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Unit I

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UNIDADE I
1 Raízes Filosóficas da Psicologia
Você sabia que, para compreendermos do que é composto o solo da psicologia, precisaremos dar alguns passos para trás em busca da história da construção científica? Esse percurso iniciará muito antes do que chamamos de ciência propriamente dita, como concebida pela academia (campos de formação de ensino superior e pós-graduações) na atualidade.
Essa história é extensa, e por ser longa, precisaremos realizar alguns recortes. Infelizmente, não é possível apresentar todos os aspectos, autores, filósofos, pensamentos e ideias que ajudaram a compor a narrativa histórica da psicologia. As escolhas dos pensamentos que apresentaremos sempre está circunscrita a partir do olhar daquele que conta a história. Basta você pensar que, ao contar uma história, você sempre escolherá o que enfatizará.
Dito isso, fica assinalado que toda e qualquer construção escrita sobre alguma área da ciência será sempre limitada, porque haverá recortes. Portanto, todos/as aqueles que se dedicam ao estudo de alguma área do conhecimento, como você, estudante de psicologia, necessitarão ler, ouvir e estudar diversos autores contando a “mesma história”. Apesar de ser a “mesma história”, serão dadas ênfases distintas, a depender do horizonte científico daquele que escreve.
Comentadas as considerações iniciais sobre o limite da escrita, agora chegou a hora de você aprender sobre as bases filosóficas da psicologia. Você conhecerá alguns dos pré-socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Apresentarei também um pouco da história da idade média e depois entraremos na história da idade moderna, o nascimento da ciência e o modo como a filosofia influencia as nossas concepções sobre corpo e mente, bem como inato e adquirido. Após essa história inicial, pensaremos juntos sobre a natureza e os limites da psicologia.
É importante ressaltar que os filósofos não estavam pensando na constituição da psicologia, eles estavam filosofando. Mas hoje percebemos o quanto as ideias filosóficas, de algum modo, atravessam a psicologia que nascerá, enquanto ciência, no século XIX.
1.1 Pré-Socráticos e Sócrates
Os primeiros filósofos da nossa cultura ocidental, que iniciaram o processo de sistematização do conhecimento, surgiram por volta dos séculos VII-VI a.C. Esses filósofos, chamados de pré-socráticos (porque vieram antes de Sócrates), buscavam compreender a origem do cosmo: constituição, princípios e leis. Esse período ficou conhecido como cosmológico. Cada pré-socrático, a partir dos seus estudos e observações, indicava a essência, o princípio, a origem cosmológica da natureza. Ou seja, eles buscavam explicar a arché (essência, origem) da physis (natureza) (CASERTANO, 2011).
Tales de Mileto
Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60 a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser quanto as coisas são dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais famosa é que “tudo flui, como as águas de um rio que nunca são as mesmas” (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava que o fogo seria a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e eterna regeria as mudanças do ser (CASERTANO, 2011).
Parmênides
Parmênides (520-440 a.C.), ao contrário dos filósofos daquela época, não acreditava que a arché fosse algum elemento da natureza. Para ele, os elementos naturais são mutáveis, e a essência não poderia ser mutável. Logo, ele assegura que o Ser seria o princípio, a essência. O Ser aqui não é visível na aparência. Porque tudo que aparece é passível de mudanças. O Ser faz parte de um universo que não pressupõe mutabilidade (CASERTANO, 2011).
Heráclito
Em contraposição a esse pensamento de imutabilidade, Heráclito (530/20 -470/60 a.C.) acreditava e defendia a mutabilidade da realidade. Para ele, tanto o ser quanto as coisas são dinâmicas e passíveis de transformação. Sua frase mais famosa é que “tudo flui, como as águas de um rio que nunca são as mesmas” (CASERTANO, 2011, p. 100). Por esse motivo, ele indicava que o fogo seria a arché (princípio) da physis (natureza/cosmo), pois a chama viva e eterna regeria as mudanças do ser (CASERTANO, 2011).
Houve muitos outros pré-socráticos, vinte são mencionados por Osborne (2012). Contudo, optamos por apresentar três do mais mencionados. Apresentamo-los para que fosse possível você compreender como as perguntas filosóficas sobre a natureza e o ser já estavam postas 600 anos antes da era cristã.
