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1 GESTÃO CONTEMPORÂNEA: Estudo de Casos & Reflexões Alexandra Mastella (org.) Geisse Martins (org.) Ana Lucia Rocha Soares Camila Julien Reginato Débora Ornellas de Almeida Thiago Paulo da Silva Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida sem a expressa autorização dos organizadores e autores. copyright©2022. Divulgação gratuita. Venda proibida. Administração Contemporânea: Estudo de Casos & Reflexões Organizadores: Dra. Alexandra Mastella e Me. Geisse Martins Autores Ma. Ana Lucia Rocha Soares Ma. Camila Julien Reginato Ma. Débora Ornellas de Almeida Me. Thiago Paulo Silva Produção/Direção Editorial/Preparação Geisse Martins e Ilda Cristina de Borba Zakovicz Capa/Projeto Gráfico/Diagramação Geisse Martins Revisão Ilda Cristina de Borba Zakovicz Ilustrações Os autores Editora Letra e Forma. CNPJ 36.247.686/0001-67. Contato: (41)999148163. E-mail: letraeforma.editora@gmail.com mailto:letraeforma.editora@gmail.com Breve currículo dos organizadores1 ¹ O breve currículo dos autores foi elaborado a partir das informações coletadas no currículo Lattes na data de 30 de dezembro de 2021. Doutora em Administração pela USP, São Paulo, mestre em Engenharia de Produção pela UFSC/SC, Administradora pela UDESC/SC. Experiência de 28 anos no mundo corporativo e gestão educacional, atuando em Instituição de Ensino como Superintendente Regional, Pró-Reitora Acadêmica e Diretora de Unidades da Anhanguera Educacional; Coordenadora de Cursos de Graduação e Pós-Graduação na Área de Administração em Instituições como: FACAMP(SP), UNIBERO (SP) e UNIVALI(SC. Atualmente é Professora e Coordenadora dos Programas de Mestrado em International Business e Business Administration da MUST University. Professora. Dra. Alexandra Silveira Mastella Dedicatória Dedico a organização deste livro a todos os meus alunos orientandos, que através do despertar para a investigação científica, me fazem aprender todos os dias, com seus temas de pesquisa. Dedico também ao meu filho Lucas, que está no início da sua caminhada escolar, empolgado com a leitura de livros. Agradecimentos Agradeço à Deus pelo dom da vida, meu esposo Sérgio e meu filho Lucas, por serem a base da minha caminhada e a MUST University, nas figuras do Prof. Antônio Carbonari Neto, Profa. Maria Elisa Carbonari e Giuliana Carbonari, por serem inspiração e incentivo na minha caminhada acadêmica. Doutorando em Educação pela Eikon University. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação. Especialista em Neurociência e Aprendizagem, Psicopedagogia, Coordenação/Supervisão Escolar, Inspeção Escolar com Doutorando em Educação. Mestre em Tecnologias Emergentes em Educação. Especialista em Neurociência e Aprendizagem, Psicopedagogia, Coordenação/Supervisão Escolar, Inspeção Escolar com ênfase em Educação Especial Inclusiva e Pedagogia Empresarial. É graduado em Pedagogia e Telecomunicações. Atuou como professor em disciplinas na graduação e na pós-graduação entre os anos de 2010 e 2015. Dispõe de trabalhos desenvolvidos no Brasil e no Exterior. Atua como consultor de projetos de tecnologia educacional e tecnologia assistiva, premiados em países como EUA, Canadá, China, Chile e Emirados Árabes Unidos. Autor de livros e artigos científicos publicados nos EUA e no Brasil, foco de pesquisas é Educação e Tecnologia Professor Me. Geisse Martins Dedicatória Dedico a organização deste livro a todas as pessoas que me ajudaram a alcançar meus objetivos pessoais e profissionais. Em especial aos meus pais Moacir Martins (in memoriam) e a minha mãe Helena Martins mulher guerreira e lutadora pessoa pela qual eu tenho profunda admiração, respeito e amor infinito. Aos meus filhos pelo amor incondicional que tenho por eles. Agradecimentos Agradeço a Professora Alexandra pela oportunidade em fazer parte dessa jornada sensacional em reunir trabalhos de incomensurável valor científico, produzidos por autores que são verdadeiros expoentes na atualidade; também a Must University, através das pessoas que integram toda a direção e coordenação pela acolhida e desafios propostos, que cada vez me engrandecem como pessoa e profissional. Não poderia deixar de agradecer a Ilda da Editora Letra e Forma pela parceria em realizar esse projeto. GESTÃO CONTEMPORÂNEA: Estudo de Casos & Reflexões Breve currículo dos Autores1 ¹ O breve currículo dos autores foi elaborado a partir das informações coletadas no currículo Lattes na data de 30 de dezembro de 2021. Publicitária, especialista em Gestão de Negócios Digitais e Mestre em Business International pela Must University, Camila Julien Reginato é CEO da Franquia de lingerie Frida Underwear. A marca é franqueadora de lingeries, presentes em todas regiões do Brasil e está iniciando a internacionalização para expansão ainda maior a partir de 2022. A empresa se originou para ajudar mulheres no empoderamento feminino, valorizando-as como são, suas marcas, seu corpo e sua história; ainda dar espaço e construir sua carreira empreendedora, conquistando a tão sonhada independência financeira. Camila Julien Reginato Dedicatória Dedico a todas as mulheres que buscam o empoderamento feminino, que se colocam à disposição de serem ajudadas para conseguirem liderarem suas vidas. A todas que já foram subestimadas, rebaixadas e abusadas, seja no aspecto físico ou moral. A todas que não deixaram de acreditar, que tiveram esperanças de um mundo mais justo e igualitário para todas nós. As que não se adaptam aos modelos antigos e querem fazer diferente. A todas que já foram caladas. A todas que se sentiram culpadas por ir atrás dos seus sonhos. São tantas mulheres, tantas de nós que precisam do empoderamento e este capítulo da Frida é para vocês se sentirem representadas. Agradecimentos Agradeço aos meus pais que investiram no meu conhecimento e apostaram nos meus projetos mesmo sem entender a maioria deles, aos meus avós por todo amor e acolhimento, meus amigos que acreditaram em mim, meu sócio por me impulsionar, minha equipe por dar todo o suporte com dedicação e a todas franqueadas e clientes da Frida Underwear que fazem a história acontecer. Administradora com habilitação em Comércio Exterior (PUC Campinas), Especialista em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas (UMESP) e Mestre em Administração (UNIMEP). Atuação na área administrativa e gestão a 9 anos nos setores da indústria de Varejo, Química e Educação. Atuação como professora nos Grupos Anhanguera/Kroton, PUC Campinas e como tutora na Must University Atualmente atua como coordenadora de relacionamento assistente no curso de International Business na MUST University, e como docente na PUC de Campinas. Débora Ornellas de Almeida Dedicatória Para Deus, “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”. (João 1. 3) Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, pois Ele é o dono da minha vida, e tudo o que eu faço, não é por mim nem para mim, e sim para honra e Glória do Senhor. Agradeço ao meu esposo Dallas por sua dedicação incondicional, por estar sempre do meu lado me dando total suporte em todas as ocasiões, por compreender meus momentos de dificuldades e me apoiar independentemente de qualquer coisa. À minha família, minha avó Zeti e meu avô Benigno por investirem e acreditarem tanto em mim, meus pais Wallace e Simone por sempre me destinar apoio, confiança e motivação. E à minha irmã Ana Clara, que sempre me incentiva com todo seu amor. Agradeço à minha amiga Eduarla, que me inspirou a seguir a área acadêmica esempre me ajudou quando eu mais precisei. Agradeço à prefeitura objeto de estudo, em especial ao Prefeito, ao Wagner, ao Nicola e a Juliana por acreditarem no projeto e permitirem que a pesquisa fosse feita, além de ajudarem de todas as maneiras imagináveis que esse projeto pudesse ser concluído. Agradeço aos merendeiros que com toda alegria e disponibilidade responderam à pesquisa dessa dissertação. Foi um prazer enorme estar com cada um. Mestre em International Business pela Must University e Mestre em Administração pela Universidade da Amazônia, MBA em Negócios Financeiros pela UNISINOS/FIA e Graduação em Administração de Empresas pela Universidade Paulista Objetivo. Há 16 anos trabalhando no Banco do Brasil S.A., sendo os últimos 4 focados em agronegócio e títulos verdes, sociais e sustentáveis. Ana Lucia Rocha Soares Dedicatória Dedico este trabalho a todos que se preocupam com o mundo em que vivemos e qual legado deixar para as futuras gerações. Agradecimentos A meu bom Deus e Nossa Senhora de Fátima, que nunca me desampararam. A meus pais Antônio Augusto dos Santos Soares e Maria José Rocha Soares, e minha irmã Maria Cecilia Rocha Soares por todo amor, incentivo e apoio incondicional. Graduado em Administração de Empresas com ênfase em Sistemas de Informação pelo Centro Universitário Uninassau (2008). Especialista em Gestão de TI (2010), Gestão de Projetos (2016) e em Alta Gestão de IES (2020), ambas pelo Centro Universitário Uninassau. Mestrado Profissional em Negócios Internacionais pela MUST University (2020). Ingressou em 2020 simultaneamente em duas graduações tecnológicas: CST em Data Science e Inteligência Artificial. Atualmente é Gerente de Operações no Grupo Ser Educacional, com carreira desenvolvida na área de Tecnologia da Informação e Gestão Empresarial Thiago Paulo Silva Dedicatória Dedico esta obra primeiramente a Deus, que