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Narrativa literária

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LITERATURA 
INFANTOJUVENIL 
Mariana Terra Teixeira
Narrativa literária
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados:
  Diferenciar os papéis de autor, narrador e narratário.
  Reconhecer os níveis do discurso.
  Identificar os recursos técnico-discursivos utilizados em narrativas. 
Introdução
Neste capítulo, você estudará sobre as narrativas literárias, as quais fazem 
parte do gênero literário narrativo. Gêneros literários são um conjunto 
de textos e obras que apresentam características similares de forma e 
conteúdo. Eles são divididos, na teoria literária clássica, em três grandes 
grupos: gênero épico e/ou narrativo, gênero lírico e gênero dramático. 
Neste capítulo, você aprenderá especificamente sobre o gênero literário 
narrativo, ao qual pertencem as narrativas literárias.
Recursos técnico-discursivos específicos, como as falas de perso-
nagens, por meio de discurso direto e discurso indireto, compõem as 
narrativas literárias, assim como os papéis de autor, narrador e narratário. 
Assim, reconhecer os diferentes níveis do discurso é uma importante fer-
ramenta para se analisar e compreender a riqueza das narrativas literárias. 
Ao final deste capítulo, você será capaz de identificar os elementos da 
narrativa literária e de seu gênero discursivo.
Autor, narrador e narratário
A narrativa literária tem características na sua forma e no seu conteúdo 
que identifi cam certas obras como pertencentes ao gênero narrativo. A 
principal característica desses textos é que eles narram, relatam, contam 
histórias, fatos, situações e acontecimentos reais ou imaginários. Todos 
esses eventos e histórias podem ser cronológicos ou psicológicos (p. ex., 
quando o narrador está contando uma história do seu passado, a partir de 
sua memória). O narrador é um elemento central da narrativa, pois é ele 
quem conta a história ao leitor. Dessa forma, é por meio do narrador que 
o leitor toma conhecimento da história. Segundo Gérard Genette (1980), 
teórico do gênero narrativo, a análise do discurso narrativo deve levar em 
consideração o conteúdo narrado e a forma como este é narrado. Por isso, é 
importante aprendermos sobre os níveis do discurso e os diferentes papéis 
do narrador e do narratário na compreensão da história. Veremos os níveis 
do discurso no próximo tópico deste capítulo.
Os acontecimentos narrados pelo narrador constituem o enredo da his-
tória. As narrativas possuem elementos estruturais que asseguram a sua 
verossimilhança, isto é, a coerência interna da história. Para criar um texto 
narrativo com verossimilhança, o autor deve responder a perguntas básicas: 
quem? Onde? Quando? O que aconteceu? E por quê? Aqui, podemos observar 
uma importante diferença entre autor, narrador e narratário. Autor é quem 
cria a história, inventa, escreve o texto narrativo; narrador é aquele que conta 
a história ao leitor; ao passo que narratário é o receptor desse texto e desse 
discurso, conforme veremos no próximo tópico.
As narrativas são sequências lógicas de acontecimentos que têm um estado 
inicial, um meio e um fim. São sequências de ações que ocorrem e mudam o 
estado inicial dos fatos. Segundo Bronckart (1999, p. 219), o esquema narrativo 
pode ser dividido conforme a seguir.
  Situação inicial ou apresentação: há uma situação inicial estável.
  Complicação: provocada por uma força perturbadora, que instaura 
um desequilíbrio.
  Clímax: é o ponto alto da narrativa, que determinará o final.
  Desfecho: o equilíbrio retorna. 
Como podemos ver no esquema de Bronckart (1999), há uma situação 
inicial estável, em que, normalmente, o autor descreve o lugar onde estão as 
personagens e seus estados. Na complicação, algo acontece e perturba esse 
estado inicial, é uma situação que desequilibra o estado das coisas. O clímax 
é o auge do enredo, vem depois da complicação, é como os personagens 
reagem à situação perturbadora, o que eles pensam, falam, fazem, o que leva 
a história ao seu estado final. Bronckart (1999) diz que, no desfecho, fase 
final da história, o equilíbrio normalmente retorna, no entanto, é importante 
observar que, em muitas narrativas, esse equilíbrio não é o mesmo do estado 
inicial e não precisa, necessariamente, ser um estado final feliz. Entretanto, 
em narrativas literárias infantis clássicas, como os contos de fadas, vemos que 
Narrativa literária2
o desfecho representa, sim, um estado final de equilíbrio em que a situação se 
estabiliza e o final é feliz para as personagens da história narrada. 
