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Oficina 2- Epidemiologia dos problemas de saúde mental

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Oficina 2	
1)Entender a epidemiologia das principais doenças psiquiátricas e suas complicações (incidência, prevalência, morbimortalidade) – (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia e abuso de álcool e drogas);
DEPRESSÃO
Incidência e Prevalência
Os transtornos do humor são comuns. Nos levantamentos mais recentes, o transtorno depressivo maior tem a prevalência mais alta ao longo da vida (quase 17%) de todos os transtornos psiquiátricos. A taxa de prevalência ao longo da vida para depressão maior é de 5 a 17%. A incidência anual de doença bipolar é geralmente considerada inferior a 1%, mas ela é difícil de estimar, porque formas mais leves desse transtorno muitas vezes passam despercebidas.
A prevalência global de depressão autorreferida em adultos domiciliados NO BRASIL, em 2019, foi de 10,2%. Entre as regiões brasileiras, a região Sul apresentou a maior prevalência (15,2%; IC95% 14,2;16,2) e, entre os estados, a maior prevalência foi observada no Rio Grande do Sul (17,9%; IC95% 16,2;19,6). As menores prevalências foram observadas na região Norte (5,0%; IC95% 4,4;5,6) e no estado do Pará (4,1%; IC95% 3,0;4,1)
Verificaram-se maiores taxas para o ano de 2019 entre as pessoas do sexo feminino (14,7%), raça/cor da pele branca (12,5%) e residentes da zona urbana (10,7%). Em relação à escolaridade, as maiores prevalências foram encontradas entre os indivíduos sem escolaridade ou com ensino fundamental incompleto (10,9%; IC95% 10,3;11,5) e com ensino superior completo. Já em relação à faixa etária, adultos jovens (18 a 29 anos) apresentaram a menor prevalência de depressão. 
Observou-se um aumento da prevalência de depressão autorreferida para todas as categorias das variáveis sociodemográficas analisadas, entre 2013 e 2019, de 7,6%. Observou-se, ainda, um aumento significativo na prevalência de indivíduos que receberam atendimento médico nos últimos 12 meses.
Fatores de Risco
Sexo: Uma observação quase universal, independentemente de país ou cultura, é a prevalência 2 vezes maior de transtorno depressivo maior em mulheres do que em homens. As hipóteses das razões para essa disparidade envolvem diferenças hormonais, os efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para mulheres e para homens e modelos comportamentais de impotência aprendida. Em contraste com o transtorno depressivo maior, o transtorno bipolar I tem uma prevalência igual entre homens e mulheres. Episódios maníacos são mais comuns em homens, e episódios depressivos são mais comuns em mulheres. Quando episódios maníacos ocorrem em mulheres, elas têm mais probabilidade do que os homens de apresentar um quadro misto (p. ex., mania e depressão). As mulheres também têm uma taxa mais alta de ciclagem rápida, definida como quatro ou mais episódios maníacos no período de um ano.
Idade: A idade de início do transtorno bipolar I é mais precoce do que a do depressivo maior, variando da infância (a partir dos 5 ou 6 anos) aos 50 anos, ou até mais, em casos raros, com idade média de 30 anos. A idade média de início para transtorno depressivo maior é em torno dos 40 anos, com 50% de todos os pacientes tendo início entre os 20 e os 50 anos. Esse transtorno também pode iniciar na infância ou na velhice. Dados epidemiológicos recentes revelam que a incidência de transtorno depressivo maior pode estar aumentando entre pessoas com menos de 20 anos. É possível que isso esteja relacionado ao aumento do uso de álcool e do abuso de drogas nessa faixa etária. 
Estado Civil: O transtorno depressivo maior ocorre mais frequentemente em pessoas sem relacionamentos interpessoais íntimos e naquelas que são divorciadas ou separadas. O transtorno bipolar I é mais comum em pessoas divorciadas e solteiras do que entre as casadas, mas essa diferença pode refletir o início precoce e a discórdia conjugal resultante característica do transtorno.
Fatores Socioeconômicos e Culturais: Não foi encontrada correlação entre condição socioeconômica e transtorno depressivo maior. Uma incidência mais alta do que a média de transtorno bipolar I é encontrada entre os grupos socioeconômicos mais altos; entretanto, ele é mais comum em pessoas que não têm curso superior do que naquelas com diploma universitário, o que também pode refletir a idade de início relativamente precoce para o transtorno. A depressão é mais comum em áreas rurais do que em áreas urbanas. A prevalência de transtorno do humor não difere entre as raças. Contudo, existe uma tendência dos examinadores a diagnosticar menos transtorno do humor e mais esquizofrenia em pacientes cuja base racial ou cultural difira da sua.
Comorbidades: Indivíduos com transtornos depressivos maiores têm maior risco de apresentar um ou mais transtornos comórbidos. Os mais frequentes são abuso ou dependência de álcool, transtornos de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno de ansiedade social. De modo inverso, indivíduos com transtornos por uso de substâncias e de ansiedade também têm um risco elevado de transtorno do humor comórbido atual ou ao longo da vida. Tanto no transtorno unipolar como no bipolar, enquanto os homens apresentam com mais frequência transtornos por uso de substâncias, as mulheres têm transtornos de ansiedade ou alimentares comórbidos. Em geral, pacientes bipolares apresentam mais comorbidade com uso de substância e transtornos de ansiedade do que aqueles com depressão maior unipolar. No estudo Epidemiological Catchment Area (ECA; Área de Captação Epidemiológica), a história ao longo da vida de transtornos por uso de substâncias, transtorno de pânico e TOC foi cerca de duas vezes mais alta entre pacientes com transtorno bipolar I (61, 21, e 21% respectivamente) do que nos com depressão maior unipolar (27, 10 e 12%, respectivamente). Os transtornos por uso de substâncias e de ansiedade comórbidos pioram o prognóstico da doença e aumentam de maneira acentuada o risco de suicídio entre indivíduos com depressão maior unipolar e bipolar.
