punir do Estado está vinculado ao direito penal subjetivo! (CESPE - 2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - Consultor Legislativo Área XI) – O direito penal subjetivo refere-se ao conjunto de princípios e regras que se ocupam da definição das infrações penais e da imposição de penas ou medidas de segurança. ITEM INCORRETO, poiso conceito acima diz respeito ao direito penal objetivo! 1.2. FONTES DO DIREITO PENAL As fontes do Direito Penal se dividem em: • Material: é o órgão encarregado da criação do Direito Penal, ou seja, a fonte de produção da norma; • Formal: é o instrumento de exteriorização do Direito Penal, ou seja, a fonte de cognição da norma. No tocante à fonte material, cumpre ressaltar que, de acordo com o art. 22, I, da CRFB/88, a competência de legislar sobre direito penal é privativa da União. Todavia, conforme o parágrafo único do referido artigo, os Estados poderão, excepcionalmente, legislar sobre matéria de direito penal, desde que haja lei complementar autorizando e que o assunto seja sobre questões específicas (temas de interesse local). Já no que tange à fonte formal, acentua-se um ponto de divergência entre a divisão apresentada pela doutrina clássica e moderna. Vejamos: https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 10 de 508 gran.com.br DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA FONTES FORMAIS IMEDIATAS Lei Lei, Constituição Federal, tratados internacionais de direitos humanos, jurisprudência, princípios e complementos da norma penal em branco própria FONTES FORMAIS MEDIATAS Costumes e princípios gerais do direito Doutrina (os costumes configuram fontes formais imediatas) (CESPE - 2015 - TRE-MT - Analista Judiciário - Judiciária) - Segundo a doutrina majoritária, os costumes e os princípios gerais do direito são fontes formais imediatas do direito penal. ITEM INCORRETO, pois, para a doutrina clássica, os costumes os princípios gerais do direito são fontes formais mediatas! (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público - As fontes materiais revelam o direito; as formais são as de onde emanam as normas, que, no ordenamento jurídico brasileiro, referem-se ao Estado. ITEM INCORRETO, as fontes formais revelam o direito; as materiais são as de onde emanam as normas, que, no ordenamento jurídico brasileiro, referem-se à União. 1.3. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 1.3.1. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CRFB/88 e no art. 1º do CP: Art. 5º, XXXIX, CRFB/88 – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”; Art. 1º, CP - “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Ele possui dupla função: constitutiva (criminalização da conduta e constituição de penas) e de garantia (limita o ius puniendi do Estado, conferindo ao cidadão garantias mínimas). Ademais, a legalidade deve ser compreendida sob dois aspectos: LEGALIDADE FORMAL LEGALIDADE MATERIAL Obediência ao devido processo legislativo. O conteúdo do tipo deve respeitar os direitos e garantias do cidadão. Lei vigente Lei válida Este princípio se desdobra em quatro postulados: LEX SCRIPTA Inadmissibilidade do costume incriminador LEX STRICTA Inadmissibilidade da analogia in malam partem LEX PRAEVIA Consiste na anterioridade da lei penal LEX CERTA Consiste na taxatividade penal, vedando-se a criação de tipos penais obscuros ou vagos https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 11 de 508 gran.com.br Os seus subprincípios são: a) PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL OU DA LEGALIDADE ESTRITA A fonte da norma penal é única e exclusivamente a lei em sentido estrito, de tal forma que somente lei ordinária ou lei complementar podem criar crimes ou agravar penas. De acordo com o art. 62, § 1º, I, b, da CRFB/88, é vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de direito penal. Entretanto, o STF tem admitido medidas provisórias que versem sobre direito penal não incriminador, desde que a norma seja benéfica ao réu. Como decorrência desse princípio, não é permitido o uso de costumes para criar infrações penais, tampouco tratados internacionalizados. Ademais, em caso de lacuna deixada pelo legislador, faz-se uso da analogia, que permite aplicar a uma hipótese não regulada por lei a legislação de um caso semelhante. Todavia, destaca-se que é possível aplicar a analogia apenas em benefício do réu (in bonam partem), jamais para prejudicá-lo (in malam partem). Não confunda os conceitos a seguir: INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ANALOGIA Forma de interpretação Forma de interpretação Forma de integração Existe norma Existe norma Não existe norma Amplia-se o alcance da palavra Utilizam-se exemplos seguidos de uma fórmula genérica Cria-se norma a partir de outra Aplicável no Direito Penal in bonam partem ou in malam partem Aplicável no Direito Penal in bonam partem ou in malam partem Aplicável no Direito Penal apenas in bonam partem Ex.: a expressão “arma” no crime de roubo majorado Ex.: homicídio mediante paga ou promessa de recompensa “ou por outro motivo torpe” Ex.: a isenção de pena prevista nos crimes contra o patrimônio é aplicável, analogicamente, também ao companheiro b) PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE Proíbe a edição de normas penais vagas, imprecisas e indeterminadas. Mostra-se necessário que elas possuam clareza denotativa e que a população consiga compreendê- las. c) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE Não há crime nem pena sem lei prévia, de tal forma que a lei penal só pode ser aplicada para os fatos ocorridos a partir de sua vigência. Trata da “irretroatividade da lei penal”, tema que será melhor estudado no tópico relativo à aplicação da lei penal no tempo. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 12 de 508 gran.com.br 1.3.2. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA Trata-se de verdadeira complementação ao princípio da reserva legal, que orienta e limita o poder incriminador do Estado, pois nada impede que o legislador crie condutas criminosas de maneira desnecessária. Para Rogério Sanches, o princípio da intervenção mínima tem duas faces: • orienta quando e onde o direito penal deve intervir - neocriminalização; e • orienta quando e onde o direito penal deve deixar de intervir - abolitio criminis. Assim, a intervenção do Direito Penal depende do fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando apenas os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem juridicamente tutelado (caráter fragmentário). Deste princípio subdividem-se dois: a) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE A aplicação do Direito Penal deve ser subsidiária, ou seja, em último caso (ultima ratio). Ele somente será utilizado quando as soluções apresentadas pelos outros ramos do Direito não se mostrarem suficientes. Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto. b) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, não sendo razoável que o Estado o utilize para tutelar qualquer bem jurídico. Direciona-se ao legislador, no plano abstrato. 1.3.3. PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DOS BENS JURÍDICOS Aborda que a norma penal deve ser criada apenas para tutelar bens jurídicos cuja relevância mereça a proteção que o Direito Penal oferece. Isto posto, não se pode criminalizar, por exemplo, pensamentos, intenções etc. Veda-se a chamada “proibição pela proibição”, ou a criminalização como “instrumento de mera obediência”. 