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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Aprendizagem e Desenvolvimento Humano: Aspectos Neurológicos e Psicomotores O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Laura Marisa Carnielo Calejon Revisão Textual: Prof.ª Me. Luciene Santos Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução • A Linguagem enquanto Função Psíquica Superior Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Ampliar a compreensão dos alunos sobre as diferentes teorias que explicam a aprendiza- gem, o desenvolvimento humano e o papel da escola na promoção desse desenvolvimento. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado UNIDADE O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado Contextualização Esta Unidade trata da importância e do papel social da leitura em um mundo contempo- râneo e letrado, à luz das relações entre aprendizagem e desenvolvimento humano, do con- ceito de funções psicológicas superiores e das concepções de alfabetização e letramento. Portanto, para iniciar os estudos, vamos assistir ao vídeo apresentado pela TV UNESP “Diálogos, Educação Infantil e Psicologia”, que traz um diálogo com o professor Guilhermo Arias Beatón. Esse professor atua como colaborador do nosso programa e do Centro de Desenvolvimento Pessoal e Profissional (CEDEPP) na cidade de São Paulo. Diálogos | Educação infantil e psicologia: https://youtu.be/gf1qwr4AYXg 6 7 Introdução A compreensão do papel social da leitura e da escrita em um mundo letrado deve partir da explicação sobre a relação que existe entre a aprendizagem e o desenvol- vimento humano e consequentemente na compreensão da linguagem como função psíquica superior. Entendemos que o enfoque-cultural representa, até este momento, a explicação que se mostra mais capaz de abarcar a integralidade e a complexidade do desenvol- vimento humano e dos processos de aprendizagem. Nessa perspectiva, é importante lembrar o papel e a função do psicopedagogo enquanto profissional que se ocupa dos processos educativos e da aprendizagem humana. Como especialista, esse pro- fissional tem a tarefa de orientar o sujeito, a família, os professores e educadores em geral, na promoção de uma educação de qualidade. As reflexões propostas nesta unidade partem da relação entre aprendizado e desenvolvimento humano, de modo a compreender o papel da escola no desenvolvimento das funções psíquicas superiores e particularmente o desenvolvimento da linguagem, tanto oral quanto escrita, no de- senvolvimento do sujeito. Sobre a atuação do psicopedagogo em: https://goo.gl/HLHJMT Partimos ainda, na nossa reflexão, da premissa de que a educação em todas as suas modalidades deve ser capaz de promover o desenvolvimento do sujeito e a cidadania. Não faltam dados para demonstrar os desafios que nosso sistema educacional enfrenta no sentido de obter estes resultados e não vamos nos deter nesta análise. Em um mundo letrado, a linguagem escrita adquire uma relevância enorme e constitui- se em um indicador do lugar que o sujeito ocupa no contexto social e da sua possibilidade de compreender a complexidade do mundo em que está vivendo, do tempo histórico que lhe coube existir e das transformações do mundo em que o sujeito vive. A Linguagem enquanto Função Psíquica Superior Vigotski, a partir de uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar e da análise crítica das explicações que a Psicologia havia produzido sobre o psiquismo humano, no início do século XX, sistematiza uma explicação para o funcionamento psíquico que envolve a relação entre a dimensão biológica, social e cultural e a dimensão psicológica, que se configura como um produto da inter-relação destes componentes. Essa integra- lidade e a complexidade da vida psíquica ficam explicitadas na metáfora da água usada pelo teórico para explicar a constituição do psiquismo no processo evolutivo do sujeito e a emergência das funções psíquicas superiores. 7 UNIDADE O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado A metáfora da água sugere que: a) existem dois componentes completamente dife- rentes (oxigênio e hidrogênio) que são gases, da água, em relação ao fogo; b) a água, como produto final é qualitativamente diferente porque ocorre transformação na estru- tura interna e uma mudança no tipo de relações que ocorrem entre os átomos; c) como consequência dessa mudança estrutural e funcional, o produto resultante (a água) não pode ser explicado por meio da natureza e características de seus componentes (hidro- gênio e oxigênio); d) assim, a água constitui-se em uma nova qualidade que deve ser compreendida e explicada a partir da sua natureza e características próprias. O hidrogê- nio, como combustível, produz o fogo e o oxigênio mantém o fogo, a água, por sua vez, apaga o fogo (BEATÓN, 2005). Você já havia pensado sobre essa dinâmica? A analogia proposta por Vigotski nos sugere pensar na dinâmica das condições que promovem o desenvolvimento psicológico: a) por um lado, o sujeito conta com condições biológicas que são da ordem da herança genética e do funcionamento fisiológico; b) por outro lado, o sujeito nasce e cresce em um mundo social e cultural constituído por objetos, significados, símbolos, signos em um universo de relações interpessoais; c) a vida psíquica, ou as funções psicológicas superiores, como consequência da interatuação destas condições, configura-se