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PLANO DE NEGÓCIOS De modo geral, o empreendedorismo significa o começo de um novo negócio. Também é um fato que a atividade empreendedora pode ter vários significados subjetivos. Exemplo: Realização pessoal, inovação, renda, poder, oportunidade de mudança e tomada de riscos. Infelizmente, como falamos acima, a experiência dos empreendedores mostra que a realidade é mais dura que a imaginada no mundo das ideias. A probabilidade de fracasso de uma nova empresa é muito grande. No Brasil e em outros países, como, por exemplo, os EUA, poucas organizações não precisam fechar suas portas já nos primeiros anos de existência. Desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2019, o estudo “Demografia das empresas e estatísticas de empreendedorismo” aponta que apenas 47,2% das empresas permanecem em operação após quatro anos. Depois do primeiro ano de existência, 21% delas já encerram suas atividades. Nos Estados Unidos, os números, de acordo com o Bureau of Labor Statistics, são parecidos: 21,5% saem do mercado após o primeiro ano, enquanto 50% dão um fim às suas operações em até 48 meses. O que leva uma empresa ao sucesso? É muito fácil encontrar promessas de um certo método infalível capaz de transformar qualquer pessoa em um empreendedor milionário. Quem nunca ouviu a história na qual uma ideia brilhante nascida na garagem de casa foi o começo de uma corporação multinacional bilionária? Na verdade, quando observamos tal fenômeno mais de perto, podemos observar que muitos fundadores de companhias de sucesso já acumulavam uma experiência significativa no setor de atuação antes de montar o próprio negócio. Um exemplo clássico do “mito da garagem” é o caso de Steve Jobs (antes de se tornar o criativo líder da companhia de tecnologia Apple, Steve Jobs foi funcionário da Atari, uma empresa inovadora de videogames de enorme sucesso nos anos 1980, e da Hewlett-Packard (também conhecida como HP), outra organização gigante do setor de tecnologia). Os pesquisadores reconhecem que não existe uma fórmula universal para o sucesso: cada empresa tem uma história própria. Contudo, isso não significa que os empreendedores caminham no escuro apenas com a intuição e algumas ideias inovadoras. Decisões de negócio bem-informadas são comprovadamente determinantes do desempenho de uma nova empresa. Ao longo do século passado, universidades e agências governamentais passaram a desenvolver mecanismos de estratégia de negócios (estratégias de negócios têm exatamente o objetivo de usar ferramentas para ajudar na tomada de decisões de uma empresa. Em outras palavras, são exercício se técnicas de reflexão e de organização que facilitam a administração de um negócio). Entre as técnicas propostas pelos treinamentos neste tipo de estratégia, destaca-se justamente o planejamento. Nesse sentido, o plano de negócios é uma ferramenta para planejar a gestão do desenvolvimento inicial de uma organização. No meio empresarial, esse plano é considerado fundamental para o sucesso da nova empresa em médio e longo prazo. Segundo Honig (2004), o plano de negócios é um documento que “descreve o estágio atual de uma empresa e o que se espera do seu futuro”. Ele pode ser documento criado para um empreendimento que está nascendo ou para um negócio já em operação. PLANOS Trata-se de uma oportunidade para colocar no papel objetivos claros e realistas que possam, de fato, ser alcançados. Nesse momento, o empreendedor avalia quais são as etapas necessárias e o passo a passo para alcançar o objetivo final. Esse plano também é uma oportunidade para refinar propostas. Algumas ideias fazem bastante sentido dentro da cabeça, mas, quando são escritas no papel, pode-se perceber se estão incompletas ou não são realistas. Para Dornelas (2018, p. 93-94), espera-se que, no plano de negócios, o empreendedor descreva “suas ideias em uma linguagem que os leitores entendam e, principalmente, mostre viabilidade e probabilidade de sucesso em seu mercado”. Esse plano serve, portanto, como um “cartão de visitas do empreendedor”. Outra vantagem dessa ferramenta é o aumento na eficiência da empresa. Ao descrevermos a estratégia operacional do negócio, podemos descobrir algum desperdício de recurso, como, por exemplo, tarefas de funcionários ou materiais de insumo de produção. Uma organização que distribui seus recursos de forma eficiente tem mais chances de obter menores custos e, por consequência, maior rentabilidade e sucesso em longo prazo. PÚBLICO-ALVO O empreendedor deve escrever o plano de negócios pensando que os leitores fazem parte de um público variado. Exemplo: Investidores, instituições financeiras, futuros sócios, parceiros comerciais, incubadoras de negócios e fornecedores, além de potenciais funcionários e clientes. Segundo Hashimoto e demais autores (2012, p. 4), o público a quem esse plano se destina inclui “qualquer pessoa que necessite conhecer de uma forma ampla e abrangente, ainda que superficial, o conceito do negócio e a viabilidade de sua implantação”. Atualmente, muitos empreendedores precisam escrever seu plano de negócios para atender às exigências de atores financeiros. Ele frequentemente compõe parte dos requisitos para: Aprovação de empréstimos em um banco; Associação a uma incubadora de empresas; Incubadora de empresas: Incubadoras de empresas são instituições que ajudam novas organizações em seus primeiros anos de desenvolvimento. Uma incubadora do tipo funciona como se fosse um ninho de filhotes de empresas, já que elas recebem auxílio técnico, gerencial e jurídico ou até mesmo um espaço físico para sua instalação. Aporte de um investidor-anjo; Investidor-anjo: Investidores-anjo são pessoas físicas (e não jurídicas, como, por exemplo, instituições financeiras) que destinam recursos próprios para a criação ou o crescimento de empresas de alto potencial. Esse serviço é feito geralmente por profissionais: sua experiência e seus conhecimentos de rede, como o acúmulo de bons contatos pessoais, conseguem fazer uma diferença positiva no empreendimento nascente. Eles são considerados anjos porque participam não só com o recurso financeiro, mas também com seus recursos humanos (expertise). Solicitações de bolsas; Recursos de agências de fomento. Agências de fomento: Agências de fomento são instituições governamentais, tipicamente sem fins lucrativos, criadas com o propósito de apoiar novos empreendimentos. A ajuda ao empreendedorismo pode vir por meio de empréstimos a juros mais baixos ou por intermédio de uma assessoria técnica ou gerencial TIPOS DE EMPREENDIMENTO Por mais que todas as novas empresas tenham de construir um plano de negócios, é necessário diferenciar os tipos de empreendedorismo. De acordo com Aulet (2013), as estratégias de negócio devem ser ajustadas para projetos de escala diferente e com necessidades de financiamento específicas. Há dois tipos principais de empreendimento: 1. Empreendedorismo de pequeno e médio porte Esses empreendimentos estão voltados apenas para a atuação em mercados locais, concentrando-se usualmente no setor de serviços. Em geral, a propriedade da empresa é concentrada em um único ou em poucos sócios. A rentabilidade dela cresce aos poucos até atingir um nível máximo dentro do universo de clientes existentes numa determinada área de atuação. Exemplo: Um salão de beleza, um restaurante ou uma clínica de fisioterapia II. Empreendedorismo movido à inovação O objetivo deste tipo de negócio é obter rapidamente uma escala de produção e atuar em mercados nacionais e internacionais. A propriedade do negócio está dissolvida entre muitos sócios, investidores ou acionistas. Nos primeiros anos de atuação, sua rentabilidade costuma ser negativa até que, em um determinado momento, ela consiga atingir um crescimento acelerado. Exemplo: Um aplicativo de celular, uma empresa de serviços financeiros ou uma empresade software. A ELABORAÇÃO DE PLANOS DE NEGÓCIOS Neste módulo, descreveremos o que um plano de negócios precisa frequentemente incluir. Não existe, contudo, um modelo rígido a ser seguido. O empreendedor deve adaptar a estrutura desse plano segundo as necessidades de sua organização. Exemplo disso, são as necessidades de uma empresa de prestação de serviços digitais são muito diferentes das necessidades de outra que produz artigos agrícolas. O propósito da educação empreendedora é fornecer uma estrutura mínima que possibilite um entendimento completo acerca do novo negócio. Tendo isso em vista, o plano de negócios é dividido em seções temáticas que oferecem informações com objetividade, ainda que sem perder a alma da empresa. Na tabela a seguir, observamos uma proposta mínima de seções dentro de um plano do tipo: ESBOÇO MINÍMO DE UM PLANO DE NEGÓCIOS Seção 1 Sumário executivo Seção 2 Dados do Empreendimento Seção 3 Ações de Sustentabilidade Seção 4 Análise de Mercado Seção 5 Estratégia de Marketing Seção 6 Plano Operacional Seção 7 Plano Financeiro Seção 8 Análise de Riscos Sumário executivo: Trata-se da seção principal, ou seja, a essência de qualquer plano de negócios. Sumário é uma palavra formal que significa resumo. A ideia de ele ser executivo deriva do seguinte propósito: mostrar quais ações serão propostas no desenvolvimento do novo negócio. O sumário executivo deve ser incluído sempre, seja qual for a área de atuação da empresa. Esta seção contém, de forma resumida, todas as informações mais importantes do plano de negócios que abordem tanto o estágio atual da empresa quanto o que se projeta dela para o futuro. Quem ler o sumário executivo já terá uma noção geral da ideia empreendedora e dos aspectos gerenciais do negócio. Os seguintes pontos devem ser incluídos nesse sumário: Dados gerais do negócio: Descrição de produtos ou serviços ofertados aos clientes, definição