ANSIEDADE
Os transtornos de ansiedade constituem uma das principais causas de incapacidade ao redor do mundo. Como características essenciais desses transtornos, podemos citar o medo excessivo e persistente, preocupassão excessiva e os mecanismos de esquiva de ameaças percebidas. Embora a neurobiologia dos transtornos de ansiedade individuais não seja totalmente conhecida, algumas generalizações foram identificadas para a maioria deles, como alterações no sistema límbico, fatores genéticos e disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Apesar de sua importância para a saúde pública, a maioria dos transtornos de ansiedade permanece sem ser detectada, não sendo tratada pelos profissionais nos sistemas de saúde, mesmo em países economicamente desenvolvidos. Quando não tratados, esses transtornos tendem a evoluir para cronicidade. Comprometimentos associados a transtornos de ansiedade variam de limitações no funcionamento social a prejuízos graves, como a incapacidade do paciente de sair de casa.
Incidência e Prevalência
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 4 indivíduos apresenta ou já apresentou um transtorno de ansiedade. A estimativa de prevalência ao longo da vida é variável entre os países, podendo situar-se entre 4,8% na China, 31% nos Estados Unidos e 9,3% no Brasil, oscilando devido a variações na coleta das informações, perfil e características das amostras avaliadas, critérios diagnósticos utilizados e potenciais aspectos culturais. Globalmente, a prevalência em 12 meses é um pouco menor que a prevalência ao longo da vida, indicando que esses transtornos são relativamente persistentes. Ademais, essas condições em geral ocorrem no início da vida. Além disso, mais da metade dos pacientes com um transtorno de ansiedade apresenta múltiplos transtornos de ansiedade comórbidos.
Fatores de Risco
Idade de Início
Grande parte dos transtornos de ansiedade se manifesta já na infância, sendo que sua prevalência de 12 meses na infância e na adolescência é semelhante à observada em adultos. Fobias e TAS têm início particularmenteprecoce, com maior risco de incidência entre os 6 e os 17 anos de idade. No entanto, para alguns transtornos de ansiedade, como o TAG, os sintomas podem surgir na idade adulta e no final da vida. A idade de início média estimada para os transtornos de ansiedade, de modo geral, foi de 21,3 anos. Tal estimativa é menor para o TAS (10,6 anos), seguido por fobia específica (11,0 anos). Por sua vez, as idades de início médias estimadas foram maiores para o TP (30,3 anos) e o TAG (34,9 anos).
Vulnerabilidades Associadas
Diversos fatores de risco podem favorecer a modificação do curso da ansiedade normal para a patológica, incluindo ser do sexo feminino, utilizar drogas e apresentar histórico familiar de transtornos de ansiedade ou depressão. Ser do sexo feminino duplica o risco de desenvolver transtornos de ansiedade, embora as razões para tanto ainda não sejam totalmente conhecidas. Ter pais com ansiedade e depressão aumenta o risco de desenvolver um transtorno de ansiedade, particularmente TP e TAG. Os filhos de indivíduos (genética) que apresentam pelo menos um transtorno de ansiedade têm risco aumentado em 2 a 4 vezes para esses transtornos. Ademais, têm maiores chances de desenvolver transtornos de ansiedade em uma idade mais precoce do que os fi]lhos de indivíduos sem o transtorno. Esses fatos demonstram que aspectos genéticos, ao menos parcialmente, contribuem para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade.
Outros fatores de risco incluem alterações temperamentais específicas, como temperamento inibido, interações entre pais e filhos caracterizadas por controle e negatividade, além de sociabilidade reduzida. Em adultos jovens, fatores estressores da vida, como estresse financeiro, doença familiar e divórcio, podem prever sintomas e diagnósticos de transtornos de ansiedade subsequentes. O tabagismo e o abuso de álcool também são fatores de risco para esses transtornos, estando associados epidemiologicamente. No entanto, as associações são bidirecionais e a causalidade não é comprovada.
TRANSTORNO BIPOLAR
De acordo com a OMS, transtorno bipolar (TB) é umas das 10 principais causas de anos de vida ajustados por incapacidade em adultos jovens em todo o mundo. Esse transtorno caracteriza-se pela presença de episódios depressivos e maníacos, que, na maioria das vezes, podem iniciar antes dos 25 anos de idade. Apesar da gravidade do transtorno, o tempo até receber o diagnóstico clínico adequado é, muitas vezes, prolongado para uma parcela grande dos indivíduos, que, se não tratados adequadamente, podem apresentar quadros mais severos, com prejuízos cognitivos e sociais e maior refratariedade ao tratamento.
Pessoas com esse transtorno têm, aproximadamente, 20 a 30 vezes mais probabilidade de morrer por suicídio quando comparadas à população geral. Na verdade, o TB pode responder por um quarto de todos os suicídios. Além disso, foi relatado que a expectativa de vida diminui em nove anos para esses pacientes, em virtude não só do suicídio, mas também por um aumento na taxa de mortalidade re]lacionada a doenças cardiovasculares. Sabe-se, ainda, que há um atraso médio de 10 anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico formal, e que apenas 20% dos pacientes que estão vivenciando um episódio depressivo bipolar são diagnosticados corretamente no primeiro ano em que buscam tratamento.
De acordo com a World Mental Health Survey Initiative, o TB afeta 2,4% da população mundial ao longo da vida. Entre os subtipos, o tipo I tem prevalência ao longo da vida estimada em 0,6%, já o tipo II, em 0,4%, enquanto 1,4% é referente ao transtorno subsindrômico. De acordo com a mesma fonte, no Brasil, a prevalência é semelhante à observada no restante do mundo, afetando, ao longo da vida, 2,1% da população, sendo 0,9 e 0,2% referentes, respectivamente, aos tipos I e II. Um estudo recente incluindo 6.743 indivíduos com idades entre 12 e 30 anos que buscaram serviço ambulatorial na Austrália verificou que a incidência do TB foi de 4,3% em um acompanhamento médio de 22 meses.
