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Avaliação Fonoaudiológica e o Processo Diagnóstico

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Avaliação Fonoaudiológica 
e o Processo Diagnóstico
Conteudista
Prof.ª M.ª Nívea Maria Símaro Gomes
Revisão Textual
Esp. Laís Otero Fugaitti
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OBJETIVO DA UNIDADE
• Discutir sobre o histórico da avaliação fonoaudiológica e a contextualiza-
ção do diagnóstico na clínica fonoaudiológica.
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Introdução
Vamos iniciar nossa Unidade de estudo trazendo informações sobre o processo de 
avaliação fonoaudiológica dentro do contexto histórico da Fonoaudiologia. Vale res-
saltar que essa temática é fundamental para a sua prática profissional, pois, possivel-
mente, durante sua carreira na área de Fonoaudiologia, as questões relacionadas ao 
diagnóstico dos distúrbios da comunicação farão parte do seu objeto de estudo e de 
sua rotina clínica. Nessa perspectiva, vamos discutir o histórico da Fonoaudiologia e 
a visão clínica do diagnóstico, com vistas ao entendimento dos conceitos envolvidos 
nessa temática, enfatizando os aspectos sindrômicos, etiológicos e de manifestação, 
por meio da compreensão do processo de avaliação fonoaudiológica.
Lembre-se de fazer anotações, mapas mentais e resumos, bem como ler e as-
sistir aos Materiais Complementares, pois eles ampliarão seu conhecimento e 
curiosidade por essa área tão complexa e, ao mesmo tempo, tão interessante 
que é a comunicação humana!
Avaliação Fonoaudiológica 
e o Processo Diagnóstico
Para compreendermos o processo de avaliação fonoaudiológica, é importante 
contextualizarmos o histórico da Fonoaudiologia no Brasil. Em diferentes perí-
odos da História, os distúrbios da comunicação foram identificados e descritos. 
No século XIX surgiu o termo “ortofonia”, introduzido na primeira publicação que 
abordava temas como estudo da fonação, voz falada e cantada, gagueira e ree-
ducação de surdos, o Tratado de ortofonia (AARÃO et al., 2011).
Glossário
Ortofonia: segundo o Dicionário Oxford Languages (ORTOFO-
NIA, 2023), trata-se de um substantivo feminino, que tem como 
premissa o estudo da:
1. gramática/fonética: ramo da Linguística que se concen-
tra estritamente na correção dos traços fonológicos (acen-
to, articulação dos fonemas, ligação entre eles etc.);
2. Acústica: estudo e análise técnicos que visam obter 
as melhores condições de propagação do som em de-
terminado ambiente. A acústica é a parte da Física que 
estuda em específico as ondas sonoras.
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Histórico Sobre o Processo de Avaliação 
Fonoaudiológica
Vamos entender o histórico da Fonoaudiologia e a contextualização da profissão 
de fonoaudiólogo.
Saiba Mais
No final do século XIX, devido ao processo migrató-
rio para as regiões de mais potencial e desenvolvi-
mento industrial, a atenção à educação tornou-se 
essencial, pois se acreditava que a educação era 
fator determinante da mudança social. Motivados 
pela preocupação com os sinais de autonomia 
desses cidadãos que se agrupavam por costumes, 
língua falada e interesses, os órgãos responsáveis 
pela política da época identificaram tal situação 
como “patologia social”.
Objetivando combater essa “doença”, a escola tor-
nou-se lugar privilegiado onde era possível reor-
ganizar o ensino, levando o país à modernidade 
capitalista, capaz de desenvolver-se industrial-
mente. Desta forma, a atuação de professores 
especializados, articulada à série de iniciativas e 
interesses de grupos da sociedade, passou a ter 
importante papel nas formas de organização so-
cial.
No início do século XX, mais precisamente em 
1912, o Dr. Augusto Linhares, um dos precursores 
da Fonoaudiologia no Brasil, dedicava-se ao estu-
do e pesquisa na área de reabilitação de voz e da 
fala, ministrando aula em cursos para professores. 
