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APOSTILA DIDÁTICA CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Contextualização da Psicologia Hospitalar; Olhares sobre as singularidades do Hospital e do Setting Terapêutico; Principais recursos terapêuticos para o contexto hospitalar; Demandas recorrentes; Como elaborar um recurso terapêutico; Estudo de caso: uma visão prática. 29 A psicologia hospitalar e as equipes multidisciplinares Hospital psychology and multidisciplinary teams Luciana Barcellos Fossi1 ; Neuza Maria de Fátima Guareschi2 ____________________________________________________________________________________ RESUMO A psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando que há menos de duas décadas, a atuação do psicólogo em instituições hospitalares não estava regulamentada como uma ampla e necessária práxis psicológica. Nos hospitais gerais, a escuta terapêutica com usuários e familiares é imprescindível. Este estudo pretende mostrar alguns aspectos da inserção do psicólogo nas equipes de saúde, bem como sua práxis profissional no contexto hospitalar. Para tanto, foram entrevistadas 6 psicólogas de hospitais gerais de Porto Alegre para se compreender como o trabalho da psicologia está inserido junto aos de mais profissionais na equipe multidisciplinar de saúde. As psicólogas destacam diversos aspectos de sua atuação profissional que permearam a construção deste estudo. Dentre eles, foram salientados no discurso das entrevistadas, principalmente os seguintes aspectos: as relações de poder entre os profissionais da equipe multidisciplinar, o conceito de saúde e o discurso de humanização à atenção da saúde. As relações entre os profissionais da saúde das diversas disciplinas e o trabalho em equipe são fundamentais para um atendimento humanizado aos usuários de hospitais gerais. Por outro lado, os conceitos de saúde e de humanização da atenção à saúde se estabelecem de diferentes formas e estão quase sempre atrelados à área disciplinar do profissional. As equipes de saúde relatam que em alguns casos, somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: o ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral a saúde é indiscutível. Palavras chave: Psicologia Hospitalar; Equipes Multidesciplinares 30 ABSTRACT Hospital psychology has been constructing its history step by step, being that two decades ago, the actuation of the psychologist in hospital institutions was not regularized as a broad and necessary psychological praxis. In general hospitals, the therapeutic listening of users and their relatives is essential. This article aims to point out some aspects of the psychologist insertion in health teams, as well as his or her professional praxis in the context of the hospital. For that, six general hospital psychologists from Porto Alegre were interviewed aiming to understand how the work of psychology is connected to the work of other professionals in a multidisciplinary health team. The psychologists bring out many aspects of their professional actuation that pervaded the construction of the present study. Among them, we could point out the following aspects: the power relations among professionals of multidisciplinary teams, the concept of health and the discourse of humanization of attention to health. The relations among health professionals of diverse disciplines and team work are fundamental for a humanized service to general hospitals users. On the other hand, the concepts of health and humanization towards attention to health are established in different ways and are almost always attached to the professional disciplinary area. The health teams say that in some cases, only medic help is not enough for the treatment to be successful: the human being is much more than a physical body, and therefore, integral service to health is unquestionable. Palavras Chave: hospital psychology; muldisciplinary teams 31 INTRODUÇÃO A psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando que há menos de duas décadas, a atuação do psicólogo em instituições hospitalares não estava regulamentada como uma ampla e necessária práxis psicológica. Os profissionais aventuraram-se por este caminho, mas muitos já o trilhavam, delineando os rumos desta área como a conhecemos hoje. Assim, as atividades desempenhadas pelos psicólogos organizacionais e clínicos necessitam se moldar às demandas institucionais. Nos hospitais gerais, faz-se, então, necessário a escuta terapêutica com usuários, e, consequentemente, a escuta de seus familiares. Médicos e enfermeiros observam que diversos usuários acabam voltando ao hospital novamente “doentes”, solicitando atendimento e cuidados. As equipes médicas (e também outros funcionários do hospital) relatam que, em alguns casos, somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser bem sucedido: o ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o atendimento integral à saúde é indiscutível. Portanto, a integração da equipe de saúde é imprescindível para que o atendimento e o cuidado alcance a amplitude do ser humano, considerando as diversas necessidades do paciente e assim, transcendendo a noção de conceito de saúde, de que a ausência de enfermidade significa ser saudável. Dessa forma, o trabalho em equipe mostra-se fundamental para o atendimento hospitalar, na medida em que médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e os demais profissionais envolvidos nesse atendimento estabeleçam uma integração, para que a pessoa seja tomada como um todo, para que ela possa ter um atendimento humanizado, contemplando assim, outras necessidades dos usuários. A contribuição da psicologia hospitalar não se limita ao usuário ou à instituição, mas a especificidades que auxiliam todo o trabalho da equipe médica. A experiência da multidisciplinariedade proporcionou a continuidade da construção da identidade do psicólogo, enquanto um profissional do campo da saúde. 32 Este estudo pretende mostrar alguns aspectos da trajetória do psicólogo em instituições hospitalares não psiquiátricas, a inserção deste profissional, bem como sua práxis profissional nas equipes multidisciplinares no Rio Grande do Sul, mais especificamente em hospitais gerais de Porto Alegre. Para tanto, questões teóricas, históricas e atuais, vinculadas à psicologia hospitalar, serão contempladas e discutidas tendo como base alguns estudos teóricos e as falas de psicólogas entrevistadas. METODOLOGIA Este estudo foi realizado em seis hospitais gerais públicos e particulares, da cidade de Porto Alegre. Foram entrevistadas3 seis psicólogas, cada uma de um hospital. Através de uma entrevista semi- estruturada, procuramos buscar informações sobre o início do trabalho da psicologia nos hospitais, o desenvolvimento das primeiras atividades, bem como as atuais, e o contexto atual de trabalho nos hospitais gerais. As psicólogas destacaram diversos aspectos de sua atuação profissional que permearam a construção deste estudo. Através da emergência de determinados enunciados na fala das psicólogas, foram situados algumas questões como: a inserção do trabalho da psicologia no hospital, a psicologia hospitalar e as relações da equipe multidisciplinar de saúde. Os enunciados desses discursos foram organizados pelos tópicos dessas questões da pesquisa e sobre os quais se fez a discussão dos resultados. Os resultados dessa pesquisa estão organizados da seguinte forma: primeiro serão contextualizados, brevemente, alguns aspectos relacionados ao início da psicologia hospitalar4, para, em um segundo momento, se discutir a participação do trabalho da psicologia nas equipes multidisciplinares, abordando principalmente as relações de poder. Nas considerações finais, questionamos a concepção do conceito de3 As bolsistas Luciana Redivo e Mariana Lorenzoni realizaram 5 entrevistas. 4 Pesquisa apresentada no XIV Salão de Iniciação Científica da UFRGS pelas bolsistas Luciana Redivo e Mariana Lorenzoni, com orientação de Neuza Guareschi. 33 saúde implicada no modo de trabalho das equipes de saúde e apontamos para aspectos deste conceito que consideramos fazer parte da prática da psicologia nos hospitais gerais. O início das atividades da psicologia hospitalar Na década de 1980, a instabilidade econômica do país gerou um mercado de trabalho saturado de profissionais liberais e uma baixa nas ofertas de emprego. Essa situação econômica se fez presente no início da trajetória profissional de psicólogas que iniciaram sua atividade profissional no hospital: “Eu ia me formar e obviamente não tinha emprego e ela perguntou se eu queria trabalhar lá (no hospital) e eu adorei.” No entanto, pouco se sabia sobre o psicólogo hospitalar, suas funções não haviam sido preestabelecidas, e ainda não existiam muitos estudos teóricos sobre o tema. A motivação para o desenvolvimento de um trabalho comprometido com a demanda também decorre do âmbito do conhecimento e da formação específica do profissional, o que sugere um despreparo por parte dos profissionais recém formados, sendo necessária a ampliação dos conhecimentos adquiridos na graduação. As psicólogas inseriram-se nesse contexto considerando as necessidades da instituição relacionadas à psicologia. As primeiras atividades estavam relacionadas com o funcionamento da instituição, buscando criar novos serviços e qualificá-la, investigando as necessidades e estabelecendo objetivos: "Então nós fizemos um levantamento das necessidades e toda uma pesquisa para o levantamento das necessidades, estabelecendo prioridades, daí fizemos um projeto de trabalho daquelas necessidades [...] apresentamos para a direção. A direção aceitou a nossa proposta e nós estamos desde 1979...”