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URINÁLISE E FLUIDOS BIOLÓGICOS UNIDADE III FLUIDOS BIOLÓGICOS Mobile User Elaboração Rebeca Confolonieri Julio Cesar Pissuti Damalio Ana Isabel de Camargo Atualização Rebeca Confolonieri Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO UNIDADE III FLUIDOS BIOLÓGICOS ...............................................................................................................5 CAPÍTULO 1 FLUIDOS SEROSOS .............................................................................................................. 5 CAPÍTULO 2 FLUIDO SEMINAL (SÊMEN) ................................................................................................ 15 CAPÍTULO 3 FLUIDO AMNIÓTICO ......................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................27 5 UNIDADE IIIFLUIDOS BIOLÓGICOS CAPÍTULO 1 FLUIDOS SEROSOS 1.1. Introdução Na fisiologia, o termo fluido seroso é qualquer um dos vários fluidos corporais semelhantes ao soro, que são tipicamente amarelos pálidos e transparentes e de natureza benigna. O líquido preenche o interior das cavidades do corpo (Robbins et al., 2000). O líquido seroso (LS) é aquele situado nas cavidades fechadas do organismo com a função de lubrificá-las, já que as superfícies entram em contato durante o movimento. Essas cavidades (pleural, pericárdica e peritoneal) são revestidas por duas membranas conhecidas como serosas. Uma delas reveste as paredes da cavidade (membrana parietal) e a outra cobre os órgãos do interior da cavidade (membrana visceral) (Figura 22). Figura 22. Exemplo do espaço pleural que contém o líquido seroso. Pleura parietal (cobertura exterior) Cavidade pleural Pleura visceral (cobertura interior) Fonte: Robbins et al., 2000. 6 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS Normalmente, a quantidade do líquido seroso é pequena, pois as velocidades de produção e de reabsorção são proporcionais. O derrame desses líquidos é classificado em transudatos e exsudatos. » Transudatos são resultantes de um processo mecânico no qual ocorre um distúrbio sistêmico que resulta em um rompimento do equilíbrio entre filtração e reabsorção do líquido. É caracterizado pela baixa quantidade proteínas. É causado pelo aumento da pressão hidrostática ou redução das proteínas plasmáticas. As possíveis causas são insuficiência cardíaca, renal e hepática. Ele é o oposto do exsudato por não ser decorrente de um processo inflamatório. Possui até 3 ng/mL de proteína e baixa celularidade (Vargas; TEIXEIRA; MARCHI, 2004). » Exsudatos provêm de processos inflamatórios, ocorrendo, assim, comprometimento das membranas, inclusive infecções e neoplasias. Líquido com alto teor de proteínas séricas e leucócitos, produzido como reação a danos nos tecidos e vasos sanguíneos (Vargas; Teixeira; Marchi, 2004). Tabela 5. Critérios de Light: diferença entre transudato e exsudato. Parâmetros Transudatos Exsudatos Relação entre proteína do líquido pleural e sérica. ≤ 0,5 > 0,5 Relação entre DHL do líquido pleural e sérica. ≤ 0,6 > 0,6 DHL no líquido pleural >2/3 do limite superior no soro. não sim Fonte: Vargas; Teixeira; Marchi, 2004. A presença de qualquer um dos três critérios de exsudato é suficiente para sua caracterização e a presença dos três critérios de transudato é necessária para sua caracterização (Vargas; Teixeira; Marchi, 2004). 1.2. Coleta Os líquidos serosos são colhidos por aspiração com agulha nas respectivas cavidades. Os procedimentos são conhecidos como: » toracocentese: líquido pleural; » pericardiocentese: líquido pericárdico; e » paracentese: líquido peritoneal ou ascítico. Geralmente, a quantidade colhida de cada líquido é grande para que cada alíquota fique disponível em cada seção do laboratório. Mobile User 7 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III Para a contagem celular, é necessária uma amostra com anticoagulante; para a cultura, um tubo estéril; e para as análises bioquímicas, uma amostra heparinizada. Também é preciso colher uma amostra não heparinizada para a observação de coagulação espontânea. » A toracocentese é a remoção do líquido pleural da cavidade pleural com uma agulha e seringa. O indivíduo é posicionado sentado, com os braços levantados e apoiados. É aplicado anestésico local, o médico insere a agulha dentro da cavidade pleural e a amostra é retirada (Strasinger, 2009). » A pericardiocentese é o procedimento realizado para a drenagem do fluido pericárdico (derrame). Esse procedimento deve ser feito por médico experiente e, se possível, na unidade de hemodinâmica (Strasinger, 2009). » A paracentese está indicada para pessoas que sofram de patologias que tenham acumulado líquidos em grandes quantidades na cavidade abdominal (ascite). É um procedimento médico que consiste na retirada de líquido de uma cavidade do corpo por meio da punção com agulha (Strasinger, 2009). 