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SEI_08650 057960_2022_12

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
DIREÇÃO-GERAL
NOTA TÉCNICA Nº 11/2022/DG
PROCESSO Nº 08650.057960/2022-12
INTERESSADO: POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
 
1. ASSUNTO
Cuida a presente Nota Técnica da proposta de Plano de Modernização da Polícia
Rodoviária Federal, com obje vo de traçar os contornos que a envolvem, nos aspectos de
contextualização, necessidade e legalidade.
 
2. REFERÊNCIAS
2.1. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941;
2.2. Lei nº 5.712, de 25 de outubro de 1966;
2.3. Lei nº 6.880, de 09 de dezembro de 1980;
2.4. Constituição Federal de 1988;
2.5. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990;
2.6. Lei nº 8.702, de 1º de setembro de 1993;
2.7. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995;
2.8. Decreto nº 1.655, de 3 de outubro de 1995;
2.9. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997;
2.10. Lei nº 9.624, de 2 de abril de 1998;
2.11. Lei nº 9.654, de 2 de junho de 1998;
2.12. Medida Provisória nº 305, de 29 de junho de 2006;
2.13. Lei nº 11.358, de 19 de outubro de 2006;
2.14. Medida Provisória nº 431, de 14 de maio de 2008;
2.15. Lei nº 11.784, de 22 de setembro de 2008;
2.16. Lei nº 12.775, de 28 de dezembro de 2012;
2.17. Decreto nº 8.282, de 3 de julho de 2014;
2.18. Lei nº 13.614, de 11 de janeiro de 2018;
2.19. Decreto nº 11.103, de 24 de junho de 2022;
2.20. Decreto nº 10.073, de 18 de outubro de 2019; e
2.21. Lei nº 13.954, de 16 de dezembro de 2019.
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3. SUMÁRIO EXECUTIVO
3.1. HISTÓRICO
Antes da Lei nº 9.654, de 1998, a carreira dos então “patrulheiros rodoviários federais”
seguia a estrutura compar lhada pela maioria dos cargos de nível intermediário do Serviço Público
Federal, com cinco classes e vinte padrões. Foi nesse contexto que, por meio da Lei nº 8.702, de 1993,
foram criados não apenas quatro mil cargos de Patrulheiros Rodoviários Federais, mas também os
fundamentos de uma nova carreira que surgiria cinco anos mais tarde.
A Lei nº 8.702, de 1993, já trazia a previsão de uma seleção em duas etapas: provas e
curso de formação, bem como o pagamento de uma bolsa de 60% da remuneração inicial, com opção
pela remuneração do cargo de origem para os candidatos que já fossem servidores ou empregados.
Com o advento da Lei nº 9.654, de 1998, 10.098 (dez mil e noventa e oito) cargos de
Patrulheiro Rodoviário Federal foram transformados em cargos de Policial Rodoviário Federal,
inaugurando-se assim uma nova etapa na história desses profissionais que, desde vinte e quatro de
julho de 1928 dedicam suas vidas à segurança pública nas rodovias e estradas federais.
A Lei nº 9.654, de 1998, não modificou a estrutura da carreira, sua forma de
desenvolvimento e atribuições, mantendo-se inclusive a sistemá ca de progressão e promoção
ins tuída pelo Decreto nº 84.669, de 1980. O padrão remuneratório também foi man do, apenas com
o acréscimo de três gra ficações específicas para o cargo, em subs tuição a uma outra gra ficação
temporária que fora ex nta na mesma oportunidade. Essas três gra ficações receberam no ano de
2004, por meio da Medida Provisória 212, um acerto no seu percentual, a fim de corrigir o injusto
tratamento dado à carreira em relação a outras que recebiam o mesmo po de gra ficação em um
percentual mais elevado.
Em 2006, com o advento da Medida Provisória 305, mudanças significa vas foram
trazidas para a estrutura da carreira dos policiais rodoviários federais. As classes foram reduzidas para
três e os padrões para quinze, o que proporcionou um menor tempo para o PRF chegar ao fim da
carreira, sem contar eventuais reposicionamentos decorrentes do enquadramento.
A MP 305/2006 foi conver da na Lei nº 11.358, de 2006, e consolidou a nova estrutura
remuneratória da carreira que, nos termos do Art. 144, §9º, da Cons tuição Federal, deveria ser
baseada no subsídio: 
...
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é
exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
[...]
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste
artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39.
...
Nesse processo, apesar da previsão do pagamento de uma parcela complementar ao
subsídio para os casos em que a nova estrutura importasse decesso remuneratório, ocorreu uma
redução nominal da remuneração inicial da carreira, tanto para os ingressos vindouros, quanto para os
que ocupavam as classes iniciais à época, posto que os adicionais que deixaram de ser devidos não
foram incorporados, a exemplo do adicional noturno.
Dois anos mais tarde, a Medida Provisória nº 431, de 2008, posteriormente conver da
na Lei nº 11.784, de 2008, criou uma nova classe e um novo padrão inicial para carreira, reduzindo
ainda mais o subsídio, além de fixar em três anos a permanência mínima para promoção, todavia essa
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mesma Lei ampliou o quadro de policiais rodoviários federais, criando 3.000 (três mil) novos cargos,
passando a carreira a contar com um total de 13.098 (treze mil e noventa e oito cargos), quan ta vo
man do até a presente data. Essa situação prevaleceu até dezembro de 2012, quando o advento da
Lei nº 12.775, de 2012, deu à carreira a estrutura que ela apresenta atualmente, com quatro classes e
dezoito padrões, todavia com a mesma quantidade de cargos.
Não obstante a previsão dos 13.098 cargos existentes, não ocorreu o preenchimento de
tais posições na estrutura organizacional, conforme se verifica nos gráficos abaixo.
 
Gráfico 1 - Variação do Efetivo Legal (total de cargos) x Efetivo Real (cargos preenchidos) entre 1993 e 2021
Fonte: DW-SIAPE
 
 
Gráfico 2 - Variação do Percentual de Cargos Ocupados x Total de Cargos entre 1997 e 2021
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Fonte: DW-SIAPE
 
Em julho de 2014, o desenvolvimento na carreira dos policiais rodoviários federais
passou a ser regulado pelo Decreto nº 8.282, de 2014, oportunidade em que foi ex nta a progressão
por mera an guidade, bem como estabelecidos indicadores de desempenho a serem alcançados para
fins de progressão e cursos exigidos para promoção na carreira, sendo um dos diplomas em que a
meritocracia se mostra efe vamente presente, tendo o Ministério da Jus ça, em dezembro de 2015,
editado a Portaria nº 2.176, regulamentando esse Decreto.
Pode-se perceber que, desde a sua criação em 1998, a Carreira dos Policiais
Rodoviários Federais tem sido aperfeiçoada e, mesmo com alguns recuos, vários avanços despertaram
em muitos talentos o interesse pela ins tuição, o que fez com que a Polícia Rodoviária Federal
chegasse ao patamar em que se encontra atualmente. 
Com vistas ao aperfeiçoamento contínuo e à manutenção da sua atratividade, apesar do
novo cenário previdenciário inaugurado pela EC 103/2019, mostra-se oportuno redesenhar a Carreira
para, a par r desta nova realidade, tendo o olhar atento para as situações do presente, onde PRFs que
preenchem os requisitos para aposentadoria não recebem qualquer es mulo para con nuar na a va,
tampouco tendo oportunidade de colaborar com a sua experiência para o desenvolvimento
ins tucional na condição de aposentado, razão pela qual simplesmente aposentam, levando consigo -
em detrimento do serviço público e do princípio cons tucional da eficiência - toda uma exper se
construída ao longo de, no mínimo, vinte anos e que poderia con nuar a ser u lizada no atendimento
dos fins ins tucionais de prestação de uma a vidade de segurança pública de qualidade elevada aos
usuários das rodovias federais.
Para se ter uma dimensão do impacto que as aposentadorias apresentam no efe vo da
PRF, desde 2005 ocorreram 3.611 (três mil e seiscentos e onze aposentadorias), algo em torno de 32%
do efe vo atual, enquanto isso apenas 717 PRFs que nham os requisitos para aposentar optaram por
con nuar em a vidade mediante pagamento do abono de permanência,conforme se verifica no
gráfico a seguir:
 
Gráfico 3 - Evolução do Número de Aposentadorias x Quantidade de Servidores em Abono de Permanência
entre 2005 e 2020
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Fonte: DW-SIAPE
 
Todavia, o aperfeiçoamento da carreira e a manutenção de sua atra vidade aos novos
talentos exige que se tenha o olhar também atento para o futuro, especialmente para o instante em
que os PRFs que ingressaram após a EC 103/2019 vierem a preencher os novos requisitos de
aposentadoria, já que, nesse momento, em virtude da enorme redução nos proventos, muitos serão
pra camente compelidos a permanecer na a va, conquanto possam não mais reunir a higidez
necessária ao exercício das funções eminentemente policiais.
Pretende-se com a presente proposta, con nuar a trajetória de evolução da Carreira de
Policiais Rodoviários Federais, que teve seu início com os Patrulheiros na condição de empregados
públicos de uma Autarquia Federal, passando pela estrutura de carreira comum aos servidores de nível
intermediário da Administração Pública Federal Direta, evoluindo para uma carreira dis nta ainda que
de nível intermediário e, atualmente, é uma Carreira de A vidade Típica e Exclusiva de Estado, de
nível superior, responsável por todo ciclo ins tucional, desde a execução das tarefas operacionais e
administra vas, passando pelo planejamento, coordenação e supervisão dessas a vidades e
culminando com a Gestão Ins tucional em Nível Estratégico, além da colaboração com outras forças
da segurança pública em todas as esferas de governo.
 