1.3.4. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE OU DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA Encontra previsão no art. 5º, XLV, da CRFB/88: Art. 5º, XLV, CRFB/88. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 13 de 508 gran.com.br A responsabilidade penal pertence ao agente que culposa ou dolosamente deu causa ao resultado. Obs.: não confunda a “obrigação de reparar o dano” com a “pena de multa”, pois enquanto aquela pode serestendida aos sucessores e contra eles executada, esta tem caráter punitivo, e como tal, fica vinculada à pessoa do condenado! 1.3.5. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE É princípio constitucional implícito, que se configura como desdobramento do princípio da individualização da pena. Ocorre que, para que a sanção penal cumpra sua função, ela deve se ajustar à relevância do bem jurídico tutelado, sem ignorar as condições pessoais do agente. Tal princípio incide no plano legislativo, judicial e de execução da pena, e apresenta dupla face: de um lado proíbe o excesso (garantismo negativo) e do outro proíbe a proteção insuficiente (garantismo positivo). 1.3.6. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE Encontra previsão no art. 5º, XLVII, da CRFB/88: Art. 5º, XLVII, CRFB/88. XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; Este princípio garante que os infratores da lei não sejam submetidos a penas cruéis ou degradantes, assegurando o respeito à dignidade da pessoa humana. 1.3.7. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE Nulla poena sine culpa, ou seja, não há pena sem culpa. Este princípio é a base para a ideia de que a responsabilidade penal é pessoal e subjetiva, de tal forma que só pode ser aplicada se existente dolo ou culpa. Veda-se consequentemente, a responsabilidade penal objetiva. Outrossim, o Estado só pode impor sanção penal ao agente imputável, com potencial consciência da ilicitude e quando dele exigível conduta diversa. • É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da dupla imputação. STJ. 6ª Turma. RMS 39173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 14 de 508 gran.com.br 1.3.8. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA Encontra previsão no art. 5º, LVII, da CRFB/88: Art. 5º, LVII, CRFB/88 - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 1.3.9. PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE Nullum crimen sine iniuria, ou seja, não há crime sem ofensa ao bem jurídico. Assim, o princípio da ofensividade exige que o fato praticado ocorra em lesão ou em perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Relembre os conceitos a seguir: CRIME DE DANO CRIME DE PERIGO O bem jurídico penalmente tutelado é efetivamente lesado. O bem jurídico penalmente tutelado sofre um risco de lesão. Divide-se em: CONCRETO O risco para o bem jurídico deve ser comprovado. ABSTRATO O perigo é presumido pela própria lei, dispensando a sua comprovação. 1.3.10. PRINCÍPIO DA ALTERIDADE Consiste no comando segundo o qual uma conduta, para ser penalmente relevante, deve transcender seu autor e atingir bem jurídico de outrem. Ninguém pode ser punido por causar mal a si próprio, fundamentando a impossibilidade da punição da autolesão. 1.3.11. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM Preconiza que ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime. • Diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias contra o mesmo condenado, por fatos idênticos, deve prevalecer a condenação que transitou em primeiro lugar. STJ. 6ª Turma. RHC 69586-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/11/2018 (Info 642). 1.3.12. PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal, ela não será típica quando socialmente aceita e adequada, isto é, se estiver em conformidade com a ordem social da vida historicamente condicionada. Trata-se de causa supralegal de exclusão da tipicidade material. Além disso, esse princípio possui a função de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal e de orientar a atividade legislativa. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 15 de 508 gran.com.br Importante salientar que a aplicação da adequação social em delito de direito autoral é vedada pelo STJ: Súmula 502 do STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art. 184, § 2º, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas. 1.3.13. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA Este princípio, conhecido também como criminalidade de bagatela ou infração bagatelar própria, não encontra previsão na legislação, mas é pacificamente admitido pela jurisprudência do STF e do STJ. A natureza jurídica do princípio da insignificância é de causa supralegal de exclusão da tipicidade material, e funciona, hermeneuticamente, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. É imprescindível diferenciar “valor insignificante” de “pequeno valor” (um dos requisitos do furto privilegiado – art. 155, § 2º, do CP), visto que ambos não são sinônimos. Entretanto, não é apenas o valor que deve ser analisado para que a insignificância da conduta seja reconhecida. Para tal, o STF estabeleceu quatro requisitos: Tendo em vista que o estudo em questão é voltado para as carreiras policiais, questiona-se: o Delegado de Polícia pode aplicar o princípio da insignificância diante de uma situação flagrancial? • Primeira corrente (STJ): NÃO, pois essa função seria do Poder Judiciário, estando a autoridade policial obrigada a submeter a questão à autoridade judiciária. Portanto, ao receber uma prisão em flagrante, o delegado deverá apenas lavrar o APF - HC 154.949/MG. • Segunda corrente (doutrinária): SIM, pois conforme o art. 302 do CPP, o delegado lavrará o APF diante de uma infração penal, que é, conforme o conceito analítico, fato típico, ilícito e culpável. Portanto, ele estaria apto a https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 16 de 508 gran.com.br analisar a ausência de um desses elementos, deixando de lavrar o APF. Isto ocorreria em razão da ausência de fato típico, pelo princípio da insignificância. Devido à divergência de entendimentos, esse tema não é muito abordado em provas, porém, caso seja, para as provas de carreiras policiais, a corrente mais adequada é a segunda. Por conseguinte, destaca-se que esse é um dos princípios mais cobrados em provas, principalmente no que diz respeito à sua jurisprudência. Elas são muitas e, por vezes, conflitantes entre si, portanto, para que revisemos de forma mais rápida e objetiva, iremos destrinchá-las em tópicos: REINCIDÊNCIA • Reincidência por si só: “A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto” – STF; • Criminoso habitual: “A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente recomendável” – STJ. MULTIRREINCIDENTE • Regra: não; • Exceção: há julgado do STJ permitindo, em casos excepcionais, nos quais é reduzidíssimo o grau de reprovabilidade da conduta. DROGAS • Tráfico ilícito de drogas: inaplicável, porquanto trata-se de crime de perigo presumido ou abstrato, sendo irrelevante a quantidade de droga apreendida em poder do agente; • Posse de drogas para consumo pessoal: inaplicável, pois a pequena quantidade de droga faz parte da própria essência do delito em questão. CRIMES AMBIENTAIS • Nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, em regra, este princípio não é aplicável, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto individual. Entretanto, nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais superiores adotam como regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em crimes ambientais, devendo ser analisadas as circunstânciasespecíficas no caso concreto; • Exceção: não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal – STF; • Hipótese em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal: o STJ aplicou, de forma excepcional, o princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1 único peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio ambiente. CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO • Crimes tributários federais e descaminho: o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00; • ATENÇÃO: o valor de 20 mil reais para aplicação do princípio da insignificância será somente aos crimes tributários FEDERAIS. De tal forma que, não se aplica, automaticamente, o parâmetro dos tributos federais aos crimes tributários estaduais, devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo – STJ; CONTRABANDO • Regra: não se aplica o princípio da insignificância; • Exceção: pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio – STJ. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA • Súmula 599-STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública”. • Exceção: descaminho (apesar de ser um crime tributário, está topograficamente inserido no título dos “Crimes contra a Administração Pública”). https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 17 de 508 gran.com.br • Exceção: admite-se, excepcionalmente, a aplicação do princípio da insignificância a crime praticado em prejuízo da administração pública quando for ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado - STJ. FURTO QUALIFICADO • Regra: o STF/STJ entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no furto qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; • Exceção: quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância – STJ. FURTO SIMPLES • Regra: não deve se levar em conta apenas o valor da coisa furtada, mas sim o caso concreto, como o perfil subjetivo do agente, de tal forma que o STJ tem permitido a aplicação do referido princípio quando o valor do bem subtraído corresponda até 10% do salário-mínimo vigente na época – STJ. • Restituição imediata e integral do bem furtado: não constitui, por si só, motivo suficiente para a incidência do princípio da insignificância – STJ. • Multirreincidente: não se aplica a insignificância no furto de coisa superior a 10% do salário-mínimo, sendo o réu multirreincidente. – STJ. CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA • Regra: não aplica; • Exceção: uso de atestado falso – STJ. POSSE OU PORTE DE ARMA OU MUNIÇÃO • Regra: não é possível, pois são crimes de perigo abstrato – STJ; • Exceção: crime de porte ilegal de pouca quantidade de munição desacompanhada da arma – STJ; uso de munição como pingente e aplicação do princípio da insignificância – STF. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA • Súmula nº 589, STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.” ATOS INFRACIONAIS • É possível. Por fim, faz-se um adendo à chamada “infração bagatelar imprópria”, que possui todos os elementos previstos no conceito analítico de crime, mas a sua punição torna- se desnecessária (ex.: perdão judicial por homicídio culposo de filho). Desse modo, enquanto o princípio da insignificância próprio tem natureza jurídica de causa excludente da tipicidade material, o princípio da insignificância impróprio possui natureza jurídica de causa excludente da punibilidade. (CESPE / CEBRASPE - 2023 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto (fase matutina) - O princípio da vedação à dupla persecução (ne bis in idem processual) poderá ser excepcionado quando o julgamento no exterior não se realizar de modo justo e legítimo. ITEM CORRETO! (CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1) - Para o STF, de acordo com o princípio da culpabilidade, somente é possível imputar crime a pessoa jurídica se, simultaneamente, o ilícito penal for imputado à pessoa física que tenha sido o autor material da conduta. ITEM INCORRETO, pois, segundo o STF, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome! (CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1) - Nenhum dos princípios que regem o direito penal veda a criminalização, pelo legislador, da tentativa de suicídio, embora, no momento, esta conduta não esteja tipificada. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 18 de 508 gran.com.br ITEM INCORRETO, pois o princípio da alteridade veda a tipificação da autolesão! (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TC-DF - Procurador) - Pelo princípio da fragmentariedade, o direito penal só deve intervir em ofensas realmente graves aos bens jurídicos mais relevantes. ITEM CORRETO! (CESPE - 2020 - MPE-CE - Promotor de Justiça de Entrância Inicial) - O princípio da adequação social serve de parâmetro fundamental ao julgador, que, à luz das condutas formalmente típicas, deve decidir quais sejam merecedoras de punição criminal. ITEM INCORRETO, pois o princípio da adequação social serve de parâmetro ao legislador, que deve buscar afastar a tipificação criminal de condutas consideradas socialmente adequadas! (CESPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal) - A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para fundamentar ou alterar a pena. ITEM INCORRETO, pois é possível a analogia in bonam partem! (CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) - O princípio da bagatela imprópria implica a atipicidade material de condutas causadoras de danos ou de perigos ínfimos. ITEM INCORRETO, pois o princípio da bagatela imprópria não exclui a tipicidade do crime, apenas afasta a aplicação da pena, funcionando como causa excludente de punibilidade. O que afasta a materialidade do delito é a bagatela própria (ou princípio da insignificância), funcionando como causa supralegal de exclusão da tipicidade! (CESPE - 2018 - PC-SE - Delegado de Polícia) - Em razão do princípio da legalidade penal, a tipificação de conduta como crime deve ser feita por meio de lei em sentido material, não se exigindo, em regra, a lei em sentido formal. ITEM INCORRETO, pois em razão do princípio da legalidade penal, a tipificação de conduta como crime deve ser feita por meio de lei em sentido estrito, ou seja, atendendo, cumulativamente, ao critério material (conteúdo) e critério formal (processo legislativo) de lei! (CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) - Assinale a opção que apresenta princípios que devem ser observados pelas leis penais por expressa previsão constitucional: legalidade, irretroatividade, responsabilidade pessoal, presunção da inocência, individualização da pena. ITEM CORRETO! 