1.3. Líquido pleural O líquido pleural encontra-se na cavidade pleural, é lubrificante para o movimento de inspiração e expiração dos pulmões. É derivado do filtrado plasmático a partir de capilares sanguíneos nos pulmões. É encontrado em pequenas quantidades entre as camadas das pleuras – membranas que revestem a cavidade torácica e os pulmões (Abbas; Fausto; Kumar, 2010). Uma variedade de condições e doenças pode provocar inflamação das pleuras (pleurite) e/ou acúmulo excessivo de líquido pleural (derrame pleural). A análise do líquido pleural é um grupo de exames que avaliam esse líquido para determinar a causa de seu aumento (Abbas; Fausto; Kumar, 2010). As duas principais razões para o acúmulo de líquido no espaço pleural são (Abbas; Fausto; Kumar, 2010): » Um desequilíbrio entre a pressão do líquido no interior dos vasos sanguíneos (o que leva o líquido para fora dos vasos) e a quantidade de proteínas no sangue (o que mantém os líquidos nos vasos sanguíneos). Nesse caso, o líquido acumulado é denominado transudato. Esse tipo de líquido geralmente acomete ambos os pulmões e, frequentemente, é resultado de insuficiência cardíaca congestiva ou cirrose. Mobile User 8 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS » Uma lesão ou inflamação das pleuras. Nesse caso, o líquido acumulado é denominado exsudato. Geralmente, acomete apenas um pulmão e pode ser observado em infecções (pneumonia, tuberculose, sarcoidose), neoplasias (câncer pulmonar, cânceres metastáticos, linfoma, mesotelioma) ou doença autoimune. A diferenciação entre os tipos de líquidos é importante, pois auxilia no diagnóstico de uma doença ou condição clínica específica. Médicos e laboratórios utilizam um conjunto inicial de exames (contagem celular, proteína, albumina ou nível de lactato e aspecto do líquido) para diferenciar transudatos e exsudatos. Uma vez que se determina entre um ou outro, exames adicionais podem ser realizados para identificar a doença ou o estado clínico responsável por pleurite e/ou derrame (Abbas; Fausto; Kumar, 2010). Sua cor é transparente e amarelo-clara. A turvação em geral está ligada à presença de leucócitos e indica infecções bacterianas, tuberculose ou distúrbio imunológico como artrite reumatoide. A presença de sangue pode significar lesão traumática (hemotórax), lesão na membrana (como nas neoplasias), ou pode decorrer de aspiração traumática. O encontro de neutrófilos significa que há infecção bacteriana. Contudo, a visualização de linfócitos será um sugestivo de tuberculose ou neoplasia. Glicose baixa está associada à tuberculose, inflamação reumatoide e neoplasia. Amilase elevada significa presença de pancreatite. E pH baixo relaciona-se com tuberculose, neoplasia e ruptura esofágica. Ocorre acúmulo de líquido pleural na pneumonia e nos carcinomas (derrames exsudatos) e, também, na insuficiência cardíaca (distúrbio sistêmico – produção de transudatos). 1.4. Líquido pericárdicoO pericárdio é um saco fibrocolágeno em forma de cone que reveste o coração e contém uma pequena quantidade de fluido seroso fisiológico em quantidades normalmente <50 mL. O pericárdio parietal normal tem propriedades elásticas e se distende para acomodar aumento no volume do líquido intrapericárdico (Strasinger, 2009). Líquido pericárdico é o líquido seroso segregado pela camada serosa do pericárdio na cavidade pericárdica. O pericárdio é constituído por duas camadas; uma camada fibrosa externa e uma camada fibrosa interna. Essa camada serosa apresenta duas membranas que encerram a cavidade pericárdica, para a qual é segregado o líquido pericárdico (Strasinger, 2009). Mobile User 9 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III A função primordial do líquido pericárdico, como o de todo líquido seroso, é lubrificar as membranas que o envolve. Outra função do pericárdio é proteger a ocorrência de lesões nos pulmões durante os batimentos cardíacos normais (Strasinger, 2009). Ele é encontrado entre as membranas pericárdicas. Normalmente é pequena a quantidade de líquido (10 a 50 mL). Sua coloração é transparente e amarelo-clara. O líquido encontra-se turvo nas infecções e neoplasias. Nos distúrbios metabólicos, o líquido aspirado é transparente. Os derrames ocorrem por infecção (pericardite), neoplasias ou comprometimento metabólico. Valores elevados de leucócitos indicam infecção, mais especificamente endocardite bacteriana. Níveis baixos de glicose indicam infecção bacteriana e neoplasia. O derrame pericárdico corresponde ao acúmulo de sangue ou líquidos na membrana que envolve o coração, o pericárdio, resultando no tamponamento cardíaco. Isso interfere diretamente no fluxo de sangue para os órgãos e tecidos e, por isso, é considerada uma situação grave e que deve ser tratada o mais rápido possível (Strasinger, 2009). Essa situação é, na maioria das vezes, consequência da inflamação do pericárdio, conhecida como pericardite, que pode ser causada por infecções bacterianas ou virais, doenças autoimunes e alterações cardiovasculares. É importante que a causa da pericardite e, consequentemente, do derrame pericárdico, seja identificada para que possa ser iniciado o tratamento (Strasinger, 2009). O derrame pericárdico tem cura quando o diagnóstico é feito logo que surgem os sintomas e quando o tratamento é iniciado em seguida, de acordo com as orientações do cardiologista, sendo, assim, possível evitar complicações fatais para o coração (Strasinger, 2009). Distúrbios metabólicos, como uremia, hipotireoidismo e doenças autoimunes são as principais causas de transudatos (Strasinger, 2009). Pacientes com pericardite aguda geralmente apresentam evidência de inflamação sistêmica, incluindo leucocitose, velocidade de hemossedimentação (VHS) aumentada e elevação de proteína C reativa (PCR). Entretanto, esses testes trazem pouca informação sobre o diagnóstico etiológico específico (Strasinger, 2009). Ocorre aumento nas concentrações da