3.2. CONTEXTUALIZAÇÃO
No Serviço Público Federal, em regra, o quadro de servidores é distribuído em mais de
um cargo, quando não em mais de uma carreira. Assim é, por exemplo, na Receita Federal do Brasil,
em que existem duas carreiras: a dos Auditores da Receita Federal e a dos Analistas da Receita
Federal. Na Agência Brasileira de Inteligência, há quatro carreiras: Oficiais de Inteligência, Oficiais
Técnicos de Inteligência, Agentes de Inteligência e Agentes Técnicos de Inteligência.
Essa forma de organização dos quadros reflete divisão interna rígida das atribuições, de
modo que há uma hierarquia fixa entre algumas carreiras ou cargos, o que não se coaduna com a
realidade da a vidade de policiamento ostensivo civil, categoria “sui generis” com a qual se iden fica
a Carreira dos Policiais Rodoviários Federais, que é formada por um cargo único.
Enquanto que nos quadros de servidores com distribuição rígida de atribuições há
cargos superiores e cargos subalternos, na carreira Policial Rodoviária Federal há um só cargo, e a
relação de hierarquia e subordinação é dinâmica, sendo tal fato verificável desde a atribuição
transitória de papéis e encargos para o cumprimento de missões, até a designação para
funções comissionadas executivas.
Um integrante da Carreira dos Policiais Rodoviários Federais pode exercer qualquer
função na estrutura do Órgão, da segurança de um disposi vo de fiscalização até a Direção-Geral. Tal
caracterís ca dota a PRF de uma dinamicidade e de uma renovação constante, além da existência da
possibilidade real do aproveitamento de todo o potencial existente nos seus quadros.
 
3.3. JUSTIFICATIVAS
3.3.1. Segurança jurídica para atuação policial
O exercício do poder de polícia está descrito no art. 78 da Lei nº 5.172, de 1966 (Código
Tributário Nacional):
...
Art. 78. Considera-se poder de polícia a vidade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prá ca de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene,
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à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
a vidades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância
do processo legal e, tratando-se de a vidade que a lei tenha como discricionária, sem
abuso ou desvio de poder.
...
Demanda dos agentes do Estado, além das competências cogni vas e técnicas e do
domínio de conhecimentos específicos a nentes à a vidade desempenhada, habilidades a tudinais,
aptas a assegurar o império da lei apesar de eventuais dificuldades e circunstâncias adversas.
Em relação aos integrantes da atual carreira dos Policiais Rodoviários Federais, o
exercício de poder de polícia dá-se, notadamente, no âmbito da circunscrição em que é lotado o PRF,
no cumprir e fazer cumprir as normas de trânsito em conformidade com os ditames da Lei nº 9.503, de
1997. O exercício do poder de polícia termina por permi r a verificação de situações flagranciais de
crimes comuns de trânsito, em estrito cumprimento ao disposto no art. 301 do Decreto Lei nº 3.689, de
outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
...
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão
prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
...
No exercício das atribuições de seu cargo, o PRF está em permanente estado de
vigilância enquanto desenvolve a a vidade de policiamento ostensivo em toda a malha viária federal,
muitas das vezes em localidades desprovidas de unidades de outras forças de segurança pública, de
modo que não raramente o cumprimento das leis depende única e exclusivamente da atuação desses
profissionais.
A determinação de buscas pessoais e veiculares também traz insegurança jurídica para
o PRF, principalmente quando oposta a correntes doutrinárias que equivocadamente equiparam o
veículo à casa para fins de inviolabilidade domiciliar, com o fito de exigir mandado de busca nos
termos do Art. 241 do CPP. Nesse aspecto é interessante destacar o que diz o Art. 240 do CPP:
...
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
§ 1º Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos u lizados na prá ca de crime ou
destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando
haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser ú l à elucidação do
fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.
§ 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém
oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do
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parágrafo anterior.
...
Note-se que, apesar de não haver expressa previsão legal para busca veicular, da sua
realização decorrem a quase totalidade das apreensões de drogas e ilícitos diversos executadas pelos
PRFs, com fundamento na interpretação do Art. 244, também do CPP, ainda que precariamente.
Se houver fundada suspeita que o condutor esteja de posse de arma não proibida
haveria jus fica va para a realização de busca pessoal? Segundo dicção do Art. 244 do CPP, não, pois
elenca como justa causa para a busca pessoal a fundada suspeita de posse de arma proibida. Mas é
nesse cenário que os PRFs atuam e apreendem armas e munições não proibidas sendo portadas de
forma ilegal.
A presente proposta tem o condão de buscar minimizar a insegurança jurídica que recai
sobre o desempenho do mister do PRF, com a única preocupação de cumprir a missão sem estar a
todo instante sendo ameaçado pela existência de lacunas legais. Para tanto busca-se estabelecer no
plano legal e não apenas regulamentar as atribuições e prerroga vas imprescindíveis ao pleno
exercício do poderde polícia, no âmbito da competência e circunscrição do Órgão.
 
3.3.2. Formação adequada e continuada dos quadros de policiais
De acordo com a atual sistemá ca de seleção, a formação é uma das etapas do
concurso, num ambiente concorrencial em que prepondera o interesse do candidato na aprovação, em
detrimento da formação. Atualmente os CFPs são executados em um espaço de tempo limitado, com
grande densidade de conteúdos e enorme diversificação de habilidades a serem desenvolvidas.
Tal realidade decorre da previsão contida no Art. 3º da Lei nº 9.654, de 1998:
Art. 3º. O ingresso nos cargos da carreira de que trata esta Lei dar-se-á mediante
aprovação em concurso público, cons tuído de duas fases, ambas eliminatórias e
classificatórias, sendo a primeira de exame psicotécnico e de provas e tulos e a
segunda constituída de curso de formação.
A dedicação integral às a vidades discentes nos CFPs impõe aos candidatos uma ro na
de elevado stress, com potenciais efeitos adversos à aprendizagem de conhecimentos e habilidades
novas para a quase totalidade dos candidatos.
Aliado a isso, a possibilidade de ocorrências que afastem, ainda que temporariamente,
o candidato do CFP, tais como adoecimentos e lesões, dentre outras, tem o potencial para reduzir a
“entrega” do aluno à aprendizagem, em face do risco de eliminação do certame nesta etapa, perdendo
todo investimento e êxito obtido até então.
O vínculo jurídico entre os alunos no Curso de Formação Policial e a União é
extremamente frágil, inclusive o previdenciário, o que torna a perspec va de acidentar-se um
elemento impactante na dedicação da aprendizagem das habilidades que apresentam algum po de
risco.
No que concerne aos aspectos de ordem disciplinar, os alunos não estão sujeitos a
qualquer regime jurídico em virtude da precariedade do seu vínculo, o que os isenta de responder, por
exemplo, por violações de deveres ou inobservância de obrigações previstas na Lei nº 8.112, de 1990.
Durante o CFP os alunos têm acesso a uma gama significa va de informações de
natureza sensível, sobretudo rela vamente às peculiaridades da a vidade policial, além de formação
para u lização de equipamentos, técnicas de abordagem, acesso a sistemas e base de dados, uso de
armamento, etc.; tudo isso sem qualquer vínculo de responsabilidade com a União, além do fato de
ser aluno.
Não raramente candidatos precisam encerrar os vínculos que possuem na esfera
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privada ou em outras esferas do serviço público, o que reveste a decisão de matricular-se no CFP de
alguma incerteza, não somente quanto ao êxito na formação, mas também na ausência de
previsibilidade quanto aos prazos de nomeação e posse supervenientes.
As condições acima esposadas, em conjunto com o curto tempo do CFP, não cons tuem
o cenário mais adequado para o desenvolvimento das competências cogni vas, técnicas e a tudinais
imprescindíveis ao melhor desenvolvimento das a vidades próprias da carreira de Policial Rodoviário
Federal.
A realização de curso de formação na condição de servidor já é uma garan a para os
que são servidores públicos federais, podendo inclusive optarem pela remuneração do cargo, nos
exatos termos do art. 14, §1º, da Lei nº 9.624, de 1998:
...
Art. 14. Os candidatos preliminarmente aprovados em concurso público para
provimento de cargos na Administração Pública Federal, durante o programa de
formação, farão jus, a tulo de auxílio financeiro, a cinqüenta por cento da
remuneração da classe inicial do cargo a que estiver concorrendo.
§ 1º No caso de o candidato ser servidor da Administração Pública Federal, ser-lhe-á
facultado optar pela percepção do vencimento e das vantagens de seu cargo efetivo.
...
Desse modo, se o valor do auxílio-financeiro previsto no caput for inferior ao da
remuneração do cargo que o candidato ocupa, ele, muito provavelmente, optará pela mais vantajosa.
Há cargos na Administração Direta Federal, em que a formação dá-se na condição de
servidor, a exemplo da Carreira Diplomá ca, conforme previsão da Lei nº 11.440, de 29 de dezembro
de 2006, em seu Art. 35:
...
Art. 35. O ingresso na Carreira de Diplomata far-se-á mediante concurso público de
provas ou de provas e tulos, de âmbito nacional, organizado pelo Ins tuto Rio
Branco.
Parágrafo único. A aprovação no concurso habilitará o ingresso no cargo da classe
inicial da Carreira de Diplomata, de acordo com a ordem de classificação ob da, bem
como a matrícula no Curso de Formação do Instituto Rio Branco.
...
Atualmente, nos termos da Portaria nº 219, de 2019, o Curso de Formação de
Diplomatas tem duração de 15 meses.
As carreiras da Magistratura e do Ministério Público, apresentam o ins tuto do
vitaliciamento, cons tuído como um curso, cuja aprovação é imprescindível para a permanência
nessas carreiras, nos termos da Lei Complementar 35, de março de 1979, e Lei nº 8.625, de 12 de
fevereiro de 1993, respectivamente.
A formação de um policial rodoviário federal, para além das competências
eminentemente cogni vas, demanda a construção de habilidades de natureza técnica, sensorial, sica
e emocional de di cil consecução plena nos atuais quatro meses dos CFPs, demandando maior tempo
para desenvolvimento, verificação e consolidação.
A formação con nuada já é uma realidade na atual sistemá ca da Lei nº 9.654, de
1998, e regulamentada pelo Decreto nº 8.282, de 2014, nos artigos 10 e 11 do mesmo:
...
Art. 10. Para fins de promoção na carreira, o ato de que trata o art. 3º disciplinará a
participação em eventos de capacitação pelo servidor e definirá:
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I - as modalidades de curso a serem consideradas;
II - a possibilidade de acúmulo de cargas horárias; e
II I - os critérios e os procedimentos para a comprovação dos cursos e para sua
validação pelo Departamento de Polícia Rodoviária Federal.
§ 1º Somente serão aceitos cursos que sejam compa veis com as a vidades do cargo
de Policial Rodoviário Federal e do Departamento de Polícia Rodoviária Federal.
§ 2º Os cer ficados de pós-graduação lato sensu ou diplomas de mestrado e
doutorado ob dos em ins tuições nacionais, para fins de capacitação, deverão ser de
cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação, e, quando realizados em ins tuições
estrangeiras, deverão ser revalidados.
§ 3º Cada evento de capacitação será computado uma única vez.
Art. 11. Compete ao Departamento de Polícia Rodoviária Federal implementar
programa permanente de capacitação, treinamento e desenvolvimento des nado a
assegurar a profissionalização dos ocupantes de cargo efe vo da carreira de Policial
Rodoviário Federal.
...
Não obstante a isso, mister é conferir status legal a essa disposição, o que está sendo
objeto da presente proposta.
Pretende-se com a nova sistemá ca proposta democra zar o acesso à carreira, à
medida que o curso de formação seja realizado já na condição de servidor, com vínculo previdenciário
e estatutário, conferindo uma segunda graduação, em segurança pública, com duração de doze meses,
com períodos intercalados com estágio profissional.
A previsão de cursos de natureza técnica e gerencial, a tulo de capacitação,
aperfeiçoamento e especialização, bem como o a ngimento de indicadores de desempenho,
permearão toda a carreira, cuja úl ma classe passará a exigir não apenas a capacitação, mas também
a produção de conteúdo des nado à consolidação do conhecimento desenvolvido ao longo da carreira,
a partir das vivências, sob o crivo da metodologia acadêmico-científica.
 