– AARÃO et al., 2011, p. 239
“
Nessa perspectiva, o contexto da profissão foi estruturado a partir da visão polí-
tica da época, em busca de uma uniformização da língua.
As ideias higienistas e os avanços na Medicina colaboravam com a detecção 
e a classificação das anomalias orgânicas e funcionais da fala, descrevendo 
o perfil do portador da alteração e demonstrando a necessidade de profis-
sional responsável por sua eliminação, que seria o professor especializado, 
profissional da época que mais se assemelhava ao atual fonoaudiólogo. O 
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higienismo pregava a existência do homem sadio e culto, que promoveria 
o progresso do país. Neste contexto, proliferava o combate ao estrangeiris-
mo, na tentativa de instituir a língua brasileira.
O movimento de defesa e preservação da língua nacional também passou 
a indicar “impurezas”, “vícios” e “defeitos” no uso da língua, termos que 
carregavam conotação negativa, que discriminavam e estigmatizavam o 
indivíduo a partir de sua classe social. Da mesma forma que a educação, o 
uso correto da linguagem foi considerado forma de ascensão social, sendo 
que quaisquer desvios do padrão mostravam inferioridade social, determi-
nando a classe à qual o indivíduo pertencia.
Na década de 30, os profissionais especializados atuavam nas escolas 
com a profilaxia e correção dos desvios de linguagem e defeitos dos es-
colares, em que estavam incluídas as variações dialetais, comuns entre 
os filhos de imigrantes. […]
As décadas de 40 e 50 marcaram as iniciativas concretas de atuação do 
professor especializado. O professor indicado para a eliminação dos pro-
blemas recebia formação específica informal, apoiada na prática e na lei-
tura de material estrangeiro, além de cursos que geralmente duravam três 
meses. Após a conclusão destes, passavam a ser chamados de terapeutas 
da palavra ou logopedistas.
O título de ortofonista ou de audiologista dado aos professores que se 
especializavam era valorizado socialmente pela proximidade com a área 
da saúde. O perfil do profissional prevalecia técnico, mas passava de atu-
ação exclusivamente educacional para o contexto clínico, incentivando a 
criação de curso de Logopedia ou Terapia da Palavra, voltado principal-
mente para a reabilitação. […]
A década de 60 marcou o início da institucionalização da Fonoaudiologia, 
com a vinda do Dr. Julio Bernaldo Quirós e de sua assistente Rosa Vispó, da 
Argentina, para o Brasil. Destacaram-se, ainda, os trabalhos de dois médi-
cos brasileiros: Dr. Mauro Spinelli e Dr. Américo Morgante, que estiveram à 
frente, respectivamente, dos dois primeiros cursos de Logopedia do país. O 
primeiro surgiu na Universidade de São Paulo, vinculado à Clínica de Otorri-
nolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina, em 1960, 
seguindo os moldes da formação na Argentina, relacionado à demanda mé-
dica. O segundo surgiu na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, li-
gado ao Instituto de Psicologia, em 1962, a partir de questões educacionais 
verificadas pelos psicólogos. Inicialmente, tais cursos tinham um ano de du-
ração e em ambas as instituições a prática antecipou a formação. […]
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O processo de reconhecimento da profissão ainda enfrentou obstácu-
los. Um deles foi a tentativa de obrigar os fonoaudiólogos, juntamente 
com psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais da área da saúde a 
atuar somente sob a supervisão de médicos. […]
Finalmente, em 1981, foi aprovada a regulamentação da profissão, pelo 
Deputado Otacílio de Almeida, tendo à frente a Associação Brasileira de 
Fonoaudiologia (ABF). As diretorias que assumiram as gestões de 1979 e 
1981 empenharam-se nesse período, formando a Comissão Nacional pela 
oficialização da profissão.
Em 09 de dezembro de 1981, a Lei nº 6.965, que regulamenta a profissão 
de Fonoaudiólogo, foi sancionada pelo então presidente João Figueiredo. 