troponina sérica em 35 a 50% dos pacientes com pericardite. Pode ocorrer também aumento da CPK total e CK-MB, no entanto, possuem menor sensibilidade. Ocorre normalização da troponina em até 2 semanas. Acredita-se que essa elevação seja decorrente da inflamação do epicárdio adjacente, Mobile User 10 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS e não de necrose miocárdica. O aumento da troponina sérica não está relacionado a um pior prognóstico, entretanto elevações prolongadas (que durem mais que 2 semanas) sugerem associação com miocardite, o que, nesse caso, possui pior prognóstico (Strasinger, 2009). A apresentação clínica deve nortear a solicitação de exames adicionais, como sorologias, anticorpos antinucleares, fator reumatoide, teste da tuberculina, entre outros, pois a solicitação de rotina para a investigação de todos os pacientes com pericardite aguda ajuda pouco no esclarecimento da etiologia específica e não é custo-efetiva. A maioria dos casos de pericardite idiopática provavelmente decorre de infecção viral, no entanto, a solicitação para culturas e sorologias virais tem pouca importância na prática clínica e a documentação de infecção viral recente não altera o tratamento (Strasinger, 2009). 1.5. Líquido peritoneal O acúmulo de líquido na cavidade peritoneal é chamado de ascite e, por isso, esse líquido é comumente denominado de ascítico e não peritoneal. O termo “ascite” denota acúmulo patológico de fluido na cavidade peritoneal. Homens hígidos apresentam pouco ou nenhum fluido intraperitoneal, mas mulheres podem, normalmente, conter até 20 mL, dependendo da fase do ciclo menstrual (Strasinger, 2009). As causas da ascite podem ser classificadas em duas categorias fisiopatológicas: a que está associada com peritônio normal e a que ocorre devido ao peritônio enfermo. A causa mais comum de ascite é a hipertensão portal secundária a doenças crônicas do fígado, que corresponde a mais de 80% dos pacientes com ascite. As causas mais comuns de ascite não hipertensiva incluem infecções (tubérculos), malignidade intra-abdominal, enfermidades inflamatórias do peritônio e lesões ductais (quilosa, pancreática, biliar) (Strasinger, 2009). Sua análise é feita para diagnósticos das peritonites (Strasinger, 2009). Esse fluido tem a função de lubrificar a cavidade abdominal, permitindo um movimento de deslize das alças intestinais entre si à medida que se faz necessário em virtude da progressão dos alimentos durante a digestão e produção do bolo fecal (Strasinger, 2009). Assim como os líquidos pleural e pericárdico, o ascítico é transparente e amarelo-claro. A turvação pode indicar peritonite e até mesmo cirrose. Mobile User 11 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III Líquidos turvos indicam infecções; líquidos esverdeados são encontrados quando há derrame biliar. Valores elevados de hemácias podem indicar traumatismo hemorrágico, enquanto valores elevados de leucócitos podem indicar cirrose, peritonite bacteriana. Glicose baixa está relacionada à peritonite tuberculosa e neoplasia. Amilase elevada pode indicar quadros de pancreatite ou perfuração gastrintestinal. Ureia ou creatinina elevadas podem significar ruptura da bexiga. E fosfatase alcalina elevada pode se associar à perfuração intestinal. Contagem de células: o fluido ascítico normal contém menos de 500 leucócitos/µL e menos de 250 polimorfonucleares/µL. Uma condição inflamatória pode causar contagem elevada de leucócitos. Uma contagem maior que 250 polimorfonucleares é altamente suspeita de peritonite bacteriana, seja peritonite espontânea primária ou peritonite secundária. Uma contagem de leucócitos elevada com predomínio de linfócitos pode ser suspeita de tuberculose ou carcinomatose peritoneal (Strasinger, 2009). Proteína total e albumina: o gradiente albumina sérica - ascite é o melhor teste isolado para classificação da ascite em causas hipertensivas portal e não hipertensivas portal. O gradiente é calculado subtraindo-se a albumina do fluido ascítico da albumina sérica. Um gradiente maior que 1,1 g/dL sugere fortemente hipertensão portal subjacente, enquanto gradientes menores que 1,1 g/dL implicam causas não hipertensivas portais da ascite (Strasinger, 2009). Bacterioscopia pelo Gram e cultura: usados com a finalidade de detectar peritonites bacterianas. A sensibilidade da cultura aumenta muito quando o laboratório faz a cultura diretamente em frascos de hemocultura. Dosagem de glicose, LDH e amilase: úteis na distinção entre peritonite bacteriana espontânea e peritonite bacteriana secundária. Os níveis de glicose estão reduzidos em pacientes com peritonite tuberculosa. A amilase elevada pode sugerir ascite pancreática (Strasinger, 2009). 1.6. Líquido sinovial 1.6.1. Introdução O fluido sinovial ou líquido sinovial (LS) tem a função de proteger, nutrir e lubrificar as cartilagens não vascularizadas das articulações (Figura 23). Derivado do plasma sanguíneo por ultrafiltração e enriquecido de mucoproteínas secretadas pelos sinoviócitosdo tecido sinovial, esse líquido se apresenta normalmente límpido e transparente, de Mobile User 12 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS cor amarelada, contendo 2 g/dL de proteínas isentas de fibrinogênio (não coagula espontaneamente) e não apresenta cristais. Em termos de etiologia, a análise do LS é usada para classificar distúrbios articulares. Em casos patológicos, o volume do LS pode aumentar devido à elevação da permeabilidade capilar. Nos casos de traumatismos, hemácias estão presentes e o número de leucócitos é maior do que o normal. Figura 23. Componentes de uma articulação sinovial. Cavidade articular Cartilagem articular Líquido sinovial Cápsula articular Membrana fibrosa Membrana sinovial Epífese óssea Fonte: Strasinger, 2009. O aumento na quantidade das proteínas totais está relacionado com a gravidade de afecções das articulações e, principalmente, de artrites e doenças reumáticas, em que a análise dos constituintes do LS encontra aplicação diagnóstica e prognóstica. 