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A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA NA NUTRIÇÃO DE R UMINANTES RIBEIRO;L 1; BENEDETTI;E.2 1 Zootecnista, Mestre em Produção Animal, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, (RJ),e-mail: lorenazoo@uol.com.br. 2 Médico Veterinário, Prof Titular Doutor da Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: edmundobenedetti@yahoo.com.br. RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de avaliar a importância da qualidade da água na nutrição de ruminantes por meio da ingestão voluntária. Depois do oxigênio, a água é o nutriente mais importante para os seres vivos. Muitas vezes os produtores, na maioria das propriedades rurais, não têm muita preocupação no que diz respeito à manutenção e a obtenção de água. Cuidar dessa água é fundamental, pois os animais, assim como os humanos, precisam da mesma para sobreviver. PALAVRAS CHAVES : Alimentação animal, bovinocultura. Importance of water in the cattle nutrition ABSTRACT : This work has objective to evaluate the value of water in the cattle nutrition for the voluntary intake and your quality. After oxygen, the water is the nutrient more important for human being. Oftentimes the farmers, in some rural property, don’t present preoccupation about the maintenance and obtaining of the water. To reflect this water is fundamental, because the cattle, so the living being, need for survive. KEY WORDS: animal food, cattle. INTRODUÇÃO A água é a molécula mais abundante da matéria viva. É considerada solvente universal, atuando como dispersante de inúmeros compostos orgânicos e inorgânicos. A água é, ainda, um importante veículo de transporte de substâncias, permitindo o contínuo intercâmbio de moléculas entre os líquidos extras e intracelulares. Essas considerações, entre outras, justificam o fato dela ser um dos componentes abióticos de maior importância para o mundo vivo. A água doce é um recurso natural finito, cuja qualidade vem piorando devido ao aumento da população e à ausência de políticas públicas voltadas para a sua preservação. Um dos desafios mundiais nas próximas décadas é proteger os recursos naturais ao mesmo tempo em que se produz alimento suficiente para suprir as demandas de uma crescente população. O desafio será satisfazer o aumento da demanda de produtos agropecuários em um nível tecnológico no qual a base dos recursos naturais possa se sustentar (HAAN et al., 2004). O contínuo e crescente uso dos recursos hídricos em nível mundial, associados a uma gestão inadequada, têm ocasionado a degradação das águas em relação à sua disponibilidade e qualidade. Muitas substâncias manipuladas pelas diversas atividades industriais e agrícolas podem ocasionar a contaminação dos ambientes aquáticos. A qualidade da água é uma variável dependente das características naturais e do uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica. A noção de qualidade muitas vezes está relacionada apenas às características organolépticas, como sabor, odor e cor; no entanto esses fatores estão ligados apenas à sensibilidade humana e não revelam os reais problemas de comprometimento da qualidade das águas. A quantidade e a qualidade da água são elementos fundamentais para o processo de produção, seja qual for o sistema de criação, uma vez que interfere diretamente na nutrição dos bovinos pela sua composição bem como pelo volume ingerido (BIZINOTO, 2002). A ausência do controle da qualidade da água pode conduzir, fatalmente, a curto ou longo prazos, a infecções que podem ter conseqüências imprevisíveis para o desenvolvimento das criações (SOUZA et al., 1983). Assim, torna-se essencial a importância da qualidade físico-química e microbiológica da água na saúde animal. A inutilização da água pode ser proveniente do seu próprio uso, como também dos diversos usos do solo numa região, notadamente os usos agrícolas, industrial e urbano. Assim, influências antrópicas sobre a qualidade da água estão fortemente associadas ao crescimento da urbanização, da expansão das atividades agropecuárias e industriais. No mundo atual, a expansão destas atividades engendra alterações deletérias crescentes sobre a qualidade das águas. Assim, o objetivo deste trabalho é retratar a importância da água na nutrição dos ruminantes, orientando a necessidade hídrica e o que a qualidade dela pode afetar na saúde animal e na ingestão voluntária. DESENVOLVIMENTO Disponibilidade de Água na Terra A superfície do planeta é composta por, aproximadamente, 70% de água, e somente 30% de terra, porém, na prática o líquido não é tão abundante assim. De toda a água existente no mundo, cerca de 97% é salgada e 3% é doce. Além disso, do percentual total da água doce existente, a maior parte encontra-se sob a forma de gelo nas calotas polares e geleiras, outra parte é gasosa e há ainda água subterrânea, de difícil acesso estando a mais de 800 m de profundidade. Portanto, a água disponível para uso, proveniente principalmente de rios e lagos, representa apenas 0,01% de toda a água do planeta. O Brasil possui uma das maiores reservas hídricas do mundo, concentrando sozinho perto de 15% da água doce superficial disponível no planeta. No entanto, grande parte dessa água está no rio Amazonas e seus afluentes. Além de limitada as reservas de água tem-se também uma restrição no uso da água doce, pois 70% dela já está contaminada com dejetos humanos e de animais, defensivos agrícolas, lixo, produtos químicos, esgotos industriais, entre outros. Cuidar dessa água é fundamental, pois os animais, assim como os humanos, precisam da água para sobreviver. Uso da água Na atividade pecuária, a água, além de ser usada para o consumo das pessoas que trabalham e dos animais, também é necessária para o manejo do solo, do rebanho e para a limpeza dos equipamentos e instalações. O uso da água nos estabelecimentos rurais é de grande importância não somente do ponto de vista nutricional, mas também nas atividades relacionadas com o