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Nutrição na Doença Renal Crônica

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NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM 
DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 3 
Objetivo da disciplina 3 
Objetivos específicos 3 
Habilidades e competências a serem adquiridas 
 3 
Ementa da disciplina 4 
Bibliografia básica da disciplina 4 
 
1 CRIANÇAS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 7 
Causas de doença renal crônica em crianças 8 
Consequências da doença renal crônica 11 
Aspectos do tratamento de crianças com doença 
renal crônica 13 
Qualidade de vida da criança com doença renal 
crônica 16 
Pais e/ou responsáveis por crianças com doença 
renal crônica 17 
 
2 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA 
CRIANÇAS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 19 
Recomendação de ingestão de energia 22 
Recomendação de ingestão de proteína 23 
Recomendação de ingestão de carboidrato 24 
Recomendação de ingestão de lipídio 24 
Recomendação para bebês 25 
Recomendação de ingestão de micronutrientes 
 25 
Recomendação de ingestão de líquidos 30 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 33 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
3 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
 
 
Objetivo da disciplina 
 
Abordar os cuidados nutricionais voltados à criança com 
doença renal crônica. 
 
Objetivos específicos 
 
 Discutir o impacto que a doença renal crônica pode causar 
na criança. 
 Abordar a dietoterapia voltada para crianças com doença 
renal crônica. 
 
Habilidades e competências a serem adquiridas 
 
 Compreender o impacto da doença renal crônica no 
crescimento e desenvolvimento da criança, bem como as 
estratégias nutricionais direcionadas a esse público. 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
4 
Ementa da disciplina 
 
A disciplina aborda aspectos acerca da doença renal crônica na 
criança, especialmente no que concerne às orientações nutricionais. 
As informações incluídas no material são provenientes de estudos 
científicos e de diretrizes de órgãos renomados na área de Nutrição e 
Nefrologia. 
 
Bibliografia básica da disciplina 
 
Cuppari, L. et al. Livro: Nutrição na doença renal crônica. 
Manole. 2012. 
 
Cuppari, L. et al. Livro: Nutrição clínica no adulto. Edição 4. 
Manole. 2018. 
 
Cuppari, L. et al. Livro: Nutrição nas doenças crônicas não-
transmissíveis. Manole. 2009. 
 
Cozzolino, S. Livro: Biodisponibilidade de nutrientes. Edição 
6. Manole. 2020. 
 
Cozzolino, S.; Cominetti, C. Livro: Bases bioquímicas e 
fisiológicas da nutrição, nas diferentes fases da vida, na 
saúde e na doença. Edição 2. Manole. 2020. 
 
Didsbury, M. et al. Socio-economic status and quality of life in 
children with chronic disease: A systematic review. J 
Paediatr Child Health. 2016. 
 
Kayange, N.M. et al. Kidney disease among children in sub-
Saharan Africa: a systematic review. Pediatric Research. 2015. 
 
Hodson, E. et al. Growth hormone for children with chronic 
kidney disease. The Cochrane Database of Systematic Reviews. 
2012. 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
5 
Chaturvedi, S. et al. Protein restriction for children with 
chronic renal failure. Cochrane Database Syst. 2007. 
 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
7 
1 CRIANÇAS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 
 
Introdução 
 
É inegável que o 
desenvolvimento de doença 
renal crônica na infância e na 
adolescência pode 
comprometer os processos 
fisiológicos que ocorrem nesse 
período da vida, o que, 
eventualmente, pode prejudicar 
o crescimento e o 
desenvolvimento da criança e 
do adolescente. 
 
Não obstante, há de se 
admitir que as crianças e 
adolescentes com doença renal 
crônica enfrentam muitos 
desafios ao longo de sua vida, 
haja vista que têm atraso no 
desenvolvimento de suas 
habilidades motoras, podem 
apresentar mais problemas de 
aprendizagem, de 
comportamento e de 
relacionamento, maior 
dificuldade de concentração e 
parecem desenvolver uma 
autoimagem negativa. 
 
Para se ter ideia do 
impacto da doença renal 
crônica na criança, estima-se 
que crianças com doença renal 
crônica tenham cerca de 30 
vezes mais chances de 
mortalidade quando em 
comparação com crianças 
saudáveis. 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
8 
Levando em 
consideração a importância do 
tema, o objetivo da presente 
seção é justamente abordar o 
impacto que a doença renal 
crônica pode ter sobre crianças 
e adolescentes, tanto do aspecto 
fisiológico quanto em relação à 
qualidade de vida, bem como 
apresentar particularidades do 
tratamento deste público. 
 
Causas de doença renal 
crônica em crianças 
 
De acordo com registros 
pediátricos em diversos países, 
a prevalência/incidência de 
doença renal crônica em 
crianças é baixa e as 
anormalidades congênitas nos 
rins e no trato urinário 
contribuem com 50% das 
causas de doença renal crônica 
em crianças. 
 
Estima-se que em cada 
1.000.000 de crianças com 
idade inferior a 15 anos, 32 
apresentem doença renal 
crônica em estágio cinco 
(32/1.000.000), que seria o 
estágio mais avançado da 
doença, onde há necessidade de 
início da terapia dialítica ou de 
transplante renal. 
 
Salienta-se que a 
prevalência de crianças com 
doença renal crônica em 
estágios menos avançados, ex.: 
estágio 3, é muito maior do que 
a apresentada por crianças com 
doença renal crônica em estágio 
5, apesar de os dados a respeito 
da prevalência de doença renal 
crônica em estágios menos 
avançados em crianças serem 
pouco claros na literatura. 
 
A incidência de doença 
renal crônica parece ser de duas 
a três vezes maior em crianças 
americanas afrodescendentes 
quando em comparação com 
crianças americanas 
caucasianas, indicando que 
questões étnicas, regionais e 
socioenômicas poderiam ter 
vínculo com o desenvolvimento 
de doença renal crônica em 
crianças. 
 
Uma explicação para o 
fenômeno acima seria a elevada 
frequência de doenças 
glomerulares, como a esclerose 
glomerular segmentar focal 
(doença caracterizada por 
síndrome nefrótica que tende a 
progredir para insuficiência 
renal terminal), na população 
afrodescendente, 
provavelmente em razão da 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
9 
mutação do gene APOL1 
comum na África subsariana. 
 