3.3.3. Preservação dos investimentos no capital humano
São dois os pos de inves mentos para formação dos integrantes da carreira dos
Policiais Rodoviários Federais: um tangível, que é o financeiro, notadamente nas ações de formação
inicial e con nuada; e um intangível, decorrente da exposição do policial às situações que promovem
a construção da experiência para o desempenho, principalmente durante o período do estágio
probatório.
Há custos financeiros fixosdes nados a instalações, equipamentos, materiais,
insumos, serviços e pessoal necessários à perenidade da disponibilização dos espaços e ambientes de
ensino-aprendizagem, tanto na Universidade Corpora va da PRF, quanto nos Núcleos de Educação
Corpora va das Unidades Regionais. Por outro lado há custos financeiros variáveis, notadamente
relacionados aos processos de seleção e formação de novos integrantes da carreira, tais como o
pagamento da bolsa aos candidatos, nos termos do Art. 14 da Lei nº 9.624, de 1998, das gra ficações
pelo encargo de curso e concurso conforme preconizado pelo Art. 76-A da Lei nº 8.112, de 1990,
pagamento de diárias e passagens para o corpo de instrutores e pessoal de apoio administra vo,
dentre outros.
A formação de um PRF representa significa vo inves mento por parte da União, pois
além da construção das competências cogni vas para o exercício das atribuições policiais dos
candidatos, há uma série de habilidades técnicas que, para o seu desenvolvimento, demandam
insumos específicos, tais como: munição para treinamento; combus veis para u lização nas aulas de
condução de viaturas policiais, que demandam também um consumo de outros insumos como
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pneumá cos, embreagens e não raramente subs tuição de peças pelo desgaste ou fadiga dos
materiais.
 
Tabela 1 - Custos Diretos e Médio por Candidato Formado nos CFPs 2019 e 2020
CFP Diretos Total Médio por Candidato
2019 R$ 35.163.801,96
R$ 60.204.591,12 R$ 34.481,44
2020 R$ 25.040.789,16
Fonte: CEBRASPE e UNIPRF
 
Ao longo dos anos é necessário manter e desenvolver o padrão e o nível de proficiência
dos integrantes da carreira, para tanto são promovidas ações de capacitação, tanto para “reciclagem”,
aqui compreendida como a revisitação das competências, habilidades técnicas e a tudinais
desenvolvidas ainda no curso de formação policial, quanto para a “atualização”, no contexto de que
sejam agregadas novas técnicas, tecnologias ou métodos e conhecimentos, bem como para além da
ampliação dessas competências, seja pela especialização em determinada área ou até mesmo
decorrentes da criação de novas áreas de atuação.
 
Tabela 2 - Custos Diretos Capacitação do Efetivo Policial - 2019
CAP e Cursos de Especialização Diretos
2019 R$ 13.933.582,54
Fonte: CEBRASPE e UNIPRF
 
Esses inves mentos em formação e capacitação con nuadas são catalisadores do
desenvolvimento ins tucional, à medida que aceleram e aperfeiçoam a consecução dos seus obje vos
e não são “consumidos” nesse processo. Ocorre que esses inves mentos podem ser totalmente
perdidos, tanto pela saída precoce dos profissionais, quanto pelo desinteresse decorrente de uma
carreira deses mulante para os que “não conseguem” mudar para uma carreira que entendem ser
mais atrativa e valorizadora.
É preciso considerar nesse contexto, também as perdas decorrentes de aposentações
pela baixa perspec va ou até mesmo pela falta dela no tocante a qualquer po de desenvolvimento
na carreira para aqueles que conseguem chegar até o seu final. O incen vo dado pelo abono de
permanência não tem sido o suficiente para manter no quadro de a vos, policiais que, após toda uma
vida de dedicação à a vidade e um considerável conhecimento acumulado ao longo dos anos,
possuem uma contribuição única para o aperfeiçoamento institucional, e que simplesmente é perdida.
Além das perdas diretas com a eventual saída de policiais rodoviários federais para
outras carreiras e para aposentadorias, há outros prejuízos de natureza operacional, vez que o tempo
para formar um novo PRF impõe que a subs tuição não se dê de forma imediata, bem como o que sai
leva consigo toda a expertise desenvolvida na carreira, não podendo simplesmente transferi-la.
É preciso estar atento aos sinais emanados da ocorrência das vacâncias ocorridas na
carreira, bem como das advindas das matrículas no curso de formação. Tal se faz necessário para que
seja possível tomar as medidas necessárias e proceder aos ajustes, a fim de que se busque evitar os
danosos efeitos do “turnover”.
Não raras são as vezes em que policiais rodoviários federais, por não iden ficarem na
PRF uma efe va oportunidade de evolução e independência financeira, migraram para outras carreiras
consideradas mais atra vas, restado a este Órgão apenas o papel de formador de mão de obra
qualificada para outras ins tuições. Neste ponto, ainda é preciso destacar o fato de que muito
servidores apenas optam por deixar a ins tuição, ainda que não exista qualquer perspec va de
ingresso em outra ocupação.
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Como já visto no subitem da contextualização, a carreira, a par r do ano de 2013
passou por uma pequena reorganização, quando o cargo passou a ser de nível superior e a classe
inicial passou a ter três padrões, de modo que é inevitável correlacionar tal fato com a ausência de
vacâncias nos anos de 2013, 2014 e até mesmo de 2017.
Somando-se estes números ao de candidatos aprovados ao final do curso de formação
que sequer tomam posse e os que são aprovados na primeira fase e optam por não par cipar da
segunda, em um certame cuja concorrência é quan ta va e qualita vamente elevada, pode-se
compreender a necessidade de promover as modificações na carreira aqui trazidas.
Analisando as aprovações na primeira fase, matrículas homologadas, aprovação final,
nomeação, ingresso e permanência na carreira, apenas considerando o concurso de 2018, temos o
seguinte gráfico:
 
Gráfico 6 - Evolução do Número de Participantes nas Etapas do Concurso de 2018
Fonte: CEBRASPE e SIAPE
 
É possível constatar, a par r do gráfico acima, que das 1.823 matrículas homologadas,
apenas 1.746 concluíram com êxito, ou seja, 77 (setenta e sete) alunos ou não se matricularam ou não
concluíram o curso por outros mo vos. Repare-se que dos 1.345 que foram nomeados, ainda em 2020,
temos hoje 19 (dezenove) que não estão na carreira, seja porque sequer tomaram posse ou podem ter
ocorrido vacâncias por outras causas.
Considerando apenas os custos diretos com a formação dos dezenove que não
ingressaram ou permaneceram na carreira até maio de 2021, o volume de recursos não efe vamente
aproveitados chega aos R$ 655.147,33 (seiscentos e cinquenta e cinco mil cento e quarenta e sete
reais e trinta e três centavos), sem contar que dezenove policiais permi ria manter o funcionamento
de uma Unidade Operacional - UOP ou viabilizar a complementação do efe vo mínimo necessário ao
pleno funcionamento de várias UOPs que, ordinariamente, tem menos de três policiais por plantão.
Outro aspecto que não se pode deixar de considerar é todo o conhecimento sensível
acerca do funcionamento ins tucional, das técnicas e estratégias policiais, dos sistemas e
informações que subsidiam o agir dos policiais, além da re rada da oportunidade daqueles que
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poderiam apresentar um maior interesse pela carreira, apesar das suas imperfeições.
Nesse contexto, jus fica-se a apresentação da presente proposta de carreira como
alterna va à atualmente vigente, com vistas à preservação dos inves mentos no capital humano,
promovendo uma maior percepção da atra vidade da carreira, dotando-lhe dos atributos que reforcem
o interesse tanto dos melhores talentos para ingressar nela quanto de todos os que nela ingressarem
para que permaneçam, evitando situações indesejáveis como a de candidatos que sequer se
matriculam nos CFPs, de aprovados nos CFPs que deixam de tomar posse e entrar em exercício, de
PRFs que simplesmente pedem exoneração, dos que saem para outras carreiras e dos que
demonstram desestímulo com o desenvolvimento proposto pela carreira.
 
