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UC – MANIFESTAÇÕES ABDOMINAIS Problema 6- 1.obj. Explicar o conceito de Sindrome do Abdome Agudo e correlacionar sua epidemiologia e prevalência com as principais faixas estária no Brasil e Mundo. O abdome agudo (AA) descreve uma dor abdominal aguda, de intensidade severa, iniciada de forma súbita ou progressiva, com duração inferior a sete dias (usualmente menor do que 48 horas). A persistência do quadro por 6 horas ou mais é forte indicativo de patologia com significância cirúrgia. O diagnóstico associado de abdome agudo varia conforme a idade e o sexo. O abdome agudo é uma condição clínica em que o paciente apresenta afecção abdominal caracterizada por dor aguda e súbita, que o leva a procurar imediatamente um serviço de emergência, requerendo tratamento clínico ou cirúrgico de urgência ou emergência; É uma das principais emergências da prática médica, com alta incidência e elevado risco de gravidade, podendo levar ao óbito, muitas vezes pela dificuldade de se estabelecer o diagnóstico correto; Quando não tratado adequadamente e no tempo correto, o paciente evolui com piora dos sintomas e progressiva deterioração de seu estado geral; Deve-se fazer o maior esforço para realizar um diagnóstico específico; entretanto, em virtude de sua gravidade em alguns casos, não há tempo hábil para a realização de muitos exames e a principal decisão é se o paciente deve ou não ser operado; O diagnóstico correto, às vezes, é feito apenas durante a operação, após abertura e exame detalhado da cavidade peritoneal; A precisão e a rapidez do diagnóstico são imprescindíveis, pois o quadro traduz, em geral, situação grave e muitas vezes com risco de morte, exigindo tratamento imediato, o qual será tanto mais efetivo quanto mais cedo for instituído; Etiologia: Quanto à sua etiopatogenia, o abdome agudo é classificado em cinco grupos: § Inflamatório: Apendicite aguda, colecistite, diverticulite, pancreatite e outras. § Perfurativo: Úlcera perfurada, diverticulite perfurada e outras perfurações intestinais. § Vascular: - Obstrução arterial e venosa de artérias mesentérica superior ou inferior. § Hemorrágico: - Gravidez ectópica rota, traumas hepático, esplênico e intestinal. § Obstrutivo: - Obstrução intestinal secundária a tumores benignos e malignos, volvos, bridas e aderências intestinais. Epidemiologia: Cerca de 20% das cirurgias por quadros de abdome agudo são de pacientes com obstrução intestinal. 2.Obj. Demonstrar as principais classificações do abdome agudo, segundo: 2.1 Classificação anatômica da dor abdominal conforme as doenças: Em geral, os receptores dor (fibras mielínicas A-delta e fibras amielínicas C) estão localizados nos órgãos abdominais e são sensíveis à isquemia, agressão química ou hiperdistensão. Eles se localizam na mucosa, na lâmina muscular das vísceras ocas, no peritônio e dentro do mesentério. Fibras aferentes viscerais que carregam dor seguem a mesma distribuição do SNA: o prolongamento periférico vai resultar no receptor localizados nas vísceras, que passa gânglio do tronco simpático paravertebral, depois pelo nervo esplancnico (que são específicos para os nervos eferentes do SNA do órgão) e depois pelo plexo periarterial até chegar na víscera abdominal). O prolongamento central da fibra aferente de dor entra no corno posterior da medula. Por isso que os segmentos da medula espinal que recebem influxos aferentes dolorosos, provenientes das vísceras torácicas e abdominais são, em geral, os mesmos segmentos que fornecem inervação eferente visceral simpática para um órgão Isso explica porque a dor visceral é frequentemente acompanhada de efeitos autonômicos secundários, como transpiração, agitação, náuseas vômitos, sudorese e palidez. DOR VISCERAL (FIBRA C) A dor visceral é transmitida pelas fibras do tipo C que são encontradas no músculo, periósteo, mesentério, peritônio vísceral e vísceras. Portanto, é uma dor vaga, mal localizada, persistente (dura mais tempo que a somática) sendo descrita como dor em cólica ou queimação. É difusa porque existem poucas terminações nervosas para as vísceras (quando comparado a órgãos altamente sensíveis como a pele) e também porque a inervação é multissegmentar (nao respeita a organização dos dermátomos). A dor visceral frequentemente acompanha resposta do SNA (bradicardia, hipotensão, sudorese, náusea). Como a transmissão das fibras aferentes dos órgãos abdominais ocorre para os dois lados da medula, a dor visceral é geralmente percebida na linha média (ou na região epigástrico, ou na periumbilical ou na hipogástrico). • Dor intestino anterior (estômago, pâncreas, fígado, sistema biliar e duodeno proximal): sentida no epigástrico. • Dor do intestino médio (restante do intestino delgado e 1/3 proximal do intestino grosso): região periumbilical. • Dor intestino posterior (bexiga, 2/3 do intestino grosso e os órgãos genitourinários pélvicos): sentida no hipogástrico Nociceptores viscerais Os nociceptores viscerais respondem a estímulos mecânicos e químicos (térmico só se for nocivo): SINAL MECÂNICO: O principal pelo qual eles respondem é o estiramento da víscera (ou seja, cortar, dilacerar ou esmagar os órgãos não causam dor), por exemplo: - Distensão de uma víscera oca (obstrução intestinal) - Forte contração muscular (dor de cólica renal ou biliar) - Estiramento da serosa ou cápsula de órgãos sólidos (Congestão hepática) - Torção do mesentério ou tração dos vasos do mesentério (tumor retroperitoneal ou pancreático) SINAL QUÍMICO: Como as substancias liberadas do dano mecânico local, inflamação, isquemia, necrose o tecido, lesão térmica nociva ou radiação. Ex: incluem íons H+ e K+, serotonina, histamina, bradicinina, substância P, PRGC, prostaglandinas e leucotrienos → acúmulo dessas substâncias pode alterar o microambiente do tecido lesionado, reduzindo o limiar de dor. DOR SOMÁTICA-PARIETAL (FIBRA A-DELTA) A dor somática do abdome nasce do peritônio parietal, é carregada pelas fibras A-delta que, além de transmitir a sensação de dor ao SNC, ainda ativa os reflexos reguladores locais mediados pelo sistema nervoso entérico e reflexos espinhais mediados pelo SNA A dor somática caracteriza-se por ser bem localizada, súbita, sendo relatada como uma dor cortante e com fraco componente emocional (pois fibra A-delta está na composição das fibras do trato neoespinotalâmico). Por ser bem localizada, é sentida no dermátomo correspondente à área do estimulo. Ela é agravada pelo movimento (tosse) ou vibração. Por conta dessa diferença, ela também é mais intensa e localizada do que a dor visceral abdominal. Por exemplo, na apendicite aguda, a dor periumbilical visceral inicial (menos localizada) é seguida pela dor somática-parietal (localizada no ponto de McBurney) produzida pelo envolvimento inflamatório do peritônio • Estímulo da fibra A-delta: estimuladas por vários agentes irritantes (conteúdo gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) e por substâncias (bradicinina, 5- HT, histamina, prostaglandinas e enzimas proteolíticas). • Caminho do estímulo A partir da geração dos impulsos nervosos nas fibras aferentes A-delta, o estimulo percorre os nervos espinhais somáticos sensoriais que alcançam a medula espinhal nos nervos periféricos que correspondem aos dermátomos cutâneos da pele (T6 a L1) → como as fibras para a medula chegam de cada lado separadamente (e não para ambos os lados, como na visceral), a percepção da dor é lateralizada. As respostas reflexas, como guarda involuntária e rigidez abdominal, são mediadas por arcos reflexos espinhais que envolvendo as vias da dor somática-parietal.DOR REFERIDA: A Dor referida é aquela dor que se origina em um órgão, mas é percebida em uma estrutura somática como a pele ou o músculo subjacente. Ou seja, ela vai ser produzida em um local mas vai ser percebida em outro, distante órgão acometido, porque há uma convergência na medula de um neurônio aferente visceral e um neurônio aferente somático de regiões anatômicas diferentes, causando uma “confusão de sensação". 2.2 A natureza do processo determinante (inflamatório, perfurativa, obstrutivo, vascular e hemorragico) ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO É causada por processo inflamatório e/ou infeccioso em cavidade abdominal, órgãos ou estruturas adjacentes. Costuma cursar com manifestações de peritonite e alterações de ritmo intestinal. Caracteriza-se por dor de início insidioso e intensidade progressiva. Pode ser causado por um processo agudo ou pela agudização de uma doença crônica. Quadro de dor abdominal súbito e inesperado, originado de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade abdominal. Em algumas situações, o quadro apresenta-se com peritonite, sendo mandatório o manejo cirúrgico nesses casos Existem diversas causas de Abdome Agudo Inflamatório (AAI), mas suas principais etiologias são § Apendicite aguda, § Colecistite aguda, § Pancreatite aguda § Diverticulite aguda. Quadro cliníco: Dor Abdominal, Nauseas e Vômitos, Febre e Obstipação (paralisia de alças intestinais). Exames de imagem: a TC de abdomen é o exame mais confiável, com maior sensibilidade e especificidade para a apendicite aguda. O USG também pode ser usado, principalmente pela sua