Parece ainda que os 
fatores de risco para doença 
renal crônica são comuns para 
crianças da África subsariana e 
em outros países 
subdesenvolvidos. A injúria 
renal intrauterina durante o 
desenvolvimento fetal e a má 
nutrição durante a infância 
poderiam contribuir com o 
desenvolvimento de doença 
renal crônica e são situações 
recorrentes em crianças 
residentes em países em 
desenvolvimento. Não 
obstante, infecções por 
parasitas, como 
esquistossomose (“barriga 
d'água”), glomerulonefrites 
após infecções, nefropatia 
relacionada ao HIV, anemia 
falciforme e diarreia 
prolongada são causas de dano 
renal em crianças residentes em 
regiões subdesenvolvidas, 
como na África subsariana. 
 
Em crianças residentes 
em países desenvolvidos, a 
obesidade, o sedentarismo e a 
ingestão de uma dieta 
inadequada (com 
predominância de alimentos 
ultra processados, os quais são 
ricos em energia, açúcares e 
gorduras saturadas, trans e 
hidrogenadas, e sódio) seriam 
importantes causas de doença 
renal crônica. Sabe-se que a 
obesidade é um significativo 
fator de risco para o 
desenvolvimento de 
comorbidades, como 
resistência à insulina, diabetes 
mellitus, hipertensão arterial 
sistemática, doenças 
cardiovasculares, câncer e a 
própria doença renal crônica. 
Em relação à doença renal 
crônica, tanto crianças com 
desnutrição quanto com 
obesidade estariam em maior 
risco de mortalidade. 
 
Com base no exposto, 
compreende-se que as causas 
de doença renal crônica em 
crianças variam de acordo com 
questões socioeconômicas, 
regionais e étnicas. Neste 
cenário, o tratamento médico e 
nutricionalpode variar de 
acordo com a causa da doença 
renal crônica e com o contexto 
de vida do paciente. 
 
Aventa-se que a melhor 
situação seria mitigar os fatores 
de risco de doença renal 
crônica, de modo a prevenir o 
desenvolvimento da doença. No 
que se refere às causas 
observadas em países em 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
10 
desenvolvimento, destaca-se a 
importância de programas e 
políticas públicas com fins de 
melhorar a saúde e a qualidade 
de vida da população. 
 
Já em relação aos países 
desenvolvidos, é de extrema 
importância as campanhas 
educativas e orientações 
nutricionais no combate à 
obesidade. Não obstante, 
políticas públicas com intuito 
de evitar a inclusão de 
alimentos ultra processados em 
escolas (ex.: na merenda 
escolar e na cantina), com 
objetivo de ofertar alimentos 
saudáveis (ex.: vegetais), com a 
premissa de fornecer educação 
nutricional para os 
responsáveis, com a ideia de 
incluir rótulos alimentares com 
leitura mais acessível e afins são 
interessantes no controle da 
obesidade e de suas 
comorbidades. 
 
Ressalta-se que a 
obesidade não é um problema 
de saúde pública apenas em 
países desenvolvidos, mas 
também tem se tornado 
crescente e alarmante em 
países em desenvolvimento, a 
exemplo do Brasil. Neste 
contexto, as estratégias 
apresentadas no parágrafo 
anterior seriam válidas também 
nestes casos. 
 
Há a teoria de que 
indivíduos desnutridos em 
algum momento da vida, 
inclusive crianças, tenham 
maior risco de desenvolver 
sobrepeso/obesidade quando 
em um período posterior de 
maior oferta energética. A 
explicação desse fenômeno 
seria a maior capacidade de 
retenção energética do tecido 
adiposo neste contexto 
(privação severa energética e 
depois aumento da oferta 
energética). 
 
A Tabela 1 apresenta os 
principais fatores de risco de 
doença renal crônica em 
crianças em países 
subdesenvolvidos e 
desenvolvidos. 
 
Tabela 1. Fatores de risco 
de doença renal crônica 
em crianças residentes em 
países em 
desenvolvimento e 
desenvolvidos. 
 
Fatores de risco 
de doença renal 
crônica em 
crianças de países 
subdesenvolvidos 
Fatores de risco de 
doença renal 
crônica em 
crianças de países 
desenvolvidos 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
11 
Mutação do gene 
APOL1 
Má alimentação 
(excessiva em 
energia, açúcares, 
gorduras, sódio) 
Injúria renal 
intrauterina Sedentarismo 
Má nutrição Obesidade 
Infecções por 
parasitas (ex.: 
esquistossomose) 
Resistência à 
insulina e diabetes 
mellitus 
Glomerulonefrites 
após infecções, 
nefropatia por HIV 
e diarreia 
prolongada 
Hipertensão 
arterial sistêmica e 
doenças 
cardiovasculares 
Anemia falciforme Câncer 
 
Consequências da doença 
renal crônica 
 
A doença renal crônica é 
uma doença hipercatabólica, 
que pode levar à perda 
significativa de peso corporal e 
de massa muscular. Em razão 
disso, crianças com doença 
renal crônica tendem a 
apresentar baixo peso corporal 
e baixa estatura, podendo 
comprometer o 
desenvolvimento da criança. 
 
O comprometimento das 
funções renais leva a alterações 
nutricionais (ex.: risco de 
hipercalemia e de 
hiperfosfatemia), alterações 
endócrinas (ex.: redução da 
produção de eritropoietina e 
menor ativação da vitamina D, 
podendo levar à anemia 
ferropriva, alterações ósseas e 
imunológicas), alterações 
metabólicas em razão da menor 
excreção de toxinas e de 
metabólicos (ex.: 
hiperuricemia, acidose 
metabólica), menor clearance 
de lipídios e risco de 
dislipidemias e doenças 
cardiovasculares, dentre 
outras. 
 
