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726 Anatomia humana ▶ descrever a relação das modificações histológicas na parede dos intestinos com as atividades diges- tórias dessas regiões. O intestino delgado é a parte mais longa do tubo digestório (ver Figura 23.1) e o sítio da maior parte da atividade enzimática e de praticamente toda a absorção dos nutrientes. A maioria das enzimas que agem no in- testino delgado não é secretada pelos intestinos, mas sim pelo pâncreas. Durante a digestão, o intestino delgado passa por movimentos de segmentação ativa, misturando o quimo para frente e para trás e, assim, maximizando seu contato com a mucosa que absorve nutrientes. O pe- ristaltismo impele o quimo através do intestino delgado em aproximadamente 3 -6 horas. Anatomia macroscópica O intestino delgado é um tubo retorcido que vai do óstio pilórico, na região do epigástrio do abdome, até a primeira parte do intestino grosso, na região ilíaca (in- guinal) direita. Ele é mais curto em uma pessoa viva (2,7 -5 metros) do que nos cadáveres conservados (6 -7 metros), onde a perda do tônus muscular e os efeitos dos conservantes o tornam mais alongado. O intestino delgado possui três divisões (ver Figu- ra 23.1): o duodeno (“12 dedos de comprimento”), o jejuno (“vazio”) e o íleo (“intestino retorcido”), que contribuem aproximadamente com 5%, 40% e 60% do seu comprimento, respectivamente. Enquanto a maior parte do duodeno, que tem a forma da letra C, é retrope- ritoneal, o jejuno e o íleo formam espirais suspensas na parte posterior do abdome pelo mesentério e emoldura- das pelo intestino grosso. O jejuno corresponde à parte superior dessa massa intestinal espiralada, enquanto que o íleo corresponde à parte inferior direita. Embora o duodeno seja a divisão mais curta do in- testino delgado, ele tem a maioria das características de interesse (Figura 23.19). Ele recebe enzimas di- gestórias do pâncreas via ducto pancreático e bile do fígado e da vesícula biliar via ducto colédoco. Esses ductos entram na parede do duodeno, onde formam um bulbo chamado ampola também chamada ampola he- patopancreática (“ampola do fígado e do pâncreas”), que se abre no duodeno em uma pequena saliência da mucosa chamada papila maior do duodeno. A entrada de bile e o suco pancreático no duodeno é controlada por esfíncteres de músculo liso que circundam a am- pola hepatopancreática e pelas terminações dos ductos pancreático e colédoco. Vasos e nervos O intestino delgado é inervado por neurônios entéricos. As fibras parassimpáticas do vago e as fibras simpáticas dos nervos esplâncnicos toráci- cos, ambas retransmitidas através do plexo mesentérico (e celíaco) superior, influenciam sua atividade. O su- primento arterial para o intestino delgado ocorre prin- cipalmente pela artéria mesentérica superior. As veias seguem em paralelo com as artérias e drenam normal- mente na veia mesentérica superior; a partir daí, o san- Jejuno Mucosa com pregas Ducto cístico Duodeno Ampola (hepatopancreática) e esfíncter Vesícula biliar Ductos hepáticos direito e esquerdo Ducto colédoco e esfíncter Ducto pancreático e esfíncter Pâncreas Cauda do pâncreas Cabeça do pâncreas Ducto hepático comum Papila duodenal maior Ducto pancreático acessório Figura 23.19 Duodeno e órgãos relacionados. A dissecção de cadáver à direta e a ilustração à esquerda mostram os ductos que se abrem no duodeno a partir do pâncreas, vesícula biliar e fígado. Capítulo 23 Sistema digestório 727 gue venoso rico em nutrientes drena na veia porta que o conduz para o fígado. Anatomia microscópica Como observamos anteriormente, toda a absorção de nutrientes ocorre no intestino delgado, que é alta- mente adaptado para essa função. Além da enorme área de superfície para absorção proporcionada pela exten- são do intestino delgado, várias outras características estruturais proporcionam ainda mais área de superfície absorvente e também cumprem outras funções relacio- nadas à digestão. Modificações para a absorção A parede do intes- tino delgado possui três modificações estruturais que amplificam enormemente a sua superfície de absorção: pregas circulares, vilosidades e amplas microvilosida- des (Figura 23.20). Como a maior parte da absorção ocorre na parte proximal do