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A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno e das virais na primavera-verão. O sexo masculino também é o mais acometido pela doença. ✓ Todos os casos suspeitos de meningite devem ser notificados e investigados, uma vez que a meningite está incluída na Lista Nacional de Doenças de Notificação Compulsória. Surtos, aglomerados de casos e óbitos são de notificação imediata. ➔As etiologias são diversas, podendo ser causada por bactérias, vírus, fungos e, mais raramente, parasitas (protozoários e helmintos), sendo que algumas etiologias podem cursar com quadros graves, com alta letalidade, mesmo com o tratamento adequado, ou ainda apresentar evolução para quadros hemorrágicos, que se confundem com infecções como febre maculosa, dengue, dentre outras. ➔BACTERIAS: • Neisseria meningitidis (meningococo) • Streptococcus pneumoniae (pneumococo) • Haemophilus influenzae • Mycobacterium tuberculosis • Streptococcus sp., especialmente os do grupo B • Listeria monocytogenes • Escherichia coli • Treponema pallidum • Entre outras ➔VIRUS: • Enterovírus não pólio (tais como o vírus Coxsackie e Echovírus) • Herpes simplex • Varicela zoster • Epstein-Barr • Citomegalovírus • Arbovírus (Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela, Febre do Nilo Ocidental) • Sarampo • Caxumba • Rubéola • Adenovírus • Entre outros ➔FUNGOS: • Cryptococcus neoformans • Cryptococcus gatti • Candida albicans • Candida tropicalis • Histoplasma capsulatum • Paracoccidioides brasiliensis • Aspergillus fumigatus ➔PROTOZOARIOS: • Toxoplasma gondii • Plasmodium sp. • Trypanosoma cruzi ➔HELMINTOS: • Infecção larvária de Taenia solium • Cysticercus cellulosae (Cisticercose) • Angyostrongylus cantonesis →A doença meningocócica (DM) causada pela bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) e os vírus são os principais responsáveis por surtos e epidemias. A meningite meningocócica possui alta morbidade e letalidade. Entretanto a meningite viral é mais frequente que a bacteriana, sendo caracterizada geralmente por quadros benignos e autolimitados. ➔Na meningite pneumocócica (causada pela bactéria S. pneumoniae) idosos e indivíduos portadores de quadros crônicos ou de doenças imunossupressoras também apresentam maior risco de adoecimento. ➔A meningite pode se apresentar com um curso clínico agudo e fulminante ou como uma infecção subaguda com piora ao longo de vários dias. A tríade clássica é composta por cefaleia, febre e rigidez de nuca, contudo pode não estar presente em diversos casos, sendo que a presença simultânea de ao menos dois dos sintomas da tríade possui alta sensibilidade para o diagnóstico. A queda do nível de consciência está presente em 75% dos casos, variando de letargia a coma. MENINGITE BACTERIANA Os quadros bacterianos representam a infecção supurativa mais comum do SNC, com uma incidência anual de 2,5 casos por 100.000 habitantes, sendo os microrganismos mais frequentes o Streptoccocus pneumoniae, em cerda de 50% dos casos, Nisseria meningitidis, em cerca de 25% dos casos, Streptococcus do grupo B, em 15% dos casos e a Lysteria monocytogenes, em 10% dos casos. →A Neisseria meningitidis representa o patógeno bacteriano com maior potencial para gerar epidemias. Em crianças, o patógeno mais comumente isolado é o Streptoccocus agalactiae. Fisiopatologia e Quadro Clínico As bactérias que causam meningite, podem alcançar o líquido cefalorraquidiano e as meninges através de: • Acesso direto: fraturas de crânio, defeito congênito de fechamento do tubo neural (espinha bífida, meningocele, meningomielocele, meningoencefalocele) e iatrogênica (punção liquórica inadequada). • Contiguidade: otites médias, mastoidites ou sinusites. • Via hematogênica: ultrapassa a barreira hematoencefálica por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou em áreas mais susceptíveis, como o plexo coroide. • Derivações liquórica; ➔Geralmente, as bactérias que causam meningite bacteriana se espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Já outras bactérias podem se espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da Escherichia coli. É importante saber que algumas pessoas podem transportar essas bactérias sem estarem doentes. Essas pessoas são chamadas de “portadoras”. A maioria dessas pessoas não adoece, mas ainda assim pode espalhá-las para outras pessoas. ➔As meningites bacterianas podem causar, em seu quadro inicial ou durante a evolução da doença, crises convulsivas, em cerca de 20% a 40% dos indivíduos. Esses eventos ocorrem devido a alguns possíveis fatores etiológicos dentre eles isquemia arterial