maior disponibilidade, ausência de radiação e possibilidade de ser usado à beira do leito. O diagnóstico de um abdome agudo inflamatório pode ser inferido através de anamnese e exame físico e exames de imagem e laboratório são uteis para estabelecer o diagnóstico etiológico. EXAME ABDOME AGUDO PERFURATIVO O abdome agudo perfurativo é definido como a presença de perfuração da espessura total da parede de uma víscera oca do trato gastrointestinal, com consequente extravasamento do seu conteúdo (gás, secreção gástrica, biliosa, entérica, fecaloide) para a cavidade peritoneal ou retroperitoneal. Então, podemos ter perfuração desde o esôfago até o reto, com as mais diversas causas, como: iatrogênicas, durante a realização de exames (CPRE, colonoscopia, endoscopia); úlceras pépticas (mais comum); perfuração por corpo estranho, devido à obstrução intestinal por neoplasias, consequente a um abdome agudo inflamatório (apendicite, diverticulite) ou isquêmico. O abdome agudo perfurativo é 3a causa mais comum de abdome agudo e vai ser caracterizado por uma dor de inicio súbito e intenso. O tratamento é sempre cirúrgico, sendo o prognostico pior quanto maior o tempo de perfuração Qualquer parte do TGI pode perfurar, por causas variáveis, liberando o conteúdo gástrico ou intestinal na cavidade abdominal. Por isso, vai ser um quadro agudo que segue de sinais de choque séptico e alta mortalidade Causa mais comum do abdome agudo perfurativo é a úlcera péptica perfurada. Principais fatores de risco: § Infecção por Helicobacter pylori; § Uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINE) ou do ácido acetil salicílico (AAS); § Tabagismo; § Ingestão de etanol. § Ao exame físico, percebemos um paciente quieto, imóvel, pois a movimentação piora a dor. § Perfurações do delgado: raras, mas devem alertar para a ingestão de corpo estranho ou doença inflamatória intestinal. O abdome é tenso, “em tábua”, com contração muscular involuntária, descompressão brusca localizada ou difusa, devido à irritação peritoneal. À percussão abdominal, pode ser encontrado o sinal de Jobert, que é a presença de timpanismo ao invés da macicez hepática habitual, devido ao pneumoperitônio. Os ruídos hidroaéreos geralmente estão diminuídos. SINAL DE JOBERT presença de timpanismo ao invés da macicez na loja hepática = Pneumoperitônio. § Inspecção: abdomen praticamente sem movimento na respiração (tudo que o paciente faz dói) § Ausculta: peristaltismo ausente § Palpação: abdomen em tábua, causada pela contratura involuntária generalizada pela peritonite difusa. Percussão: dolorosa em todo o abdômen. O método de imagem de escolha (padrão ouro) na fase aguda é a TC, que vai revelar o espessamento da parede intestinal, presença de abscesso ou liquido livre. ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO Síndrome caracterizada por sinais e sintomas de obstrução em TGI, como náuseas, vômitos, distensão abdominal, parada de eliminação de flatos e fezes. Tem caráter evolutivo e a dor costuma ser em cólica, geralmente periumbilical. Pode apresentar causa mecânica, por obliteração parcial ou total do lúmen, ou funcional. A obstrução intestinal é qualquer afecção que dificulte ou impossibilite o transito TGI, constituindo o 2o tipo mais frequente de abdome agudo. A obstrução do delgado é mais comum que a do grosso, o local de obstrução (alto ou baixo) vai diferenciar a clínica dos pacientes. Etiologia As etiologias mais comuns são: corpo estranho, bridas (aderências pós-operatórias), hérnias, neoplasias, bolo de áscaris (parasitose), megacólon chagásico (pela formação de fecaloma, é alta a prevalência de Chagas no Brasil) Classificação • Quanto ao modo de instalação: pode ser aguda (sintomas mais intensos), crônica (sintomas mais discretos) ou crônica que agudizou • Quanto a obstrução intestinal: ela pode ser mecânica (sem comprometimento vascular ou com sofrimento de alça) e neurogênica (tem interferência do funcionamento do intestino, como no íleo paralítico, não há obstrução mecânica). Quanto ao grau: • Obstrução total: obstrução total do intestino; os sintomas são mais evidentes, com importante distensão abdominal, vômitos frequentes e parada de eliminação de fezes e flatos. • Obstrução parcial: também chamada de suboclusão intestinal, em que os sintomas são mais frustros, ainda pode haver eliminação de fezes ou flatos, e a distensão abdominal é menos pronunciada. Comum nos quadros de obstrução por bridas. Quanto à gravidade: • Simples: não há isquemia intestinal. • Estrangulada: há um sofrimento intestinal. Mais comum ocorrer nas obstruções em alça fechada. É um fator que confere