intestino delgado, essas es- pecializações diminuem em quantidade na direção da parte distal. As pregas circulares são cristas transversas perma- nentes da mucosa e da submucosa (Figura 23.20a). Elas têm aproximadamente 1 cm de altura. Além de aumen- tar a área de superfície absorvente, essas pregas forçam o quimo a se mover em espiral através da luz intestinal, retardando o seu movimento e dando tempo para a ab- sorção completa dos nutrientes. As vilosidades são projeções na mucosa, similares a dedos, e que conferem uma textura aveludada, muito parecida com as felpas macias de uma toalha. Com Afluente venoso transportando sangue para a veia porta Camadas musculares Pregas circulares Vilosidades (a) (b) (c) Luz Células absortivas (enterócitos) Capilar linfático Glândula intestinal (cripta) Tecido linfático associado a mucosa Glândula intestinal (cripta) Muscular da mucosa Glândula duodenal Submucosa Células enteroendócrinas Vênula Vaso linfático Células absortivas (enterócitos) Microvilosidades (borda em escova) Célula caliciforme Capilares sanguíneos Vilosidades Células caliciformes Vilosidade Figura 23.20 Modificações estruturais do intestino delgado que aumentam a área de superfície para digestão e absorção. (a) Ampliação de algumas pregas circulares exibindo as vilosidades associadas. (b) Estrutura de uma vilosidade. A ampliação mostra uma célula absortiva (enterócito) e parte de duas outras que exibem microvilosidades em sua superfície voltada para a luz. (c) Fotomicrografia da mucosa exibindo vilosidades (270×). (Para mais detalhes, consultar A brief atlas of the human body, 2. ed., Lâminas 44 e 45.) 728 Anatomia humana mais de 1 mm de altura e, portanto, suficientemente grandes para serem vistas a olho nu, as vilosidades são cobertas por um epitélio simples prismático feito principalmente de células absortivas, chamadas en- terócitos, especializadas em absorver os nutrientes digeridos (Figuras 23.20b e c). Dentro do cerne de lâmina própria em cada vilosidade há uma rede de ca- pilares sanguíneos e um amplo capilar linfático (vaso lácteo) (ver p. 653). Os produtos finais da digestão dos carboidratos e proteínas entram nos capilares san- guíneos; as gorduras absorvidas entram nos capilares linfáticos. As implicações dessa distinção são impor- tantes. Os vasos sanguíneos que drenam o intestino delgado transportam os nutrientes absorvidos para o fígado via sistema porta (Capítulo 20, p. 638). No en- tanto, as gorduras absorvidas não seguem diretamente para o fígado, mas, em vez disso, passam pelos vasos linfáticos e drenam no sistema venoso próximo à veia braquiocefálica (ver Capítulo 21, p. 635 e 636). Desse modo, as toxinas lipossolúveis ingeridas e absorvidas, como os pesticidas ou herbicidas, conseguem circu- lar pelo corpo inteiro antes de chegar ao fígado para desintoxicação. Dentro do cerne de cada vilosidade há uma expan- são de músculo liso da muscular da mucosa que permite que a vilosidade se movimente durante a digestão. Es- ses movimentos melhoram a eficiência da absorção ao aumentar a quantidade de contato entre as vilosidades e os nutrientes na luz do intestino e também comprimem a linfa através dos lácteos. As superfícies apicais das células absortivas possuem muitas microvilosidades (Figura 23.20b). Embora essas projeções ocorram na maioria das superfícies epiteliais no corpo, as projeções no intestino delgado são excepcional- mente longas e densamente povoadas. Além de amplificar a superfície absorvente, a membrana plasmática dessas microvilosidades contém enzimas que completam os está- gios finais da decomposição das moléculas de nutrientes. A quantidade de superfície absorventeno intestino delgado é notável. Juntas, as pregas circulares, vilosida- des e microvilosidades aumentam a área de superfície do intestino em aproximadamente 200 metros quadrados, equivalente à área média de uma casa de dois andares! Histologia da parede Todas as camadas comuns do tubo digestório ocorrem no intestino delgado. O epi- télio de revestimento da mucosa, que ocorre não apenas nas vilosidades, mas também na superfície intestinal entre essas vilosidades, contém as células absortivas previamente mencionadas, além de algumas células ca- liciformes e células enteroendócrinas espalhadas (ver também a Figura 23.24, p. 734-735): �� Células absortivas (enterócitos) (Figuras 23.20b e c). Essas células contêm muitas mitocôndrias porque a absorção dos nutrientes digeridos é um processo que exige grande quantidade de energia. Eles também contêm um retículo endoplasmático abundante que transforma as moléculas de lipídio recém -absorvidas em complexos lipídico -proteicos chamados quilomicrons. Depois de produzidos, os quilomicrons entram nos capilares linfáticos (“lác- teos”), a forma que a gordura absorvida entra na circulação. �� Células caliciformes (Figuras 23.20b e c). Essas células secretam sobre a superfície interna do in- testino uma cobertura de muco que lubrifica o qui- mo e forma uma barreira protetora que impede a digestão enzimática da parede do intestino. �� Células enteroendócrinas (Figura 23.20b). As células enteroendócrinas do duodeno secretam vários hormônios que sinalizam a vesícula biliar para liberar a bile armazenada e o pâncreas para secretar enzimas digestórias e um suco rico em bi- carbonato para neutralizar o quimo ácido que entra no duodeno. Entre as vilosidades, a mucosa contém invagina- ções chamadas glândulas (criptas) intestinais (Figura 23.20b). As células epiteliais que revestem essas crip- tas secretam suco intestinal, um líquido aquoso que se mistura com o quimo na luz do intestino. Dois outros ti- pos de célula são encontrados nas glândulas intestinais. �� Células epiteliais não diferenciadas revestem as glândulas intestinais e renovam o epitélio mucoso dividindo -se e movendo -se permanentemente so- bre as vilosidades. Elas estão entre as células que se dividem mais rapidamente no corpo, renovando completamente o epitélio interno do intestino del- gado a cada 3 -6 dias. Essa substituição rápida é ne- cessária porque cada célula epitelial não consegue suportar por muito tempo os efeitos destrutivos das enzimas digestórias na luz do intestino. �� Células de Paneth maduras (ver Figura 23.14, p. 719) são encontradas na base da glândula. Essas células epiteliais secretam enzimas que destroem certas bactérias e que podem ajudar a determinar os tipos de bactérias que vivem na luz do intesti- no. Os residentes bacterianos permanentes da luz, chamados flora intestinal, produzem algumas vi- taminas essenciais que os intestinos absorvem. A vitamina K é uma substância produzida pelas bac- térias do intestino. O intestino delgado contém muitas áreas de tecido linfático. O tecido linfático associado a mucosa (MALT) é encontrado na camada mucosa de todo o intestino e os nódulos linfáticos agregados (placas de Peyer) estão situados na submucosa do íleo (ver p. 666). A submucosa do intestino delgado é um tecido con- juntivo típico. Apenas no duodeno ele contém um con- junto de glândulas duodenais tubulares compostas, cujos ductos se abrem para as criptas intestinais (ver Fi- gura 23.20b). Essas glândulas secretam um muco alcali- Capítulo 23 Sistema digestório 729 (a) Flexura direita do colo (hepática) Colo transverso Artéria mesentérica superior Saculação do colo (haustro) Colo ascendente Íleo Óstio ileal Apêndice vermiforme Ceco Flexura esquerda do colo (esplênica) Mesocolo transverso Apêndices omentais (epiploicos) Colo descendente Tênias do colo Colo sigmoide Margem seccionada do mesentério Esfíncter externo do ânus Reto Canal anal Figura 23.21 Anatomia macroscópica do intestino grosso. (a) Intestino grosso inteiro. no rico em bicarbonato que ajuda a neutralizar a acidez do quimo do estômago e contribui para a camada prote- tora de muco na superfície interna do intestino delgado. As camadas externas do intestino delgado (muscular e serosa) não possuem características incomuns. Intestino grosso O intestino grosso é o último órgão do tubo diges- tório (Figura 23.21). O material que chega até ele é um resíduo altamente digerido que contém poucos nutrien- tes. Durante as 12 -24 horas que esse resíduo permanece no intestino grosso ocorre pouca decomposição adicio- nal do alimento, exceto quanto à pequena quantidade de digestão realizada pelas muitas bactérias que nele vivem. Embora o intestino grosso absorva esses poucos nutrien- tes restantes, sua função principal é absorver água e eletrólitos da massa digerida, resultando em fezes semis- sólidas. A