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URINÁLISE E FLUIDOS BIOLÓGICOS UNIDADE IV OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS Elaboração Rebeca Confolonieri Julio Cesar Pissuti Damalio Ana Isabel de Camargo Atualização Rebeca Confolonieri Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO UNIDADE IV OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS .................................................................................................5 CAPÍTULO 1 SUOR E SALIVA ................................................................................................................... 5 CAPÍTULO 2 SUCO GÁSTRICO ............................................................................................................... 12 CAPÍTULO 3 LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO ....................................................................................... 15 PARA (NÃO) FINALIZAR........................................................................................................25 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................26 5 UNIDADE IVOUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS CAPÍTULO 1 SUOR E SALIVA 1.1. Suor 1.1.1. Introdução Suor, também chamado de transpiração, é a perda de fluido líquido, consistido principalmente de cloreto de sódio e ureia em solução, que é secretado pelas glândulas sudoríparas na pele de mamíferos. Animais com poucas glândulas de suor, como os cachorros, conseguem resultados similares ofegando, evaporando água do revestimento molhado da cavidade oral e faringe. Nos humanos, o suor é uma forma de excretar dejetos de nitrogênio, mas é também, e fundamentalmente, uma forma de regular a temperatura. A evaporação de suor da superfície da pele tem um efeito refrescante. Então, na água quente, ou quando o indivíduo sente calor por causa de exercício, mais suor é produzido. Esse fluido é aumentado por nervosismo e náusea; e diminuído por resfriados. A transpiração excessiva também é chamada de hiperidrose ou hiperhidrose. O suor acumulado em certas áreas do corpo humano, tais como pés, axilas e virilhas, podem ser atacados por fungos e bactérias, o que pode ocasionar odores desagradáveis. Por isso, é de extrema importância que haja uma higienização adequada desses locais. O cheiro do suor também pode variar, uma vez que a quantidade de glândulas sudoríparas pode variar entre pessoas de diferentes etnias. O teste do suor ainda é o principal teste para o diagnóstico da fibrose cística (FC). 1.1.2. Coleta Obter uma amostra correta de suor é bastante difícil, principalmente levando-se em consideração que o paciente deverá ser induzido a transpirar, e que a qualidade do material pode ser prejudicada por contaminação ou evaporação. Mobile User 6 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS O método clássico de Gibson e Cooke, que ainda é considerado o padrão-ouro para o teste de suor, tem sido repetidamente criticado por causa de sua complexidade, o que restringe o acesso ao teste. As complicações dessa técnica incluem a necessidade de extrair o suor de filtros de papel ou gaze usados para coletá-lo, pesando-se as amostras duas vezes, antes e após a coleta, e a posterior diluição para a análise química desenvolvida para detectar os dois eletrólitos cuja concentração apresenta valores anormais na FC, ou seja, cloro e sódio (Souza; Elias, 2006). A quantidade mínima de suor a ser coletado é de 75 mg. A obtenção da alíquota pode ser feita com o uso de almofadas de gaze e papel de filtro. Existe um meio de coletar esse líquido; aplicando-se um eletrodo de cloreto à pele após estimulação e medindo-se a concentração diretamente. Como a quantidade de sódio presente deve ser próxima à concentração de cloreto, alguns laboratórios preferem medir ambos os parâmetros para controlar melhor a qualidade do procedimento. Para simplificar o teste, muitos laboratórios têm adotado métodos alternativos. Um deles é o sistema de coleta do suor por Macroduct®, por meio do qual o suor é coletado para dentro de uma espiral de plástico após a estimulação pela iontoforese por pilocarpina. A pesagem e o risco de evaporação são então eliminados. O suor pode ser captado da espiral, e sua composição iônica analisada posteriormente por técnicas bioquímicas habituais, ou pode imediatamente ser colocado em analisador de condutividade, que fornecerá rapidamente os valores de equivalente de cloreto de sódio (NaCl) no suor em mmol/L. Dois sistemas baseados na medida indireta de eletrólitos em suor não diluído, coletado em tubos capilares de plástico após estimulação, têm despertado muito interesse: a osmometria e os sistemas de condutividade (Souza; Elias, 2006). 