me presenteia todos os dias com a energia da vida, que provê força e determinação para o atingimento das minhas metas e objetivos, e principalmente àquele que, em todos os momentos, foi a minha base incondicional para a superação, ao meu filho amado Guilherme Koblitz, minha fonte de inspiração diária, minha motivação e acima de qualquer coisa, o meu verdadeiro amor e propósito de existência. Agradecimentos Meu agradecimento especial às inúmeras pessoas que, direta ou indiretamente, participaram da realização desse projeto: família, amigos, profissionais da MUST e colegas de mestrado. À minha professora e orientadora Alexandra Mastella, pela dedicação, disponibilidade, confiança e paciência ao longo de um processo de dissertação, ao qual conduziu com teor de maestria admirável, e nos presenteou com a oportunidade de participar desse projeto fantástico. Por fim, agradeço a todos que contribuíram para o meu processo de desenvolvimento e formação. Certamente seriam muitos os nomes daqueles que deixaram contribuições inenarráveis e significativas na biografia da minha vida. Apresentação Este livro foi idealizado a partir das pesquisas realizadas por estudantes, nos seus trabalhos de conclusão final de Mestrado Internacional na Must University. O despertar do pesquisador, o aprendizado e a curiosidade, fizeram parte desta jornada e impulsionaram a organização desta obra. Trata-se da realização de um sonho coletivo, no qual cada autor colocou suas investigações e vivências, através da proposição de um determinado tema. Diante da riqueza de informações e da motivação de cada autor, foi realizada a organização deste livro, que traz em cada capítulo, a pesquisa de um tema atual e diferenciado. A ideia de Gestão Contemporânea está refletida em cada um dos casos estudados, explicitando a amplitude do tema e suas possibilidades, a partir de diferentes perspectivas e abordagens. Um dos temas importantes da Gestão Contemporânea diz respeito à economia circular e aos negócios de impacto social, pois, a sustentabilidade econômica evidencia a necessidade de criação de novas cadeias produtivas, em que possam ser promovidas ações de uso mais efetivo dos recursos disponíveis ao mesmo tempo em que se promove um combate frontal à pobreza e a divisão mais equânime de riqueza. Neste livro, também será abordado o tema da gestão estratégica de uma franquia digital, desenvolvida ao longo do período de pandemia. E que está trazendo possibilidades para novas empreendedoras, no ramo de lingeries, trabalhando de forma diferenciada o conceito de empoderamento feminino. Também será abordado o tema do impacto do conflito intragrupal sobre as dimensões da síndrome de burnout, um estudo de caso realizado com merendeiras de escolas públicas do interior do estado de São Paulo. Que traz importantes reflexões a respeito desta síndrome, de fundo psicológico, que se dá a partir da exaustão relacionada ao trabalho do indivíduo. Por fim, o tema tratará da importância do Big Data, como tecnologia da Informação, a ser utilizado para identificar o comportamento do consumidor, de uma instituição de ensino, visando auxiliar o processo de tomada de decisão dos gestores. Desejamos que desfrutem da leitura, a partir dos diferentes prismas e suas abordagens que os autores propõem, através do eixo central do tema Gestão Contemporânea e, que os estudos de casos e pesquisas aqui presentes, possam suscitar a curiosidade do leitor, na busca de mais informações a respeito. Profa. Dra. Alexandra Mastella (org.) Prof. Me. Geisse Martins (org.) Prefácio Gestão Contemporânea Esta obra foi realizada por alunos dos cursos de mestrado, a partir do resultado de suas investigações sobre temas relacionados às disciplinas do seu curso e, principalmente, temas de interesse pessoal. Cada um dos autores juntou as suas experiências através da realização de um sonho: a publicação de um livro. Trata-se de uma publicação com o objetivo de deixar um legado, uma contribuição a todos os profissionais que consideram importante o compartilhamento de pesquisas para o aperfeiçoamento das melhores práticas. Sabemos que o tempo de validade do conhecimento e das inovações tecnológicas, que hoje fazem parte de qualquer área profissional, está sendo reduzido à medida que os avanços tecnológicos impõem novas maneiras de se fazer as mesmas coisas. A partir dessas considerações, é imprescindível, em todas as áreas do desenvolvimento social, a leitura de trabalhos recentes, sobre inovações tecnológicas, voltados para a Gestão Contemporânea, cuja concepção aparece refletida em todos os artigos aqui apresentados. Esses artigos contemplam vários temas e suas possibilidades, de acordo com a vivência e pesquisa de cada um dos autores, que vão desde tecnologia, comportamento do consumidor, tomada de decisão de gestores, economia e os negócios de impacto social, sustentabilidade, até as novas cadeias produtivas, propondo ações a partir da utilização dos modernos recursos disponíveis. É importante apontar também, os temas de destaque na atualidade, como: Big Data, Franquia Digital e a tão temida e silenciosa Síndrome de Burnout. Sabemos que quem se antecipa na busca do conhecimento, está preparado para superar, com mais facilidade, os grandes desafios do atual mercado de trabalho. Este livro vem contribuir com conteúdo atual e rico em insights, facilmente aplicáveis por gestores e profissionais em geral. Por fim, vale também ressaltar que a leitura desse livro com foco na Gestão Contemporânea, engloba desde o pequeno negócio até uma multinacional. Apresentando uma governança que consegue mudar a direção de um negócio, a partir de um objetivo ou meta que promovam ações capazes de concretizar resultados. “Quem compartilhao que sabe transforma a vida de quem aprende” Boa Leitura! Giulianna Meneghello Carbonari MUST University – Florida USA Boca Raton, novembro/2021 Sumário Capítulo 1 ................................................................................................................ 28 ECONOMIA CIRCULAR: OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL .. 29 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 29 Metodologia ........................................................................................................ 35 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 37 Economia Linear x Economia Circular ......................................................... 41 Indicadores de Economia Circular ................................................................. 47 Economia Circular no Mundo e no Brasil .................................................... 49 Barreiras à economia circular ...................................................................... 54 Environmental, Social and Governance (ESG) e Os Investimentos Focados em Sustentabilidade .................................................................................................. 55 Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável.................................. 57 Negócios de Impacto Positivo .................................................................... 59 Modelos de Financiamento – Títulos de Impacto Social ....................... 62 Um Novo Foco – Negócios Inclusivos ......................................................... 65 Exemplo Ilustrativo da Economia Circular – na Vertente Social ............. 67 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO EXEMPLO: INSTITUTO JÔ CLEMENTE – SÃO PAULO ...................................................................... 68 Novas Formas de Captação de Recursos para a Organização: Exemplos da Empresa Social Finance Ltda ..................................................................... 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 85 Capítulo 2 ................................................................................................................ 93 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908694 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908715 A GESTÃO E AS ESTRATÉGIAS DE UMA FRANQUIA: ESTUDO DE CASO FRIDA UNDERWEAR .................................................................. 94 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 94 Metodologia da Pesquisa ................................................................................ 101 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................. 104 Funções da Administração ............................................................................. 104 Áreas Funcionais de uma Organização ........................................................ 109 Planejamento e Gestão Estratégica............................................................... 116 Marketing Digital ............................................................................................... 124 Áreas Funcionais de uma Franquia ............................................................... 131 Planejamento estratégico ............................................................................ 132 Capacitação da rede..................................................................................... 134 Treinamentos em gestão ............................................................................ 135 Padrões comerciais ...................................................................................... 136 Canais de vendas ......................................................................................... 