Não obstante, é comum 
a presença de quadro 
inflamatório em pacientes com 
doença renal crônica. Sabe-se 
que marcadores inflamatórios, 
como IL-6 e TNF-α, 
comprometem a ligação da 
insulina com o seu receptor, a 
cascata de sinalização que 
decorre da ligação da insulina 
com o seu receptor, bem como a 
translocação do GLUT-4 à 
membrana, podendo causar 
resistência à insulina. 
Além das alterações 
induzidas pela própria doença 
renal crônica, algumas das 
privações nutricionais 
necessárias ao manejo da 
doença podem levar a 
complicações e desconfortos 
experimentados pelo paciente. 
 
Como exemplo destaca-
se a redução da ingestão hídrica 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
12 
que pode ser necessária em 
determinados estágios da 
doença, podendo levar à 
desidratação, cefaleia, 
constipação intestinal, 
alterações em pele, cabelos, 
unhas etc., Não obstante, a 
redução da ingestão de 
proteínas poderia comprometer 
o ganho de massa muscular, de 
massa óssea e comprometer a 
atividade do sistema 
imunológico – questões que 
podem comprometer o 
crescimento e o 
desenvolvimento da criança. 
 
Considerando estes 
pontos, as recomendações 
nutricionais para crianças com 
doença renal crônica tendem a 
não ser severas e/ou restritivas, 
de modo a evitar os 
comprometimentos ao 
crescimento e ao 
desenvolvimento da criança, o 
que pode trazer repercussões 
negativas durante a infância, a 
adolescência e a vida adulta, 
ex.: maior risco de anemia 
ferropriva, fraturas ósseas, 
comprometimento imunológico 
e maior risco de infecções, 
deficiências nutricionais, 
alterações endócrinas, 
alterações no trato 
gastrointestinal (ex.: 
constipação intestinal e 
disbiose intestinal), 
dislipidemias, doenças 
cardiovasculares, menor 
capacidade cognitiva, menor 
produtividade e menor 
qualidade de vida etc. 
 
Deve-se evitar ao 
máximo o quadro de 
desnutrição na criança com 
doença renal crônica, pois ela 
pode resultar em redução da 
autonomia, aumento do risco 
de complicações imunológicas, 
aumento da permanência 
hospitalar, aumento dos custos 
hospitalares, redução da 
capacidade de aprendizagem e 
alterações comportamentais. 
 
Parece que a taxa de 
desnutrição em crianças com 
doença renal crônica pode 
variar de 6 a 65%, dependendo 
da população estudada – o que 
reforça o fato de que o perfil da 
criança com doença renal 
crônica pode variar de acordo 
com questões regionais, 
socioeconômicas, genéticas, 
entre outras. 
 
Alguns aspectos 
específicos da doença renal 
crônica que podem contribuir 
com o quadro de desnutrição 
são: alteração em hormônios 
que controlam o apetite e a 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
13 
saciedade (ex.: baixos níveis de 
grelina e altos níveis de 
leptina), acúmulo de toxinas, 
inflamação, efeito da diálise 
peritoneal na sensação de 
“estufamento”, aumento da 
perda de nutrientes no processo 
dialítico (seja ele diálise 
peritoneal ou hemodiálise), 
aumento da demanda 
energética e nutricional, 
alteração no eixo hormônio do 
crescimento/fator de 
crescimento semelhante à 
insulina e outros. 
 
Aspectos do tratamento de 
crianças com doença renal 
crônica 
 
Em suma, a maior parte 
das estratégias terapêuticas 
aplicadas em crianças com 
doença renal crônica são as 
mesmas direcionadas para 
adultos com a patologia. No 
entanto, existem algumas 
particularidades que podem 
estar presentes no tratamento 
de crianças com doença renal 
crônica, a exemplo da terapia 
com hormônio do crescimento. 
 
O retardo no 
crescimento é bastante comum 
em crianças com doença renal 
crônica e consiste em uma das 
principais preocupações dos 
pais e familiares destas 
crianças, sendo que parece 
estar presente em 90% das 
crianças com doença renal 
crônica em estágio avançado 
(estágio 5). Estima-se que 60% 
dos meninos e 41% das meninas 
que iniciam o tratamento renal 
substitutivo (terapia dialítica ou 
transplante renal) antes dos 15 
anos de idade chegam na vida 
adulta com estatura bastante 
inferior ao esperado, com cerca 
de 12 centímetros a menos em 
comparação a adultos 
saudáveis. 
 
Acredita-se que o 
comprometimento no 
crescimento se iniciequando a 
taxa de filtração glomerular se 
torna inferior a 50% da 
normalidade, sendo que o 
agravamento dessa situação 
(retardo no crescimento) ocorre 
quando a taxa de filtração 
glomerular se torna inferior a 
25% do que seria compreendido 
como normal. Além da taxa de 
filtração glomerular influenciar 
no crescimento, parece que 
quanto mais precoce é o 
desenvolvimento da doença 
renal crônica na criança, mais o 
seu crescimento é afetado. 
 
Não obstante, o quadro 
de acidose metabólica também 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
14 
se vincula a um crescimento 
inadequado, com impacto na 
massa magra e na 
mineralização óssea. Parece 
que crianças que apresentam 
perda exacerbada de sódio via 
renal também estão sob maior 
risco de desnutrição e 
alterações em consequência 
desse quadro, sendo que, se este 
for o caso, a suplementação 
com sódio poderia ser uma 
alterativa. 
 
Alguns parâmetros que 
podem ser utilizados para 
averiguar se a criança ou 
adolescente com doença renal 
crônica apresenta-se em baixo 
peso e em baixa estatura são: 
peso por idade, peso por 
estatura e índice de massa 
corpórea (IMC), devendo-se 
avaliar o resultado do IMC nas 
curvas propostas pela 
Organização Mundial da Saúde 
(OMS) para meninas e 
meninos. 
 
Não obstante, parece 
que se pode aplicar o exame de 
densitometria óssea – DEXA 
(apesar de oneroso e incomum 
na prática clínica) e de 
bioimpedância (apesar de 
controversas, pois parece que 
subestima o percentual de 
gordura corporal em crianças 
com obesidade e doença renal 
crônica, mas superestima o 
percentual de gordura corporal 
em crianças com desnutrição e 
doença renal crônica). Deve-se 
aplicar a bioimpedância após a 
sessão de hemodiálise, por 
exemplo, ou caso o paciente não 
apresente edema. 
 