1.6.2. Coleta A amostra geralmente recebida pelo laboratório é aspirada do joelho com agulha, num procedimento chamado de artrocentese, realizado em condições de esterilidade estrita. A quantidade normal de LS contida na cavidade articular do joelho é inferior a 3,5 mL, aumentando nos distúrbios articulares. O LS deve ser colhido em condições estéreis e em frasco com e sem anticoagulante. O mais utilizado é a heparina ou o EDTA líquido. Esses anticoagulantes evitam a presença de artefatos que poderiam prejudicar a análise da amostragem. Em amostras patológicas, pode haver fibrinogênio em quantidade aumentada. Por isso, é recomendável que se colham amostras com anticoagulante para as análises citológica e bioquímica, e sem anticoagulante para a análise microbiológica, respectivamente. Mobile User 13 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III O paciente deve estar em jejum de, no mínimo, 6 horas, de forma a permitir o equilíbrio da glicose do plasma com a do LS. Deve ser colhida glicemia de jejum. O LS pode fornecer informações úteis para o diagnóstico das seguintes situações: suspeita de infecção (artrite supurativa aguda), artrite devido a ácido úrico (gota) ou a pirofosfato de cálcio (pseudogota) e diagnóstico diferencial de artrite. 1.6.3. Análise A análise do LS começa pela determinação do volume total colhido. A aparência e a coloração são observadas em um tubo transparente contra um fundo branco. A leucocitose e a presença de cristais e gotas de gordura, ou outras células degeneradas, podem produzir um aspecto turvo. A coloração avermelhada produzida pela presença de sangue deve ser diferenciada entre coleta traumática e condições patológicas, como fratura, atingindo a superfície articular, o tumor, a artrite traumática, a artropatia neurogênica, a artrite hemofílica, entre outras. A viscosidade é avaliada grosseiramente, deixando-se o fluido percorrer a partir da ponta de uma seringa. Um fio ininterrupto de 4 a 6 cm é considerado normal. A viscosidade estará diminuída em condições inflamatórias e nas efusões traumáticas rápidas. Pelo Método de Ropes, a adição de ácido acético causa a formação de um coágulo que pode ser avaliado como: » bom = coágulo sólido; » regular = coágulo mole; » pobre = coágulo friável; e » ruim = coágulo ausente. O valor da glicose dosada é inferior em cerca de 0 a 10 mg/dL à do sangue. Encontrar- se-á diminuída nas artrites bacterianas (incluindo a tuberculosa). O aumento da concentração de proteínas pode ocorrer em casos de gota, artrite reumatoide e artrite séptica, refletindo tanto o aumento da permeabilidade vascular como a síntese de imunoglobulinas (anticorpos). A análise imunológica pode ser feita pela determinação do fator reumatoide, que, embora inespecífico, esteja presente em cerca de 60% dos pacientes com artrite reumatoide. A detecção de adenosina deaminase (ADA) em concentração elevada é indicativa da tuberculose. A avaliação microscópica inclui a contagem celular total e diferencial, que podem ser efetuadas por meio da contagem celular em câmara de Neubauer, seguida da análise Mobile User 14 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS de distensão corada por corantes do tipo Leishman ou May-Grünwald-Giemsa. Um microscópio de luz polarizada deve ser usado para a avaliação da presença de cristais. Qualquer cristal presente no líquido sinovial é considerado anormal, sendo muito comuns os cristais de ácido úrico, associados ao acometimento por gota. As provas microbiológicas devem sempre incluir a coloração de Gram e, sempre que houver suspeita da tuberculose, a coloração de Ziehl-Neelsen. A cultura é positiva na maioria das atrites não gonocóccicas, mas a Neisseria gonorrhoeae é isolada em apenas cerca de 50% dos casos positivos. A cultura para Mycobacterium tuberculosis é positiva em cerca de 80% dos casos. Esse germe pode também ser detectado por meio de técnicas de biologia molecular. Tabela 6. Células e inclusões observadas no LS. Célula/inclusão Descrição Significado Neutrófilos Leucócitos polimorfonucleares. Infecção bacteriana. Inflamação provocada por cristais. Linfócitos Leucócitos mononucleares. Inflamação não bacteriana. Macrófagos (monócitos) Grandes leucócitos mononucleares que podem ser vacuolados. Normal. Infecções virais. Células da membrana Sinovial Semelhantes a macrófagos, mas podem ser multinucleados. Normal. Células de Reiter Macrófagos vacuolados com neutrófilos fagocitados. Síndrome de Reiter. Inflamação inespecífica. Células RA (ragócito) Neutrófilos com grânulos citoplasmáticos escuros, contendo complexos imunes. Artrite reumatoide. Inflamação imunológica. Células de cartilagens Grandes células multinucleadas. Osteoartrite. Corpos riciformes A olho nu, lembra arroz polido. Sob o microscópio, assemelha-se com