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Transtornos Psicóticos: Esquizofrenia → Psicose: paciente tem uma perda da realidade (capacidade prejudicada → limitação funcional) → Síndrome clinica abrange as alucinações (alteração da sensopercepção → principal causa é doença orgânica), ilusões (deformação de um objeto) e delírios (crença fixa e inabalável) Esquizofrenia → É um transtorno do neurodesenvolvimento. → Processo de desenvolvimento cerebral + genética + fatores externos → Alteração do desenvolvimento cerebral. → Durante 15-20 anos, no desenvolvimento normal, ocorre processo de "pruning" cerebral ("poda"), em que há aumento das sinapses inibitórias e diminuição das excitatórias pré-frontais. → Na esquizofrenia há um déficit neste "pruning", com atividade excitatória excessiva e uma atividade inter-neuronal reduzida História → Emil Kraepelin (1856-1926): traduziu a démence précoce para dementia precox, para Kraepelin era condição primariamente cognitiva, com início na vida adulta e um progressivo declínio funcional e intelectual → Eugen Bleuler (1857-1939): cunhou o termo esquizofrenia (do grego schizo = dividida, phrene = mente), que substituiu dementia precox na literatura. O termo foi escolhido para expressar a presença de cisões (schisms) entre pensamento, emoção e comportamento. Ao contrário do conceito de Kraepelin, para Blueler a esquizofrenia não progredia, invariavelmente, para um estado terminal de demência e o início da doença não se restringia ao início da vida adulta. Os quatro "As" de Bleuler: associação (pensamento), afeto, autismo e ambivalência → Ernst Kretschmer (1888-1926): pessoas com tipo corporal astênico (p.ex. físico esguio, com poucos músculos) → Esquizofrenia Epidemiologia → A esquizofrenia, geralmente, tem início na juventude, após os 18 anos. O pico de idade do início é entre 10 – 25 anos para os homens e entre 25 - 35 anos para as mulheres. → As mulheres exibem distribuição etária bimodal, com um 2º pico ocorrendo na meia-idade. Cerca de 3-10% das mulheres apresentam início da doença após os 40 anos. → O início da esquizofrenia antes dos 10 anos ou após os 60 anos é extremamente raro → A prevalência de esquizofrenia, na população geral, é de aproximadamente 1%, mas passa para 10% quando o paciente apresenta um irmão com esquizofrenia, 18% com um gêmeo dizigótico afetado, quase 50% com um gêmeo monozigótico afetado (80% considerando interação com o meio ambiente) e 50% com os dois pais afetados. A variação genética contribui com até 85% do risco de desenvolver a doença. → Apresentam maior taxa de mortalidade em decorrência de acidentes e de causas naturais (principal causa são doenças cardiovasculares), apresentam menor expectativa de vida (10-15 anos a menos) → Entre as causas de mortalidade destaca- se o risco de suicídio de 5% (principalmente, no início da doença), enquanto, na população geral, é de aproximadamente 1% → Até 80% dos pacientes com esquizofrenia têm doenças clínicas concomitantes e até 50% destas podem não ser diagnosticadas. → Maconha: Estudo sueco (35 anos de seguimento e 50 mil recrutas) → Risco 3,7 vezes maior para esquizofrenia e 2,2 vezes para psicose. Aumento da probabilidade em desencadear sintomas psicóticos, esquizofrenia e depressão (Fergusson, Fergusson, Large, Myles). → Cigarro: A nicotina diminui as concentrações sanguíneas de alguns antipsicóticos. 90% dos pacientes com esquizofrenia podem ser dependentes de nicotina. Fatores Genéticos → Há 43 genes candidatos para etiologia da esquizofrenia, mas os tamanhos de efeito são considerados modestos. → Os genes candidatos mais frequentemente associados à esquizofrenia estão ligados ao neurodesenvolvimento, sistema dopaminérgico e glutamatérgico. → Variação genética contribui com até 85% do risco de desenvolver a doença. O volume e a “inteligência” cerebral são altamente herdáveis, com estimativas de até 90% para o volume total do cérebro e 80% para o QI. Pode-se supor que, se houver uma relação genética entre o risco de esquizofrenia e a cognição, esse risco também pode ser expresso na perda de volume cerebral. Teoria Glutamatérgica → Aumento de dopamina em região mesolímbica e redução em córtex frontal → O aumento da atividade dopaminérgica alteraria a percepção dos estímulos, promovendo uma "saliência aberrante" de certos esquemas cognitivos preexistentes, gerando sintomas psicóticos, como os delírios → A alteração da