Em geral, os eventos acontecem em ordem cronológica nas narrativas 
literárias, mas há também o tempo psicológico. Quando um fato que acon-
teceu anteriormente ao tempo presente da história é lembrado pelo narrador 
e contado ao narratário em ordem não cronológica, isto é, não sequencial, 
ocorre o tempo psicológico. A forma do texto e os recursos formais da lin-
guagem atuam sempre em conjunto com o conteúdo nos diferentes gêneros 
textuais. Na narrativa, os tempos verbais utilizados ajudam o autor a escrever 
a sua história. Um dos tempos verbais mais empregados em narrativas é o 
pretérito imperfeito, utilizado para descrever o estado inicial da história, o 
cenário e as personagens. Por exemplo, na tradicional introdução dos contos 
de fadas “era uma vez...”, o verbo “ser” está no pretérito imperfeito. O pre-
térito perfeito, por sua vez, é utilizado para narrar os acontecimentos, o que 
acontece na história que desestabiliza o estado inicial, bastante utilizado na 
complicação e no clímax, mas que pode permear todo o texto para narrar 
as ações das personagens. Por exemplo, em um final infeliz — “o príncipe 
morreu”, “o príncipe virou sapo” —, os verbos “morrer” e “virar” estão no 
pretérito perfeito. Os pretéritos perfeito e mais que perfeito composto também 
são utilizados nas narrativas. Esses tempos verbais podem ser empregados 
quando o narrador quebra a ordem cronológica dos acontecimentos e conta 
ao leitor uma situação que ocorreu antes de outra situação no passado. Por 
exemplo, quando o narrador da história lembra de algo: “A essa altura, José 
já tinha visitado Maria”, “Quando a mãe chegou, Pedro já tinha sido levado”. 
As locuções verbais “tinha visitado” e “tinha sido levado” estão no pretérito 
perfeito composto.
Autor & narrador
O narrador é uma parte central do gênero narrativo, pois é ele quem conta a 
história. O narrador é diferente do autor da obra literária, pois ele é integrado 
ao texto e, como veremos, muitas vezes, é uma personagem da narrativa 
também. Já o autor é o ser humano da vida real, aquele que escreveu o livro 
e inventou, inclusive, o narrador. O foco narrativo é estudado na literatura, 
pois pode mudar a compreensão da história, dependendo do ponto de vista do 
narrador. A divisão clássica dos tipos de narrador são os narradores de primeira 
pessoa e os narradores de terceira pessoa. Quando a história é contada em 
terceira pessoa, o narrador é onisciente e está de fora da história. Os narradores 
dos contos de fadas são todos oniscientes, pois eles sabem a história e estão 
3Narrativa literária
narrando os acontecimentos sem participar deles. Eles não são, portanto, 
personagens. Quando a história é contada em primeira pessoa, o narrador 
é também uma personagem e está contando a história ao mesmo tempo que 
participa ou participou dela. Aqui, reside a importância do foco narrativo, pois 
os narradores em primeira pessoa contam a história desde o seu ponto de vista. 
O narrador-personagem não é neutro, pois a história contada passa pelo seu 
julgamento subjetivo. O gênero diário, que é um tipo de narrativa literária, 
é um exemplo de narrador em primeira pessoa, pois o narrador é justamente 
quem está escrevendo o diário e contando histórias de seu dia a dia.
Para saber sobre os tipos de narrador e foco narrativo, leia o livro O foco narrativo, de 
Ligia Chiappini Moraes Leite, professora de Teoria da Literatura da USP, disponível 
também em formato digital.O narrador é sempre fictício, é criado pelo autor e é ele o emissor do 
discurso da narrativa. Assim, pertence somente ao mundo interno da obra 
literária. Já o autor pertence à realidade, ao mundo empírico, e é o escritor das 
obras literárias. Ele pode criar quantos narradores quiser, um para cada livro 
ou conto, se assim desejar. Podemos citar o escritor brasileiro Machado de 
Assis como exemplo. Como autor, escreveu mais obras utilizando narradores 
em primeira pessoa, mas também escreveu obras nas quais criou narradores 
em terceira pessoa. No romance Quincas Borba, Machado de Assis utiliza 
um narrador em terceira pessoa. Nesse tipo de narrador onisciente, há um 
distanciamento entre narrador e personagens, pois o narrador não participa 
da história. No entanto, pode comentá-la, quando se trata de um narrador 
intruso. Nos romances Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, 
o escritor Machado de Assis criou dois narradores que falam em primeira 
pessoa. Esses narradores contam a história a partir de seus pontos de vista e 
também fazem parte dela, são narradores-personagem. Esses dois romances 
de Machado demonstram a importância do foco narrativo.
Em Dom Casmurro, a história é contada pelo narrador-protagonista Bento 
Santiago, Bentinho, que se transforma no velho Dom Casmurro. Bentinho é 
supostamente traído por Capitu, sua esposa, e o ciúme permeia toda a história. 