pior prognóstico no caso de um abdome agudo obstrutivo. Quanto à localização: • Obstrução alta: ocorre no intestino delgado, ou seja, proximal à válvula ileocecal. • Obstrução baixa: ocorre no intestino grosso. Nas obstruções intestinais baixas, é importante definir se há ou não patência da válvula ileocecal. Quanto mais ALTA a obstrução: mais precoces, frequentes e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. Quanto mais BAIXA a obstrução, maior distensão abdominal (“em moldura”), mais precoce a parada de eliminação de flatos e fezes e os vômitos, que são tardios, tem aspecto fecaloide, pelo supercrescimento bacteriano no segmento obstruído § Válvula ileocecal competente (mais comum): a válvula ileocecal impede que haja um retorno do conteúdo do intestino grosso obstruído para o intestino delgado. Dessa forma, há uma obstrução em alça fechada, com maior risco de isquemia e perfuração do cólon proximal (geralmente o ceco). § Válvula ileocecal incompetente: a válvula ileocecal não impede que o conteúdo colônico obstruído retorne em direção ao intestino delgado. Com isso, há um menor risco de perfuração do cólon proximal, e o paciente apresenta maior distensão abdominal e pode apresentar vômitos fecaloides. Obstrução em alça fechada Significa que há obstruçãointestinal completa, na qual dois pontos do intestino encontram-se fechados e ocluídos simultaneamente, com incapacidade de drenagem anterior, por meio dos vômitos, ou posterior, por meio da evacuação e eliminação de gazes. A causa mais comum de obstrução intestinal alta são as aderências intestinais ou bridas, e o principal fator de risco são cirurgias abdominais prévias, principalmente as que envolvem o abdome inferior. A segunda causa são as neoplasias extrínsecas (implantes peritoneais de tumores, como estômago, ovário, pâncreas...), e a terceira, as hérnias. Quando nós falamos de obstrução de intestino delgado, as causas podem ser divididas em três categorias principais: • Causas decorrentes de compressão extrínseca: aderências, hérnias, abscessos, neoplasias extraintestinais, volvo, síndrome da artéria mesentérica superior; • Causas intrínsecas à parede intestinal: tumores primários, doenças inflamatórias, intussuscepção; e • Causas intraluminais: cálculos, bezoares, parasitas, corpos estranhos. • Quadro clínico Dor abdominal do tipo cólica: mais intensa nas obstruções do intestino médio e distal. Nos pacientes com obstrução alta, pode ser dita como um desconforto abdominal (nem dói muito), alguns pacientes não sentem nem dor, mas trazem uma QP de perda da eliminação de flatos e fezes. Distensão e vômitos: depende da altura da obstrução. Mas os vômitos surgem depois das crises de dor, provocando desidratação nos pacientes HP: história de parada de eliminação de flatos e fezes Exame físico: Há timpanismo à percussão e os ruídos estão aumentados, com timbre metálico (peristaltismo de luta). À inspeção: distensão abdominal e em indivíduos magros dá pra ver os movimentos peristálticos. RHA de timbre metálico: indicam obstaculo mecânico ao transito intestinal. Palpação: massas compressivas na FIE pode estar presente em quadros de oclusao intestinal, mas apenas quando a origem é um fecaloma no megacólon. Sinais de choque hipovolêmico ou séptico: encontrados nas fases tardias. Exames de imagem: o método de imagem de escolha inicialmente é o raio-X simples de abdome em 3 incidências, que revela níveis hidroaéreos, edema e distensão de alças, além de possibilitar a localização do nível e grau de obstrução (inclusive identificação de corpos estranhos). TC de abdome: pode-se solicitar ela para distinguir obstruções simples das em alça fechada (hérnia, volvo), que tendem a estrangular mais facilmente (tratamento cirúrgico deve ser precoce). OBSTRUÇÃO DO INTESTINO GROSSO: O comportamento da obstrução do IG é determinado pela competência da válvula ileocecal (VIC) → em cerca de 20-30% dos casos, a VIC torna-se incompetente, causando refluxo do conteúdo para o íleo. ABDOME AGUDO VASCULAR: Ocorre por deficiência na irrigação mesentérica; O abdome agudo vascular refere-se à isquemia intestinal, que pode acometer tanto o intestino delgado quanto o intestino grosso, causada por qualquer processo que diminua o fluxo sanguíneo intestinal, como oclusão arterial, oclusão venosa ou vasoespasmo arterial. É uma doença grave caracterizada por dor abdominal intensa de origem vascular resultante de uma redução súbita do fluxo sanguíneo intestinal → necessita de intervenção médica imediata por ser potencialmente fatal. Ás vezes, é um quadro arrastado com intensidade diminuída pela formação de uma