colágeno e fibrina. Tuberculose. Artrite reumatoide e bacteriana. Gotículas de gordura Glóbulos intracelulares e extracelulares refringentes. Traumatismo. Hemossiderina Inclusões com aglomerados de células sinoviais. Sinovite vilonodular pigmentada. Fonte: Strasinger, 2001. Mobile User 15 CAPÍTULO 2 FLUIDO SEMINAL (SÊMEN) 2.1. Introdução Líquido seminal é a parte do sêmen sem espermatozoides. Esse fluido limpa o canal da uretra, diminuindo o pH ácido da urina para que não contamine o esperma e não mate os espermatozoides. Assim, facilita que a ejaculação saia forte, para alcançar o útero o mais rápido possível. Tem, em sua composição, secreções da vesícula seminal (80%), da próstata e glândula bulbouretral, além de muitos componentes provenientes do epidídimo e testículos. O plasma seminal dos humanos contém um complexo de componentes orgânicos e inorgânicos (Strasinger, 2009). O plasma seminal fornece um meio nutritivo e protegido para os espermatozoides produzidos no testículo durante as suas jornadas até o trato reprodutivo feminino (Strasinger, 2009). O exame a ser realizado para análise do líquido seminal é o espermograma. As principais razões para sua avaliação são: » avaliação de casos de infertilidade; e » estado de pós-vasectomia. O sêmen é composto por quatro frações provenientes de: » glândulas bulbouretrais; » testículos e epidídimos; » próstata; e » vesículas seminais. Essas frações se diferem em termos de composição e, para que o líquido seja normal, deve haver mistura delas durante a ejaculação. Como a composição das frações do sêmen é variável, sua coleta deverá ser bem-feita para que a análise/avaliação da fertilidade masculina seja precisa. Portanto, para isso, os pacientes devem receber orientações claras e detalhadas sobre a obtenção do material. Apesar de a fertilização poder ser efetuada por um único espermatozoide, a quantidade de espermatozoides presentes no sêmen é um dado valioso para medir a fertilidade. Mobile User 16 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS 2.2. Coleta A amostra é coletada por meio da masturbação. A coleta deve ser realizada em frasco estéril, após um períodode 2 dias (no mínimo) até 7 dias (no máximo) de abstinência sexual, período em que também não deve se masturbar, pois a quantidade e a qualidade do esperma são afetadas pela quantidade de vezes que o homem ejacula. O exame é realizado sempre pela parte da manhã. O paciente deverá, inicialmente, lavar bem as mãos com água e sabão antes de entrar para realizar a coleta. Não é recomendado o uso de preservativos durante a coleta, pois podem conter substâncias espermicidas, favorecendo um resultado sem qualidade e certamente errado. Normalmente, há revistas e/ou vídeos eróticos que facilitam a coleta do material. Deve- se evitar perda do sêmen, o que acarretaria a necessidade de uma nova coleta. Preferencialmente, a amostra deverá ser colhida no laboratório, porém, como existem casos especiais, a coleta poderá ser autorizada em domicílio, desde que o paciente mantenha o frasco contendo o sêmen em temperatura ambiente e não demore mais do que uma hora para entregar ao laboratório. Um dos parâmetros que deverá ser anotado é a hora exata do término da coleta. As amostras recentes são coaguladas e devem-se liquefazer nos 30 minutos seguintes após a coleta. Portanto, conclui-se que a hora em que foi realizada a obtenção da alíquota é de extrema importância para a avaliação da sua liquefação. A análise não pode ser iniciada enquanto a liquefação não tiver ocorrido. 2.3. Análise Sempre serão avaliados os seguintes parâmetros nos casos de fertilidade e/ou infertilidade: volume, viscosidade, pH, contagem do número de espermatozoides, motilidade, morfologia e viabilidade dos espermatozoides. 2.3.1. Análise bioquímica do sêmen O sêmen não é composto apenas por espermatozoides. Na verdade, estes representam a menor parte (Strasinger, 2009). O líquido que transporta os espermatozoides (plasma seminal) é produzido por glândulas, chamadas vesículas seminais, também pela próstata. Esse líquido contém várias substâncias que são importantes para conservar os espermatozoides. A falta dessas substâncias pode diminuir a qualidade do sêmen (Strasinger, 2009). Mobile User 17 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III Embora existam testes para a determinação desses marcadores, não se sabe ainda ao certo o papel de cada uma deles. Uma exceção a essa regra é a determinação da frutose, um açúcar presente no plasma seminal, que consiste na fonte de energia para os espermatozoides (Strasinger, 2009). A frutose pode estar ausente ou diminuída em várias condições que causam infertilidade masculina (Strasinger, 2009). A ausência de frutose pode indicar a ausência congênita bilateral dos canais deferentes ou a obstrução bilateral dos ductos ejaculadores (Strasinger, 2009). 2.4. Volume O volume normal é de 2,0 a 5,0 mL. Para verificar essa medida, deve-se despejar o conteúdo do frasco em um tubo cônico graduado. Com a inversão da amostra, pode-se avaliar a viscosidade, sendo que, se estiver normal, a alíquota gotejará no recipiente e não se mostrará aglutinada ou filamentosa. Valores abaixo de 2,0 mL podem representar fatores obstrutivos, como agenesia de deferentes, agenesia de vesículas seminais, fibrose cística, obstrução pós-cirurgias de próstata e obstruções pós-infecções. Podem também mostrar ejaculação retrógrada (para a bexiga) em casos de pacientes com diabetes, lesão medular ou doenças neurológicas. 