No entanto, os fatos e acontecimentos são todos narrados por Bentinho, im-
Narrativa literária4
possibilitando o leitor de ter certeza ao final da história se a traição realmente 
ocorreu, ainda mais porque Bento Santiago era um homem extremamente 
ciumento. Ainda, Bento Santiago está contando a história de maneira cro-
nológica, mas Machado de Assis também utiliza o tempo psicológico, pois 
Bento Santiago já é um homem maduro de 54 anos, advogado, aristocrata, 
e está lembrando e contando a história que começou quando ele era jovem. 
É interessante que, por muitos anos depois que o romance foi publicado, 
acreditou-se que Capitu tinha traído Bentinho. Somente com o passar dos 
anos, os pesquisadores e estudiosos atentaram para o fato de o livro estar 
escrito em primeira pessoa e a história estar sendo contada pelo narrador-
-personagem Bentinho. Dessa forma, o romance Dom Casmurro evidencia o 
brilhantismo do autor Machado de Assis, que conseguiu, por meio do uso da 
técnica discursiva do narrador-personagem em primeira pessoa, criar uma obra 
literária na qual a dúvida do acontecimento principal da narrativa, a traição 
de Capitu, não fosse nunca resolvida.
Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis evidencia o seu 
talento na escrita narrativa criando, pela primeira vez, um narrador-personagem 
morto. Brás Cubas morre e começa a contar a sua história depois de morrer. 
É um narrador em primeira pessoa, que conta a história e participa dela, ao 
mesmo tempo que já não está mais vivo quando a história é narrada. É um 
bom exemplo de uso do tempo psicológico como técnica narrativa. 
Leitor & narratário
O leitor tem também o seu papel na construção da narrativa literária. Leffa 
(1996, p. 17) diz que “[...] ler é interagir com o texto”. O leitor é o receptor da 
mensagem da narrativa, é o público-alvo do autor, escritor da obra literária. 
No entanto, ao contrário do que se pode pensar, o leitor não é um ser passivo, 
pois a leitura não é um processo passivo, visto que ler é atribuir signifi cado 
ao texto. A obra literária, sem seus leitores, não produz signifi cado, não tem 
sentido. É o leitor que dá sentido ao texto. Dessa maneira, é o leitor que faz a 
interpretação, a compreensão da narrativa literária, completando-a com a sua 
visão de mundo. O mesmo texto pode ter uma interpretação diferente se for 
lido por pessoas distintas. Uma obra literária pode provocar reações diferentes 
em cada pessoa que a lê. E mais ainda, uma mesma narrativa literária pode ter 
efeitos de sentido diferentes para uma mesma pessoa dependendo da época 
que a leitura acontece. Se você ler Harry Potter com 14 anos e depois relê-lo 
aos 45 anos, sua interpretação do texto, dos acontecimentos da história, pode 
não ser a mesma. Isso porque a interpretação de um texto, literário ou não, 
5Narrativa literária
depende também do conhecimento prévio do leitor. As pessoas têm diferentes 
visões de vida, da realidade e da sociedade. 
As obras literárias trazem em si elementos sociais que são escritos pelos 
autores com uma intenção, mas nem sempre a intenção do autor é captada 
pelo leitor. Ao escrever um texto e publicá-lo, o autor coloca no mundo a sua 
obra aberta para interpretações distintas, mesmo que alguma não seja espe-
cificamente a interpretação do autor ao escrever esse texto. Se a linguagem 
utilizada, o enredo narrativo da história e a característica das personagens 
dão margem à interpretação do leitor, a interpretação é válida. Também não 
se pode esquecer que as obras literárias são escritas em uma certa época, em 
determinado contexto social. Ao lermos hoje a obra Dom Quixote, escrita por 
Miguel de Cervantes, na Espanha, em 1605, podemos não entender todas as 
nuances pertinentes à época. 
Leffa (1996) nos ajuda a entender o papel do leitor na constituição da obra 
literária comparando a leitura de uma narrativa à leitura de mundo:
Numa leitura do mundo, o objeto para o qual se olha funciona como um 
espelho. Se o objeto for, por exemplo, uma casa, vai oferecer tantas leituras 
quantas forem as posições de cada um dos observadores em relação à casa. O 
arquiteto fará uma leitura arquitetônica, o sociólogo uma leitura sociológica, 
o ladrão uma leitura estratégica, e assim por diante. Sem triangulação não há 
leitura (LEFFA, 1996, p. 11).