A aferição de dobras 
cutâneas parece ser limitada 
para crianças com doença renal 
crônica, pois não há equações 
preditivas para estimar o 
percentual de gordura corporal 
em todas as faixas etárias e 
porque a aferição de dobras 
cutâneas não traz tantas 
informações a respeito do 
conteúdo de massa muscular e 
de sua funcionalidade. Quanto 
a circunferências, a 
circunferência da cabeça pode 
ser aplicada para crianças com 
idade inferior a 36 meses. 
 
O peso corporal sozinho 
não parece um bom marcador 
para avaliar o estado 
nutricional de crianças com 
doença renal crônica, pois o 
acúmulo de água e o ganho de 
gordura poderiam mascarar a 
perda de massa muscular que é 
comum em crianças com esta 
patologia. A aferição de 
albumina plasmática também 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
15 
não traz nenhum tipo de 
elucidação ao quadro, pois 
tende a estar alterada no 
contexto de doença renal 
crônica (incluindo em razão de 
inflamação e do próprio 
prejuízo ao funcionamento 
renal), não refletindo o estado 
nutricional ou o consumo 
alimentar. 
 
Em relação a soluções 
para mitigar o prejuízo no 
crescimento, destaca-se o 
tratamento com o hormônio do 
crescimento recombinante 
humano, que é usado na 
tentativa de auxiliar crianças 
com doença renal crônica e com 
baixo peso a ter uma estatura 
próxima da normalidade de 
acordo com sua faixa etária. 
Essa estratégia já é aplicada 
com esse fim há mais de 30 
anos. 
 
Apesar de seus 
benefícios, é importante 
destacar que o uso prolongado 
do hormônio do crescimento 
recombinante humano pode 
trazer efeitos adversos, dentre 
eles a deterioração da função 
renal, o que pode acelerar ainda 
mais a evolução da doença renal 
pré-existente, além de poder 
aumentar o risco de rejeição ao 
transplante renal e de 
hipertensão intracraniana 
benigna. Não obstante, alguns 
estudos trazem à tona a 
possibilidade de o tratamento 
com hormônio do crescimento 
recombinante humano não ser 
completamente efetivo, 
podendo não compensar em 
relação aos seus potenciais 
riscos. 
 
Revisão sistemática com 
meta-análise (Cochrane Renal 
Group's Specialised) conduzida 
por Hodson et al. (2012) 
demonstrou que o tratamento 
com hormônio do crescimento 
recombinante humano resultou 
em um aumento significativo da 
estatura corporal de crianças 
com doença renal crônica em 
até um ano, sendo observado 
aumento na velocidade de 
crescimento em até seis meses 
do início do tratamento. Mesmo 
após o segundo ano de 
tratamento com o hormônio do 
crescimento recombinante 
humano, a velocidade de 
crescimento de crianças 
tratadas era superior à das 
crianças não tratadas ou 
tratadas com outras estratégias, 
apesar de existir uma queda da 
efetividade do hormônio do 
crescimento recombinante 
humano em induzir o 
crescimento ao longo do 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
16 
tratamento. Em relação aos 
efeitos colaterais, observou-se 
as mesmas queixas entre as 
crianças tratadas e não tratadas 
com o hormônio do 
crescimento recombinante 
humano, indicando que a 
estratégia não aumentou os 
efeitos adversos e queixas do 
paciente. 
 
Considerando a revisão 
sistemática com meta-análise 
citada anteriormente, parece 
que a intervenção com o 
hormônio do crescimento 
recombinante humano é efetiva 
em induzir o crescimento de 
crianças com doença renal 
crônica e não traz queixas 
adicionais às já apresentadas 
por crianças nessa condição, 
indicando que essa estratégia 
pode ser bem-sucedida para 
esse público. 
 
Qualidade de vida da 
criança com doença renal 
crônica 
 
De um modo geral, a 
qualidade de vida tende a ser 
comprometida em crianças com 
doença renal crônica. 
 
Em revisão sistemática, 
Didsbury et al. (2016) 
demonstraram que a qualidade 
de vida tende a ser ainda pior 
em crianças com algum 
tipo/grau de vulnerabilidade 
socioeconômica, por exemplo: 
baixo grau de escolaridade dos 
pais, profissão mal 
remunerada, ausência de 
companheiro (estado civil 
solteiro, viúvo ou divorciado) e 
a ausência de cobertura por 
plano de saúde. 
 
Esse estudo enfatiza a 
importância de 
desenvolvimento e aplicação de 
estratégias/programas 
direcionados a crianças e 
adolescentes com doença renal 
crônica, especialmente aqueles 
em situação de vulnerabilidade 
socioeconômica. 
 
Pais e/ou responsáveis por 
crianças com doença renal 
crônica 
 
Alguns autores trazem à 
tona a importância da 
assistência, inclusive 
psicológica, a pais e/ou 
responsáveis que cuidem de 
crianças com doença renal 
crônica, os quais além das 
responsabilidades tradicionais, 
ainda lidam com o medo, a 
insegurança, a impotência e a 
extrema responsabilidade de 
cuidar e de atender a todas as 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
17 
demandas de uma criança com 
doença renal crônica. 
 
Além da questão 
psicológica, alguns autores 
ainda pontuam a questão 
financeira, haja vista os 
inúmeros gastos dispendidos ao 
longo do tratamento da doença 
renal crônica, em especial 
aqueles necessários nos 
estágios mais avançados da 
doença (terapia dialítica e 
transplante renal). Em países 
sem um setor de saúde pública, 
estes custos podem se acumular 
e causar extremos prejuízos 
financeiros, psicológicos, à 
saúde e à qualidade de vida da 
família como um todo, tanto 
pais/responsáveis quanto 
crianças com doença renal 
crônica. 
 
 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
19 
2 RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA 
CRIANÇAS COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
 
 
Introdução 
 
A doença renal crônica, 
apesar de ter seu risco 
aumentado durante o 
envelhecimento, também pode 
ocorrer ainda no início da vida, 
em crianças e adolescentes, 
apesar de incomum, conforme 
apresentado na aula 01. 
 