2 – DIREITO PENAL E POLÍTICA CRIMINAL DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL É uma ciência normativa que estuda o “deve ser”. Analisa comportamentos humanos indesejados, define quais devem ser qualificados como infrações penais e fixa as suas respectivas sanções. Ocupa- se do crime enquanto norma. É uma ciência indutiva, empírica e interdisciplinar que se ocupa com o estudo do crime, do criminoso, da vítima e dos mecanismos de controle social. Não recorre às normas penais. Ocupa-se docrime enquanto fato. É a ciência ou arte de selecionar os bens jurídicos que devem ser tutelados penalmente e os caminhos para tal tutela. É uma ciência de fins e meios, pois apresenta críticas e propostas para a reforma do direito penal em vigor. Para tanto, ela se dedica a receber as contribuições da Criminologia e a propor medidas para equacionar os delitos. Ocupa-se do crime enquanto valor. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 19 de 508 gran.com.br 3 – ESCOLAS PENAIS 3.1. TABELA RESUMO De acordo com Rogério Sanches (Manual de Direito Penal – Parte Geral, págs. 58 e 59): ESCOLA CRIME DELINQUENTE PENA AUTORES CLÁSSICA É um ente jurídico. É ser livre que pratica o delito por livre escolha. Retributiva Beccaria, Carrara e Fuerbach. POSITIVA É um fato humano. É ser anormal sob a ótica biológica e psicológica, sem livre- arbítrio. Ideia do criminoso nato. Baseada no determinismo (defesa do corpo social). Lombroso, Ferri e Garofalo. TERZA SCUOLA ITALIANA É um fenômeno individual e social. Escola eclética com conceitos clássicos e positivistas. Não é um ser anormal e nem é dotado de livre- arbítrio. Baseada na defesa social, reconhece o seu caráter aflitivo. Lassagne, Tarde e Maouvrier. HUMANISTA É o desvio moral de conduta. Induziu a noção de delinquência artificial” – crime que não viola a moral. É o imputável, por ser passível de educação. Baseada na educação, é forma de educar o delinquente. Vicenzo Lanza. TÉCNICO- JURÍDICA É fenômeno individual e social. É dotado de livre-arbítrio e responsável moralmente. É meio de defesa contra a perigosidade do agente, cujo objetivo é castigá-lo. Karl Binding, Arturo Rocco, Vincenzo Manzini, Giacomo Delitala, Maggiore. MODERNA ALEMÃ É ente jurídico e fenômeno de ordem humana e social. É pessoa simultaneamente livre e parcialmente condicionada pelo ambiente que o circunda. Não há criminoso nato. É instrumento de ordem e segurança social, cuja função é preventiva geral negativa, o seja, de coação psicológica. Feuerbach, Franz Von Lizst, Van Hamel, Adolpho Prins. CORRECIO- NALISTA É um ente jurídico de criação da sociedade. É um ser anormal, portador de uma vontade reprovável. É a correção da vontade do criminoso e não a retribuição a um mal, motivo pelo qual pode ser indeterminada. Karl David August Roeder. DA NOVA DEFESA SOCIAL É um mal que desestabiliza o aprimoramento social. É a pessoa que precisa ser adaptada à ordem social. É uma reação da sociedade, cujo objetivo é proteger o cidadão. Filippo Gramatica e Marc Ancel. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 20 de 508 gran.com.br 4 – A LEI PENAL 4.1. CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL 4.2. CLASSIFICAÇÃO DA LEI PENAL As leis penais se dividem em: • Incriminadoras: definem as infrações penais e cominam penas; • Não incriminadoras: não definem infrações penais e nem cominam penas, classificando-se da seguinte forma: LEI PENAL NÃO INCRIMINADORA EXPLICATIVA / INTERPRETATIVA • Se destina a esclarecer o conteúdo da norma; • Ex.: conceito de funcionário público (art. 327, CP). EXTENSÃO / INTEGRATIVA • Se destina a viabilizar a tipicidade de alguns fatos. TEMPORAL • Tentativa (art. 14, II, CP). PESSOAL E ESPACIAL • Participação (art. 29, CP). CAUSAL • Crimes comissivos por omissão (art. 13, § 2º, CP); PERMISSIVA JUSTIFICANTE • Se destina a tornar lícita algumas condutas que seriam ilícitas; • Ex.: legítima defesa (art. 25, CP); PERMISSIVA EXCULPANTE • Se verifica quando elimina a culpabilidade; • Ex.: embriaguez acidental completa (art. 28, § 1º, CP) COMPLEMENTAR • Tem a função de delimitar a aplicação das normas incriminadoras; • Ex.: aplicação da lei penal no território brasileiro (art. 5º, CP). (CESPE - 2011 - TJ-ES - Comissário da Infância e da Juventude - Específicos) -Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à proibição de se realizar incriminações vagas e indeterminadas, visto que, no preceito primário do tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de definição precisa da conduta proibida ou imposta, sendo vedada, com base em tal princípio, a criação de tipos que contenham conceitos vagos e imprecisos. ITEM CORRETO! https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 21 de 508 gran.com.br (CESPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) -O dispositivo legal que prevê o estado de necessidade é uma norma penal não incriminadora permissiva justificante porque tem por finalidade afastar a ilicitude da conduta do agente. ITEM CORRETO! Além da divisão acima, as leis penais também se apresentam como: • Completas/perfeitas: possuem todos os elementos da conduta criminosa; • Incompletas/imperfeitas: a complementação da definição da conduta de determinada norma depende de complemento normativo (norma penal em branco) ou valorativo (tipo penal aberto). Um exemplo de tipo penal aberto, que necessita de complemento dado pelo juiz, é o crime culposo, pois o legislador não enuncia quais são as formas de negligência, imprudência e imperícia. Já a norma pena em branco, que necessita de complemento dado por outra norma, possui as seguintes classificações: NORMA PENAL EM BRANCO HOMOGÊNEA/IMPRÓPRIA/EM SENTIDO AMPLO HETEROGÊNEA/PRÓPRIA/EM SENTIDO ESTRITO O complemento normativo advém da mesma fonte de produção. Divide-se em: homovitelina e heterovitelina. O complemento normativo advém de fonte de produção diversa. Ex.: o crime de “tráfico de drogas” (art. 33, lei nº 11.343/06) extrai o rol de substâncias consideradas como “droga” da Portaria da Anvisa (Portaria 344 SVS/MS). HOMOVITELINA / HOMÓLOGA HETEROVITELINA / HETEROLÓGA O complemento advém da mesma instância legislativa. Ex.: o crime de “peculato” (art. 312, CP) extrai o conceito de funcionário público do próprio CP (art. 327, CP). O complemento advém de instância legislativa diversa. Ex.: o crime de “ocultação de impedimento para o casamento” (art. 326, CP) extrai as hipóteses impeditivas da união civil do CC (art. 1521, CC). AO QUADRADO DE FUNDO CONSTITUCIONAL A norma requer um complemento que, do mesmo modo, requer outro complemento. Ex.: art. 38 da lei nº 9.605/98 (crimes ambientais). A norma é complementada por uma norma constitucional. Ex.: o crime de “abandono intelectual” (art. 246, CP) extrai o conceito de “instrução primária” da Constituição Federal (art. 208, I, CF). AO REVÉS/INVERTIDA/AO AVESSO A sanção da norma é complementada pelo preceito secundário de outra lei. Ex.: art. 1º da lei nº 2.889/56 (lei de genocídio). (CESPE / CEBRASPE - 2023 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto) - A norma penal em branco invertida é admissível, desde que homogênea. ITEM CORRETO! (CESPE - 2015 - TRE-MT - Analista Judiciário – Judiciária) - Configura lei penal em branco em sentido estrito o artigo do Código Penal, que estabelece como criminosa a conduta de casar-se mesmo conhecendo existir impedimento que acarrete a nulidade absoluta do casamento. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 22 de 508 gran.com.br ITEM INCORRETO, pois o seu complemento deriva do Código Civil - isto é, mesma fonte legislativa - trata-se de norma penal em branco homogênea. Além disso, por ser norma diversa do Código Penal, trata-se de norma penal em branco homogênea heteróloga! (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) - O complemento da norma penal em branco considerada em sentido estrito provém da mesma fonte formal, ao passo que o da norma penal em branco considerada em sentido lato provém de fonte formal diversa. ITEM INCORRETO, pois os conceitos estão invertidos! 