Dessa forma, vemos, na explicação do autor, que é na relação entre leitor 
e texto que se dá a interpretação. O leitor parte de um ângulo singular e, de-
pendendo dos seus objetivos, toma um posicionamento em relação ao objeto, 
neste caso, o texto. Não temos como fazer a leitura de uma casa se não for de 
uma das posições possíveis. Entretanto, fica claro, na explicação, que o leitor é 
dono de sua compreensão da obra literária, e a faz de seu ponto de vista, com 
o seu conhecimento de mundo, completando a leitura com a sua interpretação 
dos acontecimentos narrados, por exemplo.
Precisamos identificar os papéis do leitor na narrativa literária em espe-
cífico. Como vimos na seção anterior, o autor e o narrador não têm a mesma 
função. Aqui, também, falando de quem recebe o texto, leitor e narratário 
não têm a mesma função. O leitor é o público, a audiência do autor, a quem o 
autor destina o texto. É extratextual, isto é, tanto o leitor quanto o autor estão 
fora do texto. O narratário, por sua vez, está dentro do texto. O narratário é o 
destinatário do narrador, o narrador conta a sua história para um narratário, 
que faz parte do texto em si, constituindo uma relação intratextual. Tanto o 
Narrativa literária6
narrador quanto o narratário estão dentro do texto. O leitor, ser empírico, é o 
receptor final do texto, quem atribui a ele uma interpretação. 
Em algumas narrativas literárias, os autores — escritores — habilmente 
utilizam o narratário como técnica discursiva na composição de sua narrativa. 
O narratário aparece evidente no texto, quando o narrador se dirige ao leitor 
diretamente. O romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, é um exemplo. 
Podemos ver que o narrador, Bentinho, se dirige abertamente ao leitor. Esse 
leitor que faz parte da narrativa do narrador é, na verdade, o narratário, pois 
ele está dentro do universo do texto. Assim, podemos ver que, às vezes, o 
narratário fica explícito nas obras literárias. 
Dom Casmurro é um bom exemplo para entendermos como Machado de 
Assis utiliza a técnica discursiva do narratário para chamar o leitor para a cons-
trução do significado dessa narrativa literária. Quem interpreta, compreende 
e completa a obra literária é o leitor, receptor final da obra, pois dá sentido 
a ela. No entanto, o ser queaparece explícito no texto é o narratário, pois é 
fictício e comum a todos os leitores. Analisemos o exemplo de Dom Casmurro. 
Na obra, o narrador, que é o personagem protagonista, Bentinho, cria uma 
relação muito peculiar com o seu leitor, o narratário, pois ele conversa com o 
narratário no meio da narrativa. O narrador se dirige, assim, explicitamente, 
ao narratário no meio do texto, com intuito de convencê-lo, de trazê-lo para 
o seu lado. Assim, no romance Dom Casmurro, o autor Machado de Assis, 
habilmente, dá um papel explícito ao seu leitor, o de juiz. Bentinho, como 
narrador, tenta convencer o leitor de que Capitu o traiu, contanto situações e 
mostrando acontecimentos dúbios. O leitor, no entanto, tem de estar atento 
para o fato de que Bentinho é também personagem da história, e a sua versão 
é uma das versões da história. É o leitor quem decide, ao final, se acredita 
na traição de Capitu ou não. A seguir, temos um trecho dessa obra, em que 
podemos ver a fala direta do narrador Bentinho com o seu narratário, que ele 
chama, obviamente, de leitor:
Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela ve-
rossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas porque a minha vida 
se casa bem à definição. Cantei um duo terníssimo, depois um trio, depois 
um quatuor... Mas, não adiantemos; vamos à primeira tarde, em que 
eu vim a saber que já cantava, porque a denúncia de José Dias, meu caro 
leitor, foi dada principalmente a mim. A mim é que ela me denunciou.
Tudo isto me era agora apresentado pela boca de José Dias, que denun-
ciara a mim mesmo, e a quem eu perdoava tudo, o mal que dissera, o 
mal que fizera, e o que pudesse vir de um e de outro. Naquele instante, 
7Narrativa literária
a eterna Verdade não valeria mais que ele, nem a eterna Bondade, nem 
as demais Virtudes eternas. Eu amava Capitu! “Capitu amava-me” E as 
minhas pernas andavam, desandavam, estacavam, trêmulas e crentes 
de abarcar o mundo (ASSIS, 2008, p. 213, grifo nosso).
Podemos ver, nas partes destacadas, que o narrador-personagem estabelece 
uma conversa com o leitor, através do narratário, personagem fictício que 
aparece no texto na forma de ser que está atento à narrativa contada pelo 
narrador. Bentinho dirige-se ao narratário como “leitor amigo” e conversa 
com ele durante a narrativa. Dessa forma, o autor Machado de Assis está, 
claramente, tentando atingir, conversar, com o leitor. Assim, temos um exemplo 
bem ilustrativo de como o leitor também contribui para o sentido da narrativa 
literária. A interpretação do leitor será uma convergência da compreensão das 
palavras escritas pelo autor, da avalição de como o autor escreveu a história 
e de seu conhecimento prévio (i.e., conhecimento de mundo que o leitor traz 
consigo e utiliza na compreensão final do texto).