As causas de doença 
renal crônica em crianças são as 
mais diversas, podendo ter se 
originado ainda na vida 
intrauterina ou ser decorrente 
de questões ambientais (ex.: 
má-alimentação, condiçõesambientais e de saúde 
desfavoráveis, obesidade, 
sedentarismo e outros). 
Aparentemente, as causas 
variam de acordo com questões 
socioeconômicas, étnicas e 
regionais, além da questão 
genética. 
 
Além das alterações 
metabólicas observadas em 
adultos com doença renal 
crônica, que também estão 
presentes em crianças com 
doença renal crônica (ex.: 
alterações nutricionais, 
hormonais, imunológicas, 
acúmulo de 
metabólicos/toxinas, risco de 
comorbidades, como 
dislipidemias e doenças 
cardiovasculares), a criança 
com doença renal crônica ainda 
enfrenta distúrbios em seu 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
20 
crescimento, tendendo a ter 
menor estatura corporal 
quando em comparação a 
crianças saudáveis. 
 
Neste cenário, apesar de 
grande parte das estratégias ser 
comum entre adultos e crianças 
com doença renal crônica, há 
algumas particularidades do 
tratamento de crianças com 
doença renal crônica, como a 
terapia com hormônio do 
crescimento recombinante 
humano (com fins de favorecer 
o crescimento da criança). 
 
Não obstante, as 
estratégias nutricionais para 
crianças com doença renal 
crônica tendem a ser menos 
restritivas quando em 
comparação com adultos com 
doença renal crônica, também 
como intuito de favorecer o 
crescimento e o 
desenvolvimento da criança. 
Abordar as estratégias 
nutricionais para crianças com 
doença renal crônica é 
justamente o objetivo da 
presente seção. 
 
Recomendação de 
ingestão de energia 
 
A Sociedade Brasileira 
de Nutrição Parenteral e 
Enteral (BRASPEN) recomenda 
que a ingestão energética para 
crianças com doença renal 
crônica seja a mesma ofertada 
para crianças saudáveis, 
respeitando a idade 
cronológica. 
 
Ainda é destacado pela 
BRASPEN que se deve priorizar 
o limite máximo da 
recomendação de ingestão de 
energia para a criança com 
doença renal crônica, haja vista 
que essa doença é 
hipercatabólica e pode 
prejudicar o crescimento, o 
desenvolvimento e o 
funcionamento celular e 
tecidual da criança, o que pode 
repercutir em inúmeras 
alterações metabólicas e no 
aumento do risco de 
comorbidades e de 
mortalidade. 
 
Vale salientar que os 
achados que fundamentam as 
recomendações de ingestão 
energética para crianças com 
doença renal crônica foram 
baseados em estudos com 
calorimetria indireta realizados 
pela Força Tarefa em Nutrição 
Renal Pediátrica. Porém, é 
relevante mencionar que os 
estudos em relação às 
recomendações nutricionais 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
21 
(incluindo de energia) para 
crianças com doença renal 
crônica são escassos. 
 
Aventa-se que pode 
existir a necessidade de ajustes 
na recomendação de ingestão 
energética baseados nas taxas 
de ganho ou de perda de peso 
corporal do paciente, bem como 
considerando suas 
individualidades e objetivos. 
 
É importante destacar 
que se deve considerar a 
energia absorvida pela glicose 
do dialisato no caso de crianças 
com doença renal crônica 
submetidas à diálise peritoneal. 
Esse ponto é de suma 
importância de ser debatido, 
haja vista que se observou 
aumento da incidência de 
obesidade em crianças com 
doença renal crônica. 
 
Corroborando com o 
conteúdo discutido no 
parágrafo anterior, evidências 
indicam que crianças com 
doença renal crônica parecem 
apresentar consumo de energia 
e de proteínas superior ao 
recomendado. Deve-se ajustar a 
ingestão energética e proteica, 
mas enfatiza-se que mesmo 
para crianças com obesidade, se 
deve ter cautela para não 
restringir a oferta energética e 
proteica, de modo a não 
comprometer o estado 
nutricional e o crescimento. 
 
É importante ressaltar 
que se, por algum motivo, a 
criança não conseguir alcançar 
suas recomendações 
energéticas e nutricionais pela 
dieta convencional, deve-se 
cogitar a possibilidade da 
terapia nutricional enteral ou, 
se o caso, parenteral. 
 
No caso de utilização de 
fórmulas enterais, é importante 
que se tente escolher opções 
com menos fósforo e potássio, 
de modo a não agravar o 
desenvolvimento da doença. 
Não obstante, deve-se ter 
atenção à quantidade de 
proteína na fórmula, para que 
não se ultrapasse o 
recomendado pela RDA 
(ingestão dietética adequada, 
do inglês Recommended Daily 
Allowance). 
 
Pode-se considerar 
fórmulas específicas para 
pacientes com doença renal 
crônica, as quais já contêm 
menos potássio e fósforo. No 
entanto, estas fórmulas 
apresentam alta osmolaridade, 
o que pode trazer efeitos 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
22 
colaterais, como diarreia, 
náuseas, vômitos e distensão 
abdominal. 
 
Deve-se dar preferência 
a fórmulas enterais destinadas 
a crianças com doença renal 
crônica, haja vista que as 
fórmulas para adultos, 
especialmente àquelas 
destinadas a adultos em 
tratamento dialítico, tendem a 
ser hiperproteicas, o que pode 
ser prejudicial à criança com 
doença renal crônica, podendo 
induzir ao quadro de 
hiperuricemia. 
 
É importante relembrar 
que as recomendações de 
ingestão de proteína são 
diferentes entre crianças e 
adultos, logo, mesmo uma 
fórmula normoproteica para 
um adulto, pode ser 
hiperproteica para uma criança. 
Neste sentido, enfatiza-se a 
relevância de se priorizar 
fórmulas destinadas a crianças 
com doença renal crônica, não a 
adultos, sempre que possível. 
 