Os primeiros episódios de humor do TB têm início antes dos 25 anos de idade em mais de 70% dos casos. Em um estudo incluindo indivíduos com TB tipo I (n = 155) e tipo II (n = 39), com no máximo cinco anos de doença, foi verificado que 69% dos sujeitos tiveram o início do transtorno antes dos 23 anos; 22%, entre 24 e 37 anos; e 9%, depois dos 38 anos.
ESQUIZOFRENIA
As estimativas mais recentes indicam uma prevalência do transtorno entre 0,2 e 0,4% da população em geral, com proporção semelhante entre homens e mulheres, mas começando de forma mais precoce e tendendo a maior gravidade entre os homens. É considerada umas das principais causas de perda de anos de vida saudável entre jovens, pois os primeiros sintomas em geral aparecem entre o final da adolescência e o início da vida adulta, gerando, na maioria das vezes, um prejuízo funcional persistente. As mulheres apresentam um segundo pico por volta dos 40 anos.
As pessoas com esquizofrenia têm grande redução 2em sua expectativa de vida, entre 10 e 20 anos, que vem se acentuando ao longo dos anos. Estima-se que 10% da mortalidade seja por suicídio, no entanto, a principal causa de excesso de mortalidade nesse grupo são as doenças cardiovasculares. Possivelmente, esse aumento da diferença na expectativa de vida entre a população em geral e as pessoas com esquizofrenia reflete maior exposição a fatores de risco cardiovasculares, como obesidade, tabagismo e diabetes, menor adoção de estilo de vida saudável, como atividade física, e menor acesso aos serviços de saúde.
ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS
As perturbações decorrentes da relação entre o álcool e a saúde mental desafiam a saúde pública e exigem um controle mais eficiente desse problema. Tanto o álcool como o abuso de tóxicos comprometem a qualidade de vida dos usuários de todas as idades, gênero e classe socioeconômica. A dificuldade em admitir a necessidade de ajuda especializada contribui para acentuar a doença e pode evoluir para quadros mais alarmantes. Os mais comuns são a incapacidade mental e a tentativa de suicídio entre jovens, principalmente.
Beber afeta nosso humor e saúde mental? Beber diminui a inibição. Normalmente, o consumo excessivo de álcool significa que a pessoa ficará menos constrangida em uma determinada situação. Além disso, o álcool pode dificultar a capacidade do nosso corpo para descansar, resultando na necessidade de trabalhar mais para quebrar o efeito do álcool no corpo.
Esta interferência do álcool com os padrões de sono pode levar a uma redução do nível de energia. O álcool também deprime o SNC, e isso pode fazer com que o humor se altere. Ele também pode ajudar a amortecer nossas emoções, fazendo com que talvez passamos a evitar o enfrentamento dos problemas difíceis na nossa vida.
O álcool também pode revelar ou intensificar nossos sentimentos subjacentes, como evocando memórias do passado de trauma ou provocando quaisquer sentimentos reprimidos que estão associados com eventos dolorosos do passado ou presente. Essas memórias podem ser tão poderosas que criam uma ansiedade esmagadora, depressão ou vergonha. Reviver essas memórias e sentimentos sombrios, enquanto está sob a influência de álcool, pode representar uma ameaça para a segurança pessoal, bem como a segurança dos outros.
Em relação ao uso de substâncias, estudos explicaram essa diferença, com o fato de que as mulheres teriam maior facilidade de identificar seu sofrimento psíquico, admiti-lo e buscar ajuda, enquanto os homens tendem a usar substâncias psicoativas como alívio para seu sofrimento ou angústia, e tambem possuem maiores taxas de internações.
COMPLICAÇÃO - SUICÍDIO
O suicídio é um importante problema de saúde pública, com impactos na sociedade como um todo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que no mundo, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente, sendo a quarta maior causa de mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade. Entre 2010 e 2019, ocorreram112.230 óbitos no Brasil por suicídio, com aumento de 43% no número anual de óbitos por suicídio, passando de 9.454 em 2010 para 13.523 em 2019 (Ministério da Saúde 2021). A taxa global de suicídio padronizada por idade foi de 9,0 por 100.000 habitantes em 2019. A taxa de suicídio no Brasil variou de 4,82 a 6,9 por 100.000 habitantes. A taxa de suicídio no Brasil variou de 4,82 a 6,9 por 100.000 habitantes. 
 Os dados mais recentes de 2021, do Ministério da Saúde do Brasil, relataram taxas de mortalidade ajustadas no período de 2010 a 2019 e mostraram aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões do Brasil, destacando o Sul e CentroOeste como as regiões com maior taxas de suicídio (Ministério da Saúde 2021). As taxas de suicídio por região foram Sul 10,41, Centro-Oeste 8,30, Norte 6,28, Sudeste 5,70, Nordeste 5,67. em casa. Os métodos mais utilizados foram enforcamento ou envenenamento, seguido pelo uso de armas de fogo e salto. Homens apresentaram um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres (mulheres tentam mais). Entre homens, a taxa de mortalidade por suicídio em 2019 foi de 10,7 por 100 mil, enquanto entre mulheres esse valor foi de 2,9. Ao analisar a evolução da mortalidade por suicídio segundo sexo, observou-se aumento das taxas para ambos os sexos, com manutenção da razão de taxas entre os sexos no período. Comparando os anos de 2010 e 2019, verificou-se um aumento de 29% nas taxas de suicídios de mulheres, e 26% das taxas entre homens.
Destaca-se, nesse aspecto, um aumento pronunciado nas taxas de mortalidade de adolescentes, que sofreram um incremento de 81% no período, passando de 606 óbitos e de uma taxa de 3,5 mortes por 100 mil hab., para 1.022 óbitos, e uma taxa de 6,4 suicídios para cada 100 mil adolescentes.