regulação dopaminérgica é uma via final comum causada por uma série de “estressores" → O local da alteração da regulação dopaminérgica ocorre em um nível pré- sináptico dos receptores D2 → A alteração da regulação dopaminérgica está associada à "psicose" e não somente a "esquizofrenia", essa, altera a percepção dos estímulos pelo mecanismo da saliência Quadro clínico → A psicose pode ser descrita, do ponto de vista clínico, como uma quebra de contato ou distorção da realidade, sem rebaixamento do nível de consciência. Esta quebra de contato se torna observável apenas no momento em que delírios, alucinações ou desorganização do pensamento são manifestados pelos comportamentos do paciente o que pode acontecer apenas quando uma franca psicose está instalada. Os quadros psicóticos, especialmente, a esquizofrenia, iniciam-se em geral com sintomas inespecíficos ou com sintomas negativos, o chamado pródromo da psicose. → A dicotomização da esquizofrenia em subtipos I e II proposta por Tim Crow, em 1980, parece apresentar correlações significativas com prognóstico e variáveis biológicas. Esta dicotomização dos sintomas esquizofrênicos em: sintomas positivos, caracterizados pelo aparecimento de função qualitativamente anormal, aberrante, inexistente em indivíduos sãos (como os delírios, alucinações, incoerência do pensamento e do afeto) e; sintomas negativos, vistos como perda, defeito ou desintegração de funções normais (embotamento afetivo, déficitis conativos [impulso], pobreza do discurso). → A esquizofrenia começa com sintomas negativos em até 70%, aparecendo dois a seis anos antes da internação, já os sintomas positivos aparecendo em até dois anos antes → Atualmente, ao invés dos sintomas positivos e negativos sugere-se a divisão em dimensões: 1) Psicótica: delírios e alucinações. Obs: Alucinações EXTRACAMPINAS: são alucinações experimentadas fora do campo sensoperceptivo habitual (p.ex. vê nitidamente uma imagem às “suas costas” ou atrás de uma parede). É um fenômeno raro associado, geralmente, a psicoses, como a esquizofrenia. 2) Desorganização do pensamento: desorganização conceitual, perda das associações, incoerência e descarrilhamento (lógico → torna-se desconexa). 3) Desorganização da conduta: comportamentos bizarros e catatonia. 4) Deficitária: afeto inapropriado ou embotado, déficit volitivo. 5) Depressivo-ansiosa: depressão, sentimentos de culpa, ansiedade psíquica e autonômica. 6) Cognitiva: perda da capacidade de abstração e do insight → Os delírios paranoides ou persecutórios estão entre os sintomas mais comuns da esquizofrenia (podem ser observados no transtorno delirante, depressão psicótica, mania psicótica e síndromes delirantes orgânicas). Estes delírios envolvem a convicção de que indivíduos, instituições ou forças estão tramando para prejudicá-lo. → Os indivíduos, às vezes, relatam influências opostas (p.ex. Deus e diabo, sol e lua, matéria e antimatéria) resultando em uma convicção persecutória delirante de ser controlado por forças externas opostas. → O grau do prejuízo pode ser bastante variável, como simplesmente ser espionado a esconder ou isolar-se por acreditar que está sob morte (ex: convicção de que seu chefe está intencionalmente o tratando mal; que membro da famíliaestá tentando matá- lo; que o FBI o colocou sob vigilância com dispositivos de escuta e câmeras escondidas) → Os delírios de referência atribuem um significado pessoal às ações, observações e declarações de outra pessoa, objetos e eventos, mas, na verdade, não existe tal significado (ex: crença de que um programa de televisão seja dirigido a ele). As ideias de referência são uma classe de sintoma significativa, integram o que Schneider referia como “sintomas de primeira ordem”. → Há convicção de que a observação dele é absolutamente correta, sem a necessidade de qualquer comprovação por terceiros ou qualquer evidência complementar. O conteúdo do delírio de referência, geralmente, é idiossincrático e pode ser depreciativo, persecutório ou realçar a autoestima do indivíduo. → Esquizofrênicos com ideias delirantes de referência percebem erroneamente comunicações de outras pessoas ou entidades como referindo-se a eles. Exemplos clássicos desta classe de delírios incluem a crença de que as declarações na televisão ou os trechos em artigos de jornais são, na verdade, mensagens codificadas dirigidas a ele. Já exemplos mais sutis incluem, acreditar que uma pessoa