Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.135-138, abril, 2008 BIOTECNOLOGIAS DA REPRODUÇÃO ANIMAL PRODUÇÃO IN VITRO DE EMBRIÕES BOVINOS Paulo Bayard D. GONÇALVES1, M.H. BARRETA, L.C. SIQUEIRA, A.Q. ANTONIAZZI INTRODUÇÃO A produção in vitro de embriões (PIV) é uma biotécnica de reprodução assistida e uma ferramenta para pesquisa de eventos relacionados à maturação e fecundação de oócitos, capacitação espermática e desenvolvimento embrionário na fase de pré-implantação. Além disso, a PIV é um instrumento de suporte para outras biotécnicas como clonagem, transgênese e transferência nuclear. Sua aplicação em escala comercial se tornou viável após o advento da aspiração folicular in vivo e pelo aprimoramento das condições de cultivo in vitro. Passam-se 25 anos após o nascimento do primeiro bezerro produzido in vitro e os índices de blastocistos obtidos ainda estão aquém do desejado, variando entre 20-50% (média de 35%). Além da baixa eficiência da técnica, os embriões que conseguem se desenvolver in vitro apresentam qualidade inferior àqueles produzidos in vivo. Diversos parâmetros são utilizados para avaliar a qualidade dos embriões PIV como morfologia, criotolerância, transcrição (mRNA), eclosão in vitro e prenhez após a transferência. Entretanto, nenhuma dessas técnicas permite uma seleção eficiente que assegure bons índices de prenhez. O aumento da eficiência da PIV está condicionado ao desenvolvimento de trabalhos que visem aperfeiçoar e simplificar as condições de cultivo durante as várias etapas do processo, principalmente no que se refere à maturação citoplasmática e molecular de oócitos obtida in vitro. Maturação nuclear, citoplasmática e molecular do oó cito In vivo, a maturação nuclear do oócito inicia após o pico pré-ovulatório de LH durante o estro e in vitro, a retirada do oócito do ambiente folicular reinicia a meiose. Em bovinos, a maturação nuclear do oócito requer de 18-24h e compreende a progressão do estádio diplóteno da primeira prófase meiótica até metáfase II. A capacitação do oócito, avaliada pelo desenvolvimento embrionário, tem sido positivamente associada com o tamanho do folículo antral do qual foi recuperado (LONERGAN et al., 1994), com o estádio de desenvolvimento folicular (MACHATKOVA et al., 2004) e com o local de maturação (in vivo vs. in vitro; RIZOS et al., 2002). O TCM199 é o meio mais difundido entre os laboratórios de PIV. Seus principais suplementos são o soro fetal bovino, FSH, LH, piruvato, penicilina e estreptomicina. A maturação in vitro varia de 18-24h em 5% de CO2 em ar e umidade saturada. 1 Laboratório de Biotecnologia e Reprodução Animal, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brazil. e-mail: bayard@biorep.ufsm.br P. B. D. GONÇALVES et al. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.135-138, abril, 2008 136 In vivo, os folículos pré- ovulatórios atingem um diâmetro de 12-20mm, e ovulam um oócito com núcleo e citoplasma maturados adequadamente. Entretanto, os oócitos coletados para PIV são em sua maioria oriundos de pequenos folículos antrais e apesar de competentes para o reinício da meiose, apresentam baixa capa- citação para o desenvolvimento embrionário, por apresentarem uma maturação citoplasmática e mole- cular insuficiente. As condições de cultivo in vitro têm sido constan- temente manipuladas para melhorar a capacitação do oócito após sua retirada do ambiente folicular. Fatores de crescimento, gonado- trofinas e esteróides têm sido adicionados aos mais diversos meios de maturação. Porém, apenas modestos incrementos na capacidade de desenvolvimento embrionário puderam ser obser- vados e a produção de blastocistos raramente atingiu 50% (THOMPSON, 2000). Métodos celulares e bioquímicos têm sido usados para inibir o reinício da meiose dos oócitos após sua retirada do ambiente folicular, visando melhorar o desenvol- vimento citoplasmático e molecular na ausência de maturação nuclear (SIRARD, 2001). Esses estudos demonstram que é possível manter o reinício da meiose bloqueado por 24-48h sem afetar drasticamente o desenvolvimento embrionário ou fetal. Porém, nenhuma dessas metodologias tem melhorado a capacidade de desenvolvimento embrionário. Recentemente, nosso grupo demonstrou que a angio- tensina II é capaz de reverter o efeito inibitório das células da teca sobre a maturação nuclear de oócitos bovinos (GIOMETTI et al., 2005). Além disso, o cultivo de CCOs em um sistema de maturação com células foliculares, angioten- sina II e IGF-I aumentou as taxas de clivagem, blastocisto e eclosão in vitro (STEFANELLO et al., 2006). Fecundação in vitro In vivo, o espermatozóide percorre um longo trajeto para chegar ao infundíbulo e fecundar o oócito. Durante esse percurso, glicosaminoglicanas presentes no trato genital feminino induzem sua capacitação. Para fertilização in vitro, a capacitação espermática é, geralmente, promovida pela hepa- rina. Antes do processo de capacitação, os espermatozóides viáveis contidos em uma palheta de sêmen precisam ser separados do plasma seminal, crioprotetores, extensores e células mortas. Para bovinos, os métodos de separação espermática mais utilizados são o gradiente de percoll e o swim-up. O co-cultivo de espermatozóides e oócitos é realizado por um período de 18-22h, a 39˚C e 5% de CO2 em ar e umidade saturada. O sistema de fertilização in vitro tenta mimetizar as condições in vivo. Porém, resultados variados são obtidos com espermatozóides oriundos de touros ou partidas diferentes. Desenvolvimento embrionário in vitro O momento crítico para o desenvolvimento embrionário come- ça após a fecundação, quando a segunda meiose é reiniciada para formar o pró-núcleo feminino, e termina com a ativação do genoma embrionário 8-16 células (BREVINI GANDOLFI & GANDOLFI, 2001). O desenvolvimento nesse período é dependente de mRNA e proteínas acumuladas durante a maturação citoplasmática (BLONDIN & P. B. D. GONÇALVES et al. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.135-138, abril, 2008 137 SIRARD, 1995). A transcrição deficiente antes da ativação do genoma embrionário não permite o desenvolvimento em várias espé- cies. Isso foi um dos obstáculos da PIV nas décadas de 60 e 70, fato que contribuiu para melhoria dos sistemas de cultivo. Diversos fatores de cresci- mento têm sido adicionados aos meios de cultivo in vitro para melhorar os índices de desenvol- vimento embrionário (LONERGAN et al., 1996; MATSUI et al., 1997). Porém, apenas em meios definidos esses fatores incrementam as taxas de blastocisto. O cultivo in vivo no oviduto de ovelhas (LONERGAN et al., 2003) e vacas, de embriões bovinos fertilizados in vitro, parece fornecer um ambiente adequado para o desenvolvimento embrio- nário. A produção de blastocistos em sistemas de cultivo in vivo não é superior a observada in vitro, mas a qualidade dos blastocistos cultiva- dos in vivo é superior (RIZOS et al., 2002). O cultivo embrionário in vitro varia de 7-9 dias a 39ºC, atmosfera controlada (5% de O2, 5% de CO2 e 90% de N2) e umidade saturada. A taxa de blastocisto geralmente é avaliada no 7º dia após a fecundação sendo que, os blasto- cistos podem permanecer na estufa até o 9º dia para avaliar a taxa de eclosão in vitro. CONSIDERAÇÕES FINAIS A otimização da técnica de PIV visando à produção de embriões de boa qualidade e em número cada vez mais expressivo resultará na diminuição do custo por embrião produzido e possibilitará uma maior difusão da técnica entre os produtores. Ainda, tais melhorias seriam de grande valia para o aprimoramento de outras biotéc- nicas que dependam da PIV. Para isso se faz necessário o desenvolvimento de um sistema de maturação in vitro adequado que permita uma maior capacitação dos oócitos e conseqüentemente uma maiortaxa de desenvolvimento embrionário. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLONDIN, P.; SIRARD,M.A. Oocyte and follicular morphology as determining characteristics for developmental competence in bovine oocytes. Molecular Reproduction and Development, v.41, n.1, p.54-62, 1995. BREVINI GANDOLFI, T.A.L.; GANDOLFI, F. The maternal legacy to the embryo: cytoplasmic components and their effects on early development. Theriogenology, v.55, n.6, p.1255- 1276, 2001. GIOMETTI, I.C. et al. Angiotensin II reverses the inhibitory action produced by theca cells on bovine oocyte nuclear maturation. Theriogenology, v.63, n.4, p.1014- 1025, 2005. LONERGAN, P. et al. Role of epidermal growth factor in bovine oocyte maturation and preimplantation embryo development in vitro. Biology of Reproduction, v.54, n.6, p.1420- 1429, 1996. LONERGAN, P. et al. Effect of follicle size on bovine oocyte quality and developmental competence following maturation, fertilization, and culture in vitro. Molecular Reproduction and Development, v.37, n.1, p.48-53, 1994. LONERGAN, P. et al. Temporal Divergence in the Pattern of P. B. D. GONÇALVES et al. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.135-138, abril, 2008 138 Messenger RNA Expression in Bovine Embryos Cultured from the Zygote to Blastocyst Stage In Vitro or In Vivo. Biology of Reproduction, v.69, n.4, p.1424- 1431, 2003. MACHATKOVA, M. et al. Developmental competence of bovine oocytes: effects of follicle size and the phase of follicular wave on in vitro embryo production. Theriogenology, v.61, n.2-3, p.329- 335, 2004. MATSUI, M. et al. Stimulation of the development of bovine embryos by insulin and insulin-like growth factor- I (IGF-I) is mediated through the IGF-I receptor. Theriogenology, v.48, n.4, p.605-616, 1997. RIZOS, D. et al. Consequences of bovine oocyte maturation, fertilization or early embryo development in vitro versus in vivo: implications for blastocyst yield and blastocyst quality. Mol.Reprod.Dev., v.61, n.2, p.234- 248, 2002. SIRARD, M.A. Resumption of meiosis: mechanism involved in meiotic progression and its relation with developmental competence. Theriogenology, v.55, n.6, p.1241- 1254, 2001. STEFANELLO, J.R. et al. Effect of angiotensin II with follicle cells and insulin-like growth factor-I or insulin on bovine oocyte maturation and embryo development. Theriogenology, v.66, n.9, p.2068- 2076, 2006. THOMPSON, J. G. In vitro culture and embryo metabolism of cattle and sheep embryos -- a decade of achievement. Animal Reproduction Science, v.60-61, p.263-275, 2000.
Compartilhar