Por falar em questões do Ser, Sócrates foi aquele que abandou as questões sobre a natureza e se concentrou eminentemente nos problemas do ser humano. Suas questões centrais eram: o que é o bem, a virtude e a justiça. Sócrates, filho de mãe parteira, desenvolveu um método que ficou conhecido como maiêutico (arte de trazer à luz, partejar). Esse método foi utilizado por Sócrates nos encontros que ele realizava nas praças públicas. Os diálogos críticos realizados por ele poderiam ser divididos em dois momentos: refutação e ironia (etapa em que o filósofo enfatizava as contradições na resposta dada pelos interlocutores às suas perguntas); a maiêutica era a etapa em que Sócrates construía questões para que os interlocutores pudessem reconstruir as ideias anteriormente refutadas (COTRIM; FERNANDES, 2016).
1.2 Platão e Aristóteles
Enquanto os pré-socráticos conflitavam entre si sobre a mutabilidade ou imutabilidade da essência da natureza, Platão indicou uma solução que comporta as duas dimensões. Para Platão, há algo que não muda, que permanece. Esse algo estaria no mundo inteligível, ou seja, plano das ideias. As ideias seriam fixas, imutáveis e, portanto, a essência de tudo o que existe. Portanto, a verdade, por ser imutável e fixa, só poderia estar no mundo inteligível, na transcendência. Partindo desse pressuposto, a verdade não se manifesta na dimensão visível, aparente (COTRIM; FERNANDES, 2016).
O mundo sensível, por sua vez, seria mutável. É uma cópia imperfeita do que existe no mundo inteligível e foi criado pelo demiurgo (espécie de deus “artesão”). O mundo sensível é cheio de impressões e essa reprodução não comporta a essência da verdade, apenas espelha uma parte do ser e não o que ele é de verdade (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Mas, então, como nós humanos, vivendo no mundo sensível, conheceríamos as verdades eternas e imutáveis? Para Platão, para se chegar ao conhecimento da verdade, é necessário realizar o exercício da razão. Nesse sentido, só se atinge um conhecimento verdadeiro quando se submete as impressões ao raciocínio. Apenas os seres humanos têm a capacidade de realizar o exercício da razão, pois, para esse filósofo, apesar de homens e animais possuírem impressões sobre o mundo sensível, só o homem poderá formar conhecimento racional, transcendendo as impressões (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Além desse pensamento dual sobre o mundo, Platão também compreende o ser humano numa dualidade, pois é composto por alma e corpo. A alma/mente é o bem mais precioso do ser humano, enquanto o corpo é inferior. Essa dualidade atravessará muito fortemente as compreensões da medicina que delineará os modos de lidar com o corpo e com a mente, como veremos mais adiante (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Enquanto Platão acreditava que as impressões do mundo sensível geravam distorções e não eram verdadeiras, Aristóteles defendia que o conhecimento advém da observação da realidade. Esse conhecimento que nasce da observação do real, do sensível, daquilo que é mutável, ficou conhecido como método indutivo. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 228), para Aristóteles:
A finalidade da ciência deve ser a compreensão do universal, visando estabelecer definições essenciais que possam ser utilizadas de modo generalizado. Desse modo, a indução (operação mental que vai do particular ao geral) representa, para Aristóteles, o processo intelectual básico de aquisição de conhecimento. É por meio do método indutivo que o ser humano pode atingir conclusões científicas, conceituais, de âmbito universal.
Partindo desse pressuposto,Aristóteles, contrapondo-se a Platão, defende também que o mundo inteligível e sensível andariam juntos e constituiriam a realidade, pois as coisas são o que são. Sendo o que são, para conhecê-las, seria necessário partir do dado empírico, perceptível aos sentidos (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Esse filósofo, além de superar a cisão entre mundo sensível e inteligível, ultrapassou também o dualismo entre corpo e mente. Aristóteles defende que corpo e mente são indivisíveis. O filósofo também foi o primeiro a discutir questões muito peculiares para a psicologia, como: “mente, sentidos, sensação, memória, sono e insônia, geriatria, brevidade da vida, juventude e velhice, vida, morte e respiração” (FREIRE, 2008, p. 38).
1.3 Idade Média
Talvez você esteja se perguntando o motivo de dedicarmos um espaço para falar sobre a idade média. Muitas vezes escutamos alguns estudiosos descartando a história desse tempo, pois ele está muito atrelado a Igreja Católica como instituição social. O período é tido como séculos escuros, das trevas, visto que o pensamento cristão exercia uma grande influência que norteava as concepções dessa época. A idade média teve início com a ascensão do cristianismo no ocidente. O Deus cristão (teocentrismo) passou a ocupar o centro em todas as esferas: arte, literatura, filosofia, educação, arquitetura e outros (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Nesse período, defendia-se que:
Toda investigação filosófica ou científica não poderia, de algum modo, contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Em outras palavras, os filósofos não precisavam mais se dedicar à busca da verdade, pois ela já teria sido revelada por Deus aos seres humanos. Restava-lhes, apenas, demostrar racionalmente as verdades da fé (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 241).