Com ela, também foram criados os Conselhos Federal e Regionais de Fo-
noaudiologia. 
– AARÃO et al., 2011,p. 240-242
De acordo com a história da profissão, observamos que no início a visão 
era de um profissional mais tecnicista, sem a devida valorização da classe. 
Atualmente, observa-se um avanço no reconhecimento desse profissional, 
no entanto, para que a profissão seja devidamente reconhecida, faz-se ne-
cessário “conhecer a própria origem” e “reafirmar no presente, de maneira 
consciente, a capacidade transformadora dos fonoaudiólogos, para ga-
rantir o futuro de desenvolvimento e valorização da profissão e da 
ciência fonoaudiológica”.
– AARÃO et al., 2011, p. 243
Figura 1 – Interação entre fonoaudióloga e paciente
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: ambiente clínico, com figuras ilustrativas coladas na parede da sala de atendimento, ao 
lado de uma persiana branca. Também há um armário com prateleiras e caixas, além de quadros fixados 
na parede. Há uma mesa pequena retangular e, sobre ela, um espelho redondo centralizado e uma caixa 
de lápis de cor. No ambiente, há a presença de uma fonoaudióloga, mulher, branca, sentada em volta de 
uma mesa pequena. Ela tem cabelos longos e castanhos, usa calça jeans azul e camisa de mangas longas e 
dobradas, na cor azul-clara, e demonstra alguns exercícios com as mãos, olhando para uma criança. À sua 
frente está a paciente, a criança, usando camisa branca, sentada com aparência colaborativa, realizando 
exercícios com as mãos e a boca, orientada pela profissional fonoaudióloga. Fim da descrição.
 7
Conceituação de Saúde 
e Doença Segundo a 
Organização Mundial 
da Saúde (OMS)
Palavras como educação, saúde e promoção, tão presentes cotidianamente na 
área da saúde, podem esconder significados que acabam por comprometer ou 
mesmo impedir a efetivação das dinâmicas e dos objetivos pretendidos. Eleger 
estratégias significa escolher instrumentos. Mas de nada valem os instrumentos 
se não tivermos clareza de até onde desejamos chegar. Muitas vezes, aliás, nem 
sabemos ao certo onde estamos exatamente ao lidar com “saúde”.
As definições em torno de saúde, doença, normalidade ou anormalidade e o es-
teio que lhes dão origem ocuparam grandes pensadores na História.
Fato é que saúde e doença são conceitos construídos a partir de con-
junturas culturais, sociais e econômicas, guardando, portanto, defini-
ções construídas de forma mutante, variável. Se os conceitos mudam 
segundo seu tempo e lugar, também as perspectivas e as ações atre-
ladas ao manejo desses conceitos são mutáveis. Canguilhem (2006) 
lembra que a abordagem médica no século 19 pretendia apenas res-
tabelecer o estado vital inicial do paciente, do qual a doença o havia 
afastado. O século 20, entretanto, decide pela tentativa de impedir 
o surgimento da doença em uma perspectiva preventivista, além de 
tentar aumentar o padrão de normalidade. 
– PELICIONI; MIALHE, 2018, p. 72
Saúde refere-se, portanto, a padrões sociais construídos, aceitos, estimados e de-
sejados, um conceito carregado de subjetividade. Portanto, a saúde não obedece a 
padrões universais ou únicos. Perder a saúde, buscar a saúde ou promover a saúde 
não se resumem apenas a ordenar uma série de ações que gerem bem-estar ou que 
evitem riscos. É viabilizar e oportunizar condições de escolha e de construção.
Desse modo, a saúde está sempre relacionada com a maneira como os sujeitos 
de uma sociedade interagem com os eventos da vida. Esses valores são absor-
vidos ao longo da vida, desde o nosso nascimento, e trazem com eles experiên-
cias afetivas, emocionais e respostas e ações corporais; é por meio deles que 
lidamos com os acontecimentos, com os desejos, com as formas de dar sentido 
ao mundo.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca os seguintes princí-
pios como norteadores da promoção de saúde: concepção holística, 
intersetorialidade, empoderamento, participação social, equidade, 
ações multiestratégicas e sustentabilidade. A concepção holística de-
termina que as iniciativas de promoção fomentem a saúde física, men-
tal, social e espiritual, e pressupõe a compreensão ampliada de saúde. 
