Buscar

processo histórico que desencadeou o fim da Guerra Fria

Prévia do material em texto

ORIGEM DA GUERRA FRIA
Podemos considerar o “problema alemão” o primeiro grande foco de controvérsia da Guerra Fria. Seu foco de tensão foi a cidade de Berlim, capital alemã.
Em 1948, devido à forte crise econômica, Estados Unidos, França e Reino Unido unificaram economicamente suas zonas de controle na Alemanha, de forma a fazer valer nelas uma única unidade monetária: o marco alemão.
A liderança do governo soviético reprovou a ideia, considerando-a uma ameaça aos interesses soviéticos na região. Como resposta, procurou reunificar Berlim sob sua influência.
Desse modo, em 23 de junho de 1948, todas as rotas terrestres foram fechadas pelas tropas soviéticas, isolando a antiga capital alemã. Para não abandonar as zonas ocidentais de Berlim, os países ocidentais estabeleceram uma ponte aérea que levou, por quase um ano, mantimentos aos mais de dois milhões de berlinenses que viviam no lado ocidental da cidade.
Em maio de 1949, o bloqueio foi suspenso.
Figura 1 – Havia permissão para apenas três corredores aéreos até Berlim, a partir de Hamburgo, Buckeburgo e Frankfurt.
Pouco depois, as zonas americana, francesa e britânica foram unificadas, originando a República Federativa da Alemanha (RFA) ou Alemanha Ocidental, cuja capital seria a cidade de Bonn.
Figura 2 – Essa bandeira da Alemanha permanece
até os dias de hoje.
Na área soviética, surgiu a República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha Oriental, com a capital em Berlim Oriental.
Figura 3 – A bandeira da Alemanha Oriental diferia
da Ocidental devido ao brasão ao centro.
Comentário
Nesses primeiros momentos de tensão, o então presidente norte-americano Harry Truman pronunciou no Congresso estadunidense, em 12 de março de 1947, um discurso em que assumia o compromisso de "defender o mundo capitalista contra a ameaça socialista". Tal discurso deu origem à chamada Doutrina Truman.
Veja, a seguir, um trecho do discurso do presidente americano:
A fim de garantir o desenvolvimento pacífico das nações, sem exercer pressão, os Estados Unidos assumiram a maior parte na criação das Nações Unidas. Mas só concretizaremos nossas metas, se estivermos dispostos a ajudar povos soberanos na manutenção de suas instituições livres e de sua integridade nacional contra imposições de regimes autoritários.
TRUMAN, 1947.
Resolvida a divisão da Alemanha, as fronteiras internas da Europa se estabilizaram. Ao mesmo tempo, o anúncio da Doutrina Truman tornava a Guerra Fria um evento mundial. Conflitos entre aliados americanos e soviéticos se tornaram constantes, dando início a uma política de atrito militar e diplomático sem precedentes — que não tinha na Europa o seu palco principal.
Para além das áreas militar e diplomática, a disputa envolvendo a Guerra Fria fundamentou uma divisão ideológica e de visões de mundo. Super-heróis salvadores da humanidade, repercutindo a rivalidade norte-americana e soviética, foram produzidos em grande escala pela indústria cultural. A competição tecnológica e a corrida espacial – como a chegada do homem à Lua – são também sintomáticas, alimentando o imaginário acerca do poderio das duas grandes superpotências.
É por este motivo que a queda da União Soviética e o fim da Guerra Fria determinaram não apenas o fim da bipolaridade política que atravessou o século XX, mas a derrocada de utopias e projetos de sociedade.
A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) fazia parte de um projeto de sociedade que motivou a luta de homens e mulheres desde o século XIX e incluía um plano de futuro capaz de levar à igualdade e à justiça social, que se concretizou com a criação de um Estado proletário. Se sua criação foi cercada de expectativas, seu fim não foi menos impactante.
Segundo o historiador Eric Hobsbawn, o fim da Guerra Fria encerrou o breve século XX.
A seguir, falaremos mais sobre a derrocada da União Soviética.
A QUEDA DA URSS
A estagnação econômica da União Soviética transformou-se em crise ainda nos anos 1970.
A estagnação econômica da União Soviética transformou-se em crise ainda nos anos 1970.
Veja como se deu esse processo.
Clique nas barras para ver as informações.
INDICADORES SOCIAIS
Os indicadores sociais positivos, que nos anos 1950-1960 variavam de 5% a 8%, caíram para menos de 3%. Em 1980, o Japão ultrapassou a URSS como a segunda maior economia do mundo.