1.1.3. Análise A análise do suor é realizada porque a determinação do nível de eletrólitos (sódio e cloreto) pode confirmar o diagnóstico de fibrose cística, que se apresenta na infância. Trata-se de uma doença metabólica que afeta as glândulas secretoras de muco. Os indicadores mais comuns dessa doença são os antecedentes familiares de fibrose cística, desenvolvimento precário, obstrução intestinal no recém-nascido, bem como insuficiência pancreática ou sofrimento respiratório no lactente. A demonstração de níveis elevados de sódio e cloreto no suor de pacientes que apresentem qualquer desses sintomas, ou todos eles, serve para confirmar o diagnóstico de fibrose cística. Mobile User 7 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV 1.2. Saliva 1.2.1. Introdução A saliva é um dos mais complexos, versáteis e importantes fluidos do corpo, que supre um largo espectro de necessidades fisiológicas. É composta por água e diversos componentes que iniciam a digestão e protegem o trato respiratório e digestório contra vírus e bactérias. Também desempenha diversas funções. Em condições ideais de saúde, o ser humano produz de 1 a 2 litros de saliva por dia. A saliva é uma secreção aquosa transparente secretada pelas glândulas salivares diretamente na cavidade bucal. Sua maior parte (cerca de 99%) é constituída por água e cerca de 1% composto por proteínas (ex.: ptialina, lactoferrina, lisozima, gustina, imunoglobulinas etc.) e íons (ex.: cálcio e ferro) (Douglas, 2006). Suas propriedades são essenciais para a proteção da cavidade bucal, do epitélio gastrointestinal e da orofaringe. Além de umedecer os tecidos moles e duros da cavidade bucal, tem função de destaque no controle da quantidade de água do organismo. Quando o corpo está com falta de água, a boca fica seca, manifestando a sede. A saliva é renovada na cavidade bucal aproximadamente duas vezes por minuto pelas glândulas salivares (Douglas, 2006). Todas as glândulas salivares maiores e menores contribuem para a composição da saliva. Essa composição varia de acordo com a taxa de secreção, que é baixa durante o sono e alta (± 5 ml por minuto) quando em estimulação. A secreção é controlada pelo centro salivar no cérebro, e o fluxo é gerado pelo paladar (gustação). A função mastigatória é controlada por meio de receptores no periodonto e nos músculos da mastigação (Douglas, 2006). 1.2.2. Composição A saliva secretada pelas glândulas salivares contém água e glicoproteínas (entre elas a mucina, que confere viscosidade à saliva). Também lubrifica os alimentos e a boca, sendo que mantém úmida esta última. Outra substância presente na saliva é a ptialina, uma enzima proteica que digere amidos. A ptialina hidrolisa cerca de 70% do amido ingerido, transformando-o em maltose (Douglas, 2006). 1.2.3. Coleta Para realizar a coleta, deve ser solicitado um tubo especial, sendo mais conhecido o Salivette® (Figura 29). Mobile User 8 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS Figura 29. Salivette®. Fonte: Douglas, 2006. 1.2.4. Preparação A coleta deve ser feita em até duas horas após o horário habitual do paciente acordar ou conforme solicitação médica. Não há necessidade de jejum após dieta leve. Se, contudo, o exame for feito após as principais refeições (almoço e jantar), deve haver um intervalo detrês horas entre a refeição e a coleta. O paciente não pode fazer tratamento dentário nas 24 horas que antecedem ao exame. Antes da coleta, é necessário ficar três horas sem escovar os dentes. É preciso que sejam informados todos os medicamentos em uso. 1.2.5. Procedimento » Abrir o Salivette® e remover o swab; » Colocar o swab na boca, estimulando a salivação. » Manter o swab durante 3 minutos ou o tempo necessário para sentir que está saturado de saliva. » Retornar o swab para a posição inicial no Salivette®. » Fechar firmemente. Centrifugar por 2 minutos e transferir a saliva para o tubo de transporte/alíquota (tubo padrão). O volume mínimo necessário de saliva é 1,0 mL. 1.2.6. Análise A ideia da utilização da saliva como matriz de análise para métodos de diagnóstico existe há muito tempo, desde 1975, e a criação da nova metodologia pode ser pertinente Mobile User 9 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV e viável devido à facilidade da coleta desse fluido e à quantidade de informações determinantes em seus constituintes (Douglas, 2006). Os testes diagnósticos baseados em amostras de saliva são atualmente utilizados com frequência na endocrinologia, pesquisa em pediatria, em estudos clínicos em psicologia e psiquiatria, bem como na pesquisa sobre estresse (Douglas, 2006). O fluido salivar pode oferecer uma alternativa ao plasma e à urina, como matriz de análise para o diagnóstico e controle de diversas doenças sistêmicas. A análise da saliva com finalidades diagnósticas se fundamenta na possível correlação entre os constituintes salivares e os parâmetros bioquímicos tradicionais, principalmente do plasma (Douglas, 2006). » Dosagem hormonal: a saliva é um meio ideal para encontrar hormônios estáveis, podendo ser armazenada em até 20 dias em temperatura ambiente. A coleta da saliva é um procedimento simples, em que se utilizam swabes de algodão ou plástico, colocados em frasco de plástico específico. Esses tubos devem conter dispositivos prontos para serem usados, com duas câmaras, que possam ser centrifugados a fim de remover detritos e que também possam ser usados para armazenar, sob congelamento, as amostras antes da análise. Imunoensaios altamente sensíveis, como radioimunoensaios, ensaios imunoenzimáticos ou fluorescentes com resolução temporal, encontram-se amplamente disponíveis. Dependendo do estudo/pesquisa, kits são utilizados e, posteriormente, há a centrifugação e o congelamento da amostra em -15ºC até ser analisado, a qual, por sua vez, foi descongelada e centrifugada novamente com o intuito de separar as proteínas presentes na saliva do líquido sobrenadante. Posteriormente, esse mesmo líquido é aspirado e armazenado. » Análise de DNA: uma certa quantidade de células da membrana mucosa, presente no revestimento da boca, é retirada com swab e colocada em solução-tampão para que não haja perda do material. Para a extração do DNA, é necessário o uso da proteinase K, para que haja quebra das células e que elas, por sua vez, liberem seu DNA na solução. Há