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A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Emanuel Isaque Cordeiro da Silva Edição final revisada ED IÇÃ O FIN AL RE VI SA DA E AJ US TA DA A Comissão Editorial e o autor, pedem desculpas pelo erro editorial cometido pelos integrantes deste projeto. Os erros foram analisados e resolvidos. Esta é a versão final do texto com as devidas correções realizadas de texto, diagramação e supervisão. O Comitê e o autor agradecem a compreensão e colaboração dos envolvidos. Instituto Agronômico de Pernambuco Departamento de Nutrição Animal Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária A Água na Nutrição Animal Emanuel Isaque Cordeiro da Silva Pesquisador do IPA e Embrapa Semiárido CREA-PE: 2211.9 Instituto Agronômico de Pernambuco Recife, PE 2023 Instituto Agronômico de Pernambuco Av. Gen. San Martin, 1317 CEP 50751-000 Recife, PE www.ipa.br www.ipa.br/fale-conosco/sac Responsável pelo conteúdo Instituto Agronômico de Pernambuco Departamento de Nutrição Animal (DNA) Estrada para Capoeiras, km 03 Zona Rural CEP 55370-000 São Bento do Una, PE Fones: (81) 3735-4904 (81) 99488-7291 Comitê Local de Publicações Presidente M. B. Wanderley Editor-chefe J. G. Fernandes Supervisão editorial A. A. S. Galdino Membros A. R. de Sousa A. F. da Costa Responsável pela edição Instituto Agronômico de Pernambuco, DNA Coordenação editorial J. G. Fernandes Revisão de texto C. R. G. de Freitas - IFPE Belo Jardim João Tavares Nunes Filho - UFCG Marianne C. Velaqua - IFPB Sousa Norma Teresa Falcón - Córdoba Normalização bibliográfica Marianne C. Velaqua - IFPB Sousa Joanne C. M. L. Paraíso - IFPE Recife Projeto gráfico e diagramação Caio Ulisses de Oliveira Brandão Capa Ludovico Violange Tavares 1ª edição Publicação original - PDF (2023) Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Instituto Agronômico de Pernambuco - DNA DA SILVA, E. I. C. A água na nutrição animal. 1 ed. Recife: Instituto Agronômico de Pernambuco, 2023. ISBN: 978-74-13458-74-8 1. Água. 2. Nutrição. 3. Metabolismo. 4. Requerimentos. 5. Produção animal. I. DA SILVA, Emanuel Isaque Cordeiro. II. Instituto Agronômico de Pernambuco. III. Departamento de Nutrição Animal. CDD 199 © IPA 2023© Emanuel 108 pgs. ilustradas Autor Emanuel Isaque Cordeiro da Silva Normalista, Técnico em Agropecuária, Especia- lista em Nutrição e Alimentação Animal e em Reprodução e Fisiologia da Reprodução Animal. Acadêmico em Zootecnia pela UFRPE. Pesquisador C1 do IPA e colaborador no Labo- ratório de Nutrição Animal da Embrapa Semiá- rido. CREA-PE 2211.9 Criador de aves caipiras, caprinos e ovinos em Be- lo Jardim, PE. Membro da SNC, APECCO, ARCOOVINOS, Capril Virtual, ABZ-PE e SBZ. Tutor de cursos pelo Capril Virtual e Senar. Belo Jardim e Recife, PE. Eduarda Carvalho da Silva Fontain Colaboradora na editoração do texto no Canva, Word e Google Docs. Estudante de Medicina pela UFPE. Especialista em água e recursos naturais pela APAC. Especialista em Biologia Geral pelo Colégio Adventista de Belo Jardim. Aperfeiçoada em Inglês e Francês pelo Instituto Brasileiro de Línguas (IBL). Recife, PE. Colaborou no prefácio e capítulo 1. Dedicado à Arthur, Vinícius, Emanuelly "Flor", Eduarda, IPA e Embrapa Semiárido Apresentação panharam a chegada dos portugueses, como o caso dos bovinos, que chegaram à costa baiana no século XVI e os frangos que vieram junto as caravelas de Pedro Alvares Cabral. Neste contexto, desde o período colonial os animais de produção vêm consumindo recursos do Brasil, desde os alimentos como milho, soja e as forragens que retiram nutrientes do solo até a água, cerne deste trabalho. A produção animal possui grande importância para o Brasil. A maioria dos animais de produção acom- Sabemos que o Brasil é um país dotado de inúmeras fontes de água, possuindo o maior rio do mundo, o amazonas, além dos dois maiores aquíferos do mundo, o maior localizado na Amazônia e o segundo com 70% no Brasil, o Guarani. Não obstante, apesar de ser um país rico na questão água, apenas 2,5%, ou menos, da água do mundo é doce, porém apenas 0,003% é própria para o consumo humano e animal, tratando-se da água doce ou fresca. Sendo assim, é necessário um estudo minucioso do panorama da pecuária do país e das fontes de água que estão disponíveis para o consumo animal. Esta publicação reúne informações necessárias a todos os estudantes, produtores e leigos que preten- dem atuar ou conhecer acerca da água na nutrição animal, desde suas funções até os requerimentos dos animais, uma vez que esta é imprescindível e mais requisitada pelos animais de produção. Permite ainda, a tomada de decisões do pecuarista em sua fazenda; dos técnicos responsáveis pela qualidade e produção; do estudante em sua formação; e, além de tudo, dos possíveis extensionistas na aplicação das técnicas de manejo adequadas e indicadas para o fornecimento de uma água de qualidade que garanta bons índices produtivos e o bem-estar dos animais. Anseia-se que a sapiência apresentados aqui possam ser válidos ao desenvolvimento e ao fortalecimento do estudo da água na nutrição animal, garantindo uma linguagem simples, didática, científica, direta e objetiva aos produtores, técnicos, estudantes e leigos, uma vez que a atual situação hídrica não só do Brasil, mas do mundo, exige tomada de decisões que visem a sustentabilidade e manutenção dos recursos dos mananciais de água doce do país e do mundo, já que é um elemento finito e a privação deste acarreta a morte prematura em 3 dias. Esperamos que este livro possa instigar aqueles que possuem afinidade pela produção animal, em espe- cial pela nutrição animal, uma vez que consideramos a água um nutriente essencial para a vida produtiva e reprodutiva animal, além de que motive o produtor rural, grande responsável pelo consumo hídrico no país, que possam manejar a água com sustentabilidade e conscientização, para alavancar a produção através dos bons índices de produção e pelo bem-estar e conforto animal, pois um animal em conforto e saciado produz mais e melhor. J. G. Fernandes Editor-chefe e Coordenador editorial do IPA Prefácio Existem inúmeras informações nos livros de nutrição animal acerca da água, alguns a trazem superfici- almente, outros aprofundam-se mais visto que possui grandes impactos no organismo animal e na produção em si. Nada obstante, o professor Cléber R. G. de Freitas, proferindo o assunto de água para aves e suínos no ano de 2017, chamou a atenção para a escassez de um material robusto e único para a água na nutrição animal, trazendo não apenas as funções da água no organismo dos animais, mas que trouxesse tabelas sobre a importância da água, os índices de qualidade da água, as fontes de água para os animais, as exigências e, por fim, as equações que estimem cientificamente o consumo diário de água pelas diferentes espécies. Mais de 5 anos depois, essa realidade não é muito diferente. Pouca atenção é dada a água na nutrição animal, sendo dado ênfase às proteínas, aminoácidos, energia e suas repartições, minerais e vitaminas, não sabendo eles, ou negligenciando que sem água não ocorre oxidação dos nutrientes, não ocorre absorção de nutrientes, não ocorre transporte de nutrientes, não ocorre vida. O que ocorre na literatura sobre a água é bastante deslocado, o que se encontra em profundeza sobre a mesma está em livros que muitas vezes são indisponíveis para o público e para os produtores; há inúmeros artigos de base, principalmente para o NRC e suas publicações que apresentam algumas equações, também de difícil acesso. Diante desse cenário de escassez e dificuldade de informações, esta obra está dividida em capítulos que abordam desde a quantidade de animais e o gasto diário com o consumo, até as equações e exigências de água das mais variadas espécies no clima tropical e quente do país. Além disso, trazemos informações objetivassobre o manejo da água e a qualidade da mesma para o consumo animal. Tal esforço do pesquisador Emanuel visa suprir o déficit da falta de orientação clara e objetiva e do conhecimento técnico-científico sobre a água para que produtores visem a produção com conscientização, cuidado, respeito e sustentabilidade. Reverter o pensamento de muitos que negligenciam a água como fator limitante da produção animal ainda é um sonho, mas passível de ser realizado. Os esforços do pesquisador Emanuel são para que suas obras, assim como esta, chegue à todos os interessados completa de um acervo de conhecimentos, orien- tações e recomendações técnicas destinadas para o avanço e reversão da opinião dos leitores sobre a água e sua importância, além de fomentar uma produção alicerçada na qualidade, bem-estar e sustentabili- dade. Espera-se que com a disponibilização dessas informações, de forma gratuita, contribuam para que sejam obtidos avanços favorecendo o aumento da oferta e da qualidade dos produtos animais. Eduarda Carvalho da Silva Fontain Colaboradora no livro Capítulo 1 A água e o consumo animal...............................................................................1 Capítulo 2 A água é um nutriente?......................................................................................2 Capítulo 3 Quantidade de água no corpo animal...............................................................3 Capítulo 4 Importância e Funções da água.........................................................................3 Fatores que afetam a quantidade de água no corpo animal...............................................3 Capítulo 5 Balanço hídrico e estímulo de sede....................................................................3 Estímulos hormonais para a sede e balanço hídrico............................................................3 Capítulo 6 Atributos da água para consumo animal...........................................................3 Capítulo 7 Água salina afeta a sanidade e performance animal..........................................3 Capítulo 8 Fontes de água para os animais..........................................................................3 