3.3.4. Aumento da percepção, sensação e efetividade da segurança
A segurança pública, nos termos da Cons tuição Federal é “dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos”, e tem no policiamento ostensivo, responsável pela prevenção ao
come mento de ilícitos e pela maior parte das prisõesem flagrante, bem como pelo cumprimento de
mandados de prisão, as dimensões da efetividade, percepção e sensação de segurança.
Essas dimensões têm influência umas sobre as outras, mas guardam entre si distinções.
A sensação de segurança está diretamente ligada à subje vidade do cidadão, que em determinado
contexto social e até mesmo comunitário, sente-se seguro para desenvolver as a vidades co dianas.
Essa sensação de segurança pública é construída a par r de avaliações que consideram, desde a
existência de iluminação pública até a presença ou, em alguns contextos, a ausência de policiamento.
De modo que a percepção da segurança pública decorre menos de avaliações subje vas e mais da
observação de fatores que, potencialmente, influenciam a sensação de segurança.
Isoladamente, fatos como apreensões de drogas e armas, captura de pessoas com
mandado de prisão em aberto, recuperação de carros e cargas roubados, presença constante de
equipes em locais estratégicos, têm o condão de colaborar com a percepção de segurança por parte
do cidadão, bem como por parte do crime. A presença de equipes de fiscalização no trânsito, de igual
modo, aumenta a percepção de segurança e dissuade o come mento de infrações, notadamente as
relacionadas com a conduta e a circulação, diminuindo as ocorrências e, por conseguinte, as ví mas
da violência de trânsito.
No Brasil, atualmente, temos pouco mais de 1.400 veículos para cada um dos setenta e
cinco mil quilômetros de rodovias e estradas federais, por onde transitam diuturnamente grande parte
das pessoas e é transportada parte significa va da economia, das riquezas e também dos ilícitos no
País. Nesse sen do, a percepção de rodovias seguras é de fundamental importância para o
desenvolvimento nacional, pois a percepção de segurança leva à sensação de segurança, tão
necessária para a movimentação das pessoas e da economia. Por outro lado, a percepção de
segurança dificulta a ação do crime.
A carreira de Policial Rodoviário Federal conta com 13.098 cargos que, em um cenário
em que não houvesse qualquer po de afastamento, precisariam, com seu trabalho, desenvolver
ações para promoção da percepção de segurança nos mais de 75 mil quilômetros de rodovias e
estradas federais, de forma con nua. Para tanto é necessário o revezamento de quatro equipes, o que
determina um número máximo de 3.274 policiais em atuação por dia. Como a a vidade policial
imprescinde a atuação de, no mínimo dois policiais, haveria, no máximo 1.637 equipes para os mais
de 75 mil quilômetros de trecho, cabendo à cada equipe cerca de 45 quilômetros.
Ocorre que esse cenário ideal está longe de ser real, posto que a Ins tuição PRF para
cumprir o seu mister precisa não apenas de equipes de fiscalização, mas também de toda uma
retaguarda logís ca, administra va, tecnológica, de governança e compliance e, para tanto, lança
mão de alguns policiais dentre os 13.098 para que a Ins tuição possa funcionar. Segundo dados
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constantes dos sistemas da PRF, no mês de maio de 2021, a média diária foi de 2.009 policiais em
serviço, o que elevaria para quase 75 quilômetros o trecho médio que caberia a cada equipe.
Nesse mesmo período ocorreram mais de cinco mil acidentes de trânsito que,
invariavelmente deslocam as equipes da a vidade de policiamento e fiscalização para o atendimento
no local dessas ocorrências, a fim de não só prestar socorro às ví mas, mas também para evitar novas
ocorrências no mesmo local e a vi mação de mais pessoas. Enquanto as equipes se deslocam para o
atendimento desse po de ocorrências, o trecho sob sua responsabilidade fica desprovido de
policiamento e fiscalização, diminuindo os elementos que promovem a percepção de segurança, por
insuficiência de policiais frente à demanda existente. Situação análoga ocorre, por exemplo, em
flagrantes como os de alcoolemia, em que as equipes precisam suspender as a vidades de
policiamento e fiscalização para conduzir o autor do fato a uma autoridade da polícia judiciária.
Não é outro o entendimento consubstanciado no Acórdão nº 353/2006 do TCU, de lavra
do Ministro Lincoln Magalhães da Rocha, por meio do qual exarou a seguinte orientação ao Ministério
do Planejamento Orçamento e Gestão:
“...
9.8.2. agilize os estudos e trâmites necessários à conclusão do projeto lei que aumenta
o quan ta vo de homens da Polícia Rodoviária Federal, tendo em vista as deficiências
operacionais iden ficadas nesta auditoria e da necessidade de efe vo adequado para
a melhoria na eficiência das atividades da entidade;”
No seu Relatório, o Ministro do TCU assim se manifesta:
Visando resolver o problema, a polícia e o Ministério do Planejamento Orçamento e
Gestão - MPOG estão tratando de projeto de lei que reorganiza a carreira e estende
para 20.000 os cargos de Policial Rodoviária Federal.
Tendo em vista que a frota nacional de veículos e a malha rodoviária federal tendem a
aumentar grada vamente, por conseguinte, elevam-se, esta s camente, os números
de acidentes e de ocorrências de trânsito, bem como amplia-se a necessidade de
cobertura policial nas rodovias, cabe reforçar a necessidade de aumentar o quadro
vigente. Pela insuficiência de con ngente, historicamente, também ocorreu a redução
no número de postos policiais, fazendo-se essencial, atualmente, a revitalização e/ou
criação de novos pontos de fiscalização.
Assim sendo, em vista das deficiências operacionais iden ficadas nesta auditoria e da
necessidade de efe vo adequado para a melhoria na eficiência das a vidades da
polícia, é viável recomendar ao MPOG, caso possível, agilizar os estudos necessários à
conclusão do projeto lei que aumenta o quan ta vo de homens da Polícia Rodoviária
Federal.
..."
A dimensão da efe vidade da segurança pública, como sendo o resultado esperado das
ações tomadas pelo Estado e por todos com ela envolvidos para entregar os elementos necessários à
percepção de segurança é, na verdade, consequência e não o obje vo das forças de segurança
pública. Ter um efe vo em número suficiente é condição para entrega da percepção de segurança
pública, promovendo a sensação de segurança pública e criando as condições para que ela seja
efetiva.
Um efe vo em quan ta vo insuficiente, por maior que seja o seu nível de
comprome mento, não é capaz de entregar a percepção de segurança necessária, quando, por
exemplo, precisa deixar o trecho sem policiamento e fiscalização para atender um acidente ou para
conduzir uma situação de flagrante. Em outra perspec va, um número adequado de policiais não
apenas traz uma maior percepção de segurança quan ta vamente, mas também quando o trecho não
fica desguarnecido em momento algum, inclusive no atendimento de ocorrências.
As dificuldades decorrentes da insuficiência no número de policiais ultrapassam os
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limites da percepção de segurança no curto prazo e, a longo prazo, comprometem as ações de
capacitação con nuada do efe vo, aumentam a necessidade de deslocamento mediante pagamento
de diárias e passagens aéreas nas operações e, por conseguinte a saturação tanto do efe vo
especializado quanto do aplicado no serviço ordinário, seja pelos constantes deslocamentos, seja pela
sobrecarga decorrente da demanda que precisa ser atendida, mesmo com a redução no efe vo, ainda
que sazonalmente.
A adequação do efe vo não se resume ao aspecto quan ta vo, ao reverso, tem se
revelado cada vez com maior clareza as demandas afins à necessidade de um efe vo heterogêneo na
sua qualificação, pois a a vidade policial, compreendida como um agir cole vo, demanda um conjunto
mul disciplinar de competências. A obtenção de tal diversidade nem sempre surge em um processo
seletivo para preenchimento de um mesmo cargo.
Por outro lado, tais competências não podem estar dissociadas do contexto da atuação
do policial rodoviário federal, de modo que, por exemplo: um analista de dados, um enfermeiro, um
psicólogo, um esta s co, um pedagogo, etc., todos devemestar inseridos no contexto policial para
que possam ter propriedade no estabelecimento de ações adequadas e compa veis com essa
realidade. Em suma, para além da formação estritamente policial, a Polícia Rodoviária Federal carece
de profissionais com formações específicas, não para atuar em um cargo apartado, mas como um
policial especializado: um esta s co-policial, um médico-policial ou, vice-versa: um policial-
estatístico, um policial-médico.
Temos atualmente em nosso quadro profissionais das mais diversas formações que,
mediante convocação, cons tuem comissões e atendem às demandas ins tucionais nas suas
respec vas áreas de formação, todavia entende-se que a Ins tuição não pode ficar a mercê da
aleatoriedade ou do acaso de ter ou de não ter profissionais em seus quadros com os perfis de
formação necessários. É preciso ter um quadro dimensionado e perene de policiais especializados,
principalmente em profissões regulamentadas, como a de Educadores Físicos, por exemplo.
A criação do quadro de especialistas, também colaborará para o aumento da percepção
de segurança pública, mediante a maior dedicação desse quadro às a vidades afins à sua área de
formação, reduzindo a necessidade de comissionamento e convocações do policiamento ordinário ou
especializado para o desenvolvimento de tarefas necessárias para ins tuição que transcendem ao
policiamento e fiscalização.
Nessa esteira a presente proposta vai ao encontro de possibilitar o desenvolvimento de
ações pela Polícia Rodoviária Federal que se coadunem com o aumento da percepção da segurança
pública, promovendo uma maior sensação de segurança pública no âmbito de sua circunscrição e
viabilizando assim melhores condições para uma segurança pública que seja mais efetiva.
E é nessa perspec va que a presente proposta inova ao trazer, além da ampliação do
quadro de policiais, a criação de um quadro de policiais especialistas, cujas atribuições não estarão
adstritas às picamente policiais, mas transbordarão para algumas especialidades, em consonância
com as demandas institucionais e a critério do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
 
