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Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Dr. Filipe Martins de Mello ARTROPATIAS INDUZIDAS POR CRISTAIS 1. CASO CLÍNICO 01 L.I.S., homem, branco, 39 anos, casado, natural e procedente de SP, queixa de dor em tornozelo E HDA: Paciente refere quadro de dor em tornozelo E iniciado há 8h no meio da madrugada ao chegar em casa do bar onde passara todo o dia de ontem. Dor teve progressão rápida atingindo seu máximo em 4h. Associado a dor, percebeu aumento de volume no mesmo tornozelo, ficando inclusive incapacitado de calçar seu calçado. Refere dois episódios prévios semelhantes (um deles há 5 anos e outro há 1 ano) de dor e aumento de volume agudos em primeiras metatarsofalangianas (primeiro episódio à D/ segundo episódio à E. ISDAS: Nega faringite recente, queixas oculares, neurológicas, respiratórias, cardiovasculares, gastrintestinais, geniturinárias. AP: HAS, DM, Dislipidemia, Obesidade grau I. Faz uso de hidroclorotiazida, atenolol, sinvastatina e metformina. Paciente com síndrome metabólica. Utilizando diurético. História social e hábitos: trabalhador da construção civil / etilista 3 garrafas de cerveja/dia. EF: ● BEG, afebril, corado, hidratado. ● AC: RCR 2T BNF sem sopros. ● AP: MV + bilat sem RA. ● Abdome: plano, RHA+, depressível, sem massas ou visceromegalias. ● Marcha: deambula com dificuldade, sem apoiar pé E por completo (incapacidade funcional devido a dor). ● Músculo esquelético: aumento de volume em tornozelo E, com restrição à movimentação passiva e ativa, eritema e calor na topografia da articulação. Movimentação passiva: o paciente examinado não exerce nenhuma força muscular, quem faz o movimento é o examinador. Movimentação ativa: o próprio paciente faz a contração muscular para haver o movimento. Tornozelo direito normal. Tornozelo esquerdo com aumento circunferencial (artrite) Avaliação: artrite de tornozelo Plano: artrocentese ARTROCENTESE: Toda monoartrite aguda DEVE ser puncionada; por caráter diagnóstico e terapêutico e para descartar artrite séptica (30% de mortalidade nos idosos). Líquido sinovial do paciente: ● Aparência: amarelo citrino / viscosidade diminuída ○ O líquido sinovial deve ter alta viscosidade, pois serve para lubrificar a cavidade articular. ○ Quando há inflamação, menor a viscosidade ● Celularidade: 60.000 céls A classificação da paciente do caso, é classe II (líquido inflamatório). Classe II Classe III Classe IV No paciente, exames solicitados no líquido sinovial: ● Bacterioscopia: negativo; ● Cultura: negativo ● Pesquisa de cristais: presença de cristais pontiagudos com birrefringência (polarização) negativa, alguns fagocitados por macrófagos ARTROPATIAS INDUZIDAS POR CRISTAIS Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental Artropatias microcristalinas = artropatias induzidas por cristais = doenças induzidas por deposição de cristais. Grupo de enfermidades articulares e periarticulares ocasionadas por inflamação induzidas pela presença de cristais nesses tecidos. Cristal de monourato de sódio (ácido úrico) Pirofosfato de cálcio (pseudogota) Hidroxiapatita 2. GOTA Artropatia por deposição de cristais de ácido úrico (monourato de sódio) provenientes de líquidos saturados como urato, produto final da purina. Hiperuricemia: ● > 7,0 mg/dL (homens) ● > 6,5 mg/dL (mulheres) ● 6,8 mg/dL é a saturação de urato nos líquidos corporais ○ Saturação é o último ponto onde consegue dissolver uma substância dentro da água, depois daquilo vem precipitação Epidemiologia: Mais comum em homens, com pico na 5ª década de vida; Raro em mulheres antes da menopausa → estrogênio aumenta a excreção renal de ácido úrico. Patogênese: Urato: produto final da degradação de