circulação colateral que vai suprindo a região. Causas de isquemia: embolia e trombose mesentérica, redução do débito cardíaco, gastroenterites, doença de buerguer (tromboageíte obliterante), torção ovariana etc. TIPOS DE ISQUEMIA: A isquemia pode ser classificada em 3 tipos: isquemia colônia (do intestino grosso), isquemia mesentérica (do intestino delgado) aguda e isquemia mesentérica crônica. Quanto à localização Isquemia mesentérica: acomete o intestino delgado Isquemia colônica: acomete o intestino grosso. EMBOLIA ARTERIAL MESENTÉRICA A embolia arterial é a principal causa de isquemia mesentérica aguda (50% dos casos). A oclusão da artéria mesentérica superior ou de seus ramos, na ausência de estenose pré- existente, causa uma maior redução do fluxo sanguíneo em comparação com outras causas de isquemia intestinal. Isso se deve à falta de circulação colateral. A causa mais comum é a embolia arterial da artéria mesentérica superior ou de seus ramos que acomete, principalmente, pacientes com fatores de risco como IAM recente e fibrilação atrial; Trombose arterial mesentérica Isquemia intestinal por trombose arterial é a segunda causa mais comum de isquemia mesentérica aguda (15% a 25% dos casos). A trombose das artérias mesentéricas é frequentemente sobreposta a uma estenose pré-existente grave devido à placa aterosclerótica. Dessa forma, é comum o paciente já apresentar sintomas prévios, como dor abdominal após a alimentação (isquemia mesentérica crônica). A obstrução por trombose geralmente ocorre na origem do vaso da artéria mesentérica superior ou do tronco celíaco. Forma-se o trombo sobre a artéria gravemente lesada pela doença aterosclerótica obstrutiva. Quadro clínico: Pode apresentar sintomas variáveis como náuseas e vômitos, diarreia e constipação. Clinicamente, manifesta-se com dor abdominal difusa de forte intensidade, com exame físico desproporcional à intensidade da dor, ou seja, geralmente o abdome é flácido e sem sinais de peritonite; Uma das características mais marcantes é a desproporção entre a queixa do paciente e o exame físico. Isso porque a dor é de forte intensidade, mas no exame físico o abdome é flácido, não relata dor à palpação e não mostra sinais de peritonite. A explicação para isso é porque o que causa a dor intensa difusa é a isquemia, não a peritonite. • Exame físico: inicialmente o abdome pode estar normal, com dor leve a moderada, peristalse normal ou aumentada. Com a progressão da isquêmica, surge a distensão abdominal e o timpanismo aumentado. Sinais de choque e peritonite generalizada são achados tardios que indicam prognóstico ruim. O diagnóstico é feito com a angiotomografia ou arteriografia (padrão-ouro); O tratamento dependerá da causa e do tempo de evolução, sendo que a presença de sinais de isquemia avançada (peritonite, pneumatose intestinal e gás no sistema portal) indica laparotomia de urgência. Achados laboratoriais: são inespecíficos (porque não existe marcador de isquemia ou necrose intestinal), porém, presença de hemoconcentração, leucocitose e acidose metabólica, elevação do lactato associados à clínica de distensão, defesa e ausência de peristaltismo, sugerem doença avançada. Exames de imagem Os exames de imagem devem ser solicitados são para pacientes estáveis. O de primeira escolha deve ser a TC abdominal com contraste, porque identifica aterosclerose e exclui outras causas de dor abdominal aguda. O diagnóstico é feito com a angiotomografia ou arteriografia (padrão-ouro); O tratamento dependerá da causa e do tempo de evolução, sendo que a presença de sinais de isquemia avançada (peritonite, pneumatose intestinal e gás no sistema portal) indica laparotomia de urgência. Fatores de risco: Pacientes mais velhos, com histórico de tabagismo, diabetes, hiperlipidemia, coronariopatia (angina), insuficiência arterial periférica (claudicação intermitente, histórico de amputação de membro), ou seja, dados que sugerem aterosclerose sistêmica. ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO: Como exemplos, pode-se citar o aneurisma de aorta roto, gravidez ectópica rota e a ruptura esplênica; Além da dor abdominal, é comum apresentar sinais de choque hipovolêmico, como taquicardia, hipotensão e taquipneia; Na percussão, podemos encontrar macicez móvel (sangue livre na cavidade). Defini-se como AAH aquelesassociados ao quadro clínico choque hemorrágico por sangramentos intracavitários. As principais causas são: Gravidez ectópica rota Rotura de aneurisma da aorta abdominal Quadro clínico Além da dor súbita e intensa, ocorre rápido comprometimento hemodinâmico com sinais de choque hipovolêmico = taquicardia, hipotensão, palidez, sudorese, sede, inquietação. Apesar da dor forte, não se encontra contratura muscular do hemoperitônio (sangramento não é tão irritante para a serosa peritoneal), por isso o abdome pode estar flácido na hora do Exame Físico. Como há sangramento, dependendo do volume e velocidade de instalação do quadro, pode haver prejuízo neurológico e a intervenção deve ser rápida. • Sinais do exame: pode haver sinais de hemorragia retroperitoneal: Cullen e o de Grey Turner. O sinal de Kehr - dor aguda no ombro em razão da ruptura de baço - pode estar presente no exame físico. Obs.: na gravidez ectópica rota, existe um sinal clássico ao toque vaginal, que é a dor ao tocar o fundo de saco posterior, conhecido como “grito de Douglas” ou sinal de Proust. Exames de imagem Nos pacientes estáveis hemodinamicamente, os exames de imagem podem colaborar para confirmação diagnóstica. A USG é boa para as 2 causas principais de AAH. Na suspeita de aneurisma da aorta abdominal, a TC pode oferecer mais dados. ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL Acomete mais pacientes homens e idosos, sendo que a causa principal é aterosclerose, mas trauma infecção (sifilis) e arterites são causas possíveis. O risco de ruptura aumenta com o tamanho do aneurisma (>5cm) e o local mais comum é no retroperitônio, o hematoma que se forma lá contém a hemorragia por algumas horas Fatores de risco: > 65 anos, HAS, tabagismo, DPOC, aterosclerose e HF da doença. Clínica: dor abdominal difusa, intensa, associada à hipotensão + massa abdominal pulsátil +tontura e sudorese Diagnóstico: confirmado por USG, mas na suspeita clinica não é necessário fazer exames, indicando-se a laparotomia imediata. 2.3 Causas abdominais e extra- abdominais. Definir se o abdome agudo é cirúrgico ou não e, principalmente, sua gravidade. 3. Obj. Debater o quadro clinico, diagnóstico e principais exames complementares solicitados (de acordo com o último Consenso do Congresso Brasileiro de Cirurgiões). Todo sintoma referido pelo paciente na anamnese deve ser valorizado, devendo o médico caracterizar dor, antecedentes de náuseas e vômitos, presença de evacuação ou não e parada de eliminação de gases e fezes; Anamnese As características da dor, tais como: localização, irradiação, duração, intensidade, os fatores que melhoram ou pioram a dor; bem como os sintomas associados e a história patológica pregressa, são importantes e ajudam-nos a fazer o diagnóstico etiológico da dor abdominal. Exame físico no abdome agudo Possui 4 objetivos principais: • Exame físico abdominal: inspeção, ausculta, percussão e palpação. Inspecção • Estática: Analisar o tipo de abdome (plano, globoso, em ventre de batráquio, pendular, em avental ou escavado); Investigar presença de abaulamentos e/ou retrações, circulações colaterais, cicatrizes cirúrgicas e peristaltismo visível; Buscar lesões elementares da pele. • Dinâmica: Pode-se pesquisar a presença de massas e hérnias com a manobra de valsava e Smith Bates. Ausculta Iniciar no QIE em sentido anti-horário e pesquisar a presença de ruídos hidroaéreos fisiológicos, ruídos mais intensos (diarreia ou obstrução intestinal), borborigmos (RHA audível sem estetoscópio) ou silêncio abdominal (íleo paralitico). Percussão Avalia a distribuição dos gases em todos os quadrantes, além da presença de massas sólidas. O abdômen é predominantemente timpânico, com presença de macicez no fígado (abaixo do rebordo costal direito). Hepatimetria: normal = limite superior abaixo do 5o a 6o EICD e limite inferior no máximo 2 dedos abaixo do rebordo costal direito Palpação superficial Em condições normais, a resistência do abdômen é de músculo descontraído, mas se ele estiver contraído, precisa saber se a contração é voluntaria ou involuntária (reflexo). Na condição involuntária, a parede abdominal vai continuar contraída mesmo se o paciente estiver distraído, porque acontece um reflexo eviscero- motor estimulado pelo peritônio inflamado (peritonite). Palpação profunda A palpação profunda visa procurar órgãos ou massas palpáveis. Para palpar o fígado - Lemos Torres e Mathieu. Para palpar o baço - Lemos torres e posição de Schuster. Quadro Clínico: Todo sintoma referido pelo paciente na anamnese deve ser valorizado, devendo o médico caracterizar dor, antecedentes de náuseas e vômitos, presença de evacuação ou não e parada de eliminação de gases e fezes; A dor aguda referida, decorrente do quadro de abdome agudo, em geral anuncia o início da inflamação visceral; Na maioria das vezes, ele pode não permitir localizar a víscera inflamada durante o exame físico; Na evolução