um período de encubação, a uma temperatura de 56ºC. Elas são agitadas para facilitar a quebra das células; o material é pipetado e transferido para uma placa em que há uma solução que possui partículas magnéticas minúsculas. A solução de magneto de DNA é completamente misturada, assim o DNA recebe uma carga negativa e é atraído pelas partículas magnéticas carregadas positivamente. A placa é colocada em um suporte magnético e a solução-tampão é removida com cuidado; as partículas magnéticas com DNA são lavadas e depois um “tampão de fixação de DNA” é pipetado para um dos poços da placa. Esta, por sua vez, é colocada em um bloco de aquecimento, com a finalidade de as partículas Mobile User 10 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS de DNA se soltarem e entrarem no buffer de fixação; o buffer que possui o DNA é transferido para tubos e a placa é escaneada, posteriormente sendo armazenada a -20ºC para ser submetida ao PCR. » Diagnóstico de doenças: para o diagnóstico da estomatite protética associada à candidíase, por exemplo, devem-se considerar os sinais clínicos, associados aos exames laboratoriais, como a citopatologia, para uma confirmação. Deve-se realizar a citopatologia da lesão bucal para obtenção de material por meio da raspagem da mucosa com uma espátula de madeira ou metal ou escova plástica, para a coleta de células epiteliais superficiais e, passagem para uma lâmina de vidro com posterior fixação em álcool, e coloração com Papanicolaou (ácido periódico de Schiff) para observação em microscópico óptico. Há consenso entre vários pesquisadores que a cultura quantitativa da saliva e a citopatologia são suficientes para o estabelecimento do diagnóstico de candidíase. » Alterações sistêmicas: análise bioquímica. » Anticorpos: a facilidade em coleta de saliva desenvolveu em estudiosos o interesse em usá-la para pesquisa de anticorpos de HIV, os quais permanecem estáveis por uma temperatura ambiente quando coletados com um certo dispositivo comercial (Omni-Sal, Saliva Diagnostic Systems, Inc.), assim como de vírus herpes e hepatite B. » Detecção e medição de drogas. A análise resulta em uma avaliação da função adrenal. O cortisol é o principal hormônio glicocorticoide produzido pelo córtex adrenal humano. Os níveis de cortisol são regulados por meio de um balanço com o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) da pituitária e do hipotálamo, respectivamente. Níveis elevados de ACTH estimulam o córtex adrenal a liberar cortisol que, ao atingir determinados níveis, suprime o ACTH num feedback negativo. Alguns fatores fora desse eixo metabólico podem interferir no processo, como febre, inflamações, dor, estresse e hipoglicemia. O cortisol e o ACTH normalmente apresentam variações circadianas com picos no período da manhã, sendo os maiores níveis encontrados em torno das 8 horas da manhã e os menores, mais tarde. Assim, é aconselhável colher amostra às 8 horas para diagnóstico de insuficiência adrenal e depois das 16 horas para diagnóstico de síndrome de Cushing. Valores aumentados = síndrome de Cushing, síndromes de hipersecreção ectópica de ACTH, carcinoma ou adenoma adrenal, displasia ou hiperplasia adrenal micro ou macronodular, estresse. Valores diminuídos = insuficiência adrenocortical (síndrome de Addison), síndrome adrenogenital e hipopituitarismo. Mobile User 11 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV A saliva é um líquido claro, viscoso, alcalino (pH entre 6 e 7), que contém em sua composição 95% de água, 3% de substâncias orgânicas e 2% de sais minerais. Além disso, também apresenta dois tipos de secreção proteica: uma secreção serosa e rica em ptialina, que contribui para digestão do amido; outra secreção mucosa, que contém mucina, elemento lubrificante que facilita a mastigação e a passagem do bolo alimentar pelo esôfago por meio da deglutição. A síndrome de Cushing causa sintomas e complicações sérias como obesidade centrípeta, isto é, ocorre na face e no abdome, mas não nos membros que, ao contrário, são finos e com atrofia da musculatura, o que causa fraqueza muscular. Aparecem estrias largas e de cor violeta (geralmente no abdome e raiz dos membros) e equimoses (manchas roxas) frequentes. Pode levar ao diabetes e à hipertensão e pode ser causada por uso excessivo de corticoide, por via oral, injetável ou mesmo tópica, como nasal ou pela pele. Contudo, pode ser também em decorrência de produção excessiva de cortisol (corticoide produzido nas suprarrenais), seja por tumor das suprarrenais (também chamadas adrenais) ou por tumor produtor de ACTH, que é o hormônio hipofisário que estimula as adrenais (Douglas, 2006). O tumor produtor de ACTH pode estar localizado na própria hipófise e, nesses casos, costuma ser benigno, muito pequeno e recebe o nome de doença de Cushing (Douglas, 2006). 