manejo da ordenha e a higienização das instalações e equipamentos. Fonte de água nas propriedades Os estabelecimentos rurais envolvidos com a produção animal obtém água basicamente sob duas maneiras, ou originada de minas, geralmente não protegida, que através de bomba de recalque a água é bombeada para as instalações e residências para consumo, ou por meio de poços (escavado ou artesiano). Importância da Água A água é um bem essencial à vida, necessária em todas as atividades da produção animal. A vida depende da água. Ignorar sua importância e descuidar de seu tratamento, além de gerar problemas de saúde, atrapalham a tão necessária qualidade na produção pecuária. Infelizmente a ingestão de água pelos animais não é, frequentemente, considerada um fator limitante potencial para a produção nas fazendas modernas. Muito mais atenção é dada a outros nutrientes da dieta, sendo a quantidade e qualidade da água desconsiderada. No entanto, a baixa ingestão de água aumenta os valores de hematócrito e a concentração de uréia no sangue, reduz a taxa respiratória e a contratilidade ruminal, diminui o peso vivo e a produção de leite e pode provocar agressividade dos animais em torno de bebedouros. Embora os ruminantes possam suportar água de pior qualidade que os humanos, são afetados por substâncias presentes na água, que em determinadas concentrações, podem ser fatais. Dependendo da concentração dessas substâncias na água, os bovinos podem não apresentar sinais clínicos, mas o crescimento, a lactação e a reprodução podem ser afetados, causando perdas econômicas para o produtor. A água constitui aproximadamente 98% de todas as moléculas do organismo e tem as mais variadas funções: sendo necessária para o crescimento, reprodução, lactação, digestão, metabolismo, excreção, hidrólises de proteínas, carboidratos, gorduras; regulação de homeostasia mineral; transportes de substâncias;lubrificação de juntas, amortecimento de sistema nervoso, além de ser um excelente solvente para glicose, minerais, aminoácidos, vitaminas hidrossolúveis e transportes metabólitos do corpo. Ela participa de todas as funções vitais do organismo vivo, sendo essencial para que qualquer atividade fisiológica ocorra com sucesso Restrição de Água A privação de água é um estado insalubre (MURPHY, 1992). A limitação no consumo de água diminui o desempenho animal, mais rápido e drasticamente, do que a de qualquer outro nutriente. Os animais podem sobreviver por mais tempo, com a ausência de qualquer outro nutriente essencial, do que privados do acesso a água. Pode-se perder praticamente todo lipídio e 50% da proteína, mas se perder 10% da água pode ser fatal (LANA, 2005) Assim, toda a restrição de água que venha ocorrer é acompanhada de baixo desempenho zootécnico. A importância de um suprimento adequado de água é melhor entendida levando-se em consideração as conseqüências da restrição hídrica nos animais: diminuição na ingestão de alimentos, diminuição do ganho de peso e da taxa normal de crescimento, danos à termorregulação, redução da excreção renal de produtos do metabolismo, ingestão de outros líquidos que podem ser críticos no que se refere à higiene, problemas comportamentais e, em casos mais graves, em que a perda da água corporal atinja valores entre 10 e 12%, ocasione a morte do animal (KAMPHUES, 2000; CAMPOS, 2001; NRC, 2001). Andersson e Lindgren (1987), estudando os efeitos do acesso restrito à água e ao alimento e a hierarquia social na performance e no comportamento de vacas leiteiras observaram que as vacas dominantes bebem mais água, produzem mais leite e são mais pesadas do que as vacas subordinadas. O acesso restrito à água pode ser especialmente negativo para vacas em posições hierárquicas inferiores e vacas secas. Alguns produtores acabam não dedicando tempo suficiente para se certificarem que suas vacas estão bebendo água em quantidade e qualidade adequadas. Não é incomum se observar nas fazendas a oferta de água de pouca qualidade, em bebedouros sujos e de difícil acesso, ou ainda com tamanho inadequado e baixa pressão de água, o que impede a rápida reposição do volume consumido. O resultado final é o baixo consumo de água pelas vacas, o que não faz sentido uma vez que o leite é composto em média por 87% de água, tornando sua produção dependente da ingestão de água. A água só perde para o oxigênio na ordem de importância para a vaca. O consumo de água é positivamente correlacionado com a ingestão de matéria seca e aumenta com a maior quantidade de fibras na dieta. De acordo com Hatendi et al. (1996), animais com disponibilidade diária de água bebem mais do que aqueles com água fornecida apenas a cada três dias. Sendo assim, ao se deparar com produções abaixo do esperado, confira o fornecimento de água, pois em muitos casos a solução de problemas relacionados à quantidade e qualidade da água permite aumentos de produção da ordem de 10 a 20%. Qualidade da Água Atualmente observam-se grandes avanços nas técnicas relativas ao balanceamento de dietas, monitoramento da ingestão de matéria seca, verificando os níveis de energia, fibra, minerais, vitaminas, proteínas e até aminoácidos na alimentação dos animais. Por outro lado ocorre certa desatenção quando o assunto é o fornecimento de água de qualidade na alimentação animal, na higienização de equipamentos e instalações. Não existe na natureza água quimicamente pura, exceto nos laboratórios. Sua composição e qualidade são muito variáveis e estão determinadas pelo substrato do solo por onde a água escorre ou onde está armazenada. Desta forma quando se refere aos padrões de qualidade da água não se refere a um estado de pureza e sim em condições físicas, químicas e microbiológicas adequadas, seja para uso humano ou animal. Segundo Rimbaud (2003) pode-se encontrar na água vários elementos, entre eles: metais: Na, Ca, Mg, K, Fe, Mn, Cu, Pb, Es, Li, Va, Zn e Al e não metais; Cl, S, carbonatos, silicatos, nitratos, nitritos e amônio. Sais e óxidos incrustantes e