. No entanto, a demanda hospitalar não era unicamente clínica, mesmo considerando que esta prática tenha sido o marco da afirmação profissional do psicólogo. Portanto, questões relativas ao funcionamento institucional mereceram a atenção do profissional da psicologia, proporcionando uma escuta que transcende a clínica, ressaltando a necessidade de se dedicar "a instituição como um todo, no seu funcionamento para que ela desempenhe da melhor forma possível a tarefa saúde, no cuidado com a saúde", que pode também ser 34 contemplada nas seguintes atividades: "Então eu fazia seleção do pessoal, treinamento de funcionários, fazia avaliação do trabalho junto com as chefias...". A implementação de uma área nova dentro da psicologia suscitou a utilização de recursos técnicos e metodológicos de diversas áreas do saber psicológico, não se restringindo apenas a clínica, mas também a organizacional, social e educacional (Fongaro e Sebastiani,1996). Assim, foram criando um conhecimento mais específico sobre a área, possibilitando uma maior união entre o psíquico e o biológico, dentro do contexto hospitalar. Nesse sentido, faz-se necessário comentar a importância de estar instrumentalizado para realizar um bom trabalho. "Então foi aí que eu comecei, fui buscar supervisão, fui trabalhar e aí a coisa começou.". Estas falas ilustram a necessidade de se desenvolver materiais que expliquem e contextualizem o trabalho do psicólogo nesta área e a dinâmica da instituição hospitalar ( Fongaro e Sebastiani, 1996). A psicologia hospitalar e a equipe multidisciplinar A Psicologia Hospitalar não pertence unicamente a área clinica, pois ela também abrange áreas como a organizacional, social e educacional, utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos saberes psicológicos. A Psicologia Hospitalar busca comprometer-se com questões ligadas à qualidade de vida dos usuários bem como dos profissionais da saúde, portanto, não se restringindo ao atendimento clínico, mesmo este sendo uma prática universal dos psicólogos hospitalares. O pressuposto que permeia as atividades do psicólogo no hospital geral mostra outra visão de indivíduo, não fragmentada, mas como um todo, como um ser biopsicossocioespiritual com o direito inalienável à dignidade e respeito. (Fongaro e Sebastiani, 1996) A equipe hospitalar é composta por diversos profissionais, incluindo aqueles que não assistem as pessoas hospitalizadas diretamente, tais como equipe de higienização, radiologista, anestesista, dentre outros. No 35 entanto, consideraremos aqui a equipe multidisciplinar formada pelos profissionais que assistem diretamente os indivíduos: médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionista, assistente social, fisioterapeuta. Cabe salientar que a equipe multidisciplinar tem sua formação centrada nas necessidades da pessoa, portanto, ela não é pré-organizada. A demanda do enfermo é que fará com que os profissionais da saúde se integrem, com o propósito de satisfazer as necessidades globais da pessoa, proporcionando seu bem-estar. No entanto, serão os médicos os protagonistas do manejo hospitalar, pois são eles que decidem sobre técnicas, medicações, cura, internações e altas (Angerami-Camon, 1987). Portanto, os demais profissionais se adequam, primeiramente, a demanda orgânica do indivíduo e às definições do médico, para posteriormente, integrar sua prática ao atendimento hospitalar. Porém, o aparecimento de inúmeras especialidades da área da saúde impossibilita que um único profissional englobe todos os conhecimentos produzidos em sua área de atuação. As múltiplas situações difíceis e inesperadas que fazem parte da realidade dos usuários dos hospitais gerais refletem no trabalho da equipe multidisciplinar, o que mostra que uma única especificidade profissional não consegue dar conta dessa gama de fatores intrínsecos a doença e a hospitalização (Chiattone, 1996). Em relação aos valores pessoais permeiam as relações profissionais, assim, acredita-se que a neutralidade médica exemplificada pelo relacionamento padrão estereotipado, estabelecido com os demais profissionais da saúde, bem como com os beneficiários dos serviços de saúde, implicam alguns questionamentos, principalmente por parte da equipe, tendo em vista que o saber médico é pouco compartilhado. A neutralidade médica pode ser explicada, mas não justificada, pela necessidade de esvaziamento dos conteúdos e representações de vida e morte, já que a relação entre os médicos e a pessoa em sofrimento é repleta de ansiedades e fantasias (Zaidhaft, 1990). A postura médica é conseqüência da formação profissional, que pouco enfoca as relações humanas e que tem uma visão de ser humano como objeto de estudo, não considerando as emoções subjacentes ao manejo médico (Kubler-Ross, 1999). Os membros da equipe, especialmente os médicos, que tiverem sua 36 auto-estima atrelada ao seu desempenho profissional, podem perder a noção realista das condições de recuperação de determinados casos, sendo a recuperação completa a única alternativa possível (Leão, 1998). A inserção dos serviços de psicologia é privilegiada em instituições onde há espaço para reuniões entre os diversos profissionais da equipe multidisciplinar, pois nestas ocasiões, o psicólogo evidenciará a importância da valorização do conjunto dos aspectos emocionais do indivíduo. A equipe médica de saúde, então, busca humanizar as condições do indivíduo no seu período de hospitalização. O vínculo entre o indivíduo e a equipe multidisciplinar tem de ser considerado no manejo psicológico. É indispensável que o psicólogo saiba detalhadamente das atividades desenvolvidas pelos demais profissionais, bem como os limites de cada um, possibilitando uma atuação integrada, com manejo único. A multidisciplinariedade corre o risco de fragmentação entre os setores, e consequentemente, a fragmentação do paciente. O relacionamento precário entre a pessoa e aequipe de saúde pode acarretar mais sofrimento do que o esperado para determinados quadros. Entretanto, é a trajetória hospitalar do indivíduo que definirá o enfoque de seu atendimento psicológico, que poderá ser pré ou pós-operatório, ambulatorial, ou de enfermaria. É através desta consideração que o trabalho do psicólogo será delineado e implementado, considerando as necessidades individuais da pessoa (Angerami-Camon, 1987). De acordo com Santos e Sebastiani (1996), a discussão sobre as equipes multidisciplinares é de suma importância, pois mesmo a proposta do atendimento integral ao usuário sendo óbvia, na prática, tal obviedade não é efetivamente posta em ação. Ainda percebe-se dificuldades de interação entre os profissionais, disputas de poder (tanto objetivas quanto subliminares), falta de conhecimento sobre a ajuda que outras especialidades podem dar à equipe e ao indivíduo. Relações de poder e os profissionais de saúde 37 É impossível pensar em qualquer relação humana sem pensar nas relações de poder que permeiam, induzem, formam saberes e produzem discursos. É o que Foucalt nos ensina em microfísica do poder (1979/1984). Cabe ressaltar que poder não é um objeto e sim uma relação, e que também não é sempre negativo, ele é mais que uma instância repressiva, ou seja, o poder pode ser também positivado pelos sujeitos. Um aspecto importante do poder é sua tendência a ocultar-se, inclusive negativisar-se, apresentando-se como uma exigência natural ou razão social, de acordo com Martins (2003). Para que haja a manutenção de um discurso dominante em uma instituição, são necessárias práticas que o legitimem e operem no sentido de reprimir manifestações contrárias. Desta forma, os profissionais da área da saúde tornam-se (re)produtores de uma postura médica que não é imposta, mas sim “indicada” como um padrão a ser seguido, sem crítica alguma. É neste momento que fica claro o exemplo das relações de poder nas relações estabelecidas nas equipes multidisciplinares. Tal poder se estabelece no cotidiano através do exercício da medicina, ou de outra disciplina da área da saúde, ele controla o saber e o fazer médico, normatizando os profissionais. (Martins, 2003) Um exemplo disso pode ser o fato de o médico versar sobre o seu trabalho com uma linguagem específica e técnica, pouco acessível aos leigos (inclusive ao psicólogo), demonstrando uma relação de poder, já que principalmente os usuários ficam inibidos frente à autoridade de um saber médico. Na prática do psicólogo, as relações de poder são estabelecidas através de seu campo de saber ou conhecimento. O psicólogo no hospital escuta o usuário, a família do usuário, os outros membros da equipe e a opinião médica, portanto, é viável que ocorra através da apropriação de um modelo da psicologia, enquanto uma área de saber científico, o exercício das relações de poder, que de acordo com Martins (2003) é vivenciado no âmbito mais amplo de trabalho nos hospitais. O poder pode ser produzido nas instâncias imediatas e cotidianas, como, por exemplo, na relação com a equipe de saúde. Entretanto, a inserção do psicólogo nos hospitais gerais pode, assim, também contradizer a ordem estabelecida de normatividade da medicina que vê a cura somente pelo aspecto orgânico, físico ou biológico. 