Ao analisar a distribuição do risco de morte por suicídio segundo faixa etária entre as regiões brasileiras, em 2019, observou-se que as Regiões Sul (RS e Santa Catarina), Norte e CentroOeste apresentaram as maiores taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos. Essas foram também as regiões que apresentaram o maior incremento percentual das taxas de suicídio entre 2010 e 2019, respectivamente 99%, 90% e 99% (dados não apresentados). Nesse cenário, destaca-se a Região Norte, onde o maior risco de morte por suicídio ocorreu entre jovens de 15 a 19 anos.
Em relação a escolaridade, aproximadamente 1/3 possuíam ensino médio completo ou incompleto, e menos de 7% possuíam ensino superior. Quanto à raça/cor, observaram-se maiores prevalências entre indivíduos de cor branca (47,3%). Em relação ao local da ocorrência, evidenciou-se que a maior parte dos casos ocorreu na própria residência das vítimas (82%) , e a repetição do evento foi registrado em 41% dos casos. Os dados mostram, ainda, que aproximadamente 60% dos meios de agressão registrados nas notificações de lesões autoprovocadas corresponderam ao envenenamento, seguidos pelos objetos perfurocortantes (16,8%).
2)Entender o impacto do sofrimento mental e o abuso de álcool e outras drogas na carga global das doenças;
Os transtornos mentais são agravos de saúde altamente prevalentes na sociedade atual. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), transtornos mentais como depressão, abuso de álcool, transtorno bipolar e esquizofrenia se encontram entre as 20 principais causas de incapacidade. A OMS, estima que atualmente a depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas, sendo que a taxa de prevalência na maioria dos países varia entre 8% e 12%. Em 2015 os TM se tornaram a 3ª principal causa de carga de doença no Brasil (DALY) subindo 3 posições em relação a 1990, atrás apenas das doenças cardiovasculares e dos cânceres, e que eles contribuem consideravelmente para a perda de saúde de indivíduos em todas as idades, e a principal causa de incapacitação dos indivíduos no mundo quando se considera o total de anos perdidos (8,3% dos anos para homens e 13,4% para mulheres). De 1990 a 2015, toda a categoria dos TM ou cada transtorno separadamente, em sua maioria, subiram a posição na classificação de DALY e de YLD. Em especial, é importante salientar o aumento nas posições dos DALY de transtornos depressivos e de ansiedade da 12a e 14a posições, em 1990, para 8a e 10a posições, em 2015, respectivamente.
A categoria dos Transtornos Mentais foi responsável por 9,5% do total de DALY, por todas as causas, no Brasil. Os transtornos depressivos foram responsáveis pela maior proporção de DALY (3,3%) e o TDAH pela menor proporção (0,02%). Em ambos os sexos, as mudanças na DALY, entre 1990 e 2015, foram atribuíveis ao crescimento e envelhecimento da população, tendo em vista que ambas as taxas padronizadas por idade, no período, estiveram dentro dos intervalos de incerteza (II95%). Contudo, é importante destacar o aumento percentual de 37,1% das taxas de DALY devido aos transtornos decorrentes do uso de drogas entre 1990 e 2015, observado em ambos os sexos.
Entre os TM, os transtornos depressivos foram responsáveis pela maior carga de doença (35,0%), seguido pelos transtornos de ansiedade (28,0%) e pelos transtornos decorrentes do uso de álcool (7,0%). Os transtornos que mais contribuíram para os YLD foram: transtornos depressivos (37,0%), transtornos de ansiedade (30,0%), esquizofrenia (6,0%) e transtorno bipolar (6,0%).
Os TM atingiram todos os grupos de idade, sendo que a maior proporção de DALY, em ambos os sexos, ocorreu na idade adulta. Em ambos os sexos, as taxas de DALY para os transtornos depressivos e para os transtornos de ansiedade atingiram o pico na idade adulta. Porém, a carga dos transtornos depressivos foi maior entre aqueles com 30 a 34 anos e dos transtornos de ansiedade, um pouco mais tardiamente, entre 40 e 44 anos de idade. A carga associada a transtornos menos comuns, mas crônicos, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, aumentou gradualmente até a idade adulta, com pico entre 40 e 44 anos e 25 e 29 anos de idade, respectivamente. Em relação aos transtornos decorrentes do uso de drogas, a carga foi maior entre os adultos jovens (20-24 anos). Para os transtornos decorrentes do uso de álcool, a maior carga ocorreu dos 45 aos 49 anos de idade, seguido por um declínio gradual.
Os TM foram a principal causa de incapacidade no Brasil, tanto em 1990 quanto em 2015, sendo responsáveis por 24,9% do total de YLD (anos vividos com incapacidade/morbidade) por todas as causas. 
Em relação à mortalidade, os TM foram responsáveis por apenas 1,2% do total de YLL no Brasil, em 2015. A maior parte desses óbitos foi atribuída aos transtornos decorrentes do uso de álcool (81,0%). Apesar da baixa mortalidade, os TM são altamente incapacitantes, indicando necessidade de ações preventivas e protetivas, principalmente na atenção primária em saúde.
3)Entender a correlação da mortalidade precoce por comorbidades nas pessoas com sofrimento mental;
MORTALIDADE PRECOCE 
A saúde mental é um importante fator que possibilita o ajuste necessário para lidar com as emoções positivas e negativas. Além de ser determinante para a estabilidade física, a saúde mental está relacionada à qualidade da interação individual e coletiva. No cenário atual, buscar alternativas que possibilitem a harmonia nessas relações é uma urgente necessidade. Assim como a física, a saúde mental é uma parte integrante e complementar à manutenção das funções orgânicas. Nesse contexto, a promoção da saúde mental é essencial para que o indivíduo tenha a capacidade necessária de executar suas habilidades pessoais e profissionais.
O transtorno mental é um problema de saúde pública secular, que se agrava quando relacionado às comorbidades, tendo em vista o aumento da incidência de doenças clínicas em pessoas com transtornos mentais, caracterizando-se como “um grupo de doenças com alto grau de sobrecarga, não só para o indivíduo que sofre, mas, também, para seus familiares e cuidadores.