2.5. pH O pH normal é ligeiramente alcalino, variando entre 7,3 e 8,3. Caso a relação entre o líquido prostático e o seminal esteja elevada, o pH poderá ser mais ácido. Isso é muito importante quando ocorre a deposição do sêmen no fundo da vagina em uma relação sexual. O pH da vagina é muito ácido (ao redor de 4,0). Ao encontrar esse ambiente hostil, o sêmen básico “neutraliza” a acidez da vagina, mantendo os espermatozoides vivos. 2.6. Número de espermatozoides Com relação à quantidade do número de espermatozoides, os valores normais geralmente vão de 20 a 160 milhões por mililitro, sendo consideradas limítrofes as quantias entre 10 e 20 milhões por mililitro. O espermograma é feito diluindo-se a amostra e concentrando as células na Câmara de Neubauer (Figura 24). Em um dos métodos mais usados, realiza-se a diluição da amostra Mobile User 18 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS em 1:20 e, em seguida, faz-se a contagem do número de espermatozoides nos cinco quadrantes destinados à contagem dos eritrócitos (R) ou nos dois quadrantes destinados aos leucócitos (W). A questão da quantidade da diluição e do número de quadrantes a serem contados varia de um laboratório para outro. Figura 24. Câmara de Neubauer. Fonte: Strasinger, 2009. Contudo, a diluição do sêmen antes de realizar a contagem é essencial para promover a imobilização dos espermatozoides. Geralmente, o diluente tradicional contém bicarbonato de sódio e formalina (formol). Mas, antes de introduzir o diluente na amostra, deve-se tomar cuidado para não contaminar a amostra com ele, a fim de, antes, determinar a motilidade. A baixa contagem dos espermatozoides pode ser causada por falta do meio de nutrição, normalmente produzido pelas vesículas seminais. Isso significa que há ausência ou deficiência de frutose na amostra. 2.7. Motilidade Depois de chegarem ao colo do útero, os espermatozoides precisam deslocar-se por meio das tubas uterinas e alcançar o óvulo. Portanto, trata-se de uma avaliação subjetiva a ser realizada por exame microscópio da amostra não diluída, em que se determina a porcentagem de espermatozoides com motilidade ativa. A porcentagem e a qualidade da motilidade devem ser determinadas em cada campo e, então, deve-se registrar uma média desses resultados. É considerada normal uma motilidade mínima de 50 a 60%. A classificação da motilidade divide-se em: Mobile User 19 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III » A = Motilidade progressiva linear rápida (movimentos rápidos). » B = Motilidade progressiva linear lenta (movimentos lentos). » C = Não progressivos (movimentos incertos). » D = Imóveis (sem movimentos). A soma de A+B (motilidade progressiva) deve ser, no mínimo, de 32% ou A+B+C 40%. Quando o valor é menor do que 40%, testes de vitalidade devem ser feitos para sabermos se os espermatozoides parados estão vivos ou não. No exame de vitalidade, as formas vivas devem ser superiores a 58%. 2.8. Morfologia A morfologia espermática (Figura 25) deve ser avaliada periodicamente ou quando o sêmen apresentar suspeita de alterações morfológicas. No exame, são avaliadas e registradas as alterações presentes em cada estrutura, separadamente. Os defeitos podem ocorrer em um dos segmentos da célula espermática ou em mais de uma estrutura, simultaneamente. A infertilidade também pode estar associada àqueles espermatozoides morfologicamente incapazes de fertilizar. Pode-se observar a presença de espermatozoides imaturos que, por sua vez, precisam ser distinguidos dos leucócitos; são mais esféricos se comparados aos maduros e podem ou não possuir cauda. Quando as formas imaturas estiverem em grande quantidade, significa que há alguma anormalidade, pois, geralmente, os espermatozoides já amadurecem dentro do epidídimo antes de sua liberação. Figura 25. Morfologia espermática normal. Cabeça Peça intermediária Cauda (flagelo) Mitocôndria Núcleo Membrana celular Acrossomo Fonte: Strasinger, 2009. Mobile User 20 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS Existem, porém, alterações encontradas nos espermatozoides. Entre muitas, as mais encontradas são (Figura 26): » Piriforme: cabeça em forma de gota, com a parte afinada voltada para a peça intermediária. » Amorfos: caracterizados por apresentarem defeitos estruturais na cabeça de forma irregular. » Vacuolizados. » Bicefálico. » Globócito. » Defeito na peça intermediária. » Bi e/ou policaudal. » Cauda curta ou cauda dobrada. » Cauda enrolada. » Macrocefálico. » Microcefálico. » Cabeça fusiforme. » Cauda com grau maior que 90º. » Peça intermediária alongada. Figura 26. Morfologiasanormais. Normal Cabeça dupla Cabeça gigante Cabeça amorfa Microcabeça Cabeça cônica Cabeça constrita Cauda dupla Cauda enrolada Espermátide Fonte: Strasinger, 2009. Mobile User 21 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III 2.9. Viabilidade Na análise de viabilidade, observa-se a quantidade, em porcentagem, de espermatozoides vivos e mortos (Figura 27). Figura 27. Espermatozoides vivos e mortos. Vivo Morto Fonte: Pereira; Janini, 2001. No procedimento, mistura-se uma pequena quantidade da amostra com um corante de eosina-nigrosina para, então, ser observado no microscópio, que dará os seguintes dados: » Células mortas = coram-se de vermelho contra um fundo azul escuro. » Células