A saúde é tomada como fenômeno produzido socialmente, cabendo 
ações de âmbito coletivo no cotidiano da população, extrapolando o 
campo específico da assistência médico-curativa. Esse princípio enfa-
tiza a determinação social, econômica e ambiental, mais do que pura-
mente biológica ou mental da saúde. 
– PELICIONI; MIALHE, 2018, p. 75
Nessa lógica, a promoção de saúde pressupõe uma concepção que não restrinja 
a saúde à ausência de doença, nem à prestação de serviços clínico-assistenciais, 
mas que seja capaz de atuar sobre as condições de vida da população a partir de 
ações intersetoriais envolvendo a educação, o saneamento básico, a habitação, 
a renda, o trabalho, a alimentação, o meio ambiente, o acesso a bens e serviços 
essenciais, e o lazer, entre outros determinantes sociais da saúde.
Reflita
Para a OMS, o conceito de saúde está ligado ao bem-estar do indi-
víduo em relação a diferentes aspectos, entre eles, o socioambien-
tal, o afetivo e o cognitivo, além do bem-estar físico e mental. Como 
você compreende o papel da Fonoaudiologia nessa dimensão?
Nessa perspectiva, a Fonoaudiologia, enquanto ciência, poderá contribuir para a me-
lhora da qualidade de vida do indivíduo, com vistas à qualidade da comunicação, por 
meio de uma melhor interação da criança com o meio em que ela está inserida, seja 
no contexto familiar, socioeducacional ou social, visto que, com bastante frequência, 
chegam até nossos consultórios e clínicas queixas de familiares e pacientes acerca 
de problemas envolvendo as alterações de fala e linguagem, como:
• “Meu filho está demorando para falar”;
• “Meu filho troca os sons das palavras”;
• “Meu filho é prematuro e está apresentando atrasos na fala”.
Diante desses esses exemplos, precisamos pensar nas diferentes instâncias do 
diagnóstico e como a Fonoaudiologia poderá contribuir, por meio da avaliação 
 9
fonoaudiológica e da intervenção precoce, no processo de fala e linguagem, me-
lhorando a qualidade da comunicação como um todo. 
Sabemos que a linguagem é mediadora do acontecimento humano, que o ser hu-
mano é um ser complexo que manifesta de várias formas as suas possibilidades 
de linguagem: motoramente, linguisticamente, psicologicamente, sociocultural-
mente, politicamente.
Segundo Cesar e Lima (2020), a linguagem é o sistema simbólico usado para 
representar os significados em uma cultura, abrangendo seis componentes: 1) 
fonologia (sons da língua); 2) prosódia (entonação); 3) sintaxe (organização das 
palavras na frase); 4) morfologia (formação e classificação das palavras); 5) se-
mântica (vocabulário); e 6) pragmática (uso da linguagem). A linguagem relacio-
na-se a trocar informações (receber e transmitir) de forma efetiva, enquanto a 
fala refere-se basicamente à maneira de articular os sons na palavra, incluindo 
a produção vocal e a fluência. É o canal que viabiliza a expressão da linguagem e 
corresponde sua realização motora.
A aquisição normal da linguagem é dependente de uma série de fatores, como o 
contexto social, familiar e histórico pré, peri e pós-natal do indivíduo, suas expe-
riências e capacidades cognitivas e orgânico-funcionais.
O desenvolvimento da linguagem está relacionado a diversos aspectos, como a 
estrutura anatomofuncional (fatores maturacionais, sensoriais e perceptuais), o 
estímulo verbal (que depende do ambiente) e os processos cognitivos (atenção, 
memória e funções executivas) (PAGLIARIN et al., 2013).