38 As vezes, os profissionais da saúde, conforme Guedes (2003), posicionam-se frente ao usuário de maneira indisponível. A escuta médica, às vezes, por exemplo pode estar unicamente interessada nos dados específicos da doença, portanto, a atitude de rejeição do médico perante a pessoa faz com que ela se remeta a outras relações insatisfatórias que foram estabelecidas em sua vida. O restabelecimento do enfermo pode, desta forma, ser prejudicado pela hostilidade, muitas vezes inconscientes, que perpassam as relações médico-paciente. As atitudes da equipe de saúde podem ser terapêuticas ou não, podendo produzir configurações maléficas ou benéficas no curso do adoecer (Guedes, 2003). No dia-a-dia do hospital os psicólogos muitas vezes ocupam o lugar de tradutores entre os médicos e os usuários, podendo tomar-se o entendimento de que as questões subjetivas são exclusivas do psicólogo e as orgânicas do médico. Entretanto, o ser humano não é só somático ou psíquico, ou seja, a fragmentação do atendimento à saúde pode não contemplar a complexidade do ser humano, devido aos diferentes campos de saberes e poderes envolvidos no atendimento ao usuário. Contudo, a linguagem técnica da equipe de saúde pode não ser o único empecilho no atendimento. Qualquer orientação dos profissionais do campo da saúde pode, muitas vezes, ser incompreensível ou inadequada às condições de vida da pessoa. Por exemplo, uma pessoa que necessita de diversos medicamentos, em diversos horários e que não é alfabetizada necessitará de uma orientação diferente de uma pessoa alfabetizada. A própria cura precisa ser contextualizada, pois no momento em que o médico diz que a pessoa pode levar uma vida “normal”, ele precisa conhecer o dia-a-dia dela. Um pedreiro, por exemplo, nem sempre poderá carregar peso imediatamente após sua alta. Assim, a equipe de saúde, pode, nem sempre se mostrar aberta, pelo menos, em um primeiro momento, ao trabalho do psicólogo: "As equipes aceitam muito bem o trabalho, solicitam bastante, agora a gente já tem um espaço aqui dentro, não precisa mais pedir "há tem uma criança?”. Devido a isso, pode-se 39 pensar que, em algumas situações, o atendimento psicológico pode ser visto como algo desnecessário àqueles usuários que não apresentam comportamentos considerados não prioritários para o atendimento à saúde, ou ser considerado secundário por se tratar de uma demanda subjetiva. Porém, a inserção do trabalho do psicólogo no contexto hospitalar pode mudar a dinâmica de atividades de toda equipe de saúde, uma vez que a dinâmica das relações de poder entre os diferentes saberes do que é saúde passam a ser estabelecidas de outras formas, alterando o entendimento sobre atenção à saúde, tanto por parte da equipe médica, como por parte dos usuários. Isto, leva a uma maior preocupação por parte da equipe multidisciplinar, na clareza e eficácia da comunicação entre os profissionais da saúde e os usuários, buscando evitar discórdias e desentendimentos entre esses. Um exemplo do processo de comunicação entre os profissionais da equipe de saúde é o prontuário: "...cada um tem que falar o que observou para tentar fazer um manejo único com o paciente, evitando uma dupla mensagem. Eu constatei uma coisa, o médico outra. Isso mesmo em uma linguagem não verbal, vai causar muita confusão e dúvida". O discurso por parte das profissionais da saúde de psicologia sobre o prontuário é de que este é o processo comunicacional mais importante entre os profissionais das diferentes áreas disciplinares da saúde. Em alguns casos, posterior a esta forma de relação, através deste mecanismo de comunicação, podem ocorrer discussões sobre o manejo e o entendimento da demanda dos usuários sobre o tratamento e questões relacionadas a sua internação. Entretanto, é possível pensar que a discussão dos casos dos usuários, que envolvem uma área disciplinar do profissional no desenvolvimento do trabalho, nem sempre está livre da necessidade de proteger o saber de sua área como superior. Isto mostra-se contrário a preocupação de alguns profissionais das equipes de saúde que se propõem em manter uma unidade de informações aos usuários, procurando transmitir uma imagem homogênea do entendimento que a equipe multidisciplinar possui sobre o seu estado de saúde. 40 Do ponto de vista da psicologia, o trabalho das equipes multidisciplinares só se tornarão válidos e enriquecedores para os usuários, se cada profissional se responsabilizar por sua área de cuidados em relação à saúde: "...o dentista, o psicólogo, médico, nutricionista, [...], tem quehaver esta troca. E a gente sempre tentou e eu acho que deu certo, é não ocupar o lugar do outro, respeitar o espaço do outro para que ele também respeite o teu. Se isso é trabalho do médico, então não explica, chama o médico que ele vai explicar [...] Então eu acho que este é o melhor sistema de trabalhar, é integrar, respeitando o outro e também sendo respeitado”. No entanto, responsabilizar-se por sua área de saber, segundo as profissionais da psicologia, não significa evitar a troca entre os diversos profissionais integrantes da equipe, mas sim manter a clareza nas informações sobre os usuários: "A troca é necessária para que haja uma melhora nos atendimentos, para que a saúde do ser humano possa ser contemplada no seu todo, ou em pelo menos, algumas partes dela". Considerações finais: o conceito de saúde e o trabalho da psicologia hospitalar Ao analisarmos os temas propostos neste artigo, sentimos emergir, dessas discussões o entendimento do conceito de saúde pelos profissionais dessa área. Ao inserir o trabalho da psicologia nas equipes multidisciplinares de saúde, propomos que a psicologia passe a pensar a saúde como um conceito complexo, que possa se situar em modelos que venham a promover formas de vida e de ser que englobem a dimensão do sujeito como cidadão na esfera pública e na esfera privada. Ao voltar a preocupação com o usuário para o auto-conhecimento, para o indivíduo, corremos o risco de situar o trabalho da psicologia dentro de um enfoque individual, como as atividades dessa área no espaço privado. A psicologia deve diminuir essa dicotomização entre o público e o privado, a fim de entender e atender o sofrimento psíquico do ser humano como um todo, e não na sua individualidade, integrando tal entendimento ao atendimento e às preocupações da equipe multidisciplinar de saúde. (Guareschi, 2003) 41 Os sentidos que a palavra saúde pode adquirir são muitos, dentre eles, uma face normativa, prescritiva, que faz referência à uma espécie de conjunto de atributos para uma pessoa ser considerada saudável. Esse sentido de saúde, o trabalho da psicologia deve evitar. Pensamos que a psicologia nas suas práticas em hospitais, encarando a saúde como uma perspectiva que o conceito de saúde interpele, passa contemplar os direitos básicos do cidadão: o direito à moradia, ao trabalho, à segurança e à saúde, ou seja, o conceito de saúde do SUS. Desta forma, precisamos desnaturalizar a perspectiva medicalizada que freqüentemente é utilizada pelos profissionais da saúde, como se essa só contemplasse ausência de doenças. A psicologia tem como desafio para articular a questão da saúde em suas práticas junto às equipes multidisciplinares de forma incisiva, perguntar-se, principalmente, que concepção de sujeito e de sociedade está como pano de fundo para as práticas psicológicas nos hospitais gerais. O trabalho da psicologia nas equipes multidisciplinares deve ser tomado como algo mais complexo, merecendo uma discussão também complexa que, no mínimo, consiga ser problematizadora de questões contemporâneas que envolvem essas práticas psicológicas sobre doença e saúde. Não há exercício profissional que dispense uma perspectiva de sujeito e de realidade. Em toda prática psicológica existe a necessidade dessa discussão, e ações que constituam o trabalho da psicologia. Assim, para o profissional da psicologia, não estão restritas somente as atividades concernentes à saúde mental; todo o trabalho que seja exercido no campo de trato da coletividade com a finalidade da promoção do bem-estar e da saúde e que seja possível o trabalho da psicologia serão de interesse, ou seja, o profissional da saúde também deve estar presente na formulação, organização e desenvolvimento das políticas públicas e sociais de saúde. BIBLIOGRAFIA ANGERAMI-CAMON, Valdemar (Org.) (1988). A psicologia no hospital. São Paulo: Traço 42 CHIATONNE, Heloísa B. (1996). A criança e a morte. In: ANGERAMI-CAMON, Valdemar (Org.). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira, FONGARO, Maria Lúcia. SEBASTIANI, Ricardo W. (1996). Roteiro de avaliação psicológica aplicada ao hospital geral. In: ANGERAMI-CAMON, Valdemar (Org.). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira, GUARESCHI, Neuza. (2003). Interfaces entre psicologia e direitos humanos. In: GUERRA, A. , KIND, L., AFONSO, L., PRADO, M. (Orgs.). Psicologia social e direitos humanos. Belo Horizonte: Edições do campo social KLUBLER-ROSS, E. (1999). Sobre o morte e o morrer. Martins Fontes LEÃO, Nilza. O paciente terminal e a equipe interdisciplinar. In: ROMANO, Belkiss W. (1998). A prática da psicologia nos hospitais. (2 ed.) São Paulo: Pioneira. MARTINS, Sueli. (2003, janeiro/junho.) Processo Grupal e a questão do poder em Martín-Baró. Psicologia & sociedade. Vol. 15 nº1 SANTOS, Cláudia T. SEBASTIANI, Ricardo W. (1996). Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de doença crônica. In: ANGERAMI-CAMON, Valdemar (Org.). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira ZAIDHAFT, S. (1990). Morte e formação médica. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 43 Endereço para correspondência: 1 Bolsista do Programa de Educação Tutorial 2 Professora/Pesquisadora do PPGP – Faculdade de Psicologia da PUCRS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Estudos Culturais, Identidade/Diferenças Teorias Contemporâneas” nmguares@pucrs.br Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 53 O Setting Terapêutico na realidade do Psicólogo Hospitalar DOI: 10.22289/2446-922X.V3N2A5 Résia Silva de Morais1 Amanda Flávia Gonçalves Lima Daniele Tavares de Oliveira Ian Cesar Pereira Jéssica Cristina Tiago da Silva Laiane dos Reis Custódio Leticia Gomes de Azevedo Soares RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão integrativa de estudos realizados nos anos 2005 a 2016 visando discutir sobre o setting terapêutico do Psicólogo dentro de uma instituição hospitalar A revisão bibliográfica foi realizada a partir de artigos, dissertações e teses disponibilizados nas bases de dados Scielo, Pepsic e BVS, sendo utilizado o descritor “setting terapêutico”, em língua portuguesa. Foram selecionados apenas estudos empíricos realizados no território brasileiro. Os resultados foram apresentados a partir das vivencias de profissionais da Psicologia que atuam dentro dos hospitais. Numa perspectiva geral, os estudos revelaram que mesmo diante de algumas dificuldades, o trabalho do Psicólogo é indispensável para auxiliar no cuidado com o paciente, seus familiares e os funcionários que trabalham dentro dos hospitais. Os estudos mostram ainda que o papel do Psicólogo vai além do seu papel como terapeuta, pois ele faz parte de uma equipe multidisciplinar onde todos precisam ajudar uns aos outros para possibilitar melhores resultados aos usuários do serviço. Observou-se ainda que apesar de ser de extrema importância, existem poucos trabalhos discutindo sobre esse tema. Palavras-chave: Instituição, Psicólogo, Atuação, Hospitais. ABSTRACT This article aims to present a systematic review of studies conducted in the years 2005 to 2016 to discuss the therapeutic setting of the Psychologist within a hospital institution. The bibliographic review was carried out from articles, dissertations and theses available in Scielo databases, DOAJ, Pepsic and VHL, using the term "therapeutic setting" in Portuguese. Only empirical studies carried out in Brazil were selected. The results were presented based on the Endereço eletrônico de contato: resiamorais@gmail.com Recebido em 29/09/2017. Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 14/11/2017. Estudo Teórico Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev.Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 54 experiences of Psychology professionals working within the hospitals. In a general perspective, the studies revealed that even in the face of some difficulties, the work of the Psychologist is indispensable to assist in the care of the patient, his relatives and the employees who work inside the hospitals. The studies also show that the Psychologist's role goes beyond his role as a therapist because he is part of a multidisciplinary team where everyone needs to help each other to enable better results for the users of the service. It was also observed that although it is of extreme importance, there are few papers discussing this topic. Keywords: Institution, Psychologist, Acting, Hospitals. 1 INTRODUÇÃO Houve um tempo que o paciente era visto como um todo, tanto pela Medicina quanto pela Psicologia, misturando-se a natureza, em combinação com as divindades, nessa época não se diferenciavam filosofia, doenças e nem forças da natureza. As práticas utilizadas para solucionar qualquer irregularidade, eram basicamente focadas em rituais e crenças e somente a partir do século XII, após Descartes Newton assumir o analítico como princípio básico da ciência, é que se separou corpo e alma e assim foi possível identificar a existência de duas forças distintas, provenientes do corpo e do psíquico diante da manifestação da doença (Romano,1999). Apesar da Psicologia ter chegado para ficar no Brasil em 1956, ela só ganhou espaço na rede hospitalar pública após a VIII Conferência Nacional da Saúde (CNS) em 1986, que foi um evento onde definiram as bases do projeto de Reforma Sanitária Brasileira. Até esse momento a Psicologia se restringia a atuar em instituições ambulatoriais e hospitais de saúde mental (Paulin & Luzio, 2010). A origem da psicologia clínica e suas representações foi marcada por alguns aspectos ao longo da história, entre eles o próprio termo clínica que significa à beira do leito, evidencia a presença do modelo médico nessa área de atuação do Psicólogo, trazendo como foco de atenção a compreensão e o tratamento da doença, onde buscam o profissional para apresentar a sua queixa e esperam uma solução rápida e eficaz do seu mal psíquico, comparando um sofrimento causado por desordem do psicológico e do simbólico à doenças físicas que são tratadas através de medicamentos como faz o médico. Esse padrão acabou levando Psicólogos a uma forma de atuação limitada a ambiente fechado por muitos anos, uma relação onde era praticada a escuta daqueles que de certa forma são excluídos e incompreendidos (Dutra, 2004). Com o passar do tempo o modelo clássico de psicologia clínica já não atendia todas as demandas, pois as necessidades mentais se expandiram para o campo da saúde e dos Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 55 hospitais obrigando os profissionais da Psicologia a se movimentarem e buscar meios de atuar nesses lugares. A Psicologia da Saúde e a Psicologia Hospitalar possuem semelhanças no que tange às formas de atuação prática dos especialistas dessas áreas. Uma tarefa que pode ser desenvolvida nos campos da psicologia clínica, hospitalar e da saúde é que a Psicologia clínica propõe um amplo trabalho de saúde mental nos três campos de atuação, primário, secundário e terciário, a Psicologia da saúde também abrange nesses níveis, mas é aplicada no âmbito sanitário, priorizando as implicações psicológicas, sociais e físicas da saúde. O que difere a Psicologia Hospitalar das outras duas, é o fato dela limitar-se à instituição-hospital e, tendo como consequência, o trabalho de prevenção secundária e terciaria (Castro & Bornholdt, 2004). A necessidade da presença de Psicólogos nos hospitais cresce a cada dia, porém a quantidade de profissionais se disponibilizando para esse tipo de função não é muito animador, desde a formação acadêmica, é possível notar que a preferência é a clínica clássica, pois o modelo que as universidades ensinam durante todo o período letivo, está voltado para esse tipo de atuação. Isso seria um dos fatores responsáveis por essa especialização tão importante estar em falta no mercado, outro fator seria a dificuldade que o profissional dessa área enfrenta para conseguir desempenhar o seu papel institucional, pois é muito frequente que mesmo ocupando a vaga de Psicólogo Hospitalar ele se encontre em setores administrativos exercendo papéis que não coincidem com a sua real finalidade (Almeida & Malagris, 2015). O papel do Psicólogo hospitalar consiste em dar apoio aos pacientes e aos seus familiares, isso envolve questões emocionais e pessoais, o que acaba exigindo um manejo de forma diferenciada por parte do profissional, pois acaba limitando processos importantes como o sigilo, fazendo com que em muitos casos seja necessário uma intervenção na presença de outras pessoas e episódios como esse gera uma série de angústias tanto no indivíduo que recebe o atendimento quanto naqueles que acabam presenciando a cena, sendo assim, cabe ao profissional a sensibilidade de encontrar um meio que amenize situações como essas (Azevedo, Morais & Marafon, 2017). Esse contato direto com os usuários do serviço, nem sempre é desempenhado pelo Psicólogo, muitas vezes tem enfermeiros especializados em saúde mental, ou até mesmo a área da psiquiatria entra em ação. A interdisciplinaridade, ocorre quando vários profissionais atuam em prol da melhora do paciente, e é de extrema importância quando executado com eficiência (Carvalho, & Lustosa, 2008). O presente estudo tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica de Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 56 estudos publicados em português, realizados nos últimos 10 anos (2007 a 2017) visando discutir o setting terapêutico do Psicólogo clínico e institucional, levantando questões que implicam a dificuldade enfrentada para adaptação na transição de uma área para a outra. 2 MÉTODO O estudo parte através do método da revisão integrativa da literatura e que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisa fornecendo informações mais amplas, permitindo assim, um corpo de conhecimento. O levantamento do material foi empreendido a partir de artigos, disponibilizados entre 2007 e 2017 nas bases de dados Scielo, Pepsic e BVS, sendo utilizado os descritores “Psicologia Hospitalar, Setting Terapêutico e Psicólogo Clínico” em língua portuguesa. Inicialmente, foram analisados os títulos dos artigos com o intuito de eliminar referências repetidas, em cada busca. Em seguida, os resumos anexados foram selecionados e uma leitura prévia dos mesmos determinou a seleção do material necessário para as revisões. Para a inclusão dos artigos, foram empregados os seguintes critérios: estudos empíricos realizados no território brasileiro e publicados na íntegra que retrataram, as vivências de um Psicólogo no ambiente institucional, como ele foi inserido nesse meio e as dificuldades enfrentadas para a realização dessa mudança. Os resultados serão apresentados em forma integrativa do conteúdo conforme as análises dos resultados, discussão e conclusão. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram selecionados 13 artigos, dos quais dois artigos foram usados como base de referência sobre a atuação do psicólogo no contexto hospitalar. O primeiro Azevedo & Crepaldi (2016), narra que o trabalho do psicólogo no ambiente hospitalar pode ser considerado uma ação ou caminho da psicologia da saúde que está concentrada na atenção terciaria de saúde, com a possibilidade de várias práticas de atividades e intervenções que devem ocorrer de acordo com a abordagem teórica utilizada por cada profissional da psicologia. O mesmo autor relata que o trabalho desempenhado visa o acompanhamentodos pacientes em momentos de adoecimento auxiliando-os na aceitação, adaptação e compreensão do momento que está sendo vivenciado. Deve-se considerar a importância da família e toda a equipe profissional que englobam todo o contexto em que o paciente está vivenciando. Todas essas pessoas que estão neste contexto englobam muitas significações. Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 57 Além disso, relatam que a atuação acontece baseando-se na promoção de saúde e as intervenções podem acontecer dentro das diversas áreas do contexto hospitalar como: medicação, enfermaria, pediatria, unidades e centros de terapias intensivas, blocos cirúrgicos e outros (Azevedo & Crepaldi, 2016). Já para Carvalho (2013), há diversos modelos de atendimentos dentro dos hospitais que se diferem em atuação clínica ou integral. A primeira acontece em um local isolado do hospital em que os pacientes podem ser atendidos individualmente. A atenção integral engloba a família e toda a equipe de profissionais da saúde e o trabalho pode acontecer em qualquer local do hospital não possuindo um local fixo de atendimento. Portanto, é de suma importância que estas intervenções sejam realizadas de forma ética baseada no saber técnico. Foi encontrado um estudo focando as vivencias de médicos e psicólogos hospitalares. No artigo de Romano (1999), comprovam a necessidade de deixar claro que o paciente não pode ser apenas aquele que é objeto do conhecimento científico onde todos enxerguem a doença e não a pessoa que está doente, é necessário que o paciente entenda o motivo que o levou aquela situação e estar ciente do quadro em que se encontra, para que ele se comprometa a participar diretamente do seu processo de cura, pois só assim essa terá a chance de acontecer, nos casos que não tem solução é esse comprometimento quem ajudará no processo de aceitação do paciente. Romano (1999), relata que é normal existir comparação do papel desempenhado pelo Psicólogo com o do médico. As funções médicas consistem em diagnosticar um quadro orgânico do paciente, estudar a evolução da doença, visando exclusivamente aspectos físicos, para então fazer um plano de tratamento que atuará no combate dos sintomas apresentados. Já o Psicólogo atua tratando o ser como um todo, questões culturais, emocionais, sociais e toda a simbologia que o envolve. Enquanto a medicina trabalha com a lógica física, a psicologia atua na singularidade individual. Ambos têm participação importante no tratamento da mesma doença, porém, um nos aspectos concretos e outro nos aspectos simbólicos/subjetivo. Além disso, apesar de serem funções distintas, é de suma importância que esse trabalho seja feito em conjunto, por isso foram criadas as equipes multidisciplinares, compostas por toda a equipe que trabalha dentro do hospital, visando melhor atendimento aos usuários do serviço e até mesmo para melhor execução do trabalho dos que ali atuam. Uma equipe multidisciplinar bem organizada, facilita a cansativa jornada de trabalho, além de colaborar para a diminuição dos agravantes do stress das equipes atuantes (Romano, 1999). Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 58 Sobre o setting, apenas três artigos foram encontrados. O estudo de Fossi, & Guareschi (2004) foi realizado em seis hospitais gerais, públicos e particulares da cidade de Porto Alegre, através de uma entrevista com seis psicólogas que atuam no campo hospitalar. Baseado nos depoimentos, alguns relatos apresentaram discussões sobre o setting terapêutico e a atuação de profissionais da área. Após anos atuando em salas fechadas que favoreciam a construção do vínculo entre terapeuta e paciente, o Psicólogo se viu obrigado a expandir as suas ações para o campo hospitalar, onde não é possível atuar com a mesma tranquilidade que nos consultórios convencionais. Foi necessário que se moldassem de acordo com as necessidades da instituição, dos profissionais que ali atuam e dos usuários que precisam do serviço, ou seja um setting que antes era restrito na relação paciente e terapeuta, agora envolve um número indefinido de participantes. O papel do terapeuta não pode ser mudado em relação a escuta e intervenções, mas é preciso desenvolver técnicas todos os dias para conseguir lidar com as adversidades de cada caso apresentado (Fossi & Guareschi, 2004). Segundo Moreira, & Esteves (2012), na clínica tradicional o conceito setting terapêutico se constitui de regras pré-determinadas e combinações especificas de cada dupla. Sendo marcado e definido por um contrato inicial, onde deve conter os papéis de cada um, deixando claro que poderá acontecer alterações de acordo com o caminhar do tratamento. O terapeuta atua como uma espécie de guardião desse setting para que possa auxiliar no processo durante todo o tratamento. O que nos deixa uma brecha para entender que no contexto hospitalar também possa ter a construção desse setting, onde o profissional encontrará meios para que isso se torne possível, sem deixar o encanto da terapia se perder. Quando se pensa em tratamento psicológico em espaço aberto, a primeira barreira que é citada é a questão da preservação do sigilo do paciente, tarefa difícil, mas também não é impossível. Apesar das limitações que o setting hospitalar envolve, existem formas onde o profissional da Psicologia dá o suporte necessário para o paciente e seus familiares sem precisar expor os assuntos mais delicados, é verdade que não existe receita pronta para fazer isso funcionar perfeitamente, pois vai depender de fatores que devem ser observados de acordo com o ambiente social o qual o hospital pertence. Uma tarefa delicada que exige um feeling especial por parte do profissional que ali está atuando, pois de maneira alguma se deve colocar a dificuldade na frente de um bom serviço. Simonetti (2004) afirma em seu estudo que no setting hospitalar o terapeuta não atua considerando apenas as doenças psicológicas classicamente conhecidas como “psicossomáticas”, e sim em todas as doenças, pois toda doença traz em si aspectos psicológicos, quando não estão diretamente ligados à sua causa estão relacionados com a Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 59 própria forma do indivíduo lidar com ela e seu significante, ou seja o foco do Psicólogo hospitalar é o aspecto psicológico em torno do adoecimento. Aspectos esses que são encontrados nos doentes, nos familiares deles e no ambiente em que vivem. Em Ribeiro & Morais (2017), o aprimoramento das técnicas de enfrentamento da hospitalização envolve uma série de estratégias em que o profissional pode estar fazendo uso para auxiliar nesse processo dentro do contexto hospitalar de forma que seja possível diminuir o sofrimento do paciente, permitindo que ele expresse verbalmente, fazendo com que ele traga para o concreto aquilo o que ele está vivendo emocionalmente naquele momento para que assim ele consiga ter autonomia e domínio sobre a sua situação. Entre essas técnicas envolve o brincar para a criança, que ao ser introduzida com o cuidado na escolha do brinquedo, pode trazer benefícios muito importantes para que o tratamento apresente melhores resultados. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Portanto o estudo mostra que a psicologia hospitalar vem ganhando seu espaço e mostrando sua importância, para a promoção e prevenção de doenças físicas e metais. Ao identificar e compreender os problemas emocionais dos pacientes o psicólogo juntamente com os outros profissionais da saúde, ajuda o paciente a enfrentar a doença, diminuindo o sofrimento dele e de sua família. Saúde física e mental anda juntos, um auxiliando o outro, os dois precisam estarem bem para que o paciente fique bem,papel desenvolvido pelo psicólogo no intuito de ajudar o paciente a lidar e entender o significado do que está acontecendo durante o processo de adoecimento e auxiliando a família a compreender todo esse momento. O papel do psicólogo hospitalar não e só com o paciente, mas é necessário trabalhar as equipes de saúde e os familiares dos pacientes; ambos necessitados de um suporte psicológico. Ao promover uma boa relação entre equipe profissional, família e paciente, o Psicólogo Hospitalar consegue trabalhar e acolher o problema no todo das relações. Do mesmo modo, é um trabalho que apresenta muitos obstáculos, pois não está ligado a uma clínica fechada, em um consultório, ela está aberta, e precisa ser flexível e continuar preservando o sigilo mesmo em um espaço institucional. Essa relação delicada entre paciente e terapeuta que por muitos anos foi a porta fechadas, agora deverá ser feita em campo aberto onde não só o paciente precisa ser cuidado, mas todos que participam direta ou indiretamente daquele cenário. Era esperado que Psicologia e Saúde em Debate ISSN-e 2446-922X Rev. Psicol Saúde e Debate. Dez., 2017:3(2):53-61. 60 esse assunto fosse mais discutido através de estudos, porém ao desenvolver o trabalho apresentado foram encontradas diversas referências sobre a atuação da psicologia no contexto hospitalar, mas muito pouco se encontrou sobre o setting terapêutico no contexto hospitalar sendo este de suma relevância na atuação profissional, Portanto, mesmo com a pouca exposição do tema e enfrentando muitas dificuldades para se adaptar, o setting terapêutico se mostra de maneira versátil dentro da organização hospitalar, sendo de suma importância manter um ambiente saudável para a intervenção, preservando as questões éticas profissionais mesmo em um ambiente hostil. Onde o principal foco precisa ser o usuário do serviço e as pessoas que ali atuam, sem deixar que a doença passe na frente do indivíduo adoecido. 