Níveis do discurso
Gêneros literários são um conjunto de obras que possuem características 
similares tanto na sua forma quanto no seu conteúdo. Existem três grandes 
gêneros literários: o gênero narrativo, o gênero lírico e o gênero dramático. 
Os gêneros literários se diferenciam pelos seus gêneros discursivos/textuais. 
Isto é, cada gênero literário é um tipo de texto diferente. Os gêneros textuais, 
segundo Bakhtin (1992), são gêneros do discurso, são tipos relativamente 
estáveis de enunciados produzidos nas diferentes esferas da atividade humana. 
Os gêneros do discurso são variados e ilimitados, pois representam as infinitas 
situações comunicativas presentes nas relações humanas. São exemplos de 
gêneros textuais: cartas, e-mails, receitas culinárias, romances, reportagem, 
contos, horóscopo, cardápios, sermão, entre muitos outros. Ou seja, quanto 
mais situações de linguagem, tanto orais quanto escritas, forem criadas pelas 
relações humanas, mais gêneros textuais existirão. 
Segundo Marcuschi (2002), os gêneros textuais surgem de acordo com as 
necessidades e atividades socioculturais e também na relação com as inovações 
tecnológicas. A tecnologia e os novos aparelhos, como tablets e smartphones, 
interferem nas situações comunicativas diárias das pessoas. Assim, temos 
uma explosão de novos gêneros textuais, devido a essas novas formas de 
comunicação, tanto faladas quanto escritas, influenciadas pela tecnologia. 
Narrativa literária8
Na linguística, a ciência da linguagem, os cientistas diferenciam gêneros textuais de 
tipos textuais. Gêneros textuais, tomando a definição de Bahktin, são tipos relativamente 
estáveis de enunciados utilizados na comunicação humana, como vimos acima. Por 
exemplo, bilhetes, e-mails, livros, como romance, contos, reportagens. Já os tipos textuais 
são ferramentas que estão a serviço dos gêneros textuais. Dominar a tipologia textual 
é uma habilidade fundamental para diferenciar os gêneros textuais. São, segundo 
Marcuschi, sequências previamente definidas pela natureza linguística predominante 
em sua composição (2002). Precisamos nos familiarizar com aspectos lexicais, sintáticos 
e tempos verbais predominantes em cada tipo textual. Os principais tipos textuais são: 
o tipo injuntivo, o narrativo, o descritivo e o dissertativo-argumentativo.
Para se aprofundar no tema, você pode ler os seguintes artigos:
  TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de texto: tipos, gêneros e espécies. 
ALFA – Revista de Linguística. V. 51, n. 1. 2007.
  FURLANETTO, Maria Marta. Produzindo textos: gêneros ou tipos? Perspectiva, v. 20, 
n.1. Florianópolis, Santa Catarina. 2002.
Os gêneros literários são gêneros do discurso que tem a literariedade 
como característica, como, por exemplo, a narrativa literária. Assim, são 
normalmente escritos e tem uma estética definida. A literariedade é um termo 
cunhado por Roman Jacobson para distinguir textos não literários, comuns, 
de textos pertencentes à literatura. Os textos literários se servem da realidade 
para criar mundos fictícios, fantásticos, utilizando-se da linguagem literária 
para criar outras formas de ver a experiência humana. Assim, a ficcionalidade 
é uma das características principais do texto literário (ainda que nem toda a 
literatura seja ficcional), além da linguagem literária. A linguagem literária é 
aquela cuidadosamente selecionada pelo autor, uma linguagem estética, que 
pode utilizar metáforas e tem como um de seus objetivos a fruição do texto 
pelo leitor. Apesar de poderem ser de ficção, ou sobre mundos alternativos, 
inventados, as obras literárias precisam ter verossimilhança. Não necessa-
riamente o que está sendo contado, declamado ou lido necessita existir no 
mundo real, mas a história inventada necessita de verossimilhança, isto é, 
lógica interna, o que ocorre no interior da história deve fazer sentido naquele 
mundo interno ao texto. 
Em resumo, a narrativa literária é um tipo de texto específico que constitui 
o gênero literário narrativo. A narrativa literária é, portanto, um gênero do 
discurso e difere de outros gêneros literários quanto às suas características 
9Narrativa literária
formais. A narrativa possui elementos indispensáveis para a sua caracterização 
e técnicas discursivas próprias. O Quadro 1 nos ajuda a visualizar e a entender 
a diferença entre gêneros do discurso e gêneros literários.