137 O Franchising no Mundo .................................................................................. 139 O Franchising no Brasil ..................................................................................... 142 ESTUDO DE CASO: O CONCEITO FRIDA UNDERWEAR ............. 145 A Organização do Negócio ............................................................................ 153 O surgimento do negócio .......................................................................... 153 As áreas funcionais da Frida Underwear ................................................. 157 Liderança da Frida Underwear .................................................................. 158 Monitoramento dos resultados e plano de crescimento ....................... 160 Análise estratégica da Frida Underwear................................................... 161 A gestão estratégica ..................................................................................... 163 Entrevista com Franqueadas .......................................................................... 171 ANÁLISE DE RESULTADOS DA PESQUISA ......................................... 181 Elaboração de Checklist simplificado para Auxiliar novos Empreendedores ............................................................................................................................ 186 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 189 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 193 Capítulo 3 .............................................................................................................. 197 O IMPACTO DO CONFLITO INTRAGRUPAL NA SÍNDROME DE BURNOUT EM MERENDEIROS(AS) DE ESCOLAS PÚBLICAS DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO ............................................. 197 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 198 Metodologia ...................................................................................................... 206 Estrutura do Trabalho .................................................................................... 207 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 208 Modalidades de Conflitos ............................................................................... 221 Conflito intragrupal ..................................................................................... 225 Estresse ......................................................................................................... 235 Estresse laboral ............................................................................................ 245 Síndrome de Burnout.................................................................................... 253 ORGANIZAÇÃO ENVOLVIDA NO ESTUDO ...................................... 266 METODOLOGIA .............................................................................................. 267 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 275 Confiabilidade dos Instrumentos .................................................................. 276 Análise Descritiva das Variáveis .................................................................... 278 Análise e descrição das dimensões da MBI ................................................. 283 Sobre a Correlação das Variáveis .................................................................. 288 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 293 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................301 Capítulo 4 .............................................................................................................. 313 A IMPORTÂNICA DO BIG DATA COMO TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DO file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908745 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908746 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908746 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908747 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908747 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908748 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908769 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908768 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908768 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR PARA TOMADA DE DECISÕES EMPRESARIAIS ......................................................................... 313 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 314 Big Data: Conceitos e Definições ................................................................. 319 Os 5V’s do Big Data ................................................................................... 321 As visualizações de dados promovidos pelo Big Data .......................... 323 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................. 329 Breve Histórico da Evolução da Análise de Dados ................................... 329 O BI e ERP no Processo Decisório ............................................................. 332 O Business Intelligence como oportunidade de inovação organizacional.... 335 Marketing digital e redes sociais ................................................................ 339 Comportamento do consumidor e seu poder de influência ................ 341 Estratégias de marketing e seus fatores de influência: pessoais, sociais, culturais e psicológicos ............................................................................... 343 METODOLOGIA .............................................................................................. 346 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................................... 351 Resultados da Pesquisa e Estudo das Informações ................................... 352 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 365 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 375 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908768 file:///C:/Users/crisd/OneDrive/Documentos/Editora%20Letra%20e%20Forma/Alexandra/Miolo_%20Gestão%20Contemporânea_Completo_22012022_capa%20e%20contracapa.doc%23_Toc93908768 ECONOMIA CIRCULAR: OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL Capítulo 1 ECONOMIA CIRCULAR: OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL Capítulo 1 ECONOMIA CIRCULAR: OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL 29 ECONOMIA CIRCULAR: OS NEGÓCIOS DE IMPACTO SOCIAL Ma. Ana Lucia Rocha Soares Colaboradora: Profª. Dra. Alexandra Mastella INTRODUÇÃO pós a Revolução Industrial, ocorrida no período de 1760 a 1840, a economia global seguiu em crescimento acentuado, iniciando sua trajetória por uma série de avanços tecnológicos (HIEMINGA, 2015). Essa trajetória de negócios era pautada exclusivamente na extração, produção, consumo e descarte. A utilização, principalmente, de combustíveis fósseis no processo produtivo impactou de forma bastante expressiva o meio ambiente, já que apesar de fornecer uma maior quantidade de insumos, trouxe por outro lado, uma geração de resíduos nocivos para a sobrevivência humana, como por exemplo os resíduos industriais e o aumento de dejetos humanos. Logo em seguida, após a Segunda Guerra Mundial, o movimento ambientalista ganhou novo impulso em 1962 com a publicação do livro “A Primavera Silenciosa” de Rachel Carson A 30 (1962). Que trouxe debates em saúde pública, médicos, cientistas ambientais e agentes de saúde, alertando sobre as ameaças que os poluentes químicos orgânicos causam ao ambiente e à população. Segundo a autora, havia uma necessidade de respeitar o ecossistema em que se vive, para proteger a saúde humana e o meio ambiente. Efetivamente, no fim da década de 60, alguns ideais e visões ambientais começaram a ser colocados em prática, e em 1972 a ONU convocou a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano. O evento foi um marco das discussões sobre o meio ambiente e em sua Declaração Final constam 19 princípios, que abordam a necessidade de guiar a população mundial para a preservação e melhoria do ambiente humano. Em 1992, durante a “Cúpula da Terra” foi elaborado um diagrama para a proteção do planeta e seu desenvolvimento sustentável, conhecido como “Agenda 21” (ONU, 1992). Nesse documento, os governos delinearam um programa detalhado para migrar do então modelo insustentável de crescimento econômico, para novas atividades que protejam e renovem os recursos ambientais. O ano de 2015, apresentou-se uma oportunidade histórica de reunir os países para decidir sobre os novos caminhos, visando 31 melhorar a vida das pessoas ao redor do mundo. Essas decisões nortearam ações para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas. Não obstante as ações tomadas em 2015 resultaram nos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, baseados em Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que visavam o combate à pobreza. Figura 1 | Objetivos de desenvolvimento sustentável Fonte: Nações Unidas (2019). 