do público- alvo (potenciais clientes) e localização do empreendimento. Dados dos empreendedores: Experiência profissional e atribuições de cada um dos fundadores, evidenciando como isso está relacionado com o desenvolvimento do negócio. Missão e visão: Identificação dos valores que guiam o impulso empreendedor responsável pelas operações da empresa e do diferencial do produto ou serviço oferecido. O que os fundadores querem alcançar com sua empresa? Essa pergunta é fundamental; respondendo-a, o empreendedor não vai, ao longo do tempo, se desviar de suas ideias iniciais. Além disso, ela serve para seus funcionários poderem identificar facilmente qual é a missão da organização. Fonte de recursos financeiros: Descrição da disponibilidade inicial de recursos e das despesas necessárias para o começo das operações. Muitas vezes, o sumário executivo será a única parte do plano que as pessoas terão tempo de ler. Por isso, sua missão é convencer o leitor do potencial e das vantagens competitivas da empresa. Ao desenvolvê-lo, tenha em mente a sugestão do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é cortar palavras.” É importante ser sucinto e objetivo: como tempo do leitor é limitado, o empreendedor deve usá- lo da melhor forma possível. A qualidade do sumário executivo funciona como um sinal do profissionalismo dos empreendedores e da qualidade do documento como um todo. Em outras palavras, é uma isca que vai despertar a curiosidade de seu leitor para conhecer todo o plano de negócios. Na apresentação do plano de negócios de uma empresa a um investidor, não existe muito tempo disponível. Mesmo assim, deve-se falar de todas as características fundamentais do empreendimento. O que se deseja nesse encontro é convencer um investidor de que vale a pena colocar o dinheiro dele na sua empresa. Por fim, apesar de ser o coração do documento, o sumário executivo deve ser escrito por último, depois de todas as outras seções do plano terem sido preenchidas e revisadas – afinal, você deve saber como será o restante do documento antes de resumi- lo. Dados do empreendimento Nesta seção, o empreendedor conta um pouco da história da empresa. Nesse momento, ele tem a chance de explicar as razões que justificaram a escolha do nome da organização. Pode-se mostrar ainda a conexão entre as experiências de vida anteriores e a decisão de criar esse negócio. Algumas fotos, inclusive, podem ser anexadas desde que tenham relevância para história contada. É importante mencionar nessa oportunidade como o novo empreendimento se insere em seu segmento de atuação. É fundamental ainda ser honesto em relação às vantagens e às desvantagens perante a concorrência, descrevendo ao mesmo tempo – e de forma clara – o potencial da empresa. Em seguida, é necessário fornecer os detalhes sobre a operação principal da organização, ou seja, suas fontes de renda. O empreendedor, nesse contexto, apresenta as características principais de cada produto ou serviço oferecido. Mais uma vez, o texto tem a finalidade de mostrar a quem o estiver lendo o diferencial da nova empresa em relação aos concorrentes. Alguns exemplos de perguntas que devem ser respondidas nesta seção: Há quanto tempo os fundadores atuam nesse mercado? Quem são os donos da empresa? Como é a distribuição da propriedade: todos os sócios têm a mesma fatia, ou são fatias diferentes? Como o produto ou serviço oferecido atende às necessidades dos clientes? Ações de sustentabilidade Os compromissos sociais e ambientais devem ser cada vez mais incorporados à atividade empresarial. Atualmente, as mudanças climáticas, o desmatamento e a poluição dos recursos naturais compõem a lista de preocupações tanto de potenciais clientes quanto de investidores e instituições financeiras. Espera-se, portanto, que todas as empresas –seja qual for o tamanho delas – tenham um papel ativo na transição para o desenvolvimento sustentável. Nesta seção, os empreendedores têm a oportunidade de mostrar o anseio pela construção de um negócio sustentável. Sabe-se que as possibilidades de adotar práticas sustentáveis variam consideravelmente a depender da área de atuação da empresa. O objetivo principal em ações do tipo é que o empreendimento use a menor quantidade possível de recursos naturais, além de minimizar a geração de resíduos. Existe também a preocupação com a saúde e o bem- estar dos colaboradores tanto da empresa quanto de toda sua cadeia produtiva (desde os fornecedores até os representantes comerciais). O empreendedor, desse modo, precisa se esforçar para medir o impacto de sua empresa na comunidade local e no meio ambiente. Há ainda práticas negativas que devem ser evitadas. Nas grandes empresas que adquirem insumos em países que não oferecem condições mínimas de trabalho a seus funcionários, o produto delas ganha uma vantagem de custo ao se apoiar em condições de trabalho degradantes. Exemplo: Na década de 1990, a Nike foi acusada de adquirir insumos de fornecedores que colocavam crianças para trabalhar até dezesseis horas por dia nos sete dias da semana. Trata-se da “escravidão moderna” que as organizações responsáveis tentam evitar. Não basta mais à empresa ser cuidadosa no trato com seus funcionários: também é necessário evitar a contratação de serviços ou a compra de produtos de fornecedores que desrespeitam as regras do desenvolvimento sustentável. A entidade KnowTheChain produz relatórios sobre empresas em países pobres que fornecem produtos para grandes companhias. Ela produz um ranking que informa as condições dos fornecedores de diversas companhias: isso influencia o mercado consumidor e, portanto, afeta as decisões de gestores e investidores. Afinal, ninguém quer comprar uma roupa feita graças ao trabalho escravo no Sudeste Asiático. Análise de mercado Seu objetivo é organizar o entendimento do empreendedor sobre o mercado no qual pretende atuar. Só é possível fazer uma boa análise dele depois de muitapesquisa para coletar informações sobre potenciais clientes, concorrentes e fornecedores. A ideia de dividir potenciais clientes em grupos ajuda o empreendedor a entender as demandas específicas de cada um. Além disso, é fundamental calcular o tamanho de cada grupo, ou seja, o número estimado de clientes em cada segmento. Em geral, o objetivo mais importante inclui duas ações: descrever quem são os clientes de cada produto ou serviço e desenvolver uma lista dos possíveis motivos de compra. Pode-se pensar da seguinte maneira: o cliente não adquire um produto ou serviço; na verdade, ele atende a algum desejo ou necessidade por meio dessa aquisição. Revela-se mais importante, portanto, entender tais desejos e necessidades (os motivos da compra) que a própria demanda por um produto. Exemplo: Com o lançamento de livros eletrônicos, diversas pessoas deixaram de comprar os impressos, mas isso não significa que houve uma diminuição no interesse pela leitura. Afinal, os consumidores adquirem o mesmo conteúdo (o texto escrito) em formato diferente. Observemos a diferença em uma situação hipotética na qual as pessoas comprassem uma quantidade menor de livros por realmente estarem menos interessadas em leitura. Elas agora só querem ir, por exemplo, ao cinema. A resposta das empresas do setor para essa hipótese seria diferente, pois, neste caso, não adianta mudar o formato do livro. Em suma: é mais importante entender a motivação do consumidor (leitura) que a demanda por um objeto específico (livros impressos). Também é necessário estudar a situação da concorrência: pelo que é possível saber, como as empresas concorrentes podem reagir à chegada de uma nova empresa no mercado? Trata-se, enfim, de uma tentativa de entender a situação financeira e operacional de seus competidores diretos. Os concorrentes têm a capacidade de aumentar sua produção? Ou eles têm margem (gordura) em seu preço para fazer descontos e não perder a base de clientes deles? Não basta observar a atuação de empresas já instaladas no mercado: é necessário estudá-las para entender sua capacidade de reação. Por fim, deve-se compreender o mercado fornecedor, que pode ser formado por pessoas ou empresas. Fornecedores abastecem o empreendimento com equipamentos, materiais ou serviços que fazem parte do processo de produção. Estratégia de marketing Esta seção descreve de que maneira o empreendimento faz a oferta de seus produtos ou serviços. As ações propostas, neste momento, têm como guia as necessidades e o comportamento dos clientes, devendo listar os métodos de comercialização. Exemplo: Vendas diretas ou por um canal de revendedores. As perguntas principais a serem feitas na estratégia de marketing são estas: PERGUNTA 1 PERGUNTA 2 Como o cliente tomará conhecimento dos produ tos ou serviços oferecid os pela sua empresa? Como ele será conquista do e idealizado (continua rá sendo um cliente)? Suas respostas surgem graças à descrição das estratégias de propaganda, merchandising e relações públicas da empresa. A construção da política de preços leva em consideração aqueles praticados no mercado, ou seja, o preço cobrado pelas empresas concorrentes. É uma estratégia que também analisa os diferenciais do produto ou serviço oferecido. Considerando suas vantagens ou desvantagens em relação ao que já é oferecido no mercado, o preço pode ficar acima ou abaixo da concorrência. Além disso, a demanda tem o potencial para variar de acordo com o período do ano. Cabe destacar que as receitas da empresa dependem diretamente da política de preços e da projeção de vendas (estimativa conservadora que considera a demanda real pelo produto ou serviço, a capacidade de produção e a logística de venda). Ou seja, eles constituem pontos decisivos para o resultado (lucro ou prejuízo, que é um dos indicadores financeiros principais do empreendimento. Plano operacional: Esta seção