Fonte: Adaptado de Bakhtin (1992).
Gêneros O que são Tipos Exemplos
Gêneros do 
discurso
Tipos estáveis 
de enunciados 
utilizados 
na interação 
humana. Não 
necessariamente 
literários. As 
narrativas 
literárias são um 
tipo de gênero 
do discurso.
  Gêneros 
primários 
(simples): 
informais, 
relação 
direta com 
a realidade. 
Enunciados da 
vida cotidiana. 
  Gêneros 
secundários 
(complexos): 
comunicação 
cultural 
complexa, 
organizada e, 
normalmente, 
escrita. 
Primários: bilhetes, 
diálogos familiares, 
cartas de amigos.
Secundários:
romances, 
novelas, contos, 
teses, palestras.
Gêneros 
literários
Gêneros 
discursivos/
textuais da 
literatura. Textos 
literários.
  Gênero épico/
narrativo.
  Gênero lírico.
  Gênero 
dramático.
Narrativas literárias 
(contos,romances, 
fábulas); poesia; 
peças de teatro.
Quadro 1. Os gêneros do discurso e os gêneros literários
O gênero narrativo literário tem características discursivas bem marcan-
tes. A sua tipologia textual é narrativa. Nas narrativas, necessariamente, se 
transmite uma mensagem, que está inserida em um tempo específico, escrita 
de modo que o receptor consiga entendê-la. Essa mensagem começa no 
estado inicial e termina no desfecho. A mensagem é emitida pelo narrador, 
que conta a história, e captada pelo receptor do texto, o narratário, mas só é 
Narrativa literária10
compreendida e interpretada pelo leitor real, que faz a interpretação dessa 
mensagem olhando o todo: o que foi enunciado e como foi enunciado.
Entre o que é enunciado, por quem e para quem e como, temos os níveis 
do discurso. Émile Benveniste é o primeiro linguista, cientista da linguagem, 
a distinguir a língua em si do emprego da língua. Benveniste introduz uma 
visão enunciativa da linguagem com a Teoria da Enunciação, trazendo para 
análise o discurso, que é a língua posta em ação pelo sujeito. 
Segundo Benveniste (1995), há dois tipos de signos, códigos utilizados na 
linguagem: os que pertencem à sintaxe da língua e os que são característicos 
das “instâncias do discurso”. Segundo o autor, “Instâncias do discurso” são 
“[...] atos discretos e cada vez únicos pelos quais a língua é atualizada em 
palavra por um locutor” (BENVENISTE, 1995, p. 277). Os signos que são 
característicos às instâncias do discurso são os pronomes pessoais eu e tu, que 
só existem na rede de indivíduos que a enunciação cria e se produzem na e pela 
enunciação do locutor. Enunciação, para Benveniste, é o ato de se apropriar da 
língua e colocá-la em prática no discurso. Cada eu tem sua referência própria 
e corresponde cada vez a um ser único. Eu é o “[...] indivíduo que enuncia 
a presente instância de discurso que contém a instância linguística ‘eu’” e 
tu é o “[...] indivíduo alocutado na presente instância de discurso contendo 
a instância linguística ‘tu’” (BENVENISTE, 1995, p. 279, grifo nosso). Eu 
e tu não existem como signos virtuais, pois só existem à medida que são 
atualizados nas instâncias de discursos, e são eles que marcam o processo 
de apropriação do discurso pelo locutor. Benveniste ressalta que eles não 
remetem à realidade nem a posições objetivas no espaço ou no tempo, mas 
remetem à enunciação, cada vez única, que os contém. 
Aqui, vemos que Benveniste amplia a visão de linguagem para uma lin-
guagem que é assumida como exercício pelo indivíduo, em contrapartida 
a uma linguagem vista como um sistema de signo, códigos escritos, sem 
interação com o mundo. Dessa maneira, é possível perceber a preocupação 
de Benveniste com o discurso, com a enunciação e o sujeito, ressaltando a 
presença do homem na língua. A comunicação intersubjetiva proposta por 
Benveniste se realiza no discurso. E “[...] é no discurso atualizado em frases 
que a língua se forma e se configura. Aí começa a linguagem” (BENVE-
NISTE, 1995, p. 140), ou seja, “[...] o discurso como a linguagem posta em 
ação – e necessariamente entre parceiros” (BENVENISTE, 1995, p. 284). 
Para Benveniste, o discurso é a língua assumida pelo homem que fala, sob 
a condição de intersubjetividade, isto é, entre sujeitos, o que torna possível 
a comunicação linguística.