Capítulo 9 Requerimentos de água pelos animais.............................................................333 Exigências de água das aves.................................................................................................30 Exigências de água de bovinos de corte...............................................................................35 Exigências de água de bovinos de leite.................................................................................35 Exigências de água de bubalinos........................................................................................35 Exigências de água de cães e gatos........................................................................................35 Exigências de água de caprinos............................................................................................35 Exigências de água de coelhos.............................................................................................35 Exigências de água de equinos............................................................................................35 Exigências de água de ovinos................................................................................................35 Capítulo 11 Água nos alimentos..........................................................................................3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................3 ANEXOS................................................................................................................................3 Sumário 1 7 9 10 13 16 17 19 24 29 33 38 41 47 48 51 54 56 58 Exigências de água dos suínos............................................................................................62 Capítulo 10 Metabolismo e perdas de água........................................................................70 75 75 82 Capítulo 12 Fatores que afetam o consumo de água......................................................... 87 79 Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 1 Capítulo 1 A água e o consumo animal Eduarda Carvalho da Silva Fontain Coautora do capítulo Da água doce de rios, lagos e lençóis freáticos, 33 a 88% é direcionada para a agricultura em proporções variáveis dependendo da área e do local de captação de água. Destes, apenas 0,6% é usado para o consumo direto pela pecuária ou atividades indiretas associadas com a criação de animais de produção. A distribuição do efetivo de animais pelos continentes está associada e dependente da fonte de água existente e da capacidade dos animais de tolerar, em muitos casos, a deficiência (escassez) e a baixa qualidade da água, como é o caso de animais criados na África. No corpo animal, a água desempenha funções metabólicas, reprodutivas, produtivas e de crescimento. A privação ou a deficiência de água doce afeta essas funções, porém espécies de zonas áridas e semiáridas desenvolveram adaptações para essas condições. Existem grandes diferenças entre as necessidades de água de acordo com o clima, a região e o sistema de produção, por exemplo entre a pecuária no Semiárido e na zona Árida de sistema extensivo e pastoril, em comparação com a pecuária no sistema intensivo de produção. A qualidade da água em muitas regiões é ruim em termos de salinidade e contaminação com e- lementos tóxicos. Em regiões Áridas e Semiáridas, a água tende a apresentar grande quantidade de cloreto, por isso as pesquisas são direcionadas para a escolha de espécies mais resistentes para á-guas de baixa qualidade, além de tecnificar e orientar fazendas nessas regiões para o tratamento e o bom uso dos recursos disponíveis. A água, alcunhada de "a seiva da vida na Terra" pelo meu falecido avô, e sua distribuição pelo planeta é bastante heterogênea e complexa quando o que se visa é a manutenção da vida. Rico em água, o "Planeta azul" não consegue satisfazer as necessidades de água doce mesmo estando coberto por enormes superfícies de água, cerca de 71% do total, no entanto, quase toda a água disponível é salgada. Os mares e oceanos somam cerca de 97% da superfície ocupada por água e apenas 2,9% corresponde às aguas doces superficiais ou subterrâneas. Desses 2,9%, 2,5% são armazenados em geleiras que não podem ser uma fonte viável de água doce, 0,397% correspon- dem a águas poluídas, um absurdo. O restante, apenas 0,003% é água que pode ser usada como fonte de água doce, porém essa distribuição é bastante desigual. As regiões mais desfavorecidas do planeta são as Áridas e Semiáridas que ocupam cerca de 30% da área total da Terra e se estendem por 80 países onde o grau de evaporação é maior que a quantidade de chuva (200-250 mm de chuva/ano, 250-600 mm/ano de evaporação, região Ári- da). No Brasil, a região de grande escassez de água é a Nordeste que possui a maior parte de região Semiárida e uma boa parcela de áreas áridas. 2 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL A água doce é de extrema importância para os animais de produção. A crise hídrica entra na categoria dos 10 maiores riscos globais. Em todo o mundo, 70% da água de rios, lagos e lençóis freáticos é direcionada para a agricultura com grandes diferenças entre a Europa com 33% desse total e o continente africano que consome 88% desse total (APPUHAMY et al., 2016). Fornecer água potável para os animais de produção é de suma importância para a manutenção das funções vitais e produtivas que dependem de uma série de fatores, tais como a espécie, peso corporal, estado fisiológico, dieta, temperatura, frequência de fornecimento da água, tipo de es- tabulação ou instalações e estresse ambiental. A água também é utilizada em atividades indiretas na produção que incluem a limpeza dos animais, limpeza das instalações e equipamentos, lavagem e preparação de forragens para a alimentação,abate, processamento de produtos de ori- gem animal e curtimento de peles. Nada obstante, as exigências de água para satisfazer a necessi- dade de água potável, como também de outros serviços, é de apenas 0,6% da água doce destinada para a agricultura (RAN, 2010). A gestão dos recursos hídricos para a produção pecuária deve levar em conta diversos aspectos, tais como o sistema aplicada à produção (grãos ou misto lavoura e pecuária), o sistema de criação intensivo ou extensivo de várias espécies de animais, bem como os aspectos sociais e culturais da pecuária em diferentes países e culturas. Os requerimentos de água são maiores no sistema extensivo do que no sistema intensivo (industrial) que é controlado (SCHLINK et al., 2010). Nesse cenário temos o Brasil, com grandes fontes de água superficial e subterrânea, mas com recursos também limitados. Cabe salientar que, assim como é peremptório em outras regiões, no nosso país, a distribuição da água voltada para a agropecuária é desigual. Grande parte da água potável é destinada para a irrigação de culturas tais como milho, soja, algodão etc., uma pequena parcela é destinada para o consumo animal, sendo, por vezes, uma água residual de baixa qualida- de. A água é um nutriente às vezes subestimado. Os animais geralmente têm acesso a muita água e não nos preocupamos muito em fornecê-la. Todavia, quando colocamos animais em aloja- mentos intensivos, ou fontes naturais de água que secam durante as secas ou por qualquer outro motivo, então a importância da água e as consequências da falta dela imediatamente tornam-se óbvias. Segundo especialistas da ANA e Compesa, estima-se que 3,43% da água é disponível na região Nordeste, o que torna um fator limitante à produção animal na região Semiárida dada as adversidades da seca e da alta demanda de água para o consumo animal. A água é um nutriente essencial para o corpo animal, desde sua gênese embrionária até a morte é o elemento mais abundante do corpo. Em suínos, na fase embrionária, constitui 95% do embrião e na fase adulta, onde o animal está apto para o abate, constitui 50% do animal. Dada sua relevante e expressiva importância atualizamos esse guia para produtores e especialistas na área animal sobre o consumo de água pelos animais e a qualidade desta para o consumo. A figura 1 apresenta o efetivo pecuário do Brasil em 2021. Tomando como base os dados apresentados pelo IBGE, e tendo uma margem de consumo médio dos animais, podemos estipular o consumo de água pelos animais em um dia. 50% de água no abate Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 3 Capítulo 1 - A água e o consumo animal Realizando cálculos básicos através dos dados da figura 1, e estimando o consumo médio dos animais (claro que os valores são apenas teóricos, para visualizarmos mais ou menos o quanto de água é gasto no consumo animal) temos: Figura 1: Efetivo da produção animal no Brasil. Fonte: IBGE, 2021. Galináceos (frangos de corte, poedeiras e matrizes) 1,53 bilhões x ±0,10 litros/animal/dia = 153 milhões de litros/dia Bovinos (bois, vacas, novilhas, novilhos, bezerros e bezerras de corte e leite) 224,6 milhões x 25 litros/animal/dia = 5,61 bilhões de litros/dia Suínos (porcos e porcas) 4,96 milhões de reprodutores x 15 litros/animal/dia = 74,4 milhões de litros/dia 36,6 milhões (restante) x 8 litros/animal/dia = 300,8 milhões de litros/dia 4 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Ovinos e caprinos (ovelhas, carneiros, cordeiros, bodes, cabras e cabritos) 32,4 milhões x 4 litros/animal/dia = 129,6 milhões de litros/dia Codornas 15,3 milhões x 0,05 litros/animal/dia = 765 mil litros/dia Equinos (éguas, cavalos, potros e pôneis) 5,7 milhões x 15 litros/animal/dia = 85,5 milhões de litros/dia Bubalinos (búfalos e búfalas) 1,5 milhões x 20 litros/animal/dia = 30 milhões de litros/dia Com o efetivo de animais e o consumo médio por cabeça por dia, temos que aproximadamen- te 6,39 bilhões de litros diários de água, equivalente a 6,39 milhões de m³, são destinados para o consumo animal. Tomando como base um consumo per capita de 150 litros/dia no Brasil, os 6,39 milhões de m³ de água para consumo animal, abastece aproximadamente o equivalente a 42,6 milhões de pessoas em um dia, o que, em números, equivale a quase duas vezes a Região Metropolitana de São Paulo, ou seja, o consumo de água por dia dos animais de produção no Brasil é igual ao abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo por dois dias. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 5 Capítulo 1 - A água e o consumo animal Representação gráfica dos gastos com a água para as espécies de interesse zootécnico no Brasil em 2022. Bovinos 87,9% Suínos 5,9% Caprinos e ovinos 2% Codornas Equinos 1,3% Bubalinos 0,5% Aves 2,4% Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 7 Alguns nutricionistas, de humanos ou de animais, classificam a água como não sendo um nutriente para o animal, já que não fornece energia, lipídeos, glicose ou outra substância alimentícia ao corpo para realização de suas funções. Todavia, outros classificam a água como sendo um nutriente não energético, ou seja, é um nutriente, porém não fornece calorias ao corpo como acontece com os sais minerais e as vitaminas. Por sua vez, outros a classificam como sendo o nutriente mais essencial ao corpo, perdendo apenas para o gás oxigênio; sendo um nutriente essencial que possui sais minerais dissolvidos em sua composição, ou seja, possui minerais e pode conter vitaminas dissolvidas dependendo da fonte onde se capta a água de beber. Capítulo 2 A água é um nutriente? Sabemos que a mesma está envolvida em basicamente todos os processos bioquímicos do me- tabolismo e faz parte da maior parte da composição corporal dos animais, sendo assim, é errôneo e, de certo, um despautério negligenciar as recomendações de administração de água pelos animais. Sem esse elemento o animal sucumbirá e não produzirá. Fornecendo calorias ou não, fornecendo aminoácidos para a síntese de proteínas no corpo ou não, ou, de alguma forma, fornecendo vitaminas e minerais dissolvidos em sua composição ou não, temos a água como um nutriente de essencial importância para a demanda das funções fisio- lógicas e de vida dos animais. x Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 9 Como apresentado, a água é o constituinte mais abundante do corpo animal, podemos dizer que a quantidade varia com relação ao sexo, peso vivo, idade, condições nutricionais e genótipo dos animais, a média é que de 60 a 75% do corpo animal seja constituído por água, o restante se distribui em proteínas, lipídeos, açúcares, minerais etc. A queda na composição de água no corpo está relacionada a um aumento paralelo em lipídeos e proteínas e, nas aves, principalmente nas proteínas das penas que, diferentemente das proteínas endógenas, não possuem uma quantidade relativamente fixa de água. A tabela 1 apresenta a média de água presente nos animais. A figura 2 apresenta o decréscimo de água conforme a idade do frango de corte macho. Capítulo 3 Quantidade de água no corpo animal Em uma determinada idade, as fêmeas geralmente contêm uma proporção menor de água; o fenômeno é ainda mais pronunciado à medida que os animais se aproximam da maturidade sexual. As condições nutricionais, mencionadas supra, intervêm principalmente através da lipogênese, ou seja, a síntese de ácidos graxos através do excedente de energia que o animal possui. O efeito do genótipo é explicado, em grande parte, pelo estado de engorda dos animais. O efeito de machos possuírem mais água é atribuído também a maior superfície corporal, maior o animal, mais tecido muscular e adiposo logo, mais água. Tabela 1: Porcentagem de água presente na composição corporal dos animais 10 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Figura 2: Decréscimo de água corporal conforme idade em frangos de corte macho. Fonte: Adaptação de LARBIER & LECLERCQ, 1992. Fatores que afetam a quantidade de água no corpo Efeito da idade no teor de água: o maior teor de água está presente no feto que diminui rapidamentedurante a primeira semana de vida (tabela 2); Conteúdo de água de diferentes tecidos corporais: no dente, tecido adiposo e tecidos esqueléticos estão os menores conteúdo de água. Os maiores conteúdos de água estão no citoplasma das células e no líquido cefalorraquidiano (tabela 3); Além disso, o teor de água difere conforme as espécies (tabela 1) e também entre forragens e gramíneas, assunto tratado posteriormente. Tabela 2: Efeito da idade no conteúdo de água corpo- ral Tabela 3: Conteúdo de água dos diferentes tecidos corporais Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 11 Capítulo 3 - Quantidade de água no corpo animal Para que o conteúdo de água do corpo se mantenha em equilíbrio, o conteúdo de água que entra deve ser igual ao conteúdo de água de saída, mantendo a homeostase. Figura 3: Variação na composição corporal de um bovino com o avançar da idade. É normal que, com o avançar da idade, o conteúdo de água corporal tende a diminuir, enquanto que outros tecidos como principalmente o adiposo tende a aumentar, uma atividade fisiológica normal que ocorre em todas as espécies animais, inclusive a espécie humana. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 13 A água está envolvida em inúmeros processos no organismo animal. Podemos citar cerca de 19 propriedades e funções da água para o organismo animal entrar em hemostasia. Como dito supra, a água é primordial ao corpo animal. Segundo autores, um animal pode perder de 90 a 100% de sua gordura corporal, 50 a 60% de sua proteína e 40% do peso corporal e continuar vivo, mas se o animal perder 10 a 15% de sua água corporal ele morre. Com a perda de 4 a 5% da água corporal o animal já fica inquieto e perde o apetite. A literatura ainda cita que um bovino adulto sobrevive a escassez total de comida por até 30 dias, ou seja, com 30 dias de fome o animal fica apático, debilitado e em estado de inanição, mas sobrevive, porém se o animal não ingerir água por uma semana ele morre. Capítulo 4 Importância e funções da água Possui alto calor específico, em outras palavras, consome grande quantidade de calor e altera pouco sua temperatura nesse processo, sendo essencial no papel de termorregulação do organismo, principalmente quando existe trabalho muscular intenso como equinos de corrida ou de tração intensa; A termorregulação também se dá dado ao alto calor latente de vaporização da água, isto é, quando o animal está em trabalho intenso, como um cavalo quarto de milha em vaquejada, a passagem da água do estado líquido para o vapor consome grande quantidade de calor do organismo mantendo a temperatura corporal adequada; Possui baixa viscosidade, sendo de suma importância para o sistema circulatório, onde o sangue necessita passar por capilares do diâmetro de um fio de cabelo; O transporte de gases, em particular o oxigênio necessário para as reações de oxidação celular e o dióxido de carbono produzido por essas reações; É o melhor solvente natural do organismo, ou seja, solubiliza os nutrientes o que facilita o transporte de glicose, aminoácidos ou gordura, por exemplo, do intestino para as mais variadas partes do corpo através do sangue; É um lubrificante natural das articulações através do líquido sinovial, como por exemplo o existente na articulação metacarpo e metatarso; além do humor aquoso que lubrifica os olhos e dá o aspecto brilhoso ao órgão; Participa na transmissão da luz sendo o globo ocular bastante lubrificado pela água que deixa a luz passar para que seja formada a imagem no centro óptico. Também na transmissão do som pela perilinfa, um líquido intra-auricular responsável pela transmissão do som nos ouvidos; 14 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Em contato com íons há tendência de formação de hidratos que aumenta a solubilidade dos íons e, como consequência, aumenta a solubilização de proteínas pouco solúveis; Participa na digestão das proteínas, carboidratos e lipídeos devido ao alto poder de hidrólise, participando não só da digestão, mas também da absorção; Está envolvida na eliminação de resíduos para órgãos especializados como os rins e fígado; Participa no transporte de hormônios responsáveis pela transmissão desde a glândula de origem até os órgãos transmitindo sinais de regulação; Serve de colchão d'água para o sistema nervoso através do fluido cefalorraquidiano; É um componente estrutural e ativo do corpo, estando acima de outras substâncias com relação ao ritmo de trocas; Íons em contato com a água são separados em seus íons componentes, por exemplo, o NaCl em contato com meio aquoso rompe a molécula e separa o Na do Cl (NaCl + H2O = Na + Cl), isso se dá pelo efeito poderoso da constante dielétrica, sendo de suma importância para que o animal possa utilizar as substâncias minerais; Possui alta tensão superficial, devido às ligações de hidrogênio, ficando aderida a outra substância de maneira intensa; É o produto final do metabolismo energético dos nutrientes, ou seja, o organismo utiliza os nutrientes orgânicos como os carboidratos, proteínas e lipídeos para a produção de energia e libera duas substâncias simples a água e o gás carbônico, que são facilmente eliminados, seja pela respiração como é o caso do gás carbônico ou por outras vias como é o caso da água; A regulação da homeostase celular, porque a integridade das células depende muito de parâmetros (osmolaridade, pH etc.) do meio que as envolve. Dentro das células, a água serve também na realização de trocas entre organelas celulares, em particular entre mitocôndrias e citosol; Seu peso varia conforme a temperatura, sendo mais pesada a 4°C deslocando a água mais quente do fundo para a superfície, fazendo com que a temperatura se mantenha para possibilitar a manutenção de algum organismo; É parte essencial para formação da casca do ovo, juntando-se ao CO2 para formar HCO3 (bicarbonato) para formar carbonato de Ca, componente estrutural da casca do ovo. Em linhas específicas temos que ela é essencial pois está envolvida na regulação da temperatura corporal; é um solvente universal, por exemplo, os nutrientes necessitam ser solubilizados para serem “absorvidos”; possui poder ionizante importante em todas as reações bioquímicas; está envolvida no transporte de nutrientes e resíduos; lubrifica o corpo; fornece uma “almofada” para fetos, sistema nervoso etc.; é necessária para a produção de leite para animais lactentes. Assim, a estreita relação entre ingestão de alimentos e de água, reflete as múltiplas interações de água e trocas energéticas dos tecidos e células. Sendo assim, possibilita as reações consideradas vitais para sobrevivência do organismo, bem como participa significativamente desses processos metabólicos. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 16 O corpo dos animais está constantemente perdendo água, assim sendo, a evolução de mecanis- mos para encontrar e consumir água foi fundamental para a sobrevivência dos animais. O responsável pelo controle do conteúdo de água é o cérebro, que transforma a informação física em resposta de sede e, consequentemente, para consumo de água. Capítulo 5 Balanço hídrico e estímulo da sede O balanço hídrico (diferença entre entradas e saídas) é regulado com muita precisão. Ambas as regulações predominantes são a ingestão hídrica ligada à sensação de sede, o que permite modular as entradas e a reabsorção de água no rim sob controle hormonal pela arginina- vasotocina (AVT) que regula as saídas nas aves e a arginina-vasopressina ou ADH nos mamíferos. A AVT tem origem neuro-hipofisária cuja estrutura é relacionada à vasopressina e à ocitocina de mamíferos. O estímulo da sede é desencadeado por receptores (pressão osmótica ou receptores de íons como Na+) localizado na região hipotalâmica e justaventricular. Angiotensina II, um hormônio de origem hepática cuja síntese é desencadeada pela renina, estimula esses centros nervosos de acordo com a figura 4. Figura 4: Regulação neuro-hormonal do balanço hídrico em aves e mamíferos. Fonte: Adapta- ção de LARBIER & LECLERCQ, 1992. 17 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL A regulaçãorenal consiste em uma reabsorção mais ou menos intensa de água pelos glomérulos dos rins sob o efeito da AVT (aves) e ADH (mamíferos). Os fatores que desencadeiam sua secreção são: o aumento da pressão osmótica plasmática, queda na pressão sanguínea ou queda no volume sanguíneo (hipovolemia). Sensores específicos informam a hipófise, que então libera o hormônio. Esses sensores são osmo-sensores localizados na hipófise ou receptores de pressão localizados na parede da aorta ou artérias carótidas. Assim, um aumento na pressão osmose sanguínea ou um alto suprimento de cátions Na+ causam um secreção de AVT/ADH e uma intensa reabsorção de água a nível renal. Estes são os mecanismos implementados que funcionam durante a privação de água, ingestão de alimentos enriquecidos com sal ou hiperventilação pulmonar causada por altas temperaturas. Da mesma forma, uma perda de água por hemorragia ou durante a síntese de clara de ovo (plumping) leva à secreção de AVT/ADH e consequente consumo de água. Neste último caso, ocorre uma secreção de angiotensina II em paralelo, informando o centro nervoso da sede mencionado supra. Estímulos hormonais para a sede O estímulo hormonal mais potente para a sede é a angiotensina II, que é gerada quando a enzima renina é secretada pelos rins em resposta à hipovolemia ou hipotensão. Outros estímulos hormonais para a sede são secretados pelo estômago e pâncreas durante a alimentação, bem como pelos ovários durante a gestação. O peptídeo natriurético atrial (PNA), um potente inibidor da sede, é secretado pelo coração em resposta à hipertensão. Os estímulos fisiológicos que induzem a secreção de hormônios relacionados à sede incluem alterações no volume e na pressão plasmática, bem como na alimentação e na gestação. Diminuições no volume sanguíneo e na pressão aumentam os níveis do hormônio dipsogênico angiotensina II, enquanto aumentos no volume sanguíneo aumentam os níveis do hormônio inibidor da sede PNA. Balanço hídrico Temos que a água ingerida através da bebida livre, dos alimentos e metabólica deve ser igual a quantidade de água perdida através da sudorese, urina, fezes, leite, feto (eventualmente). Tabela 4: Balanço hídrico diário de vacas holandesas alimentadas com forragem (leguminosas). Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 19 É fato que a água de muitas regiões do Brasil, principalmente a Semiárida, possui um certo grau de salinidade, sendo denominada água salobra, devido ao depósito dos compostos minerais na superfície do solo, já que não há muita chuva esses íons ficam em superfície e não são lixiviados, dando característica alcalina ao solo que, por sua vez, possui influência na água. Capítulo 6 Atributos da água para consumo animal Segundo a literatura, codornas suportam certo grau de salinidade, não comprometendo sua produção de ovos ou carne, entretanto outros animais não suportam graus medianos à elevados de sólidos dissolvidos totais (SDT) na água o que compromete a produção e a sanidade do animal. Uma água salobra já apresenta determinado risco para a produção e saúde do animal. O SDT é uma medida de todos os minerais que estão dissolvidos na água, provenientes da percolação do solo e das formações de rochas. Para explanar melhor acerca dos atributos da água para a bebida animal vamos supor um rebanho de caprinos da raça Kalahari Red, com 35 kg de peso vivo (PV), criados semi-extensivo ou semi-intensivamente, ao qual os animais são soltos de manhã (6h) e são confinados à tarde (17h) no município de Serra Talhada, Sertão de Pernambuco. Nessa região, há a presença da bacia do Pajeú, e a presença da barragem jazigo. A tabela 5 apresenta os parâmetros de qualidade da água da barragem e compara os limites e médias de sólidos e de atributos da água, segundo autores. Tabela 5: Qualidade da água de bebida para caprinos em Serra Talhada e comparação com os níveis limites de sólidos dissolvidos totais (SDT) e outros parâmetros, todos expressos em mg/L 20 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Analisando a tabela 5, dos valores apresentados na barragem e comparando com os níveis ide- ais para ingestão de água, notamos que a água da barragem jazigo pode ser utilizada pelos animais sem quaisquer problemas. Entretanto, em outras cidades, como é o caso de Belo Jardim, essa realidade pode não ser a mesma devido aos 89% de sua água subterrânea ser salina, 7% ser salobra e apenas 4% ser doce; além disso, na cidade há depósito de minerais pesados e tóxicos como é o caso do chumbo, dada a presença da empresa de baterias Moura, conforme SILVA (2012) destacou em sua dissertação. Dependendo do tipo de solo, as águas subterrâneas podem carregar cargas variáveis de minerais dissolvidos. SILVA (2021) recomenda limites inferiores para Cu na água potável de 0,5 mg/L para ovinos, 1 mg/L para bovinos e 5 mg/L para suínos e aves. Os níveis de flúor não devem exceder 2 mg/L, e Ca deve ser inferior a 1000 mg/L, desde que Mg e Na não sejam excessivos e que a dieta forneça concentrações adequadas de P. Sulfatos até 1000 mg/L não são susceptíveis de causar problemas, mas os níveis até 2000 mg/L podem afetar adversamente animais jovens ou lactantes. Os níveis de Se e Zn dissolvidos não devem exceder 0,02 e 20 mg/L, respectivamente. Nitratos e nitritos podem ocorrer na água potável, SILVA (2021) recomenda nitrato máximo de 400 mg/L na água potável e não mais de 30 mg/L de nitrito. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 21 Capítulo 6 - Atributos da água para consumo animal A água em si é considerada como não tóxica, mas os problemas com esta surge através da contaminação por micróbios, parasitas, minerais e várias outras substâncias tóxicas, como pesticidas, herbicidas, fertilizantes químicos etc. A qualidade da água afeta o consumo, a produção e sanidade do animal. PAIVA et al. (2017) estudaram o efeito de 4 tratamentos com diferentes níveis de sólidos dissolvidos totais na água de beber de caprinos, a conclusão foi que sob um nível até 9.000 mg/L de SDT afeta o consumo dos animais, no entanto não deprime a produção de leite. Porém, níveis excedentes podem ocasionar ou proporcionar o aparecimento de doenças ou queda na produção devido ao baixo consumo de água. Substâncias como sais, organismos patogênicos, algas e pesticidas poluem a água e podem afetar a palatabilidade. Os sais minerais incluem carbonato e bicarbonatos, sulfatos e cloretos de Ca, Mg, Na e K. Outras substâncias tóxicas na água incluem nitrato, sais de ferro e hidrocarbonetos. A contaminação com nitrato é comum em áreas de cultivo intensivo dada a intensa adubação nitrogenada. Concentrações acima de 1.500 mg/L podem causar toxicidade causando morte por anóxia. Os sais de ferro nas águas subterrâneas causam depósitos de ferrugem nas tubulações e podem causar contaminação bacteriana por bactérias que utilizam o ferro. Pesticidas como Malation e organofosforados podem entrar em sistemas de água e podem ser tóxicos. Certas algas verde-azuladas em lagos podem produzir substâncias tóxicas. Toxicidade nos animais causando vômitos, espuma, tremores musculares, danos ao fígado e morte são relatados devido à intoxica- ção por algas cianogênicas. A qualidade da água pode influenciar o desenvolvimento da polioencefalomalácia, uma doença não infecciosa que afeta o cérebro de bovinos confinados. A maioria dos animais afetados apresenta deambulação sem rumo, desorientação, cegueira, decúbito, postura de contemplação das estrelas e edema no cérebro, causando uma “moleza” no cérebro. A água rica em sulfatos promove a polioencefalomalácia, aparentemente por meio de uma interação complexa com outros minerais e vitaminas do complexo B. A maioria dos animais domésticos pode tolerar uma concentração total de sólidos dissolvidos de 15.000 a 17.000 mg/L. A água contendo menos de 1.000 mg/L de SDT é segura para todas as classes de animais. Em níveis mais altos (>5.000-7.000 mg/L), pode causar diarreia leve e aumento da mortalidade em aves, mas pode ser aceitável para outros animais como caprinos. O fornecimento deágua salobra, salina ou com grande quantidade de sólidos totais como nitratos, nitritos e microminerais tóxicos propicia uma susceptibilidade à patogenias como acidose, alcalose, diarreias etc. nos animais. Na prática, destacamos que a água de bebida dos animais deve ser fresca, limpa, sem gosto, livre de impurezas, fria em temperaturas quentes e quente em temperaturas frias, e, de suma importância, deve-se realizar, se possível, análises sobre a qualidade da água a cada 6 meses ou um ano. Ou seja, a água para os animais deve ser da mesma qualidade, ou próxima, que a consumida pelo homem. O suprimento de água fresca e limpa é necessária para uma fermentação e metabolismo ruminal normal, no caso de ruminantes; propiciar um fluxo adequado de alimentos, digestão e absorção intestinal adequada, volume sanguíneo normal e atender as necessidades dos tecidos para ruminantes e não ruminantes. 