3.3.5. Programa Colégio PRF
A Educação é dever e responsabilidade do Poder Público, mas sendo a base do bem
comum, também implica corresponsabilidade da sociedade como condição para o aperfeiçoamento do
desenvolvimento humano. Essa corresponsabilidade deve ser es mulada e disseminada na sociedade
mediante as mais diversas formas de par cipação a va, congregando ins tuições e pessoas como
exercício de cidadania. 
Par ndo desta premissa, necessário se faz reinventar a gestão do ambiente escolar e,
nessa linha, é desejável que ela se faça mais democrá ca, no sen do de promover e incen var a
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par cipação da Comunidade Escolar como todo, incluir professores, pais, alunos e lideranças da
comunidade nas decisões de caráter administrativo-pedagógico.
A pluralidade par cipa va não se resume a estes atores, porém se entende que a
par cipação é democrá ca quanto maior o número de agentes envolvidos, de forma que se possibilite
trazer para a instituição educacional transparência e disciplina.
Nesse contexto, a PRF pode desempenhar importante papel par cipa vo, ao contribuir
como agente intermediário entre todos os atores envolvidos na a vidade em questão, ao passo que
reforçar-se-á como instituição pública, cujos valores estão descritos no Plano Estratégico 2020-2028, a
saber: integridade, respeito, profissionalismo, excelência e transparência. 
Ademais, a inclusão de temas transversais, de forma integradora, propicia a efe va
integração interdisciplinar e contextualiza os saberes de diferentes disciplinas e áreas de
conhecimento.
Seja qual for a modalidade de par cipação privada, atualmente se compreende que a
melhor maneira de integrar a nova dinâmica de organização social com a educação propriamente dita
é a gestão democrá ca do ensino para que a escola possua meios de se aproximar da comunidade e,
ao mesmo tempo, para que o entorno da Unidade de Ensino tenha a oportunidade de par cipar do
processo de ensino de forma a va. Isso resulta na proposta trazida pela PRF em contribuir com as
políticas educacionais e fazer parte da formação dos cidadãos.
Resta claro que o projeto pedagógico deve seguir diretrizes delineadas pelo Ministério
da Educação aos moldes das necessidades locais. Nessa linha, tem-se como desiderato a
convergência de forças, visto a PRF possuir notória produção e catalogação de conhecimento,
mediante sua Universidade Corpora va (UniPRF), o que proporcionará à gestão escolar maiores
subsídios na tomada de decisões.
Ademais, a PRF atua na área de segurança pública, e esse é o estado de normalidade,
ordem pública, que assegura o pleno exercício de direitos individuais com o cumprimento de deveres,
pautados em valores, princípios e regras, chamados de ordem de polícia, e possibilita o convívio
pacífico dos cidadãos em uma sociedade. 
Salienta-se que a ordem de polícia é uma das fases do poder de polícia, poder esse que
significa a prerroga va de direito público que a Administração Pública possui para defesa do interesse
público, fazendo valer a supremacia do interesse público. 
Assim, a escola e a educação são fundamentais para a segurança pública e para o
convívio harmônico da sociedade, pois influenciam no comportamento do cidadão em formação, como
é o caso do aluno, reduzindo a violência social e contribuindo sobremaneira para as polí cas de
Segurança Pública.
 
4. ANÁLISE
A análise será dividida em dois tópicos, o primeiro composto de duas partes, cuja
primeira traçará as principais caracterís cas que demandam ajustes na atual estrutura da carreira de
policiais rodoviários federais, a segunda tratará das mudanças propostas.
No segundo tópico será tratado, inicialmente, sobre os aspectos constitucionais e legais
da proposta e, por fim, sobre os impactos sociais decorrentes da insuficiência na quantidade de PRFs.
4.1. CARREIRA ATUAL
Como já abordado no subitem histórico, a atual Carreira dos Policiais Rodoviários
Federais é de nível superior, possui 13.098 cargos, com promoção em quatro classes, totalizando 18
padrões.
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Os atuais ocupantes dos cargos estão segmentados em dois grandes grupos: os que
ingressaram até o advento da EC 103/2019, cuja paridade e integralidade de proventos foi garan da
nos termos do Art. 5º da referida Emenda Cons tucional e os que ingressaram após a sua
promulgação, que estão vinculados ao Regime de Previdência Complementar - RPC, com proventos
calculados pela média das contribuições e limitados ao teto do Regime Geral de Previdência Social.
A Carreira foi construída com pressupostos que deixaram de exis r para os novos
integrantes e tal premissa agrava ainda mais o descompasso do tratamento dado à Carreira
comparativamente a outras de mesmo nível e de atividades típicas e exclusivas de Estado.
Nessa perspec va se faz necessário demonstrar os pontos de caducidade da atual
estrutura da carreira, a fim de que se possa, com propriedade, entender a imperiosa necessidade da
aprovação das modificações aqui propostas, sob pena de, não o fazendo, impor a uma Ins tuição que
completará em breve 100 anos, uma carreira incapaz de atrair e manter em seus quadros,
profissionais que possam continuar a escrever os próximos capítulos de sua exitosa história.
 
4.1.1. Seleção e Formação
A seleção de novos integrantes para a Carreira dos policiais rodoviários federais é
cons tuída de duas etapas: a primeira de provas e tulos e exame psicotécnico e, a segunda, de curso
de formação.
Embora o formato apresente mais similaridades do que dessemelhanças com outros
concursos de nível superior, tem revelado a necessidade de importantes ajustes, não apenas no que
pertine à seleção, mas sobretudo nos aspectos atinentes à formação.
Nesse modelo o interessado pela carreira se inscreve para fazer as provas e, se ob ver
êxito, precisará dispor derecursos financeiros significa vos, além dos já inves dos na preparação,
para que possa se manter no certame. Os custos vão desde as despesas com exames médicos,
montagem de enxoval, reserva de hospedagem no local do curso de formação, despesas com
deslocamento rodoviário ou aéreo e o sustento até o pagamento do primeiro mês da bolsa após o
início do curso de formação.
Tal cenário torna-se ainda mais oneroso quando se leva em conta a inexistência de
vínculos mais seguros entre a Administração e os candidatos que, para par cipar da segunda etapa,
podem ter que deixar cargos que ocupem nas esferas estaduais e municipais, encerrar os vínculos
emprega cios e a vidades laborais informais sem qualquer garan a do estabelecimento do novo
vínculo, tanto em virtude de eventual não aprovação da segunda etapa, quando no lapso
eventualmente longo entre a aprovação final e o efetivo ingresso na carreira.
O inters cio rela vamente extenso entre a aprovação na prova obje va e a inves dura
no cargo é outro fator sensível, pois neste ínterim, não raramente os candidatos melhor posicionados
estão “sendo disputados” por outros certames e podem deixar a disputa pela carreira na PRF. Exemplo
disso foram os quase 100 (cem) que, mesmo tendo matrícula homologada no curso de formação, não
chegaram a ingressar na carreira ou nela não permaneceram, conforme demonstrado no gráfico
Quantidade Versus Etapa.
Ainda é preciso considerar que a formação dos candidatos é parte do processo sele vo,
de caráter eliminatório e também classificatório, o que afasta do ambiente pedagógico o espírito
colabora vo, prevalecendo o aspecto concorrencial, em prejuízo da formação. Também sob a
perspec va pedagógica é de se considerar a quan dade e a diversidade de competências cogni vas,
técnicas e a tudinais que precisam ser desenvolvidas simultaneamente em um intervalo
rela vamente curto (três a quatro meses), o que denota que o curso de formação comporta-se, de
fato, prevalentemente como um processo seletivo, em detrimento da formação.
O atual formato não possui espaço para sedimentação das competências, seja pela
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exiguidade do tempo ou pela ausência da possibilidade de aplicação prá ca por meio de estágios
monitorados. Terminado o curso de formação e uma vez inves do na carreira, os novos policiais saem
do ambiente acadêmico diretamente para as UOPs, onde a realidade trará uma quan dade e uma
complexidade de variáveis bem dis ntas das que são possíveis de se vivenciar em um ambiente
eminentemente acadêmico.
Finalmente, tudo que é construído e desenvolvido com o aluno, durante o curso de
formação, fica exclusivamente com ele, posto que não é instado à produção de conhecimento, mas tão
somente à aprovação nessa etapa do processo seletivo.
 