organiza de que forma a empresa vai comercializar seus produtos ou serviços. O plano operacional planeja, desse modo, o dia a dia de uma organização, descrevendo as etapas de desenvolvimento, produção, venda e entrega. Ele ainda lista os equipamentos e materiais utilizados, assim como a quantidade de pessoas empregadas em cada etapa e de tempo gasto em cada uma delas. O empreendedor deve descrever nesta seção a capacidade instalada, ou seja, a quantidade máxima que a empresa pode produzir, vender ou prestar serviços em determinado período. Essa capacidade é especialmente influenciada por estes fatores: Número e preparo de funcionários. Produtividade dos equipamentos. Disponibilidade dos fornecedores. Capacidade de distribuição e armazenamento. Esta seção também deve apresentar o layout ou arranjo físico (distribuição de pessoas, setores, móveis e equipamentos no espaço). Se for possível, será importante desenhar uma planta baixa do local de operação da empresa. O plano operacional também descreve a estratégia de recursos humanos, respondendo às seguintes perguntas: PERGUNTA 1 PERGUNTA 2 Quais serão as posições de trabalho em toda a empresa? Quais são as qualificações necessárias para que o futuro funcionário execute bem suas tarefas? Plano financeiro Esta seção apresenta o resultado financeiro esperado a partir da aplicação do próprio plano de negócios. Em números, valores e custos, o plano financeiro de uma empresa deve apresentar todo o capital (dinheiro) a ser investido nos primeiros três anos de operação dela. Três conceitos são fundamentais para este tipo de investimento: 1. Nível de faturamento (receitas) mínimo para que uma empresa não tenha resultado negativo (prejuízo). 2. Prazo de retorno do investimento: Tempo necessário para o empreendedor ou investidor recuperar o capital (dinheiro) investido numa empresa. 3. Lucratividade: Relação (quociente) entre lucro e receita bruta total, ou seja, a receita (sem subtrair impostos ou outros descontos de contabilidade). Análise de riscos (cenários) O empreendedor precisa levar em consideração que os riscos fazem parte de qualquer atividade empreendedora. O risco está presente na vida de todas as empresas, sendo um fator particularmente importante para empreendedores que estão experimentando algo parcialmente novo. Prever ou administrar tais riscos pode garantir a sobrevivência do negócio em cenários não favoráveis. Ele é mais um exercício de reflexão que analisa possíveis situações (desde a mais provável até a menos provável de acontecer). Conheceremos a seguir algumas situações imaginadas na análise de riscos: Resultados pessimistas Resultados otimistas Há formas de se prevenir desses choques negativos no negócio? Existem caminhos alternativos caso uma situação dessas aconteça, ou seja, um plano B? Exemplo: Uma forte queda nas vendas, ou um aumento repentino nos custos de matérias-primas ou fornecedores. Este tipo de resultado ocorre quando as receitas são maiores que o esperado, os custos são mais baixos. Pode ser considerado uma oportunidade de tirar ganhos ainda mais vultuosos diante de situações favoráveis, como, por exemplo, uma empresa concorrente ter desistido de atuar nesse mercado, e talvez investir para ter uma proteção financeira em caso de cenários adversos futuro. A execução de planos de negócios Como falamos anteriormente, uma das principais vantagens do plano de negócios é servir como uma base para a gestão de uma empresa. Trata-se de uma ferramenta versátil, servindo como cartão de visitas do empreendimento, o que é extremamente útil para captar recursos e clientes. Essa ideia vai ser desenvolvida com mais detalhes na primeira seção deste módulo. Esse plano também permite que o empreendedor faça o exame para saber se a operação da empresa vai bem ou não. Ele pode até mesmo descobrir que um problema dessa operação provém de erros na formulação do próprio plano de negócios. Esses atributos da aplicaçãodo plano de negócios serão discutidos de forma detalhada na segunda seção deste módulo. O plano de negócios como ferramenta de venda O plano de negócios funciona como um armazém de informações sobre a empresa. Dessa maneira, o empreendedor pode selecionar as que deseja utilizar em qualquer ocasião. Nesse plano, estão descritos os diferenciais da empresa, ou seja, as informações com mais capacidade para convencer o público-alvo das potencialidades do negócio. Um armazém precisa ser organizado! O plano de negócios, bem como suas fontes de dados, não pode simplesmente “empilhar” informações que depois ninguém conseguirá encontrar. Devemos nos lembrar sempre de uma importante observação de Yuval Harari sobre o desenvolvimento da linguagem escrita: a biblioteconomia é tão importante quanto a literatura. Não adianta compilar diversos registros escritos se não for possível recuperá-los rapidamente. Isso já era considerado importante na feitura dos pergaminhos de milênios atrás – e ainda é fundamental no mundo atual, que conta com um grande volume de dados. Uma empresa pode ter dificuldade para apresentar seu plano de negócios por circularem tanto diferentes versões dele – que pode sofrer ajustes ao longo do tempo – quanto outros documentos de apoio, como planilhas de dados, em vários e-mails enviados para diferentes pessoas envolvidas no processo. Será difícil, em caso de necessidade, encontrar um material específico meses depois, pois ele estará perdido em meio a muitas mensagens. É essencial ter uma boa gestão da informação. Elevator pitch (ou elevator speech) Constituindo uma forma rápida e breve de apresentação, o elevator pitch pode ser traduzido como “papo de elevador”. Ele tem origem na ideia de que o empreendedor precisa vender sua ideia no tempo que elevador demora para chegar ao andar de destino. Não constitui uma tarefa fácil resumir tantas informações importantes num período curto (30 a 120 segundos). São recomendados treinos e ensaios para aprender essa habilidade de venda. Uma ideia brilhante não se vende sozinha. Por isso, o esforço no planejamento e a organização das estratégias são fundamentais no empreendedorismo. A imagem a seguir apresenta diferentes mecanismos de venda de uma empresa em comparação com as informações presentes no plano de negócios. Justamente na base da pirâmide (o alicerce), está representado esse plano: Dornelas (2018) sugere algumas perguntas que podem guiar o elevator pitch: Em que oportunidade o empreendimento se concentrará? Quais fatores motivam a decisão dos fundadores para começar esse negócio? Qual é o tempo necessário para a implementação do negócio? Quais são os principais resultados que serão obtidos? Quais são os apoiadores principais? Quais são os custos envolvidos no empreendimento? O plano de negócios como ferramenta de gerenciamento Como falamos anteriormente, o plano de negócios é uma ferramenta de gestão da empresa. O empreendedor a utiliza antes, durante e depois do início de suas operações. A equipe da organização deve ter acesso e conhecimento do documento como um todo. O planejamento de ações, por sua vez, tem suas limitações; afinal, o futuro sempre é incerto. O plano de negócios não é um documento rígido, devendo ser atualizado ao longo do tempo. Uma revisão periódica (semestral ou anual) do plano serve para monitorar a situação da empresa de acordo com as metas previstas e as estimativas de receitas e despesas. Segundo Dornelas (2018), podem ser feitas, neste momento, as seguintes perguntas: PERGUNTA 1 PERGUNTA 2 Os clientes chegaram como se esperava? As vendas aconteceram conforme a expectativa inicial? Ferramentais visuais são bastante úteis para auxiliar na execução das metas da empresa. A figura a seguir ilustra uma ferramenta simples: o gráfico de Gantt. Ele é valioso para acompanhar a implementação do negócio ao longo do tempo. A imagem mostra o período em que cada tarefa deve ser realizada. Exemplo: A tarefa 1 deve ser implementada nas duas primeiras semanas. Já a 2 precisa começar na terceira semana e acabar na sétima – e assim por diante. O gráfico de Gantt ajuda o empreendedor e sua equipe a não perderem o foco das metas, além de possibilitar correções nelas, de acordo com as mudanças de contexto observadas no mercado. Observaremos a seguir alguns motivos que justificam as mudanças no plano de negócios: Mudanças de regimes fiscais Necessidade de financiamento adicional Alterações nas alíquotas de imposto (níveis maiores receita geram diferentes obrigações tributárias). O plano precisa refletir essa nova necessidade NVENÇÃO E INOVAÇÃO: RELAÇÃO E DIFERENÇAS Invenção: A invenção é o resultado de uma ação de criação, da concepção de algo novo, seja um objeto concreto ou mesmo uma ideia teórica. Em outras palavras, pode-se inventar uma nova forma de se construir física ou mentalmente alguma coisa. Contudo, nem sempre uma invenção torna-se uma inovação. Por isso, destacaremos a seguir o exemplo de uma invenção que, só depois de muitos séculos, pôde ser considerada uma inovação. O italiano Leonardo Da Vinci (pintor da clássica pintura mundialmente conhecida como Mona Lisa) também era um grande inventor. No distante século XV, ele criou desenhos de objetos voadores muito parecidos com o que, hoje em dia, é conhecido como um helicóptero. Veja as figuras a seguir para compará-los: Da Vinci foi a primeira pessoa a ter a ideia do que seria um helicóptero, mas não foi o criador da primeira fábrica que o produzia. Ou seja, o famoso pintor é considerado o inventor do helicóptero, e não a pessoa inovadora responsável por produzi-los e vendê-los pela primeira vez. Inovação Uma inovação é algo novo que passa a fazer parte da vida das pessoas e das empresas. Do ponto de vista empresarial, ela é introduzida no mercado durante o processo de produção de um produto ou serviço vendido aos consumidores. Uma