6 REFERÊNCIAS Almeida, R. A. D., & Malagris, L. E. N. (2015). Psicólogo da Saúde no Hospital Geral: um Estudo sobre a Atividade e a Formação do Psicólogo Hospitalar no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(3), 754-767. Azevedo, A. V. D. S., & Crepaldi, M. A. (2016). A Psicologia no hospital geral: aspectos históricos, conceituais e práticos. Estudos em Psicologia, 33(4), 573-585. Azevedo, D., Morais, R., & Marafon, A. (2017). Importância do Psicólogo na intervenção da Psico-Oncologia em mulheres acometidas pelo câncer de mama. Psicologia e Saúde em debate, 2(Supl. 1), 12-15. Barros de Carvalho, D. (2013). Psicologia da saúde crítica no contexto hospitalar. Psicologia Ciência e Profissão, 33(2). Carvalho, M. R. D., & Lustosa, M. A. (2008). Interconsulta psicológica. Revista da SBPH, 11(1), 31-47. Castro, E. K. D., & Bornholdt, E. (2004). Psicologia da saúde x psicologia hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Psicologia: ciência e profissão, 24(3), 48-57. Dutra, E. (2004). 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Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho - setembro 2007 375375375375375 IN TRO D U Ç Ã O D A A RTE N A PSIC O TERA PIA ▼ ▼ ▼ ▼ ▼ Introdução da arte na psicoterapia: enfoque clínico e hospitalar Introduction of art in psychotherapy: clinical and hospital approaches Erika Antunes VASCONCELLOS1 Joel Sales GIGLIO2 Resumo Este artigo visa discutir a introdução da expressão artística em contextos terapêuticos, procurando focalizar também o desenvolvimento da arteterapia com pacientes oncológicos. O tema foi discutido através de revisão bibliográfica, considerando- se diferentes enfoques teóricos. Primeiramente, nos referimos à compreensão da arte como expressão subjetiva e à utilização de recursos artísticos no diagnóstico e na intervenção terapêutica. Em seguida, contextualizamos o tema, considerando também o ponto de vista da psicologia analítica junguiana com relação à linguagem imagética e à sua aplicação na psicoterapia. Por último, abordamos a arteterapia na assistência aos pacientes com câncer, destacando o enfoque hospitalar. Esse assunto tem sido pouco abordado na literatura científica em publicações nacionais, apesar da importante expansão nos grandes serviços de saúde. Trata- se de um campo que ainda requer maior fundamentação teórica, principalmente no contexto institucional e na adequação à realidade brasileira. Unitermos: arte-terapia; neoplasias; oncologia; psicologia; psicoterapia. Abstract This article brings up the artistic activity as a therapeutic practice for patients from oncology area. The theme is discussed through a bibliographic revision considering tree different focus. In the first one we refer to the understanding of Art as a subjective and symbolic expression and to the use of artistic resources during Psychotherapy. Secondly, we consider the Analytical Psychology position in relation to the imagery language. Last, we consider the application of Art Therapy in the assistance of oncology area patients. This issue has been undervalued in Brazilian scientific publications in spite of the growing practice of Art Therapy at Medical Centers in our country as a psychodynamic diagnosis or therapeutic resource. This field needs a better theoretical basis, mainly in the specific cultural and institutional Brazilian context. Uniterms: art therapy; neoplasmas; oncology; psychology; psychotherapy. 1 Universidade Estadual de Santa Cruz, Departamento de Filosofia e Ciências Humanas. Campus Soane Nazaré de Andrade, Rod. Ilhéus, km 16, Itabuna, 45662- 000, Ilhéus, BA, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: E.A. VASCONCELLOS. E-mail: <erikaantunes@uol.com.br>. 2 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Campinas, SP, Brasil 376376376376376 E.A . VA SC O N C ELLO S & J.S. G IG LIO Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho -.setembro 2007 Neste artigo, abordaremos a importância da arte como expressão da subjetividade, enfocando a prática clínica e hospitalar especialmente no que se refere ao cuidado destinado ao paciente com câncer. Primeiramente, destacaremos sua valorização em contextos terapêuticos, no campo da saúde mental, enfatizando também a perspectiva da psicologia analítica junguiana sobre a experiência imagética como expressão do inconsciente. Discutiremos, em seguida, a utilização da via artística no processo psicoterapêutico de pacientes oncológicos, delineando a prática da arteterapia no campo da psiconcologia. Expressão artística e mundo subjetivo A relação entre elaboração artística e expressão do mundo subjetivo passou a ser estabelecida como um importante foco de interesse de estudiosos representantes do meio científico e de integrantes do meio artístico a partir do final do século XIX, tendo maior repercussão a partir do início do século XX. Nesse período, portanto, algunsestudos considerados pioneiros demarcam o início das pesquisas na área. Ferraz (1998), em seu livro “Arte e Loucura”, descreve o momento histórico que se caracteriza pelo entrelaçamento entre áreas distintas, vislumbrando a interseção entre arte, psicologia, psiquiatria e psicanálise. Ela menciona vários importantes pesquisadores que inicialmente abordaram a interface: arte e saúde mental, dentre os quais podemos citar: Tardieu, em 1872; Simon, em 1876 e 1888; Lombroso, em 1889; Mohr, em 1906; Rejà, em 1907 e Prinzhorn, em 1922. Com relação a esses pesquisadores, destacaremos aqui dois deles: Mohr e Prinzhorn. Mohr recebeu maior notoriedade científica após a publicação de um trabalho sobre a produção gráfica de doentes mentais. Ele influenciou vários outros estudos que contribuíram com a elaboração de alguns testes projetivos amplamente difundidos no campo da psicologia e da psicanálise. Prinzhorn, por sua vez, publicou em 1922 o livro cujo título em português é “A expressão da loucura”. Essa publicação teve na época importante repercussão, valorizando as elaborações artísticas dos doentes mentais como produções de arte verdadeiramente reconhecidas, ressaltando a preservação das possibilidades criadoras desses indivíduos em detrimento da desintegração psíqui- ca, característica dos transtornos mentais (Ferraz, 1998). É interessante observarmos que, nesse momento histórico, o movimento psicanalítico também começou a eclodir, havendo confluência de interesses, já que a psicanálise, especialmente Freud, também buscava nessa época a compreensão da dinâmica psíquica a partir de estudos sobre as obras de alguns artistas consagrados, tanto nas artes plásticas (Freud, 1910/1970 e 1914/1974) como na literatura. Na década de 20, entretanto, a arte começou a ser vista sob um enfoque mais amplo, contemplando não somente a possibilidade de diagnóstico, mas também sendo destacado seu aspecto terapêutico. Jung passou a introduzir a arte como parte do processo psicoterapêutico de seus pacientes, como veremos no próximo tópico. Posteriormente, então, a esses primeiros estudos, a partir dos anos 40, a arteterapia foi realmente sistematizada, tendo como precursora Margareth Naumburg, nos Estados Unidos, que foi bastante influenciada pela abordagem freudiana; a autora trabalhou com a produção da arte espontânea durante a psicoterapia, considerando que as imagens espontaneamente projetadas nas produções gráficas e plásticas permitem a expressão do inconsciente. O processo de arteterapia se baseia no reconhecimento de que os pensamentos e os sentimentos mais fundamentais do homem, derivados do inconsciente, encontram sua expressão em imagens e não em palavras. As técnicas da arteterapia se baseiam no conhecimento de que cada indivíduo, treinado ou não em arte, tem uma capacidade latente de projetar seus conflitos internos em forma visual. Quando os pacientes visualizam tais experiências internas, ocorre freqüentemente que eles se tornam mais articulados verbalmente (Naumburg, 1991, p.388). Outros autores desenvolveram importantes trabalhos que contribuíram com a sistematização da arte no processo terapêutico. Podemos citar aqui Edith Kramer, desenvolvendo trabalhos na década de 50, Françoise Dolto, trabalhando com crianças na década de 70, Janie Rhyne, introduzindo a concepção da Gestalt- Terapia no trabalho com arte nos anos 70 e Natalie Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho - setembro 2007 377377377377377 IN TRO D U Ç Ã O D A A RTE N A PSIC O TERA PIA Rogers, aplicando a concepção da Teoria Centrada na Pessoa, desenvolvida por seu pai Carl Rogers, também na década de 70 (Andrade, 2000). A arteterapia, entretanto, vem sendo considerada uma modalidade terapêutica com características próprias, abarcando em si algumas distinções técnicas e conceituais, diferenciando-se através de duas linhas de atuação: arte como terapia (art as therapy) e arte psicoterapia (art psychotherapy). Na primeira delas, o foco principal da terapia está no processo artístico, considerando suas propriedades curativas. Na segunda vertente, os recursos artísticos são utilizados amplamente durante o processo psicoterapêutico, acrescentando a via imagética e pictórica na comunicação entre paciente e psicoterapeuta (nesse caso, com a utilização de técnicas de artes plásticas). Nessa segunda linha de atuação, o fazer arte ocorre dentro de um enquadre psicoterapêutico específico, seguindo princípios, técnica, embasamento teórico e objetivos que visam fundamentalmente o de- senvolvimento emocional do indivíduo, repercutindo na ampliação de potencialidades criativas (Andrade, 2000). Sobre essa diversidade, Pain e Jarreau (1996) esclarecem a