Portanto, para o desenvolvimento das habilidades comunicativas e de fala, é preciso:
• Maturação cerebral;
• Ambiente sociofamiliar estimulador; e
• Integridade das vias sensoriais (visão, audição, olfato, tato, paladar, equi-
líbrio e propriocepção).
Vídeo
Assista a seguir a um vídeo sobre a importância 
do brincar para a estimulação da fala e linguagem 
da criança. Reflita sobre a importância do brincar 
no processo de avaliação fonoaudiológica.
https://youtu.be/plIPujqxtWQ
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O processo de aquisiçãodo sistema fonológico ocorre de maneira gradual e não 
linear, de acordo com o desenvolvimento e maturação neurológica da criança, 
conforme a comunidade em que está inserida. Esse período estende-se desde 
o nascimento até aproximadamente os cinco anos de idade, quando ocorre a 
estabilização desse processo.
Durante a aquisição da linguagem, naturalmente a criança realiza processos fono-
lógicos, que são simplificações sistemáticas das regras fonológicas, como redução 
ou substituição de sons de maior complexidade. À medida que a criança vai se 
desenvolvendo, deixa de usar tal estratégia e adquire as regras do padrão adulto.
A avaliação, assim considerada como metodologia de trabalho, é um processo 
intencional, por meio do qual recolhemos, analisamos e interpretamos as infor-
mações sobre as diferentes manifestações de linguagem dos indivíduos.
Diferentes Instâncias do 
Diagnóstico: Sindrômico, 
Etiológico e de Manifestação
Trocando Ideias
Mas afinal, o que significa avaliar?
Avaliar supõe uma busca ordenada de fatos por meio de uma 
metodologia que possibilite elaborar, pelo raciocínio lógico, as 
diferentes instâncias do diagnóstico.
Compreender o diagnóstico envolve:
• Em seu aspecto sindrômico: mais globalizante, sinte-
tiza o acontecimento, a patologia, todos os sintomas e 
sinais apresentados pelo paciente;
• Em seu aspecto etiológico: de caráter explicativo, bus-
ca entender o fator causal que levou ao acontecimento;
• Em seu aspecto de manifestação: descreve o que 
acontece e como acontece, sendo mais analítico, com 
maior detalhamento.
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Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que define as 
manifestações clínicas de uma ou várias doenças, independentemente 
da etiologia que as diferencia.
– STEDMAN, 2003, p. 586
A Fonoaudiologia atua junto a diversos diagnósticos das mais variadas etiologias. 
Cada diagnóstico dos distúrbios da comunicação apresenta um contexto multi-
disciplinar particular e que deverá ser levado em consideração na compreensão 
da história clínica do paciente.
Ainda discutindo a avaliação fonoaudiológica no contexto clínico, ela pode ser 
caracterizada em três momentos:
• Avaliação diagnóstica: abordagem inicial, levantamento das primeiras 
hipóteses diagnósticas;
• Avaliação em processo: ocorre durante o seguimento em terapia, per-
mite ao avaliador repensar as hipóteses diagnósticas iniciais e recondu-
zir o processo de terapia; e
• Avaliação do produto: leva o avaliador a questionar quais objetivos da 
proposta foram alcançados para finalização do tratamento fonoaudioló-
gico, analisando criticamente sua prática.
Diagnóstico vem de “diagnose”, que quer dizer “através do conhecimento”.
Avaliar constitui uma etapa do processo diagnóstico que, em qualquer 
área da saúde, significa identificar ou reconhecer uma doença, uma 
anormalidade ou um distúrbio pela análise dos sintomas presentes 
(ou ausentes), podendo incluir o estudo da origem e o desenvolvimen-
to dos sintomas.
– GIACHETI, 2014, p. 545
Segundo a autora, diagnosticar é identificar ou reconhecer uma doença, uma 
anormalidade ou um transtorno pela análise dos sintomas presentes ou ausen-
tes, podendo incluir o estudo da origem e seu desenvolvimento (GIACHETI, 2014).