invenção torna-se uma inovação quando passa a gerar valor econômico e/ou social. O produto inovador surge, por exemplo, quando o helicóptero moderno inspirado no desenho de Da Vinci passa a ser produzido e comercializado. Vale destacar que nem todas as invenções – inclusive as de Da Vinci – tornaram-se inovações. Um conceito resumido de inovação: Segundo Tidd e Bessant (2009), inovação é o processo de transformar ideias em realidade, obtendo ganhos por meio desse processo e impactando o mercado e a sociedade. O pulo do gato de uma inovação é saber identificar conexões, ver oportunidades e, por fim, obter ganhos como resultado disso. Já observamos ao longo de nossas vidas como novas tecnologias têm o potencial de provocar mudanças radicais. Porém, apesar do consenso em torno do assunto, uma ideia ou um objeto inovador não é necessariamente a consequência do uso de uma nova tecnologia sofisticada. Afinal, a revisão de um processo de produção bem estabelecido pode gerar práticas inovadoras de alto impacto. Isso não significa, no entanto, que uma inovação possa surgir apenas da sorte ou do acaso. Uma grande inspiração ou criatividade não será suficiente para esse processo poder se desenvolver. Como falaremos mais adiante, inovações são o resultado de muito trabalho, de reflexão sobre estratégias e de enfrentamento de riscos. Tipos de inovação Apontaremos agora os caminhos diversos que uma inovação pode trilhar. Para isso, ofereceremos alguns exemplos concretos de sua aplicação. Novo produto: Um produto é um objeto material que tenha sido fabricado. Trata-se, em suma, do resultado de uma produção industrial que será vendido aos consumidores. Exemplo: Iphone (2007). Em um passado não muito distante, o mercado de celulares smartphones era dominado por modelos com teclados físicos. A empresa norte-americana Apple inovou ao trazer um dispositivo comtela sensível ao toque, dispensando, assim, a grande quantidade de botões físicos. O mercado de celulares nunca mais foi o mesmo depois do lançamento do iPhone. Novo serviço: Um serviço é alguma atividade feita para atender à necessidade do consumidor. Ele não se trata de um objeto físico, e sim de algo não material que é servido ao cliente. Exemplo: Nubank (2013). A empresa de serviços financeiros inovou ao criar um cartão de crédito que juntava tecnologia e prioridade dada ao consumidor. Gerenciado exclusivamente por um aplicativo de celular, o cartão tornou-se um sucesso no Brasil. Sem as altas taxas de anuidade cobradas pelos concorrentes na época de seu lançamento e com um atendimento realizado por meio de mensagens, a empresa conquistou milhões de clientes. Novo processo Exemplo: Toyota (1970). A montadora de automóveis inovou ao criar seu processo de gerenciamento da produção. O esforço da empresa era para produzir somente o necessário e no tempo devido para tal (just in time). Seu objetivo era evitar desperdícios e organizar a produção. Graças a isso, foi possível aumentar a produtividade e a eficiência da montadora. Novo modelo de negócios: Um modelo de negócios é a maneira que uma empresa encontra para ser rentável, ou seja, conseguir faturamento. Trata-se do mecanismo pelo qual ela cria, entrega e captura valor para os clientes. Exemplo: Tinder (2012). O aplicativo de celular voltado para relacionamentos inovou ao usar a localização dos usuários para conectar pessoas desconhecidas. O modelo de negócios inovador da empresa oferece vantagens por assinatura, como, por exemplo, oferecer ao usuário mais facilidades para encontrar seu par. Novo posicionamento: Ele indica o reposicionamento de mercado de um produto, de um serviço ou de uma marca como um todo. Isso significa provocar uma mudança de percepção dos consumidores em relação ao valor ou à utilidade de um produto ou de um serviço já estabelecido. Exemplo: Häagen-Dazs (1959). A fábrica de sorvetes de Nova York passava por dificuldades para competir com grandes fabricantes da iguaria. Desse modo, seus fundadores resolveram inovar ao reposicionarem seus sorvetes como um produto de luxo (premium) voltado para adultos. Inovação social: Uma inovação social é uma ação direcionada a resolver ou enfrentar problemas da sociedade. Ela, dessa forma, aponta estratégias ou soluções capazes de criar valor para a coletividade. Exemplo: Bike Anjo (2010). Plataforma que cria e conecta uma comunidade de ciclistas voluntários, a Bike Anjo ajuda aqueles considerados novatos a adotar o estilo de vida da bicicleta. O objetivo do grupo é apresentar uma alternativa sobre duas ruas para o problema de transporte nas cidades. CATGORIAS DE INOVAÇÃO As categorias de inovação são outra classificação importante em relação aos tipos de inovações. Elas estão relacionadas ao impacto de cada inovação. Cada tipo pode ser classificado em uma categoria. Apontaremos a seguir quais são as principais inovações: Inovação disruptiva: Uma disrupção acontece quando há uma interrupção no curso normal de alguma coisa. Em outras palavras, ela é uma inovação que transforma radicalmente um mercado, substituindo seus competidores por uma solução mais acessível, conveniente e simples. O que era anteriormente oferecido no mercado torna-se obsoleto, não consegue competir com seus concorrentes e praticamente desaparece. O lançamento do iPhone, por exemplo, foi disruptivo. Inovação incremental: Oferece uma melhoria a uma solução que já existe, mas não provoca mudança radical. Em geral, a inovação incremental acontece quando uma empresa que já atua no mercado promove uma melhoria gradual em sua solução. Como exemplo, podemos pensar nos medicamentos de combate ao HIV: originalmente, eles precisavam ser mantidos em refrigeração, mas uma inovação incremental dispensou essa necessidade. Não se trata da criação de um novo medicamento, e sim de algo extremamente importante em termos de distribuição e armazenamento, especialmente nos países africanos com alta incidência do vírus e problemas de logística. Inovação lateral: Acontece quando uma empresa aproveita em seu setor de atuação uma inovação que já foi implementada em outro mercado. Isso ocorre com frequência em pesquisa médica: um medicamento para uma doença pode, anos depois, mostrar-se útil para o tratamento de outros problemas. O desenvolvimento de uma inovação Como falamos anteriormente, a inovação é o resultado de muito trabalho, dedicação e espírito empreendedor. Esse processo pode ser facilitado por ações voltadas para uma gestão criteriosa de dados, recursos financeiros e equipes dentro de uma organização. Desenvolveremos mais detalhadamente essas ideias a seguir. Por que é importante inovar? "As inovações são fator-chave para o crescimento e a sobrevivência de uma empresa. As empresas desenvolvem estratégias de competição por consumidores. Como qualquer atividade econômica está sujeita a incertezas e riscos, o objetivo é facilitar seu posicionamento de mercado — estar em uma posição de vantagem frente aos seus concorrentes." A empresa tenta adaptar-se da melhor forma possível ao ambiente para melhorar suas chances de sucesso. Como vimos, uma estratégia inovadora pode ser implementada de diversas maneiras: lançamento de produtos, adoção de uma tecnologia visando à redução de custos de produção, lucratividade etc. Além da competição natural entre as empresas, pode haver mudanças inesperadas no ambiente de negócios que as “empurram” na busca de soluções inovadoras, por exemplo: Avanços tecnológicos radicais. Mudanças no comportamento dos consumidores. Intensificação da competição com a entrada de novas empresas. Mudanças na regulamentação (leis e normas) do setor econômico. Escassez de insumos e/ou fornecedores. Estratégias empresariais típicas Diante desse cenário, as empresas adotam estratégias competitivas para enfrentar os desafios que se impõem. Contudo, a depender do segmento de atuação, uma organização pode, por exemplo, adotar mais de uma estratégia. Vejamos os tipos de estratégias: Estratégia de preço: O objetivo é conquistar o mercado pelo menor preço. A empresa considera que os consumidores fazem suas escolhas levando em conta o preço em primeiro lugar. Para oferecer os mais baixos, ela precisa ter custos menores. Em geral, isso é alcançado pelo emprego de mão de obra barata, ou seja, com o pagamento de baixos salários. Estratégia de diferenciação: A empresa busca oferecer ao mercado produtos ou serviços que a diferenciem de seus concorrentes. Ela o faz empregando uma mão de obra com mais escolaridade e pagando salários mais altos para reter talentos. Frequentemente, organizações do tipo possuem uma equipe interna de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Além disso, elas fazem parcerias em rede com outras empresas e/ou universidades e centros de pesquisa. Até uma cópia ou imitação pode ser um instrumento de aprendizado desde que o produto ou serviço final seja superior ao da fonte de inspiração inicial. Aprende-se, portanto, como fazer ainda melhor. O objetivo dessa estratégia inovadora é produzir e ganhar valor. Estratégia de excelência operacional: A estratégia de excelência operacional compõe um objetivo constante, pois uma posição de excelência ou vantagem não é permanente, devendo ser renovada de tempos em tempos para que não seja ultrapassada. Ter excelência na produção de um produto inovador que já foi ultrapassado não configura uma vantagem. Um segredo industrial até pode garantir uma posição vantajosa, mas, em geral, ela não dura para sempre. As empresas que adotam processos inovadores são copiadas por suas concorrentes depois de certo tempo. Vimos isso anteriormente ao falarmos da empresa montadora de carros Toyota. Hoje em dia, outras montadoras já adotam processos similares de produção,o que diminui ou anula a vantagem da Toyota. Um modelo simplificado do processo de inovação As inovações dependem da maneira como a empresa faz a organização e a gestão de seus processos de inovação. É fundamental ter um processo estruturado para poder dar seguimento às ideias surgidas. 