11Narrativa literária
Níveis do discurso específicos da narrativa
Podemos aplicar de forma mais prática os conceitos das teorias do discurso à 
narrativa literária em específi co. Como aprendemos com o conceito de gêneros 
do discurso de Bakhtin, a narrativa é um gênero discursivo e, como tal, tem 
sua função própria para a comunicação humana. É um tipo de enunciado 
estável, que tem sempre os elementos vistos neste capítulo, e transmite uma 
mensagem de um autor para um leitor, por meio de narrador e narratário, 
respectivamente.
Fiorin (2007) relaciona as teorias do discurso e os sujeitos da enunciação 
aos sujeitos envolvidos nas narrativas. Segundo o autor, os sujeitos da enun-
ciação são divididos em três níveis do discurso: o nível do enunciador e do 
enunciatário; o nível do narrador e do narratário; e o nível das personagens 
da narrativa. Todos fazem uso do discurso, em diferentes níveis. Vejamos a 
explicação do autor para que possamos melhor entender a distribuição dos 
sujeitos no discurso narrativo:
Os sujeitos da enunciação aparecem em três níveis distintos: 1. o autor e o 
leitor implícitos, que são pressupostos pela própria existência do enunciado, 
chamados enunciador e enunciatário; 2. aquele que narra e aquele para quem 
se narra, projetados no interior do enunciado, denominados narrador e narra-
tário; 3. as personagens que dialogam entre si no interior do texto, nomeados 
de interlocutor e interlocutário (FIORIN, 2007, p. 26).
O autor e o leitor são os sujeitos da enunciação em si. Podemos pensar 
neles como as instâncias do discurso de Benveniste — o eu é o autor e o tu 
é o leitor. O autor é o eu que se apropria da língua e a coloca em ação na sua 
narrativa. O narrador e o narratário são, segundo Fiorin (2007), sujeitos da 
enunciação. Isto é, o narrador e o narratário são internos ao texto, mas, dentro 
do texto, eles são os sujeitos, eles são quem fala e quem ouve, quem narra 
e quem lê. As personagens da narrativa também falam dentro da história, 
dialogam entre si e põem, de certa forma, a língua em prática, se utilizam do 
discurso. As personagens são denominadas interlocutor e interlocutário, pois 
dialogam dentro do texto (FIORIN, 2007). 
A proposta de sujeitos da enunciação feita por Benveniste abriu novas pos-
sibilidades de análise do discurso. O locutor e o destinatário não são somente 
Narrativa literária12
polos da comunicação, mas sim entidades que se situam num determinado 
tempo histórico e espaço sociocultural. Assim, a Teoria da Enunciação de 
Benveniste, bem como as demais teorias de discurso, abrem a possibilidade de 
análise das vozes, dos enunciadores, dos sujeitos que participam da transmissão 
e da recepção da mensagem da narrativa literária. O narrador é o enunciador 
da mensagem do autor, e este, por sua vez, é o eu real que instancia o discurso 
da narrativa. 
A Teoria da Enunciação de Emile Benveniste é uma das teorias do discurso. As teorias 
do discurso são um ramo da linguística que estuda a língua posta em uso. A seguir, 
estão listadas diferentes vertentes de Teorias do Discurso. 
As vertentes diferem em relação ao papel que dão ao sujeito do discurso, ou ao 
discurso em si. Em uma separação grosseira, Benveniste e Ducrot ficariam do lado do 
sujeito, Bakhtin e Pêcheux, do lado do discurso. Os dois primeiros autores priorizam 
o ato da enunciação do sujeito — quando o sujeito põe a língua em uso e esta 
se torna o discurso. Os dois últimos autores priorizam o discurso. Bakhtin fala dos 
gêneros discursivos/textuais, isto é, os diferentes usos socialmente estabelecidos 
da língua em forma de textos; Pêcheux foca na ideologia por trás da seleção de 
palavras e frases do discurso de um sujeito, a intertextualidade com discursos já 
estabelecidos na sociedade. Dessa forma, se você deseja se aprofundar no estudo 
do sujeito como enunciador da linguagem e criador do discurso, você pode ler 
textos de Benveniste e/ou Ducrot; se você se interessa mais pelo discurso em si, já 
posto no mundo e, então, material de análise ideológica e linguística, você pode 
ler Peucheux e/ou Bakhtin. 
Recursos técnico-discursivos utilizados
nas narrativas literárias
Alguns dos elementos das narrativas literárias que vimos são recursos técnico-
-discursivos utilizados pelos autores na escrita da obra literária narrativa. O 
recurso mais enfatizado neste capítulo foi o diálogo estabelecido na narrativa 
13Narrativa literária
entre narrador e narratário. O narrador é um importante recurso, pois pode 
tornar a narrativa mais subjetiva ou mais objetiva. O narrador pode ser onis-
ciente e contar os fatos, ou pode ser uma personagem e contar a sua visão da 
história.Já o narratário, como vimos, é um recurso utilizado pelos escritores 
para falar com o leitor, atingir o público, chamá-lo para integrar a narrativa. 