propulsão através do intestino grosso é lenta e fraca, exceto pelos movimentos peristálticos de massa, que passam pelo colo algumas vezes por dia para forçar as fezes vigorosamente na direção do reto. Anatomia macroscópica O intestino grosso emoldura o intestino delgado em três lados e meio, formando um retângulo aber- to (ver Figura 23.1). Esse órgão, que é mais largo do que o intestino delgado, porém com menos da metade do seu comprimento (1,5 metro), possui as seguintes subdivisões: ceco, apêndice vermiforme, colo, reto e canal anal (Figura 23.21a). Ao longo de quase todo o seu comprimento, o intes- tino grosso exibe três características especiais: tênias do colo, saculações do colo (haustros) e apêndices omentais do colo (epiploicos). As tênias do colo são três fitas longitudinais espaçadas em intervalos iguais em volta da circunferência do ceco e do colo. Elas são espessamentos da camada longitudinal muscular, que é fina, exceto nesses locais. Como as tênias mantêm o tônus muscular, ela faz com que o intestino grosso fique franzido em saculações do colo. Os apêndices omentais do colo são bolsas cheias de gordura do pe- ritônio visceral que ficam suspensas no intestino. Sua importância é desconhecida. 730 Anatomia humana Ceco e apêndice vermiforme O intestino grosso começa no ceco (“bolsa sem saída”) na fossa ilíaca direita. A abertura do íleo do intestino delgado para a parede medial do ceco é o óstio ileal3 (Figura 23.21a), limitado por duas margens elevadas de mucosa. Um esfíncter no íleo terminal mantém o óstio fechado até haver alimento no estômago, momento em que o es- fíncter relaxa reflexivamente e abre o óstio. À medida que o ceco enche, suas paredes se alongam, tracionan- do as margens do óstio, fechando-o. Essa ação impede o refluxo das fezes do ceco para o íleo. O apêndice vermiforme é um tubo sem saída que se abre na parede posterior do ceco. Embora quase sem- pre seja ilustrado suspenso inferiormente, na maioria das vezes ele está “aconchegado” na fossa ilíaca direita, posterior ao ceco. O apêndice tem massas grandes de tecido linfático em sua parede. Considerado frequente- mente um órgão residual, pesquisas recentes propõem que o apêndice funciona como um porto seguro para as bactérias benéficas que habitam o intestino grosso. De acordo com essa teoria, essas bactérias conseguem repovoar o intestino após uma doença infecciosa que provoca diarreia e remove a flora intestinal. APLICAÇÃO CLÍNICA Apendicite Inflamação aguda do apêndice, que resulta de uma obliteração que aprisiona as bac- térias infecciosas dentro da sua luz. Essa condição é causada frequentemente por uma massa de fezes ou por um intumescimento do tecido linfático da parede do apêndice induzido por vírus. Incapaz de esvaziar o seu conteúdo, o apêndice incha com o muco que se- creta, espremendo a sua drenagem venosa e levando à necrose isquêmica e à infecção. Se o apêndice rom- per, as bactérias e fezes são liberadas no peritônio, provocando peritonite. Como os sintomas da apendicite variam bastante,essa condição é notoriamente difícil de diagnosticar. Muitas vezes, porém, o primeiro sintoma é a dor na região umbilical, seguida por perda de apetite, febre, náusea, vômito e mudança da dor para a região ingui- nal (ilíaca) direita da superfície abdominal. A palpação dessa região que provoca dor forte após o alívio da pressão (a conhecida hipersensibilidade de rebote) pode indicar apendicite. A remoção cirúrgica imediata do apêndice, cha- mada apendectomia, é o tratamento usual. Colo O colo possui vários segmentos distintos (Fi- gura 23.21a). A partir do ceco, o colo ascendente sobe ao longo do lado direito da parede posterior do abdome em uma posição retroperitoneal e chega ao nível do rim direito, onde faz uma volta de 90 graus, a flexura direita do colo (também chamada flexura hepática porque o fígado se situa posterior à mesma). A partir dessa flexura, o colo transverso se estende intraperitonealmente para a esquerda através da cavi- dade peritoneal. Anteriormente ao baço, ele se curva agudamente para baixo na flexura esquerda do colo (esplênica) e desce ao longo do lado esquerdo da pa- rede posterior do abdome, novamente em uma posição retroperitoneal, como colo descendente. Inferiormen- te, o colo