do quadro, a inflamação visceral compromete o peritônio parietal, que é ricamente inervado pelos nervos da parede abdominal adjacente e, por esse motivo, está presente na defesa e contratura muscular (defesa muscular involuntária); Além disso, a inflamação do peritônio faz que o paciente apresente dor imediatamente, a qualquer estímulo de manipulação, palpação e descompressão do abdome; É por esses motivos que, a essa altura da evolução da doença, a dor à palpação abdominal localiza com eficiência a origem da irritação peritoneal e a provável víscera envolvida; As regiões anteriores e lateral do abdome são mais sensíveis à dor, ao passo que a parede posterior e a região pélvica são menos, o que se explica pela diferença de inervação; Pacientes que apresentam inflamação próximo e junto ao diafragma referem dores no ombro ou no pescoço, também em consequência da irritação das terminações do nervo frênico. Exames Complementares: Laboratorial: Contagem global e específica dos leucócitos fornece informações sobre a natureza do processo que está determinando o quadro de abdome agudo; O aumento significativo do número de leucócitos ocorre, principalmente, diante de infecção bacteriana grave ou necrose tecidual; Por outro lado, a presença de leucopenia pode significar infecção grave e de mau prognóstico; O exame da urina (tipo I) é muito útil para a caracterização de processos urológicos e renais, determinantes de dores abdominais agudas, por vezes excluindo outros quadros infecciosos abdominais e vice-versa; A leucocitúria, particularmente sob forma de aglomerados de leucócitos, indica infecção no trato urinário, podendo também estar presente em processos infecciosos de vísceras abdominais que mantêm relações anatômicas com o ureter – por exemplo, a apendicite aguda; Imagem: Radiografia simples e constratadaRadiografia simples e contrastada O estudo radiológico deve constar de 1 radiografia de tórax em ortostatismo + 2 do abdome (ortostatismo e decúbito dorsal). As principais alterações encontradas são: Pneumoperitônio, elevação da cúpula frênica, pneumonia de base, distensão de alças e presença de níveis hidroaéreos, aerobilia, opacidade, coleções abscessos, presença de corpos estranhos, cálculos urinários ou calcificações pancreáticas. Ultrassonografia Não é um bom exame para visualização de ar, por isso, nao é útil em um abdome distendido. É o exame de escolha no diagnóstico de colecistite aguda, além de ter grande valor na avaliação da dor pélvica nas mulheres (apendicite x afecção ginecológica). Também é útil para avaliar liquido intraperitoneal livre (abscessos viscerais), cálculos das vias urinarias, quadros de diverticuliteaguda do sigmoide. O FAST é importante para avaliar a presença de liquido na cavidade abdominal no trauma. Tomografia Computadorizada (TC) - Padrão Ouro. Seu surgimento teve um impacto significativo no diagnóstico do abdome agudo → chances de acerto próximo de 95% e expressiva redução da laparatomia exploradora. Em muitas circunstâncias, como a apendicite, a TC pode quase eliminar a incerteza diagnóstica. • Indicação: diagnóstico e estadiamento da pancreatite aguda e da diverticulite. Apresenta elevada eficácia no DG diferencial de apendicite aguda (especialmente em pacientes obesos e nos quadros inconclusivos). A tomografia, além de ser diagnóstica, é extremamente importante para que se defina a conduta terapêutica, como nos casos de apendicite complicada com abscesso, em que é possível fazer um tratamento inicial conservador, com punção da coleção e programação da apendicectomia de intervalo e na diverticulite aguda, com a classificação de Hinchey, usada para auxiliar na escolha do tratamento; Objetivo 4: Investigar e propor os principais tratamentos da Síndrome do Abdome Agudo. O tratamento cirúrgico do abdome agudo requer ampla exposição da cavidade peritoneal na maioria dos casos, permitindo ao cirurgião avaliar e ter acesso a todas as vísceras e espaços peritoneais; O tratamento do abdome agudo inflamatório visa ao controle da infecção e da fonte de contaminação, com exérese do órgão ou da víscera comprometida, drenagens amplas e suturas; A indicação de antibioterapia de amplo espectro deve ser ponderada caso a caso, dependendo da situação clínica do paciente, o que interferirá em seu prognóstico e evolução; A morbidade e mortalidade não são desprezíveis se o diagnóstico e o tratamento clínico ou cirúrgico não forem instituídos em tempo hábil, de modo que, nos dias atuais, ainda ocorrem óbitos decorrentes de apendicite aguda, colecistite, colangite, pancreatite, diverticulite e abscessos intra- abdominais; Obs:. Paciente