4.1.2. Atratividade e Fixação
Não se pode desconhecer o fascínio que a a vidade da carreira de Policial Rodoviário
Federal exerce sobre parcela significa va dos que se iden ficam com a missão ins tucional da PRF.
Aliado a isso, a própria evolução da Ins tuição, seja de seus resultados ou da sua visibilidade social,
também tem catalisado a atra vidade pela carreira. Apesar disso, o atual formato da carreira tem
imposto certa redução nessa atratividade.
Para além dos aspectos intrínsecos da a vidade, um dos pilares da atra vidade residia
na expecta va de uma aposentadoria com menor tempo de contribuição, sem idade mínima, com
integralidade e paridade de proventos. Residia, pois com o advento da EC 103/2019 ex nguiu-se a
integralidade e a paridade de proventos, estabeleceu-se a idade mínima de 55 anos, além da
majoração dos tempos de contribuição para 35 anos e de a vidade policial para 25 anos ,
independentemente do sexo. É inconteste a redução da atratividade da carreira nesses aspectos.
Denotam essa realidade a ocorrência de candidatos que deixam de concluir o curso de
formação, bem como a daqueles que, mesmo concluindo com êxito, deixam de seguir a carreira, seja
saindo para outras carreiras ou sequer tomando posse no cargo, conforme já registrado no Gráfico
Quan dade Versus Etapa. Uma outra dimensão que revela essa realidade é a da ocorrência de
vacâncias. Segundo informações do SIAPE, o número de saídas da carreira para posse em cargo
inacumulável cresceu 400% entre 2018 e 2020. Enquanto em 2018 saíram 09 PRFs, em 2020 saíram
36.
A evolução desses números pode ser melhor compreendida a partir do seguinte gráfico:
 
Gráfico 7 - Variações da Quantidade Vacâncias por Exonerações a Pedido e Posse em outros Cargos
Inacumuláveis entre 2010 e 2020
Nota Técnica 11 (42157959) SEI 08650.057960/2022-12 / pg. 17
Fonte: DW-SIAPE
 
A cada certame eleva-se o patamar de exigência na preparação dos candidatos à
carreira de Policial Rodoviário Federal, de modo que, não raramente, uma pessoa que logra êxito no
certame, mais cedo ou mais tarde, poderá reunir condições de optar entre permanecer ou não na
carreira. Desse modo, não basta que a carreira seja atra va, mas é mister que tenha condições de
fixar os melhores talentos.
Não se pode aqui confundir a fixação de talentos, com a inviabilização da saída, como
ocorre com os que poderão não reunir a saúde financeira necessária à aposentadoria com redução de
proventos, sendo por isso forçados a permanecer em atividade. Não é disso que se cuida.
A capacidade de fixação dos melhores profissionais na carreira passa pela expecta va
de desenvolvimento profissional, de ter segurança jurídica para sua atuação, de ter perspec va de
desafios profissionais tangíveis a curto, médio e longo prazo, de não ficar estagnado no “topo” de
uma carreira curta ou, na melhor das hipóteses em que o alcance desse “topo” não se compa bilize
com todo o potencial do indivíduo.
Para além do incremento salarial decorrente da evolução na carreira, deve haver, em
paralelo, um desenvolvimento das atribuições em seus níveis de complexidade e de responsabilidade,
o que em certa medida é contemplado pela estrutura atual, todavia a existência de apenas dezoito
padrões, faz com que o “topo” da carreira possa ser alcançado ao fim de dezessete anos de carreira.
Antes da EC 103/2019, bastavam vinte anos de carreira para que o PRF a ngisse o
tempo mínimo para aposentação, de modo que a relação entre tempo para o topo / tempo para
aposentadoria era de 17 / 20, ou seja, uma relação de 85%, todavia o tempo para aposentadoria
passou para 25, de modo que, se for man da a chegada no “topo” da carreira em dezessete anos,
implicará a imposição de uma permanência mínima de 08 (oito) anos sem qualquer perspec va de
evolução.
Essa permanência congelada no “topo” da carreira con nuará, mesmo após o PRF ter
completado os 25 anos de carreira, a fim de que complete também a idade mínima de 55 anos. A título
de exemplificação, alguém que tenha ingressado na carreira aos 25 anos de idade, completará o
tempo de carreira aos 50 anos de idade, mas não terá a ngido idade mínima, sendo necessário
permanecer por mais cinco anos sem qualquer perspectiva de desenvolvimento na carreira.
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E é nesse cenário que a atual carreira não se revela suficientemente interessante para
fixar o PRF ingresso pós EC 103/2019, es mulando-o a busca por outras carreiras que apresentem
melhores perspec vas, tanto de desenvolvimento profissional, quanto remuneratório. Se essa saída
alterna va se confirma nos primeiros anos de carreira, representa a perda de todo o inves mento na
formação, mas quanto mais o tempo passa, maior é o prejuízo ins tucional, pois toda a exper se
desenvolvida ao longo da carreira também é perdida quando o PRF efe var sua mudança para outros
quadros profissionais.
O turnover de profissionais é um fenômeno altamente danoso para as ins tuições em
geral e, no caso das que atuam na segurança pública, os impactos são bem maiores. A reposição de
um policial que deixa a Ins tuição não pode ser entendida como uma mera subs tuição, pois não há
no “mercado” profissionais parauma sucessão instantânea. Fazem-se necessários investimentos, bem
como tempo de a vidade para que o novo possa, paula namente, reves r-se das competências do
que saiu.
Por outro lado, tem prevalecido na Administração, a interpretação literal do disposto no
Art. 7º da Lei nº 9.654, de 1998, quanto à impossibilidade, devido à previsão de dedicação integral e
exclusiva, que os integrantes da carreira dos policiais rodoviários federais não podem dedicar-se a
quaisquer outras a vidades remuneradas, tampouco acumular cargos públicos, ainda que haja
permissivo cons tucional. Esse entendimento parece não mais se coadunar com a nova realidade
imposta pela EC 103 de 2019, posto que o PRF não pode buscar garan r os a vos necessários à
manutenção de sua renda após a aposentadoria limitada ao teto do RGPS.
Desse modo, o fascínio pela a vidade policial é muito importante para definir o
ingresso na carreira, mas não é o único elemento para tanto. É preciso que a carreira tenha seus
atra vos intrínsecos, bem como elementos que favoreçam o interesse pela fixação do profissional,
afastando a ocorrência de vacâncias precoces. Fica evidente que a perda da aposentadoria policial
contribuiu para a perda de atratividade pela carreira e fator de fixação, sendo inexorável reestruturar a
carreira de Policial Rodoviário Federal para adequá-la à nova realidade cons tucional, notadamente a
decorrente da EC 103/2019.
 
4.1.3. Investimentos em Formação e Capacitação
De acordo com os números do curso de formação do certame de 2018, com formação de
novos policiais rodoviários federais nos anos de 2019 e 2020, o custo por policial gira em torno de R$
34.000,00, no formato atual em que o curso de formação é uma etapa da seleção.
Tal inves mento pode não ser rever do em favor da segurança pública caso, por
exemplo, o candidato deixe de ingressar na carreira por qualquer mo vo, por isso é tão importante
uma carreira que seja tão atra va quanto capaz de fixar o maior número possível dos que nela
ingressarem.
Durante a carreira o policial é subme do a cursos de atualização, aperfeiçoamento e
especialização que o credenciam não só ao desenvolvimento na carreira por meio das promoções, mas
também o habilitam a integrar quadros técnicos especializados. Tais cursos, no ano de 2019,
carrearam investimentos da ordem de R$ 13.000.000,00, segundo dados da UNIPRF.
Tomando como referência esses inves mentos, podemos es mar com certo grau de
precisão que, ao longo dos atuais 25 anos de carreira, considerando os inves mentos na formação,
atualização, aperfeiçoamento e especialização, os inves mentos ins tucionais ultrapassariam os 1,25
bilhões de reais.
Sem dúvida que os inves mentos, vistos sob tal paradigma, revelam-se vultosos,
todavia a ausência ou a precarização de tais inves mentos teriam um enorme prejuízo ins tucional e
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social, impactando diretamente na efe vidade da prestação de serviços à sociedade, no
enfrentamento à criminalidade, na segurança do trânsito e do transporte de pessoas e riquezas nas
rodovias e estradas federais.
 