32 Conforme figura acima, são eles: 1) Erradicação da Pobreza; 2) Fome Zero; 3) Boa Saúde e Bem-Estar; 4) Educação de Qualidade; 5) Igualdade de Gênero; 6) Água Limpa e Saneamento; 7) Energia Acessível e Limpa; 8) Emprego Digno e Crescimento Econômico; 9) Indústria, Inovação e Infraestrutura; 10) Redução das Desigualdades; 11) Cidades e Comunidades Sustentáveis; 12) Consumo e Produção Responsáveis; 13) Combate às Alterações Climáticas; 14) Vida Debaixo D’Água; 15) Vida Sobre a Terra; 16) Paz, Justiça e Instituições Fortes e; 17) Parcerias em Prol das Metas. Na 21ª Conferência das Partes (COP21) da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC, 2009), em Paris, foi adotado um novo acordo com o objetivo de fortalecer a resposta global à ameaça da mudança de clima e de reforçar a capacidade dos países de lidar com os impactos promovidos por essas mudanças. O acordo aprovado pelos 195 países participantes da UNFCCC, teve como meta a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O Brasil, em 2016, aprovou o processo de ratificação do Acordo de Paris, em que se comprometeu a reduziras emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005; até 2025, e 43% abaixo dos níveis de 2005 até 2030. 33 Espera-se que em 2030, cerca de 3 bilhões de pessoas façam parte da classe média, e, como consequência, haja uma maior utilização de recursos naturais (SALTERBAXTER, 2014). Uma maior pressão pública, através de órgãos governamentais, ou até mesmo do mercado, fará com que as empresas melhorem o desempenho no fornecimento de bens de consumo, expandindo sua gestão ambiental para toda a cadeia do negócio (DARNALL; JOLLEY; HANDFIELD, 2008). A minimização dos impactos ambientais pode ser integrada em diferentes práticas, nas diversas áreas do negócio (GROSSMANN, 2004). Para 2050, estima-se que a população mundial chegue a nove bilhões de pessoas (ONU, 2019), e isso deve representar um aumento de aproximadamente 110% na demanda por alimentos (MEYFROIDT, 2018). A competição global por recursos e a concentração da oferta tem aumentado, o que torna a indústria e a sociedade dependentes de um modelo de abastecimento vulneráveis à volatilidade do mercado e instabilidades políticas. A relevância da sustentabilidade para a sobrevivência do planeta faz com que, a partir da perspectiva circular, se tenha a intersecção entre os negócios, o meio ambiente e a sociedade com a conscientização de que os recursos naturais são finitos, e é necessário ter sistemas produtivos de forma mais eficientes. 34 A economia circular não pode ser confundida somente com reciclagem, o conceito é mais amplo e envolve uma série de estratégias, como o design de métodos de produção, sistemas de logística reversa, desenvolvimento de tecnologias para transformar resíduos em novas matérias primas, parcerias entre diferentes setores econômicos, impacto socioambiental onde a empresa está inserida e a saúde da comunidade impactada pelo modelo econômico. Os sistemas econômicos são a principal fonte de pressão sobre o meio ambiente. E são esses sistemas que necessitam de uma análise mais profunda, de modo a apresentarem propostas para sua relação com os recursos naturais; um novo modelo estimula novas práticas em busca de alternativas ao atual modelo linear. O objetivo deste estudo é desenvolver uma visão abrangente do conceito da economia circular e identificar iniciativas que permitirão o desenvolvimento sustentável para as futuras gerações. Para o atingimento deste objetivo, além da pesquisa bibliográfica, foi demonstrada a aplicabilidade do conceito de economia circular, através da pesquisa em uma Instituição que 35 apoia pessoas com deficiência intelectual, a partir de novas fontes de recursos para seus projetos. Metodologia O método utilizado para a realização deste trabalho é a pesquisa exploratória, com foco na análise de textos, coleta de dados e trabalhos anteriormente elaborados nacional e internacionalmente. De acordo com Gil (2008), a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema e pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas e estudos de caso. Uma pesquisa é considerada de cunho exploratório quando visa proporcionar uma visão geral de determinado tema ou fato. O objetivo deste tipo de estudo é realizar descobertas a partir da investigação de várias fontes de informações. Numa primeira etapa, foram analisadas as literaturas existentes, através de livros, artigos e pesquisas a sites como método de ampliar o entendimento sobre economia circular e o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, foi possível avaliar os benefícios da transição do modelo econômico atual linear, para o modelo circular. 36 De acordo com Chiara (2008), a pesquisa bibliográfica visa levantar um conhecimento disponível sobre as várias teorias, para analisar ou explicar um objeto que está sendo investigado A pesquisa bibliográfica analisa as principais teoria do tema e pode ser realizada com diferentes finalidades. Após a análise das publicações, identificou-se no referencial teórico uma forma de descrever o conceito estudado, explorando situações em que possa ser aplicado. Partiu-se então, para a análise de um exemplo prático, utilizando o conceito da economia circular, no contexto de uma instituição que trabalha a inclusão social. Para a pesquisa do exemplo prático, identificou-se as principais características da economia circular e como a mesma poderia ser analisada contrapondo a teoria estudada e a prática de uma organização social. A organização, objeto deste estudo, é o Instituto Jô Clemente, reconhecido por desenvolver estudos e pesquisas sobre a deficiência intelectual, inserida em um contexto social que atinge toda a comunidade ao seu redor. Com a aplicabilidade da economia circular, empresas como a estudada, podem se beneficiar com a ampliação de suas pesquisas, internacionalização de conhecimento e abrangência de atendimento aos que necessitam 37 de apoio. Para a realização da pesquisa no Instituto Jô Clemente, foi utilizada a análise documental, além da revisão de bibliografias sobre o tema. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Ao longo de sua história, o ser humano progrediu para sanar suas necessidades, buscando melhorar a economia e o bem- estar social (O’SULLIVAN; SHEFFRIN, 2003). A abundância de recursos naturais, até agora existentes, para a produção de bens de consumo produzidos pelo sistema industrial passou a ser vista de forma negativa, pois alguns grupos representativos da sociedade passaram a avaliar, além do impacto ambiental pela extração, o modelo de descarte de forma incorreta. A partir do século XX, os impactos ambientais começaram a ser percebidos pelas diferentes classes sociais, entendendo-se que os recursos eram finitos e fundamentais para a manutenção do planeta, impactando na qualidade de vida da sociedade. Com esse novo olhar, surgiram dentro da economia do meio ambiente duas formas de pensamento, a economia ambiental e a economia ecológica. A primeira tem influência da economia neoclássica, onde o meio ambiente é o fornecedor de recursos e receptor de resíduos. 38 O sistema econômico é visto como a principal fonte de pressão sobre o meio ambiente, não o vislumbrando como um fator limitador do crescimento econômico. Segundo Mueller (2007), sistema econômico, considerado como um organismo vivo e complexo, não atua independentemente do sistema natural que lhe sustenta. Ao contrário, o sistema econômico interage com o meio ambiente, extraindo recursos naturais e devolvendo resíduos. Já a economia ecológica lança um novo olhar sobre o processo econômico e ambiental. Este pensamento entende que os problemas ambientais estão na forma como está desenvolvida a sociedade. Um olhar crítico sobre a ótica da economia ambiental, entende a importância dos mercados, defendendo a necessidade de regulamentação para alocação melhor dos bens e serviços ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a partir do entendimento que o crescimento econômico não pode ser conduzido nos moldes de destruição dos ambientes naturais, exclusão social, concentração de renda nem dilemas socioculturais (SOIBERT; OLIVEIRA, 2011). Em 1972, foi publicado o relatório “Limites do Crescimento” onde foi apresentado um cenário de esgotamento dos recursos naturais decorrente do modelo de desenvolvimento 39 tradicional (MEADOW et al., 1978). A proposta central do relatório era para o crescimento econômico e populacional (RATTNER, 1979), norteando o conceito de desenvolvimento sustentável por anos. Em 1979, durante a Conferência de Estocolmo, foi construído o Relatório de Brundtland intitulado “Nosso Futuro Comum”. O relatório apontava o momento em que o planeta se encontrava em termos socioeconômicos e ambientais, apresentado uma proposta hegemônica entre o desenvolvimento sustentávele o neoliberalismo econômico. No final dos anos 80, começou a circular o termo globalização, como uma ideia de unificação do mundo (HOBSBAWAN, 1995). A nominação como globalização foi a partir de um olhar sobre um processo de intensificação das relações entre os países do mundo, podendo acontecer nos setores econômico, social, cultural ou político. Resultado de uma política, implementada por governos nacionais e instituições internacionais, a globalização trouxe uma abertura do mercado de capitais e de bens e serviços. A abertura das fronteiras fez expandir negócios para mercados ainda emergentes, fazendo expandir o sistema do capitalismo, 40 Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2005), a globalização traz algumas desvantagens que devem ser levadas em consideração: • Concentração de riqueza: as nações com melhores condições financeiras e produção de bens e serviços em maior escala se beneficiariam com a globalização em relação aos países