gases A qualidade da água, além de seu fornecimento, também é muito importante num sistema de produção (VIEIRA, 2003). Os principais fatores que a afetam são: salinidade, acidez ou alcalinidade, contaminação por bactérias, elevado crescimento de algas tóxicas, bem como resíduos de produtos como pesticidas e fertilizantes (MARKWICK, 2002). Segundo Landefeld e Bettinger (2002), a qualidade da água pode afetar o consumo de alimentos e a saúde dos animais, transmitir doenças e, conseqüentemente, colocar em risco a segurança dos produtos de origem animal que servem de alimento aos humanos. Pode também, afetar seu próprio consumo pelos animais. Por exemplo, a ingestão de água pode ser reduzida quando ela contém altos teores de excremento (WILLMS et al., 2002), ou quando há alto teor de sulfatos presentes (LONERAGAN et al., 2001). Qualidade da água na visão dos produtores rurais Em um estudo realizado por Barros 2010, todos os produtores questionados não mencionaram problemas com a qualidade da água que consumiam com 80% deles afirmando que a água era de boa qualidade e 20% que a água era de ótima qualidade. Mas nenhum produtor se baseou em informações laboratoriais para justificar sua posição em relação a água de consumo. Haviam produtores que utilizavam destas águas a mais de 30 anos sem conhecer se a água utilizada estava em conformidade com os padrões de potabilidade. Conforme Chiodi (2009), para a maioria das famílias entrevistadas, a água de poço artesiano é que fornece a garantia de qualidade, pois para elas, essa água é protegida, por que fica embaixo da terra e livre de lançamento de dejetos, de lixo e de agrotóxicos, apesar das famílias dizerem não ter conhecimento da qualidade dessa água, porque nunca foram realizadas análises de potabilidade da mesma. A ausência de controle da qualidade da água deve conduzir, fatalmente, a curto ou a longo prazos, a infecções e envenenamentos, que podem ter conseqüências imprevisíveis para o desenvolvimento do local de criação (VON DER, 1971). As doenças transmissíveis que ocorrem nos animais domésticos, principalmente em bovinos, suínos e aves, representam fatores importantes à economia e à saúde pública, pois podem acarretar prejuízos econômicos, às vezes elevados, e muitos dos seus agentes causais podem ser transmitidos ao homem. Padrões de potabilidade da água no Brasil O Ministério da Saúde normatiza o padrão de potabilidade da água pela portaria número 1.469 de 2000. A classificação das águas interiores do território nacional estabelece os parâmetros microbiológicos para mananciais, determinando uma tolerância, em relação ao número mais provável por 100 mL (NMP/100 mL) de no máximo 20.000 coliformes totais e até 4.000 coliformes de origem fecal, para as águas a serem utilizadas na dessedentação animal (CONAMA, 1986). Avaliação da qualidade - Análises laboratoriais Conforme orientação de Fernandes, 2007 deve- se realizar análises bacteriológicas e físico-químicas da água, pelo menos uma vez no período de chuva e uma no de seca, para conhecer sua composição química e sua potabilidade, pois as condições da água podem variar mensalmente devido as oscilações do nível do poço, da fonte, além de outros fatores. Essas análises podem ser feitas em laboratórios de universidades, empresas municipais ou estaduais de saneamento ou em laboratórios particulares. Mas antes de começar pela análise da água, tente medir seu consumo. Na maioria dos casos, quando a qualidade é ruim, o consumo é baixo. Todavia, muitas vezes se perde muito tempo e dinheiro em análises sem conseguir respostas para os reais problemas. Antes de mandar uma amostra para análise, se nada pode ser feito para melhorara disponibilidade da água e conseqüentemente seu consumo. Se necessário, encontre uma maneira de fornecer água de alguma fonte reconhecidamente boa por uma semana e veja se isto faz diferença. Se a produção aumentar saberá que identificou o problema. Daí então poderá investir dinheiro na melhor solução. A qualidade da água pode ser avaliada por suas características físicas, químicas e biológicas. A incorporação de impurezas diversas define a qualidade, tanto por suas características de solvente quanto por sua capacidade de transportar partículas. Aspectos Químicos Um fator determinante como parâmetro de análise da água é o seu aspecto químico. Na averiguação deste critério devem ser levados em consideração os sólidos dissolvidos totais (SDT), pH, dureza e a presença de nitrato, nitrito entre outros minerais. pH O conhecimento dos valores de pH da água permite definir a necessidade de aumento ou redução das dosagens dos produtos de limpeza. O melhor pH para se trabalhar em um sistema de limpeza de ordenhadeiras é aquele que se encontra o mais perto possível de neutro (7,0). Desta forma, encontra-se muita facilidade em utilizar tanto os produtos alcalinos clorados como os ácidos com sucesso. O pH estando alterado poderá impedir a ação dos sanitizantes, como também danificar tubulações e equipamentos utilizados na sala de ordenha. O pH estando num intervalo de 6,5 a 8,5 pouco interfere na qualidade, entretanto, pode influenciar nas reações químicas envolvidas com o tratamento da água. Um pH alcalino, prejudica a ação germicida do cloro e um pH ácido pode comprometer a conservação de tubulações e equipamentos usados. Salinidade A salinidade refere-se à quantidade total de sais minerais dissolvidos na água e pode ser determinada como sólidos totais dissolvidos (SDT) ou como sais totais dissolvidos. Conceitualmente o SDT quantifica a soma de matéria inorgânica dissolvida em uma amostra de água. (PATIENCE, 1992). À medida que o SDT aumenta a qualidade da água piora, causando repulsa no consumo de água e perda de desempenho zootécnico. A problemática relacionada com a salinidade da água depende, principalmente, da concentração total em sais minerais, sendo as águas de superfície as mais atingidas devido aos fenômenos de evaporação e deposição de sais. Os íons que surgem mais