Alguns fatores permitiriam uma “folga” na área econômica soviética.
MUDANÇA DE ESTRATÉGIA DOS EUA
A distensão da Guerra Fria, promovida por Leonid Brejnev, permitiu a redução dos gastos militares, e a alta dos preços do petróleo em 1973 e 1979 fez com que o país aumentasse as exportações em moeda forte.
Entretanto, a mudança de estratégia dos Estados Unidos, com a retomada da corrida armamentista no fim dos anos 1970 e início dos 1980, durante os mandatos do presidente republicano Ronald Reagan (1981-1989), iria aprofundar ainda mais a crise soviética.
ORÇAMENTO MILITAR E O CONFLITO COM O AFEGANISTÃO
Os custos militares da Guerra Fria já estavam insustentáveis para a URSS no fim dos anos 1970. As duas grandes fronteiras do país necessitavam de um expressivo contingente de militares e de armas.
Com um orçamento militar tão significativo, um dos maiores equívocos seria o envolvimento em algum conflito regional. E isso ocorreu quando a URSS invadiu o Afeganistão, iniciando uma luta de dez anos (1978-1989) com resultados catastróficos.
APROXIMAÇÃO COM PAÍSES MULÇUMANOS
A situação no Afeganistão começou a trazer problemas para a URSS a partir de 1973.
Após grave crise econômica provocada por anos de seca, o general Daud Khan depôs o governo monárquico e proclamou a República. Daud realizou uma política de aproximação com países muçulmanos, principalmente com a Arábia Saudita, tradicional aliado americano, o que não foi visto com agrado pela União Soviética.
E como já é de se esperar em uma guerra, Daud não seria perdoado tão facilmente.
Quais as consequências desse ato do general?
É o que veremos a seguir.
O GOLPE DE ESTADO
Em abril de 1978, um golpe de Estado, apoiado pela URSS, depôs o general Daud e colocou no poder o Partido Democrático e Popular, de tendência pró-soviética.
Resposta
Em resposta a esse movimento, a Arábia Saudita e os Estados Unidos começaram a financiar e a armar os guerrilheiros afegãos. Na prática, a URSS acabou se envolvendo em uma guerra longa, com altos custos econômicos e humanos, lutando contra um inimigo disperso e determinado que recebia ajuda militar da superpotência rival.
Os custos da Guerra do Afeganistão foram altíssimos para uma economia já em crise, desgastando profundamente a capacidade econômica e militar da União Soviética.
Com a queda nos preços internacionais, principalmente do petróleo, entre 1984 e 1985, a URSS perdeu a principal fonte de divisas externas em moeda forte, e a crise se aprofundou ainda mais, pois o país não conseguia mais pagar suas importações.
Qual foi a solução encontrada para a URSS sair dessa situação?
Veremos a seguir.
Figura 4 – Soldado afegão.
TENTATIVA DE “MODERNIZAÇÃO”: GORBATCHOV, A PERESTROIKA E A GLASNOST
Em março de 1985, Mikhail Gorbatchov assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), substituindo Konstantin Tchernenko, que falecera naquele ano.
Defensor de ideias modernizantes, Gorbatchov criou dois projetos para renovar a administração da URSS: a perestroika e a glasnost.
A seguir, veja em que consistia essas ideias.
A perestroika teve início em 1986, e foi concebida para introduzir dinamismo à economia soviética. Já a glasnost, por sua vez, libertou dissidentes políticos e permitiu a liberdade de imprensa e expressão.
Perestroika
Para que os setores econômicos do país tivessem uma expansão qualitativa e quantitativa, foram introduzidos mecanismos para estimular a livre concorrência, rompendo com o monopólio do Estado, e desenvolver os setores da produção de bens de consumo e de serviços por meio da iniciativa privada.
No campo, foi estimulada a criação de cooperativas por grupos familiares e o arrendamento de terras estatais.
A proposta também incluía o incentivoa empresas estrangeiras para atuarem no país.
Glasnost
Na área política e social, a glasnost pretendeu colocar novos paradigmas no modo de vida soviético. Assim, a proposta foi de acabar com a burocracia política, combater a corrupção e introduzir a democracia em todos os níveis de participação política.
Ainda que muitos tivessem tentado impedir as mudanças, as propostas de Gorbatchov tiveram efeito positivo no bloco socialista. Assim, a Polônia e a Hungria realizaram eleições livres (com destaque para a vitória do partido Solidariedade na Polônia), e a Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia e Alemanha Oriental tiveram revoltas em massa que pediam o fim do regime socialista.