A DCNT lideram como principal causa morte e respondem por cerca de um milhão de óbitos, e dentre os fatoresde risco estão dieta inadequada e fatores metabólicos, concluiu-se que se torna indispensável investir em ações de prevenção e controle dos fatores de risco como: sobrepeso e obesidade, sedentarismo, controle dos níveis pressóricos e glicêmicos.
Vale ressalta que o paciente com transtorno mental em geral apresentam dificuldades no autocuidado, alimentação em excesso, falta de atividade física, tabagismo, sedentarismo, hereditariedade, dificuldade de trabalhar, atividades sociais hábitos e estilo de vida contribuem para o aparecimento e agravamento das doenças crônicas não transmissíveis.
O estudo de Demarco, jardim e Kantarski, ao investigar as variáveis demográficas e socioeconômicas de 1.242 famílias de usuários de 40 CAPS, nas modalidades I, II e III nos estados do sul do Brasil (RS, SC e PR), verificou que o perfil dos cuidadores dos usuários desses serviços se constituía de mulheres (65%), na faixa etária de 40 a 60 anos (48,3%), mães (grau de parentesco) (46,2%), baixa renda familiar, na sua maioria de 1 a 3 salários mínimos (50%) e com baixo nível de escolaridade, com (56,7%) (não completou o ensino fundamental), estes veem a família como um elo entre os usuários dos CAPS e a sociedade. A condição socioeconômica pode influenciar negativamente a qualidade de vida e influenciar a condição de saúde (pobreza, desemprego).
Em sua revisão Prado, Sá e Miranda, encontraram dados referentes à pior prestação de cuidados aos pacientes com comorbidades psiquiátricas nos serviços de saúde de modo geral (em toda a rede), e também que os serviços psiquiátricos demostram dificuldade em lidar com os pacientes que apresentam comorbidades clínicas
4)Elucidar o papel da atenção primária na prevenção e rastreamento das doenças psiquiátricas e abuso de álcool e outras drogas;
A Atenção Básica tem como um de seus princípios possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao sistema de Saúde, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde mental.
A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do SUS, formando um conjunto de ações de Saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. As Unidades Básicas de Saúde cumprem também uma importante função na composição dessa rede comunitária de assistência em saúde mental.
-Ações terapêuticas comuns aos profissionais da Atenção Básica
Abaixo, apresentamos algumas ações que podem ser realizadas por todos os profissionais da Atenção Básica, nos mais diversos dispositivos de cuidado: 
• Proporcionar ao usuário um momento para pensar/refletir. 
• Exercer boa comunicação. 
• Exercitar a habilidade da empatia. 
• Lembrar-se de escutar o que o usuário precisa dizer.
 • Acolher o usuário e suas queixas emocionais como legítimas. 
• Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne o usuário dependente e nem gere no profissional uma sobrecarga. 
• Reconhecer os modelos de entendimento do usuário
-Cuidado nos TM
As intervenções em saúde mental na Atenção Básica devem promover novas possibilidades de modificar e qualificar as condições e modos de vida, orientando-se pela produção de vida e de saúde e não se restringindo à cura de doenças. Isso significa acreditar que a vida pode ter várias formas de ser percebida, experimentada e vivida. Para tanto, é necessário olhar o sujeito em suas múltiplas dimensões, com seus desejos, anseios, valores e escolhas. Na Atenção Básica, o desenvolvimento de intervenções em saúde mental é construído no cotidiano dos encontros entre profissionais e usuários, em que ambos criam novas ferramentas e estratégias para compartilhar e construir juntos o cuidado em saúde.
(1)Escuta Qualificada – Profissional da Saúde como interlocutor. A atitude de desabafar e de escutar o desabafo é comum no dia a dia de muitas pessoas, independentemente de elas exercerem um ofício profissional relacionado à saúde. Por ser considerada uma prática do senso comum e não uma técnica específica do profissional de Saúde, a oferta para escutar atentamente o desabafo pode parecer algo menor se comparado a outras condutas técnicas. Contudo, essa desvalorização do espaço para a escuta não invalida sua importância e potência, principalmente no trabalho na Atenção Básica.
 É uma primeira ferramenta a ser utilizada pelo profissional de Saúde para que o paciente possa contar e ouvir o seu sofrimento de outra perspectiva, por intermédio de um interlocutor que apresenta sua disponibilidade e atenção para ouvir o que ele tem a dizer. A partir dessa aposta, entendemos que o usuário encontrará no profissional de Saúde uma pessoa interessada por sua vida e em lhe ajudar. Na medida em que a unidade de Atenção Básica e seus trabalhadores consigam oferecer o cuidado em saúde ao longo do tempo, torna-se possível fortificar uma relação de vínculo, e então têm-se maiores condições de ouvir do usuário aquilo que ele tem a nos contar.
(2)Acolhimento. O acolhimento realizado nas unidades de Saúde é um dispositivo para a formação de vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o usuário. Em uma primeira conversa, por meio do acolhimento, a equipe da unidade de Saúde já pode oferecer um espaço de escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se sintam seguros e tranquilos para expressar suas aflições, dúvidas e angústias, sabendo então que a UBS está disponível para acolher, acompanhar e se o caso exigir, cuidar de forma compartilhada com outros serviços.
A equipe de Saúde tem como criar recursos coletivos e individuais de cuidado avaliados como os mais necessários ao acompanhamento e ao suporte de seus usuários e de sua comunidade. No campo da Saúde Mental, temos como principais dispositivos comunitários os grupos terapêuticos, os grupos operativos, a abordagem familiar, as redes de apoio social e/ou pessoal do indivíduo, os grupos de convivência, os grupos de artesanato ou de geração de renda, entre outros.