12 CAPÍTULO 2 SUCO GÁSTRICO 2.1. Introdução O suco gástrico, produzido no estômago pelas glândulas gástricas,é um líquido claro que atua sobre as proteínas, transformando-as em pequenos polipeptídios, para que, depois, no intestino delgado, esses polipeptídios sejam transformados em aminoácidos e sejam absorvidos (Aires, 2018). O suco gástrico contém água, enzimas (a pré-enzima inativa pepsinogênio, em contato com o ácido clorídrico, é modificada quimicamente para se tornar pepsina e a enzima pancreática tripsina), sais inorgânicos, ácido clorídrico e uma quantidade mínima de ácido láctico. A sua função é atuar sobre o quimo, proporcionando a digestão gástrica dos alimentos, principalmente das proteínas (Aires, 2018). O HCl presente no suco ajuda a destruir as bactérias presentes nos alimentos. Proporciona ainda o meio ácido ideal para a atuação das enzimas do suco, isto porque promove a redução do pH para valores abaixo de 2,5 (Aires, 2018). O estômago produz cerca de três litros de suco gástrico por dia. Sucos gástricos são líquidos encontrados no estômago (Aires, 2018). Os sucos no estômago iniciam o processo de decomposição dos alimentos, para que os nutrientes possam ser extraídos pelo intestino, e são produzidos pelas glândulas do estômago, conforme necessário (Aires, 2018). Nos seres humanos, o equilíbrio do pH oscila entre um (1,0) e três (3,0), tornando essa secreção estomacal muito ácida. A acidez é importante porque decompõe os alimentos para torná-los acessíveis ao trato digestivo (Aires, 2018). A alta acidez do estômago também mata muitas bactérias e microrganismos que não podem sobreviver naquele ambiente, protegendo o corpo da infecção por muitos patógenos comuns (Aires, 2018). A produção de líquidos gástricos é desencadeada quando o hormônio gastrina é liberado no sangue. A gastrina é liberada pelo organismo em resposta à presença de alimentos no estômago, indicando que o estômago precisa se movimentar e iniciar o processo de digestão. Várias glândulas do estômago são responsáveis pela produção de diferentes componentes desses sucos e por alcançar o equilíbrio correto dos componentes (Aires, 2018). Mobile User 13 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV A determinação laboratorial da acidez gástrica é muito importante e considerada útil para o diagnóstico e o tratamento de úlcera péptica, anemia perniciosa e na monitoração de cirurgias. Atualmente, outros métodos estão em uso para a detecção desses distúrbios, como, por exemplo, exame endoscópico direto das lesões, técnicas radiológicas, medida dos níveis de gastrina sérica, exame citológico do conteúdo gástrico para detecção de neoplasias, exame imunológico do soro para avaliação do fator anti-intrínseco e anticorpos contra células parietais encontradas da anemia perniciosa, e eletrodos sensíveis ao pH (que transmitem a leitura do pH quando introduzidos no estômago). A análise do suco gástrico tem por maior finalidade confirmar resultados obtidos por meio de outros métodos. 2.2. Coleta A obtenção do conteúdo gástrico é realizada por intubação nasal ou oral do paciente. Para ter certeza de que a coleta foi um sucesso, a posição do tubo é verificada por exame fluoroscópico do estômago. Durante a coleta do material, deve-se pedir ao cliente que não degluta quantidade excessiva de saliva, pois ela neutraliza a acidez gástrica. A coleta é realizada, geralmente, em jejum, e é mais completa quando a aspiração é contínua, durante todo o período. Como a análise da acidez é feita em amostras de quinze minutos, o produto da aspiração deve ser colocado em recipientes rotulados com a hora da coleta. 2.3. Análise A análise do ácido gástrico raramente é feita na prática atual. Quando é feita, usam-se amostras do conteúdo gástrico obtidas por sonda nasogástrica para medir a produção gástrica ácida em estado basal e estimulado. Esse exame pode ser útil em pacientes que apresentam úlceras recorrentes após uma vagotomia cirúrgica para tratamento de úlcera péptica. Nesse caso, uma resposta ácida positiva após estímulo (refeição fantasma) indica uma vagotomia incompleta (Aires, 2018). Esse teste também é usado para avaliar pacientes com gastrinemia elevada. A hipercloridria na vigência de gastrina alta sugere síndrome de Zollinger-Ellison. A hipocloridria na presença de gastrina alta sugere uma diminuição na produção ácida, como ocorre na anemia perniciosa, na gastrite atrófica e após a inibição ácida por fármacos antissecretores potentes (Aires, 2018). Mobile User 14 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS Para realizar a análise da secreção ácida, introduz-se uma sonda nasogástrica e o conteúdo gástrico é aspirado e descartado. O suco gástrico é então coletado por 1 hora, dividido em quatro amostras em períodos de 15 minutos. Essas amostras representam a produção ácida basal do estômago (Aires, 2018). A análise gástrica também pode ser realizada durante o monitoramento de pH esofágico por cateter (Aires, 2018). A rotina realizada nas amostras de suco gástrico é de: » aparência; » volume; » acidez titulável; e » pH. Normalmente, sua cor é verde-clara e contém muco. Em jejum, não deve conter partículas de alimentos, afinal, sua presença é indicativa de digestão incompleta. É preciso registrar casos em que haja presença de bile em grande quantidade (que confere à amostra uma coloração verde-amarelada) e aparências sanguinolentas. O volume é expresso em mililitros. Com a acidez titulável, seu valor serve para determinar a produção total de ácido. O pH possui uma boa correlação com os valores da acidez titulável, principalmente em pessoas com anormalidades na produção do ácido gástrico. Sua determinação também serve de monitoração indireta dos pacientes em estado crítico. A acidez gástrica é produzida pela estimulação das células parietais pela gastrina, o que produz o ácido clorídrico. A Síndrome de Zollinger-Ellison (ZES) ou hipergastrinemia é um distúrbio endócrino caracterizado por níveis aumentados do hormônio gastrina, fazendo com que o estômago produza ácido gástrico em excesso. Uma das consequências da acidez aumentada é a formação de úlceras pépticas em 95% dos pacientes. Geralmente, é causada por um tumor (gastrinoma) no duodeno ou pâncreas produtor