22 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL A tendência atual do mundo foca na preocupação com a qualidade da água e o seu reflexo sobre o desempenho animal , por isso o tema qualidade da água para dessedentação de animais de produção é tão importante. No Brasil, a resolução normativa número 357 de 2005 estabelece a classificação das águas, segundo a sua utilização, definindo parâmetros de qualidade a serem atendidos para cada classe. A água para os animais se classifica como classe 3, segundo a RN: Ainda segundo a RN, o pH ideal para a dessedentação animal deverá estar entre 6,5 a 9. Um pH inferior a 6,5 se enquadra como água fortemente ácida e pode provocar/facilitar situações de acidose (em ruminantes, principalmente) e redução da ingestão dos alimentos, além de corrosão das canalizações e dos equipamentos de fornecimento. Um pH superior a 9 se enquadra como água fortemente alcalina e pode provocar distúrbios digestivos e diarreias, diminuição da eficiência de conversão alimentar e redução da ingestão de alimentos em todas as espécies de interesse zootécnico. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 24 Como supracitado e agora enfatizado, a água pode conter sais dissolvidos, principalmente Ca, Na e Mg carbonatos, bicarbonatos, cloretos, fosfatos e sulfatos, e outras substâncias como nitratos. O total de sais minerais é chamado de sólidos dissolvidos totais (SDT). Quando a concentração de SDT excede a capacidade do animal de excretar esses elementos então começa a sofrer com os efeitos da água salina (“água salina" é um termo geral para água que contém grandes quantidades de sólidos dissolvidos, independentemente de quais sejam esses sólidos). Capítulo 7 Água salina afeta a sanidade e a performance animal Por que a salinidade da água causa problemas? Água salina pode ter sérios efeitos adversos na saúde e na produtividade. Quando os níveis de SDT excedem os níveis de tolerância do animal à salinidade, o consumo de ração diminui, sua capacidade de lidar com o estresse térmico é com- prometida, a produção diminui e o animal pode morrer. Quando um animal ingere água salina temos a sequência de eventos que é ilustrada na figura 5. Como o teor de SDT na água potável aumenta, o animal precisa de mais água para excretar resíduos na urina. Como esses resíduos incluem substâncias em excesso dissolvidas na água potável, entramos no “ciclo vicioso” demonstrado na caixa da figura 5. À medida que mais água potável é usada para excretar o excesso sais, há progressivamente menos água para o metabolismo, produção e controle da temperatura do animal. Quando a quantidade de água necessária para manter o metabolismo geral, produção e controle de temperatura (A na figura 5) é mais do que a quantidade de água disponível para esses fins (B na figura 5) cessam-se os processos fisiológicos normais do animal. Tolerância à água salina: na maioria dos casos, os animais são adversamente afetados por altos níveis de sais. No entanto, o efeito pode ser modificado por animais, adaptando-os lentamente à água com altos níveis de SDT. Os limites aproximados de tolerância à salinidade de diferentes espécies são apresentados na tabela 6. Onde uma faixa é dada, o nível mais baixo é o que espera-se que seja tolerado sem quaisquer efeitos adversos, e a faixa intermediária deve ser tolerada após a relutância em ingerí-la, mas os animais devem se adaptar a esses níveis (SILVA, 2021). Geralmente, na literatura, altos níveis de sais na água resultam em significativas perdas econô- micas ao produtor rural. Uma das enfermidades associadas ao consumo de água salobra é a diar- reia, porém essa diarreia pode evoluir para um quadro mais grave. 25 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Figura 5: Como a salinidade da água afeta os animais (a sequência mostrada pelas setas vermelhas e na caixa vermelha é o “ciclo vicioso” mencionado no texto). Fonte: Adaptação de DRYDEN, 2021. p. 16. Tabela 6: Tolerância dos animais de produção à salinidade da água Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 26 Capítulo 7 - Água salina afeta a sanidade e a performance animal Os fatores que influenciam a resposta à água salina podem ser agrupados em fatores animais e ambientais. Os fatores animais são: Espécie e raça: a tabela 6 apresenta com clareza as diferenças na tolerância dos animais à salinidade; 27 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Estado fisiológico: animais gestantes, em lactação, em crescimento, animais lactentes, em trabalho intenso, em postura etc., com maiores necessidades de água são menos tolerantes aos níveis de salinidade; Idade: animais mais velhos são mais tolerantes a salinidade do que animais jovens; A capacidade do animal de concentrar sua urina, ou seja, reduzir a quantidade de água que utiliza para excretar resíduos solúveis. Espécies como ovelhas que podem produzir urina mais concentrada (por exemplo, em comparação com o gado) são mais tolerantes à água salgada; Adaptação à salinidade: os ovinos e suínos demonstraram se adaptar ao aumento da salinidade se forem gradualmente expostos a níveis crescentes de SDT. No entanto, esse comportamento não os protege de níveis muito altos de SDT (no limite superior ou acima dele, conforme tabela 6). Os fatores ambientais incluem: Condições climáticas: temperatura do ar, velocidade do vento, a umidade e o acesso à sombra influenciam a necessidade de água do animal; O tipo de ração ingerida, especialmente os teores de proteínas e sais que influenciam a quantidade de resíduos necessária para ser excretada na urina; O tipo de íons dissolvidos: os sais de Na são melhores tolerados do que sais de Mg, e sulfatos e cloretos são melhores tolerados do que carbonatos. Como os animais respondem a altos níveis de salinidade? Uma das primeiras respostas do animal a água salina é a ingestão de mais água. Este comportamento persiste até que a carga de sal se torne muito grande. Quando dada água com níveis de SDT perto do limite de tolerância à salinidade, a ingestão de água e ração pode tornar-se deficiente - mudando acentuadamente de um dia para o outro. A percepção deste é um aviso importante de que os níveis de SDT estão ficando muito altos. Quando o nível de sal é muito alto e excede a tolerância de salinidade do animal, o consumo de água e de ração diminuem para níveis muito baixos. Os animais vão apresentar diarreia ocasional e fraqueza geral. Evitando problemas de salinidade: deve-se verificar sempre o teor de SDT na água. É im- portante que verifiquemos não só para o teor de SDT (como é mostrado por sua condutividade elétrica), mas também para as concentrações de carbonatos e sais de Mg. A água de rios ou barragens geralmente tem baixo conteúdo SDT. Mas não devemos assumir que isso seja verdade em todos os casos - os rios coletam a água que fluiu através do solo e do qual carrega sais consigo durante o processo. O conteúdo de SDT de qualquer abastecimento de água pode mudar entre as estações. Isto é especialmente verdade quando comparamos as águas superficiais (rios, riachos, represas) e a água subterrânea de poços em períodos de baixa pluviosidade. Emanuel Isaque Cordeiroda Silva 29 A água metabólica, endógena ou de oxidação é produzida no corpo do animal; procede dos processos metabólicos dos tecidos, fundamentalmente pela oxidação celular dos açúcares, aminoácidos e ácidos graxos para liberar a energia química que essas substâncias podem fornecer. A água metabólica não é uma grande fonte de água. Assim, a oxidação de 100 g de carboidratos produz 60 g de água, 100 g de lipídeos produz 107 g de água (variável entre a literatura: 100 a 111 g) e 100 g de proteína produz 40 a 42 g de água. Para a maioria dos animais domésticos a água metabólica admite unicamente 5 a 10% do total de água ingerida. Em certas condições, esta é a única fonte de água para os animais (por exemplo, ursos em hibernação). Nesses casos, assim como nos animais que consomem menos alimentos do que o necessário, a produção de água metabólica resulta mais importante, já que os depósitos de gorduras e tecidos proteicos catabolizam-se para proporcionar energia. Entre os nutrientes, a oxidação das gorduras fornece maior quantidade de água metabólica produzida, no entanto, com relação a energia metabolizável, os carboidratos geram maior quantidade de água metabólica por kcal de EM produzida, sendo assim, em situações de privação de água, é necessário o fornecimento de rações ricas em carboidratos, por exemplo, forragem aquosa para os ruminantes e equinos. Existem três maneiras pelas quais os animais podem obter água: através da ingestão, através da água existente na ração e, por fim, através da oxidação dos nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídeos), denominada água metabólica. Capítulo 8 Fontes de água para os animais Demonstração da produção de H2O metabólica ou endógena: Produção a partir da oxida- ção dos carboidratos (glico- se): 100 g de carboidratos geram 60 g de água metabólica (figura 6). 