em um telefone celular está falando sobre ele. AGUDO → Nos estados ou episódios agudos, sobretudo, nas fases iniciais, observam-se alterações da comunicação não verbal relacionadas ao tipo de episódio agudo. → Em quadros paranoides podem ser observados gestos e movimentos faciais que indicam um estado intenso de medo e desconfiança, relacionados às vivências paranoides como delírio de perseguição e vozes ameaçadoras (alucinações auditivas). → O episódio agudo pode ser marcado por desorganização mental e comportamental intensas, que se expressam nos gestos e movimentos que indicam desorganização, inclusive, às vezes, em atos básicos da vida (alimentação, banho, caminhada, posturas bizarras de repouso e encontros) CRÔNICO → Nos quadros crônicos, com alguns anos de evolução, observa-se com frequência uma diminuição da expressão afetiva, na face e no corpo como um todo, que pode ir de uma leve indiferença afetiva até embotamento dos afetos, podendo chegar a um completo achatamento das expressões afetivas. → Esquizofrênicos expressam de forma deficitária emoções negativas e positivas. Assim, há uma tendência a diminuição dos gestos, redução ou imobilidade na expressão facial. Podem apresentar estereotipias faciais como caretas, piscamento amplo dos olhos e movimentos bucais que podem ocorrer por discinesia tardia, provocada por antipsicóticos de 1ª geração ou adoecimento cerebral relacionado à esquizofrenia → Há também empobrecimento das inflexões vocais, diminuição dos movimentos espontâneos e redução do contato ocular. Este empobrecimento da comunicação não verbal não pode ser atribuído apenas ao uso de neurolépticos (antipsicóticos de 1ª geração), pois estudos com pessoas que nunca usaram neurolépticos, apesar do desenvolvimento da esquizofrenia, revelam igualmente tal empobrecimento (Kring; Earnest, 2003). → De modo geral, esquizofrênicos apresentam MENOS comportamentos pró- sociais e de afiliação, como inclinação lateral da cabeça, sorrisos, levantar de sobrancelhas, movimentos afirmativos de cabeça, assim como, menos gesticulação. → Tais pacientes também revelam MENOS comunicação não verbal de relaxamento (rir, cruzar os braços relaxadamente, soltar o corpo na cadeira e etc). Curso → Os sintomas negativos são detectados, muitas vezes, desde o princípio, ao passo que os sintomas positivos ou psicóticos ocorrem durante os episódios de exacerbação ("surtos") → Na fase pré-mórbida são observados aatrasos no desenvolvimento motor ou retardo na aquisição da fala. Posteriormente, na fase prodrômica aparecem sintomas como alterações da personalidade, pensamento e humor, muitas vezes, não detectáveis. → É comum neste período a família procurar ajuda por causa do aparecimento de sintomas depressivos e este quadro ser diagnosticado como um transtorno do humor, assim, consequentemente, o paciente é tratado com antidepressivos, mas não apresenta resultados com este tratamento. Também é comum que a psicoterapia seja indicada, sem evidências de eficácia neste período → A fase prodrômica precede o início da doença: O período prodrômico culmina, geralmente, no 1º episódio de psicose e, a partir deste ponto, inicia-se a chamada fase progressiva/sindrômica do transtorno. Posteriormente, o transtorno evolui para a fase de residual ou crônica, ainda sujeita a recaídas (isto é, piora da sintomatologia) Exames Complementares → Exame físico e neurológico → Hemograma completo, funções tireoidianas e hepáticas, pesquisa de substâncias psicoativas na urina, tomografia ou ressonância magnética do encéfalo, cálcio e cobre, sorologia para sífilis e HIV → Cariótipo → Pesquisa para erros inatos do metabolismo → Líquor → Provas reumatológicas → Eletroencefalograma Tratamento Medicamentoso → A esquizofrenia é uma doença crônica com períodos de exacerbação e remissão, associada a grande prejuízo social e funcional, porém 60% dos pacientes podem apresentar um bom desfecho, com remissão sintomatológica → A reposta ao tratamento deve ser avaliado durante 4-6 semanas, mas a ausência de resposta em duas semanas tem valor preditivo de má resposta ao antipsicótico → (Leucht et. al. 2009) Quando os antipsicóticos de segunda geração, não- clozapina, são comparados individualmente entre si, para o tratamento da esquizofrenia, a olanzapina é mais eficaz que o aripiprazol, risperidona, quetiapina e ziprasidona; risperidona foi mais eficaz do a quetiapina e a ziprasidona. Já quando se