1. Busca A primeira fase de uma inovação envolve a identificação de oportunidades de mudança, observando os sinais e fazendo novas conexões. Trata-se do momento de gerar ideias e propor soluções. Podemos pensar, por exemplo, no modelo de reunião de tempestade de ideias (o chamado brainstorming), fase que lida com o maior número de informações e de possibilidades de atuação. O desafio é saber organizar o grande volume de informações que pode surgir da análise de dados de produção e vendas, do feedback dos consumidores e principalmente dos funcionários da empresa. Contudo, não há tempo nem recurso para se realizar uma busca infinita por soluções. É necessário ter foco nos objetivos da empresa e, ao mesmo tempo, não construir barreiras à própria criatividade. 2. Seleção A segunda fase está preocupada com a escolha das ideias a serem transformadas em decisões estratégicas. De todas as soluções propostas na etapa anterior, é preciso escolher a que vai para a frente. Essa seleção leva em consideração as limitações que a empresa enfrenta e os riscos do mercado, assim como a competência e a expertise já existentes na organização. Lançar um novo produto ou serviço muito longe da área de atuação tradicional de uma organização aumenta as chances de que a inovação não seja bem- sucedida. Isso não significa que a empresa não possa explorar novas áreas de competência: inovação requer justamente estudo e aprendizado. Uma organização inovadora deve encontrar caminhos e relacionamentos para ter acesso ao conhecimento, à tecnologia e aos recursos necessários. 3. Implementação A terceira etapa tem como objetivo o desenvolvimento da ideia. Seu desafio é transformar em algo mais próximo da realidade o que já foi proposto como solução inovadora. Em outras palavras, é como se, após termos reunido todas as peças de um quebra-cabeça, agora fosse o momento de juntá-las. Nesta etapa, as incertezas vão gradualmente sendo substituídas pelo conhecimento. A percepção mais realista das fraquezas do projeto inovador leva a um vai e vem de identificação e resolução de problemas. Após etapas anteriores mais exploratórias, a surgida nesse momento sugere uma lógica equivalente à de um funil que se torna cada vez mais estreito. O esforço inovador lida com dificuldades inesperadas que sempre aparecerão – mesmo naqueles planejamentos mais detalhistas. O pulo do gato, nesta etapa, é envolver o usuário o mais cedo possível. Ele, aliás, pode ser tanto um consumidor (caso a inovação seja de um produto ou serviço) quanto um funcionário da empresa (se ela for de processo gerencial). O usuário deve participar ativamente do processo de implementação da solução inovadora. Esse movimento favorece a qualidade da inovação. 4. Captura Nas empresas, o processo de inovação, na maioria das vezes, é uma ferramenta para obter ganhos. Ou seja, no final, a organização está preocupada em conseguir benefícios econômicos ao introduzir uma inovação. Esses benefícios são aqueles que já mencionamos anteriormente, como, por exemplo, o aumento das vendas, a redução de custos e uma maior rentabilidade. Esta última etapa diz respeito justamente ao momento de colher os frutos que a empresa plantou ao longo do processo de inovação. Em termos objetivos, isso deve traduzir-se em um melhor posicionamento dela em seu mercado de atuação e/ou um aumento de sua rentabilidade. CONSTRUINDO UMA EQUIPE INOVADORA Formação de equipes Não existe tecnologia capaz de superar a inteligência e a criatividade humana, pelo menos até o momento atual. É verdade que observamos como as novas tecnologias são responsáveis por mudanças inovadoras radicais. Contudo, qualquer processo de inovação depende de decisões de pessoas dentro de uma organização. Tecnologias e métodos são instrumentos criados para servir a necessidades das pessoas. Em outras palavras, as novas tecnologias são a lenha da fogueira – e não o fósforo que acende o fogo. As pessoas é que decidem não só acendê-lo como também mantê-lo aceso. Desse modo, o ponto de partida da inovação reside em três pilares: criatividade, empreendedorismo e empenho. A seleção de boas ideias com potencial inovador é uma decisão humana. Ainda existe outro fator não menos importante: a capacidade de as pessoas correrem riscos e ficarem vulneráveis a erros. Atualmente, a inovação é cada vez mais estudada e analisada do ponto de vista dos recursos humanos e da psicologia social aplicada aos negócios. Por conta disso, a estratégia empresarial está interessada em descobrir quais combinações de equipe e que ambientes de trabalho são mais favoráveis à inovação. De modo geral, as histórias de sucesso em inovação veiculadas nos jornais e na televisão costumam colocar em evidência o papel dos talentos individuais, como, por exemplo, nos casos em que uma pessoa foi, por conta própria, a responsável por criar uma solução inovadora. As pesquisas sobre as características determinantes para a inovação indicam que o trabalho em equipe tem se mostrado mais bem-sucedido. Comparada ao trabalho solitário, a combinação de talentos no mesmo time favorece mais a criatividade, a flexibilidade e a implementação de ideias inovadoras Após conhecermos essas vantagens e desvantagens, devemos observar agora as importantes características que, segundo Tidd e Bessant (2009), são úteis para a construção de uma equipe de alto desempenho inovador: Estabelecer objetivos claros e desafiadores: É importante que a equipe tenha um entendimento comum e um alinhamento das tarefas prioritárias e do objetivo do trabalho. Com isso, todos se comprometem a alcançar os benefícios advindos do cumprimento das metas. Tarefas conflitantes e visões diferentes quanto ao objetivo podem dificultar o desempenho criativo. Seleção de pessoas competentes: O que parece óbvio, mas nem sempre é colocado em prática, diz respeito à seleção de pessoas que tenham habilidades compatíveis com os resultados que se espera da equipe. O conhecimento não precisa ser o mesmo, mas as habilidades individuais devem se encaixar para fazer a engrenagem dela funcionar. As pessoas selecionadas precisam igualmente estar dispostas a colaborar em grupo e a cooperar com seus colegas. A escolha dos integrantes deve, na medida do possível, promover o equilíbrio de papéis e estilos de comportamento. Liderança com base em princípios: Os líderes de uma equipe podem ser pessoas formalmente apontadas na estrutura da hierarquia da empresa ou aquelas que despontem naturalmente como líderes. Sua função é exercer influência e motivar a equipe para alcançar os objetivos finais. Líderes também são responsáveis pelas conexões realizadas com atores externos à equipe. Uma liderança deve ser guiada por princípios de respeito e inclusão de todos. O clima de espaço seguro e de pertencimento é necessário para que todos os membros da equipe se sintam motivados para contribuir. Além disso, o líder precisa manter mecanismos de resolução de conflitos dentro do time. O pior cenário ocorre quando, por ele provocar medo, as pessoas da equipe não se sentem confortáveis para fazer perguntas ou propor novas ideias. Comunicação: A comunicação bem-sucedida em uma equipe pode ser descrita como a vontade e a abertura de seus integrantes para escutarem um ao outro e estarem abertos à opinião de todos. Há, portanto, muito respeito pelas contribuições dos demais integrantes. Isso facilita a liberdade para o desenvolvimento de novas ideias. Se não houver esforço para uma comunicação e um entendimento real entre os membros da equipe, o desempenho criativo será prejudicado. Apoio externo e reconhecimento:Os integrantes da equipe precisam de recursos, incentivos e reconhecimento dentro e fora de seu grupo. Ser admirado e respeitado pela contribuição de seu trabalho ajuda a manter um nível elevado de energia e motivação – e, consequentemente, um bom desempenho ao longo do tempo. Nos ambientes de inovação contemporâneos, as equipes têm ligação contínua tanto com outras dentro da mesma empresa quanto com aquelas provenientes de organizações externas. Esses parceiros e redes existentes fora da equipe são fontes de aprovação e incentivo. Diversidade nas equipes: O ambiente nas empresas ainda não é tão diversos como na sociedade em geral, embora exista um crescente campo de estudos sobre o papel da diversidade das equipes no desempenho ao inovar. Esse estudo considera a existência de duas dimensões de diversidade: as dimensões externas são as características mais aparentes nas pessoas, como gênero, idade, nacionalidade e formação educacional; já as internas correspondem aos aspectos cognitivos, como as atividades de raciocínio, aprendizado e processamento de informações. De acordo com Aggarwal e Woolley (2018), tais dimensões são características pessoais psicológicas que influenciam a forma como uma pessoa faz a leitura do ambiente ao seu redor. Equipes que têm como característica a diversidade em aspectos externos e internos possuem um maior potencial inovador. AVALIAÇÕES E INOVAÇÕES Como destacamos anteriormente, a inovação tem uma importância estratégica para o crescimento e a sobrevivência das empresas. Até o momento, vínhamos discorrendo sobre as etapas iniciais do processo de inovação. No entanto, nesta seção, descreveremos as ações que se concentram na última etapa do processo: a avaliação de inovações. As boas práticas de gestão empresarial têm como princípio sempre avaliar e monitorar a implementação das estratégias de negócios — dentre elas, as de inovação. Em outras palavras, as empresas acompanham se as estratégias estão dando o resultado esperado, se foram bem-sucedidas. A avaliação periódica das