4.1.4. Jornada de Trabalho
Segundo o que dispõe a Lei nº 9.654, de 1998, em seu Art. 9º:
Art. 9º. É de quarenta horas semanais a jornada de trabalho dos integrantes da
carreira de que trata esta Lei.
Em virtude disso, os integrantes dessa carreira não estão sujeitos às regras comuns aos
servidores públicos em geral, conforme preconizado no Art. 19, §2º da Lei nº 8.112, de 1990:
Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das atribuições
per nentes aos respec vos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho
semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e
oito horas diárias, respectivamente.
§ 1º. O ocupante de cargo em comissão ou função de confiança submete-se a regime
de integral dedicação ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo ser
convocado sempre que houver interesse da Administração.
§ 2º O disposto neste ar go não se aplica a duração de trabalho estabelecida em leis
especiais.
Por conseguinte, inaplicáveis também as normas contidas no Decreto nº 1.590, de 1995,
que dispõe sobre sobre a jornada de trabalho dos servidores da Administração Pública Federal direta,
das autarquias e das fundações públicas federais, e dá outras providências.
Essa realidade norma va não se compa biliza com as peculiaridades do cumprimento
da jornada semanal de trabalho das carreiras policiais em geral e dos policiais rodoviários federais em
especial.
Um dos marcos regulamentares da jornada semanal de trabalho da carreira reside na
Instrução Norma va 99/2017/DG/PRF, por meio do qual a Ins tuição, no exato limite de seu poder
regulamentar, dispôs sobre escala de serviço, plantões, permutas e compensações, presentes no
cotidiano dos policiais, mas com lastro apenas em costumes administrativos.
A mesma Lei nº 9.654, de 1998, em seu Art. 7º, assim dispõe:
...
Art. 7º Os ocupantes de cargos da carreira de Policial Rodoviário Federal ficam
sujeitos a integral e exclusiva dedicação às atividades do cargo.
...
De forma não surpreendente, tem prevalecido no âmbito da Administração a
interpretação literal, grama cal mesmo, desse disposi vo, conferindo contornos totalmente
restri vos, a ponto de vedar-se o desempenho de a vidades privadas de qualquer natureza, ainda que
não reste demonstrado prejuízo às atividades do cargo.
Esse disposi vo já se revelava totalmente anacrônico antes mesmo do advento da EC
103/2019 e, para os que ingressaram na carreira após a sua promulgação consiste, de fato, em
obstáculo ao desempenho de outras a vidades econômicas, indispensáveis à formação dos a vos
financeiros que os ajudarão a manter o sustento quando os proventos de aposentadoria forem
limitados ao teto do RGPS.
As dificuldades relacionadas a esse disposi vo tem fomentado a exoneração a pedido
de policiais rodoviários federais que possuem condições de atuar também na inicia va privada, nas
mais diversas áreas, trazendo prejuízos irreparáveis à Ins tuição, a exemplo de policiais rodoviários
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federais que também são médicos e que deixam de disponibilizar suas ap dões no âmbito da atuação
da PRF.
A Ins tuição PRF também perde ao deixar de ter seus profissionais inseridos no
contexto acadêmico, não apenas na área jurídica, mas também nas áreas de saúde, tecnologia da
informação, engenharias, pedagógica, logís ca, etc… No universo corpora vo, o
networking profissional é o ativo não apenas das pessoas, mas principalmente das instituições.
É preciso registrar que essa pretensa exclusividade, compreendida como total
impossibilidade de acumulação de cargos acompanha o policial rodoviário federal até mesmo após a
aposentadoria, nos termos do Art. 37, §10 da CF88:
...
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes
do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função
pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Cons tuição, os cargos
eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
...
Desse modo, forçoso é concluir que, ao vedar a acumulação de cargos ao policial
rodoviário federal a vo, tal vedação o acompanha na aposentadoria, empeçando que a Administração
possa aproveitar toda exper se desenvolvida ao longo da carreira policial em outras a vidades, como
por exemplo, o magistério.
É de uma clareza solar a necessidade de aperfeiçoar a regulamentação da jornada de
trabalho da carreira, bem como a expressa autorização para cumulação de cargos em igualdade de
condições com as demais carreiras das a vidades picas e exclusivas de Estado, mormente
considerando a criação do cargo de Oficial de Polícia Rodoviária Especialista, cujo provimento
dependerá de formação específica.
 
4.1.5. Direitos e Prerrogativas
A Lei nº 9.654, de 1998, traz atribuições gerais do cargo de Policial Rodoviário Federal,
que escalonaem responsabilidade e complexidade conforme as classes da carreira. À terceira classe
compete a vidades de fiscalização, patrulhamento e policiamento ostensivo, atendimento e socorro
às ví mas de acidentes rodoviários e demais atribuições relacionadas com a área operacional e,
conforme a movimentação ver cal na hierarquia, são atribuídas a vidades operacionais e
administra vas envolvendo direção, planejamento, coordenação, supervisão, controle e avaliação
administra va e operacional, coordenação e direção das a vidades de corregedoria, inteligência e
ensino, bem como a ar culação e o intercâmbio com outras organizações e corporações policiais, em
âmbito nacional e internacional.
De fato, o que o texto legal fez foi atribuir ao policial rodoviário federal recém ingresso
no Órgão a vidades operacionais e, conforme sua maturação na carreira, também o controle
administra vo do Órgão. Embora o rol pareça expressivo, não traz atribuições materiais para o
desenvolvimento de suas funções operacionais.
A lei aponta como a vidades operacionais a fiscalização, patrulhamento e policiamento
ostensivo, sem, porém, defini-las, e o atendimento e socorro às ví mas de acidentes rodoviários, além
de “demais atribuições relacionadas com a área operacional''. Porém, a norma apenas “nomeia” as
a vidades, sem disciplinar ou traçar parâmetros mínimos, sendo que os conceitos de patrulhamento
ostensivo e policiamento ostensivo, até o presente momento, não possuem definição legal, exis ndo
apenas a definição da fiscalização de trânsito no Código de Trânsito Brasileiro.
Além destas atribuições, a Lei nº 9.654, de 1998, traz a imposição de dedicação integral
e exclusiva ao cargo, que deve receber interpretação conforme à Cons tuição Federal para não
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impedir o exercício das a vidades de docência, critério de ocupação dos cargos em comissão e
funções de confiança, jornada semanal, atribuir à ato infralegal a regulamentação das promoções e
progressões, valores do subsídio da carreira e sua aplicação aos aposentados e pensionistas.
O Decreto nº 1.655, de 1995, e que possui natureza autônoma, derivada diretamente
das competências previstas nos incisos IV e VI do art. 84 da Cons tuição, atribui a vidades à PRF,
porém, semelhante ao texto da Lei nº 9.654, de 1998, sem esclarecer os conceitos postos.
A única lei que trata de uma atribuição da PRF é o Código de Trânsito Brasileiro, que
trata das competências administra vas limitadamente relacionadas à fiscalização de trânsito nas
rodovias e estradas federais, sem mencionar qualquer medida rela va ao registro e apuração dos
crimes de trânsito e, muito menos, dos delitos em geral.
O cenário de não definição de atribuições claras e obje vas termina por trazer
insegurança jurídica para os policiais rodoviários federais como servidores públicos, e para a PRF
como ins tuição pública que tem sua eficiência prejudicada, fazendo com que suas entregas fiquem
em patamares inferiores aos que seriam esperados.
A ausência de delimitação clara das atribuições e a vidades da PRF contribui para que
o Órgão encontre resistências setoriais em sua atuação, tanto de outros órgãos e agentes públicos,
quanto de particulares submetidos à fiscalização.
Além disso, não há lei que trate de questões rela vas às prerroga vas dos ocupantes
do cargo de Policial Rodoviário Federal, como a definição de um termo no qual a corporação deverá
disponibilizar equipamentos operacionais novos e em plenas condições de uso ou ainda traçando
requisitos de qualidade para sua aquisição. Atualmente, a única norma clara que trata de prerroga va
dos policiais rodoviários federais é o ar go 2º do Decreto nº 1.655, de 1995, que prevê que o
documento de iden dade funcional do policial concederá porte de arma e livre acesso aos locais sob
fiscalização do Órgão, nos termos da legislação em vigor.
Também é de se destacar a discussão acerca do regime disciplinar a que os policiais
rodoviários federais estão sujeitos. Embora seja forçoso reconhecer os pontos de tangência entre os
deveres e proibições, infrações e penalidades previstas para os servidores públicos federais pela Lei
nº 8.112, de 1990, não se pode deixar de considerar as evidentes lacunas decorrentes de sua
inespecificidade e, em alguns pontos até mesmo uma total inaplicabilidade, em relação às condutas
que se esperam de um servidor investido no Poder de Polícia.
Nesse sen do a Lei nº 4.878, de 1965, que trata do regime jurídico peculiar dos
funcionários policiais civis da União e do Distrito Federal, reconhece a necessidade de disciplinar
especificamente os deveres e prerroga vas dos policiais man dos pela União, em face da natureza
dos serviços prestados, todavia o contexto de sua elaboração e seus paradigmas não parecem se
coadunar com as exigências de um regime disciplinar que, para além dos aspectos formais,
eminentemente puni vos, abrace medidas que fomentem posturas proa vas e conectadas por parte
dos integrantes da Carreira
Como foi demonstrado nesta Nota Técnica, a carreira de Policial Rodoviário Federal teve
sua gênese no serviço público civil comum, passando a ser considerado parte integrante da segurança
pública em 1988. Por outro lado, passados 33 anos da promulgação da Cons tuição Cidadã, não foi
editada norma jurídica que discipline o regime jurídico da PRF, notadamente acerca do regramento de
transgressões disciplinares.
Logo, como regra, aplica-se aos servidores da PRF a Lei nº 8.112, de 1990, criada sob a
perspec va geral de servidores civis e que, por conta disso, traz graves distorções para a sua
aplicação no âmbito da PRF.
A tulo de exemplo, o inciso VII do ar go 132 da Lei nº 8.112, de 1990, pune com
demissão a ofensa sica, em serviço, a servidor ou par cular, salvo em legí ma defesa própria ou de
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terceiro. Uma eventual lesão causada a um indivíduo que está sendo conduzido pode gerar, para um
policial rodoviário federal subme do à Lei nº 8.112, de 1990, a mesma pena que um servidor do
Ins tuto Nacional do Seguro Social receberá caso agrida um cidadão que vai até uma agência do
Órgão para retirar uma certidão.
Um outro contexto importante é o da forma de aplicação das penalidades, notadamente
a de suspensão. A tulo de exemplificação, um servidor que é punido com 10 (dez) dias de suspensão,
além de não trabalhar durante esse período, tem descontados 10/30 da sua remuneração, todavia isso
é inaplicável ao policial que cumpre escala de revezamento, pois nesse intervalo ele pode estar
escalado para trabalhar 02 (dois) ou 03 (três) plantões de 24h, o que implica dizer que, aplicando a
regra da 8.112 de 1990, o policial que es ver escalado dois plantões terá o desconto de 10 dias, mas
efe vamente deixará de trabalhar apenas dois dias, o mesmo ocorrendo com o que esteja escalado
para três dias. Nessa mesma esteira, considerando o cumprimento de 01 (um) dia de suspensão, seria
descontado 1/30 da remuneração do policial, mas apesar dele deixar de trabalhar por um dia, estaria
escalado para um turno de 24h.
Na verdade esse contexto é bem mais complexo, pois existem turnos diversos: 24h, 12h,
13h, 16h, além de turnos cumpridos no contexto de operações, o que torna imprópria a aplicação da
penalidade de suspensão apenas em dias, que é a forma concebida pela Lei nº 8.112, de 1990.
De acordo com a proposta, a suspensão será aplicada de acordo com o regime de
cumprimento de jornada pelo policial, sendo em dias, para os que cumprem expediente administra vo
e em plantões para os sujeitos à escala de revezamento, tendo por base de cálculo do desconto ou da
multa, na segunda hipótese, não o valor do dia, mas o valor correspondente às horas que deixaram de
ser cumpridas em virtude da aplicação da penalidade.
Isto tudo posto, é imperiosa a necessidade de disciplinar, além das atribuições, direitos
e prerroga vas, também o regime disciplinar da carreira de Policial Rodoviário Federal, todavia não
parece ser adequadoque esse regime afaste completamente a sujeição também aos preceitos
disciplinares previstos na Lei nº 8.112, de 1990, no que não houver incompa bilidades com a natureza
policial.
Para tanto a proposta circunscreve o contexto disciplinar aos atos relacionados ao
exercício operacional da a vidade policial, delineando de forma clara que, a atuação eminentemente
policial, com suas nuances e peculiaridades, terá seus aspectos disciplinares jungidos às previsões
constantes da Lei da Carreira, deixando a atuação não policial albergada no Regime Jurídico dos
Servidores Públicos Civis da União.
A norma especial cuida dos aspectos disciplinares apenas sob o prisma do direito
material, substan vo, cuidando da definição de ins tutos e pos infracionais próprios, estabelecendo
deveres e vedações rela vos ao exercício operacional das a vidades policiais, bem como a dosimetria
da aplicação das penalidades, no entanto mantém-se na Lei nº 8.112, de 1990, não apenas as
definições acerca das penalidades, mas sobretudo a norma disciplinar no seu aspecto processual,
adje vo, mas também a sua u lização subsidiária, tanto para suprir as lacunas da Lei da Carreira,
quanto para regular, integralmente, o direito disciplinar relativamente às condutas em geral.
O que se busca com a fixação de um regime disciplinar específico para os atos
relacionados ao exercício operacional da a vidade policial é a concretude do princípio da isonomia,
reconhecido como medida de jus ça a par r do pressuposto de que se deve tratar os iguais com
igualdade e os desiguais com desigualdade, na exata medida das suas desigualdades, o que confere
maior adequação aos deveres e vedações relacionadas a mister policial, bem como compa biliza a
imposição de penalidades decorrentes de eventuais inobservâncias e violações. Ao mesmo tempo, ao
manter a aplicação subsidiária do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, abarcam-se
todos os demais aspectos rela vos à disciplina, relacionados ao exercício de atos não rela vos ao
exercício operacional da atividade policial.
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A proposta tanto supre lacunas do Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da
União, quanto afasta as disposições nele con das que sejam inaplicáveis, ambíguos e até mesmo
excessivamente abertos, repercu ndo assim em uma maior segurança jurídica para o exercício do
Poder de Polícia, que tangencia direitos e garantias constitucional e legalmente protegidos.
 
