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CARVALHO, L. V.; MOURA, M. L.80 Educação e ensino de Geografia na realidade brasileira A Geografia, como as demais ciências que fazem parte do currículo do Ensino Fundamental e Médio, procura desenvolver no aluno a capacidade de observar, analisar, interpretar e pensar criticamente a realidade tendo em vista a sua transformação. Essa realidade é uma totalidade que envolve a sociedade e a natureza. Cabe à Geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade em que vivemos hoje, suas desigualdades e contradi- ções, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza. Para entender esse espaço produzido, e necessário entender as relações entre os homens, pois dependendo da forma como eles se organizam para a produção, e distribuição dos bens materiais, os espaços que produzem vem adquirindo determinadas formas que materializam essa organização social. Nesse sentido, a Geografia explica como as sociedades produzem o espaço, confor- me o seus interesses em determinados momentos históricos e que esse processo implica em transformação contínua. Como são produzidos por sociedades desiguais, os espaços também são desiguais: campo/cidade, regiões metropolitanas/cidades médias/cidades pequenas, etc. Essa base territorial, em que as sociedades vão transformando e construindo histori- camente, também se diferencia quanto aos elementos da natureza e quanto à existência de recursos, que são desigualmente distribuídos. A territorialidade implica a localização, a orientação e a representação de dados socioeconômicos e naturais, que contribuem para a compreensão da totalidade do espaço. Essas habilidades – localização, orientação e representação –, também se tornam importantes à medida que elas se colocam como instrumentos de conhecimento para a apropriação da natureza. Associedades, ao se apro- priarem da natureza, precisam medi-la, controlá-la e dominá-la. Tais habilidades também são apropriadas de forma diferenciada, em sociedades com organização social própria. A organização social, na qual se coloca o seu grau de desenvolvimento tecnológico, leva à apropriação dos recursos, sejam materiais ou sejam em nível do conhecimento. Essa apropriação leva à maior ou menor interferência da natureza. A apropriação da natureza se dá pelo processo de trabalho, que é um ato social. Portan- to, dado que é pelo trabalho social que se estabelece a relação sociedade/ natureza, é fun- damental o entendimento da sociedade para entender a natureza, já que esta é apropriada historicamente. Por sua vez, a natureza envolve os diversos aspectos da realidade física em si. O entendimento do seu processo de formação e transformação é importante para a fundamentação científica que permitirá um posicionamento crítico frente aos processos de apropriação da natureza que acabam levando à sua degradação. É nesses termos que a Geografia hoje se coloca. É nesses termos que seu ensino ad- quire dimensão fundamental no currículo: um ensino que busque incutir nos alunos uma postura crítica diante da realidade, comprometida com o homem e a sociedade; não com o homem abstrato, mas com o homem concreto, com a sociedade tal qual ela se apresenta, dividida em classes com conflitos e contradições. E contribua para a sua transformação. Fonte: OLIVEIRA, A. U.(org). Para Onde Vai o Ensino de Geografia? São Paulo, Editora Contexto. 2003.
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