em desenvolvimento. • Exploração de países mais pobres: países desenvolvidos se instalam em países mais pobres poderiam explorar da matéria prima e mão de obra mais baratas. • Especulação financeira: a abertura dos mercados mundiais fez com que o fluxo de capital aumentasse, com isso a especulação financeira também cresceu. • Crises financeiras mundiais: com uma economia interligada, problemas financeiros de países podem acabar se tornando globais. Um exemplo foi a crise de 2008, que iniciou com problemas nos financiamentos imobiliários dos Estados Unidos, e acabou atingindo a economia global. O mercado financeiro é o mais globalizado dos mercados. Com a liberação dos fluxos de capitais, aliada a inovação tecnológica nas telecomunicações, ocorreu o deslocamento de 41 grandes somas de capital, sendo considerado o centro da globalização. Na década de 90, com advento da globalização, ocorreu um crescimento da produtividade econômica. Por conseguinte, as sociedades construíram grandes abismos sociais e tecnológicos, o que exigiu do planeta um consumo ainda maior dos bens naturais. Surgiram problemas ambientais globais como a destruição da camada de ozônio, contaminação radioativa, mudanças climáticas, perda da biodiversidade, poluição dos oceanos, dentre outros. O primeiro país a implantar o conceito de economia circular foi a Alemanha, em 1996, quando sancionou a lei de gestão de substâncias tóxicas, e a gestão de resíduos em ciclo fechado. O Japão foi o segundo a promover a economia circular em 2000 (SEHNEM; PEREIRA, 2019). Em 2008, a China institui a Lei de Promoção da Economia Circular e a adota como modelo de desenvolvimento nacional (SUÁREZ-EIROA et al., 2019). Economia Linear x Economia Circular A economia linear vem sendo considerada uma forma de organização inviável, já que, no longo prazo, os limites do planeta terão chegado a um nível insustentável. 42 Figura 2 | Economia linear Fonte: Elaborada pela autora (2021). Para exemplificar, são algumas desvantagens do modelo linear: a) Limitação de Recursos: a incerteza sobre a disponibilidade de recursos naturais para a manutenção do sistema é cada vez mais crescente. b) Volatilidade de Preços: a flutuação nos preços das commodities aumenta significativamente os preços médios. Essa flutuação impacta não somente os produtores e compradores de matérias primas, mas aumenta o risco do mercado fazendo com que os investimentos se tornem menos atraentes. 43 c) Materiais Críticos: a dependência de materiais críticos faz com que empresas como indústrias metalúrgicas, automotivas e de componentes eletrônicos, fiquem dependentes das flutuações de preços dos materiais, e consequentemente podem se tornar menos competitivas. d) Interdependência: atualmente, a produção de muitos produtos depende de água e combustíveis. Essa interdependência pode gerar um impacto generalizado pela escassez de matéria prima, podendo gerar ainda a indisponibilidade de bens de consumo. e) Aumento de Externalidades: as externalidades são efeitos sociais, econômicos e ambientais indiretamente causados pela venda de produtos ou serviços. Elas incluem danos aos ecossistemas, redução de vida útil do produto e uma elevação na demanda por produtos. Figura 3 | Modelo da economia linear Fonte: Luz e Echevengua (2015). 44 Na figura acima, podemos ilustrar melhor o modelo de economia linear e suas características. Já a economia circular, é restaurativa e regenerativa por princípio (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017), parte do pressuposto que não haja fim, nem do produto, nem de seus componentes. A ideia de fim é substituída pelo conceito de restauração e menor geração de impacto, utilizando-se de energia renovável, evitando o uso de produtos químicos nocivos, eliminação da geração de resíduos e uma melhoria dos negócios e das indústrias. O modelo circular propõe fechar o ciclo (extrair, transformar, produzir, utilizar e descartar), no qual as práticas econômicas e sociais são repensadas de forma a aproximar o funcionamento do sistema, que seja capaz de reduzir a quantidade de novos recursos necessários para a produção, assim como a quantidade de resíduos descartados (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2012). A economia circular está sustentada em três princípios: o primeiro tem o objetivo de preservar e aumentar o capital natural, monitorando e equilibrando os recursos renováveis. O segundo princípio, baseia-se em otimizar a produção de recursos, fazendo com que os produtos, componentes e materiais circulem com alta 45 utilidade, tanto no ciclo técnico quanto no biológico. Por fim, o terceiro princípio tem o objetivo de fomentar a eficácia do sistema, revelando os projetos negativos e excluindo-os. Baseando-se nesses princípios, pode-se destacar outras cinco características que trazem o conceito de economia circular à prática (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2013): a) Diversidade Valorizada: a economia circular valoriza economias, em que negócios de diferentes portes coexistam com ambientes naturais biodiversos e resilientes. b) Utilização de Fontes Renováveis: com o uso de fontes renováveis, principalmente as de fontes energéticas, aumentam a resiliência e reduzem a dependência de recursos que podem ser influenciados por crises. c) Exclusão de Perdas: em uma economia circular, não há geração de resíduos, sendo os produtos projetados especialmente. Os nutrientes biológicos são biodegradáveis e facilmente retornam ao ecossistema. d) Visão Sistêmica: a economia circular traz uma visão ampla sobre o mercado, empresas, consumidores e recursos naturais. e) Preços que Refletem a Realidade: os movimentos do mercado, tanto positivo quanto negativamente são 46 internalizados, além dos custos dos serviços ambientais prestados, refletindo assim o custo real dos produtos e serviços. Há dois ciclos importantes que fundamentam o conceito de economia circular, os biológicos e os técnicos. Os ciclos biológicos são os regenerativos e acontecem quando as matérias primas são projetadas para retornar ao sistema por meio de processos como compostagem e digestão anaeróbica. Por esses ciclos regenerarem os sistemas vivos, como o solo, são responsáveis por fornecer recursos renováveis para a economia. Já os ciclos técnicos são responsáveis por restaurar produtos, componentes e materiais por meio de estratégias como reutilização, reparo, remanufatura e, em último caso, a reciclagem. Para que o reuso de recursos e maior produtividade se tornem algo comum, alguns mecanismos de mercado deverão desempenhar um papel de apoio a políticas públicas, instituições de ensino e formadores de opinião. A fim de viabilizar esse modelo, algumas condições devem surgir, como a colaboração,incentivos, estabelecimento de regras ambientais internacionais adequadas e acesso a financiamentos. Além dessas condições, habilidades adicionais serão necessárias para o aproveitamento dos ciclos até o retorno final 47 dos materiais ao solo, ou ao sistema de produção industrial. Para isso, estão envolvidas as cadeias de entrega, separação, armazenamento, gestão de risco e geração de energia. Com sistemas de coleta e tratamento melhores, o descarte de materiais para fora do sistema será reduzido, reforçando o racional econômico da economia circular. Indicadores de Economia Circular Os indicadores devem ser um caminho para se atingir um mundo mais sustentável. Na literatura, os pesquisadores têm buscado questionar esses indicadores de sustentabilidade. Para a obtenção dos dados é necessário um procedimento específico de medição (GALLOPIN, 1996), e devem ser fáceis de usar. Os indicadores de economia circular ainda são escassos, não existe uma padronização mundialmente usada para mensurar os ciclos dos produtos e serviços (LINDER; SARASINI; LOON, 2017). Atualmente, para auxiliar as organizações na transição para a economia circular, há duas frentes que estão cada vez mais conhecidas. A primeira delas, elaborada pela Ellen MacArthur Foundation (2010), traz o escopo dos indicadores, avaliando os 48 materiais reutilizados, reciclados, origem e destino da matéria prima. A segunda frente é representada por empresas de certificação, consultoria e pesquisa, que têm buscado desenvolver práticas e métricas mensuráveis da economia circular. Uma dessas empresas é a Climate Bonds Initiative, organização que trabalha para mobilizar o mercado de capitais, promovendo investimentos em projetos e ativos necessários para a transição rápida e efetiva para a economia circular. A Climate Bonds Initiative, vem elaborando indicadores e padrões para a certificação de títulos com rotulagem sustentável. A ferramenta é de fácil acesso tanto para investidores, quanto para governos, e auxilia na priorização de investimentos que realmente contribuem para enfrentar as mudanças climáticas. Outra empresa que elaborou normas para a economia circular foi o BSI Group, que realizou uma pesquisa em meados de 2013 com áreas correlatas da gestão e prevenção de resíduos. Em 2017, o BSI Group elaborou um guia, chamado BS 8001, com princípios, estratégias, aplicação e controle de questões sobre a economia circular, podendo ser aplicado em qualquer tipo, tamanho e localização da organização (BSI, 2017). 