ou infarto focal, trombose venosa cortical com hemorragia focal, ou ainda nos casos de estado de mal epiléptico, hiponatremia, anoxia cerebral e ainda pelos efeitos tóxicos dos agentes antimicrobianos. →O aumento da pressão intracraniana, hipertensão intracraniana (HIC), compõe o curso das meningites bacterianas, sendo essa a principal etiologia do rebaixamento do nível de consciência nesses pacientes. Os sinais de HIC incluem redução do nível de consciência, papiledema bilateral, pupilas dilatadas e pouco reativas, paralisia do VI nervo craniano, e nos casos mais graves, posturas patológicas, além da tríade de Cushing composta por bradicardia, hipertensão arterial e irregularidade respiratória. →A lise bacteriana e liberação da suas endotoxinas (Gram-negativas), ácido teicoico e peptidioglicano (Gram-positivas) da parede celular, induzem a produção de citocinas inflamatórias que aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, causando edema vasogênico e hidrocefalia (acúmulo de líquido excedente nos espaços normais dentro do cérebro (ventrículos) e/ou entre as camadas de tecido interna e média que recobrem o cérebro (o espaço subaracnóideo), através deste mecanismo: Por este mesmo mecanismo, há formação de edema intersticial junto com a hidrocefalia. Além disso, a migração de leucócitos resulta em degranulação e liberação de metabólitos tóxicos que geram edema citotóxico, crises epilépticas e até mesmo acidente vascular. A consequência desses eventos é o aumento da pressão intracraniana e até mesmo coma. A irritação meníngea se associa com os sinais abaixo: • Sinal de Kernig: flexão passiva da coxa sobre a bacia, em ângulo reto, com dor e resistência à extensão do joelho. • Sinal de Brudzinski: flexão involuntária da perna ao se tentar fletir a cabeça do paciente. ➔Na população pediátrica, os sinais e sintomas de irritação meníngea estão ausentes em mais de 50% dos casos, sendo nessa faixa etária as manifestações clínicas mais prevalentes mal estar inespecífico, irritabilidade, choro intenso e persistente, queda do estado geral. ➔Na septicemia meningocócica (também conhecida como meningococcemia) que é uma infecção na corrente sanguínea causada pela bactéria Neisseria meningitidis, além dos sintomas descritos acima, podem aparecer outros como: fadiga, mãos e pés frios, calafrios, dores severas ou dores nos músculos, articulações, peito ou abdômen (barriga), respiração rápida, diarreia e manchas vermelhas pelo corpo. Diagnostico Se o médico suspeita de meningite, ele solicita a coleta de amostras de sangue e líquido cefalorraquidiano (líquor). O laboratório então testa as amostras para detectar o agente que está causando a infecção. A identificação específica do agente é importante para o médico saber exatamente como deve tratar a infecção. Os principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitosde meningite são: exame quimiocitológico do líquor; bacterioscopia direta; cultura; aglutinação pelo látex e Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real (qPCR). O aspecto do líquor, embora não considerado um exame, funciona como um indicativo. O líquor normal é límpido e incolor, como “água de rocha”. Nos processos infecciosos, ocorre o aumento de elementos figurados (células), causando turvação, cuja intensidade varia de acordo com a quantidade e o tipo desses elementos. ➔Importante: Todos os exames laboratoriais estão disponíveis no SUS, e são solicitados pela equipe médica ou de vigilância epidemiológica durante o acompanhamento do caso. ➔A realização de estudo de neuroimagem previamente à punção lombar não é obrigatória, conduta é preconizada para identificar os pacientes que apresentem risco elevado de herniação cerebral. ➔QUANDO SOLICITAR TOMOGRAFIA ANTES DA PUNÇÃO LOMBAR? • Déficits focais, convulsões; • Lesões prévias no SNC; • Rebaixamento do nível de consciência; • Sinais de HIC; QUAIS ACHADOS TOMOGRÁFICOS CONTRAINDICAM A PUNÇÃO LOMBAR? • Desvio de linha média • Presença de massa em fossa posterior • Apagamento das cisternas basilar e supraquiasmática • Apagamento da cisterna cerebelar superior • Apagamento da cisterna quadrigeminal • Hidrocefalia obstrutiva ➔A punção liquórica está contraindicada se houver piodermite no local. ➔O líquido cefalorraquidiano característico das meningites bacterianas apresenta: • leucocitose polimorfonuclear >100 células/uL, • consumo de glicose marcado pela razão glicemia liquórica/ glicemia plasmática <0,4 ou glicemia liquórica < 2,2 mmol/L, • hiperproteínorraquia marcada por >0,45g/ dL • e ainda aumento da pressão de abertura, definida por >180mmH2O. • A cultura do líquor mostra-se