4.3. LEI PENAL NO TEMPO Em decorrência do princípioda legalidade, em regra, aplica-se a lei penal vigente ao tempo da realização da conduta criminosa (tempus regit actum). Excepcionalmente, a lei penal retroagirá, desde que benéfica ao réu. Vale destacar que essa sistemática só se aplica às normas de natureza material (penal) ou híbridas (penal e processual), uma vez que as normas de natureza puramente processual se situam na regra geral, não se submetendo à retroatividade benéfica. Portanto, a diferença entre normas penais e processuais penais no conflito de leis no tempo é a seguinte: NORMAS PENAIS NORMAIS PROCESSUAIS PENAIS PURAS Princípio da retroatividade benéfica Princípio do Tempus Regit Actum Art. 5º, XL, da CRFB/88. A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu Art. 2º do CPP. A lei processual penal aplicar- se—á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Entretanto, esses precedentes constitucionais (retroatividade benéfica) são inaplicáveis para precedentes jurisprudenciais: • Vigora no ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da irretroatividade da norma mais gravosa. Esse princípio não se aplica (não vale) para interpretação jurisprudencial. Esse princípio se aplica apenas para lei penal. Assim, mesmo que a nova interpretação seja mais gravosa, deve ser aplicada para fatos anteriores. A CF/88 diz, no art. 5º, XL, que "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;". A partir da leitura desse art. 5º, XL, é possível extrair dois preceitos: - é retroativa a aplicação da norma penal benéfica - é irretroativa a norma mais grave ao acusado https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 23 de 508 gran.com.br Esses preceitos constitucionais são inaplicáveis para precedentes jurisprudenciais (para decisões do Poder Judiciário). Assim, o art. 5º, XL, da CF/88 - que trazem esses preceitos - não se aplica para mudanças de entendimento jurisprudencial (só valem para mudanças legislativas). STF. 1ª Turma. HC 161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/05/2020. Em algumas situações, as leis penais se sucedem no tempo, suscitando cinco situações distintas: a) Sucessão de lei incriminadora Ocorre quando uma nova lei entra em vigor e passa a criminalizar uma conduta que antes era atípica. É irretroativa. Art. 1º, CP - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. b) Novatio legis in pejus Ocorre quando uma nova lei estabelece situação mais gravosa (lex gravior) ao réu em uma conduta que já era típica. Não há retroatividade prejudicial, de tal forma que a nova lei só valerá para aqueles que cometerem a conduta delituosa depois da sua entrada em vigor. Caso uma lei mais gravosa entre em vigor no decorrer da prática de um crime permanente ou continuado, esta será aplicada, pois as condutas criminosas em questão ainda não cessaram. É o que preconiza a súmula 711 do STF: Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Obs.: não se deve confundir crime continuado com o crime permanente. No crime continuado, há diversas condutas que, separadas, constituem crimes autônomos, mas que são reunidas por uma ficção jurídica dentro dos parâmetros do art. 71 do Código Penal. No crime permanente há apenas uma conduta, que se prolonga no tempo. (CESPE / CEBRASPE - 2023 - TJ-ES - Analista Judiciário - Especialidade: Direito) - O crime permanente é aquele cujo resultado prolonga-se no tempo, atraindo a aplicação da lei penal vigente ao término do resultado. ITEM INCORRETO, pois não é o resultado, mas sim a consumação do crime que se prolonga no tempo. c) Novatio legis in mellius Ocorre quando uma nova lei estabelece situação mais benéfica (lex mitior) ao réu em uma conduta que já era típica. Há retroatividade benéfica, alcançando situações anteriores a sua entrada em vigor. Art. 2º, parágrafo único, CP – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Ainda, prevalece no STJ e no STF a impossibilidade de combinação de leis penais para favorecer o réu (lex tertia): https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 24 de 508 gran.com.br Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. d) Abolitio criminis Ocorre quando uma conduta deixa de ser considerada típica (abolição de um crime) através da revogação de uma lei penal incriminadora por outra lei. Há retroatividade benéfica, extinguindo-se a punibilidade do agente. Art. 2º, CP - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. A partir da leitura do artigo supracitado, salienta-se que na abolitio criminis apenas são cessados os efeitos penais, uma vez que os efeitos extrapenais subsistem. e) Princípio da continuidade normativo-típica Ocorre quando o conteúdo criminoso é deslocado para outro tipo penal. Difere-se da abolitio criminis, pois não há a supressão formal e material da conduta criminosa, mas apenas formal. Portanto, enquanto na abolitio criminis a conduta deixa de ser considerada criminosa, na continuidade normativo-típica a conduta continua sendo punível, mas em outro tipo penal. ABOLITIO CRIMINIS CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA Supressão formal e material do crime Supressão formal do crime A conduta deixa de ser punível A conduta continua punível, mas em outro tipo penal 4.3.1. LEI EXCEPCIONAL E TEMPORÁRIA https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 25 de 508 gran.com.br (CESPE / CEBRASPE - 2023 - TJ-DFT - Juiz de Direito Substituto) - A lei temporária aplica-se ao fato praticado durante sua vigência, ainda que decorrido o período de sua duração. ITEM CORRETO! (CESPE / CEBRASPE - 2023 - TJ-DFT - Juiz de Direito Substituto)) - A lei excepcional tem aplicação imediata, não gerando efeitos caso não aplicada durante sua vigência. ITEM INCORRETO, pois, de acordo com o art. 3º do CP, a lei excepcional aplica-se ao fato praticado durante sua vigência, ainda que tenham cessado as circunstâncias que a determinaram! (CESPE - 2013 - TJ-RN – Juiz) - Lei superveniente que abrande a penalidade referente a determinado crime somente beneficiará réu processado na vigência da lei anterior se não houver trânsito em julgado da sentença condenatória quando de sua entrada em vigor. ITEM INCORRETO, pois, de acordo com o art. 2º, parágrafo único, do CP, a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Trata-se de novatio in mellius! (CESPE - 2013 - TJ-RN – Juiz) - Se, no curso do cumprimento de pena por determinado réu condenado por sentença transitada em julgado, lei nova deixar de considerar crime o ato por ele praticado, cessará a execução da pena, mas não os efeitos da condenação. ITEM INCORRETO, pois, de acordo com o art. 2º, caput, do CP, em caso de abolitio criminis, os efeitos penais da sentença condenatória são cessados. Os únicos efeitos que subsistem são os extrapenais. 