Uma outra técnica discursiva que compõe as narrativas literárias são os 
tipos de discurso utilizados pelo narrador para registrar as falas das persona-
gens. As personagens interagem na história, e o registro dessas falas é feito 
pelo narrador. Há três tipos de discurso que são utilizados pelos narradores: 
o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre. O discurso 
direto é o registro direto da fala da personagem, a transcrição ipsis litteris 
do que e do modo como o personagem falou. Você pode identificar a fala dos 
personagens em discurso direto pelo travessão, pelos dois pontos e pelas aspas. 
A fala direta dos personagens fica bem evidente nas narrativas em que há 
diálogos, em que um personagem fala com outro diretamente, sem intervenção 
do narrador. O discurso indireto é diferente do direto, pois nele temos a inter-
ferência do narrador. No discurso indireto, a fala do personagem é transmitida 
indiretamente, tendo o narrador como intermediário, ou seja, o leitor não tem 
acesso à fala literal do personagem. Assim, como leitores, somente lemos a 
voz do narrador, que passa a nós a mensagem da fala do personagem. Nas 
narrativas, podemos ver falas indiretas dos personagens quando o narrador 
utiliza verbos de introdução de discurso indireto, por exemplo: “Capitu falou 
que...”, “Quincas Borba contestou o que foi decidido por...”.
O discurso indireto livre é uma mistura do discurso direto e do indireto, 
é um meio termo entre a fala literal do personagem e a voz do narrador. 
Normalmente, são falas típicas dos personagens, expressões ou, principal-
mente, pensamentos que são mediados pelo narrador. Quando lemos alguma 
expressão, como “droga!”, por exemplo, no meio do texto, é uma fala indireta 
de um personagem, mediada pelo narrador e transmitida para nós, leitores, 
no texto da narrativa. 
Como vimos, a narrativa literária tem elementos específicos, como nar-
rador, personagens, tempo, espaço, enredo. Além disso, o gênero narrativo é 
um gênero do discurso, e a narrativa possui técnicas discursivas específicas a 
esse gênero. As técnicas discursivas são utilizadas pelos autores para criar o 
mundo da narrativa e transmitir a mensagem da história ao leitor, seu receptor 
final. Os níveis do discurso são importantes neste jogo de comunicação entre 
autor/escritor e leitor/receptor. O Quadro 2, a seguir, apresenta os diferentes 
papéis discursivos das narrativas literárias e esclarece quem são os sujeitos 
envolvidos nessas narrativas.
Narrativa literária14
Papéis 
discursivos
Definição Níveis do discurso
Autor Escritor do texto. Criador do 
narrador e do narratário, bem 
como das personagens e do 
enredo (a história em si).
Extratextual (fora 
do texto).
Pertencem ao mundo 
real, são seres empíricos.
Leitor Receptor do texto. Público-alvo 
do autor. Completa o texto 
com a sua interpretação, sua 
compreensão final da obra.
Narrador Aquele que conta a história, 
que narra os acontecimentos. 
Intratextual (dentro 
do texto).
Pertencem ao mundo 
interno da narrativa, 
são seres fictícios. 
Narratário Destinatário do narrador. Aquele 
para quem o narrador narra os 
fatos da história. Com quem o 
narrador conversa — explícita 
ou implicitamente — no texto. 
Quadro 2. Papéis discursivos nas narrativas literárias
ASSIS, M. de. Dom casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: 
Martins Fontes, 1992.
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. 4. ed. Campinas: Pontes, 1995. v. 1.
BRONCKART, J.-P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo socio-
discursivo. São Paulo: Educ, 1999. 
FIORIN, J. L. F. O sujeito na semiótica narrativa e discursiva. Todas as Letras, v. 9, n. 1, 2007. 
Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tl/article/viewFile/649/579. 
Acesso em: 26 jul. 2019.
GENETTE, G. Discurso da narrativa. Lisboa: Vega, 1980.
LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996. 
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Â. P.; MA-
CHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
15Narrativa literária
Leituras recomendadas
ASSIS, M. de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. v. 2. 
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. 2. ed. Campinas: Pontes Editores, 2006. v. 2.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987. 
FURLANETTO, M. M. Produzindo textos: gêneros ou tipos? Perspectiva, v. 20, n. 1, 2002.
LEITE, L. C. M. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1997.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: UNI-
CAMP, 1988.
TRAVAGLIA, L. C. A caracterização de categorias de texto: tipos, gêneros e espécies. 
ALFA – Revista de Linguística, v. 51, n. 1. 2007.
Narrativa literária16

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