vivas = estarão branco-azuladas (pois não houve a penetração da eosina). A normalidade desse parâmetro analisado é igual ou superior a 58% de formas vivas. Amostra de pós-vasectomia Para espermograma pós-vasectomia, não há necessidade de abstinência sexual, lembrando que o mais indicado é realizar a coleta três meses após a cirurgia ou a critério médico. Apenas será realizada a visualização da amostra pura para verificar ausência de espermatozoides, indicando a eficácia ou não da cirurgia. O que os médicos esperam é que, dentro de seis meses após o procedimento cirúrgico, o número de espermatozoides já esteja zerado. » Não é necessário realizar lâmina de vivo/morto. » Não é preciso diluir amostra para contagem de espermatozoides. Caso seja encontrado um número de espermatozoides, o exame deverá ser repetido num prazo de mais ou menos 1 mês após o primeiro. Mobile User 22 CAPÍTULO 3 FLUIDO AMNIÓTICO 3.1. Introdução O líquido amniótico (LA) é um líquido que envolve o embrião, o qual preenche a bolsa amniótica. Esta última normalmente se forma na segunda semana de gravidez e, assim que se forma, enche-se de líquido amniótico que, inicialmente, é apenas água proveniente da mãe (Strasinger, 2009). O LA é um importante componente do ambiente intrauterino. Sua produção e sua absorção dependem de uma série de mecanismos interdependentes entre o feto, a placenta, as membranas e o organismo materno. Sua coloração, propriedades físicas, volume e composição são propriedades importantes para a análise da qualidade do líquido, e variam ao longo do desenvolvimento do feto (Strasinger, 2009). O LA encontra-se no saco embrionário que circunda o feto, protegendo-o como um amortecedor (Strasinger, 2009). É considerado uma das estruturas fundamentais para o auxílio ao desenvolvimento do feto, o qual o protege contra choques mecânicos, permite o seu crescimento simétrico, funciona como barreira contra infecções, impede a aderência entre o embrião e o âminio, além de ajudar a controlar a temperatura corporal do embrião. Ademais, permite que o feto se mova livremente no ventre, o que o auxilia em seu desenvolvimento muscular, ajuda também na prevenção da compressão do cordão umbilical e funciona como depósito de excretas fecais do feto (Strasinger, 2009). É formado pelo metabolismo das células do feto, pela água que atravessa a placenta e, nos últimos estágios do desenvolvimento, pela urina do feto (por volta da 36ª semana). A análise clínica do líquido avalia o bem-estar e a maturidade do feto. Como o líquido é produto do metabolismo fetal, os componentes fornecem informações sobre os processos metabólicos que nele estão ocorrendo e o progresso na maturação do feto. A análise citogenética é um importante instrumento na detecção de defeitos congênitos. Sem dúvida, será cada vez mais requisitada, graças aos avanços no mapeamento cromossômico e na terapia genética. 3.2. Coleta O LA é colhido por aspiração com agulha no saco amniótico; procedimento chamado de amniocentese (Figura 28). Trata-se de uma técnica relativamente segura que pode ser realizada no próprio laboratório. Mobile User 23 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III As amostras devem ficar protegidas da luz e ser examinadas imediatamente. É necessário que sejam tomadas precauções especiais com as amostras destinadas à análise citogenética, pois as células devem se manter vivas para cultura em laboratório. Figura 28. Processo de amniocentese. Pele Fascia Bexiga Parede uterina Cavidade amniótica Fonte: Robbins et al., 2000. 3.3. Análise O LA é um importante componente do ambiente intrauterino. Sua produção e sua absorção dependem de uma série de mecanismos interdependentes entre o feto, a placenta, as membranas e o organismo materno. Algumas propriedades são fundamentais para analisar a qualidade do líquido amniótico, e entre eles estão a sua coloração, as suas propriedades físicas, o seu volume e a sua composição (Strasinger, 2009). Para a análise dessas propriedades do líquido amniótico, duas técnicas são mais utilizadas durante a gravidez: amniocentese e amnioscopia (Strasinger, 2009). Amniocentese consiste na introdução de uma agulha longa através da parede abdominal da mãe para a retirada do líquido amniótico, sendo que o volume do líquido retirado depende da idade do feto e do motivo do exame. Essa técnica é utilizada para detectar, principalmente: doenças congênitas, defeitos de tubo neural, idade gestacional e maturidade fetal pulmonar. É indicada, principalmente, para mulheres acima de 35 anos devido à maior probabilidade de anormalidades cromossômicas fetais (síndrome de Patau e Edwards), além de tornar possível o estudo do DNA (paternidade) (Strasinger, 2009). Mobile User 24 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS Por sua vez, amnioscopia é um método endoscópico de observação da câmara amniótica, permitindo observá-la pelo canal cervical e através das membranas do polo inferior do ovo (Strasinger, 2009). O exame de rotina mais antigo do líquido amniótico avalia a profundidade da anemia produzida no feto pela anemia hemolítica. A destruição das hemácias do feto por anticorpos presentes na circulação materna provoca o aparecimento do seu produto de degradação, a bilirrubina, no líquido amniótico. Dosando-se a bilirrubina, é possível determinar o grau de hemólise e avaliar o perigo que a anemia representa para o feto. Nos casos de ruptura prematura das membranas amnióticas, pode ocorrer infecção da mãe e do feto. Nesses casos, é feita análise para detectar a presença de leucócitos; método indicativo de infecções. A análise da alfa-fetoproteína é usada para determinar a possibilidade de distúrbios do tubo neural, como a anencefalia e a espinha bífida (a pele não se fecha e o tecido fica exposto). A alfa-fetoproteína é uma proteína sintetizada pelo fígado do feto e, portanto, é encontrada no líquido amniótico por ser excretada na sua urina. 