necessidade de adequação da terapêutica adotada (referindo-se à linha de atuação em arteterapia) à população de pacientes (em função das indicações terapêuticas) e ao próprio ambiente disponível. Esses pontos são discutidos, enfatizando-se a possibilidade dessa intervenção ser realizada no contexto institucional, como no caso da prática hospitalar, na qual as condições de atendimento e a dinâmica assistencial poderão dificultar a preservação do enquadre psicoterapêutico, sendo indicada uma atitude terapêutica mais flexível, por exemplo, com relação aos horários e duração das sessões, à possibilidade de entrada e saída de integrantes nos grupos terapêuticos e ao local de realização dos atendimentos. Além disso, devemos também pontuar que a arteterapia não é uma prática exclusiva do psicólogo, visto que profissionais com outras formações acadêmicas têm se especializado nessa área, desenvolvendo intervenções mais adequadas às suas formações de origem e, nesses casos, não seguindo as peculiaridades da técnica pertinentes à psicoterapia. De maneira geral, essa revisão da bibliografia sobre o tema aqui discutido nos mostra que o alcance da arteterapia é bastante amplo, pois como intervenção visa desenvolver recursos físicos, cognitivos e emocionais, propiciar o desenvolvimento de habilidades e de potencialidades, favorecendo a utilização de recursos internos na resolução de conflitos, e estimular a livre expressão, oferecendo espaço continente para a externalização de aspectos conscientes ou não do mundo subjetivo. No entanto, como veremos adiante, considerando nosso intuito de abordar neste artigo a introdução da arte na psicoterapia, enfatizamos a visão psicodinâmica do processo arteterapêutico. Nessa perspectiva, visamos compreender os aspectos simbólicos que se manifestam na elaboração de uma produção artística (contidos também na produção final), analisados como conteúdos projetados durante as sessões de arteterapia, podendo ser integrados à consciência, desencadeando um processo de transformação intrapsíquica. No Brasil, o enfoque psicodinâmico fundamentou os trabalhos pioneiros na introdução da arte como proposta terapêutica realizada junto a pacientes psiquiátricos institucionalizados. Esses trabalhos foram desenvolvidos por Osório César em São Paulo e por Nise da Silveira no Rio de Janeiro, repercutindo profundamente na proposta atual do arteterapeuta. Osório César, baseando-se no referencial freudiano, é considerado o precursor da perspectiva terapêutica da arte no Brasil. Sua prática foi realizada com pacientes internos do Hospital Psiquiátrico do Juqueri e seu primeiro artigo sobre esse tema, datado de 1925, intitula-se: “A Arte Primitiva nos Alienados” (Ferraz, 1998). Já Silveira, orientada sob a perspectiva junguiana, também desenvolveu e coordenou ateliês de arte com pacientes psiquiátricos internados, sendo autora de duas obras de suma importância: “Imagens do Inconsciente” (1981) e “O Mundo das Imagens” (1992). Ela rompeu barreiras, trazendo inovações com suas propostas terapêuticas e recebendo notoriedade nacional e internacional, principalmente após manter contato com Jung, que valorizou a importante dimensão de seu trabalho. Esse contato ocorreu quando Nise da Silveira passou a observar um grande número de mandalas entre as produçõespictóricas de seus 378378378378378 E.A . VA SC O N C ELLO S & J.S. G IG LIO Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho -.setembro 2007 pacientes, enviando correspondência a Jung, em 1954, com o objetivo de obter mais informações sobre tais produções circulares. A partir de então, houve um estreitamento na relação entre os dois, abrindo portas inclusive para a exposição de obras produzidas pelos pacientes do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, intitulada: “A Esquizofrenia em Imagens”, que ocorreu em Zurique em paralelo ao II Congresso Internacional de Psiquiatria (Silveira, 1981). A partir desses trabalhos pioneiros, que tiveram repercussão nacional e internacional, outros focos têm surgido e, pouco a pouco, tem-se ampliado a utilização terapêutica da arte para outros seguimentos da saúde, voltando-se a populações com diferentes comprome- timentos e doenças. Arte na psicoterapia sob a perspectiva da psicologia analítica junguiana Como temos visto, os estudos de Jung influenciaram amplamente o campo da arteterapia, trazendo à tona discussões mais profundas em torno da importância do mundo imagético na compreensão do psiquismo e, conseqüentemente, valorizando a análise das imagens simbólicas projetadas nas produções artísticas dos pacientes dentro do enquadre psicoterapêutico. Suas descobertas e reflexões abalaram os paradigmas do pensamento ocidental pela inclusão de novos enfoques a respeito dos processos psíquicos e da dimensão transcendente do ser humano. Segundo Jung, o princípio originário que rege a natureza humana é o mundo das imagens e, portanto, toda experiência humana tem seu desdobramento a partir dessa premissa. Ele atribui à imagem arquetípica - que também foi nomeada como imagem primordial - papel fundamental na constituição de todos os processos mentais, considerando que aí se configuram as vivências primordiais da humanidade (Kugler, 2002). Jung (1921/1991, p.418) estabelece diferenciação entre imagens de caráter pessoal e de caráter impessoal. A primeira nos remete a conteúdos do inconsciente pessoal e da experiência consciente. A última, entretanto, diz respeito à imagem primordial quando representa manifestação de ordem coletiva, apresentando características mitológicas. Nessa perspectiva, ele define o fenômeno imagético como “uma expressão concentrada da situação psíquica como um todo”, distinguindo-o de qualquer manifestação patológica (onde costuma ocorrer distorção da realidade), sendo um processo interno. A expressão imagética, portanto, agrega apenas conteúdos do inconsciente constelados naquele momento, visto que a seleção dos conteúdos relevantes e irrelevantes à formação da imagem é um processo consciente. Quanto aos arquétipos, esses apresentam certa autonomia e carga energética que atrai conteúdos do consciente que lhes revestem com roupagens adequadas à época e à circunstância pela qual são evocados. São, portanto, “elementos estruturais numinosos” que dão a fôrma para que conteúdos do consciente se moldem e, assim, possam tornar-se perceptíveis. Dessa maneira, considerando o limiar entre inconsciente coletivo, inconsciente pessoal e consciente, vislumbramos a formação da imagem simbólica. Aliás “nunca se pode encontrar o arquétipo em si de maneira direta, mas apenas indiretamente, quando se manifesta no símbolo ou no sintoma ou no complexo” (Jacobi, 1995, p.73). Portanto é importante destacar que arquétipo e símbolo não são conceitos equivalentes. O arquétipo é o centro energético que poderá ser constelado ao emergir na forma de símbolo. Esse último, entretanto, requer um esboço arquetípico, exercendo função transformadora da energia psíquica. O símbolo também agrega função terapêutica que não se restringe à imagem em si, contemplando o significado que transcende a própria imagem (Tommasi, 2003). Estando ligado à vida e ao ser vivo, o arquétipo condensa imagem e emoção, sendo conseqüentemente revestido por sentimento e dinamismo. Nesse sentido, sua compreensão apenas é possível levando-se em consideração a maneira indicada pelo sujeito que o constela, não podendo ser isolado e nem entendido arbitrariamente (Jung, 1935/1998). Ao interpretarmos um símbolo, procuramos decifrar a realidade invisível que se oculta através do que nos é perceptível. No entanto, mesmo sendo interpretado, os significados nele implícitos nunca se esgotam, pois quando seu significado é completamente decifrado, ocorre a morte do símbolo (Kast, 1997a). Na história da humanidade, a presença de símbolos sempre foi marcante. Tudo é passível de se Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho - setembro 2007 379379379379379 IN TRO D U Ç Ã O D A A RTE N A PSIC O TERA PIA tornar símbolo, desde os elementos da natureza ou os próprios produtos da ação humana, até os elementos abstratos. Jaffé (1964), ao abordar o simbolismo nas artes plásticas, retrata o longo trajeto histórico dessa forma de expressão, identificando aspectos simbólicos desde a pré-história, a partir dos registros de pinturas rupestres, até os tempos atuais. Nas artes, em geral, observam-se inúmeras projeções do simbolismo humano, nos remetendo às imagens pessoais e impessoais (arquetípicas) descritas tão amplamente por Jung, o que justifica a grande influência do pensamento junguiano no desenvolvi- mento das práticas arteterapêuticas. Tanto na produção de um artista quanto na produção de um paciente dentro de um contexto psicoterapêutico, a imagem que emerge durante o processo expressivo reúne aspectos da psique do sujeito que são constelados naquele específico momento (Giglio, 1992; Zimmermann, 1992). O próprio Jung experienciou a arte tanto na vida pessoal (Jung, 1963/1984) quanto na intervenção com seus pacientes em psicoterapia. Segundo ele: Os elementos pictóricos que não correspondem a nenhum lado externo devem provir do ‘íntimo’... Como esse ‘íntimo’ é invisível e inimaginável mas pode influenciar a consciência de um modo muito eficaz, levo os meus pacientes, sobretudo os que sofrem de tais efeitos, a reproduzi-los da melhor maneira possível, através da forma pictórica. A finalidade desse ‘método de expressão’ é tornar os conteúdos inconscientes acessíveis e, assim, aproximá-los da compreensão. Com essa terapêutica consegue-se impedir a perigosa cisão entre a consciência e os processos inconscientes. Todos os processos e efeitos de profundidade