4.3.2. LEI INTERMEDIÁRIA Considera-se lei intermediária aquela que, na sucessão de leis penais, esteve em vigência entre a lei anterior e a lei posterior. Suponhamos que o réu tenha praticadoum delito durante a vigência da “Lei A”, mas que durante o processo tenha entrado em vigor a “Lei B”, que modificou a pena do delito em questão para uma mais branda. Por último, quando da data da sentença, já está em vigor a “Lei C”, cuja pena é mais rigorosa. Apresentado o caso hipotético acima, questiona-se: qual lei deverá ser aplicada? A resposta já foi dada pelo STF, devendo ser aplicada a lei intermediária, pois é mais https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 26 de 508 gran.com.br benéfica ao réu. Esta lei tem duplo efeito: retroatividade em relação ao tempo da ação ou omissão e ultratividade em relação ao tempo do julgamento. 4.3.3. TEMPO DO CRIME A teoria adotada pelo Código Penal é a “Teoria da Atividade”: Art. 4º, CP - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 4.4. LEI PENAL NO ESPAÇO 4.4.1. LUGAR DO CRIME Em relação ao lugar do crime, a teoria adotada pelo Código Penal é a “Teoria da Ubiquidade”, que nada mais é do que uma junção da teoria da atividade e do resultado. Art. 6º, CP - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir- se o resultado. Obs.: nos crimes conexos não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado pelo país onde foi cometido, uma vez que não constituem propriamente uma unidade jurídica. Exemplo: furto cometido na Argentina e receptação praticada no Brasil. Aqui somente será julgada a receptação. 4.4.2. CRIMES À DISTÂNCIA, EM TRÂNSITO E PLURILOCAIS CRIMES À DISTÂNCIA OU DE ESPAÇO MÁXIMO CRIMES EM TRÂNSITO CRIMES PLURILOCAIS OU DE ESPAÇO MÍNIMO O crime percorre o território de dois estados soberanos O crime percorre o território de mais de dois estados soberanos O crime percorre dois ou mais territórios do mesmo estado soberano Teoria da Ubiquidade Teoria da Ubiquidade Teoria do Resultado Conflito internacional de jurisdição Conflito internacional de jurisdição Conflito interno de competência 4.4.3. TERRITORIALIDADE DA LEI PENAL https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 27 de 508 gran.com.br A lei penal brasileira, aplica-se, em regra, ao crime cometido no território nacional, mas, excepcionalmente, a lei estrangeira é aplicável aos delitos cometidos em território nacional, quando assim determinarem as convenções, tratados e regras internacionais. Portanto, a partir da leitura do art. 5º do CP, extrai-se que o Código Penal adotou o princípio da territorialidade mitigada/temperada, o qual não se confunde com o princípio da territorialidade absoluta adotado no Código de Processo Penal. Art. 5º, CP - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. Para efeitos penais, de acordo com o art. 5º, § 1º, do CP, considera-se território nacional por extensão: O conceito acima trata de uma ficção jurídica com um nível elevado de cobrança em provas. Ademais, é também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil (art. 5º, § 2º, do CP). Neste tema, vale destacar o chamado “direito de passagem inocente”, regulado pela Lei nº 8.617/93, que estabelece que não será aplicada a lei brasileira aos crimes cometidos a bordo de embarcações privadas estrangeiras de passagem pelo mar territorial brasileiro, desde que não seja prejudicial à paz, a boa ordem ou à segurança do Brasil. Além disso, a passagem deve ser contínua e rápida. Obs.: as embaixadas, por mais que sejam invioláveis, não são extensão do território do país que representam. LUGAR DO CRIME APLICA-SE A LEI PENAL BRASILEIRA? EMBARCAÇÕES E AERONAVES BRASILEIRAS DE NATUREZA PÚBLICA SIM – onde quer que se encontrem EMBARCAÇÕES E AERONAVES BRASILEIRAS A SERVIÇO DO GOVERNO BRASILEIRO SIM – onde quer que se encontrem EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS MERCANTES OU DE PROPRIEDADE PRIVADA SIM – desde que se encontrem em alto-mar AERONAVES BRASILEIRAS MERCANTES OU DE PROPRIEDADE PRIVADA SIM – desde que se encontrem em espaço aéreo correspondente ao alto-mar EMBARCAÇÕES ESTRANGEIRAS DE PROPRIEDADE PRIVADA SIM – desde que estejam atracadas em porto ou navegando em mar territorial do Brasil AERONAVES ESTRANGEIRAS DE PROPRIEDADE PRIVADA SIM – desde que em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo brasileiro EMBARCAÇÕES OU AERONAVES DE NATUREZA PÚBLICA ESTRANGEIRA OU A SERVIÇO DE GOVERNO ESTRANGEIRO NÃO https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 28 de 508 gran.com.br EMBARCAÇÕES OU AERONAVES BRASILEIRAS, MERCANTES OU PRIVADAS, QUANDO EM TERRITÓRIO ESTRANGEIRO SIM - desde que não seja julgado no território estrangeiro. Aplica-se a regra da extraterritorialidade condicionada (art. 7º, II, “c”, CP) 4.4.4. EXTRATERRITORIALIDADE Agora estudaremos as hipóteses em que, excepcionalmente, a lei penal brasileira pode ser aplicada aos crimes cometidos no estrangeiro. Elas estão previstas no art. 7º do CP e dividem-se em: incondicionada, condicionada e hipercondicionada. a) Incondicionada A simples prática do crime em território estrangeiro já autoriza a aplicação da lei brasileira, independentemente de qualquer requisito. Portanto, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. As suas hipóteses estão previstas no art 7º, I, do CP: Obs.: o examinador costuma trocar “crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República” por “crimes contra a honra do Presidente da República”. Não caia! Essa pegadinha é recorrente! b) Condicionada Ao contrário das hipóteses de extraterritorialidade incondicionada, aqui é necessário que todos os cinco requisitos sejam preenchidos cumulativamente. As suas hipóteses estão previstas no art. 7º, II, do CP: https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 29 de 508 gran.com.br As condições cumulativas previstas no art. 7º, § 2º, do CP, são: • entrar o agente no território nacional; • ser o fato punível também no país em que foi praticado – PRINCÍPIO DA DUPLA TIPICIDADE; • estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; • não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; • não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. c) Hipercondicionada Aqui, além dos requisitos que devem ser preenchidos na “extraterritorialidade condicionada”, também devem ser preenchidas mais duas condições. A sua hipótese está prevista no art. 7º, § 3º, do CP: As outras duas condições que devem ser preenchidas cumulativamente com as do § 2º estão previstas no art. 7º, § 3º, do CP, sendo estas: • não tiver sido pedida ou foi negada a extradição; • ter havido requisição do Ministro da Justiça; (CESPE / CEBRASPE - 2023 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - fase matutina) - Em caso de crime que, por tratado, o Brasil se obrigue a reprimir, há extraterritorialidade incondicionada. ITEM INCORRETO, pois trata-se de extraterritorialidade condicionada! (CESPE / CEBRASPE - 2023 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - fase matutina) - Aplica-se o princípio da extraterritorialidade aos crimes praticados em aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. ITEM INCORRETO, pois trata-se de territorialidade, mais especificamente o conceito de território nacional por extensão!