frequentemente em águas salobras são o cálcio, magnésio, sódio, bicarbonato, cloreto e sulfato, pois são estes os mais solúveis na água. Os sais provêm de diversas fontes, como esgotos quer urbanos quer de explorações pecuárias, de fertilizantes usados na agricultura e ainda provenientes da atmosfera. A tolerância dos animais à salinidade varia com a espécie, a idade, a necessidade de água e com suas condições fisiológicas (TAB. 1). De modo geral, mudanças abruptas na qualidade da água, de pouco para muito salina, são mais prejudiciais aos animais que mudanças graduais. TABELA 1. Uso potencial de fontes de água com diversos níveis de salinidade Sais Totais Dissolvidos ppm 1.000 Baixo nível de salinidade; pode ser fornecida a qualquer animal 1.000 - 4.999 Satisfatória para bovinos e ovinos; pode causar diarréia temporária ou ser inicialmente recusada por animais não adaptados, porém não irá prejudicar seu desempenho. 5.000 - 6.999 Pode ser utilizada para bovinos e ovinos, porém seu consumo por animais em estágios avançados de gestação ou animais lactantes deve ser evitado. 7.000 - 10.000 De modo geral, seu consumo deve ser evitado. Em situações excepcionais, pode ser fornecida a animais adultos que não estejam em condições de estresse. Não deve ser fornecida para vacas em gestação ou em lactação, cavalos, ovinos, animais jovens ou sujeitos a elevados níveis de estresse térmico ou perda de água. > 10.000 Elevando nível de salinidade ; uso não recomendado > 35.000 Salmoura; uso não recomendado Comentários Fonte: Badley et al. (1997) Níveis muito elevados de salinidade inibem o consumo de água pelos animais e, conseqüentemente, seu consumo de alimentos. Outros sintomas também observados são sede excessiva, dor abdominal, vômito, diarréia, sinais nervosos (tremor, cegueira, andar em círculos ou para trás, etc.), convulsões e morte. Os efeitos prejudiciais da salinidade são decorrentes, principalmente de seu efeito osmótico. O nível de salinidade da água tende a aumentar nas épocas mais quentes e secas do ano devido à maior evaporação da água. Ferro (Fe) A análise de água possibilita determinar as quantidades em ppm (parte por milhão) de ferro presentes na água das propriedades. O que poderá alterar os níveis de dureza da água, interferindo na limpeza dos equipamentos. Além disso, pode-se encontrar colorações marrom - avermelhadas nas mangueiras e demais peças de borrachas do equipamento de ordenha, deixando, além de um mau aspecto, um ambiente propício para posteriores deposições de materiais orgânicos. Um excesso de ferro resulta em depleção de vitaminas (como a vitamina E) e outros minerais (devendo a dieta ser suplementada com selênio, zinco e cobre). Altos níveis de sulfato (acima de 250 ppm) e ferro (acima de 0,3 ppm) são freqüentemente constatados na água. Algumas bactérias são conhecidas por se multiplicarem melhor na presença de enxofre e ferro. Estes minerais também reduzem a palatabilidade da água e a absorção de outros minerais da dieta. De acordo com Socha et al. (2003), alguns pesquisadores acreditam que o ferro presente na água é mais reativo e mais aproveitável pelos animais que o ferro presente em alimentos ou em suplementos. Magnésio (Mg) Do ponto de vista da salinidade, águas com altos teores de sais, assim como aquelas que contém elementos tóxicos, representam perigo para os animais, podendo afetar a qualidade da carne e do leite produzidos, a ponto de torná-los inadequados ao consumo, como também provocar distúrbios fisiológicos e morte dos animais, com conseqüentes perdas econômicas (Ayers e Westcot, 1991). Segundo os mesmos autores, entre os elementos químicos normalmente presentes nas águas naturais que podem causar esses distúrbios, o principal é o magnésio (Mg). Que para o gado bovino tem tolerância máxima de Mg = 400 mg L-1, enquanto para os ovinos de Mg = 250 mg L-1. Nitritos e Nitratos Altos níveis de nitrato (NO3 - acima de 100 ppm) podem diminuir a capacidade de transporte de oxigênio do sangue causando problemas reprodutivos. Altos teores de nitrito (NO2 acima de 4 ppm) podem matar vacas. A presença de níveis anormais de nitrito e nitrato na água em geral são originários de intensa fertilização dos solos que podem acarretar problemas nutricionais e desordens reprodutivas aos animais. O nitrato (NO3 -) é a principal forma de ocorrência de nitrogênio (N) na água, sendo possível sua presença nas águas naturais superficiais. Nelas, as concentrações se situam normalmente entre 0 e 18 mg/L, e variam com a estação do ano, podendo aumentar quando o rio é alimentado por aqüíferos ricos em nitratos. Nas águas subterrâneas, sobre condições aeróbicas, são de poucas mg/L, sendo que não foram encontradas concentrações que excedessem 9 mg/L nos EUA. O nitrato é fixado por plantas durante o seu crescimento, reduzindo sua concentração na água ( WHO, 1993). Existe um amplo uso de nitratos nos fertilizantes inorgânicos utilizados em plantios, também usados como agente oxidante na produção de explosivos e de vidros. As concentrações de nitrato em águas precipitadas de regiões industriais podem ser de 5 mg/L sendo inferiores em áreas rurais. Em águas superficiais podem atingir centenas de mg/L como resultado do escoamento em áreas de agricultura, de lixões e de contaminação por dejetos humanos e de animais. O aumento do uso de fertilizantes artificiais, a disposição de lixo e mudanças no uso do solo para pastagens são os principais fatores responsáveis por um progressivo aumento nos níveis de nitratona água. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a concentração de nitrato na água potável é 10 mg/L (WHO, 1993). Este é o valor limite para todas as classes de usos de águas doces estabelecidos pela resolução 357 (CONAMA, 2005), bem como é o padrão estabelecido pelo USEPA nos EUA. Quando superiores a 5 mg/L já podem indicar condições sanitárias inadequadas, por exemplo, devido a dejetos de humanos e animais. Concentrações superiores a 10 mg/L indicam contaminação por fertilizantes e águas residuárias de esgotos. A presença de nitrito na água pode ser oriunda naturalmente como parte dos ciclos biogeoquímicos. Mesmo assim, a verificação da presença dele servirá, por exemplo, como indicativo se a água subterrânea já está sendo contaminada por esgotos domésticos, efluentes industriais e fertilizantes. Dureza A água é chamada de “dura” quando contém cálcio e magnésio em excesso. Nessa condição, ela facilita a formação de incrustações nos equipamentos, criando “pedras de leite” que se tornam fonte de contaminação do leite se não forem eliminadas. Identificar a dureza da água, portanto, é importante para poder usar produtos adequados e quantidades corretas que evitam essas incrustações. Referente aos aspectos de dureza da água os estudiosos apontam que este critério não interfere diretamente na saúde animal e sim na manutenção de tubulações, devido ao acúmulo de cálcio e magnésio nos sistemas de condução de água (RIMBAUD, 2003) Com base na dureza da água é possível avaliar quais produtos para limpeza e suas dosagens. Sabendo essa informação você estará economizando em produtos químicos e potencializando em muito a eficiência da limpeza do equipamento de ordenha. Aspectos Físicos Analisando os aspectos físicos da água, ressalta-se a temperatura, cor e turbidez como fator diferencial na busca da qualidade Cor e Turbidez As análises laboratoriais para examinar a cor e a turbidez da água são parâmetros que indicam a presença de poluentes ou não nos mananciais. A turbidez representa o grau de interferência por partículas, principalmente por materiais sólidos em suspensão. Ela é expressa por uma medida arbitrária adotada por uma determinada unidade, sendo normalmente utilizada a Unidade Nefelométrica de Turbidez (UNT). Águas superficiais tendem a ser mais turvas que as subterrâneas (WHO, 1993). A turbidez anormal da água é observada pelo despejo de efluentes de origem urbana, animal ou industrial que com certeza terão intercorrências negativas na produção animal. O aumento de turbidez na água pode alterar suas características organolépticas como aparência, cor, sabor e odor e lhe conferir rejeição para fins de potabilidade. A elevação da turbidez relaciona-se indiretamente com a fotossíntese, alterando a cadeia trófica aquática e influenciando comunidades biológicas na água, podendo levar à mortandade de peixes. Uma das causas freqüentes da elevação da turbidez é a erosão do solo nas margens dos corpos de água, muitas vezes devido às práticas agrícolas inadequadas. A turbidez da água tende a mascarar a presença de possíveis organismos patogênicos, estimulando o crescimento de bactérias, pois nutrientes são absorvidos nas partículas. Além disso, elevada turbidez dificulta processos de desinfecção da água (WHO, 1993) Aspectos Microbiológicos Do ponto de vista microbiológico a água pode conter vários microrganismos contaminantes como Salmonella spp, Vibrio cholera, Leptospira spp, Escherichia coli, Pseudomonas, podendo transportar protozoários patogênicos assim como ovos e cistos de vermes intestinais (PATIENCE, 1992) As doenças de veiculação hídrica são causadas principalmente por microrganismos patogênicos de origem entérica, animal ou humana, transmitidos basicamente pela rota fecal-oral, ou seja, são excretados nas fezes de indivíduos infectados e ingeridos na forma de água ou alimento contaminado por água poluída com fezes (GRABOW, 1996). No meio rural, as principais fontes de abastecimento de água são os poços rasos e nascentes, fontes bastante suscetíveis à contaminação (AMARAL et al., 2003). A água contaminada é aquela que pode transmitir germes nocivos ou doenças infecciosas, ou que possui organismos patogênicos, substâncias tóxicas ou radioativas em teores prejudiciais à saúde humana. As fontes de poluição das águas podem ser divididas em fontes pontuais e fontes não pontuais. Fontes pontuais são aqueles em que os poluentes são lançados de modo concentrado e o meio de transporte dos poluentes pode ser identificado, como por exemplo, canos, tubos, tubulações, condutos dentre outros (UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY – USEPA, 1995 citado por LIBOS, 2002). Normalmente, são consideradas fontes pontuais de poluição as redes de lançamentos pluvial e de efluentes industriais. As fontes não pontuais, também denominadas fontes difusas, não têm um ponto definido de entrada no corpo d’água receptor. Os poluentes são transportados pelo escoamento superficial nos meios urbano e rural. A identificação, medição e controle de fontes não pontuais são mais difíceis que as pontuais, pois podem envolver áreas extensas e o transporte de poluentes ocorre de modo disperso nas superfícies. Áreas onde se desenvolvem práticas agrícolas ou utilizadas para pastagens são consideradas fontes não pontuais de poluição. Em trabalho realizado por BARROS, (2010) foi demonstrado que em 100% das propriedades rurais analisadas a qualidade da água está fora dos padrões de potabilidade definidos pelo ministério da saúde e, portanto inapto para consumo. Quando utilizamos o termo "qualidade de água", é necessário compreender que esse termo não se refere, necessariamente, a um estado de pureza, mas simplesmente às características químicas, físicas e biológicas, e que, conforme essas características, são estipuladas diferentes finalidades para a água. Assim, a política normativa nacional de uso da água, como consta na resolução número 20 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), procurou estabelecer parâmetros que definem limites aceitáveis de elementos estranhos, considerando os diferentes usos. Influência da qualidade da água na sanidade Segundo DIESCH (1970), tem aumentado o interesse pela reavaliação do papel desempenhado pela água na transmissão de agentes causais de zoonoses, sendo tal fato devido à escassez de estudos com a finalidade de determinar as fontes de infecção. Porém, há casos registrados de doenças infecciosas de origem animal no homem e