Sugere-se que a 
alimentação via sonda seja 
ofertada no período noturno, de 
modo que se priorize a ingestão 
alimentar durante o dia. É 
importante que a criança 
estabeleça um bom vínculo com 
a comida, haja vista que 
pacientes com doença renal 
crônica tendem a ter muitos 
receios ao se alimentar em 
virtude das restrições 
nutricionais demandadas pela 
própria doença. Caso a criança, 
por algum motivo (ex.: náuseas 
e vômitos), não consiga se 
alimentar via oral, a terapia 
enteral pode ser uma opção 
mesmo ao longo do dia. 
 
Recomendação de 
ingestão de proteína 
 
Há mais de uma década 
sabe-se que a restrição proteica 
para crianças com doença renal 
crônica pode comprometer o 
crescimento/desenvolvimento 
da criança e aparentemente não 
traz efeitos benéficos em 
retardar a evolução da doença, 
sendo uma estratégia não 
recomendada na prática clínica. 
 
Em revisão sistemática 
com meta-análise (Cochrane 
Renal Group Trials), 
Chaturvedi et al. (2007) 
demonstraram que dietas com 
restrição severa de proteínas 
para crianças com doença renal 
crônica não reduzem a 
progressão da doença renal 
crônica e também não reduzem 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
23 
o número de mortes em razão 
da doença, indicando que essa 
estratégia não se justifica. 
 
Com base neste e em 
outros achados, a BRASPEN 
recomenda que a ingestão de 
proteínas para crianças com 
doença renal crônica entre os 
estágios 2 e 5 seja semelhante 
àquela recomendada para 
crianças saudáveis, de acordo 
com a idade cronológica, e 
devendo-se priorizar o limite 
mais alto recomendado. A 
BRASPEN ainda enfatiza que a 
restrição de ingestão proteica 
não deve ser aplicada para 
crianças com doença renal 
crônica, a fim de evitar o 
comprometimento do 
crescimento. 
 
A Força Tarefa em 
Nutrição Renal Pediátrica 
também pontua que crianças 
com doença renal crônica 
devem consumir o limite 
máximo da RDA de proteínas, 
especialmente quando em 
estágio entre 3 a 5 da doença 
renal crônica, em razão das 
perdas de aminoácidos e de 
proteínas que ocorre durante a 
terapia dialítica, bem como em 
virtude de alterações na síntese 
proteica e nas demandas da 
própria doença. 
Caso, por algum motivo 
(ex.: hiperuricemia), haja 
necessidade de reduzir a oferta 
proteica da criança com doença 
renal crônica, recomenda-se 
que a ingestão não seja inferior 
à RDA, mas sim seja igual ao 
limite mínimoda RDA. 
 
Recomendação de 
ingestão de carboidrato 
 
Conforme mencionado 
neste material e em outras 
apostilas do curso, deve-se 
considerar a glicose presente no 
dialisato de pacientes com 
doença renal crônica 
submetidos à diálise peritoneal 
(inclusive crianças) no 
momento do cálculo dos 
carboidratos do plano 
alimentar entregue ao paciente, 
de modo que não se oferte um 
valor superior ao recomendado 
de carboidratos, o que poderia 
aumentar o risco de 
comorbidades (ex.: resistência 
à insulina e diabetes mellitus). 
 
Recomendação de 
ingestão de lipídio 
 
Conforme mencionado 
na aula 01, pacientes com 
doença renal crônica podem 
apresentar maior risco de 
dislipidemias, haja vista que o 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
24 
clearance de lipídios se 
encontra prejudicado na 
doença renal crônica, sendo que 
os pacientes com histórico 
familiar de doenças 
cardiovasculares, com 
obesidade e com hábitos de vida 
inadequados (ex.: má 
alimentação) exigem maior 
atenção, mesmo sendo 
crianças. 
 
Caso o paciente já 
apresente dislipidemias, 
sugere-se utilizar 
recomendações específicas para 
pacientes nessa situação, como 
aquelas orientadas pela 
Sociedade Brasileira de 
Cardiologia. Nestes casos, deve-
se atentar à ingestão de gordura 
saturada (de preferência 
inferior a 7% do Valor 
Energético Total – VET da 
dieta) e de colesterol (de 
preferência inferior a 200 
mg/dia). 
 
De um modo geral, o 
consumo de uma dieta rica em 
frutas, verduras e legumes, 
cereais integrais, carnes e 
laticínios magros e com baixa 
ingestão de alimentos ultra 
processados (semelhante à 
dieta do mediterrâneo e à dieta 
DASH – Dietary Approaches to 
Stop Hypertension) seria 
interessante para pacientes 
nessa situação. 
 
Recomendação para 
bebês 
 
De acordo com a 
BRASPEN, bebês que 
apresentem doença renal 
crônica, mesmo em estágios 
mais avançados (ex.: entre 3 a 
5), devem ser amamentados de 
forma exclusiva até os seis 
meses de vida, tal como 
crianças sem doença renal 
crônica. 
 
Quando o aleitamento 
materno não for possível ou não 
for suficiente, deve-se 
recomendar fórmulas com 
proteína do soro do leite, as 
quais podem ser fortificadas 
com outros nutrientes, caso 
exista necessidade de aumentar 
a densidade energética da 
fórmula ou adicionar algum 
nutriente específico. 
 
Recomendação de 
ingestão de 
micronutrientes 
 
Ferro 
 
Pacientes com doença 
renal crônica tendem a ter 
prejuízo na ação da 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
25 
eritropoietina e, 
consequentemente, prejuízo na 
produção de eritrócitos e risco 
aumentado de desenvolver 
anemia ferropriva. 
 
Para crianças, a anemia 
ferropriva prejudica o 
crescimento e o 
desenvolvimento, inclusive 
podendo comprometer o 
funcionamento de 
células/tecidos, a exemplo do 
imunocomprometimento e do 
risco aumentado de infecções. 
 
Não obstante, a anemia 
ferropriva tende a reduzir a 
capacidade cognitiva e física, 
podendo prejudicar a 
capacidade de aprendizagem 
destas crianças, o que 
prejudicaria o desempenho 
escolar. 
 