(CESPE / CEBRASPE - 2022 - TCE-SC - Auditor Fiscal de Controle Externo - Direito) - Aplica-se a lei brasileira ao crime que tenha sido praticado em navio mercante de bandeira francesa ancorado no Porto de Itajaí, localizado no estado de Santa Catarina. ITEM CORRETO! (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-RO - Analista da Defensoria Pública - Jurídica) - Quanto à eficácia espacial da lei penal à luz do princípio da territorialidade, é correto afirmar que a lei penal só tem aplicação no Estado que a tenha determinado, independentemente da nacionalidade do agente e do bem jurídico tutelado. ITEM CORRETO! https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 30 de 508 gran.com.br (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TC-DF - Auditor Conselheiro Substituto) - Aplica-se a lei penal brasileira a crimes cometidos dentro de aeronave ou embarcação brasileira que seja pública ou esteja a serviço do governo, independentemente de onde se encontrem, em razão do princípio da bandeira ou da representação. ITEM INCORRETO, pois o “princípio da bandeira” é aplicado às aeronaves e embarcações privadas, uma vez que nas públicas se aplica o “princípio da territorialidade”! (CESPE - 2019 - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção) - Crime de genocídio praticado fora do território brasileiro poderá ser julgado no Brasil quando cometido contra povo alienígena por estrangeiro domiciliado no Brasil. ITEM CORRETO! (CESPE - 2018 - PC-MA - Delegado de Polícia Civil) - Nos crimes conexos, não se aplica a teoria da ubiquidade, devendo cada crime ser julgado pela legislação penal do país em que for cometido. ITEM CORRETO! (CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) - Os crimes praticados no estrangeiro, em embarcações brasileiras mercantes, ficam sujeitos à lei brasileira, desde que, entre outras condições, não sejam julgados no estrangeiro. ITEM CORRETO! 4.4.5. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO De acordo com os art. 8º do CP, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO ATENUA COMPUTA Diversa Idêntica Já nos termos do art. 9º do CP, a sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil nas seguintes situações: EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA PODE SER HOMOLOGADA PARA: DEPENDE DE: • Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis • Pedido da parte interessada • Sujeitar o condenado à medida de segurança • Existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença; ou • Na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça 4.4.6. CONFLITO APARENTE DE NORMAS O conflito de normas penais ocorre quando duas normas aparentam incidir sobre o mesmo fato. Como a própria denominação sugere, o conflito existente entre normas de Direito Penal é meramente aparente, já que, na verdade, não há conflito algum. a) Pressupostos São necessários três requisitos para a sua configuração: https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 31 de 508 gran.com.br b) PRINCÍPIOS b.1) Princípio da Consunção O crime previsto por uma norma funciona como fase de realização do crime previsto por outra. Ele atua no plano concreto e é visto nas situações a seguir: CRIME PROGRESSIVO • “Crime de passagem”; • O agente para alcançar resultado mais grave transita, necessariamente, por crime menos grave. Ex.: para chegar no homicídio, passa-se pela lesão corporal. PROGRESSÃO CRIMINOSA • O agente substitui o dolo, atingindo um mesmo bem jurídico; Ex.: agente que, inicialmente, pretende causar apenas lesões corporais na vítima e, após consumar tal ato, decide que quer matá-la, a levando a óbito. Responde apenas pelo homicídio. ANTEFACTUM IMPUNÍVEL • O crime antecedente está na linha de desdobramento do crime mais grave, mas não é, necessariamente, passagem para o crime-fim. Ex.: violação de domicílio para cometer furto. POSTFACTUM IMPUNÍVEL • É o exaurimento do crime-fim. Ex.: agente que furta um objeto e depois o deteriora. Responde apenas pelo furto e não por furto + dano. b.2) Princípio da Alternatividade Terá aplicabilidade diante de crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado (plurinucleares), ou seja, aqueles em que o tipo penal prevê mais de uma conduta em seus vários núcleos. Para alguns autores, o princípio da alternatividade não resolve o conflito aparente de normas, uma vez que o conflito ocorre dentro da própria norma. Ex.: agente que tem em depósito, expõe à venda e vende drogas. Neste caso, mesmo o agente preenchendo vários núcleos, o tipo penal é um só, tratando apenas do crime de tráfico de drogas. Obs.: o examinador costuma trocar “princípio da alternatividade” por “princípio da alteridade”. Como os nomes são parecidos, é uma casca de banana se você estiver desatento. De toda forma, essa pegadinha também é corriqueira, então redobre a atenção! b.3) Princípio da Subsidiariedade A lei primária (crime mais grave) prevalece sobre a lei subsidiária (crime menos grave). A relação é de maior ou menor gravidade e atua no plano concreto, podendo ser expressa ou tácita. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 32 de 508 gran.com.br Ex.: importunação sexual. b.4) Princípio da Especialidade A lei penal especial preenche o tipo penal em sua integridade, sem se importar se o crime especial é punido mais gravemente ou mais brandamente. A relação é de espécie e gênero e atua no plano abstrato. Ex.: contrabando e tráfico de drogas. (CESPE / CEBRASPE - 2023 - TJ-ES - Analista Judiciário - Especialidade: Direito) - O princípio da consunção é um princípio de resolução de conflito de leis penais no tempo, sem previsão expressa na parte geral do Código Penal brasileiro. ITEM INCORRETO, pois o princípio da consunção não resolve o conflito de leis penais no tempo, mas diz respeito ao conflito aparente de normas! (CESPE / CEBRASPE - 2022 - PC-RO - Delegado de Polícia) - O cotejo se dá entre fatos concretos, de modo que o mais completo, o inteiro, prevalece sobre a fração. Não há um único fato buscando se abrigar em uma ou outra lei penal caracterizada por notas especializantes, mas uma sucessão de fatos, todos penalmente tipificados, na qual o mais amplo consome o menos amplo, evitando-se que este seja duplamente punido, como parte de um todo e como crime autônomo. Cleber Masson (com adaptações). No conflito aparente de normas, o trecho apresentado explica o princípio da consunção. ITEM CORRETO! (CESPE / CEBRASPE - 2003 - DPE-AM - Defensor Público) - Tratando-se de crime subsidiário e não se tendo consumado o crime-fim, por motivos alheios à vontade do agente (conatus), há de prevalecer o crime em sua ampliação temporal, não se podendo cogitar de ressurgimento da norma subsidiária. ITEM CORRETO! (CESPE - 2013 - PRF - Policial Rodoviário Federal) - Havendo conflito aparente de normas, aplica-se o princípio da subsidiariedade, que incide no caso de a norma descrever várias formas de realização da figura típica, bastando a realização de uma delas para que se configure o crime. ITEM INCORRETO, pois aplica-se o princípio da alternatividade! (CESPE - 2013 - DEPEN - Agente Penitenciário) - Considere que Alberto, querendo apoderar-se dos bens de Cícero, tenha apontado uma arma de fogo em direção a ele, constrangendo-o a entregar-lhe a carteira e o aparelho celular. Nessa situação hipotética, da mera comparação entre os tipos descritos como crime de constrangimento ilegal e crime de roubo, aplica-se o princípio da especialidade a fim de se tipificar a conduta de Alberto. ITEM INCORRETO, pois o crime-fim (roubo) absorve o crime-meio (constrangimento ilegal), aplicando-se o princípio da consunção! 5 – TEORIA DO CRIME5.1. INFRAÇÃO PENAL De acordo com a legislação brasileira, a infração penal se divide em duas categorias: crime e contravenção penal. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 33 de 508 gran.com.br Elas são divididas de acordo com a gravidade da conduta, pois enquanto os crimes são considerados infrações penais mais graves, as contravenções são aquelas classificadas como mais leves. Ademais, elas possuem pontos de divergência bem acentuados. Vejamos: CRIME CONTRAVENÇÃO PENA Reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a de multa Prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente AÇÃO PENAL Pública ou privada Pública PENA MÁXIMA 40 anos 5 anos EXTRATERRITO- RIALIDADE É aplicada Não é aplicada SURSIS DA PENA 2 a 4 anos ou 4 a 6 anos 1 a 3 anos ERRO DE DIREITO Não é aplicado É aplicado ELEMENTO SUBJETIVO Dolo ou culpa Voluntariedade. (revogado tacitamente) COMPETÊNCIA Justiça Estadual e Federal Justiça Estadual (salvo foro por prerrogativa de função federal) PRISÃO PREVENTIVA Cabe Não cabe POSSIBILIDADE DE CONFISCO Cabe Não cabe Verifica-se a reincidência da seguinte forma: https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 34 de 508 gran.com.br (CESPE - 2009 - PC-RN - Escrivão de Polícia Civil) - Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão, de detenção ou prisão simples, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. ITEM INCORRETO, pois considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa! (CESPE - 2009 - PC-RN - Escrivão de Polícia Civil) - A infração penal é gênero que abrange como espécies as contravenções penais e os crimes, sendo estes últimos também identificados como delitos. ITEM CORRETO! 5.2. CONCEITO DE CRIME O conceito formal de crime é aquilo que a lei define como infração penal, não interessando a ótica da sociedade. Por outro lado, o conceito material de crime não é exatamente o que está previsto em lei, mas sim o que a sociedade entende como tal. Já o conceito analítico é o conceito científico e doutrinário pelo qual se estuda o direito penal. O conceito analítico de crime pode ser formado por dois ou três elementos: fato típico, antijuridicidade (ou ilicitude) e culpabilidade. Atualmente, no direito penal existem duas vertentes em relação ao conceito analítico de crime. Há uma parcela da doutrina que entende que o crime é fato típico e ilícito, enquanto a culpabilidade não é elemento do crime — trata-se da teoria bipartite de crime. Em contrapartida, para a teoria tripartite de crime (adotada pela doutrina majoritária), o crime é definido como fato típico, ilícito e culpável. Isto posto, para que você visualize melhor onde se encaixam os elementos e as suas respectivas excludentes, elaboramos o esqueminha abaixo: https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 35 de 508 gran.com.br https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 36 de 508 gran.com.br 5.3. FATO TÍPICO 5.3.1. TEORIAS DA CONDUTA a) Teoria Causalista No início do século XIX, surgiu a teoria causalista (ou teoria mecanicista, teoria causal naturalista, teoria clássica, teoria naturalista), que foi idealizada por Franz von Liszt, Ernst von Beling e Gustav Radbruch. Segundo ela, o crime deve ser explicado sob uma ótica científica, natural, sob uma relação de causa-efeito, afastando elementos psicológicos para explicar a conduta. A conduta, na visão causalista, é mera ação voluntária que produz alteração no mundo exterior, sem qualquer finalidade. Trata-se de uma análise objetiva, que não leva em consideração o dolo e a culpa do agente. Diz-se que o modelo é avalorado. Ademais, as excludentes de ilicitude não são observadas, bastando a contrariedade ao sistema jurídico (antijuridicidade). No tocante ao dolo e a culpa, eles são apenas analisados no terceiro substrato do crime (teoria psicológica da culpabilidade). Logo, para a teoria causalista, o conceito analítico de crime é tripartite, visto que para se imputar um crime a alguém, é necessário que o dolo ou a culpa sejam analisados. Desse modo, encontram-se presentes na culpabilidade: imputabilidade (pressuposto) e dolo ou culpa (espécies). Por fim, destaca-se que o dolo é normativo, pois além da consciência e da vontade, ele também possui em seu interior a consciência atual da ilicitude, exigindo do autor conhecimento acerca da norma proibitiva. • Não explica de maneira adequada os crimes omissivos, bem como os delitos formais e de mera conduta. • Não há como negar a presença de elementos normativos e/ou subjetivos no tipo penal. • Não há como imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade. Toda ação humana é dirigida a um fim. • Ao fazer a análise do dolo e culpa no momento da culpabilidade, a finalidade do agente não é analisada quando da pesquisa da conduta. Portanto, não há como distinguir, por exemplo, a lesão corporal da tentativa de homicídio. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 37 de 508 gran.com.br b) Teoria Neokantista Nas primeiras décadas do século XX, surgiu a teoria neokantista (ou teoria causal- valorativa), que teve como maior expoente Edmund Mezger. Ela possui base causalista, mas fundamenta-se numa visão neoclássica, marcada pela superação do positivismo, através da introdução da racionalização no método. Nessa teoria, a conduta deixa de ser apenas uma ação e passa a ser um comportamento voluntário que produz alteração no mundo exterior, englobando também a omissão. Neste período, teorias que que começaram a reconhecer uma relação entre o fato típico e a antijuridicidade surgiram. Consequentemente, a teoria do tipo avalorado ou acromático, adotada no modelo causalista, que preconizava a ausência de relação prévia entre o fato típico e a antijuridicidade, se esvaiu. Ademais, a antijuridicidade passou a ter um aspecto normativo, sendo este a danosidade social do fato, ou seja, o fato, além de ser ilícito, precisava ser danoso. Já a culpabilidade passou a adotar a teoria normativa ou psicológico-normativa, acrescentando-se a ela um terceiro elemento: exigibilidade de conduta diversa. • É contraditória ao reconhecer elementos subjetivos e normativos no tipo e ao continuar considerando dolo e culpa como elementos de culpabilidade. • Continua sem explicar os crimes formais e de mera conduta, em razão da exigência de produção de alteração no mundo exterior. https://www.gran.com.br/ Tiro final – Revisão – Delta PCPE 38 de 508 gran.com.br c) Teoria Finalista Em meados do séc. XX, surgiu a teoria finalista (ou final), que foi criada por Hans Welzel. Dentre as diversas teorias da conduta criminal, esta é a adotada pelo Código Penal brasileiro. O dolo e a culpa migraram da culpabilidade para o fato típico, mais especificamente para dentro da conduta. Assim, a conduta passou a ser definida como comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim. O dolo perdeu seu status normativo (dolus malus) e ganhou um status natural (dolus bonus). Isto ocorreu, pois o elemento normativo (consciência atual da ilicitude) foi retirado do dolo, permanecendo-se apenas a consciência (elemento cognitivo) e a vontade (elemento volitivo). A consciência da ilicitude transformou-se em um elemento autônomo da culpabilidade: potencial consciência da ilicitude. É importante que você perceba que ela deixou de ser atual e passou a ser potencial. A culpabilidade, composta pela imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e potencial consciência da ilicitude (como bem conhecemos e estudamos), perdeu todo o caráter psicológico e passou a ficar
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