com dor abdominal aguda, sinais de peritonite difusa e instabilidade hemodinâmica: Laparotomia Exploradora; Independentemente da causa do abdome agudo; O termo “laparotomia” significa a abertura cirúrgica da cavidade abdominal, com a finalidade diagnóstica e/ou terapêutica; A laparotomia mediana (incisão vertical que segue a linha alba) é a que oferece rápido e amplo acesso à cavidade abdominal; Uma vez diagnosticado um abdome agudo cirúrgico, devemos preparar o paciente para a cirurgia, e isso deve ser feito de maneira rápida e contínua, ou seja, manter no intra e pós-operatório; Preparação: TRATAMENTO AB INFLAMATÓRIO: É convenção deixar o paciente em dieta zero (pela possibilidade de cirurgia em curto prazo) e enquanto isso, oferecemos hidratação e aporte calórico através de soro (soro fisiológico + glicosado). A antibioticoterapia é indicada na maioria dos casos, só não deve ser uma escolha de rotina nos casos de pancreatite (a maioria das vezes não é causada por infecção) e urolitíase (apenas se houver infecção associada). Além disso, analgésicos e anti-eméticos devem ser oferecidos para tratar os sintomas. Outras etiologias de abdome agudo inflamatório que demandam tratamento cirúrgico imediato são apendicite e colecistite. TRATAMENTO OBSTRUTIVO: Tratamento inicial: é clinico, com descompressão gástrica e do intestino proximal através de jejum, sonda nasogástrica, hidratação venosa vigorosa e antibioticoterapia de amplo espectro. Nos casos de obstrução parcial: ocorre melhora de 75% dos casos em 24h com o tratamento clinico → indica-se cirurgia se não ocorrer melhora após 48h. Nos casos de obstrução completa: o tratamento clínico prepara o paciente para a cirurgia, que deve ser imediata, especialmente se há sinais de estrangulamento de alças Tratamento Cirúrgico: A cirurgia é indicada se existir uma causa subjacente que necessita de tratamento, a exemplo de tumor ou hérnias, mediante falha no tratamento conservador ou quando houver sinais de irritação peritoneal. O procedimento de escolha depende da causa da obstrução, da existência de comprometimento vascular e da condição clínica do paciente. Pacientes com obstruções do intestino delgado sem história sugestiva de aderências devem ser submetidos à laparotomia exploradora precocemente. Tratamento Conservador TRATAMENTO AB PERFURATIVO: O tratamento é cirúrgico, mas a conduta dentro da cirurgia depende da etiologia do quadro. As úlceras perfuradas, por exemplo, na maioria das vezes podem ser suturadas, associado ou não à proteção com retalho do omento maior. TRATAMENTO AB ISQUEMICO: O manejo inicial inclui monitorização cardíaca e dos parâmetros ventilatórios, acesso venoso com reposição volêmica individualizada, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia e antibiótico venoso de amplo espectro. O uso de antibiótico venoso protege contra translocação bacteriana e reduz inflamação intestinal por reduzir a flora intestinal. Os anticoagulantes são utilizados nos casos de oclusão arterial ou venosa e em alguns casos de isquemia mesentérica não oclusiva para evitar a formação de trombos e sua propagação, com exceção de casos de sangramento ativo. A papaverina é um vasodilatador e pode ser utilizada nos casos de vasoconstricção, colocado diretamente na AMS. É importante fazer a suspensão de drogas vasoconstrictoras de uso prévio. O tratamento definitivo é cirúrgico e pode ser necessário ressecção das alças isquemiadas. A exploração cirúrgica está indicada nos casos de: TRATAMENTO AB AGUDO VASCULAR: Tratamento clínico O manejo inicial consiste na compensação clínica. O paciente é monitorado quanto a FC e FR, é feito um acesso venoso para reposição volêmica e correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia e antibioticoterapia de amplo espectro. Alguna anticoagulantes são utilizados nos casos de oclusão e em alguns casos de isquemia mesentérica não-oclusiva (evitar formação de trombos), exceto se tiver sangramento ativo. Pavaverina: vasodilatador que deve ser usado em todos os casos de isquemia mesentérica ajuda Tratamento definitivo É feito por laparotomia, visando restabelecer o fluxo sanguíneo, avaliar a viabilidade do intestino e ressecar segmentos intestinais inviáveis → pode ser necessária uma segunda reabordagem (“second look”) em 24-48h para reavaliar a persistência da isquemia. TRATAMENTO AB HEMORRAGICO O tratamento visa tratar o choque e controlar a hemorragia imediatamente, por meio de hidratação endovenosa com cristalóide, transfusão sanguínea (se necessária) e quase sempre cirurgias, como laparotomias exploradoras, para interromper o sangramento.