A filosofia medieval pode ser dividida em: padres apostólicos, apologistas, patrística e escolástica. A patrística tem como principal representante Santo Agostinho, que foi influenciado por algumas ideias da filosofia platônica. A escolástica é representada por São Tomas de Aquino, que foi influenciado por Aristóteles (COTRIM; FERNANDES, 2016).
As construções filosóficas desse período tinham como finalidade defender e estruturar as verdades da fé católica. Não houve contributos para o pensamento psicológico. Contudo, só conhecendo esse período conseguimos compreender o renascimento, o iluminismo e o fervor que construiu a idade moderna e constituiu a nova ciência e o racionalismo (COTRIM; FERNANDES, 2016).
1.4 Idade Moderna: renascimento e advento da nova ciência
Após dez séculos de influência do pensamento cristão em todas as esferas humanas, algumas alterações começaram a acontecer nesses âmbitos: nos setores sociais, econômico, político, artístico. O movimento que contribuiu para as alterações foi chamado de renascimento. Essa etapa propiciou o desenvolvimento da mentalidade racionalista e o retorno do antropocentrismo, onde o homem volta a ser o centro e não Deus (teocentrismo), como era na Idade média.
Contudo, a Igreja não iria abrir mão tão facilmente de sua influência e algumas obras de arte e cultura ainda reproduziam resquícios religiosos. Além disso, nesse período a inquisição da Instituição Católica perseguiu aqueles que se contrapunham ao pensamento defendido por ela. Uma das mudanças essenciais foi o heliocentrismo que, diferente do catolicismo, defendia que o sol e não a terra era o centro do universo. Cotrim e Fernandes (2016, p. 256) indicam que:
Ao propiciar a expansão de uma mentalidade racionalista, o renascimento criou as bases conceituais e de valores que favoreceriam o desenvolvimento da ciência no século XVII. revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo, o indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou mais tempo à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame do mundo.
Foram as bases conceituais, fundadas nessa virada histórica, que começaram a oferecer fundamentos para a criação e fundamentação das ciências que aconteceriam posteriormente. Nessa época, a psicologia era essencialmente filosófica, mas essas fundamentações também iriam oferecer as bases necessárias para que a psicologia fosse alçada ao status de ciência nos séculos posteriores (FREIRE, 2008).
1.5 Constituição da ciência moderna
As rupturas vividas entre a idade média e moderna geraram uma certa desorientação. Fazia-se necessário criar bases sólidas para o conhecimento e novos conceitos de verdade, visto que as bases fundadas no pensamento cristão tinham sido postas em xeque. Segundo Cotrim e Fernandes (2016, p. 259),
A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os pensadores modernos buscassem uma base segura, algo que garantisse a verdade de um raciocínio. Assim, um dos principais problemas da filosofia nesse período relacionou-se com o processo de entendimento humano e, mais especificamente, com a seguinte questão: Que garantia posso ter de que um pensamento é verdadeiro? Procurava-se, portanto, um método.
Iniciou-se uma busca frenética pelo método para se chegar à verdade. Na busca pelo método do conhecimento, novas concepções de homem e de mundo foram sendo construídas pelos pensadores da época. A filosofia, debruçada no compromisso do conhecimento, adota novas linguagens em que o humano passa a ser valorizado como um ser racional. O racionalismo teve o seu triunfo, e a base científica passou a ser: observação, experimentação e formulação de hipótese. É importante destacar que cada filósofo construiu distintamente os seus métodos e concepções e deu ênfases distintas também.
Francis Bacon foi um empirista que, contrário ao racionalismo da época, enfatizou o papel das experiências sensíveis no processo de conhecimento. Para ele, a razão só teria sentido se aplicada à experiência, e não o contrário. Na sua obra Novum Organum, mostrou a importância de um método de experimentação que reduzisse os equívocos tanto do intelecto quanto da pura experiência, aliando o melhor de ambos para a aquisição dos conhecimentos científicos. Bacon acreditava que o avanço dos conhecimentos e das técnicas, as mudanças sociais e políticas e o desenvolvimento das ciências e da filosofia propiciariam uma grande reforma do conhecimento humano (COTRIM; FERNANDES, 2016; FREIRE, 2008).