nos animais, relacionados à transmissão pela água e, principalmente, associadas a agentes bacterianos. Por outro lado, é pouco conhecido o papel da água como veículo de transmissão de vírus e outros agentes provenientes dos animais. Podem ser veiculados pela água os agentes de muitas das doenças de animais, tais como: carbúnculo, salmoneloses, leptospiroses, brucelose, tifo aviário, paratifo dos bezerros, colibacilose, tuberculose, erisipelóide, febre aftosa, peste suína, peste aviária, anemia infecciosa equina, cinomose, panleucopenia felina, peste suína africana, eimeriose e helmintíases. Por isso, é indispensável a utilização de água de qualidade em todas as etapas de produção: para o consumo dos animais, para a limpeza dos tetos, para a lavagem e desinfecção dos vasilhames e equipamentos de ordenha e para a higienização das instalações. Conforme NEIVA, 2008, diz que as fontes naturais, quando contaminadas com matéria orgânica, por exemplo, podem trazer riscos à saúde dos bovinos. “Não é incomum encontrar reservatórios naturais ou artificiais de água com uma coloração verde. Essa água contém algas que podem ser tóxicas, capazes de produzir componentes altamente nocivos para os bovinos”. A falta de higiene do bebedouro pode afetar a saúde do animal em razão da presença de microrganismos indesejáveis, que podem trazerproblemas à saúde do rúmen e comprometer a qualidade microbiológica e a composição do leite. O manejo geral nas propriedades influencia de forma direta ou indireta o perfil de saúde dos rebanhos por prevenir ou expor os animais a fatores de risco. De outra forma, a saúde influencia nos índices de produção e produtividade ao tornar os animais mais ou menos precoces. Coliformes De acordo com Surber et al. (2004), organismos como coliformes fecais e estreptococos encontram-se sedimentados no fundo das fontes de água, porém, a entrada de animais nestes locais faz com que fiquem novamente suspensos, o que diminui a qualidade da água. O fato de os bovinos usarem as margens de córregos e riachos para pastar, se deslocar e ingerir água pode aumentar o desmoronamento de sedimentos na água, diminuindo a vida útil destas fontes bem como reduzindo seu potencial de habitat de peixes e outras espécies aquáticas (HILLIARD; REEDYK, 2003). Outros aspectos relacionados com ecossistemas e aguadas naturais são os caminhos preferenciais que os bovinos fazem acompanhando o declive do terreno, que podem ser o início de processos erosivos; e a dificuldade de manutenção de matas ciliares. A presença dos coliformes, dentre as quais a Escherichia coli, serve como indicador da contaminação da água por microrganismos (DOMINGUES; LANGONI, 2001). Embora estes indicadores não sejam sempre patogênicos e não sejam correlacionados diretamente com outros patógenos, eles são os mais fáceis e com menor custo para detectar. A mensuração é expressa pelo número mais provável (NMP) e representa a quantidade mais provável de coliformes existentes em 100 ml de água da amostra, sendo considerada como normal encontrar até 1.000 coliformes fecais por mililitro de água. A Escherichia coli tem uma característica notável de crescimento e sobrevivência em diversas condições ambientais. No solo, a E. coli é capaz de sobreviver mais de 60 dias à 25ºC e 100 dias à 4ºC (BOGOSIAN et al., 1996). A luz do sol tem sido considerada como o fator de maior detrimento para a sobrevivência da E.coli na água. Outros fatores que têm sido mostrados ou sugeridos como relacionados à sobrevivência de bactérias, são: temperatura, pH, nutrientes, predadores, tipo de solo, época do ano e competição com outros organismos (FERGUSON et al. 2003). A presença de coliformes fecais na água significa que essa água recebeu matérias fecais, ou esgotos. Por outro lado, são as fezes das pessoas doentes que transportam, para as águas ou para o solo, os microrganismos causadores de doenças. Assim, se a água recebe fezes, ela pode muito bem estar recebendo microrganismos patogênicos. Por isso, a presença de coliformes na água indica a presença de fezes e, portanto, a possível presença de seres patogênicos. Indiretamente, a água pode ainda estar ligada à transmissão de algumas verminoses, como esquistossomose, ascaridíase, taeníase, oxiuríase e ancilostomíase. Na verificação das condições sanitárias de água de abastecimento, os coliformes, em especial os fecais, têm sido úteis para a mensuração da ocorrência e do grau de poluição fecal, uma vez que são habitantes normais do intestino de animais de sangue quente (GELDREICH, 1966). Salmonelas Os animais mitigam a sede em qualquer local onde se acumula água. Sabe-se que microrganismos causadores de diferentes enfermidades animais podem ocorrer na água durante algum tempo e serem por ela transmitidos, como é o caso da salmonelose. A capacidade das salmonelas sobreviverem fora dos hospedeiros, por períodos relativamente longos, proporciona outro dado importante ao se considerar a cadeia epidemiológica das salmoneloses. Dependendo do tipo de exploração agropecuária, a dessedentação de animais feita em lagos, ribeirões, açudes, reservatórios ou mananciais que têm contato estreito com a própria pastagem pode constituir- se num risco de contaminação por salmonelas. Esses locais, freqüentemente, apresentam o inconveniente de serem poluídos com excretas humanos e/ou animais. O controle da salmonelose é dificultado devido a existência de animais portadores de salmonelas, eliminando-as constantemente com as fezes e poluindo desta forma o meio ambiente. Assim sendo, os bebedouros podem constituir importantes fontes de infecção, considerando-se não só os hábitos dos animais durante o ato de beber água, como também as características dos bebedouros que podem ser de diferentes tipos, contribuindo assim para o aumento da incidência de salmonelose. Mastite Em propriedades rurais destinadas à produção leiteira, a água também se destaca como via de transmissão de agentes causadores de mastite. O Staphylococcus aureus é