30 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Água nos alimentos ou coloidal refere-se aquela inerente aos alimentos. De imediato, os alimentos suculentos (verdes) possuem alto teor de água que contribui para o atendimento das exigências diárias dos animais. Os alimentos de origem vegetal contêm água, conforme sejam frescas (as partes folhosas de gramíneas e leguminosas podem ter 60 a 90% de água) ou secas (grãos de cereais e rações proteicas contêm 5 a 15% de água). A água presente nos alimentos pode ser advinda da chuva ou da irrigação que adere ao material vegetal quando é ingerido, ou pode fazer parte das células vegetais, ou ainda pode ser exógena, isto é, a água pode ser misturada com a ração do qual forma-se um mingau (por exemplo, em alguns sistemas de alimentação de suínos). Uma vaca leiteira ingerindo 20 kg de MS/dia de pastagem de capim tifton-85 irá consumir cerca de 74,1 kg/dia de água da célula vegetal. Um suíno em crescimento consumindo 2,25 kg/dia de uma ração comercial típica com 90% de matéria seca, consumirá cerca de 225 g/dia de água presente na alimentação. Uma cabra leiteira consumindo 2 kg de feno com 13% de umidade na composição consome cerca de 2,3 kg de água/dia através da alimentação. Um cavalo ingerindo 10 kg de capim buffel verde por dia e 5 kg de concentrado ingere cerca de 34,2 kg de água da alimentação (figura 9). Alimen- Produção a partir da oxida- ção dos lipídeos (gorduras): 100 g de lipídeos geram 100 a 111 ou mais g de água metabóli- ca (figura 7). Produção a partir da oxida- ção das proteínas (aminoáci- dos): 100 g de proteínas geram 40 a 42 g de água metabólica (figura 8). Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 31 tos verdes ou aquosos como forragens verdes e os ensilados possuem 70 a 90% de água; alimentos secos, como concentrados e fenos, possuem cerca de 5 a 14% de água. Os 5 a 15% de água dos alimentos secos, principalmente dos ingredientes de rações (milho, farelo de soja, farelo de algodão etc.) está na forma presa ao alimento, ou seja, não é computada para as necessidades imediatas dos animais. Em condições de privação de água é indicado o fornecimento de carboidratos aos animais. Capítulo 8 - Fontes de água para os animais A água de bebida é a principal fonte de água para os animais, devendo, para a sanidade e melhor desempenho animal, ser limpa e livre de contaminantes. Na superfície terrestre, a água ocupa uns 65% , do qual 0,7 a 1,2% é potável. O animal deve ter acesso a água de boa qualidade e com fácil acesso, ou seja, a fonte não deve ser longe, pois a busca do animal pela água poderá fazer com que o mesmo entre em estado pior em condições extremas. Como su- Figura 9: Ingestão de água dos alimentos por um cavalo de corrida. pracitado, o pH ideal para a água de bebida dos animais está entre 6 e 8, variação que depende da espécie, por exemplo, o pH ideal da água para equinos é de 6,8; por isso, torna-se viável a atenção à qualidade da água para que os animais consumam suas necessidades através dos estímulos hormo- nais da sede. A quantidade de água provin- da da oxidação dos nutrientes e dos alimen- tos não supre o animal, sendo impreterível seu fornecimento em baldes, tinas, bebe- douros automáticos, cochos específicos, por meio de rios, lagos, barragens, poços etc. Representa 70 a 97% da água consumida. Figura 10: Equino consumindo água fresca em um lago. Fonte: Pintura a óleo cedida por DUMBLEDOORI, P. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 33 No campo da nutrição animal é difícil estimar com certeza o consumo de água pelos animais, visto que há inúmeros fatores que interferem na ingestão como a temperatura, peso, idade, consumo de matéria seca etc. Partindo deste ponto, dividirei as espécies animais de interesse zootécnico, incluindo cães e gatos caso os acadêmicos estejam realizando trabalho sobre consumo de água e tenham fácil acesso a este guia. Capítulo 9 Requerimentos de água pelos animais Na produção avícola a água é o meio para melhorar a eficiência produtiva. Nela podem-se ad- ministrar antibióticos, vacinas, minerais, vitaminas e pigmentos diluídos que contribuem para a sanidade e resistência do lote, nutrição precisa e controle, além da função de saciar a sede. Será apresentado os requisitos de consumo de água pelos animais, por espécie e segundo a literatura, além disso, apresentarei as equações de predição da ingestão de água pelos animais, e que podem ser colocadas ou não em prática pelo produtor. Essa questão da equação é para os acadêmicos, o que interessa ao produtor é o fornecimento de uma quantidade X estimada e de fácil acesso aos animais. Exigências de água das aves Agora, pretende-se estudar toda a literatura sobre as exigências de água dos animais, dando ênfa- se ao clima tropical, ou seja, nas condições brasileiras. Serão abordadas todas as espécies de animais de produção com relação a equações de predição do consumo, alguns estudos práticos com o fornecimento de água e medidas gerais de administração de água para o bem-estar e melhor produção e produtividade dos animais. Segundo estudos, as aves são menos suscetíveis a privação de água que outros animais. Isso se deve ao fato que, no decorrer do metabolismo proteico, as proteínas são desmembradas em aminoácidos e o produto excretado é o ácido úrico, ou seja, através desse processo a produção de água metabólica é maior, como consequência as aves são menos exigentes em água que demais espécies como suínos, por exemplo. Os requerimentos de água variam conforme a espécie, linhagem, idade, sexo, peso, condições ambientais nas instalações (temperatura e umidade relativa), manejo alimentar (conteúdo proteico, de potássio, sódio e pela água presente nos alimentos) e rendimento produtivo. 34 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Seguindo a literatura, LANA (2000) indica um consumo crescente de água em frangos de cor- te (figura 11). Ainda, segundo o autor, para poedeiras, o consumo de água é 2 vezes maior que o consumo de ração, ou seja, para cada 100 g de ração consumida a ave deve consumir 200 ml de água; já para matrizes de corte ou poedeiras, salienta que o consumo é mais eficiente a temperaturas de 21 ºC, aumentando 2,5 vezes em temperaturas entre32 e 38 ºC, isto é, sob 21 ºC uma matriz pode consumir 100 ml/dia, em temperaturas de 35 ºC a mesma matriz consome 2,5 vezes 100 ml, ou seja, consumirá 250 ml, enfatizando que a temperatura é um fator importante sobre os requerimentos e a ingestão de água pelas aves. SAINSBURY (1987) cita que as aves possuem grandes necessidades de água e é absolutamente essencial que sempre haja água disponível em todos os sistemas de produção avícola. Caso as aves não disponham de água suficiente a produção ficará sensível, mas não é o único problema, pin- tainhos e aves de certa idade podem morrer em poucas horas em temperaturas quentes. Segundo o autor existem inúmeras causas que podem fazer com que as aves fiquem privadas de água aci- dentalmente. Os bebedouros automáticos podem secar inadvertidamente e esta é uma especial- mente possível em bebedouros tipo nipple, quando estes não possuem reservatórios, bem como é mais provável acontecer em bebedouros pendulares e copos de pressão, quando há descuido dos tratadores. Outro problema pode estar relacionado com a altura do bebedouro, onde algumas aves podem não alcançar ficando com sede. Sainsbury também salienta que o consumo de água das aves está associado com a idade (tabela 7). Figura 11: Ingestão de água por frangos de corte de acordo com a idade. Fonte: LANA, 2000. Tabela 7: Consumo ideal de água de frangos dependendo da idade Fonte: SAINSBURY, 1987. p. 31. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 35 Equação de predição de consumo de água apresentada por BRAKE et al. (1992). Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais INGRACI et al. (1995) enfatiza que o consumo não está apenas relacionado com a idade das aves, mas também com o sexo, explanando que machos consomem mais água que as fêmeas desde a primeira semana de vida. Os autores afirmam que a maior deposição de músculos e o maior desenvolvimento da carcaça do macho em detrimento da fêmea faz com que os requeri- mentos e o consumo sejam maiores (figura 12). Alguns autores divergem em sua literatura de referência quanto aos requerimentos de água para aves, em especial, dos frangos de corte e poedeiras. CHEEKE (2005) expõe que para ambas as categorias o fornecimento de 0,2 a 0,4 l/dia para animais adultos é o suficiente; CHURCH (2002) embasado pelas avaliações de campo, explana que o fornecimento de 0,2 a 0,6 l/dia dependendo da idade para frangos de corte é ideal; REDDY (2001) descreve que na Índia, em situação análoga ao Brasil, o consumo de água de frangos é de 250 ml e a relação consumo de ração:consumo de água é de 1:2; LANA (2005) e CHIBA (2009) afirmam que os frangos de corte produzem bem quando consomem até 500 ml de água por dia em climas quentes, como é o caso do Brasil. Diante do exposto pelos 5 autores, temos que o consumo das aves, dependendo do sexo, linhagem, idade etc. oscila entre 0,2 e 0,6 l/dia. Figura 12: Influência do sexo sobre o consumo de água em frangos de corte. Fonte: Adaptação de INGRACI et al., 1995. BRAKE et al. (1992) apud LEESON & SUMMERS (2001), apresentaram uma equação de predição do consumo de água para frangos de corte com até 21 dias de idade. A equação leva em consideração dois valores fixos que juntam-se com o dia de idade do animal. Porém, diverge com os valores estabelecidos para aves pelo NRC (1994). Para explanar essa divergência, mostraremos a equação e um exemplo de como usá-la e comparar os resultados com os dados do NRC (1994). Consumo de água = 9,73 + (6,142 x d) Em que: d = dia de idade do frango de corte 36 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Como exemplo prático, vamos utilizar o consumo de água de um frango de corte macho com 21 dias de idade, logo, substituindo na equação teremos: Consumo de água = 9,73 + (6,142 x 21) ≅ 139 ml/dia O valor extrapola a quantidade estabelecida pelo NRC (1994), que indica um consumo de 104 ml/ave/dia para a categoria de frangos de corte na terceira semana. As indicações do NRC (1994) para frangos de corte, poedeiras e matrizes apresentam-se na figura 13. Para perus, existe uma divergência quanto às exigências e uma escassez de informações. O que se acha em literatura são em livros da década passada e em condições adversas das brasileiras. O que se encontra de profundidade são as indicações do NRC (1994) que expõem os requerimen- tos segundo a idade e o sexo em perus brancos. Figura 13: Indicações do NRC para consumo de água de frangos de corte, poedeiras e matrizes. Fonte: Adaptação do NRC, 1994. Codornas, patos, gansos e perus devem ter acesso contínuo a um suprimento de água adequa- do e que esta seja de boa qualidade, limpa e fresca. Esse suprimento deve ser em todas as fases das aves, exceto quando um profissional orientar de outra forma, ou quando existir restrição alimentar dos machos reprodutores. Os bebedouros devem ser regulados de acordo com o tamanho das aves com a finalidade de fa- vorecer o máximo de água possível para as aves. Para pintainhos de 1 dia, folhas de papel coloca- das em baixo dos bebedouros estimulam o consumo de água, o que evita possíveis mortes por desidratação precoce. As necessidades de água das codornas é relativa. Estima-se que as aves necessitam maior inges- tão de água nas primeiras fases de vida; machos consomem mais que fêmeas e fêmeas em postura podem dobrar o consumo. Geralmente o fornecimento adequado de 50 a 70 ml/ave/dia para manutenção das aves é o ideal, podem ir até 80 ml no caso de aves em postura. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 37 SCHRIDER (2013) expõe o consumo de água de perus segundo a idade, descrevendo consu- mos de mais de 1 litro/ave/dia em perus acima das 14 semanas de idade. A figura 14 compara o consumo e indicações de fornecimento de água entre SCHRIDER (2013) e o NRC (1994). Para fêmeas de perus, segundo o NRC (1994), o consumo é o mesmo dos machos na primeira semana, decrescendo conforme o desenvolvimento (figuras 14 e 15). Porém, o estado de postura faz com que as exigências sejam maiores, podendo dobrar. Figura 14: Comparação do consumo de água de perus conforme a literatura. Fonte: Adaptação de SCHRIDER (2013) e NRC, 1994. Figura 15: Consumo de água de perus fêmeas. Fonte: Adaptação de SCHRIDER (2013). Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais 38 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Na literatura, CHEEKE (2005) descreve que para que perus produzam bem e mantenham um bem-estar são necessários o fornecimento de, pelo menos, 0,4 a 0,6 litros/ave/dia, o que contradiz os resultados supra e de CHURCH (2002) que indica um consumo de 0,8 a 1,2 litros/ave/dia para que a produção de carne e ovos se mantenha em bons índices. O fornecimento ideal de água para avestruzes é de 15% do seu peso corporal em todas as fases de criação (SOUZA, 2004), ou seja, um avestruz adulto com 120 kg de peso deverá consumir 15% desse peso em água, sendo assim seu consumo será de 18 litros/ave/dia. As exigências de água de gansos são semelhantes às dos frangos de corte e perus, mas, por serem aves aquáticas e necessitarem de esforços o fornecimento de 0,8 a 1,2 litros/ave/dia em sistemas de criação confinada é o indicado. Em geral, por serem aves aquáticas, patos ingerem de 3 a 4 vezes mais água que as galinhas. Numa criação comercial de patos é necessário o suprimento constante de água potável e fresca, e um dos manejos é a posição dos bebedouros que deve se manter em posição que os patos jovens não consigam entrar e se encharcar. Outra medida ideal de manejo é ofertar aos adultos um bebedouro profundo para que possam lavar-se, já que naturalmente as aves lavam os arcos orbi- tários com frequência. Para criações comerciais, adultos necessitam de 0,6 a 0,9 litros/ave/dia. Figura 16: Criação comercial de patos enfatizando os bebedouros pendulares onde o indicado é 1 bebedouro para cada 10 aves. Fonte: Cortesia de CHERRY, 2008. Exigências de água de bovinos de corte O gado de corte provém das regiões quentes da Índia, Paquistão e áreas adjacentes, sendo assim são animais que apresentam rusticidade e se adaptarammuito às condições tropicais e quentes do Brasil. Genericamente, o gado de corte é, de certo, muito menos exigente em água que o rebanho leiteiro, entretanto, assim como em outras espécies, seus requerimentos mudam de acordo com a raça, idade, sexo, clima e estado fisiológico; por exemplo, uma vaca de corte em mantença necessita de uma quantidade X de água por dia, essa mesma vaca pode dobrar ou triplicar sua exigência em água caso esteja em temperatura muito quente, gestante ou em lactação. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 39 Há uma enorme divergência quanto aos requisitos de água dos bovinos de aptidão corte, os autores levam em consideração fatores como temperatura, consumo de matéria seca (o mais usa- do) e também o nível de sal na dieta. Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais REDDY (2001) expõe que para bovinos adultos o fornecimento de 30 L/cabeça/dia é o ideal, sendo a relação consumo de ração:ingestão de água igual à 1:3 ou 1:3,5, ou seja, para cada kg de matéria seca ingerida o bovino deve consumir de 3 a 3,5 litros/dia. Suponhamos um animal de 450 kg de peso vivo, com um requerimento de 2,5% de consumo de matéria seca, seu consumo de matéria seca será 9 kg/dia (450 x 2,5% = 9), então 9 x 3 = 27 litros que é igual ao seu consumo de água por dia com essa ração. O mesmo autor descreve que para bezerros essa relação matéria seca ingerida:ingestão de água (relação MSI:IA) deve ser 2 vezes maior, ou seja, para bezerros a relação é de 1:6 ou 7. Para entender melhor suponhamos um bezerro de corte com 100 kg de peso vivo que está consumindo 2% do seu peso em matéria seca, ou seja, 2 kg de matéria seca, logo seu consumo de água pela relação MSI:IA será de 12 litros/dia (2 x 6 = 12). Tais considerações do autor supra podem ser encontradas em TEIXEIRA (1998) que aponta que para o gado de corte até 2 anos se desenvolver bem, o fornecimento de 12 a 13,5 litros/100 kg de peso vivo em climas tropicais é o ideal. Na prática, em algumas fazendas de confinamento de bovinos para os bezerros (primeiras 5-6 semanas) é ofertado 6,5 litros de água/kg de matéria seca ingerida, já para adultos (acima dos 100 kg) é ofertado 5,5 litros/kg de MSI em temperaturas maiores que 27 ºC. Passando pela literatura, BONDI (1989) aponta um consumo ideal de 3 a 5 L/kg de MSI para gado adulto e de 6 a 7 L/kg de MSI para bezerros lactentes; CHEEKE (2005) aponta consumo ideal de 20 a 60 litros/cabeça/dia, contradizendo os valores estipulados por CHURCH (2002) que descreve consumo ideal oscilando entre 44 a 132 L/cab./dia. LANA (2005) e CHIBA (2009) descrevem um consumo de até 60 L/cab./dia para vacas de corte em lactação. ANDRIGUETTO et al. (1982) levam em consideração o consumo em relação a MSI e ao PV,, sendo assim, bezerros até 6 meses devem consumir 6,5 L/kg de MSI, bovinos acima de 100 kg de PV devem consumir 6 L/kg de MSI, para bovinos com 2 anos de idade o consumo deve ser de 8 a 9 L/100 kg de PV, vacas gestantes devem consumir 9 L/kg de MSI e vacas em lactação devem ingerir 3 a 4 L/kg de leite. ALBERTINI (2015) aponta consumo ideal de 10 a 12 L/100 kg de PV. DRYDEN (2021) aprofundou-se mais e descreve necessidades de 43 a 60 litros para vacas em lactação, 15 a 57 litros para animais em crescimento e machos e 22 a 78 para vacas secas. O NRC (2016) para gado de corte expõe uma equação de predição para o consumo de água levando em consideração fatores como a temperatura, o consumo de matéria seca, a precipitação pluviométrica e a quantidade de sal na ração do animal, da qual pode-se apropriar-se e utilizar nas condições brasileiras. Consumo de água (l/dia) = -6,0716 + (0,70866 x T ºC) + (2,432 x CMS) - (3,87 x PP em cm) - (4,437 x %sal da ração) Equação de predição de consumo de água apresentada por HICKS et al. (1988). Em que: T = temperatura em ºC; CMS = consumo de matéria seca em kg; PP = precipitação pluviométrica, em cm; % de sal na dieta = quantidade em % de sal da ração. Para elucidar melhor, vamos supor o fornecimento de água para um bovino de corte com 500 kg de peso, temperatura de 35 ºC, 3,5% do CMS, PP igual a 0 e 0,3% de sal na ração, logo: 40 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Dados: 500 kg PV; 35 ºC temperatura; 3,5% CMS = 500 x 3,5% = 17,5 kg CMS; PP = 0 não coloca na equação; 0,3% de sal na ração, logo: Consumo de água = -6,0716 + (0,70866 x 35) + (2,432 x 17,5) - (4,437 x 0,3) ≅ 60 litros/dia Em outro exemplo para fixar, vamos supor o fornecimento de água para um bovino de corte com 200 kg de peso, temperatura de 30 ºC, 7 kg de CMS, PP igual a 8 mm (note que 1 mm equivale a 0,1 cm, logo 8 mm equivale a 0,8 cm) e 0,8% de sal na ração, logo: Consumo de água = -6,0716 + (0,70866 x 30) + (2,432 x 7) - (3,87 x 0,8) - (4,437 x 0,8) ≅ 26,9 litros/dia Caso se almeje trabalhar nos Estados Unidos ou em ambientes de clima temperado, a equação proposta por HICKS et al. muda de figura. Consumo de água (l/dia) = -18,67 + (0,3937 x T ºF) + (2,432 x CMS) - (3,87 x PP em cm) - (4,437 x %sal da ração) As figuras 17 e 18 apresentam os consumos de água de bovinos usando a equação supra em função do peso e da temperatura. Figura 17: Ingestão de água de bovinos em função do peso. As variáveis foram temperatura constante de 30 ºC, sem chuva, 2,5% de CMS e 0,5% de sal na dieta. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 41 Figura 18: Ingestão de água de bovinos em função da temperatura. As variáveis foram peso fixo de 400 kg, sem chuva, 2,5% de CMS e 0,5% de sal na dieta. Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais Exigências de água de bovinos de leite Na literatura sobre os requerimentos de água as vacas leiteiras ganham destaque como sendo a espécie mais avaliada e trabalhada. Figura 19: Ingestão de água de bovinos em função da produção de leite. Dados, vaca nelore de 450 kg de peso vivo, temperatura constante de 30 ºC, CMS de 3% do PV, sem chuva e 0,5% de sal na ração. 