de gastrina. Mobile User 15 CAPÍTULO 3 LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO 3.1. Introdução O líquido cefalorraquidiano ou líquor (LCR) é o terceiro principal fluido biológico (Figura 30). O seu exame é utilizado para o diagnóstico de pelo menos quatro das principais afecções neurológicas, como as infecções, hemorragias, doenças degenerativas e doenças neoplásicas. É um fluido corporal estéril e de aparência clara que ocupa o espaço subaracnóideo no cérebro (espaço entre o crânio e o córtex cerebral, mais especificamente, entre as membranas aracnoide e pia-máter das meninges) e no espaço subaracnóideo na medula espinhal. É uma solução salina muito pura, pobre em proteínas e células, e age como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal (Robbins et al., 2000). Figura 30. Processo de amniocentese. Coluna vertebral Líquido cefalorraquidiano Exame LCR Fonte: Robbins et al., 2000. O volume do LCR na primeira infância é de 40 a 60 mL e, no adulto, é de 90 a 150 mL, sendo 25% encontrado no sistema ventricular e o restante no espaço subaracnóideo. Normalmente, há uma renovação de 40 a 50 mL desse líquido por dia. O LCR apresenta algumas funções, sendo as principais delas: » Proteção mecânica do sistema nervoso central (SNC) contra amortecimentos de traumatismos que venham a atingir o encéfalo e/ou a medula espinhal. Mobile User 16 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS » Via de eliminação de produtos do metabolismo do SNC. » Defesa contra agentes infecciosos, pela distribuição homogênea de células de defesa. » Facilitador da pronta difusão de imunoglobulinas. 3.2. Coleta 3.2.1. Cuidados pré-coleta de líquor Antes da coleta, devem-se checar algumas coisas importantes (Strasinger, 2009): » Presença de lesões ou massas com efeito expansivo dentro do cérebro. » Antecedentesde doenças ou uso de medicamentos que podem afetar a coagulação do sangue. » Lesões ativas no local da punção. » Cirurgias ou condições prévias que podem prejudicar ou impossibilitar a coleta de líquor pela região da coluna lombar. 3.3. Amostra A coleta só pode ser realizada por um profissional especializado, que saiba evitar a ocorrência de acidentes, mesmo fatais, em casos imprevisíveis. Geralmente, colhe-se por punção lombar, entre a 3ª e a 4ª ou entre a 4ª e a 5ª vértebra. É um procedimento que exige algumas precauções, que compreendem a medida da pressão intracraniana (PIC) e o emprego de técnica com a intenção de não haver introdução de infecção ou de provocar lesão no tecido neural. As amostras devem ser colhidas em três tubos estéreis, marcados conforme a ordem em que forem sendo obtidos: » 1o Tubo = utilizado para análises bioquímicas e sorológicas. » 2o Tubo = usado para microbiologia. » 3o Tubo = destinado à contagem celular. Se possível, recomenda-se coletar o 4o tubo para análises que venham a ser solicitadas, pois amostras destinadas a outros tipos de avaliações bioquímicas e sorológicas mais específicas devem ser congeladas (como no caso da dosagem do Venereal Disease Research Laboratories, VDRL, – para diagnosticar sífilis). Mobile User 17 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV Durante a obtenção da amostra, é possível que se forme uma fibrina dentro do tubo algum tempo após a coleta. Esse fenômeno leva à suspeita de meningite tuberculosa. Sendo um líquido nobre, todo esforço deve ser tomado para evitar a necessidade de nova coleta, e o fluido colhido em excesso deve ser armazenado, após a centrifugação e efetuação das análises, sob congelação (Strasinger, 2009). Cuidados pós-coleta de líquor Permanecer em repouso relativo, preferencialmente deitado, por 4 horas após a coleta (Strasinger, 2009). Complicações da coleta de líquor 90% dos pacientes não apresentam nenhum problema após a coleta do líquor (Strasinger, 2009). Em 10% dos casos, pode ocorrer algum incômodo como (Strasinger, 2009): » dor de cabeça; » dor na região lombar, principalmente no local da penetração da agulha; » dor nas pernas (é rara, ocorre em crianças, bilateralmente. Não é muito grave e vai embora sozinha. Está relacionada com a diminuição da pressão do líquor e não pela punção em si, ou por lesão de nervo); » sangramento abundante; » herniação; » infecção; » cefaleia pós-punção. Cefaleia pós-punção: Essa complicação é mais comum em mulheres jovens, magras, com antecedentes de enxaqueca de repetição ou com diagnóstico de doenças desmielinizantes. Não está relacionada a lesões ocasionadas pela punção, mas pela diferença de pressão do líquor (Strasinger, 2009). 3.4. Análise O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) ou líquor vem sendo utilizado como ferramenta diagnóstica desde o final do século XIX, contribuindo significativamente para o diagnóstico Mobile User 18 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS de patologias neurológicas. Além do diagnóstico, a análise do LCR permite o estadiamento e o seguimento de processos vasculares, infecciosos, inflamatórios e neoplásicos que acometem, direta ou indiretamente, o sistema nervoso (Strasinger, 2009). A rotina do exame de LCR inclui suas propriedades físicas, o exame de citologia, de seus aspectos bioquímicos e imunológicos. Em casos de processo inflamatório, realiza-se a pesquisa do agente etiológico. A análise clínica inicia-se já no processo de coleta, quando deve ser verificado se o fluido corre sob pressão (indicativo de hipertensão intracraniana) ou apenas em gotejamento lento (normal) (Strasinger, 2009). Em condições normais, o LCR é límpido, incolor, levemente