positiva em 80% dos casos. ➔O líquido cefalorraquidiano é um fluido biológico que está em íntima relação com o sistema nervoso central e seus envoltórios (meninges). É um ultrafiltrado produzido por uma membrana delicada (plexos coroides) e está presente no espaço subaracnóideo. Por isso, sua análise laboratorial é de grande importância para o diagnóstico e acompanhamento da doença meningocócica; Em condições normais, o liquido cefalorraquidiano é constituído de pequenas concentrações de proteína, glicose, lactato, estes por sua vez é de grande importância no diagnóstico das meningites, entre outros elementos como enzimas, potássio, magnésio e concentrações relativamente elevadas de cloreto de sódio, além disso, apresenta composição celular de até cinco células por milímetro cúbico em um indivíduo adulto, possui aspecto de “água de rocha”, é límpido e incolor. “A microscopia direta do sedimento do LCR ainda é o método primário inicial na investigação para todas as formas de meningite” ASPECTOS DO LCR NA MENINGITE BACTERIANA: • Aspecto macroscópico: O LCR geralmente apresenta uma aparência turva devido à presença de células inflamatórias, bactérias, proteínas e detritos celulares. • Cor: Pode variar de transparente a levemente turvo, dependendo do grau de inflamação e da presença de células e detritos. • Pressão: A pressão do LCR pode estar aumentada devido à inflamação das meninges. CELULARIDADE DO LCR NA MENINGITE BACTERIANA: • Leucócitos: A contagem de leucócitos (glóbulos brancos) no LCR está geralmente elevada na meningite bacteriana, indicando uma resposta inflamatória do sistema imunológico. Os tipos de leucócitos mais comuns são neutrófilos, embora a presença de linfócitos possa ser observada em algumas infecções. • Hemácias: Em condições normais, o LCR não contém hemácias significativas. No entanto, em casos graves de meningite bacteriana, pode haver uma pequena quantidade de hemácias devido ao aumento da permeabilidade vascular ou, em casos extremos, devido a hemorragias. • Bactérias: A presença de bactérias no LCR é uma característica distintiva da meningite bacteriana. A observação direta de bactérias no LCR através de um exame microscópico pode confirmar o diagnóstico. • Proteínas: Os níveis de proteínas no LCR podem estar aumentados devido à inflamação das meninges. Tratamento O tratamento com antibiótico deve ser instituído assim que possível. A adoção imediata do tratamento antibiótico não impede a coleta de material para o diagnóstico etiológico, seja LCR, sangue ou outros espécimes clínicos, mas recomenda-se que a coleta das amostras seja feita, preferencialmente, antes de iniciar o tratamento ou o mais próximo possível desse momento. O tratamento precoce e adequado dos casos reduz significativamente a letalidade da doença e é importante para o prognóstico satisfatório. O uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como reposição de líquidos e cuidadosa assistência. De maneira geral, o tratamento antibacteriano é feito de maneira empírica, pois o agente etiológico é desconhecido; toma-se como base o conhecimento dos agentes bacterianos prevalentes na comunidade, assim como seu perfil de suscetibilidade antimicrobiana, nas diversas faixas etárias. A duração do tratamento antibiótico em pacientes com meningite bacteriana varia de acordo com o agente isolado e deve ser individualizada de acordo com a resposta clínica. ➔Para lactentes com até 2 meses de idade Nesta faixa etária utiliza-se, inicialmente, a associação da ampicilina com uma cefalosporina de terceira geração (cefotaxima). A ceftriaxona deve ser evitada no período neonatal, por competir com a bilirrubina. Outra opção é iniciar o tratamento com associação de ampicilina com um aminoglicosídeo – gentamicina ou amicacina. Esta associação é empregada não só pelo espectro de cada antibiótico em si, mas também devido ao sinergismo que apresenta contra algumas enterobactérias também responsáveis por meningite nesta faixa etária. ➔Crianças com mais de 2 meses de idade O tratamento empírico de meningites bacterianas em crianças com mais de 2 meses de idade deve ser iniciado com uma cefalosporina de terceira geração – ceftriaxona ou cefotaxima. O esquema empírico clássico utilizando a associação de ampicilina e cloranfenicol só se justifica se houver indisponibilidade das drogas previamente citadas. Nos casos de pacientes com história de anafilaxia aos antibióticos ß-lactâmicos, pode-se usar o cloranfenicol no tratamento empírico inicial. ➔Adultos A antibioticoterapia, segundo etiologia, deve ser ajustada de acordo com resultados do teste de sensibilidade. Com a identificação