Há evidências sólidas que o sofrimento mental comum tem um impacto significativo em alguns dos mais prevalentes agravos à saúde. Seja como fator de risco, seja piorando a aderência ao tratamento, ou ainda piorando o prognóstico, pesquisas que estudaram sintomas depressivos e ansiosos mostraram que esses estão relacionados à doença cárdio e cerebrovascular e também ao diabetes. E isso ocorre mesmo quando esses sintomas não são suficientes para fechar diagnóstico de acordo com critérios padronizados de pesquisa. A dependência de substâncias psicoativas também se revelou associada ao curso de doenças infecciosas, principalmente no que se refere à aderência ao tratamento.
Equipe Profissional
Elas têm por objetivo prestar atenção multiprofissional em saúde mental, respondendo à necessidade de atendimento especializado, integrando-se aos demais serviços das redes de atenção à saúde. A assistência será organizada a partir da APS, que identificará a necessidade de referenciamento à equipe especializada, podendo-se utilizar a ferramenta da estratificação de risco, para embasar a avaliação de casos a serem referenciados levando-se em consideração as especificidades e individualidades de cada caso.
É de competência de essas equipes ampliarem o acesso à assistência em saúde mental para pessoas de todas as faixas etárias com transtornos mentais moderados mais prevalentes, como transtornos de humor, dependência química e transtornos de ansiedade; prestar assistência multiprofissional às pessoas com transtornos mentais moderados, encaminhados pela APS; constituir preferencialmente referência regional para assistência ambulatorial especializada em saúde mental; trabalhar de maneira integrada com outros pontos de atenção da rede SUS; e estabelecer articulação com demais serviços do SUS e com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS),de forma a garantir direitos de cidadania, cuidado transdisciplinar e ação intersetorial.
Estratificação de Risco. A estratificação de risco permite conhecer e discutir mais sobre o paciente, possibilitando que ações sejam planejadas de acordo com as necessidades da população, além de orientar o melhor manejo para os casos estratificado. Ela utiliza parâmetros para orientarem que nível deverá ocorrer a assistência em saúde. No entanto, nem sempre os sinais e sintomas definidos como graves e persistentes em determinado grupo exigem que a atenção em saúde ocorra num nível secundário ou terciário, assim como, os sinais e sintomas dos grupos definidos como leves não necessariamente excluem a necessidade de um atendimento em nível secundário.
GRUPO I – Sintomas relacionados aos transtornos mentais comuns. 
GRUPO II – Sintomas relacionados aos transtornos mentais severos e persistentes. 
GRUPO III – Sintomas relacionados à dependência de álcool e outras drogas. 
GRUPO IV – Sintomas relacionados a alterações na saúde mental que se manifestam na infância e/ou na adolescência. 
GRUPO V – Sintomas relacionados a alterações na saúde mental que se manifestam nos idosos. 
GRUPO VI – Fatores que podem se constituir em fatores agravantes ou atenuantes de problemas de saúde mental já identificados. 
CONDIÇÕES ESPECIAIS: São circunstâncias consideradas sentinelas porque exigem mais atenção e cuidado das equipes de saúde, além da aplicação da estratificação de risco: Gestantes, indígenas.
 
TRATAMENTO. Os psicofármacos são um recurso entre outros para o tratamento em Saúde Mental, entretanto, o seu uso só faz sentido quando dentro de um contexto de vínculo e de escuta. É a partir do momento em que o usuário compreende e se corresponsabiliza pelo uso da medicação que passará a não somente demandar “troca de receitas”, mas poderá se implicar um pouco diante das queixas que traz. Para o profissional, diante de alguém em sofrimento, é importante considerar a perigosa ideia de que o remédio possa representar uma solução rápida, uma resposta para uma angústia que sente diante da impotência e da vontade de extirpar o problema. “Muita calma nessa hora”.
Para o Ministério da Saúde (2017), a RAPS tem como um de seus principais objetivos a ampliação do acesso à atenção psicossocial da população e a promoção de vínculos das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e suas famílias aos pontos de atenção.
Alcoolismo: detecção e intervenção breve (situação comum)
O abuso de álcool é a situação mais comum que encontramos na Atenção Básica. A abordagem ao alcoolismo na Atenção Básica tem como objetivo a detecção precoce de problemas relacionados, além da integração do tratamento de outras patologias agravadas pelo álcool, como, por exemplo, a hipertensão. Recomenda-se que o generalista avalie o padrão de consumo de álcool como rotina (CAGE), desde a adolescência. A pessoa dependente de hoje já percorreu uma longa trajetória de uso crescente do álcool. Ao longo dessa trajetória, essa pessoa certamente encontrará um profissional de saúde, geralmente da Atenção Básica, que terá a oportunidade de perceber o risco desse uso crescente e intervir. Neste nível de cuidado, é possível reconhecer sinais e sintomas de abuso de álcool, discutir o risco envolvido, fazer orientações contrárias ao consumo abusivo nas famílias e encaminhar os pacientes para serviços especializados quando indicado. É importante que se mostre claramente as consequências clínicas, psicológicas e sociais do uso contínuo de álcool. Os profissionais de Saúde também devem considerar o abuso ou a dependência de álcool como uma possível causa de sintomas de ansiedade ou depressão.
5)Explicar a relação da pandemia do covid 19 com o agravo das doenças psiquiátricas (incidência, prevalência, morbimortalidade);
No primeiro ano da pandemia de COVID-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%, de acordo com um resumo científico divulgado nesta quarta-feira (2) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O resumo também destaca quem foi mais afetado e mostra o efeito da pandemia na disponibilidade de serviços de saúde mental e como isso mudou durante a emergência de saúde pública.
Preocupações com possíveis aumentos dessas condições já levaram 90% dos países pesquisados a incluir saúde mental e apoio psicossocial em seus planos de resposta à COVID-19, mas permanecem grandes lacunas e preocupações.
“As informações que temos agora sobre o impacto da COVID-19 na saúde mental do mundo são apenas a ponta do iceberg”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Este é um alerta para que todos os países prestem mais atenção à saúde mental e façam um trabalho melhor no apoio à saúde mental de suas populações”.