purinas, por ausência do gene que decodifica a enzima urato oxidase, a qual produz composto mais soluto conhecido como alantoína. A quantidade de urato depende da ingesta, síntese e taxa de excreção, podendo em 20% dos casos resultar de superprodução e em 80% dos casos de uma baixa excreção, ou uma combinação dos dois Na crise aguda de gota, os cristais iniciam atividade inflamatória dependendo fatores, como o tamanho dos cristais, as proteínas que os envolvem e as células que os encontram primeiro ● O cristal é reconhecido e fagocitado, liberando citocinas e quimiocinas que atraem células inflamatórias para o local onde houve a fagocitose → cascata explosiva. As duas fases finais são reguladas pela enzima xantina oxidase (4) que é a enzima bloqueada pelo alopurinol. Os humanos não tem a urato oxidase, enzima que quebra o ácido úrico em alantoína que é livremente excretada. Locais de crise: Áreas distantes do centro de calor do corpo e submetidas a traumas repetitivos tendem a precipitar mais crises de gota. Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental ● Local mais frequente de gota é na 1ª metatarsofalangeana, já que é o local mais distante do calor do corpo e é a articulação que está mais submetido a traumas repetitivos. Podagra Gonagra Fatores de crise: ● Alimentar (proteica – ácido nucleico) e alcoólica (cerveja) ● Trauma articular ● Medicações (diurético, AAS, pirazinamida) ● Desidratação e IRA Evolução e diagnóstico: Gota aguda intermitente Monoartrite hiperaguda, autolimitada (3-7 dias), com intervalo intercrítico prolongado Quanto mais distal, mais típico (MMII – dedão do pé, dorso do pé, tornozelo, joelho) Fatores desencadeantes: bebida alcóolica, desidratação, medicações (aspirina, diurético tiazídicos), trauma Diagnóstico: artrocentese como padrão ouro ● Líquido sinovial inflamatório e com cristais pontiagudos com birrefringência negativa na luz polarizada – fagocitados por macrófagos ● Se quadro típico, autoriza-se não puncionar ○ Quadro típico: inflamação articular súbita, comprometimento monoarticular de 1º MTF unilateral, com mais de uma crise de artrite aguda ⬇ intervalos começam a encurtar progressivamente e se transformam⬇ Gota tofácea crônica Poliartrite e crises perenes (o tempo todo) Tofos: aglomerados de cristais de monourato de sódio envolto por células do sistema fagocitário Diagnóstico: presença de tofos ● Diagnóstico diferencial: nódulo reumatoide, nódulo subcutâneo da febre reumática. ● Geralmente não se opera, pois é um material bastante amorfo. Avaliação complementar: ● Hiperuricemia (pode estar normal ou baixo durante crise) ● RX: achados tardios (gota tofácea crônica) ● Uricosúria: para definir o mecanismo ○ Hiperprodutor: ácido úrico alto no sangue e na urina alta ○ Hipo excretor: ácido úrico alto no sangue e baixo na urina Tratamento: Controle de crise AINE (ibuprofeno, diclofenaco), colchicina, corticoide sistêmico ou intra-articular Profilaxia de crise Colchicina, principalmente no início do hipouricemiante Redução de ácido úrico Dieta pobre em purinas; Inibidor da síntese (alopurinol) e uricases (rasburicase) Uricosúricos (benzbromarona, narcaricina) Não iniciar hipouricemiante durante crise, pode piorar Alvo: < 6 (não tofáceo) e < 5 (tofáceo) Controle de comorbidade Esteatose, DM, HAS, DLP; Associação frequente com resistência insulínica e síndrome metabólica Estudos indicam ácido úrico como possível fator de risco cardiovascular 3. CASO CLÍNICO 02 D.R., mulher, branca, 67 anos, desquitada, natural e procedente de Itaquera, com queixa de dor em joelho D HDA: Paciente dá entrada no AMA referindo quadro de dor em joelho D há cerca de 6 meses. Refere que há 2 dias houve piora muito significativa da dor, inclusive