Quando falamos em desenvolvimento humano, pensamos nas diferentes dimen-
sões que estão relacionadas ao crescimento do corpo e do cérebro; as capacida-
des sensoriais, as habilidades motoras e a saúde também fazem parte do desen-
volvimento físico. Aprendizagem, atenção, memória, linguagem, pensamento, 
raciocínio e criatividade compõem o desenvolvimento cognitivo. Emoções, per-
sonalidade e relações sociais são aspectos do desenvolvimento psicossocial.
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Dessa forma, o diagnóstico deverá ser construído com base em aspectos teóri-
cos/técnicos que valorizem a compreensão do desenvolvimento humano e do 
desenvolvimento neurológico infantil em todas as suas dimensões.
A avaliação, dentro dessa perspectiva, poderá ser considerada a mais importan-
te fase do processo diagnóstico e consiste em verificar a presença, ou não, de 
determinada habilidade ou competência e determinar como está o indivíduo em 
relação a outros, diante da queixa de distúrbios da comunicação.
Os distúrbios da comunicação representam os transtornos mais 
prevalentes na infância, sendo as alterações de linguagem as mais 
frequentes. Calcula-se que 3 a 10% das crianças com idade inferior 
a 6 anos apresenta algum tipo de atraso do desenvolvimento da 
fala ou da linguagem, sendo a prevalência 1,5 vezes superior no 
gênero masculino. Atualmente, as alterações de linguagem infan-
til, são reconhecidas como importante demanda de saúde pública. 
– CESAR; LIMA, 2020, p. 17
Frequentemente os distúrbios da comunicação são subdiagnosticados ou diag-
nosticados tardiamente. Sabe-se que crianças com alteração no desenvolvimen-
to da linguagem poderão apresentar, na idade escolar, dificuldades no processo 
de aprendizagem e alfabetização, gerando impacto direto sobre a vida acadêmi-
ca, social e ocupacional.
Importante
Mas o que entendemos por desenvolvimento físico, desenvolvi-
mento cognitivo e desenvolvimento psicossocial?
Desenvolvimento físico: crescimento do corpo 
e do cérebro, incluindo os padrões de mudança 
nas capacidades sensoriais, habilidades motoras 
e saúde;
Desenvolvimento cognitivo: padrão de mudança 
nas habilidades mentais, como aprendizagem, 
atenção, memória, linguagem, pensamento, racio-
cínio e criatividade;
Desenvolvimento psicossocial: padrão de mudan-
ça nas emoções, personalidade e relações sociais. 
– PAPALIA; MARTORELL, 2022, p. 4
“
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Daí a importância de compreendermos os critérios para o diagnóstico dife-
rencial entre transtorno e atraso de fala e iniciarmos o quanto antes a inter-
venção fonoaudiológica, pois ainda nos dias de hoje é comum encontrarmos 
crianças que são encaminhadas para uma avaliação fonoaudiológica somente 
após completarem três ou quatro anos de idade, mesmo apresentando evi-
dente atraso em seu desenvolvimento. Isso ocorre porque existe uma crença 
muito difundida de que não devemos nos preocupar quando uma criança não 
começar a falar na idade esperada, mas devemos aguardar o desenvolvimento 
de “forma espontânea e mais tardia”, fato esse considerado inaceitável diante 
da importância do diagnóstico e da intervenção precoces, considerando-se os 
marcos do desenvolvimento infantil.
Estudos demonstram que a detecção de tais alterações aos 2 a 3 anos 
reduz 30% a necessidade de acompanhamento terapêutico (fonoau-
diologia, psicologia, educação especial, entre outros) ao longo da in-
fância. Da mesma forma, reduz o número de crianças com problemas 
na aprendizagem de leitura e escrita. Portanto, o diagnóstico e a in-
tervenção precoce nos primeiros anos de vida são decisivos para o 
prognóstico de desenvolvimento dessas crianças. 
– CESAR; LIMA, 2020, p. 18
Ainda falando sobre a importância do diagnóstico precoce, recomenda-se citar 
os critérios que definem alguns transtornos de fala e linguagem, sob a ótica dos 
manuais diagnósticos.