Em novembro de 1989, um grande fluxo de refugiados alemães pressionou as embaixadas da Alemanha Oriental em Praga e Varsóvia.
A pressão popular levou a que a Hungria e a Áustria abrissem suas fronteiras. Na noite de 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim começou a ser derrubado depois de 28 anos de existência.
Entre 1987 e 1988, a URSS abdicou de continuar a corrida armamentista com os Estados Unidos assinando uma nova série de acordos de limitação de armas estratégicas e convencionais.
No ano seguinte, a URSS iniciou a retirada do Afeganistão e começou a reduzir a presença militar na Europa Oriental. Nos anos 1990, a URSS tornou-se o 15º PIB mundial, demonstrando a fragilidade de sua economia diante do processo de transição política.
No plano interno, Gorbatchov enfrentou grandes resistências da burocracia do partido. Os mais conservadores viam a postura de Gorbatchov no plano internacional como covarde e o acusavam de trair a URSS e o socialismo. Este grupo, que incluía as cúpulas militar e do sistema de segurança, era contra a retirada do Afeganistão e defendia que a URSS interviesse nos países da Europa Oriental que estavam abandonando o modelo socialista.
Como você pode perceber, a situação estava insustentável, ao ponto de, em 1991, um grupo tentar tomar o poder, conforme veremos a seguir.
Figura 6 – Boris Yéltsin.
O COLAPSO DA UNIÃO SOVIÉTICA
Em 19 de agosto de 1991, um grupo chamado Comitê Estatal para o Estado de Emergência tentou tomar o poder na capital. Anunciou-se que Mikhail Gorbatchov estava doente e tinha sido afastado de seu posto como presidente. O vice-presidente Gennady Yanayev foi nomeado presidente interino. Manifestações importantes contra líderes do golpe de Estado ocorreram em Moscou e Leningrado.
O presidente da Rússia (principal Estado da URSS), Boris Yéltsin, dirigiu a resistência ao golpe a partir do parlamento russo. Conseguindo o apoio das tropas de repressão, Yéltsin se tornou o principal personagem dessa crise.
Em 21 de agosto de 1991, a maioria das tropas que tinham sido enviadas a Moscou se colocam abertamente ao lado dos manifestantes. O golpe falha e Gorbatchov regressa a Moscou.
O fracasso do golpe de Estado, no entanto, precipitou o colapso das instituições da URSS. A maior expressão disso foi o desmonte territorial da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Figura 7 – Mikhail Gorbatchov.
Figura 8 – Mapa das repúblicas bálticas.
Em setembro de 1991, as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia) declararam sua separação do governo de Moscou. Entre outubro e dezembro o desmembramento se completou com todas as unidades da URSS se declarando a favor de suas respectivas autonomias.
Dezembro foi o mês da grande decisão de extinguir a URSS. Veja como isso aconteceu.
Esse processo teve início no dia 1º dezembro; no dia 26 de dezembro de 1991, a URSS já não existia mais.
Em 1º de dezembro, por meio de um plebiscito, a população da Ucrânia votou por sua independência.
Em 21 de dezembro, líderes da Federação Russa, Ucrânia e Bielorússia assinaram um documento no qual era declarada extinta a União Soviética. E no seu lugar era criada a CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
No dia de Natal de 1991, em cerimônia transmitida por satélite para o mundo inteiro, Gorbatchov declarou oficialmente o fim da URSS.
A dissolução da União Soviética marcou profundamente o final do século XX, além de mostrar o poderio americano. Veja, a seguir, a repercussão desse marco na sociedade.
O FIM DA HISTÓRIA
Em meio à crise, falou-se do fim das ideologias e, por decorrência, do fim da história. A dissolução da União Soviética em 1991 marcou o fim do século XX. Alardeou-se por todo o mundo que, vencida a Guerra Fria, o poder americano chegara ao seu auge.
Atenção
Uma das manifestações mais emblemáticas da crise do modelo socialista soviético foi a expressão “o fim da história”, criada pelo filósofo norte-americano Francis Fukuyama.
Seu artigo publicado em 1989 com esse título e, posteriormente, em 1992, o livro “O fim da história e o último homem” tiveram grande repercussão na época.
Fukuyama elaborou uma linha de abordagem da história, revigorando a tese de que o capitalismo e a democracia liberal representavam o coroamento da história da humanidade. Ou seja, a humanidade teria atingido, no final do século XX, o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes.