como um processo em constante formação, tendo uma natureza diferente de seus componentes; d) assim, se queremos entender a nova qualidade dos processos psíquicos, ou das funções psíquicas superiores, temos que estudar a natureza destas funções e reduzi-las em seus componentes (CALEJON, 2012). Analisando as explicações dadas por Vigotski, Beatón (2005) assinala uma dimensão relevante da analogia proposta: a molécula de água forma-se com um consumo de energia. Qual é a energia que produz, no desenvolvimento do sujeito, a síntese da dimensão biológica social e cultural, resultando na qualidade da vida psíquica? Beatón (2005) sugere que esta energia é dada pelas necessidades biológicas humanas iniciais que conformam em necessidades culturais e impulsionam tanto os processos biológicos, como os processos culturais e, consequentemente, os processos propriamente psicológicos. O desenvolvimento psicológico do ser humano, segundo Vigotski, tem uma natureza especial e resulta do entrecruzamento de duas histórias: a história da evolução biológica e a história do processo de produção da cultura e das sociedades humanas. Na história da evolução biológica, encontramos o desenvolvimento biológico que resulta no psiquis- mo do animal. Em um dado momento, ao surgir o homo sapiens, ocorre o início do desenvolvimento histórico da humanidade que resulta no desenvolvimento da conduta humana, da atividade produtiva do homem que produz um psiquismo diferente do psi- quismo do animal (BEATON, 2005). O desenvolvimento ontogenético resulta deuma síntese de milhões de anos destas duas histórias (a evolução biológica e a evolução cultural) que não são da mesma natureza. A educação, o ensino e a aprendizagem dos conteúdos da cultura já existentes pro- duzem o desenvolvimento do psiquismo humano. Beatón (2005) destaca uma dimensão 8 9 importante que, ainda que implícita na explicação dada por Vigotski, merece uma men- ção, ou seja, uma terceira história que se constitui na história pessoal de cada sujeito que ocorre em cada geração com os conteúdos acumulados pela cultura e que se expressa de maneira individual em cada sujeito. De acordo com o contexto e conteúdo cultural específico e as vivências que isso produz no sujeito, durante a atividade e a comunicação que este realiza ao longo de sua vida, configura-se uma história pessoal ou individual. Beatón (2005) sistematiza esta dimensão a partir das formulações feitas inicialmente por Vigotski e depois por Leontiev, Lomov e Rubinstein. O conceito de vivência aparece como uma dimensão relevante da história pessoa ou individual de cada sujeito. Dada a natureza e objetivos desta unidade, não aprofundamos a reflexão sobre este conceito, centrando nossa atenção no conceito de funções psíquicas superiores e particularmente na linguagem como função psicológica superior. Na análise do desenvolvimento das funções psicológicas, Beatón (2005) assinala a existência das funções psíquicas naturais mais estreitamente relacionadas com as condições biológicas e os processos de maturação destas estruturas. O que ocorre é que as próprias condições biológicas sofrem influencia das condições sociais e culturais. A etapa do desenvolvimento embrionário, durante o período de gestação possivelmente tenhamos um desenvolvimento em que as leis biológicas tenham a maior regência. Entretanto, mesmo nesta etapa, observamos o papel do cultural e do social, se consideramos as condições de alimentação da mãe, os problemas higiênico-sanitários, o impacto do uso de drogas e do estresse materno no feto. O nascimento marca uma ruptura de uma relação simbiótica com a mãe e institui um novo contexto de relações interpessoais e outro lugar para os participantes destas relações. Beatón (2005) sinaliza que a análise feita por Vigotski sobre os primeiros anos de vida da criança permite a sistematização dos conceitos de funções psíquicas naturais e funções psíquicas superiores. Analisando a gênesis das funções psíquicas superiores, observamos que a cultura cria for- mas especiais de conduta que, por sua vez, muda o tipo de atividade das funções psíquicas e estas interferem ou alteram a própria conduta, estabelecendo-se uma relação dialética. Na definição das funções psíquicas superiores, Vigotski estabelece dois grupos: os processos de domínio dos meios externos do desenvolvimento cultural e do pensamento, tais como o idioma (linguagem), a escrita, o cálculo e o desenho; um segundo grupo ou tipo de funções psíquicas superiores consideradas funções psíquicas superiores especiais, tais como a atenção voluntária, a memória lógica, a formação de conceitos, a imaginação e a criatividade. Os dois grupos, ainda que qualitativamente diferentes, encontram-se em uma unidade indissolúvel, e o primeiro grupo de fenômenos produz o desenvolvimento do segundo. A apropriação dos instrumentos culturais, (linguagem, escrita, cálculo, desenho etc.) mediante um processo educativo, torna possível o desenvolvimento da memória lógica, da atenção voluntária, da formação de conceitos e da imaginação criadora. Não é demais apontar que estamos tratando de uma educação considerada desenvolvimentista. 