alcalino, com a densidade entre 1.006 a 1.009 e contém até 4 células por mm3. Nos homens, a taxa de proteína é pouco maior do que nas mulheres, sendo maior nos velhos do que em pessoas jovens. A coloração normal desse fluido é límpida e incolor “como água de rocha”. A terminologia mais adequada para descrever a aparência do LCR é: cristalino, opaco ou turvo, leitoso, xantocrômico e sanguinolento. Eventualmente, aparecem amostras de cor esverdeadas ou azuladas, em certos casos de meningite bacteriana causada por Pseudomonas. A turvação pode ser resultado de elevada concentração de proteínas ou lipídios, mas também ser indicativo de infecção, sendo a opacidade causada pela presença de leucócitos. LCR xantocrômico pode estar associado à turvação em certas meningites bacterianas. Xantocromia associada à hemorragia ocorre em hemorragias intracranianas. O exame microscópico, no qual se visualizam macrófagos com hemácias fagocitadas, é um dado seguro de hemorragia intracraniana. O exame citológico é realizado pela contagem global de células por mm3 e pela contagem específica dessas células (neutrófilos, linfócitos, monócitos, plasmócitos, células histioides e outras), que, por sua vez, deve ser feita em um esfregaço corado. A citologia deve ser iniciada prontamente, pois as células suspensas em líquor sofrem rápida degradação in vitro. Contam-se as células presentes por milímetro cúbico com uso da câmara de Fuchs-Rosental (na sua ausência, pode ser usada a câmara de Neubauer) (Strasinger, 2009). A diluição não é necessária, a menos que seja observada celularidade muito elevada. Uma porção do líquor deve ser reservada para análise em uma lâmina fixada e corada, Mobile User 19 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV obtida por meio de uma citocentrífuga ou câmara de Suta, para diferenciação das células encontradas. Normalmente, é encontrado um predomínio de linfócitos, com alguns monócitos e poucos (ou nenhum) neutrófilos. A contagem intensamente aumentada de leucócitos está associada a infecções, sendo que o predomínio de neutrófilos é indicativo de infecção bacteriana, e o predomínio de linfócitos é associado a infecções virais ou tuberculosas. Algumas condições, como a esclerose múltipla e a síndrome de Guillain-Barré, associam-se a um leve aumento na contagem de linfócitos. A presença de eosinófilos em qualquer número é considerada forte indício de acometimento parasitário do sistema nervoso, notadamente pelo Schistosoma mansoni. Eventualmente, podem ser encontradas células ependimárias (Strasinger, 2009). A análise bioquímica mais frequentemente realizada no LCR é a dosagem proteica. Glicose, lactato, glutamina e desidrogenase láctica (DHL) também são dosados no LCR. A técnica de contraimunoeletroforese (CIE) é o método sorológico utilizado nos setores de microbiologia para detectar e identificar antígenos bacterianos no LCR. A função do setor de microbiologia na análise do LCR é identificar a etiologia da meningite. Para a realização do exame microbiológico, é preciso que a contagem global esteja com mais de 4 células por mm3. Em seguida, após a centrifugação do tubo, separa-se o sobrenadante para as análises imunológicas. Então, utilizando o sedimento, será feito o exame a fresco do LCR entre lâmina-lamínula para a pesquisa de fungos. Confeccionam-se diversos esfregaços: » 1o: corado pelo método de Gram = detecção de organismos bacterianos e fúngicos. » 2o: corado pelo método de Ziehl-Neelsen = bacterioscopia para pesquisa de bacilos álcool-ácido-resistentes (BAAR) quando há suspeita de meningite tuberculosa (Figura 31). Figura 31. Bacilos álcool-ácido-resistentes. Fonte: Strasinger, 2009. Mobile User 20 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS Eventualmente, faz-se a pesquisa de cápsulas misturando-se, numa lâmina, uma alçada de LCR com uma gota de tinta nanquim ou tinta da China; então, cobre-se com uma lamínula e se examina ao microscópio, com objetiva de imersão. Esse preparo tem por finalidade detectar umas das causas mais comuns de meningite fúngica, o Cryptococcus neoformans (Figura 32). Figura 32. Cryptococcus neoformans. Fonte: Strasinger, 2009. Tabela 7. Resumo dos principais resultados no diagnóstico diferencial da meningite. Bacteriana Viral TuberculosaFúngica Contagem elevada de leucócitos Contagem elevada de leucócitos Contagem elevada de leucócitos Contagem elevada de leucócitos Presença de neutrófilos Presença de linfócitos Presença de linfócitos e monócitos Presença de linfócitos e monócitos Grande elevação nos níveis de proteínas Elevação moderada nos níveis de proteínas Elevação moderada ou acentuada nos níveis de proteínas Elevação moderada ou acentuada nos níveis de proteínas Acentuada diminuição do nível de glicose Níveis normais de glicose Níveis baixos de glicose Níveis normais ou baixos de glicose Níveis elevados de lactato Níveis normais de lactato Níveis elevados de lactato Níveis elevados de lactato Níveis elevados de DHL (LD4 e LD5) Níveis elevados de DHL (LD2 e LD3) Formação de película Prova de tinta da China positiva para Cryptococcus neoformans Organismos Gram- positivos e CIE Prova com látex positiva Fonte: Strasinger, 2001. A contraimunoeletroforese (CIE) é uma técnica amplamente utilizada no Brasil para o diagnóstico laboratorial indireto de meningites causadas por Neisseria Mobile User 21 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV meningitidis (Men) dos sorogrupos A, B e C e Haemophilus influenzae (Hi) tipo b, desde a década de 1970. A escassez de estudos no LCR se deve à carência de profissionais especializados nesse tipo de análise e à menor demanda do exame em relação a outros fluidos, o que acarreta maior custo na implantação de procedimentos de qualidade (Strasinger, 2009). 