No que concerne à ciência, ele indicou que esta deveria valorizar a pesquisa experimental, e defendeu o método indutivo. No seu método, Bacon indica que são necessárias as seguintes etapas:
	1
	Organizar e controlar os dados recebidos da experiência sensível graças a experimentos adequados de observação e experimentação.
	2
	Organizar e controlar os resultados observacionais e experimentais para chegar a conhecimentos novos ou à formulação de teorias verdadeiras.
	3
	Desenvolver procedimentos adequados para a aplicação prática de resultados teóricos (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Em contraposição ao método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método em que desconfia das percepções e sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu método indica que é necessário duvidar de tudo, até reconhecer como indubitável a própria existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida seria o fato da existência. Sua famosa frase “Penso, logo existo” assegura que, pensando, ele constatou que sua existência é verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016).
O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a perspectiva dualista iniciada em Platão. Após aplicar o seu método, da dúvida metódica, René Descartes concluiu que existem duas substâncias distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res extensa). A substância pensante corresponde à esfera da consciência, e a substância extensa, ao mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida metódica. Nesse método, o questionamento rigoroso é o fundamento do pensamento filosófico. Ele se constitui por quatro passos. Clique abaixo para conhecê-los.Em contraposição ao método experimental de Bacon, René Descartes construiu um método em que desconfia das percepções e sensações, sendo radicalmente racionalista. A rigorosidade do seu método indica que é necessário duvidar de tudo, até reconhecer como indubitável a própria existência. Para o filósofo, a única verdade livre de qualquer dúvida seria o fato da existência. Sua famosa frase “Penso, logo existo” assegura que, pensando, ele constatou que sua existência é verdadeira (COTRIM; FERNANDES, 2016).
O modo de pensar de Descartes também estabeleceu e reforçou a perspectiva dualista iniciada em Platão. Após aplicar o seu método, da dúvida metódica, René Descartes concluiu que existem duas substâncias distintas: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res extensa). A substância pensante corresponde à esfera da consciência, e a substância extensa, ao mundo corpóreo e material (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Sobre o método de Descartes, ele consiste em estabelecer uma dúvida metódica. Nesse método, o questionamento rigoroso é o fundamento do pensamento filosófico. Ele se constitui por quatro passos. Clique abaixo para conhecê-los.
Regra da evidência: Só aceitar algo verdadeiro se for claro e evidente.
Regra da análise: Decompor o problema em elementos mais simples ou últimos.
Regra da síntese: Orienta ir dos objetos mais simples aos mais complexos.
Regra da enumeração: Verificar para obter absoluta segurança de que nenhum aspecto do problema foi omitido (COTRIM; FERNANDES, 2016).
No século XVIII, a fundação do positivismo fortaleceu a ciência que se baseia nos fatos e nas experiências. Um dos principais representantes dessa perspectiva é o filósofo Augusto Comte. O entusiasmo positivista foi um reflexo do espírito da época e do entusiasmo da burguesia, capitalismo e do desenvolvimento técnico-industrial. Sobre o objetivo e as características do positivismo, Cotrim e Fernandes (2016) resumem:
De acordo com Comte, o método positivo de investigação tem por objetivo a pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo diferencia-se do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico apenas aos fatos observados. É na elaboração de leis gerais que reside o grande ideal das ciências. com base nessas leis, o ser humano seria capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 291).
Controle, previsibilidade e generalização são as marcas do pensamento positivista, que posteriormente influenciará, direta ou indiretamente, na constituição das ciências. O espírito científico buscará consolidar métodos científicos que assegurem esse tripé.
Após apresentar o pensamento de alguns filósofos, importa destacar que muitos outros pensadores atravessaram a história da filosofia e da construção da ciência. Todavia, fica inviável apresentar todos aqui e/ou se delongar nas ideias dos que foram apresentados. Optamos por apresentar alguns que julgamos importantes, na certeza de que existem outros e que você, estudante da área psicológica, mergulhará em outros textos que enfatizarão outros pensadores.
Nos tópicos seguintes, retomaremos alguns desses filósofos e acrescentaremos outros, com vias a discutir sobre a influência da filosofia na constituição da ciência psicológica.