Segundo o DSM-5 os transtornos da linguagem falada são caracterizados por:
• Dificuldade persistente na aquisição e no uso da linguagem falada 
devido a alterações na compreensão ou na produção, incluindo: 
1) vocabulário reduzido; 2) estrutura limitada de frases; e 3) prejuízos 
no discurso;
• Capacidades linguísticas substancial e quantificadamente abaixo do espe-
rado para a idade, resultando em limitações funcionais na comunicação;
• Início precoce dos sintomas, no período do desenvolvimento; e
• Dificuldades não atribuíveis à deficiência auditiva ou outro prejuízo sen-
sorial, à disfunção motora ou a outra condição médica ou neurológica.
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Já no CID-10 encontramos as seguintes recomendações para o diagnóstico dos 
transtornos da linguagem falada:
• F80.0: aquisição da linguagem comprometida desde os primeiros está-
gios do desenvolvimento. Não é atribuível a anomalias neurológicas, ano-
malias anatômicas do aparelho fonador, comprometimentossensoriais, 
deficiência intelectual ou fatores ambientais. Os transtornos específicos 
do desenvolvimento da fala e da linguagem podem vir acompanhados, 
com frequência, de problemas associados, como: dificuldades da leitu-
ra e da soletração, perturbação das relações interpessoais, transtornos 
emocionais e transtornos comportamentais;
• F80.1: transtorno expressivo de linguagem. Transtorno específico do de-
senvolvimento no qual as capacidades da criança em utilizar a lingua-
gem oral são nitidamente inferiores ao nível correspondente à sua idade 
mental, mas a compreensão da linguagem se situa nos limites normais. 
O transtorno pode vir acompanhado de um problema na fala;
• F80.2: transtorno receptivo da linguagem. Transtorno específico do de-
senvolvimento no qual a capacidade de compreensão da linguagem pela 
criança está abaixo do nível correspondente à sua idade mental. Em qua-
se todos os casos, a linguagem expressiva estará também marcadamen-
te prejudicada e são comuns os problemas na fala.
Glossário
DSM-5: é a sigla para a quinta edição do Diagnostic and statis-
tical manual of mental disorders ou Manual diagnóstico e es-
tatístico de transtornos mentais. Esse documento foi criado 
pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) para padronizar 
os critérios diagnósticos das desordens que afetam a mente e 
as emoções.
Glossário
CID-10: é a Classificação Internacional de Doenças em sua 
décima revisão. Essa lista classifica doenças, sintomas e uma 
série de ocorrências médicas em códigos que são usados para 
identificar e padronizar questões de saúde em nível mundial.
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Como diferenciar um atraso de um transtorno de fala?
Atraso de Fala e Linguagem
• Quadro transitório;
• As habilidades verbais e não verbais são como as de uma criança mais 
nova, ou seja, a criança quando começa a se desenvolver apresenta com-
portamentos típicos de faixas etárias anteriores;
• Causas: fatores exógenos à criança;
• Indica que a criança alcançará a plenitude de seu desempenho após um 
início lento – reabilitação mais rápida.
O atraso no desenvolvimento da linguagem não é um diagnóstico fonoaudiológi-
co, mas sim uma condição transitória, geralmente por falta de estímulo familiar 
(GIACHETI, 2014).
Transtorno de Fala e Linguagem
• Quadro persistente com comportamentos desviantes;
• Mostra que algo se distingue da rota natural do desenvolvimento;
• As manifestações são suficientemente persistentes e severas para 
criar dificuldades funcionais de longo prazo (ambiente familiar, so-
cial e escolar);
• A intervenção é mais difícil.
O transtorno de linguagem pode ser um quadro primário, mas também pode 
ser diagnosticado em decorrência de deficiência intelectual ou outras condições, 
sendo considerado um quadro secundário (GIACHETI, 2014).