se torna intraperitoneal e entra na pelve ver- dadeira como colo sigmoide em forma de S (sigma = letra grega correspondente à letra s). Reto Na pelve, o colo sigmoide se une ao reto (Figu- ra 23.21a), que desce ao longo da metade inferior do sa- cro em uma posição retroperitoneal. O reto não possui tênias; sua camada muscular longitudinal é completa e bem desenvolvida, de modo que ele consegue gerar fortes contrações para a defecação. Apesar do nome “reto”, ele possui, na realidade, várias curvas fechadas. Internamente, essas curvas são representadas como três pregas transversas do reto (ou válvulas retais) (Figu- ra 23.21b), que evitam que as fezes sejam eliminadas junto com o flato (gases). Canal anal A última subdivisão do intestino gros- so é o canal anal (ver Figura 23.21b). Com cerca de 3 m de comprimento, ele começa onde o reto atravessa o músculo levantador do ânus, o músculo que forma o (b) Válvula retal Reto Canal anal Músculo levantador do ânus Ânus Seios anais Colunas anais Válvulas anais Esfíncter anal interno Esfíncter anal externo Veias hemorroidais Linha pectinada Figura 23.21 Anatomia macroscópica do intestino grosso, continuação. (b) Reto inferior e canal anal em corte frontal. 3 Nota do revisor técnico: o óstio ileal é encontrado no ápice da papila ileal, limitado pelos lábios ileocólico e ileocecal que, segundo a nomenclatura anatômica, não constituem apropriadamente uma válvula ileocecal, ficando o seu mecanismo de fechamento no íleo terminal. Capítulo 23 Sistema digestório 731 assoalho da pelve. Uma parte do levantador do ânus é responsável por manter o ângulo da junção anorretal, um ângulo agudo entre o ânus e o reto que contribui para a continência fecal. O canal anal situa -se inteira- mente externo à cavidade abdominopélvica no períneo. APLICAÇÃO CLÍNICA Diverticulose e diverticulite Quando a ali- mentação carece de fibras, o conteúdo do colo di- minui de volume e as contrações do músculo circular no colo exercem pressões maiores sobre sua parede. Essa pressão promove a formação de vários sacos chamados divertículos, que são pequenas hérnias da mucosa através da parede do colo. A condição resul- tante se chama diverticulose. Essa condição surge na maioria das vezes no colo sigmoide. Ocorrendo em 30% a 40% de todos os norte-americanos acima dos 50 anos de idade, e na metade dos norte-americanos acima dos 70 anos de idade, a diverticulose leva a nada mais do que uma dor vaga, embora possa rom- per uma artéria no colo e produzir sangramento pelo ânus. Aumentar a quantidade de fibra na alimentação costuma aliviar os sintomas. Em cerca de 20% dos casos de diverticulose os pacientes desenvolvem uma condição mais grave cha- mada diverticulite, na qual os divertículos inflamados são infectados e podem perfurar, vazando fezes na cavidade peritoneal. Nos casos graves, a região do colo afetada é removida cirurgicamente e são admi- nistrados antibióticos para combater a peritonite. Divertículos na parede do colo sigmoide Internamente, a metade superior do canal anal con- tém pregas longitudinais de mucosa, as colunas anais. Essas colunas contêm as porções terminais da artéria e veia retais superiores (os vasos hemorroidais). As colunas anais vizinhas se juntam umas às outras infe- riormente em pregas transversas com a forma de lua crescente, chamadas válvulas anais. Os bolsos imedia- tamente superiores a essas válvulas são os seios anais, que liberam muco quando são comprimidos pelas fe- zes, proporcionando lubrificação que facilita a sua pas- sagem durante a defecação. A linha horizontal ao longo da qual as válvulas anais se situam se chama linha pectinada (“em forma de pente”). Como a mucosa superior a essa linha é iner- vada por fibras sensitivas viscerais, ela é relativamente insensível à dor. Inferior à linha pectinada, a mucosa é sensível à dor por ser suprida pelos nervos somáticos. A parede do canal anal contém dois músculos es- fíncteres: o esfíncter interno do ânus de músculo liso e o esfíncter externo do ânus de músculo esquelético (Figura 23.21b). O primeiro é um espessamento da ca- mada circular da muscular, enquanto que o último é um músculo diferente (exibido na Figura 11.15, p. 310). O esfíncter externo contrai voluntariamente para inibir a