2 Dicotomia Mente e Corpo: influências filosóficas e ressonâncias na psicologia
O mundo ficou dual desde que Platão o separou. Essa perspectiva dualista foi retomada em alguns momentos na história da filosofia, sobretudo com René Descartes no século XVI. Para Descartes, a substância pensante corresponde à mente, à consciência, enquanto a substância extensa corresponde à matéria corporal (COTRIM; FERNANDES, 2016).
Essa cisão entre mente e corpo estabeleceu um longo debate nos tratados filosóficos. O dualismo, defendido por alguns, era negado por outros. Caso partisse da premissa de que haveria essas duas realidades, distintas, uma questão se colocava: como mente e corpo poderiam interagir? (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009).
Antes de Descarte, acreditava-se que a interação entre essas duas substâncias se dava de forma unilateral. Ou seja, a mente que comandava o corpo. Todavia, Descartes, apesar de considerar substâncias distintas, defendia a mútua interação entre elas, e não a unilateralidade (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009). Conforme retomam Schultz e Schultz (2009, p. 36): “Descartes afirma que a mente e o corpo, embora distintos, são capazes de interagir dentro do organismo humano. A mente é capaz de exercer influência sobre o corpo do mesmo modo que esse pode influenciar a mente”.
Sobre a natureza do corpo,
Na visão de Descartes, o corpo é composto de matéria física, portanto tem características comuns a qualquer matéria, ou seja, possui tamanho capacidade motora. Sendo uma matéria, as leis da física e da mecânica que regem o movimento e a ação do universo físico aplicam-se também a ele. Logo, o corpo é semelhante a uma máquina cuja operação pode ser explicada pelas leis da mecânica que governa o movimento dos objetos no espaço. Seguindo esse raciocínio, Descartes prosseguiu com a explicação do funcionamento fisiológico do corpo com base na física. Descartes foi claramente influenciado pelo espírito mecanicista da época, refletido nos relógios mecânicos e nos robôs (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36).
Fazendo referências ao mecanismo dos robôs, Descartes defende que há reações do corpo que são reflexos dos movimentos externos e não necessariamente uma vontade da mente. Por essa constatação, por vezes o pensador é “definido como o autor da teoria do ato de reflexo. Essa teoria é a precursora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-resposta” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009, p. 36). Ainda nesse sentido, “o comportamento reflexo não envolve pensamento nem processo cognitivo: parece ser completamente mecânico ou automático” (SCHULTZ; SCHULTZ, p.36).
Enquanto o corpo é visto como uma máquina, a mente “não apresenta nenhuma das propriedades da matéria, no entanto possui a capacidade de pensamento, característica que a separa do mundo material ou físico” (SCHULTZ; SCHULTZ, p. 38). Na interação entre corpo-mente, segundo o filósofo, o ponto central das funções da mente é o cérebro, mais especificamente a glândula pineal ou conarium. Os movimentos físicos e mentais influenciam um e o outro mutualmente a partir desse ponto central.
Essas discussões sobre mente e corpo irão, posteriormente, no século XIX, influenciar a medicina, inclusive a psicologia. A visão dualista reverberou no modo de se compreender saúde e doença, bem como suas possíveis associações com a mente e o corpo.
Travou-se uma discussão na medicina sobre o caráter de adoecimento do corpo, se este tinha como causa fatores endógenos ou exógenos. Desde o século XV, os médicos Galeno e Paracelsus tinham visões distintas. Para o primeiro, a doença tinha causas endógenas, “estaria dentro do próprio homem, em sua constituição física ou em hábitos de vida que levassem ao desequilíbrio” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40). Já para o médico Paracelsus:
As doenças eram provocadas por agentes externos ao organismo. Ele propôs a cura pelos semelhantes , baseada no princípio de que, se os processos que ocorrem no corpo são químicos, os melhores remédios para expulsar a doença seriam também químicos, e passou então a administrar aos doentes pequenas doses de minerais e metais (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2006, p. 40).
Nos séculos seguintes, essas discussões chegaram a outras áreas da medicina, inclusive da psicanálise e psicologia. Na psicanálise freudiana, o determinismo psíquico reforçou “a importância dos aspectos internos do homem” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). Essa ideia foi reforçada pelo psicanalista Groddeck com a sua obra “Determinação psíquica e tratamento psicanalítico das afecções orgânicas” (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40). A supremacia da mente sobre o corpo foi reforçada pela psicanálise, enquanto no campo médico havia uma supremacia de cuidado com o corpo.