3.4.1. Análise bioquímica 3.4.1.1. Glicose A glicose entra no LCR após saturação cinética por meio de um mecanismo de transporte facilitado. Esse mecanismo não é totalmente funcional até quatro a oito semanas após o nascimento. É por isso que, com a barreira hematoencefálica imatura nesse momento, a concentração de glicose no LCR é dependente da idade (Strasinger, 2009). Os níveis de glicose no LCR são utilizados para diferenciar meningite bacteriana de viral (Strasinger, 2009). A hipoglicorraquia no LCR é causada principalmente por alterações nos mecanismos de transporte de glicose por meio da barreira hematoencefálica e por sua grande utilização por parte das células encefálicas (Strasinger, 2009). Os níveis de glicose no LCR são interpretados em relação à glicose no soro. A glicose no soro e no LCR equilibram-se após um período de aproximadamente quatro horas, de modo que a concentração de glicose no LCR em um dado momento reflete os níveis de glicose no soro durante essas últimas quatro horas (Strasinger, 2009). O sangue, para exame de glicemia, deve ser colhido pelo menos duas horas antes da punção do LCR, a fim de que haja tempo para esse equilíbrio, ou os resultados devem ser comparados com os níveis plasmáticos após um jejum de quatro horas para uma adequada interpretação clínica (Strasinger, 2009). Os níveis de glicose se normalizam antes dos níveis de proteínas e da contagem de células durante a recuperação da meningite, tornando-se um parâmetro útil na avaliação de resposta ao tratamento (Strasinger, 2009). 3.4.1.2. Proteína As proteínas do LCR são constituídas em grande parte de albumina e, em muito menor quantidade, de globulinas (Strasinger, 2009). Mobile User 22 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS A análise da quantidade total de proteínas no LCR é utilizada principalmente para detectar doenças do sistema nervoso central (SNC), associadas ao aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica ou à produção intratecal de imunoglobulinas (Strasinger, 2009). Valores anormalmente baixos estão presentes quando há perda de fluido no SNC (Strasinger, 2009). O aumento de proteínas no LCR é observado em infecções, hemorragias intracranianas, esclerose múltipla, Guillain-Barré, malignidades, algumas anormalidades endócrinas, uso de alguns medicamentos e uma variedade de condições inflamatórias (Strasinger, 2009). A síndrome de Guillain-Barré é a maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo. É descrita como uma tríade composta por: fraqueza muscular progressiva, arreflexia e aumento das proteínas (>45 mg/dL) no LCR, sem pleocitose (10 células mononucleares/mm3). Esses achados laboratoriais são característicos e evidentes em 80% dos pacientes após a segunda semana da doença (Strasinger, 2009). Outra patologia em que se observa uma proteinorraquia é a esclerose múltipla (EM), que é uma doença crônica do sistema nervoso central (SNC), de etiologia desconhecida, cujas manifestações iniciais ocorrem na adolescência e no adulto jovem, secundárias à desmielinização multifocal, por mecanismo autoimune. Como consequência desse processo, surgem as alterações no líquido cefalorraquidiano (LCR), características da doença, tais como a presença de bandas Imunoglobulina G (IgG) oligoclonais e aumento do índice de IgG, indicando a síntese intratecal de imunoglobulinas (Strasinger, 2009). O aumento de proteínas é a mais comum anormalidade encontrada no exame de LCR, porém é um achado inespecífico e deve ser interpretado em correlação à apresentação clínica e outros achados laboratoriais (Strasinger, 2009). Uma punção traumática pode introduzir células sanguíneas no LCR, assim como a mesma situação pode ocorrer com as proteínas plasmáticas. Por isso, para avaliar o nível de proteínas, utiliza-se um cálculo de correção. Quando o hematócrito sanguíneo e os níveis séricos de proteínas forem normais, é aceitável subtrair 1 mg/dL de proteínas para cada 1.200 hemácias contadas (Strasinger, 2009). Em Rn, o LCR geralmente é xantocrômico devido à elevação frequente dos níveis de bilirrubina e proteína nessa faixa etária, em razão da imaturidade da barreira hematoencefálica nos Rn (Strasinger, 2009). Mobile User 23 OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS | UNIDADE IV 3.4.1.3. Lactato Os níveis de lactato no LCR, diferentes dos níveis de glicose, não estão vinculados à concentração sanguínea, mas, sim, à sua produção intratecal (Strasinger, 2009). Com exceção da doença mitocondrial, o lactato no LCR correlaciona-se inversamente com o valor da relação de glicose no LCR/soro. Um aumento do nível de lactato pode ser detectado mais cedo do que uma concentração reduzida de glicose. Por isso, para a diferenciação de meningite bacteriana de uma meningite asséptica, a concentração de lactato é um melhor indicador comparado a outros marcadores convencionais (Strasinger, 2009). Os níveis de lactato são particularmente importantes quando a coloração de Gram é negativa e há um predomínio de polimorfonucleares, com glicose baixa (Strasinger, 2009). A produção de níveis aumentados de lactato no LCR ocorre devido a uma destruição do tecido dentro do SNC, causada pela privação de oxigênio. Por isso, a elevação de lactato no LCR não se limita à meningite e pode ser resultante de qualquer quadro clínico que reduza o fluxo de oxigênio para os tecidos, apesar de ser utilizada, principalmente, no diagnóstico diferencial entre as meningites bacterianas e virais (Strasinger, 2009). Os níveis de lactato são frequentemente utilizados para monitoramento de graves lesões na cabeça, considerado um marcador estabelecido de traumatismo crânio-encefálico (TCE) (Strasinger, 2009). 