defecação, enquanto que o esfíncter interno contrai in- voluntariamente, tanto para impedir que as fezes saiam do ânus entre as defecações quanto para inibir a defe- cação durante o estresse emocional. Quando treinam para aprender a usar o banheiro, as crianças aprendem a controlar o esfíncter externo do ânus. APLICAÇÃO CLÍNICA Hemorroidas As veias do plexo venoso retal varicosas no canal anal (ver Figura 23.21b) se cha- mam hemorroidas; muitas vezes elas resultam do es- forço no parto ou na defecação. Como elas estão es- ticadas e inflamadas, as veias intumescidas latejam e incham na luz do canal anal. As hemorroidas internas ocorrem acima da linha pectinada e as hemorroidas externas ocorrem abaixo dela. As hemorroidas exter- nas coçam e doem mais, mas apenas as hemorroidas internas tendem a sangrar. Cerca de 75% dos ameri- canos desenvolvem hemorroidas em algum momento de suas vidas.4 Várias hemorroidas costumam ser tratadas amarran- do -as em sua base com pequenas tiras de borracha — depois desse procedimento, elas murcham e caem. Elas também podem ser injetadas com um agente endurece- dor ou expostas à eletricidade ou luz infravermelha forte para coagular o sangue no seu interior. Os tratamentos que parecem desagradáveis são simples e eficazes, tendo eliminado em grande parte as difíceis remoções cirúrgicas que antes eram realizadas. 1 4 Nota do editor: no Brasil, não há dados precisos, mas, segundo especialistas, a crise hemorroidal atinge entre 10% a 15% da população. Vasos e nervos A primeira metade do intestino grosso — até um ponto a dois terços do caminho ao longo do colo transverso — é suprida pelos vasos me- sentéricos superiores; sua inervação simpática pro- vém dos gânglios e plexos mesentéricos superiores e 732 Anatomia humana celíacos, e sua inervação parassimpática provém do nervo vago. A metade distal do intestino grosso, até a parte pro- ximal do reto, é suprida pelos vasos mesentéricos infe- riores. A parte inferior do reto e o canal anal recebem os ramos retais dos vasos ilíacos internos. A inervação simpática da metade distal do intestino grosso se dá através dos plexos mesentérico inferior e hipogástrico e a inervação parassimpática, pelos nervos esplâncnicos pélvicos. Assim como em outras áreas do tubo digestó- rio, a inervação autônoma influencia os neurônios en- téricos intrínsecos. A parte final do canal anal abaixo da linha pectinada é inervada pelos nervos somáticos,como o nervo pudendo. Defecação O reto geralmente fica vazio e os esfínc- teres do ânus, contraídos. Quando as fezes são impul- sionadas para o reto pelos movimentos peristálticos de massa, o estiramento da parede do reto inicia o reflexo de defecação (Figura 23.22 1 ). Mediado pela medula espinal sacral, esse reflexo parassimpático sinaliza as paredes do colo sigmoide e do reto a contraírem e o es- fíncter interno do ânus a relaxar (Figura 23.22, 2 ). Se uma pessoa decidir postergar a defecação, as contrações reflexas terminam e o reto relaxa. Outro movimento de massa ocorre alguns minutos mais tarde, iniciando mais uma vez o reflexo de defecação — e assim por diante, até que a pessoa decida defecar (Figura 23.22, 3 ) ou até que a necessidade de defecar se torne inevitável. Durante a defecação, a musculatura do reto contrai para expelir as fezes. Esse processo é suplementado pela contração voluntária do diafragma e dos músculos da pa- rede do abdome, aumentando a pressão intra -abdominal, e do músculo levantador do ânus (diagramado na p. 310), que ergue o canal anal, deixando as fezes em uma posi- ção inferior ao ânus e, assim, fora do corpo. Anatomia microscópica A parede do intestino grosso (Figura 23.23) assemelha -se à do intestino delgado em alguns aspectos e difere em outros aspectos. 