Apesar desse dualismo reverberar nas práticaspsicológicas e médicas contemporâneas, estudos atuais indicam a perspectiva holística como uma saída para a cisão entre corpo e mente. Na postura holística, corpo e mente são inseparáveis e interdependentes em aspectos psíquicos e biológicos (CASTRO; ANDRADE; MULLER, 2016, p. 40).
Segundo Castro, Andrade e Muller (2006, p. 41):
Com o desenvolvimento das neurociências o conceito dualístico tornou-se mais difícil de ser aceito. Por exemplo, o sistema nervoso autônomo não é tão autônomo assim e se encontra regulado pelas estruturas límbicas junto com o controle emocional. O sistema imune influencia e é influenciado pelo cérebro (URSIN, 2000). O campo de estudo da psiconeuroimunologia tem suas origens no pensamento psicossomático e tem evoluído no sentido da realização de investigações de complexas interações entre a psique e os sistemas nervoso, imune e endócrino.
Mais ampla do que as discussões das neurociências e da postura holística, a concepção de doença sociossomática amplia a inter-relação entre corpo, mente, ambiente e meio social. Nesse sentido, a medicina e a atuação psicológica, influenciada pela postura psicossomática, sociossomática e holística, atuam de forma a considerar a multicausalidade dos aspectos da saúde e da doença.
Fique de Olho:
A Organização Mundial da Saúde, desde o ano de 1947 define que a saúde é um estado que articula o bem-estar físico, mental e social. Hoje, muitos pesquisadores acrescentam as dimensões espirituais e culturais, sendo saúde, então, um bem estar biopsicossocial-espiritual e cultural, e não apenas ausência de enfermidades biológicas.
3 Discussões sobre inato e adquirido no ser humano
Assim como as discussões de corpo e mente perduraram e perduram até hoje na filosofia e na ciência, as questões concernentes ao que é inato e o que é adquirido pelo ser humano ao longo da existência também se estendem pelos séculos.
Descartes, expoente do racionalismo moderno, tratou as ideias como inatas. Ou seja, as ideias nasceram com o sujeito pensante. Em contraponto ao pensamento de Descartes, Jonh Lock, segundo Cotrim e Fernandes (2016), defendeu que não existem ideias inatas; ao contrário, quando o ser humano nasce, nossa mente é como uma tábula rasa. No nascimento, nossa mente é como um papel em branco e, a partir das experiências vividas no mundo, inscrevem-se nossos conhecimentos. Para adquirir conhecimento, Lock indica as ideias de sensação e de reflexão (COTRIM; FERNANDES, 2016). Veja suas definições clicando abaixo.
· As ideias de sensação são as que chegam à mente através das experiências adquiridas pelos sentidos.
· Já as ideias de reflexão são aquelas que se articulam da sensação e reflexão. A reflexão seria “nosso sentido interno que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mesma, analisando as próprias operações” (COTRIM; FERNANDES, 2016, p. 275).
O pensamento de Jonh Lock se associa ao pensamento de mente vazia indicada séculos atrás por Aristóteles (FREIRE, 2008). Freire (2008, p. 61), sobre o pensamento de Lock, resume:
As sensações, imagens e ideias formam o conteúdo da mente. São adquiridas através das impressões sensoriais, tanto do mundo externo como no interno e são obtidas através da percepção, que já é um processo psicológico. A percepção sensorial consciente constitui, portanto, a base do conhecimento e recebe, quase que passivamente, a influência de estímulos externos. Na escala da aquisição do conhecimento, distinguem se dois elementos básicos: a sensação e a percepção. As ideias que resultam desse processo podem ser simples quando se originam de um ou mais sentidos ou da combinação deles com a reflexão (a ideia de comprimento). a ideia de substância composta porque não se origina de nenhum sentido, mas da combinação de várias ideias simples.
As ideias do filósofo Lock, empirista, são claramente distintas das ideias inatas de Platão e Descartes. Por esse motivo, podemos considerá-lo como “o precursor do estruturalismo psicológico do século XX” (FREIRE, 2008, p. 62).
Além das discussões filosóficas sobre o modo que o conhecimento é dado à mente humana (se inatos ou adquiridos), existe uma outra linha a ser estudada e investigada, que diz respeito a condições comportamentais, se essas são genéticas ou apreendidas na relação com o ambiente. Clique abaixo e acompanhe duas tendências alinhadas com esse pensamento.