estratégias de inovação é um exercício de revisão e de aprendizado. Vale sempre lembrar que não existe uma receita de bolo universal para o sucesso em inovação, pois as necessidades das empresas variam de acordo com sua área de atuação. Portanto, cada uma constrói e aprimora sua estratégia particular de inovação. A avaliação de performance e desempenho é uma boa prática de gestão, sendo considerada inquestionável nos dias de hoje. Isso está ligado ao seguinte raciocínio: o que pode ser avaliado é concretizado e segue adiante. Entretanto, muitas organizações podem cair na ilusão de coletar dados sobre todas suas atividades e tentar avaliar o maior número possível delas. Metas muito ambiciosas, contudo, raramente são alcançadas. Muitos indicadores podem gerar uma avalanche de dados e informações difíceis de se analisar, o que tira o foco dos funcionários para as atividades realmente produtivas e eficientes. A estratégia de inovação deve empregar uma quantidade reduzida de indicadores que seja capaz de mostrar claramente o quadro da situação de desempenho. O principal objetivo é trazer transparência à evolução dos projetos levados adiante. As principais funções de um sistema de avaliação são: Comunicar: Deixar claro quais são as fontes de valor para a organização e as expectativas de desempenho para todas as pessoas envolvidas no processo de inovação. Monitorar: Acompanhar a execução dos esforços de inovação com um olhar atento para intervir quando for necessário. Aprender: Identificar os pontos que precisam de melhoria no processo de inovação e investigar soluções para esses problemas. Além disso, um sistema de avaliação deve procurar novas oportunidades de ação para a organização inovar. E como construir um sistema de avaliação de inovações? Para deixar essas ideias de avaliação mais concretas, apontaremos alguns exemplos de indicadores utilizados em um sistema de avaliação. Reunidos por Davila, Epstein e Shelton (2006), eles mostram o que se pode implementar em uma organização. Lembre-se de que a decisão sobre quais indicadores serão utilizados deve estar alinhada à estratégia de inovação da empresa. INDICADORES DE RESULTADOS A seguir, apresentamos alguns dos mais importantes indicadores de resultado para avaliação de inovações: Rentabilidade da empresa: Valor (preço) das ações, crescimento de vendas, crescimento de receitas e percentual de vendas de novos produtos sobre o total de vendas. Relação com os consumidores: Quantidade de novos consumidores como resultado direto da inovação, fatia de mercado que a empresa ocupa em relação ao total de vendas do setor de atuação, percentual de lealdade/retorno dos consumidores e nível de satisfação dos deles, em especial quanto às soluções inovadoras. Valor adquirido: Margem obtida em cada venda de produto ou serviço, receitas advindas das soluções inovadoras, rentabilidade das operações de inovação e número de novos produtos ou serviços oferecidos. INDICADORES DE IMPLEMENTAÇÃO Portfólio/catálogo de oferta: Fatia dos esforços dedicados a cada categoria de inovação (disruptiva, incremental e lateral), alinhamento entre distribuição de recursos e estratégia de inovação. Execução: Redução de custos dentro do planejado, tempo real de desenvolvimento da inovação em comparação com o tempo esperado, velocidade de produção e entrega, produtividade da equipe de P&D e número de patentes registradas por ano. Comprometimento: Fatia do orçamento dedicada ao esforço de inovação comparada com o total do orçamento da empresa, investimentos em treinamento dos funcionários e grau de envolvimento dos setores da empresa em soluções inovadoras. Construção de rede: Número de alianças estratégicas concretizadas com organizações externas à empresa, distribuição entre as fontes de inovação (interna ou externa) e número de funcionários com experiência anterior em inovação. Gerenciamento da estrutura: Percentual de indicadores de performance individual e gratificações alinhados com a estratégia de inovação, qualidade da infraestrutura das tecnologias da informação (TI) e quantidade de recursos financeiros disponíveis para inovação. PROPRIEDADE INTELECTUAL E PATENTES Propriedade intelectual é um conjunto de normas nacionais e internacionais que protege os direitos de recompensa da criação de trabalhos científicos, industriais ou artísticos. Ou seja, essas normas cobrem invenções em todos os campos da atividade humana. Dentro da estrutura de normas de propriedade intelectual, existem as patentes, que são um direito concedido pelo governo ao responsável por uma criação. Esse direito confere exclusividade na fabricação, no uso, na venda ou em qualquer exploração comercial da criação em questão. Entretanto, os registros de patente são de acesso livre ao público em geral e funcionam como grandes bases de conhecimento. No Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é o órgão governamental responsável pelo registro delas. O estudo de mercado e de produto é uma tarefa obrigatória para qualquer empreendimento. É uma ferramenta que aumenta as chances de sucesso de uma empresa por meio de um grande esforço de coleta de informações sobre potenciais consumidores e empresas concorrentes. O resultado de um estudo de mercado serve como um diagnóstico das chances que um novo empreendimento tem ao entrar em determinado mercado. O estudo de produto nasce a partir das informações coletadas no estudo de mercado e entrega uma proposta de relacionamento entre empresa e cliente. Em primeiro lugar, descreveremos o conceito de estudo ou análise de mercado. Em seguida, falaremos sobre como o mercado pode ser favorável ou desfavorável à entrada de um novo empreendimento — são as chamadas potencialidades de mercado. No fim do primeiro módulo, descreveremos as técnicas mais comuns paraaplicar um estudo de mercado na prática, por meio de técnicas conhecidas como métodos de pesquisa. No segundo módulo, falaremos sobre a construção da proposta de relacionamento entre empresa e cliente. Descreveremos conceitos-chave para a escolha dos consumidores-alvo da empresa, assim como o estudo de produto e sua proposta de valor. ESTUDO DE MERCADO E SUAS TÉCNICAS DE APLICAÇÃO Sabemos que empreender é sempre uma decisão que envolve riscos. A cultura de inteligência de negócios, por sua vez, já nos mostrou que a tomada de decisões bem- informadas aumenta as chances de sucesso de uma empresa. Do contrário, o empreendedor se deixa levar pela corrente, torcendo para dar certo e assumindo riscos sem estratégia. Isso seria como sair em uma viagem a lugar desconhecido sem um GPS ou um mapa que mostre o caminho a ser seguido. A diferença é que o empreendedor é responsável por construir seu próprio GPS. Ou seja, ele próprio deve coletar e organizar as informações que darão pistas sobre o caminho do sucesso da empresa. Portanto, o empreendedor precisa saber, na ponta da língua, as características do mercado em que atua. Um estudo de mercado é uma investigação rigorosa e realista que coleta e organiza informações necessárias para prever como uma empresa pode ser bem-sucedida em um segmento de atuação, seja qual for o tamanho do negócio. Para que serve o estudo de mercado? O estudo de mercado é uma ferramenta valiosa que ajuda na tomada de decisões bem-informadas e conscientes, levando em consideração a realidade dos consumidores, das empresas concorrentes e dos fornecedores. Essa ferramenta pode ser igualmente necessária para cumprir requisitos de financiamento de um novo negócio. Isso porque mostra a potencialidade da empresa e confere segurança àqueles que vão conceder empréstimos ou entrar no negócio como sócios investidores. O foco dessa ferramenta de estratégia é coletar dados sobre os potenciais consumidores do produto ou serviço vendido. E não menos importante, o estudo de mercado obtém informações sobre as empresas concorrentes. Isso não é uma questão de espionagem empresarial, mas um exercício de inteligência de mercado. Se a meta é introduzir um novo produto ou serviço no mercado, é melhor saber, antes do início das operações, como essa oferta se encaixa no ambiente de negócios já existente (ADAMS, 2010). O resultado de um estudo de mercado é uma parte fundamental da construção da visão estratégica de um negócio — como a empresa vai abordar seu mercado consumidor. São informações que vão determinar como o negócio pode ser viável, ou seja, quais são as condições necessárias para se desenvolver e prosperar. Além disso, reúne informações essenciais para o estudo de produto (conceito a ser discutido no módulo 2 deste tema). Vamos descrever, a seguir, um exemplo que ajuda a ilustrar a importância dos estudos de mercado. Importância dos estudos de mercado – Maria Antônia e o seu sonho empreendedor Maria Antônia é operadora de telemarketing e, nos finais de semana, gosta de fazer costuras com sua avó. A região onde elas moram fica nas montanhas e tem um inverno gelado. Um dia, Maria teve a ideia de fazer uma roupinha de frio para seu cachorro vira-lata. Ela ficou muito feliz com o resultado e mostrou fotos para os colegas de trabalho. Em seguida, muitos pediram para que Maria também costurasse outras roupinhas de frio para seus animais de estimação. De boca em boca, mais e mais pessoas começaram a pedir roupinhas e nem ela nem sua avó conseguiam mais dar conta das encomendas. O sucesso das costuras de roupinhas começou a acender uma ideia na cabeça de Maria Antônia – e se ela largasse o emprego na empresa de telemarketing e começasse um pequeno negócio de roupas para cachorros? Essa decisão arriscada de largar um emprego fixo e ser uma empreendedora valeria a pena? Nessa situação de Maria Antônia, um estudo de mercado faria toda a diferença para ajudar nessa decisão de começar ou não uma nova empresa. Ela precisa saber qual é a viabilidade da sua empresa e, para essa questão, precisa conhecer melhor o mercado de acessórios para animais de estimação. Para além da animação inicial criada pelo sucesso das encomendas nessa fase amadora, é necessário colocar um pé atrás e analisar qual é o ambiente em que se vai entrar. Exemplo Maria Antônia poderia começar aprendendo dados gerais sobre o mercado pet no Brasil. Uma pesquisa superficial na internet mostraria que existe um forte crescimento do número de animais de estimação nas casas das famílias brasileiras. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2018, a população de cães e gatos vem crescendo ao longo do tempo e atingiu, respectivamente, o patamar de 54 milhões e 40 milhões de animais. De acordo com essa pesquisa, já existe uma presença maior de cães e gatos do que crianças nos lares brasileiros. A partir desse panorama geral que se mostrou favorável, o estudo de mercado de Maria Antônia olharia para dados locais da região de atuação, como o número de empresas concorrentes com venda presencial e on- line, e assim por diante. Nos tópicos a seguir, vamos discutir técnicas e conceitos de estratégia de negócios fundamentais para que empreendedores possam fazer pesquisas de mercado de alta qualidade. POTENCIAL DE MERCADO Como visto no exemplo anterior, a maior parte dos mercados já existe. Vivemos em uma sociedade moderna com uma grande diversidade de atividades econômicas. São raros os casos de novos negócios que abrem um novo mercado, previamente inexistente. Nesse sentido, avaliar a potencialidade de um mercado é o primeiro passo de um estudo de mercado. Essa etapa diz respeito à análise de condições já presentes no ambiente de negócios de determinado segmento de atuação. Mesmo que se tenha uma ideia brilhante, é muito difícil prosperar como empreendedor em um ambiente desfavorável. A seguir, descrevemos algumas características que definem o potencial de um mercado, de acordo com Dornellas, 2018. Demanda dos consumidores Essa característica determina as tendências de vendas de um setor econômico. Se existe uma tendência de alta nas vendas, isso significa que existe um crescimento do mercado para o produto ou serviço em questão. Esse caso seria a condição mais favorável para a entrada de uma nova empresa, já que existe, naturalmente, um espaço a ser preenchido por novos atores. O novo negócio pode conquistar mais facilmente os novos consumidores que entram no segmento do que os consumidores já mais antigos do setor. Maiores oportunidades de crescimento aumentam o potencial da empresa, um efeito positivo que pode levar a ganhos de escala e expansão da área geográfica de atuação. Saiba mais Ganhos de escala ou economias de escala é um conceito de Economia que significa uma redução dos custos médios de produção de determinado produto ou serviço quando aumenta a quantidade produzida. Nessa situação, o aumento dos custos de produção cresce em um ritmo menor do que aumento da produção. Ou seja, na média, fica mais barato produzir uma unidade do produto ou serviço. A redução de custos por unidade produzida pode gerar um aumento da rentabilidade ou uma redução dos preços de venda, conquistando novos clientes. Os custos médios de produção de um produto são calculados pela soma de todos os custos do negócio ou do segmento da empresa, divididos pela quantidade total de produtos ou serviços produzidos, levando em consideração um determinado período. Ao contrário, existe a situação em que um segmento de mercado pode estar com o volume de vendas estagnado ou em queda. Nesse contexto, a entrada de novas empresas é muito desfavorável. Existe uma diminuição na base de clientes e, como consequência, ocorre uma maior disputa entre as empresas pelos consumidores que restaram. Essas situações são chamadas de mercado maduro ou mercado em declínio. Outro aspecto a seranalisado é o poder de barganha dos consumidores. Isso acontece quando os clientes conseguem ter uma posição de vantagem em relação aos vendedores (as empresas). Quando o poder de barganha (negociação) dos clientes é alto, os preços tendem a baixar e as empresas passam a competir mais agressivamente umas contra as outras. Um alto poder de barganha dos consumidores é, portanto, uma situação desfavorável para os negócios. Desempenho econômico Essa característica se concentra nos indicadores econômicos de uma atividade comercial. O objetivo é que se faça uma análise rigorosa das possibilidades concretas de retorno econômico do empreendimento. Exemplo: Pode não ser economicamente vantajoso ser a empresa líder em um mercado, se o retorno financeiro não compensar o esforço e os riscos assumidos pelo empreendedor. O retorno financeiro de um negócio é calculado de forma comparativa. Ou seja, usamos como referência os ganhos conservadores que uma pessoa pode obter deixando seu dinheiro investido no mercado financeiro, seja na forma de aplicações em poupança, renda fixa, títulos da dívida pública (Tesouro Direto) etc. Esse tipo de “investimento”, que chamamos de aplicação financeira, tem riscos baixos e retorno praticamente certo. Em outras palavras, um empreendimento deve gerar ganhos financeiros ao empreendedor que sejam maiores do que se ele deixasse seu dinheiro aplicado em um banco ou em uma corretora de valores. Mais do que isso, esse ganho financeiro deve compensar o esforço e os riscos da atividade empreendedora. Para conhecer ou estimar o ganho financeiro do empreendimento, é necessário pesquisar: Qual é a lucratividade de seus concorrentes. Quanto tempo os concorrentes demoram para obter retorno sobre os recursos investidos. Qual é o capital inicial necessário para começar as operações. É frequente que um ambiente de negócios seja considerado desfavorável se a lucratividade (depois do pagamento de impostos) for menor do que 5% ao ano, ou se o tempo de retorno do investimento for superior a 3 anos, ou se houver uma necessidade de grandes investimentos iniciais, o que pode não ser factível. OBS: É importante notar que isso é apenas uma referência geral: o empreendedor deve sempre avaliar as especificidades de seu ambiente de negócios, assim como as alternativas à sua disposição. Por exemplo, uma pessoa desempregada, sem poupança, provavelmente aceitará condições um pouco mais adversas (retorno menor, por exemplo) do que uma pessoa que tem um emprego estável. O estudo de mercado é importante exatamente porque essas especificidades existem! Barreiras de entrada Esse ponto analisa os desafios de regulação e de tecnologia que a empresa pode enfrentar. As barreiras de entrada podem ser uma vantagem para as empresas que já estão atuando em um determinado setor. Por isso, podem dificultar a entrada de novos competidores. Em outras palavras, seria como se a nova empresa largasse muito atrás em uma maratona e tivesse de fazer um esforço enorme para alcançar seus competidores. As barreiras de entrada, que frequentemente têm origem em aspectos regulatórios, podem ser leis ou normas que disciplinam uma atividade econômica. Exemplo: Uma empresa, para atuar em um setor, pode precisar de uma licença de operação concedida por uma agência governamental. Se esse processo de tramitação da licença de operações for muito burocrático e incerto, isso diminui o potencial de sucesso da empresa. Já as barreiras de entrada de aspecto tecnológico dizem respeito a setores que, em geral, utilizam de alta tecnologia para ofertar seu produto ou serviço. Novas tecnologias, em geral, são patenteadas pela empresa criadora. Isso não significa, necessariamente, que só a empresa criadora pode usar essa tecnologia. A empresa pode autorizar seu uso por outras firmas desde que aconteça um pagamento pelo uso desse conhecimento ao detentor da patente – esse pagamento também é conhecido como royalties. MÉTODOS DE PESQUISA DE MERCADO Como mencionamos anteriormente, a principal função de um estudo de mercado é a coleta de dados para ajudar em decisões estratégicas da empresa. Portanto, é fundamental que a coleta de informações junto ao público-alvo de consumidores seja feita de forma eficiente para não desperdiçar tempo, recursos financeiros e de pessoal. Os métodos de pesquisa de mercado são técnicas muito utilizadas nas ciências de comportamento para negócios com origem na psicologia social. Essa ideia está relacionada ao fato de que as relações empresariais precisam levar em consideração que os consumidores são seres humanos com emoções e racionalidade. As informações para uma pesquisa de mercado podem ser classificadas em dados primários ou secundários. A seguir, descrevemos com mais detalhes as características dessa classificação. Dados primários São informações coletadas pelo próprio pesquisador – nesse caso, pelo próprio empreendedor ou sua equipe. É o melhor dos mundos para pesquisa e estudos de mercado. Todo o processo de coleta de dados é pensado para atender as necessidades do próprio entrevistador, de seu empreendimento. Com isso, as informações coletadas atendem perfeitamente às perguntas de pesquisa do estudo de mercado. A desvantagem é que demanda tempo, dedicação e dinheiro para realizar a coleta dos dados. Contudo, em uma perspectiva de longo prazo, pode gerar economias porque é possível formular uma estratégia de negócios mais conectada com o comportamento dos consumidores. Exemplo: Um empreendedor pode fazer uma pesquisa, em uma rua movimentada, sobre o interesse das pessoas em um novo restaurante, com um cardápio diferente. Dados secundários São informações que já existem e estão disponíveis para o uso do pesquisador, como no caso do estudo de mercado. Esses dados podem estar disponíveis gratuitamente ou por meio de compra em empresas de inteligência de mercado, consultorias etc. Em geral, os dados secundários vêm em um pacote com outras informações não tão relevantes para o pesquisador. Ou