Considerando o risco de 
desenvolvimento de anemia 
ferropriva, a ingestão de ferro 
deve ser adequada para 
crianças com doença renal 
crônica, devendo-se seguir as 
recomendações propostas pela 
RDA. Não obstante, deve-se 
garantir o aporte de nutrientes 
que se vinculam ao 
metabolismo do ferro, a 
exemplo dos seguintes: 
 
 Cobre: o cobre é 
cofator da proteína 
ceruloplasmina, a qual 
é responsável pela 
conversão intestinal 
de ferro ferroso à 
forma férrica, para 
que ele possa ligar-se à 
transferrina e ser 
transportado na 
corrente sanguínea. 
Logo, sem o cobre, o 
ferro não consegue ser 
transportado do 
intestino para os 
tecidos e a anemia 
pode se instaurar. 
 
 Vitamina A: a 
vitamina A parece 
estar envolvida no 
metabolismo e na 
distribuição do ferro 
aos tecidos, apesar dos 
mecanismos não 
serem completamente 
claros na literatura. 
Corroborando essa 
informação, parece 
que pacientes com 
hipovitaminose A são 
mais tendenciosos a 
apresentar anemia 
ferropriva – duas 
deficiências 
nutricionais comuns 
no Brasil. 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
26 
 Zinco: o zinco é 
cofator da síntese da 
proteína 
transportadora de 
retinol (do inglês: 
Retinol Binding 
Protein – RBP), que é 
a proteína que 
transporta a vitamina 
A do fígado para os 
demais tecidos. Logo, 
na deficiência de 
zinco, a deficiência de 
vitamina A também 
acontece. Como 
pontuado no 
parágrafo anterior, o 
quadro de anemia 
ferropriva pode ser 
causado pela 
hipovitaminose A. 
Assim, a deficiência de 
zinco pode levar à 
deficiência de 
vitamina A, a qual, por 
sua vez, pode levar à 
deficiência de ferro e a 
anemia ferropriva. 
 
 Vitamina C: a 
vitamina C tem papel 
em converter o ferro 
férrico, de origem 
vegetal, em ferro 
ferroso, permitindo 
com que ele adentre o 
enterócito. Assim, 
especialmente para 
indivíduos com baixo 
consumo de ferro de 
origem animal 
(ferroso), a vitamina C 
apresenta papel 
importante no 
aumento da 
biodisponibilidade do 
ferro de origem 
vegetal. 
 
 Vitamina B6: a 
vitamina B6 tem um 
papel importante na 
produção de 
eritrócitos, sendo que 
a sua deficiência pode 
levar à anemia 
microcítica, com 
sinais/sintomas 
semelhantes à anemia 
ferropriva, podendo 
causar confusões no 
momento do 
diagnóstico. 
 
Todos estes nutrientes 
devem estar adequados na dieta 
da criança com doença renal 
crônica (de acordo com o 
estabelecido pela RDA), de 
modo a evitar o risco de anemia. 
 
Se necessário, pode-se 
suplementar com ferro caso o 
paciente já apresente anemia 
ferropriva. Em revisão 
sistemática com meta-análise, 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
27 
O'Lone et al. (2019) pontuam 
que aparentemente, com base 
nos estudos científicos até o 
momento, a suplementação 
oral com ferro e a infusão 
endovenosa de ferro parecem 
ter efeitos semelhantes no que 
concerne à resolução da anemia 
ferropriva. Destaca-se, 
entretanto, que a 
suplementação oral com ferro 
parece trazer alguns efeitos 
colaterais, como constipação 
intestinal e gases em excesso, o 
que pode levar o paciente a 
interromper o tratamento. 
 
Sódio 
 
Apesar da 
recomendação de ingestão de 
sódio para adultos com doença 
renal crônica ser abaixo de 2,3 
g/dia, salienta-se que as 
recomendações das DRIs 
(Dietary Reference Intakes) 
para crianças são bastante 
inferiores a esse valor, variando 
de 120 mg/dia a 1,5 gramas/dia, 
de acordo com a faixa etária da 
criança. Deve-se seguir as 
recomendações de acordo com 
o gênero e com a idade do 
paciente em questão, de modo a 
evitar ultrapassar as 
recomendações ou ofertar 
valores muito insuficientes. 
 
Potássio e fosforo 
 
A BRASPEN não faz 
recomendações específicas de 
potássio e de fósforo para 
crianças com doença renal 
crônica, mas pontua, de um 
modo geral, que a restrição 
destes nutrientes só passa a ser 
necessária em caso de 
hipercalemia e/ou 
hiperfosfatemia. 
 
Ressalta-se a 
importância do 
acompanhamento por meio de 
exames laborais dos valores 
plasmáticos de potássio e de 
fósforo para que se saiba se há 
ou não necessidade de 
restringir estes nutrientes na 
dieta. 
 
Em relação à 
hipercalemia em crianças com 
doença renal crônica, as causas 
parecem ser distintas de acordo 
com a faixa etária. Em bebês, a 
hipercalemia parece estar mais 
vinculada ao aleitamento 
materno e/ou ao uso de 
fórmulas que contenham muito 
potássio. Apesar de se ter 
clareza de que a maior parte dos 
nutrientes é transmitido da mãe 
ao bebê através do leite 
materno, não há 
recomendações específicas 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
28 
sobre comodeve ser a nutrição 
de mães que estão 
amamentando bebês com 
doença renal crônica. 
 
Em se tratando de 
crianças e de adolescentes, a 
principal causa de hipercalemia 
parece ser, de fato, a ingestão 
dietética. Vale salientar que o 
potássio pode estar presente 
naturalmente nos alimentos 
(ex.: vegetais crus), mas 
também pode ser acrescentado 
na forma de aditivo alimentar, 
inclusive em alimentos com a 
premissa de apresentarem 
baixo conteúdo de sódio. Vide 
orientações em materiais 
anteriores sobre fontes de 
potássio e maneiras de reduzir 
o seu teor nos alimentos. 
 