9 UNIDADE O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado Se formar cidadãos letrados é ajudar o aprendiz a apropriar-se dos usos, das finalidades e das características dos textos escritos não estaríamos tratando de formar cidadãos alfabetizados no sentido freiriano? Do exposto até este ponto, fica evidenciada a importância da apropriação pelo sujeito da linguagem escrita, ou seja, do processo de alfabetização. Alfabetização é um conceito que adquire diferentes significados. Freire entende que a leitura das palavras precisa ser precedida pela leitura do mundo. As palavras ganham significados à medida que denominam eventos, fatos, ações ou qualidades no mundo em que o sujeito está inserido. O conceito de letramento, sistematizado em 1999, acaba produzindo um ruído na compreensão da dimensão e importância da alfabetização no desenvolvimento do sujeito. Esse conceito será tratado também posteriormente. Britto (2005), ao analisar a relação entre educação infantil e cultura escrita, demonstra que “[...] pensar em pertencimento à cultura escrita é muito mais que pensar em saber ler e escrever. É referir-se a um modo de organização e de produção social”. Ensinar a escrita é mais do que ensinar a escrever, como se a escrita fosse um objeto, ou um instrumento neutro. É reproduzir a lógica da dominação. A análise crítica da sociedade contemporânea, cuja organização decorre da escrita, torna-se uma condição necessária para que a educação supere a alienação do sujeito. Trata-se, portanto, do processo de compreender o papel social da leitura e da escrita no mundo letrado e das diferentes perspectivas que o conceito de alfabetização assume. Se entendemos alfabetização como a capacidade ou a possibilidade de compreender símbolos, signos e palavras escritas, podemos adjetivar o processo como alfabetização científica, alfabetização matemática, alfabetização tecnológica. O que parece ser uma condição comum a estas diferentes dimensões do processo é o desenvolvimento que o sujeito alcança na educação infantil, etapa que precede a atividade sistemática da alfabetização. O desenvolvimento da linguagem oral, das dimensões psicomotoras, da imaginação criadora, da função da escrita e do papel da leitura e do livro são condições importantes a serem contempladas no desenvolvimento necessário na educação infantil para que a criança possa, no ensino fundamental, apropriar. Mello (2005) sinaliza que existem, entre as concepções de educação infantil que sustentam as práticas educativas de crianças brasileiras, entre 3 e 6 anos, concepções, muitas vezes, sustentadas pela concepção dos pais, mas também pela formação dos próprios professores, que enfatizam a antecipação da escolarização precoce que acaba por ocupar o tempo da criança e o lugar do brincar. Soares (2004), em um trabalho apresentado no (GT) grupo de trabalho alfabetização, leitura e escrita durante a 26ª reunião da (ANPED) Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa realizada em 2003, analisa as questões relacionadas ao letramento e a alfabetização, buscando fazer um entrelaçamento dos conceitos e assinalando questões que apesar de 20 anos de discussão permanecem atuais. Em uma perspectiva histórica, a autora destaca que, na década de 1980, ocorre simultaneamente a invenção do 10 11 letramento no Brasil, do illeltrisme na França, da literacia em Portugal para denominar fenômenos distintos daquele denominado alfabetização (grifos nossos). Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a palavra literacy já fazia parte dos dicionários desde o final do século XIX. Diante dos precários resultados obtidos pelos alunos na apropriação da escrita, com sérios reflexos ao longo de todo o ensino fundamental, Soares (2004) considera necessário rever os quadros referenciais e os processos de ensino que predominam nas salas de aula, entendendo como letramento a inserção da criança na cultura escrita, participação em experiências variadas com a leitura e escrita, conhecimento e interação com diferentes gêneros de material escrito. Com alfabetização, a autora relaciona a consciência fonológica e fonêmica, identificação de fonemas-grafemas, habilidades de codificação e decodificação da língua escrita, conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita. 11UNIDADE O Papel Social da Leitura e da Escrita no Mundo Letrado Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Cedepp - A Qualidade da Educação: De uma Educação Reprodutora para uma Educação Criativa Assista ao vídeo e pense sobre a participação do Psicopedagogo na promoção de uma educação de qualidade. https://youtu.be/WoZoaxf8Epo Alfabetização e Letramento Nesse vídeo, é possível refletir sobre o conceito de alfabetização e letramento. https://youtu.be/adySOlWPmBs Alfabetização e Letramento Assista ao vídeo e reflita sobre alguns conhecimentos necessários para o processo de alfabetização. https://youtu.be/k5NFXwghLQ8 Leitura Letramento e Alfabetização: As Muitas Facetas Uma publicação que possibilita ampliar a discussão sobre alfabetização e letramento. https://goo.gl/xTftxD 12 13 Referências BEATÓN, G. A. La Persona em el Enfoque Histórico-Cultural. São Paulo: Linear B, 2005. BRITTO, L. P. L. Educação Infantil e Cultura Escrita. In: FARIA, A. L. G.; MELLO, S. A. Linguagens Infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. CALEJON, L. M. C. Desenvolvimento humano: uma reflexão a partir do enfoque histórico-cultural. In: LIMA e DIAS, M. A.; FUKUMITSU, K.; MELO, A. Temas contemporâneos em psicologia do desenvolvimento. São Paulo: VETOR, 2012. SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 2004. 13
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