provavelmente o agente mais isolado em casos de mastite (FERREIRO, 1978). A infecção da glândula mamária por Staphylococcus coagulase negativa é de alta incidência e longa duração, e pode afetar a composição e a produção do leite. Esses fatores justificam a atenção dada a esses microrganismos como agentes etiológicos da mastite bovina (TIMMIS, SCHULTZ, 1987). A importância da água na transmissão da mastite é enfatizada pelo fato de o Staphylococcus aureus e os Staphylococcus coagulase-negativa nela sobreviverem por 30 dias e a Escherichia coli, também importante agente etiológico da mastite, por 300 dias (FILIP et al., 1988). Entretanto, a água utilizada no processo de obtenção do leite pode ser fonte potencial de cepas de Staphylococcus aureus resistentes a antimicrobianos comumente utilizados no tratamento da mastite bovina. Isso evidencia a necessidade de controlar a qualidade da água para auxiliar no controle da mastite e diminuir os riscos de intoxicações alimentares. Coccidiose A coccidiose é uma doença parasitária que tem como agentes etiológicos várias espécies de protozoários, inclusive da família Eimeridae do gênero Eimeria que parasita aves, ruminantes, eqüinos e coelhos. Eimeria ssp. é um protozoário que parasita bovinos e outros animais de produção, gerando prejuízos econômicos decorrente da mortalidade e desempenho insatisfatório do animal. Em sua fase patogênica causa o rompimento de células intestinais levando a desidratação, sendo que animais jovens são mais suscetíveis à doença. A maior probabilidade de contaminação de Eimeria ssp., se dá por ser um período úmido. Para evitar a propagação desse protozoário deve- se ter cuidado com a forragem fornecida, qualidade da água, condições do ambiente dentre outras medidas. Os bovinos se infectam pela ingestão de oocistos esporulados junto com alimentos e água contaminados por fezes. Os animais jovens são mais susceptíveis a doença e geralmente apresentam os sintomas mais acentuados da eimeriose. A mortalidade é maior nessa faixa etária. Os animais que se recuperaram desenvolvem imunidade contra as espécies que se infectaram. Esta imunidade não é absoluta e os animais são frequentemente reinfectados. (VIDOTTO, 2005) Questão Ambiental x Qualidade da água A qualidade da água ao redor do planeta Terra tem se deteriorado de forma crescente, especialmente nos últimos 50 anos. Problemas relacionados com a poluição da água se intensificaram no mundo, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando foram observados aumentos significativos nos processos de urbanização e de industrialização. Em estudo realizado por Barros et al, 2010 constatou-se que os produtores que utilizam de água de mina, estão bastante vulneráveis a ação de contaminantes devido ao escorrimento superficial provocado pelas chuvas, conduzindo portanto resíduos agrícolas (agrotoxicos/fertilizantes), dejetos e efluentes gerados pelo sistema de produção animal. Outra evidência constatada é a falta de cobertura vegetal necessária para a devida proteção e manutenção desta fonte de abastecimento. Das propriedades estudadas, 60% não dispõe de estruturas adequadas (esterqueiras) paraestocagem de dejetos e efluentes gerados pela atividade pecuária, favorecendo a contaminação das fontes de abastecimento. Sendo assim, principalmente as águas superficiais, estão vulneráveis a ação de contaminantes físicos, químicos e microbiológicos. Formas de contaminação da água Os animais também podem afetar a qualidade da água com a contaminação urinária e fecal. Os animais em sistema de pastejo, por exemplo, podem afetar negativamente a qualidade da água em cursos d’água devido a contaminação com patógenos, nitrogênio, fósforo e material orgânico. Já com animais em confinamento, a qualidade da água é ainda mais afetada devido à superpopulação e a água ser consumida em bebedouros menores. Dentre os patógenos que ocorrem com a contaminação fecal, incluem a Escherichia coli O157:H7, Campylobacter jejuni, Salmonella spp, Vibrio cholerae. Outros patógenos bacterianos que podem ser transmitidos pela água incluem a Listeria, Leptospira, Brucella, Coxiella e Mycoplasma. Patógenos não bacterianos incluem fungos e protozoários. Todos esses patógenos afetam negativamente o desempenho dos animais por causa da patologia que provocam devido à redução do apetite, sintoma comum nos animais doentes, com conseqüente redução na ingestão de alimentos e perda de peso. Além disso, os animais ainda sofrem com o estresse provocado com o manejo sanitário, agravando ainda mais a situação. Tudo isso resulta em prejuízo econômico para o produtor decorrente do maior gasto com produtos e serviços veterinários e o comprometimento dos índices zootécnicos da fazenda. Com práticas de manejo simples pode-se evitar esse problema: mantendo os bebedouros sempre limpos e com água de boa qualidade. Estratégias para o manejo de dejetos Basicamente a água utilizada nos locais de ordenha possuem dois destinos. A maioria escorre pela superfície do estábulo e do solo, sem qualquer estratégia de armazenamento. O outro destino das águas e verificado são as esterqueiras. Atualmente, mais de 50% da água utilizada pelos produtores rurais brasileiros não passa por nenhum tipo de desinfecção. Estudos apontam que a água de poços e nascentes está cada vez mais contaminada. Em Santa Catarina (SC), por exemplo, são 100% das fontes, em Minas Gerais (MG), 95% estão contaminadas. Conforme SANTOS, 2010 muitas das doenças adquiridas pelos animais têm origem na água consumida em locais não apropriados. A desinfecção é um processo preventivo para diversas doenças. E muitos custos podem ser evitados ao se tratar a água, afirma. A partir da avaliação, os parceiros devem procurar um profissional e solicitar as orientações para tratar a água e não prejudicar a produção de leite. A desinfecção é um processo que deve ser adotado independentemente da qualidade apresentada, pois mesmo que não esteja contaminada na fonte, esta água será contaminada no