comparou com a clozapina, esta se revelou superior à zotepina e, em doses > 400 mg/dia, à risperidona. Estas diferenças tiveram como desfecho a melhora dos sintomas positivos e não dos sintomas negativos. → (Leucht et. al. 2013) Em uma meta-análise de rede, para tratamento da esquizofrenia, confirmou os achados acima; classificando a amissulprida em 2º lugar atrás da clozapina (1º lugar) e olanzapina em 3º lugar. Estes três medicamentos foram os únicos que mostraram claras vantagens de eficácia sobre o haloperidol. → Obs: vieses com haloperidol (sem biperideno = maior taxa de dropout, doses diferentes da equivalentes). → Nos casos de insuficiência hepática deve- se preferir: Sulpirida ou amissulprida: nenhuma redução da dosagem é necessária, caso a função renal esteja normal. Paliperidona: caso seja requerida aplicação depot. Obs: deve-se evitar uso de clozapina e fenotiazinas (p.ex.clorpromazina). → Nos casos de insuficiência renal deve-se preferir: Primeira geração: haloperidol. Segunda geração: olanzapina. Obs: deve-se evitar o uso de amissulprida e sulpirida, ademais, deve-se evitar medicamentos com alta ação anticolinérgica devido ao risco de retenção urinária. → Nos casos de epilepsia deve-se preferir: Baixo risco: amissulprida, sulpirida, ziprasidona, antipsicóticos de primeira geração com alta potência (p.ex. flufenazina, haloperidol) e risperidona. Baixo risco (evidência limitada): bexipiprazol e lurasidona. Risco moderado: olanzapina e quetiapina Alto risco: clozapina (evitar uso de carbamazepina – preferir uso de valproato e lamotrigina) Alto risco (evitar o uso): antipsicóticos de baixa potência (p.ex.clorpromazina, levomepromazina) e antipsicóticos de depósito. Nos casos de medicamentos de depósitos se deve aos seguintes requisitos: cinética dos depósitos é complexa (convulsões podem ser postergadas) e caso ocorra convulsões, o medicamento não pode ser retirado tão facilmente devido a meia-vida prolongada (caso necessite - usar com extrema cautela).→ Casos de alargamento do intervalo QTc: Sem efeito: lurasidona e bexipiprazol (evidências limitadas) Moderado efeito: amissulprida, clorpromazina, haloperidol, levomepromazina, quetiapina e ziprasidona Alto efeito: qualquer antipsicótico intravenoso, pimozida (Orap) e qualquer medicamento ou combinação medicamentosa que exceda a dose máxima recomendada. → Nos casos de fibrilação atrial (FA) pode-se considerar: Aripiprazol e lurasidona podem ser escolhas apropriadas. Evitar: clozapina, olanzapina e Paliperidona porque apresentam relatos de FA (causa não estabelecida); evitar medicamentos que apresentam risco de prolongamento do QTc em paciente com isquemia cardíaca; há associação entre FA e distúrbios metabólicos. → Gestação: não há evidências claras de que qualquer antipsicótico seja um teratógeno importante. Considerar o uso/continuação do medicamento ao qual a paciente respondeu anteriormente, em vez de trocar antes ou durante a gravidez. Pode-se necessitar de aumento de dose durante a gestação. Triagem para testes metabólicos (p.ex. glicemia). Sugerir que a gestação ocorra em um local com unidade de terapia intensiva neonatal. A quetiapina tem uma taxa relativamente baixa de passagem placentária. → Puerpério: geralmente é aconselhável continuar com o medicamento que foi usado durante a gravidez, com exceção da clozapina (mulheres que utilizam clozapina devem ser desaconselhadas a amamentar e a clozapina deve ser continuada). Ao iniciar um antipsicótico pós-parto, olanzapina ou quetiapina podem ser utilizadas. Contudo outros medicamentos também podem ser considerados. Tratamento não medicamentoso → Pesquisar uso de tabaco, cafeína e outras drogas, pois além de interferirem na farmacocinética dos antipsicóticos também são importantes fatores de risco cardiovascular. Outro fator de aumento no risco cardiovascular é o sedentarismo, também muito prevalente em pacientes com esquizofrenia. O exercício físico deve estimulado para diminuir o ganho de peso. → Terapia ocupacional: melhora nas funções executivas. → Treino de habilidades sociais (THS): melhora dos sintomas negativos. → Terapia cognitivo-comportamental: mostrou-se superior ao placebo para o tratamento de sintomas positivos persistentes, além de promover a melhora dos sintomas gerais da esquizofrenia, inclusive, em resistentes (refratários) à clozapina (super- refratários).
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