3.4. Coloração Para realizar a análise das propriedades do líquido, é feita inicialmente a sua análise macroscópica, em que uma das características analisadas é a sua colocação. Normalmente, sua cor se encontra ausente, ou seja, incolor ou acinzentada, principalmente nos primeiros meses de gestação. No entanto, nos últimos meses, torna- se opaca devido à presença de partículas em suspensão. Essas partículas são constituídas por lipídios que, ao aumentarem no decorrer da gestação, vão intensificar a turvação. Caso essa cor esteja alterada, isso tem significado patológico (Strasinger, 2009). Uma das principais alterações da coloração do líquido ocorre quando se encontra com uma cor amarelo-alaranjada, devido à presença de bilirrubina em casos de anemia hemolítica, ou amarelo-acastanhada, devido à presença dos eritrócitos maternos ou fetais e devido à presença de hemossiderina e hemotoidina resultante de hemorragia. A cor esverdeada é devido à estercobilina, presente no mecônio, traduzindo o sofrimento fetal (Strasinger, 2009). 3.5. Propriedades físicas Além disso, o líquido amniótico pode ser analisado a partir de suas características físicas e do seu aspecto, sendo classificado em (Strasinger, 2009): Mobile User 25 FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE III » Tipo I: líquido amniótico sem partículas de suspensão.» Tipo II: líquido amniótico com escassas e pequenas partículas em suspensão. » Tipo III: líquido amniótico com grandes e abundantes partículas em suspensão. » Tipo IV: líquido amniótico com grandes e abundantes partículas em suspensão e com filamentos, com aspecto viscoso. 3.6. Volume Outra característica importante está relacionada com o volume do líquido amniótico, sendo que este se relaciona com algumas patologias como poliidrâmnio e oligoidrâmnio. O poliidrâmnio é o acúmulo patológico de líquido amniótico, associado a uma elevada morbimortalidade materna e perinatal. Considera-se poliidrâmnio quando o volume amniótico ultrapassa os 2.000 ml. As causas principais que levam a esse aumento são malformação fetal, distúrbios genéticos, diabetes mellitus, sensibilização Rh e infecções congênitas (Strasinger, 2009). 3.7. Composição Com relação à análise microscópica, os principais componentes presentes nesse líquido estão em suspensão ou em dissolução. Entre os elementos em suspensão, estão as células esfoliadas do âmnio, oriundas principalmente do feto e, também, lanugem e gotículas de gordura. Entretanto, nos elementos em dissolução, encontram-se substâncias orgânicas, como proteínas, aminoácidos, alfa-fetoproteínas, substâncias nitrogenadas não proteicas, lipídios, carboidratos, vitaminas, enzimas, bilirrubina, hormônios, e as prostaglandinas e inorgânicas, como os eletrólitos, os quais estão relacionados com a idade gestacional (Strasinger, 2009). Vale ressaltar também que o líquido amniótico é rico em células escamadas que delimitam a cavidade amniótica e, também, células oriundas do feto. No entanto, a base morfológica da citologia amniótica está estritamente relacionada ao feto, como o desenvolvimento intrauterino da pele, mucosas respiratórias e digestivas, das coberturas geniturinárias e de todas as cavidades em contato com esse líquido. Isso possibilita, então, analisar a fisiologia de cada epitélio, seus ritmos de crescimento e maturação, podendo diagnosticar: maturidade fetal, gestação de alto risco, morte fetal, infecções ovulares, sexo fetal, além de determinará o grupo sanguíneo fetal no líquido amniótico em gestações de 37 a 40 semanas (Strasinger, 2009). Além disso, a composição do líquido amniótico muda com a idade gestacional; no início da gravidez o líquido se encontra isotônico em relação ao sangue materno e fetal. Com Mobile User 26 UNIDADE III | FLUIDOS BIOLÓGICOS a queratinização da pele fetal, a passagem do líquido através da pele fetal fica bastante reduzida. Nesse período, a urina fetal é mais hipotônica do que no início da gestação, tornando, assim, o LA hipotônico em relação ao sangue fetal (Strasinger, 2009). Mobile User 27 REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V. Patologia, Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2010. AIRES, M. Fisiologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. BARROS, E.; MANFRO, R. C.; THOMÉ, F. S.; GONÇALVES, L. F. S. Nefrologia – Rotinas, Diagnósticos e Tratamentos. 2. ed. Porto Alegre: Editora: Artmed, 1999. CAMPANA, S. G.; CHÁVEZ, J. H.; HAAS, P. Diagnóstico laboratorial do líquido amniótico. Medicina Laboratorial. J. Bras. Patol. Med. Lab. V. 39, n. 3, set. 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1590/ S1676-24442003000300007. Acesso em: 18 jun. 2023. CATE, A. R. T. Histologia Bucal, Desenvolvimento, Estrutura e Função. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. COMAR, S. R.; MACHADO, N. A.; DOZZA, T. G.; HASS, P. 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