	Ambientalismo-empirismo
	Para o ambientalismo-empirismo, o ambiente é o responsável pelas características dos comportamentos do ser humano. Essas concepções, defendidas por Jonh Lock, têm um adepto fundamental no cenário da psicologia, o psicólogo Jonh Watson. Watson, fundador do behaviorismo, explicou o comportamento humano a partir da interação com a cultura e o meio ambiente (PINHEIRO, 1995).
	Nativismo
	O nativismo, perspectiva filosófica baseada nas concepções inatas de Platão e Descartes, considera o oposto do ambientalismo. Nessa linha, a inteligência, personalidade e comportamentos são traços genéticos herdados pelos genes dos respectivos genitores. Aquela famosa frase dita no senso comum, “filho de peixe, peixinho é” é atravessada por essa lógica nativista (PINHEIRO, 1995). Mas será que essa perspectiva é válida para o comportamento humano? Sobretudo partindo do campo psicológico que, ao acolher os comportamentos humanos, busca construir com os outros novas formas de existir?
Discutir sobre essas perspectivas é de extrema importância para a psicologia, a fim de compreender as perspectivas psicológicas que têm mais inclinação para a linha ambientalista e/ou nativista. Essas noções básicas fundamentarão práticas e intervenções frente ao comportamento humano.
4 Natureza e limites da psicologia
Você já ouviu alguma dessas frases? “Eu sou a psicóloga na família”; “Sou o psicólogo dos amigos”; “Sou professora e psicóloga dos meus alunos”.
Provavelmente sim, pois é frequente as pessoas fazerem menção à Psicologia quando realizam alguma atividade de escuta, conselho ou persuasão. Essas frases são resquícios da popularização dos termos psicológicos no senso comum, assim como as palavras empatia, recalque, projeção e outras.
Primeiramente, vamos definir o que é senso comum. Ele é o conhecimento cotidiano construído pelas pessoas num cenário de realidade. Não passa pelo crivo da ciência e não é submetido a um método filosófico ou de pesquisa. O conhecimento advindo do senso comum é passado de tradição para tradição, e é assimilado por cada homem e mulher na lida com a vida cotidiana. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 18):
Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos pelos outros setores do saber humano. O senso comum mistura e recicla esses outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo. O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário (mas esse é o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isso não ocorre muito rapidamente. Leva certo tempo para o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando utilizamos termos como “rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos usando termos definidos pela Psicologia científica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar muito próximo do conceito científico, mas, na maioria das vezes, nem sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.
Contudo, apesar dessas palavras e frases serem assimiladas no senso comum e no cotidiano das pessoas, isso não faz delas psicólogos/as. Isso porque a Psicologia é uma ciência. Mas então, o que é ciência? Essa não é uma pergunta fácil de responder, pois como vimos na história da filosofia e da ciência as compreensões sempre são plurais e não únicas. Existem vários caminhos distintos para definir os problemas da ciência, como fazer ciênciae consequentemente o que é ciência.
Mas, numa perspectiva mais tradicional, ciência são os conhecimentos submetidos a metodologias reconhecidas por filósofos e cientistas. Os métodos científicos, que também são vários, indicam os caminhos de se obter conhecimentos validados pela academia (centros de pesquisas). Não se faz ciência com achismos, faz-se ciência com métodos específicos, com pesquisas, com crivo científico. Poderíamos dizer, como comumente é assinalado, que científicos são os conhecimentos construídos de maneira programada, controlada e sistematizada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). No entanto, há métodos científicos que não pressupõem controle e previsibilidade, como são as pesquisas de cunho social, fenomenológicas e cartográficas (DANIELA, 2016).
Outro aspecto comumente indicado é que todos os campos científicos têm um objeto de estudo. A Sociologia tem como objeto de estudo os fenômenos ligados à sociedade; a Economia, os componentes econômicos; a Astrologia, os astros. Mas, e a psicologia? Qual o seu objeto de estudo? (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).
Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008), desde os primórdios da Psicologia enquanto ciência foi difícil definir um único objeto de seu estudo, dado que cada perspectiva que surge enfatiza aspectos distintos do humano. No início da Psicologia Científica, o foco esteve no comportamento com os behavioristas. Os/as psicólogos/as de base analítica (psicanálise) dirão que é o inconsciente; aqueles de perspectiva fenomenológica, os fenômenos; os socioconstrutivistas, as interações sociais. Enfim, passaríamos anos e anos indicando os diferentes objetos da Psicologia, visto que ela é uma ciência multifacetada. Um resumo coerente poderia ser o indicado por Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 22):
Nossa matéria-prima, portanto, é o ser humano em todas as suas expressões, as visíveis (o comportamento) e as invisíveis (os sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) - é o ser humano-corpo, ser humano-pensamento, ser humano-afeto, ser humano-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.