Figura 9 – Capa do livro de Fukuyama.
Comentário
Para o autor, o século XX viu a destruição do fascismo e, em seguida, a do socialismo, que fora o grande adversário do capitalismo e do liberalismo no pós-guerra. O mundo teria assistido ao fim e ao descrédito dessas duas alternativas globais, restando apenas resíduos de nacionalismos, sem possibilidade de significarem um projeto para a humanidade.
Assim, com a derrocada do socialismo, Fukuyama conclui que a democracia liberal ocidental se firmara como a solução final do governo humano, representando, assim, “o fim da história" da humanidade.
O desmembramento de um Estado nacional com a capacidade bélica, econômica, populacional do porte da URSS provocou impacto enorme no sistema internacional.
O papel que ocupava como potência líder de um grande bloco de países alterou a geopolítica de boa parte do planeta. Além disso, o significado simbólico do país alterou expectativas e possibilidades de diversos grupos políticos mundo afora.
Mas o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas não acabou com a história nem decretou o fim dos tempos.
Os projetos políticos foram reconfigurados, mantendo o mundo em um nível de tensão ainda maior do que na época da Guerra Fria. As ideologias ganharam novos formatos e as diferenças sociais e culturais se reestruturaram em outros cenários.
Para corroborar essa afirmativa, veremos um outro cenário de guerra nesta mesma época: a Guerra do Golfo.
A GUERRA DO GOLFO (1991)
Como presidente dos Estados Unidos, George Bush (1989-1993) liderou a coalizão da Organização das Nações Unidas (ONU) na Guerra do Golfo (1990-1991).
Em 1990, comandado por Saddam Hussein, o Iraque invadira seu vizinho rico em petróleo, o Kuwait.
Em uma ação de política externa que seria questionada mais tarde, o presidente Bush obteve uma vitória militar incompleta, ao seguir o conselho de seu então secretário da defesa, Dick Cheney, permitindo que Saddam Hussein ficasse no poder.
Figura 10 – Mapa do Kuwait.
O MOMENTO UNIMULTIPOLAR
Os governos americanos que se seguiram ao colapso da URSS empregaram uma política externa projetada para manter o protagonismo do país no sistema internacional.
Resumindo
O objetivo principal da política externa americana era evitar o crescimento de poderes regionais capazes de colocar em risco os interesses militares, econômicos ou ideológicos dos EUA. Com isso, o governo americano daria atenção a situações que poderiam ameaçar a segurança dos EUA e seus aliados. O ponto central seria a preocupação com a prevenção em regiões-chave.
Atenção
Dois elementos se destacam nessa nova situação: o sistema internacional sofreu o impacto de uma doutrina americana de “prevenção global” a prováveis ameaças. Com isso, essa doutrina tornou os EUA envolvidos, diretamente ou por omissão, em diversos conflitos regionais, muitos dos quais se tornaram extremamente desgastantes política, militar e economicamente.Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos revitalizaram organizações que haviam sido criadas para fazer frente ao bloco soviético, entre as quais:
OTAN
Fundo Monetário Internacional
Banco Mundial
Figura 11 – Insígnia da OTAN.
A OTAN adquiriu novos membros, como a Hungria, a Polônia e a República Tcheca, tendo se expandido em direção ao oeste europeu.
Os Estados Unidos passaram a dar ênfase especial à política neoliberal do Consenso de Washington, formulado em 1989. O conjunto de medidas tornou-se a política oficial do FMI em 1990, que começou a "receitá-lo" para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento, que passavam por dificuldades.
Em termos continentais, a política externa americana se manifestaria na aprovação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, em 1994, com o Canadá e o México.
Os Estados Unidos fizeram com frequência movimentos unilaterais para punir economicamente países que estavam sob suspeita de abrigar terroristas ou de cometer sérios abusos aos direitos humanos.
Por vezes, houve algum consenso em relação a esses movimentos, tais como o embargo americano e europeu imposto à República Popular da China, após a violenta supressão dos protestos da Praça da Paz Celestial, em 1989, e a imposição das sanções contra o Iraque, após a invasão deste país ao Kuwait, em 1990.
Figura 12 – Tratado envolvendo Estados Unidos, México e Canadá.
image5.jpeg
image6.jpeg
image7.jpeg
image8.jpeg
image9.png
image10.jpeg
image11.jpeg
image12.jpeg
image13.jpeg
image1.jpeg
image2.jpeg
image3.jpeg
image4.jpeg

Mais conteúdos dessa disciplina