Fatores Estressores (Distanciamento, quarentena, isolamento social)
 A quarentena foi de fundamental importância para atenuar o contágio com o objetivo de manter as pessoas sem contato com outras pessoas e diminuir a probabilidade de contaminação e, consequentemente, a procura por serviços de saúde e o número de óbitos. Apesar dos benefícios que traz, em função da contenção da doença, a quarentena implica, muitas vezes, a vivência de situações desagradáveis que podem ocasionar impactos na saúde mental dos envolvidos. Alguns estressores na quarentena são: necessidade de afastamento de amigos e familiares, incerteza quanto ao tempo de distanciamento, tédio, medo e outros. Em estudos realizados em situações pandêmicas, como é o caso da COVID-19 e da SARS, constatou-se que alguns transtornos mentais comuns podem ser desencadeados pela quarentena, a exemplo dos transtornos de ansiedade e depressão e indícios de aumento do comportamento suicida.
O resumo, que é baseado em uma revisão abrangente das evidências existentes sobre o impacto da COVID-19 na saúde mental e nos serviços de saúde mental, e inclui estimativas do último estudo Global Burden of Disease, mostra que a pandemia afetou a saúde mental de jovens, que correm um risco desproporcional de comportamentos suicidas e automutilação. Também indica que as mulheres foram mais severamente impactadas do que os homens e que pessoas com condições de saúde física pré-existentes, como asma, câncer e doenças cardíacas, eram mais propensas a desenvolver sintomas de transtornos mentais.
Esse aumento na prevalência de problemas de saúde mental coincidiu com graves interrupções nos serviços, deixando enormes lacunas no atendimento daqueles que mais precisam. Durante grande parte da pandemia, os serviços para condições mentais, neurológicas e de uso de substâncias foram os mais interrompidos entre todos os serviços essenciais de saúde relatados pelos Estados Membros da OMS. Muitos países também registraram grandes interrupções nos serviços de saúde mental que salvam vidas, inclusive na prevenção do suicídio.
A NOÇÃO DE CRISE NO CONTEXTO DE PANDEMIA E REPERCUSSÕES EM SAÚDE MENTAL UTILIZA-SE UMA NOÇÃO DE CRISE QUE PODE SER DIVIDIDA, DIDATICAMENTE, EM TRÊS MOMENTOS: PRÉ-CRISE, INTRACRISE E PÓS-CRISE.
 - PRÉ-CRISE Na fase pré-crise, o planejamento é essencial. Esse momento deve envolver a avaliação de riscos, a qual deve ser atualizada regularmente, baseando-se na consulta a orientações técnicas fornecidas pela OMS sobre a COVID-19. Outra ação recomendada envolve a organização dos recursos financeiros e insumos, bem como a implantação de medidas focadas no controle da transmissão do vírus, como o distanciamento social. Durante uma pandemia, é importante aumentar a conscientização da população-alvo sobre a patologia, de modo a diminuir a ansiedade social e estimular mudanças comportamentais que poderão ajudar no controle da doença. Logo, a comunicação é útil na gestão de uma emergência sanitária que gera preocupação, ansiedade e pânico na sociedade.
 Na COVID-19, otimismo irrealista e emoções negativas podem ser desencadeadas, como consequência da influência midiática em torno da pandemia. Tanto o otimismo irrealista - que seriaa crença de que tudo dará certo, independentemente das ações dos atores envolvidos - quanto as emoções negativas - a exemplo da tristeza, angústia e medo - podem acentuar previsões distorcidas sobre a saúde. Nesses casos, tende-se a observar a percepção de menor risco de contaminação, com a adoção de comportamentos indesejáveis, como a quebra do distanciamento social - ou mesmo estimular as preocupações exageradas com a ameaça percebida, como o acúmulo de materiais de higiene e equipamentos de proteção, causando escassez para os profissionais da saúde.
Quanto aos desfechos em saúde mental, durante a pré-crise da COVID-19 na Itália, a duração da quarentena e/ou distanciamento social assim como a inadequação do espaço utilizado aumentaram a ocorrência de sintomas depressivos. Sintomas depressivos e aumento de comportamentos relacionados à dependência de substâncias, como o tabagismo, também ocorreram a longo prazo, conforme apontado em estudo com profissionais da saúde de Taiwan que cuidaram de pacientes com suspeita de SARS. 
O estresse agudo é outro fator presente nessa fase. Em pesquisa com pessoas de mais de quarenta países, como Espanha, Colômbia e Filipinas, observou-se que ‘maior preocupação em relação ao contágio’, ‘gênero feminino’ e ‘faixas etárias mais jovens’ se mostraram preditores significativos para maior nível de estresse.
- INTRACRISE O período intracrise, ou fase aguda, é o momento no qual o problema de saúde se instala, com a constatação da gravidade e vulnerabilidade ao adoecimento, e o reconhecimento do risco eventual de contágio.
Nesse estágio, já pode se visualizar a alta quantidade e a simultaneidade dos casos suspeitos e confirmados, situação que tende a sobrecarregar o sistema de saúde, levando ao colapso da assistência e agravando o cenário da pandemia. As internações e os óbitos pela COVID-19 tendem a ser frequentes, com capacidade cumulativa elevada e em prazo bastante curto, desde o início de apresentação dos sintomas ou agravamento do quadro. Esse fenômeno provoca intensas repercussões no funcionamento social e tem potencial de impactar severamente a saúde mental da sociedade, a exemplo do colapso dos sistemas de saúde e funerário que aconteceu em abril de 2020 no Equador, onde os corpos se encontraram nas ruas com presença até de urubus. Some-se a esse quadro o fato de que, devido ao alto potencial de contágio, familiares em todo o mundo não estão podendo velar nem enterrar seus parentes acometidos pelo vírus. Tal situação tem gerado uma série de questões emocionais, além daquelas que comumente já acompanham a perda.