49 Economia Circular no Mundo e no Brasil Segundo a ONU (2014), até 2050, 66% da população mundial residirá em centros urbanos. Esse percentual representa 2,5 bilhões de pessoas que necessitarão de serviços que tendem a impactar de forma expressiva o meio ambiente. Apesar do tema economia circular estar muito ligado à sustentabilidade, na proposta do desenvolvimento ambiental e propor ações em consonância com as demandas ambientais, não existe um único caminho, já que se entende que uma série de iniciativas vem sendo criadas para que o conceito seja implantado, principalmente dentro dos negócios das empresas, complexos industriais, cidades e cadeias globais de abastecimento. O modelo predominante europeu ainda é a economia linear. Segundo estudos da Ellen MacArthur Foundation (2015), em conjunto com as consultorias SUN e McKinsey, demonstram os impactos positivos do modelo de economia circular na União Europeia, criando enormes oportunidades de renovação, regeneração e inovação na indústria. A inserção do modelo de economia circular pode, ainda, trazer uma revolução tecnológica gerando um benefício líquido de € 1,8 trilhão até 2030. Esse valor é superior ao estimado na 50 economia linear, de € 0,9 trilhão. Ainda segundo o estudo, a transição da Europa para a economia circular poderia contribuir € 900 bilhões adicionais ao PIB europeu até 2030, aumentar a renda domiciliar em € 3.000 por ano e cortar as emissões de CO2 pela metade em comparação aos níveis atuais. Já nos países asiáticos, responsáveis por 60% da população mundial, a China e a Índia experimentaram um crescimento, urbanização e industrialização acelerados, produzindo impactos ambientais negativos. Porém, a China percebendo esses impactos, desde 2003 vem desenvolvendo políticas públicas promulgando leis como a Lei de Produção Limpa e, em 2009 implementou a Lei de Promoção da Economia Circular com o objetivo de, nos próximos 50 anos, sejam resolvidos problemas como tratamento de resíduos domésticos, eficiência energética e redução de emissões atmosféricas (WORLD ECONOMIC FORUM, 2014). No início dos anos 2000, o Japão iniciou um processo de circularização econômica, apoiado em políticas públicas de gestão de resíduos e suprimentos, e mudanças no sistema educacional. Para essa região, há grandes oportunidades de geração de valor e crescimento, quando da transição para uma economia linear. Na América do Norte, tanto o Canadá como os Estados Unidos são grandes vetores da economia circular por meio das 51 empresas de tecnologia, principalmente nas áreas de finanças e inovação. O continente africano assinou durante a 17ª. Conferência dos Ministros Africanos do Ambiente, ocorrida em novembro de 2019, um documento para a implantação da economia circular. Um projeto que chama atenção é o Desenvolvimento Econômico e Reciclagem da África do Sul criado em 2012 para resolver o problema crescente de pneus usados. Essa iniciativa se mostra como o principal exemplo de economia circular em ação na África. A América Latina é rica em recursos naturais, biodiversidade e inovação social. O continente possui elementos regionais únicos, como as reservas naturais abundantes, além de ser uma região grande exportadora de recursos, tendo um papel importante na transição global para a economia circular. Em relação ao Brasil, percebe-se uma série de ações sendo traçadas com o objetivo de difundir o conceito nos negócios. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria – CNI (2018), 76,4% das indústrias do país desenvolvem algum tipo de economia circular, como reuso de água, reciclagem de materiais e logística reversa. Ainda segundo a pesquisa, 60% das indústrias entendem que as práticas que envolvem a economia circular podem contribuir para a geração de emprego. 52 Em 2018, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) desenvolveu o Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, onde a economia circular é vista como uma oportunidade para o uso mais eficiente dos recursos podendo gerar um aumento da competitividade da indústria. Dentre os objetivos centrais do documento está a gestão de resíduos como recursos de valor, como exemplo a cadeia do plástico que teve um aumento na proporção de reciclagem de 9,8% para 12,5% até 2022. Na figura abaixo, podemos ver a proporção de material reciclado em atividades selecionadas no Brasil. Figura 4| Proporção de material reciclado em atividades selecionadas no Brasil Fonte: CNI (2018, apud IBGE 2017). 53 Segundo pesquisa da Ellen McArthur Foundation (2017), há várias oportunidades no país, que podem auxiliar a transição para a economia circular: • Agricultura e Biodiversidade: a aplicação de modelos regenerativos na agricultura poderia restaurar as reservas naturais, aumentar a diversidade biológica, fechar ciclos de nutrientes, aumentar a produção agrícola concentrando esforços para aumentar o conteúdo nutricional dos alimentos. O uso sistemático de resíduos orgânicos disponíveis por meio do processo de compostagem, devolve ao solo os nutrientes necessários, reduzindo a necessidade de reposição através de fertilizantes químicos. • Construção e Edificações: integrar conceitos como da flexibilidade e modularidade para dar mais eficiênciano uso dos recursos e reduzir o desperdício estrutural. • Equipamentos Eletroeletrônicos: unir a eficiência e a capacidade operacional com a agilidade e escala. Uma vez estabelecidas as condições sistêmicas adequadas, os modelos de serviços e produtos podem oferecer um custo mais acessível ao consumidor, porém com mais valor e mais modernos. 54 • Responsabilidade Social: ações de responsabilidade social mostram que a empresa está preocupada com o impacto que ela causa no ambiente em que ela está inserida, e suas ações podem diminuir os danos que podem ter causado. Barreiras à economia circular Não está claro se a economia circular pode de fato promover o crescimento econômico sem degradar o meio ambiente, e melhorar a equidade social para esta e para as futuras gerações (MILLAR; MCLAUGHLIN; BÖRGER, 2018). Em um estudo feito por Ritzén e Sandstrom (2017), levantaram-se cinco tipos de barreiras para a adoção da economia circular, que são financeira, estrutural, operacional, comportamental e tecnológica. Em relação a barreira financeira, o desconhecimento dos benefícios econômicos proporcionados pela transição para a economia circular, como exemplo a redução da extração de matéria prima pela incorporação de resíduos pela reciclagem. A barreira estrutural está relacionada com a falta de clareza na distribuição da responsabilidade entre os setores das empresas. 55 Na barreira operacional, as particularidades que envolvem a infraestrutura e a cadeia de suprimento de cada tipo de produto e sua rede de fornecedores. A barreira comportamental refere-se a baixa percepção da sustentabilidade e o não conhecimento dos riscos ambientais por parte de todos os envolvidos. Já na barreira tecnológica, o desenvolvimento de produtos e processos de produção alinhados a economia circular tem pouca clareza na integração com o conceito. O desenvolvimento da economia circular é um resultado de políticas governamentais e da atuação de outros agentes, como as agências de desenvolvimento de negócios (KORHONEN et al., 2018). No campo do desenvolvimento de novas tecnologias, os governos têm papel essencial, financiando pesquisas nas áreas chave para promover o consumo e a produção sustentável, como reciclagem, economia de energia, entre outras. Environmental, Social and Governance (ESG) e Os Investimentos Focados em Sustentabilidade A crescente preocupação com a sustentabilidade faz com que informações sobre práticas ambientais, sociais e de governança 56 das empresas (ESG), passem a ser levadas, cada vez mais, em consideração no mundo dos investimentos (BARBOSA, 2019). Segundo uma pesquisa realizada em 2016 pela Cone Communications, 75% dos millenials estão dispostos a ter um corte no salário para trabalhar em uma empresa socialmente responsável. Outra pesquisa realizada em 2016 pela Nielsen (2016), 73% dos millenials pagariam mais por produtos ou soluções sustentáveis. Para o mundo dos investimentos, abriu-se uma nova rota, a dos investimentos que levam em conta critérios de sustentabilidade. É possível ver, cada vez mais, as companhias e fundos estrangeiros se posicionando para definir seus critérios de investimentos. A empresa do mercado financeiro BlackRock, maior gestora de índices comercializados como ações do mundo, passou a considerar indicadores de sustentabilidade na hora de divulgar informações sobre seus fundos de investimentos (BLACKROCK, 2020). Também informou que selecionará seus futuros investimentos em companhias adeptas ao ESG. Para entender melhor, o ESG é um índice que avalia as melhores práticas nos três eixos da sustentabilidade: (BARBOSA, 2019). 57 Figura 5|Pilares do ESG Fonte: Elaborada pela autora (2021). Pelo lado do investidor, o interesse em ESG geralmente é impulsionado por objetivos como alinhar investimentos com valores pessoais, impacto na sociedade e melhora no perfil de risco dos investimentos. Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável Os recursos disponíveis para o financiamento do desenvolvimento sustentável disponível, são insuficientes para que os objetivos da comunidade sejam alcançados. Canalizar os recursos necessários por meio da combinação de medidas, como 58 atrair financiamento privado, mobilizar receitas públicas e apoiar o desenvolvimento do setor financeiro, podem tornar possível o atingimento dos ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (IPEA, 2018). Em seu sentindo amplo, o financiamento sustentável apoia direta ou indiretamente, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com arranjos de mercado que contribuem para um crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo da sociedade. Em 2018, os membros do G20 durante encontro realizado na Argentina, identificaram opções voluntárias para expandir o investimento privado em atividades sustentáveis, que obtenham impacto ambiental positivo e benefícios sociais e econômicos, como criação de emprego, desenvolvimento tecnológico, redução da pobreza e inclusão social. Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizado em 2019, estima-se que seriam gastos até 2030 US$ 2,6 trilhões para que os mercados emergentes e de baixa renda ofereçam às populações cada vez mais educação, saúde, energia, estradas, água e saneamento (FMI, 2019). O capital privado é, muitas vezes, uma importante fonte de financiamento sustentável, já que o financiamento público pode não ser suficiente, para atender as demandas de uma economia 59 global em crescimento. Empresas em fase inicial, ou de pequeno e médio porte, que tenham como foco impactos ambientais, sociais e econômicos positivos são cruciais para o desenvolvimento do crescimento sustentável, porém enfrentam dificuldades para obter o capital de investimento para seus projetos. O crescimento das estratégias de investimento sustentável oferece uma oportunidade para endereçar as captações, para modelos de negócio e tecnologias que visam a sustentabilidade. Negócios de Impacto Positivo O empreendedorismo focado em negócios de impacto pode gerar transformações profundas em áreas fundamentais como cidadania, educação, finanças, saúde, tecnologia verde, entre outros. Segundo a Força Tarefa de Finanças Sociais1, em sua Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil (2015), os empreendedores possuem a missão de impactar com resultado financeiro de forma sustentável a sociedade como um todo. 1 A Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS) foi lançada em 2013 e seu propósito é ampliar o capital privado e público para o desenvolvimento de mecanismos e negócios de impacto que contribuam para a solução de problemas sociais brasileiros. 60 Acredita-se na ideia de que o alcance dos Negócios de Impacto, pode contribuir para a conquista de uma série de realizações, dentre elas: Figura 6|Conquistas possibilitadas por negócios de impactos Fonte: Elaborada pela autora baseada na FTFS (2015). Para ilustrar, a Carta de Princípios para Negócios de Impacto, traz uma composição básica do ecossistema, conforme figura a seguir. 61 Figura 7|Composição Básica do Ecossistema de Finanças Sociais Fonte: FTFS (2015). No Brasil, não há uma estrutura jurídica específica voltada para os Negócios de Impacto. Dessa forma, para que uma empresa, com ou sem fins lucrativos, seja enquadrada como Negócio de Impacto, deve possuir quatro princípios (FTFS, 2015): • missão social e ambiental: com o propósito de gerar impacto socioambiental positivo; 62 • impacto social e ambiental monitorado: em que o impacto é periodicamente mensurado e avaliado; • lógica econômica: com o desenvolvimento de mecanismos para gerar receita própria; • governança: levando em consideração os interesses de investidores, clientes e comunidade.Modelos de Financiamento – Títulos de Impacto Social Os títulos sociais se referem a uma estrutura desenvolvida por um Comitê Executivo da Associação Internacional do Mercado de Capitais (ICMA, sigla em inglês) que visa a captação de recursos para a conclusão de projetos com objetivo social. Esses títulos exigem que os emissores demonstrem, com o maior grau de transparência, a sua aplicabilidade para os investidores e público em geral (ICMA, 2018). A IMCA é uma associação que reúne emissores, investidores, subscritores e outras partes interessadas do mercado de capitais, promovendo a harmonização dos mercados globais de títulos de dívida, incentivando a colaboração e o diálogo entre as partes. Para isso, a IMCA publica informações sobre práticas e estruturas de mercado para padronização. 63 Em 2014, a associação publicou os Green Bonds Principles (GBP) com diretrizes para o processo de emissão de títulos verdes, voltados, principalmente, à agricultura de baixo carbono e o uso da terra. Em 2017, foi publicado os Social Bonds Principles (SBP) para regulamentar a emissão de obrigações visando projetos de impacto social (ICMA, 2018). Os Títulos Sociais, também conhecidos como Títulos de Impacto Social, são uma nova maneira de impulsionar a inovação para a solução de problemas sociais que ainda hoje trazem impacto na vida da população. Os Social Bonds Principles propõem algumas categorias de projetos que podem ser apoiadas: • Infraestrutura básica acessível: água potável, esgoto, saneamento, transporte etc. • Acesso à serviços básicos: saúde, educação, assistência médica, financiamentos etc. • Habitação a preços acessíveis. • Criação de emprego. • Comida Segura. • Avanço socioeconômico e empoderamento. Podem ser beneficiários os projetos sociais ligados a: • Pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. 64 • Populações, comunidades excluídas e/ou marginalizadas. • Grupos vulneráveis, inclusive em decorrência de desastres naturais. • Pessoas com deficiência. • Imigrantes e migrantes. • População sub educada. • População carente, devido à falta de acesso à serviços essenciais de qualidade. • Pessoas desempregadas. Uma amostra da importância desses títulos, segundo levantamento da Natixis, Green & Sustainable Hub, Market Data (2018), em 2018, o volume global de emissões aumentou para 16,5 bilhões de dólares em maio de 2018. O grande destaque para as emissões foram os setores públicos com 77%. Do ponto de vista financeiro dos investidores, os títulos sociais oferecem um retorno semelhante à um título convencional de renda fixa. Segundo Simon Bond (2010), da European Social Bond Fund, não é preciso comprometer o lucro dos investidores para se ter um impacto social, e com isso não há motivos para relutar em investir nesse tipo de título. Os títulos sociais reúnem o retorno social e o retorno financeiro, além de representar uma oportunidade de diversificação de portfólio. 65 O mercado dos investimentos de impacto tem ganhado notoriedade, com o maior número de investimentos nos setores de tecnologia da informação e comunicação, saúde, educação e conservação da biodiversidade. Um Novo Foco – Negócios Inclusivos A luta para acabar com a pobreza não é fácil. Criar modelos inovadores, apoiar empresas de grande e pequeno porte, podem beneficiar suas comunidades, enquanto todos podem aumentar seus resultados. Os negócios inclusivos têm um papel significativo na implementação da Agenda 2030, com ações como a redução da pobreza, diminuição das desigualdades e o crescimento econômico sustentável. Podem, ainda, contribuir para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os negócios inclusivos impulsionam as forças do mercado de maneira a integrar a “base da pirâmide” econômica. Segundo o International Finance Corporation (2014), 4,5 bilhões de pessoas na “base da pirâmide” gastam cerca de 5 trilhões de dólares, o que representa mais da metade de tudo que é consumido nos países em desenvolvimento e mercados emergentes. Na América Latina, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (2013) a “base da pirâmide” 66 tem mais de 400 milhões de pessoas com menos de 10 dólares por dia. Segundo o Relatório do G20 para a Cúpula de 2016, sobre negócios inclusivos, o Brasil tem cerca de 100 milhões de pessoas vivendo na base da pirâmide. Existem grandes desafios para superar as barreiras dos negócios inclusivos, como a ampliação da oferta de capital e a promoção de um ambiente favorável à disseminação e incentivo do ecossistema. Os negócios inclusivos podem criar oportunidades de emprego e empreendedorismo para essas pessoas que vivem na “base da pirâmide”, sendo direta ou indiretamente, como as cadeias de valor das empresas, sendo fornecedores, distribuidores ou parceiros de negócio. Os negócios inclusivos podem promover o desenvolvimento sustentável nos três pilares: econômico, social e ambiental. Segundo Hart e Milstein (2004), a melhoria das condições de vida é alcançada através do acesso a bens e serviços que anteriormente estavam disponíveis apenas para a classe privilegiada. Segundo Sen (2000), o problema da pobreza extrema é que priva as pessoas da liberdade e que, para reverter isso, é necessário estabelecer condições de acesso à educação, saúde, habitação e geração de renda. 