3.4.1.4. Lactato Desidrogenase (LD) A LD é uma enzima citoplasmática presente em praticamente todos os principais sistemas de órgãos (Strasinger, 2009). Estudos têm demonstrado que pacientes com patologia intracraniana, como malignidade ou infecção bacteriana, apresentam níveis de LD no LCR maiores se forem comparados a pacientes saudáveis (Strasinger, 2009). Em condições normais, a atividade da LD no LCR é bem menor do que a encontrada no soro sanguíneo. Em Rn, elevações da LD são observadas em hemorragias intracranianas e estão de forma significativa associadas com distúrbios neurológicos, com convulsões e hidroencefalia (Strasinger, 2009). A LD é útil na diferenciação de uma punção traumática de uma hemorragia intracraniana, já que, em uma punção traumática com hemáciasnão hemolisadas, não há aumento significante da LD (Strasinger, 2009). Mobile User 24 UNIDADE IV | OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS 3.4.1.5. Adenosina Deaminase (ADA) ADA é uma enzima que está amplamente distribuída em quase todos os tecidos e que participa no metabolismo das purinas, onde ela degrada a adenosina e produz inosina. O seu papel crítico e ação fisiológica básica é a proliferação, a maturação e o funcionamento de células linfoides. Sua atividade aumenta em pacientes com deficiência na imunidade celular (Comar et al., 2009). Numerosos estudos têm demonstrado que a dosagem de ADA no LCR é útil no diagnóstico de meningite tuberculosa, embora não seja patognomônico dessa doença, podendo ocorrer também aumento da atividade de ADA em pacientes com linfomas e leucemias (especialmente de células T), em neurosarcoidose, em meningites bacterianas graves ou complicadas, em neurobrucelose, em neurocriptococose e no soro de pacientes infectados com o vírus human immunodeficiency vírus (HIV) (Comar et al., 2009). Nos últimos anos, têm sido realizadas várias pesquisas com o objetivo de investigar o aumento dos níveis de ADA em pacientes infectados com HIV. Foi verificado que nesses pacientes há aumento progressivo da atividade de ADA, acompanhando a evolução natural da doença. O mecanismo fisiopatológico não está bem definido, mas os linfócitos CD4 e macrófagos são apontados como sendo responsáveis por aumento da atividade da enzima (Comar et al., 2009). Mobile User 25 PARA (NÃO) FINALIZAR O exame de urina, especificamente, é um procedimento de alta demanda, trabalhoso e pouco padronizado, porém é de suma importância para a conclusão de alguns diagnósticos clínicos. O laboratório clínico deve ter procedimento da qualidade, bem documentado e atualizado, de modo que contribua para a uniformidade de execução por todo o pessoal técnico do exame microscópico do sedimento urinário. Todos devem fazer a avaliação do sedimento urinário usando o mesmo procedimento, investigando a presença das mesmas entidades sedimentares e usando os mesmos critérios de identificação. Hoje em dia, poucos são os profissionais que ainda se sentam diante do microscópio para realizar 100% de uma rotina laboratorial em urinálise. A automação está crescendo e a cada dia que passa os aparelhos estão mais modernos e eficazes em suas análises. O exame microscópico do sedimento urinário é um procedimento complexo e de custo elevado, considerando-se o tempo consumido pela sua execução. A realização do exame microscópico na rotina do laboratório exige profissionais qualificados, bem treinados, que possuam habilidade e experiência em microscopia. Além disso, eles devem conhecer procedimentos de microscopia, como campo claro, contraste de fase e luz polarizada, bem como saber como utilizar os microscópios que possibilitam esses tipos de microscopia. Entre muitos dos equipamentos disponíveis no mercado, o UF-100/SYSMEX demonstra boa precisão, reprodutibilidade e concordância com a microscopia óptica. A utilização da citometria de fluxo implica maior agilidade e padronização da rotina, bem como uma nova maneira de reportar e interpretar o exame rotineiro de urina, sem dizer que esse tipo de sistema permite a observação da amostra sem centrifugação, para a identificação e contagem dos elementos figurados. É inerente a esses sistemas uma reprodutibilidade maior em comparação com a microscopia manual realizada por diferentes pessoas, devendo ser seguidas as instruções do fabricante. Devido à crescente automatização dos procedimentos, cada vez mais profissionais qualificados terão a oportunidade de continuar na prática manual das análises laboratoriais. Portanto, a dedicação e a atualização são de extrema importância para que venhamos a ser destaques, entre muitos profissionais, no uso dos métodos convencionais. 26 REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V. Patologia, Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2010. AIRES, M. Fisiologia. 1. ed. 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Disponível em: https://hemodialisevalenca.com.br/doencas-renais/. Acesso em: 7 jan. 2023. UNIDADE IV Outros fluidos biológicos Capítulo 1 Suor e saliva Capítulo 2 Suco gástrico Capítulo 3 Líquido cefalorraquidiano Para (não) finalizar Referências
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