processo de uso, colocando em risco a qualidade final do produto. Para que o controle microbiológico das águas de consumo se efetive é necessário que medidas e ações sejam adotadas. O tratamento de dejetos animais antes de sua incorporação ao solo, o saneamento básico e a manutenção do sistema de armazenamento e distribuição de água domiciliar, constituem o primeiro passo. No caso de análises bacteriológicas indicarem contaminação na água das nascentes ou dos poços, é necessário providenciar a desinfecção dos reservatórios que geralmente é feita com altas dosagens de cloro. Nos bebedouros, o momento de maior consumo de água ocorre após a ordenha, quando a vaca pode ingerir até 50% das suas necessidades hídricas diárias. Isso torna a saída da sala de ordenha um dos pontos estratégicos para a localização dos bebedouros, de preferência em locais frescos e de fácil acesso. Além disso, o bebedouro deve ter espaço suficiente para que os animais não entrem em disputa pela água. Segundo AMARAL, 2003 são necessários vários cuidados para evitar o uso de água contaminada. “Muitas propriedades rurais usam poços rasos e nascentes. Principalmente os poços com menos de 20 metros de profundidade são bastante susceptíveis à contaminação por sujidades, microorganismos ou substâncias químicas”, explica Amaral. Ele diz que é preciso proteger nascentes, facilitar a recarga das sub- bacias, avaliar a vazão do manancial e trabalhar para reduzir ao máximo a matéria orgânica que se deposita na água. E como as fazendas têm características diferentes, é necessário um estudo específico para cada uma para definir as formas de preservação e utilização da água. Entende-se que essas solicitações são justas, já que todos concordam que a água é um bem precioso e que precisa ser utilizada racionalmente Algumas técnicas e equipamentos, de acordo com SILVA e MAGALHÃES (2001) destacam-se para o tratamento e/ou disposição dos resíduos de animais, como: biodigestores, esterqueiras e bioesterqueiras, compostagem e vermicompostagem (adubação), reutilização como ração, lagoas de estabilização, etc. Finalmente, é importante considerar que a redução do uso de agroquímicos e o manejo adequado de dejetos de animais constituem práticas também essenciais para reduzir os problemas de poluição da água. No primeiro caso, é preciso direcionar os esforços para resgatar o conhecimento de tecnologias menos intensivas no uso de agroquímicos e mais intensivas no uso do conhecimento agronômico e da compreensão das interações dos ecossistemas agrícolas. Esse conhecimento é fundamentado em princípios como rotação de culturas, manejo integrado de pragas, uso de adubos verdes, etc. Ao analisarem o efeito do tratamento da água no desempenho dos animais, observaram que o fornecimento de água de melhor qualidade (água fresca), propiciou melhores desempenhos do que os outros tratamentos. De acordo com os autores, a diferença no desempenho animal pode ser decorrente da presença de matéria orgânica fecal, que promoveu alteração negativa no cheiro e na palatabilidade da água, resultando em diminuição na sua ingestão com conseqüente diminuição da ingestão de matéria seca. Apesar do aparente custo elevado na instalação de bebedouros numa propriedade, este investimento é de fundamental importância, pois além de possibilitar o fornecimento de água de qualidade para os animais, aumentando os índices zootécnicos, também faz com que reduza os riscos de erosão e assoreamento de córregos e nascentes de rios, provocados pelos trilheiros dos animais, quando estes vão em busca das fontes naturais de água. Na maioria das propriedades rurais, costuma-se esquecer da importância da limpeza periódica dos bebedouros, sendo uma ação simples, mas com grande impacto na produtividade animal. Particularmente, em áreas rurais e em períodos de intensas chuvas, a proteção insuficiente dos poços pode levar à contaminação. O produtor deve se preocupar em fazer periodicamente vistorias nos reservatórios de água para verificar a presença de fendas, pois estas podem ser a porta de entrada para os patógenos. Não permitir o acesso do rebanho às minas, lagos, riachos e rios é também importante por evitar a contaminação da água por fezes e urina. Essa medida também contribui para a preservação das fontes naturais, já que o pisotear do rebanho compacta o terreno e destrói a vegetação ao redor. Conforme KRAVITZ et al (1999) defendem que a proteção das fontes de abastecimento pode preservar a qualidade da água no meio rural onde a desinfecção não é realizada, sendo que cada fator de proteção tem sua importância, e a ausência de um deles já é motivo de preocupação. GELDREICH (1998) afirma que a água de escoamento superficial é o principal fator que modifica a qualidade microbiológica da água subterrânea, tornando - a de risco à saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se afirmar que a água é um insumo barato, que traz grandes benefícios ao rebanho. Todavia com a pressão ambiental cada vez maior, a água napecuária vai precisar ser usada de forma mais eficiente e racional e será cobrado do produtor que ele não polua rios e córregos com dejetos, levando-o a disciplinar o uso da água em sua propriedade. REFERÊNCIAS AMARAL GUSTAVO L, et al. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em propriedades rurais. Revista Saúde Pública, Jaboticabal, v. 3, n. 4, p. 510-514, out. 2003. AMARAL, L.A.; FILHO, A.N.; JUNIOR, O.D.R.; FERREIRA, F.L.A; BARROS, L.S.S. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em propriedades rurais. Revista Saúde Pública, vol. 37 n.º 04 – São Paulo – Agosto de 2003. ANDERSSON,M.; LINDGREN, K. Effects of restricted access to drinking at feeding and social rank, on performance and behavior of tied-up dairy cows. Swedish Journal of Agriculture Research, v.17, p. 77-83, 1987. AYERS, R. S.; WESTCOT, D.W. A qualidade da água na agricultura. Tradução H. R. GHEYI; J. F. MEDEIROS; F. A. V. DAMACENO. 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