Dentre os pacientes confirmados ou com suspeita da COVID19, são comuns relatos de tédio, solidão e raiva, juntamente com seus familiares próximos, os quais também têm sido foco de atenção, dado o fato de que alguns têm apresentado sintomas relacionados ao estresse pós-traumático. Surge com esses grupos, sintomas somáticos, insônia, ansiedade, raiva, ruminação, diminuição da concentração, mau humor e perda de energia devem receber atenção especial nos cuidados de saúde mental. Nesse momento, ocorre o aumento das preocupações consigo e com os outros durante a epidemia, o que passa a ser uma rotina cada vez mais exigente durante o intracrise. Isso tende a elevar carga emocional, física e de papéis sociais, facilitando o desencadeamento, agravamento ou recidiva de transtornos mentais ou doenças físicas.
Neste momento da crise percebe-se que as pandemias não são apenas um fenômeno biológico, pois afetam indivíduos e a sociedade em vários níveis, causando diversas perturbações. Por isso, durante o período intracrise ou mesmo desde meados do pré-crise, em diversos países, instituições médicas e universidades abriram plataformas online para fornecer aconselhamento psicológico para pacientes, familiares que estão em quarentena e outras pessoas afetadas pela pandemia, visando minimizar o pânico e separação da família.
-PÓS-CRISE O terceiro momento da crise pode ser compreendido como uma fase de reconstrução social. Após o declínio do número de novos casos e a diminuição da transmissão comunitária, as medidas de distanciamento social são reduzidas e o surto de contaminação tende a estar sob controle, ainda que não seja necessariamente inexistente. As pessoas começam a retomar as atividades habituais, há o retorno gradual do funcionamento das instituições e comércio, além de um menor nível de exigência de proteção contra o contágio.
Apesar da progressiva retomada da rotina diária em curto prazo, uma série de consequências da pandemia demanda prazos médio e longo para serem revertidas. Em pesquisa realizada na crise da COVID-19, verificou-se que, dentre 1.210 participantes, 53,0% apresentaram sequelas psicológicas moderadas ou severas, incluindo sintomas depressivos (16,5%), ansiedade (28,8%) e estresse de moderado a grave (8,1%). Os maiores impactos foram verificados no sexo feminino, estudantes e pessoas com algum sintoma relacionado à COVID-19, bem como naqueles que julgavam sua saúde como ruim. Outro estudo no pós-crise, realizado com cerca de 52 mil chineses, detectou que mulheres, pessoas com mais de sessenta anos, com maior nível educacional e migrantes foram mais vulneráveis ao estresse, ansiedade, depressão, fobias específicas, evitação, comportamento compulsivo, sintomas físicos e prejuízos no funcionamento social.
Outra consequência observada no pós-crise foi (ou mesmo “está sendo”) a discriminação e isolamento vivenciados por estudantes chineses, devido ao fato de serem considerados portadores em potencial do novo coronavírus. Dentre os participantes, foram encontrados indícios de maior vulnerabilidade ao estresse, ansiedade e medo persistentes. Atrelado a esse fenômeno, há preocupação quanto à estigmatização das pessoas que estão sendo tratadas ou mesmo foram curadas pela COVID-19 (ECDC, 2020), devendo-se evitar termos como “vítima da COVID-19”, “COVID positivo”, “contaminado pela COVID” ou “caso de COVID-19”, pois denotam coisificação e agregam maior sofrimento. É preferível o uso de expressões como “pessoa que foi diagnosticada com a COVID-19”, “pessoa que está com a COVID-19” ou expressões similares que não privilegiem a doença em detrimento do indivíduo. Caso a discriminação se consolide como resposta social, o receio pelo duplo dano relativo à COVID-19 (adoecimento e estigmatização) pode atrasar a busca pelo diagnóstico e cuidado apropriado, de modo a produzir uma ameaça adicional ao controle efetivo da doença na sociedade.
6)Identificar os desafios atuais para o cuidado dos portadores de transtorno mental no Brasil;
Não existe modelo único para a saúde mental na APS. Todos os envolvidos devem ser considerados na organização do serviço (usuários, familiares, profissionais da APS, profissionais de saúde mental e gestores). Nas situações estratificadas como de baixo risco, como as que apresentam sintomas leves a moderados de depressão, ansiedade e somatização, os sintomas tendem a se sobrepor, além de compartilharem os mesmos fatores de risco e padrões de evolução.
Nestes casos, os cuidados devem ser oferecidos com intensidade progressiva e os grupos não devem ser direcionados nem divulgados apenas para pessoas portadoras de um diagnóstico. Recomenda-se iniciar com cuidados de baixa intensidade (atividade física em grupo, panfletos de autoajuda, grupos de apoio), passando por grupos psicoeducacionais e de apoio que explorem questões como autoestima ou resiliência, evoluindo para o uso de terapia medicamentosa com supervisão especializada e psicoterapia em grupo ou individual, caso necessário. Atendimentos individuais, ou consultas compartilhadas em saúde mental, também podem ocorrer quando identificada a necessidade pela APS, e juntamente com os NASF, nos municípios que possuem tais equipes.
Nas situações estratificadas como de médio a alto risco, a APS desempenha papel importante no diagnóstico precoce, no início rápido do tratamento com intervenções rápidas e efetivas na crise, na manutenção do tratamento farmacológico e nos programasde reabilitação psicossocial para os quadros psicóticos crônicos estáveis. Os atendimentos em domicílio e os vínculos com as famílias facilitam estas intervenções. Conforme for a rede municipal, as equipes de APS devem contar com capacitação, supervisão e apoio matricial de profissionais do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF), e dos pontos de atenção secundária, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das equipes multiprofissionais especializadas em saúde mental. O usuário sempre continuará vinculado a APS de referência, onde o cuidado compartilhado tem se mostrado mais eficaz. Salienta-se, ainda, a necessidade de prover o cuidado para as comorbidades clínicas frequentes, não se limitando apenas ao fornecimento de medicação.

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