Assim, a análise das manifestações apresentadas pela criança, para se chegar 
a um diagnóstico, é alcançada pela avaliação do desempenho nos diferentes 
componentes de entrada e saída da linguagem falada (fonologia, sintaxe, se-
mântica e pragmática).
 16
Dessa forma, o fonoaudiólogo deverá, por meio do raciocínio clínico, compre-
ender os marcos do desenvolvimento, os parâmetros de normalidade que defi-
nem o desenvolvimento típico de uma criança, para que, por meio de protocolos 
validados, possa compreender com maior clareza os desvios apresentados nos 
casos clínicos acompanhados, correlacionando-os às diferentes instâncias do 
diagnóstico e, a partir daí, propor intervenções adequadas.
Sabe-se que a vigilância do desenvolvimento da linguagem infantil, na Atenção 
Primária de Saúde (APS), está relacionada com a atenção integral da saúde da 
criança, envolvendo diversos profissionais como uma forma de promover ações 
de prevenção, promoção e diagnóstico precoce de alterações nos primeiros anos 
de vida, bem como a realização de encaminhamento para intervenção no mo-
mento oportuno.
Vale ressaltar que o processo diagnóstico em Fonoaudiologia se inicia pela 
anamnese ou entrevista inicial e, antes mesmo que o profissional inicie o 
processo diagnóstico com o seu paciente, é importante observar alguns pontos 
abordados pelo autor Carl Rogers (2017) sobre a qualidade do encontro entre 
terapeuta e paciente.
• Segundo Carl Rogers, a “qualidade do encontro” é essencial em qualquer 
processo terapêutico, tal qual o preparo profissional e as técnicas utili-
zadas;
• Algumas atitudes ou experiências do terapeuta fazem da relação um cli-
ma favorável ao crescimento;
• O crescimento pessoal é facilitado quando o terapeuta é autêntico na 
relação com o cliente, sem “máscaras”. O autor ainda comenta sobre a 
importância da empatia, colocar-se no lugar do outro;
• Rogers define como consideração positiva, o respeito ao outro como in-
divíduo, não fazer julgamentos;
• Na relação terapêutica, o profissional deverá ser acolhedor, assertivo 
e responsivo, juntamente com a família e com a equipe técnica, para 
que as relações aconteçam de forma respeitosa, sem perder a efici-
ência e a técnica inerentes ao conhecimento humano (ROGERS, 2017).
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Figura 2 – Cooperação entre equipes
Fonte: Getty Images
#ParaTodosVerem: ambiente hospitalar. Há cinco profissionais de saúde: uma mulher mais à esquerda, trajando 
roupa branca, e dois homens mais centralizados trajando pijamas hospitalares nas cores azul e verde; o homem 
que traja a roupa azul tem um estetoscópio em volta do pescoço na cor cinza-claro. Ao lado direito há duas 
mulheres trajando branco e uma delas segura uma pasta verde-clara com a mão esquerda. Todos os profissionais 
estão com as mãos voltadas para o centro e apoiadas umas às outras. Fim da descrição.
Chegamos ao final da nossa Unidade de estudo. Você, que em breve será profis-
sional de Fonoaudiologia, poderá fazer a diferença na identificação precoce de 
alterações no desenvolvimento de fala e linguagem, pois, ao conhecer os parâ-
metros que levam a uma melhor compreensão do diagnóstico fonoaudiológico, 
você terá condições clínicas de contribuir para uma intervenção fonoaudiológica 
mais adequada e precisa.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Vídeos
Marcos do Desenvolvimento Infantil de 0 a 3 Anos
https://youtu.be/xvXS_cybumw&t=952s
A Saúde Não Depende Apenas da Medicina
https://youtu.be/kJZpIvmHFxM 
O que é Saúde e Doença
https://youtu.be/B050Han8viI 
Leitura
Diretrizes de Estimulação Precoce: Crianças de Zero a 3 Anos com 
Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor
https://bit.ly/3ZBuAn4 
https://youtu.be/xvXS_cybumw&t=952s
https://youtu.be/kJZpIvmHFxM
https://youtu.be/B050Han8viI
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