psíquica, representados pictoricamente, são, em oposição à representação objetiva ou ‘consciente’, simbólicos, quer dizer, indicam da melhor maneira possível, e de forma aproximada, um sentido que, por enquanto, ainda é desconhecido (Jung, 1935/1985, p.120) Como podemos compreender a partir dos estudos de Silveira (1992), as imagens internas são subjetivas por retratarem a realidade psíquica em sua amplitude (consciente e inconsciente pessoal), mas podem ser universais, pois muitas vezes apresentam motivos arquetípicos compartilhados com toda a humanidade (inconsciente coletivo). Essa autora valorizou a análise da série de produções artísticas de pacientes psiquiátricos (como Jung propunha com a análise da seqüência de sonhos), observando a repetição de motivos e a presença do fluxo de imagens do inconsciente carregadas de energia psíquica, inclusive na representação de temas mitológicos. Outra autora que estudou os aspectos terapêuticos do ato de pintar e desenhar foi Zimmermann (1992). Ela destacou que neste processo terapêutico ocorre a canalização da energia contida por meio da catarse, podendo desencadear a redistribuição da energia psíquica durante a elaboração artística, mencionando a oportunidade de oferecimento de espaço continente às projeções de conteúdos inconscientes durante o processo expressivo, discutindo também a questão da análise e interpretação das produções dos pacientes. Sobre esse último tema, considera que uma imagem pictoricamente produzida não é possível de ser compreendida e, portanto, interpretada de maneira adequada, se não tivermos informações prévias sobre a históriade vida do sujeito que a elaborou (Zimmermann, 1992). Arteterapia no cuidado ao paciente com câncer Como temos observado até aqui, a expressão imagética através da linguagem gráfica e pictórica (pela via das artes plásticas) vem sendo reconhecida pelos profissionais de saúde mental pelas suas potencialidades terapêuticas. A utilização desses recursos também tem atraído cuidadores de pacientes portadores de doenças somáticas. Como conseqüência, a utilização da arte no processo psicoterapêutico também tem sido aplicada não só em hospitais e clínicas psiquiátricas com indivíduos que sofrem de transtornos mentais, mas também nos hospitais gerais e nas clínicas de outras especialidades, sobretudo com indivíduos que apresentam doenças crônico-degenerativas. No campo da psiconcologia, considerando as várias modalidades terapêuticas, devemos destacar a 380380380380380 E.A . VA SC O N C ELLO S & J.S. G IG LIO Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho -.setembro 2007 arteterapia, pressupondo-se a importância da transformação psíquica gerada pela experiência criativa que pode ser propiciada ao indivíduo que adoece com câncer, ajudando-o a elaborar conflitos e a enfrentar experiências de dor, perda e luto decorrentes da doença e do próprio tratamento. Identificamos aqui um dos pontos de conexão que focalizamos neste artigo, considerando a interseção entre arte, psicologia e oncologia. Esse enfoque pode estar vinculado à subárea denominada “arteterapia médica” (Medical Art Therapy), conceito que não é utilizado no Brasil, mas que se refere à abordagem arteterapêutica de pacientes com doenças somáticas. O artista inglês Adrian Hill é considerado um dos pioneiros nessa área. Ele desenvolveu, já na década de 40, o trabalho de arte com tuberculosos internados em um sanatório, aplicando o termo arteterapia para designar a intervenção baseada na elaboração de trabalhos artísticos com pacientes em isolamento, visando promover ação terapêutica ao oferecer recursos expressivos que contribuíssem com a redução dos sintomas depressivos nessa população (Luzzatto & Gabriel, 1998; Malchiodi, 1999; Wood, 1998). Na Inglaterra, esse trabalho pioneiro teve importantes repercussões e, pouco a pouco, essa área de interesse foi sendo compartilhada por outros profissionais, tendo se constituído em 1993 em uma subárea dentro da Associação Britânica de Arteterapeutas (British Association of Art Therapists - BAAT), denominada The Creative Response, voltada ao desenvolvimento da arteterapia nos cuidados paliativos, atuando, portanto, na assistência integral ao paciente fora de possibilidades terapêuticas de cura e ao paciente em fase terminal (Wood, 1998). Atualmente, podemos observar que os grandes centros de oncologia vêm gradualmente incluindo em seus programas de assistência a concepção de interdisciplinaridade. As tendências atuais na área da saúde têm caminhado para a ruptura de antigos paradigmas que encaravam a doença como algo que pudesse ser tratado independentemente da atenção ao sujeito que adoece (Vasconcellos, 2000). Estudos científicos voltados ao processo saúde- doença têm focalizado a qualidade de vida e a saúde mental do paciente oncológico, mostrando que o objetivo terapêutico oferecido a esse doente não deve ter como meta, exclusivamente, a cura, a redução do tumor, o aumento da sobrevida ou o alívio da dor física; mas deve incluir a melhoria da qualidade de vida e a possibilidade de resgate da dignidade e da motivação para o viver (Carvalho, 1994; Holland, 1998). Temos observado, a partir de alguns estudos baseados em nossa prática clínica, que o processo artístico propiciado ao paciente com câncer pode favorecer a ressignificação da própria vida, na medida em que facilita o encontro de algumas diretrizes para se lidar com a difícil realidade vivenciada durante a trajetória de doença e tratamento, num movimento de reconstrução da história pessoal e de contato com os próprios sentimentos e fantasias (Vasconcellos, Perina & Vanni, 1996; Vasconcellos & Perina, 2002; Vasconcellos & Giglio, 2003; Vasconcellos, 2004). A experiência de adoecimento e de realização do tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia, cirurgia) gera limitações e conflitos no paciente e em seus familiares, mobilizando inseguranças, temores e angústias. A expressão de tais vivências que representam aspectos do mundo interno é um dos principais focos da arteterapia com essa população uma vez que, além dos conteúdos intencionalmente externalizados nas produções (aspectos conscientes), lidamos também com conteúdos simbólicos (aspectos inconscientes) de extrema relevância para todo o processo de transformação e ressignificação, sendo esses fatores imprescindíveis à proposta arteterapêutica em sua perspectiva psicodinâmica. Na área de cuidados paliativos, existem algumas peculiaridades do trabalho arteterapêutico em função das características da população atendida, sendo alcançados alguns resultados bastante expressivos. Com relação a esse tema, Wood (1998) destaca que essa intervenção pode objetivamente auxiliar o paciente a compreender sua real situação, enfrentar mudanças relacionadas à imagem corporal, amenizar a dor emocional pertinente ao processo do adoecer e do morrer; aumentar sua autonomia e confiança, fortalecendo algumas habilidades para enfrentar a situação de doença, facilitar a expressão de sentimentos e fortalecer a relação com a equipe de saúde. Luzzatto e Gabriel (1998) descrevem duas abordagens no campo da arteterapia: uma delas voltada às propriedades curativas do processo intrapsíquico Estudos de Psicologia I Campinas I 24(3) I 375-383 I julho - setembro 2007 381381381381381 IN TRO D U Ç Ã O D A A RTE N A PSIC O TERA PIA criativo e outra voltada à utilização terapêutica das relações interpessoais no processo artístico. Essas autoras têm desenvolvido trabalhos no campo da arteterapia aplicada à oncologia e, sendo assim, consideram que tal intervenção permite ao profissional maior flexibilidade por poder utilizar recursos artísticos em abordagens psicoterapêuticas com ênfase no apoio psicológico, no trabalho cognitivo ou nos processos psicodinâmicos, levando em consideração que a população de pacientes oncológicos não é homogênea, apresentando demandas bastante distintas que poderão ser supridas mais amplamente. Como podemos ver, considerando o enfoque psicodinâmico, os processos inconscientes também podem ser compreendidos e elaborados durante a arteterapia com pacientes portadores de doenças somáticas, especialmente no campo da oncologia. Nessa perspectiva, Dreifuss-Kattan (1990) refere-se à postura do arteterapeuta diante do paciente oncológico, valorizando a atitude de acolhimento. Ele deverá ser capaz de acolher as imagens projetadas durante o processo criativo, mostrando continência aos conteúdos do mundo interno desse sujeito: suas ansiedades, angústias, temores e desejos, tornando possível que a figura do arteterapeuta seja introjetada por ele como objeto bom. Essa autora ressalta ainda que a possibilidade de expressão da realidade interna e a conscientização de alguns aspectos intrapsíquicos poderão auxiliar o sujeito com câncer em seu processo de auto-reparação, destacando também que as produções artísticas desses pacientes têm significado especial, representando a fantasia de imortalidade e a permanência de um vínculo positivo que sobrevive mesmo após a morte ou o término do tratamento. Luzzatto (1998) estabelece importante diferenciação entre atuação arteterapêutica no campo da psiquiatria e atuação destinada aos pacientes com câncer. Na primeira área citada, a intervenção tem como foco o mundo interno do paciente que sofre de um transtorno psíquico. Na segunda área, considera-se a existência do comprometimento físico e da dor também de origem orgânica, que se expressam através do sofrimento psíquico e vice-versa. Assim, a proposta terapêutica deverá reconhecer a dimensão corporal, atendendo necessidades de alívio, de relaxamento e de experiências
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