3 Impulsos provenientes do córtex cerebral (controle consciente) Nervo motor voluntário para o esfíncter externo do ânus Esfíncter externo do ânus (músculo esquelético) Esfíncter interno do ânus (músculo liso) Fibras nervosas sensitivas Nervo motor involuntário (parassimpático) Receptores de distensão na parede Reto Colo sigmoide 1 2 As fezes entram e distendem o reto, estimulando os receptores de distensão ali situados. Os receptores transmitem sinais ao longo das fibras aferentes para os neurônios da medula espinal. Um reflexo espinal é iniciado, no qual as fibras motoras (eferentes) parassimpáticas estimulam a contração das paredes do reto e o relaxamento do esfíncter interno do ânus. Se for conveniente defecar, os neurônios motores voluntários são inibidos, permitindo que o esfíncter externo do ânus relaxe para que as fezes possam ser eliminadas. Figura 23.22 Reflexo de defecação. Capítulo 23 Sistema digestório 733 �� O epitélio mucoso do colo é um epitélio simples prismático contendo os mesmos tipos de célula do intestino delgado. As células caliciformes são mais abundantes no intestino grosso, por isso elas secre- tam grandes quantidades de muco lubrificante que facilita a passagem das fezes em direção ao fim do tubo digestório. As células absortivas (também chamadas colonócitos) absorvem água e eletrólitos (ver Figura 23.24, p. 734-735). �� Não existem vilosidades, o que reflete o fato de que menos nutrientes são absorvidos no intestino grosso. �� As glândulas intestinais estão presentes como glân- dulas tubulares simples contendo muitas células caliciformes. Células -tronco não diferenciadas ocor- rem nas bases dessas glândulas e as células epiteliais são totalmente substituídas semanalmente. As outras camadas da parede são bastante típicas. A lâmina própria e a submucosa contêm mais tecido linfá- tico do que em qualquer outra parte do tubo digestório, mas isso não é de surpreender, considerando a ampla flora bacteriana do intestino grosso. As especializações da muscular e da serosa, que são as tênias do colo e os apêndices omentais, foram discutidas na seção “Anato- mia macroscópica” (p. 729). O canal anal é uma zona de transição epitelial na qual o epitélio simples prismático do intestino muda abruptamente para epitélio estratificado pavimentoso perto da linha pectinada. Na extremidade mais inferior do canal anal, a mucosa se funde com a pele verdadeira que circunda o ânus. O quadro Destaque — Processos digestórios (Fi- gura 23.24) resume as atividades digestórias em cada porção do tubo digestório. A histologia da muco- sa em cada região também é ilustrada, permitindo a comparação visual das características especiais dessa camada por todo o tubo digestório. As modificações da camada mucosa permitem diferenciar as regiões do tubo digestório. Verifique seu conhecimento ◻ 14. Qual é a expectativa de vida típica de uma célu- la epitelial do intestino? De que modo as células do epitélio são substituídas? ◻ 15. Mencione todas as partes do intestino grosso, começando pela sua junção com o íleo. ◻ 16. Cite os nomes das estruturas internas da vilo- sidade que recebem os nutrientes absorvidos. Que tipos de nutrientes são absorvidos em cada estrutura? (Veja as respostas no Apêndice B.) ANATOMIA DOS ÓRGÃOS ANEXOS Objetivo de aprendizagem: ▶ descrever a anatomia macroscópica e microscó- pica, além das funções do fígado, vesícula biliar e pâncreas. Fígado O fígado é a maior glândula no corpo, pesando aproximadamente 1,4 kg em um adulto de porte mé- dio. Espantosamente versátil, ele desempenha mais de 500 funções. Sua função digestória é produzir bile, um líquido alcalino verde que é armazenado na vesícu- la biliar e secretado no duodeno, onde os sais de bile emulsionam as gorduras no intestino delgado; ou seja, a decomposição dos nutrientes gordurosos em partículas minúsculas, do mesmo modo que o detergente decom- põe uma poça de pingos de gordura em uma assadeira. Essas partículas menores são mais acessíveis para as enzimas digestórias do pâncreas. O fígado também de- sempenha muitas funções metabólicas, tais como: �� absorver glicose do sangue rico em nutrientes que re- torna do tubo digestório e armazenar esse carboidrato como glicogênio para o uso subsequente pelo corpo; �� processar gorduras e aminoácidos e armazenar cer- tas vitaminas; �� desintoxicar muitos venenos e fármacos no sangue; �� produzir as proteínas do sangue. Quase todas essas funções são executadas por um tipo de célula chamada hepatócito ou simplesmente célula hepática. Muscular da mucosa Células caliciformes Colonócitos Glândula intestinal Lâmina própria Figura 23.23 Mucosa do intestino grosso. Fotomicrografia. Repare na quantidade de células caliciformes (130×).
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