com aumento de volume e calor local. Relaciona a piora com caminhada distância de 3 km para ir da feira até sua casa no dia anterior à piora. Hoje, ao tentar sair da cama, teve um falseio no mesmo joelho e sofreu queda de própria altura, porém sem queixa de dor em outras topografias. Refere que há cerca de um ano teve quadro de dor e aumento de volume em punho E com resolução espontânea e sem diagnóstico específico ISDAS: ● Nega febre, uso de medicações novas, trauma no joelho ● Nega queixas neurológicas, respiratórias, cardiovasculares, gastrintestinais, genitourináriase cutâneas Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental AP: ● HAS, DM e obesidade mórbida ● Faz uso de hidroclorotiazida, losartana, metformina, insulina e AAS História social e hábitos: diarista / nega etilismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas AF: pai com histórico de gota / mãe hipertensa / mãe com osteoartrite de mãos. EF: ● BEG, afebril, corado, hidratado. ● AC: RCR 2T BNF sem sopros ● AP: MV + bilateralmente, sem RA. ● Abdome: plano, RHA+, depressível, sem massas ou visceromegalias ● Marcha: recusa-se a deambular ● Músculo esquelético: aumento de volume em joelho D, com restrição à movimentação passiva e ativa, eritema e calor na topografia da articulação / geno varo bilateral, mais pronunciado à D ● Pele: sem alterações ● Peso: 97kg / Altura: 1,55 m Realizada artrocentese, já que trata-se de uma monoartrite aguda: ● Aparência: amarelo citrino / viscosidade normal ● Celularidade: 5.000 céls (60% PMNs) → líquido levemente inflamatório ● Bacterioscopia e culturas negativas ● Pesquisa de cristais: presença de cristais rombóides com birrefringência positiva. Se pesquisa de cristais viesse negativa, realizar um RX: Dois cenários possíveis: ● 1ª imagem: diminuição do espaço intra articular, superfície irregular e osso esclerótico, com presença de cistos subcondrais: OSTEOARTRITE (sinônimo de artrose) ● 2ª imagem: condrocalcinose do menisco (cartilagem não aparece no RX, apenas se tiver calcificação): assinatura de CPPD 4. DOENÇA POR DEPOSIÇÃO DE CRISTAIS DE PIROFOSFATO DE CÁLCIO (CPPD) Causa mais comum de condrocalcinose, a qual pode ser assintomática (achado ocasional radiológico) ou estar associada a sinovite aguda (pseudogota) ou com artropatia degenerativa. Epidemiologia: mulheres / mais frequente em idosos Quadro clínico É doença simuladora, imitando várias formas de doenças reumáticas, pode-se dividir em padrões de apresentação: ● Pseudogota (25%): crises agudas e autolimitadas de monoartrite (joelhos e punhos) ● Pseudo-AR (5%): inflamação de baixo grau poliarticular ● Pseudo-OA (50%): causa de artrose precoce, acomete joelhos, quadril, punhos, metacarpofalangeanas, ombros, cotovelos Diagnóstico: Líquido sinovial ● Pseudogota: inflamatório / turvo / pouco viscoso ● Pseudo-OA: não-inflamatório / límpido ● Cristais rombóides com birrefringência positiva ○ Define-se a doença pela identificação desses cristais e/ou evidência radiográfica. Diante da suspeita, pede-se RX de áreas frequentemente calcificadas na condrocalcinose → radiodensidades de padrão linear ou pontilhado nas estruturas fibrocartilaginosas Fibrocartilagem triangular da ulna (condrocalcinose) Condrocalcinose de meniscos medial e lateral Sinfisite devido a uma CPPD Investigar causas secundárias: Doença de Wilson, hiperparatireoidismo (mais comum), hipofosfatasia, hemocromatose, hipotireoidismo (mais comum). Tratamento: ● Crise: Colchicina, AINEs e medidas não-farmacológicas. ○ Colchicina pode ser útil como profilático de crise ● Não há como remover os cristais de pirofosfato de cálcio. Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental
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