4.2. CARREIRA PROPOSTA
A nova carreira proposta passa a contar com um total de 18.000 cargos, sendo 17.000
de Oficiais de Operação e Gestão e 1.000 de Oficiais Especialistas, com promoção em cinco classes,
totalizando 20 padrões.
A nova estrutura foi concebida a par r dos novos marcos cons tucionais e
previdenciários inaugurados com o advento da Emenda Cons tucional 103/2019, segundo os quais os
integrantes que ingressaram na carreira a par r da sua promulgação passam a ter sua contribuição
previdenciária e, por conseguinte os proventos de aposentadoria, limitados ao teto do Regime Geral
de Previdência Social.
A a vidade policial perdeu um dos seus principais atra vos, residente em uma
aposentadoria com proventos integrais e com paridade de reajuste em relação aos policiais a vos.
Para que se tenha uma dimensão de tal impacto, considerando o subsídio atual do fim de carreira, a
redução seria da ordem de 60%, aproximadamente, de modo que após a aposentadoria o policial terá
que passar a se manter com as economias que conseguiu fazer durante a vida, tendo em vista que
seus proventos serão de 40% em relação ao que recebia na ativa.
Tal realidade imporá não apenas que o policial prorrogue ao máximo o momento de
aposentadoria, mesmo após ter contribuído por, no mínimo, 35 anos, ter não menos que 25 anos de
carreira policial e 55 de idade, independentemente do sexo, nos termos previstos no Art. 10, Inc. I da
EC 103/2019, mas também legará a Ins tuição um efe vo policial envelhecido, cujas aposentadorias
deverão ocorrer exclusivamente pelo atingimento da idade, aos 75 anos:
...
Art. 10. Até que entre em vigor lei federal que discipline os benefícios do regime próprio
de previdência social dos servidores da União, aplica-se o disposto neste artigo.
[...]
I - o policial civil do órgão a que se refere o inciso XIV do caput do art. 21 da
Constituição Federal, o policial dos órgãos a que se referem o inciso IV do caput do art.
51, o inciso XII I do caput do art. 52 e os incisos I a I I I do caput do art. 144 da
Cons tuição Federal e o ocupante de cargo de agente federal penitenciário ou
socioeduca vo, aos 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, com 30 (trinta) anos de
contribuição e 25 (vinte e cinco) anos de efe vo exercício em cargo dessas carreiras,
para ambos os sexos;
...
Tomando como ponto de par da a atual distribuição do efe vo por faixa etária,
considerando todo os a vos, podemos ter uma dimensão da nossa realidade, consoante demonstrado
no gráfico a seguir:
 
Gráfico 8 - Distribuição do Efetivo por Faixa Etária em maio de 2021
Nota Técnica 11 (42157959) SEI 08650.057960/2022-12 / pg. 24
Fonte: DW-SIAPE
 
Ao analisarmos esse mesmo gráfico, mas apenas para os que ingressaram após a EC
103/2019, podemos projetar que, daqui a trinta e cinco anos nossa pirâmide etária, considerando
apenas a reposição do efetivo, estará parecida com a do gráfico a seguir:
 
Gráfico 9 - Projeção da Distribuição do Efetivo por Faixa Etária em maio de 2056
Fonte: DW-SIAPE
 
Esse é um dos principais desafios da nova carreira: conferir aos ingressos após a EC
103/2019, as condições de, ao longo de carreira, amealhar recursos financeiros suficientes para
garan r-lhes a dignidade de poder optar por permanecer na a vidade apenas enquanto possuir
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condições de atuar com segurança e não para evitar a abrupta redução decorrente da limitação dos
proventos de aposentadoria ao teto do RGPS.
 
4.2.1. Seleção e Formação
A proposta busca aperfeiçoar o processo de seleção, iniciando com a re rada do curso
de formação da fase sele va. Desse modo, uma vez selecionado o candidato deverá ser inves do no
cargo e somente em seguida fazer o curso de formação.
Dota-se a seleção de uma maior segurança jurídica ao inserir, textualmente, a previsão
da realização de uma prova obje va e uma prova discursiva, bem como do exame de ap dão sica,
todos de caráter eliminatório e classificatório, que até então possuíam caráter meramente editalício.
Num segundo momento do processo de seleção, a proposta traz para o patamar legal a
previsão do exame de direção veicular e da inves gação social, ambos altamente relevantes. Não
raramente chegam aos cursos de formação condutores recém-habilitados ou com pouca ou quase
nenhuma prá ca na condução de veículos, o que demanda significa vos inves mentos de tempo e
recursos durante o curso de formação, até mesmo para o desenvolvimento de competências básicas
ao volante.
Não obstante aos inves mentos realizados durante o curso de formação na disciplina
de condução de viaturas policiais, a formação dos condutores em geral não lhes confere algumas
ap dões mínimas para que possam ser subme dos, de forma plena, às exigências técnicas para
condução de uma viatura policial em cenários em que essas exigências são mais elevadas. Candidatos
muito capazes nos aspectos de formação acadêmica e também nos aspectos afins à preparação sica
chegam à Universidade Corpora va da Polícia Rodoviária Federal com lacunas importantes na
condução veicular.
Assim sendo, a formação de um policial rodoviário federal para a condução de viaturas
não pode prescindir de um condutor bem formado e com um certo patamar de ap dão básica, daí a
relevância de que, no processo de seleção, haja previsão de um exame veicular, a fim de evitar o
ingresso na carreira de pessoas sem as ap dões mínimas que o credenciem ao aprendizado da
condução de viaturas policiais. Do contrário, a ins tuição con nuará sendo

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