Ressalta-se a 
importância de seguir as DRIs 
para potássio de acordo com a 
faixa etária da criança, de modo 
a mitigar o risco de 
hipercalemia. Além disso, deve-
se instruir o paciente quanto 
aos métodos de preparo de 
alimentos, quanto à leitura de 
rótulos alimentares, quanto à 
escolha de produtos com menos 
potássio, incluindo 
informações a respeito de 
aditivos alimentares etc. A 
educação nutricional é vital no 
controle da hipercalemia. 
 
No que tange à 
hiperfosfatemia, salienta-se 
que se deve ter cautela quando 
houver necessidade de 
suplementar vitamina D, pois 
essa vitamina aumenta a 
absorção intestinal de fósforo, 
podendo aumentar o risco de 
hiperfosfatemia. Logo, na 
utilização de suplementos de 
vitamina D, deve-se 
acompanhar a fosfatemia por 
exames bioquímicos com 
regularidade. 
 
Em caso de 
hiperfosfatemia, deve-se evitar 
o consumo excessivo de 
alimentos com fósforo. Apesar 
da necessidade de se ter cautela 
com alimentos naturalmente 
fontes de fósforo (ex.: carnes e 
laticínios), ressalta-se que o 
fósforo mais biodisponível é 
aquele presente em alimentos 
industrializados, em que esse 
nutriente é adicionado na 
forma de aditivo alimentar. 
 
Demais micronutrientes 
 
Aparentemente, a 
suplementação com nutrientes 
específicos só de faz necessária 
em caso de comprovação da 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
29 
deficiência destes através de 
exames laboratoriais, exame 
físico e avaliação do consumo 
nutricional do paciente. 
 
Para evitar o 
aparecimento de deficiências 
nutricionais, é preciso que o 
paciente tenha 
acompanhamento com 
profissional nutricionista, o 
qual irá calcular plano 
alimentar adequado às 
necessidades nutricionais do 
paciente, inclusive em relação à 
ingestão de vitaminas e de 
minerais. 
 
Salienta-se a 
importância de efetuar a 
avaliação dietética do paciente 
(ex.: cálculo, análise e 
interpretação do recordatório 
de 24 horas e/ou registro da 
dieta habitual), o exame físico 
(avaliação de sinais e sintomas) 
e o exame laboratorial 
apropriado (é importante 
esclarecer que nem todo 
nutriente é válido quando 
dosado no sangue, sendo que 
alguns têm outro parâmetro 
como padrão ouro, a exemplo 
da tiamina, cujo padrão ouro é 
a avaliação da atividade da 
transcetolase em eritrócitos). 
 
Alguns autores trazem à 
tona a importância de se ter 
atenção à ingestão de vitaminas 
hidrossolúveis para crianças 
com doença renal crônica em 
tratamento dialítico, haja vista 
as perdas destes nutrientes. 
Alguns autores, inclusive, 
recomendam fortemente a 
suplementação com estas 
vitaminas para todas as 
crianças nestas condições 
(doença renal crônica em 
tratamento dialítico). 
 
Recomendação de 
ingestão de líquidos 
 
Em relação à ingestão de 
líquidos, no tratamento 
conservador não há 
necessidade de restrição 
hídrica. Já na terapia dialítica, 
em especial na hemodiálise, 
deve-se considerar o ganho de 
peso interdialitico. Se 
excessivo, deve-se restringir 
mais a ingestão de líquidos. 
 
Pode-se basear na 
diurese residual do paciente 
para se estimar a ingestão 
hídrica, podendo-se fazer o 
cálculo de adição de 500 ml ao 
volume urinário residual. 
 
Sempre que necessário e 
possível, deve-se basear a 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
30 
ingestão hídrica nas 
recomendações das DRIs de 
acordo com a faixa etária da 
criança. 
 
No caso de restrição 
hídrica, deve-se evitar o 
consumo de alimentos muito 
doces ou muito salgados e/ou 
muito secos, que exijam maior 
consumo hídrico. Não obstante, 
deve-se atentar ao conteúdo de 
água presente no próprio 
alimento, devendo-se 
evitar/reduzir aqueles com 
muita água, ex.: sopas, caldos, 
sucos, vitaminas etc. 
 
Carambola 
 
Tal como para os demais 
pacientes com doença renal 
crônica, as crianças com essa 
patologia também não podem 
consumir carambola pelas 
questões já apontadas em 
outros materiais e aulas desse 
curso (impossibilidade de 
excreção de caramboxina). 
 
Outros 
 
Parece ser relativamente 
comum que crianças com 
doença renal crônica após 
transplante renal sejam 
tendenciosas a desenvolver o 
quadro de síndrome 
metabólica, especialmente em 
razão da normalização de 
alguns parâmetros da doença e 
da crença da criança e dos 
responsáveis de que não há 
mais necessidade de manter os 
cuidados nutricionais. 
 
Nestes termos, é 
importante que se conscientize 
a criança e a família para a 
continuidade do tratamento 
nutricional, inclusive após o 
transplante renal, de modo que 
se evite o desenvolvimento dos 
quadros de desnutrição ou de 
obesidade, mantendo a criança 
em um peso e estatura 
saudáveis para a idade. 
 
Uma estratégia para 
manter a saúde e a qualidade de 
vida de crianças com doença 
renal crônica, seja em qualquer 
estágio e tipo de tratamento da 
doença, é a prática de exercício 
físico, especialmente com fins 
de promover o ganho de massa 
muscular e otimizar sua 
funcionalidade (ex.: aumento 
de força), bem como para 
reduzir o risco de 
sobrepeso/obesidade. 
 
Apesar de parecer uma 
estratégia promissora, poucos 
estudos abordam o exercício 
físico no contexto da criança 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
31 
com doença renal crônica, e há 
evidências na literatura que os 
mesmos programas de 
exercício físico aplicados para 
adultos são malsucedidos na 
criança, com altas taxas de 
abandono. Vale ressaltar a 
importância de engajar a 
criança em programas de 
exercício que sejam lúdicos e 
criativos, de modo a despertar e 
manter seu interesse na 
atividade. 
 
 
 
 
NUTRIÇÃO NA CRIANÇA COM DOENÇA RENAL CRÔNICA 
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