A Psicologia é uma ciência multifacetada, em que cada linha teórica, cada abordagem e cada perspectiva definirá suas concepções de homem, de mundo e os seus métodos de ação. É diferente da medicina, em que as evidências científicas indicarão a melhor ação para aquele paciente; na psicologia, os profissionais lidam com a multiplicidade de teorias que indicam modos distintos de lidar com o mesmo fenômeno. Mas como indica Figueiredo (2009), essas perspectivas, embora distintas, não são arquipélagos avulsos e desconectados.
O campo da Psicologia enquanto ciência e profissão por vezes deixa os profissionais e estudantes de psicologia atordoados na busca de uma unicidade. Ou seja, na busca de uma prescrição única. O professor Luís Cláudio Figueiredo, ao falar do campo psicológico como campo de dispersão, nos lembra que:
Os alunos, ao ingressarem no curso e entrando em contato com o currículo, podem ficar, de início, com a expectativa de que várias disciplinas irão se organizar harmonicamente, convergindo para uma meta comum, segundo uma concepção compartilhada por todos os professores do que seja pensar e fazer psicologia (FIGUEIREDO, 2009, p. 17).
Nesse sentido, ressaltamos que mesmo uma ciência, a psicologia, não se organiza com um objeto único, mas com objetos, campos, nuances de estudo e investigação. Cada professor/a, a partir de suas perspectivas teóricas, indicará possíveis modos de lidar com os fenômenos advindos dos diversos campos de atuação psicológica.
Indicar essa abertura e essa multiplicidade inerente ao campo psicológico não autoriza os profissionais a resvalarem nos achismos do senso comum, no dogmatismo ou no ecletismo. É necessário que as práticas profissionais estejam subsidiadas pela abordagem (perspectiva de prática) escolhida.
Alguns profissionais e estudantes, perdidos na dispersão teórica e metodológica, se encaminham para a prisão do senso comum “porque ela é a mais próxima e envolvente” (FIGUEIREDO, 2009, p. 19). Outros, os dogmáticos, se agarram em uma perspectiva teórica e fecham-se a ela como se essa fosse a única e grande verdade. “Ensurdecem para tudo que possa contestá-la” (FIGUEIREDO, 2009, p. 18) e não ampliam os seus horizontes. Já os ecléticos:
[...] adotam indiscriminadamente todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos disponíveis de acordo com a sua compreensão do que lhe parece necessário para enfrentar unificadamente os desafios da prática (FIGUEIREDO, 2009, p. 18).
Nenhuma dessas alternativas é indicada, isso porque todas cerceiam a possibilidade da construção psicológica ética e coerente. A alternativa é a busca contínua pela elaboração de conhecimentos novos e a articulação das teorias com a prática profissional. Trata-se de fundamentá-los em perspectivas de prática (abordagens), articulá-los com a experiência cotidiana e sempre viva do profissional e daqueles que buscam a psicologia. Não dá para juntar todas as teorias psicológicas como se elas falassem a mesma coisa, mas também não é possível fechar-se em uma teoria como se ela comportasse a única e mais exímia verdade sobre o comportamento humano. Importa sim definir qual será a sua abordagem e onde está circunscrita a sua visão de mundo. Mas a partir desse eixo, é necessário estabelecer diálogos, abrir questões, interrogar as indicações teóricas e metodológicas.
Faz-se importante, inclusive, abrir novas questões nas abordagens e visões de mundo majoritárias na psicologia. As perspectivas cognitivo-comportamental, psicanalíticas, humanistas (Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt Terapia) e fenomenológicas (Daseinsanalyse) nasceram em realidades distintas da realidade brasileira, com teóricos Europeus e Estadunidenses e em séculos diferentes do que estamos vivendo. Não se trata de abandonar esses teóricos, trata-se de assumir essas concepções de ser humano e de mundo, colocando novas e coerentes questões para os nossos séculos e para o nosso povo brasileiro (SILVA; DANIELA, 2019).
Essa concepção de que a ciência psicológica necessita dialogar com os cenários sociais, políticos e econômicos do seu povo, no nosso caso, o povo brasileiro, também é sustentada pelo Código de Ética do Psicólogo/a, que em seus “Princípios fundamentais” indica: “III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural” (CFP, 2005).

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