67 Em 2013, foi formada pelos países do G7 e pela Austrália uma Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS), com o intuito de envolver profissionais como catalizadores e articuladores para levar os temas mais críticos sobre negócios inclusivos, à campo. O propósito dessa ação é disseminar e mobilizar as pessoas para a crença de modelos de negócios que envolvam problemas sociais. (FTFS, 2015) Em 2015, essa Força Tarefa foi sucedida pela organização Global Social Impact Investment Steering Group (GSG), onde o Brasil passou a fazer parte, e essa organização passou a ser uma referência global para as melhores práticas e na construção das finanças sociais nos países membros. Pode-se perceber que há inúmeras formas de se aplicar a economia circular dentro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, principalmente no campo de negócios inclusivos, como o melhor acesso à assistência médica e ampliação da rede de atendimento. Exemplo Ilustrativo da Economia Circular – na Vertente Social Segundo Ricardo Abromovai (FTFS, 2015), “Não é possível haver transformação social, se não houver transformação 68 nos modelos de negócios das empresas. Por isso é fundamental que os movimentos sociais cobrem das empresas os valores que queremos ver em toda a sociedade”. Ainda segundo o autor, a economia circular somente terá impacto, caso consiga se apoiar em muita ciência e tecnologia. O relacionamento é essencial para qualquer organização. Se relacionar com apoiadores, fornecedores, financiadores, governo, parceiros e outras organizações é uma necessidade permanente, principalmente nos casos de negócios de impacto social. É importante se lembrar que os negócios de impacto social, por serem uma inovação disruptiva, estão inseridos em mercados ainda não estruturados. Tendo como ponto de partida esses elementos, o estudo que se segue tem como objetivo central dar concretude a uma ideia genérica, como o financiamento de estudos e pesquisas, em negócios de impacto social. CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO EXEMPLO: INSTITUTO JÔ CLEMENTE – SÃO PAULO No Brasil, a primeira instituição voltada a deficiência intelectual foi criada em 1926, chamada Sociedade Pestalozzi. Em 69 1954 surgia a primeira APAE, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, a APAE foi fundada em 1961, com o intuito de promover a prevenção e a inclusão da pessoa com Deficiência Intelectual, disseminando conhecimento do diagnóstico no nascimento,até o envelhecimento, e o desenvolvimento de habilidades que favoreçam o aprendizado, a empregabilidade, a inclusão social e a defesa dos direitos. Em 1976, a APAE de São Paulo trouxe para o Brasil o Teste do Pesinho, que a partir de gotas de sangue coletadas do calcanhar do recém-nascido, consegue detectar doenças e dá a chance do tratamento correto ao paciente. Atualmente, o teste é credenciado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência em Triagem Neonatal. Romper o ciclo do desconhecimento e cessar a falta de perspectivas e oportunidades, é a maior motivação da APAE de São Paulo, uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que encontra apoio em programas públicos de assistência e nas diretrizes da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Programa Nacional de Direitos Humanos, Plano Viver Sem Limites e Relatório Mundial sobre a Deficiência, por exemplo. 70 Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), a pessoa com deficiência intelectual deve viver na comunidade, nos mesmos ambientes escolares e profissionais que qualquer outra pessoa, mesmo que necessite de suporte. Em 2010, a APAE de São Paulo fechou uma das maiores escolas do Brasil, a Escola Especial, e em 2013 fechou suas oficinas de trabalho. Adotou então, a Metodologia do Emprego Apoiado, criado nos Estados Unidos no final dos anos 70. O novo modelo de trabalho trazia um novo conceito, de que todas as pessoas, independente do grau de severidade de sua deficiência, podem trabalhar, desde que sejam oferecidos os apoios necessários. Esse movimento fez com que centenas de pessoas com deficiência intelectual fossem incluídas em empresas públicas e privadas. Em novembro de 2019, o Instituto Jô Clemente passou a ser responsável pelas atividades da APAE São Paulo, e do Instituto de Ensino e Pesquisa APAE DE SÃO PAULO. O nome foi inspirado na dona Jô Clemente, uma das principais defensoras dos direitos das pessoas com deficiência intelectual no Brasil. O Instituto Jô Clemente atua do nascimento ao processo de envelhecimento, desenvolvendo habilidades e potencialidades que favoreçam a escolaridade, o Emprego Apoiado e assessoria 71 jurídica às famílias sobre os direitos das pessoas com deficiência intelectual. Segundo informações do Instituto Jô Clemente, o projeto Emprego Apoiado incluiu oito jovens com síndrome de down em empresas parceiras no ano de 2019. No mesmo ano, o Instituto incluiu 507 pessoas com deficiência intelectual em 50 empresas e órgãos públicos em São Paulo. Ainda, no sentido de fortalecer a Causa da Deficiência Intelectual, foi criado o Instituto de Ensino e Pesquisa com o intuito de produzir e disseminar conhecimento que permitam estimular discussões, e possam evoluir e compartilhar as práticas de atendimento entre as demais instituições que trabalham com Deficiência Intelectual, ampliando seu impacto social. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em 2014, o custo estimado para criar uma criança, do nascimento aos 18 anos, seria cerca de US$13.333,00 por ano. Quando se trata de uma criança com deficiência intelectual, esse custo pode chegar a US$ 17.000,00 por ano, com terapias ocupacionais, comportamentais e de habilidades, dentre outras despesas. 72 Novas Formas de Captação de Recursos para a Organização: Exemplos da Empresa Social Finance Ltda A dependência financeira do Instituto Jô Clemente por recursos do governo, tem sido reduzida com a criação de novas formas de captação e sustentabilidade. O instituto conta com diversos parceiros e bem feitores que todos os meses aportam recursos na instituição, com o intuito de financiar as pesquisas no campo da Deficiência Intelectual. Mas é possível ajudar mais, o Instituto possui diversas frentes de pesquisa que, ao evoluírem, podem trazer grandes benefícios não só para a comunidade onde está inserida, mas gerar um grande impacto social global. Diversas poderiam ser as respostas de como ajudar mais, e neste trabalho serão apresentados os instrumentos dos Títulos de Impacto Social, como forma de ampliar a atuação do Instituto Jô Clemente. Para demonstrar como utilizar esses recursos no Instituto Jô Clemente, utilizou-se informações da empresa Social Finance Ltd., uma organização sem fins lucrativos, baseada em Londres, que possui parcerias com o governo, o setor social e a comunidade financeira, e tem como objetivo encontrar melhores maneiras de lidar com problemas sociais no Reino Unido. 73 A Social Finance Ltd. definiu seis áreas para ajudar pessoas com problemas graves de saúde mental a voltar ao trabalho. Em 2015, foi criada uma Parceria de Saúde e Emprego visando inserir pessoas com problemas de saúde mental e outros grupos com condições de deficiências, em empregos apoiados de qualidade. Essa parceria é suportada por um conjunto de capital de investimento com motivação social, com contratos flexíveis e baixo risco. Segundo levantamento da Social Finance Ltd. (2017), apenas 37% das pessoas com problemas de saúde mental possuem emprego remunerado. Para pessoas com doenças mentais mais graves, esse percentual cai para 7%. A Parceria de Saúde e Emprego visa ampliar o modelo de empregos de qualidade, combinados com financiamento nacional e privado. Apoiado por investimentos socialmente motivados, baseiam-se em resultados para ampliar os serviços de emprego apoiados. Segundo a Social Finance Ltd. (2017) já foram captados 2,2 milhões de libras em financiamento, com fundos provenientes do Big Lottery Fund e do Social Outcomes Fund do governo. Uma abordagem baseada em resultados, onde se pagam apenas por resultados demonstráveis, está se tornando, cada vez mais, atraente no campo dos Títulos de Impacto Social. Nessas 74 operações, o governo, ou empresa que necessite de financiamento, concordam em recompensar os investidores, caso os objetivos definidos sejam alcançados e apresentem resultados sociais. Pelo lado dos investidores, ajudam a supervisionar as atividades propostas na emissão dos títulos. Os investidores sociais buscam retorno financeiro e social, e podem ser fundos de caridade, fundações, indivíduos e fundos de investimento social. Nesse desafio, o governo do Reino Unido lançou em 2012 o Social Outcomes Fund, com capital inicial de £20 milhões, com o intuito de fornecer fundos adicionais ao desenvolvimento de Títulos de Impacto Social. Em 2013, lançou um novo fundo chamado de Big Lottery Fund com capital de £40 milhões. Seguindo o modelo do governo do Reino Unido, surgiu em 2012 o Big Society Capital, uma instituição financeira independente, que tem como missão conectar capital, ferramentas e ideias para melhorar a qualidade de vida das pessoas no Reino Unido. Trata-se de um investidor social com intuito de investir em fundos e apoiar o crescimento do mercado de investimento de impacto social. Um dos seus projetos é a prevenção de problemas de saúde mental. Com a combinação de pesquisas acadêmicas, inovação tecnológica e investimento, acreditam que há um grande 75 potencial para abrir novas oportunidades na prevenção de problemas de saúde mental e poder ajudar muitas pessoas. A colaboração levou a um projeto piloto, cujo financiamento subsidiou 12 pesquisas para testar o impacto dos produtos e serviços que poderiam ser oferecidos. Essas pesquisas trabalham com ferramentas digitais e podem ajudar a resolver problemas de saúde mental desde o nascimento à infância, e durante a vida laboral, com soluções como o bem-estar dos funcionários. Os Títulos de Impacto Social foram desenvolvidos como uma resposta aos desafios impostos pela falta de cultura de rentabilidade em projetos e programas preventivos. O financiamento de risco e o capital de giro são fornecidos por investidores socialmente