42 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Dado ao fato que o produto final do metabolismo é a ureia e não o ácido úrico como ocorre nas aves, as vacas leiteiras assim como os demais ruminantes e todos os mamíferos, como os suínos, ovinos, caprinos etc., são mais sensíveis quanto à falta e mais exigentes quanto ao consumo de água. Bovinos leiteiros jovens, bezerros e bezerras, também devem receber água independentemente se estejam recebendo dieta líquida ou não. Na prática, pode-se ofertar água ad libitum ao animal a partir do segundo ou terceiro dia de vida. As vacas de leite, por serem altamente especializadas em sua produção, são sensíveis ao déficit de água, por isso, para uma melhor eficiência e manejo o indicado é que quando a fonte de água (lago, rio, barreiro etc.) estiver longe o indicado é o fornecimento de água de forma artificial, ou seja, através de tinas, caixas d'água, cochos ou bebedouros específicos todos com sombreamento para evitar aquecimento da água ou evaporação da mesma. O ideal é que haja 1 bebedouro para cada 10 animais. Além do supracitado manejo, o tratador ou proprietário deve estar atento a temperatura ideal de fornecimento de água para as vacas que exigem uma faixa ideal de 17 a 28 ºC (anexo 2) para sua melhor performance e produção. Também deve-se atentar ao consumo das vacas, uma vez que, com a prática e observação, o consumo de água é de 4 a 15 litros por minuto, isso é importante quando se fornece água através de bebedouros que necessitam a reposição constante de água para que não haja falta da mesma quando o animal for saciar sua sede. Como indicação de manejo de fornecimento da água, temos 3 distintas formas; a primeira é a oferta de água ad libitum aos animais, fornecendo de forma livre para que a vaca supra seus re- querimentos; a segunda forma é a oferta de água duas vezes ao dia, porém é necessário fornecer 4 a 5% a mais do exigido pelo animal; a terceira e última forma é a oferta uma vez ao dia com excedente de 5 a 10% do requerido pela vaca. Para bezerros e bezerras leiteiras, TEIXEIRA (1997) apresenta estudo mais profundo quantoaos requerimentos e indicações de fornecimento de água conforme a idade até 2 anos (tabela 8). Nesse mesmo contexto, APPUHAMY et al. sugerem consumo de 15 a 25 L/dia para bezerros e de 25 a 40 L/dia para animais com um ano de idade; já DRYDEN (2021) aponta que bezerros e bezerras necessitam de 1 a 4,5 L/animal/dia durante o primeiro mês de vida e de 22 a 30 L/cab./dia para animais desmamados. Tabela 8: Consumo ideal de água de bezerras de leite dependendo da idade Fonte: TEIXEIRA, 1997. p. 104. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 43 Para os requerimentos do gado de leite, na literatura, existem divergências quanto aos valores (figura 20), porém ambos os trabalhos citam a temperatura como sendo um fator determinante para o maior consumo de água de vacas, principalmente em condições como as brasileiras. Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais Figura 20: Variações nas indicações de consumo de água para vacas leiteiras segundo autores. Em azul indica o consumo mínimo de uma vaca e em vermelho o consumo máximo. Em ambas as situações as vacas podem estar secas, gestantes ou em lactação. A ingestão de água (IA) durante período de lactação depende de alguns fatores, dentre os quais destacam-se a temperatura, o regime alimentar e a produção, ou seja, quanto maior o percentual de sais maior a ingestão, quanto maior a produção de leite maior o consumo. Autores entram em divergência, também, quanto às indicações eficientes da relação IA:PL, isto é, ingestão de água para cada litro de leite produzido (figura 21). Figura 21: Variações nas indicações de consumo de água por kg de leite produzido. 44 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL Como medida de manejo eficiente, para vacas em lactação o indicado é a oferta de 4 a 5 litros para cada litro de leite produzido, visto que o leite possui 13% de matéria seca e 87% água. Para enfatizar mais ainda acerca das indicações de fornecimento de água para vacas, destacamos que os requerimentos podem mudar conforme a idade, raça, estado fisiológico e regime de criação. TEIXEIRA (1997) apresenta os requisitos de vacas em lactação conforme a produção, a raça com a mesma produção e conforme o estágio fisiológico de gestação da fêmea (tabela 9). NUNES (1998), por sua vez, descreve as indicações para animais em diferentes estágios fisiológi- cos e regimes de criação (tabela 10). Tabela 9: Consumo ideal de água de bovinos leiteiros em função da raça, produção ou estágio fisiológico do animal Tabela 10: Consumo ideal de água de bovinos leiteiros em função do estágio fisiológico e do sistema de produção Para o gado de leite, é mais fácil predizer o consumo de água que outras espécies, uma vez que se encontram mais literatura acerca de equações que levam em consideração fatores que vão desde a porcentagem de matéria seca na ração e quantidade de matéria seca consumida até a porcentagem de sal na ração, entre outros de importância. Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 45 Consumo de água (L/dia) = 12,3 + (2,15 x CMS) + (0,73 x PL) Equação de predição de consumo de água apresentada por LITTLE & SHAW (1978). Consumo de água (L/dia) = 14,3 + (1,28 x PL) + (0,32 x %MSr) Equação de predição de consumo de água apresentada por DAHLBORN et al. (1998). LITTLE & SHAW (1978 apud NRC, 2001) foram os pioneiros quanto ao estabelecimento de uma equação que predizesse o consumo de água por bovinos leiteiros, levando em consideração o consumo de matéria seca (CMS) em kg/dia e a produção de leite (PL) em kg/dia, servindo para vacas em mantença e lactação. Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais Em que: CMS = consumo de matéria seca, em kg; PL = produção leiteira, em kg. DAHLBORN et al. (1998 apud NRC, 2001) elaboraram uma equação de predição do consu- mo de água retirando o CMS e inserindo a porcentagem de matéria seca da ração, que geralmen- te fica entre 80 e 95%. Tal serve para animais em mantença e em produção. Em que: %MSr = matéria seca da ração, em %; PL = produção leiteira, em kg. Veremos a aplicação das duas fórmulas para compará-las. Supondo exemplo de vaca com 500 kg, CMS de 15 kg/dia, PL variável e %MSr de 88% (figura 22). Figura 22: Comparação da ingestão de água usando as equações estabelecidas em função da produção de leite e da porcentagem de matéria seca da ração. Note que o peso da %MSr é maior que o CMS. 46 A ÁGUA NA NUTRIÇÃO ANIMAL TEIXEIRA (1997) estabelece uma equação de predição para estimar a ingestão de água levan- do em consideração fatores como quantidade de sódio (do sal comum) na ração e a temperatura em ºC. A quantidade de sódio é um fator importante de aumento de consumo de água pelo gado. Segundo NUNES (1998) para cada grama de NaCl (sal comum) adicionado ou existente na dieta animal equivalem ao aumento ou consumo de 50 ml ou 0,05 L de água por uma vaca leiteira. Consumo de água (L/dia) = 16 + (3,48 x CMS) + (1,98 x PL) + (0,05 x Na) + (1,20 x T ºC) Equação de predição de consumo de água apresentada por TEIXEIRA (1997). Em que: CMS = consumo de matéria seca, em kg; PL = produção leiteira, em kg; Na = ingestão de sódio, em gramas; T ºC = temperatura do dia. Desta forma, a equação para estimar o consumo de água irá alterar 3,48 litros por cada mu- dança em Kg de matéria seca ingerida, 1,98 litros por cada litro de leite produzido, 0,05 litros por cada grama de sódio consumido e 1,20 litros por cada grau Celsius alterado na temperatura. Normalmente, em temperatura elevadas, a ingestão de matéria seca e produção de leite diminuem, mas usualmente a ingestão de água aumenta, particularmente quando não existe sombra nas instalações. Com sombra, a localização da água em relação a sombra pode ter um efeito maior no consumo de água. Em temperaturas quentes, os bebedouros devem estar presentes em locais sombreados, uma vez que estiverem ao sol, as vacas diminuirão a ingestão de água. O produtor deve estar atento aos sinais que as vacas demonstrarem quando estão em baixa ingestão de água. Em geral, os sinais são: Fezes secas; Pequena produção de urina; Ingestão de água sem frequência; Queda considerável e não explicada na produção de leite, e Ingestão de urina. STOCKDALE & KING (1983) apresentaram duas equações para estimar a ingestão de água em gado de leite, no entanto, não se aplicava às condições brasileiras. Após ajustes e vários cálculos, estabeleci a equação que pode ser aplicada no clima brasileiro. Uma leva em considera- ção a temperatura e a outra não, porém ambas as formas levam em consideração o CMS e a %MSr. Consumo de água (L/dia) = 11,34 + (4,63 x CMS) - (0,36 x %MSr) + (0,84 x T ºC) + (2,5 x PL)Equação I Consumo de água (L/dia) = -9,37 + (2,3 x CMS) +(0,53 x %MSr) + (2,5 x PL)Equação II Emanuel Isaque Cordeiro da Silva 47 Equação de predição de consumo de água apresentada por NASEM (2021). Para elucidar e fixar, usando a equação I, suponhamos uma vaca com 400 kg de PV, produção leiteira de 20 kg/dia, CMS de 12,4 kg/dia, ração com 90% de MS na cidade de São Bento do Una onde a temperatura de 17 de março de 2023 foi de 31 ºC, logo: Capítulo 9 - Requerimentos de água pelos animais CA (L/dia) = 11,34 + (4,63 x 12,4) - (0,36 x 90) + (0,84 x 31) + (2,5 x 20) = 112,4 Para comparar, vamos usar a equação II, para a mesma vaca. CA (L/dia) = -9,37 + (2,3 x 12,4) + (0,53 x 90) + (2,5 x 20) = 116,9 O NASEM (2021) também apresenta uma equação para estimar a ingestão de água e leva em consideração as variáveis CMS, %MSr e a T ºC. CA (L/dia) = (0,69x CMS) + (0,28 x %MSr) + (0,85 x T ºC) Independente de usar uma equação para estimar e fornecer a quantidade de água ao animal, é importante salientar que a água deve estar com temperatura fria em dias quentes e quente em dias frios para manter a população microbiana animal; além disso é importante fornecer fontes de água perto do local onde os animais estiverem e de preferência que o local seja coberto, seja por uma construção (telhado) ou por uma árvore. Exigências de água de búfalos Os
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