seja, é necessário que se filtre, dentro do possível, o que realmente interessa para o negócio. A grande vantagem dos dados secundários é exatamente a sua disponibilidade: não é necessário dedicar tempo para desenvolvê-los. As novas tecnologias de informação tornaram a coleta de informação secundária mais fácil do que nunca. As ferramentas de busca na Internet e as redes sociais são recursos valiosos e de baixo custo para pequenos empreendedores. Vamos ver algumas ferramentas a seguir. GOOGLE TRENDS É uma ferramenta gratuita da empresa norte-americana Google que mostra as tendências de pesquisa em seu buscador em um período recente. É possível saber o número total de buscas por um termo nos últimos anos. O empreendedor pode avaliar se existe um aumento do número de usuários pesquisando por uma palavra ou se, na verdade, houve uma diminuição de interesse por algum termo ao longo do tempo. Outra possibilidade é comparar dois termos de pesquisa diferentes e analisar a diferença de popularidade. A ferramenta permite uma grande variedade de filtros, como, por exemplo, saber em qual época do ano acontece uma maior procura por determinado termo, qual é a localização geográfica das pessoas que pesquisaram o termo, entre outros. Até mesmo é possível saber quais termos têm a tendência de serem combinados, o que pode facilitar a coleta de informações para o desenvolvimento e publicidade de um novo produto. GOOGLE AD É o serviço de publicidade paga da Google. As empresas pagam por anúncios nos mecanismos de pesquisa, selecionando as palavras-chave de interesse relacionadas às atividades da empresa. Quando o usuário pesquisa um desses termos escolhidos pelo anunciante, verá uma propaganda da empresa. O que é interessante para um estudo de mercado é a possibilidade de ver o nível de competição entre empresas para anúncios online relacionados a determinados termos de pesquisaMÉTODOS DE PESQUISA IMPORTANTE Pesquisas de opinião As pesquisas de opinião são um recurso estatístico para coletar informações de um determinado grupo de pessoas (uma amostra) e assumir que essas respostas representam as opiniões ou o comportamento de um grupo muito maior de pessoas (a população). É um método bastante utilizado nos estudos de mercado por empresas de diversos tamanhos. Questionário Em geral, as pesquisas de opinião se apresentam na forma de um formulário de perguntas e respostas – um questionário. As perguntas podem ser de múltipla-escolha ou discursivas. Podem ser conduzidas pela via online, pelo telefone ou presencialmente. As perguntas são objetivas e diretas para que o respondente saiba exatamente o que se espera como resposta. Exemplo: “Em uma escala de 0 a 10, diga qual é a probabilidade de você comprar uma roupa de frio para seu cachorro. Pouco provável = 0, muito provável = 10.” Ao final do questionário, o pesquisador tem a oportunidade coletar dados sociodemográficos – informações sobre gênero, idade, escolaridade, ocupação, renda, endereço etc. Não necessariamente o respondente do questionário precisa se identificar. Às vezes, é até mais vantajoso que as respostas sejam anônimas, já que, assim, os participantes sentem mais liberdade de expressar suas opiniões. Dificuldades na aplicação do questionário Nem sempre as empresas conseguem seguir o rigor estatístico necessário para obter conclusões e estimativas sobre um número maior de consumidores do público-alvo (a população). Na medida do possível, os participantes das pesquisas de opinião devem ser selecionados de forma aleatória dentro das pessoas que se encaixam como consumidores potenciais. É importante buscar a representatividade dos participantes (a amostra) em relação à população-alvo. Chamar amigos e parentes para a pesquisa compromete a confiabilidade dos resultados. Eles, provavelmente, vão responder do jeito mais amigável possível ou, talvez, sejam pessoas com gostos e interesses parecidos com os do empreendedor. O que se quer é saber a realidade nua e crua do mercado em que se pretende atuar. Outro erro comum é obter um número muito pequeno de respondentes. Isso também pode também prejudicar a qualidade das informações obtidas. Exemplo: Uma pesquisa com menos de 30 participantes tipicamente será pouco confiável – o tamanho do mercado determinará a amostra que deve ser usada. Outro ponto importante é que os questionários não podem ser longos demais, senão a pessoa que responde perde a concentração ao longo do questionário e acaba dando respostas imprecisas. Vantagem A principal vantagem de uma pesquisa de opinião é que não é tão custoso de implementar, levando em consideração o tempo, os recursos financeiros e humanos. A análise das informações é mais simples porque as respostas são padronizadas. Entrevistas Também é um método de pesquisa bastante difundido nas universidades, centros de pesquisa e no mundo empresarial. Nesse método, acontece um diálogo de perguntas e repostas abertas entre o entrevistador e a pessoa entrevistada. No caso do estudo de mercado, os entrevistados, em geral, fazem parte do público-alvo de consumidores. Podem ser realizadas presencialmente, por telefone ou por vídeo conferência. As entrevistas podem ser classificadas em: Estruturadas: Segue um roteiro fixo de perguntas. Exatamente as mesmas perguntas são feitas a todos os entrevistados. Semiestruturadas: Dispõe de perguntas pré- estabelecidas e fica a critério do entrevistador inserir novas perguntas ao longo da conversa. Ou seja, o entrevistador adapta o roteiro de perguntas conforme o andamento da entrevista e os objetivos de pesquisa. Não estruturadas: É o modelo mais flexível. O entrevistador não segue nem mesmo um roteiro pré- definido de perguntas. A condução se aproxima mais de uma conversa informal, que evolui conforme a interação do entrevistador e do entrevistado. Conduzir muitos entrevistas são bastante custoso. O empreendedor ou alguém de sua equipe precisa dedicar seu tempo para cada entrevista individual. Nem sempre a empresa nascente tem a possibilidade implementar esse método. A vantagem da interação face a face com o potencial consumidor é que podem surgir ideias e percepções que não ficam aparentes na resposta de um formulário de pesquisa de opinião. Grupos focais Os grupos focais são reuniões de consumidores ou pessoas do público-alvo que a empresa deseja captar como consumidores. O mediador ou facilitador do encontro tem a missão de deixar os participantes à vontade para que expressem suas opiniões da maneira mais livre e sincera possível sobre um produto ou serviço. A riqueza desse método vem das informações que surgem quando as pessoas se comunicam e interagem em grupo. Contudo, a pessoa que faz a mediação precisa ser muito bem treinada para que um participante com personalidade dominante não acabe influenciando a opinião dos demais. Se uma opinião se sobrepuser às outras, a qualidade da informação coletada fica comprometida. Esses encontros podem ser filmados desde que haja consentimento dos participantes. A contratação de um mediador bem qualificado e o aluguel de espaço apropriado podem encarecer, consideravelmente, a implementação desse método de pesquisa. OBS: Na condução de pesquisas, sejam do ramo científico ou do ramo de negócios, é sempre necessário que os participantes tenham conhecimento do objetivo geral do estudo. É papel obrigatório do pesquisador informar e perguntar ao participante da pesquisa se ele ou ela concordam com o uso de seus dados pessoais e suas respostas para a elaboração de um estudo específico. O consentimento (aceite) dos participantes pode ser coletado por escrito ou mesmo no formulário digital antes do início das perguntas. Observação de consumidores A observação de consumidores é o método de coleta de informações que mais se aproxima ao ato de decisão de compra de um produto ou serviço. Não é um método tão difundido no Brasil, principalmente entre pequenas e médias empresas. Nessa técnica, o pesquisador pode interagir com o consumidor em um local de compra ou pode, simplesmente, observá-lo por meio de uma câmera ou espelho falso. Não é, necessariamente, uma técnica muito custosa. Contudo, a observação demanda tempo, principalmente para organizar as informações colhidas em horas de observação em algo relevante para as estratégias da empresa. Também existe o potencial de enxergar soluções inovadoras para frustrações dos consumidores com o mercado. DEFINIÇÃO DO CONSUMIDOR-ALVO As práticas contemporâneas de negócios reconhecem a pluralidade do mercado. Isso significa que existem muitos consumidores, e eles possuem necessidades e comportamentos variados. É muito difícil que um produto seja direcionado a todos os consumidores de uma só vez. Diante desse cenário, as empresas começaram a usar técnicas de segmentação de mercado (ARMSTRONG; KOTLER, 2015). Segmentação de mercado A segmentação de mercado é a divisão dos clientes em grupos menores, chamados de segmentos, que podem ser pessoas ou empresas com características parecidas. A ideia é que os segmentos tenham necessidades e hábitos de compra similares, o que ajudaria na formulação da estratégia de marketing da empresa. Comentário As pessoas, em geral, fazem muita confusão em relação ao conceito de marketing. É comum ver pessoas falando de marketing como se fosse a estratégia de publicidade de uma empresa. Na verdade, publicidade e marketing são conceitos diferentes. Marketing é a prática de satisfazer as necessidades dos clientes, construindo um relacionamento entre empresa e cliente. A ideia é criar valor para os consumidores e capturar valor dos consumidores na forma de vendas e relacionamento de longo prazo. É uma relação de troca de valor entre cliente e empresa. A publicidade é apenas um dos componentes da estratégia de marketing
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