do agente específico, a antibioticoterapia vai ser modificada: • Neisseria meningitidis: duração de 7 a 10 dias o Penicilina cristalina, 250-400.000 U/kg/dia (até 24 milhões U/dia), 4/4h o Ampicilina, 200-400 mg/kg (até 12 g/dia), 6/6h ▪ Alergia a penicilina: Cloranfenicol • Haemophilus influenzae: Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h, de 7 a 10 dias • Streptococcus pneumoniae: duração de 10 a 14 dias o Penicilina cristalina, 250-400.000 U/kg/dia (até 24 milhões U/dia), 4/4h o Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h ▪ Pneumococo-resistente: Vancomicina, 40 mg/kg/dia (2g/dia), 6/6h. • Enterobactérias: Ceftriaxone, 100mg/kg/dia (até 4 g/dia), 12/12h, de 14 a 21 dias • Listeria monocytogenes: Ampicilina, 200-400 mg/kg (até 12 g/dia), 6/6h, por 21 dias. →O paciente deve ficar em isolamento respiratório no caso de hemófilo ou meningococo. Outras medidas são: ✓ Hidratação como soro fisiológico ou ringer lactato; ✓ Elevar cabeceira da cama; USO DE CORTICOSTEROIDES (DEXAMETASONA): • Deve ser administrada antes (15-30 min) ou concomitante à primeira dose de ATB, dose de 0,4 a 0,6 mg/kg/dia EV, 12/12 ou 8/8 horas, 2 dias, mantendo por 2 a 4 dias. - Reduz incidência de sequelas neurológicas, como SURDEZ NEUROSSENSORIAL, principalmente em infecções por Pneumococo e Haemophilus influenzae. • Eficaz em crianças com meningite por H. influenzae comevidência de benefício na redução de sequela neurológica e perda auditiva. • Meningite por S. pneumoniae: o uso não é consensual, mas pode ser considerado. Alguns estudos demonstraram redução na mortalidade e sequelas. • Não há evidência de benefício em neonatos. • Em situações de choque o uso é discutível, há controvérsias a respeito da influência favorável ao prognóstico. As evidências existentes demonstram que agiriam de forma favorável prevenindo sequelas quando a meningite é causada por H. influzae tipo B. PREVENÇÃO A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. Para alguns destes, existem medidas de prevenção primária, tais como vacinas e quimioprofilaxia. ➔Nos casos de meningite bacteriana por meningococo ou hemófilo, a QUIMIOPROFILAXIA é importante para evitar disseminação e deve ser iniciada até 24h de preferência. • Hemófilos: Rifampicina, 20 mg/kg para crianças e 600 mg/dia para adultos, VO, 1x ao dia, por 4 dias. • Adultos da mesma casa e que haja pelo menos 1 criança com < 4 anos não vacinada; • Crianças que convivem em ambientes coletivos (creche, orfanato) e tiveram contato; • Todos que mantiveram contato íntimo com o caso índice. • Meningococo: Rifampicina, 10 mg/kg para crianças e 600 mg/dia para adultos, VO, 12/12h por 2 dias. Alternativa: Ciprofloxacina 500mg, VO ou Ceftriaxone 250 mg, IM dose única em ambos. • Aqueles que moram na mesma residência; • Relação intima com contato com as secreções orais; • Colegas de classe de escola, creche ou berçário e adultos que tenha mantido contato na mesma instituição; • Profissionais de saúde que entraram em contato direto com a secreção do paciente. ➔As vacinas estão disponíveis para prevenção das principais causas de meningite bacteriana. As vacinas disponíveis no calendário de vacinação da criança do Programa Nacional de Imunização são: • Vacina meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C. • Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite. • Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B. • Meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C. • Meningocócica ACWY (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelos sorogrupos A,C,W e Y. AULA DE MARCELO – LPI →O benefício de antibióticos pré-hospitalares não está claro (considerar apenas em pacientes em áreas rurais ou remotas). ➔DEXAMETASONA: 10 mg, IV, 6/6 h. 4 dias (melhor penetração no LCR e meia-vida longa). -Iniciar pouco antes (máx de 1 h) ou com os ATB (Máx 4- 12 h após); -Se possível, coletar sangua e LCR antes da dexametasona + ATB; TRATAMENTO COM DEXAMETASONA Mecanismo de ação: • Redução da inflamação cerebral, do edema e da PIC • Atenua a inflamação causada pela bacteriólise mediada pelo antibiótico Efeitos adversos: • Falsa sensação de melhora • Hemorragia gastrointestinal (1 a 2%) • Febre secundária • Atraso na esterilização do LCS (sobretudo meningite pneumocócica) Contra- indicações: • < 6 semanas de idade • Meningite parcialmente tratada • Anomalias do SNC • Interromper na meningite meningocócica, Listeria ou outros não pneumococos TRATAMENTO ANTIBIÓTICO DA SUSPEITA DE MENINGITE BACTERIANA PIOGÊNICA →Se suspeita de meningite bacteriana piogênica: (presume-se Streptococcus pneumoniae or Neisseria meningitides. →Iniciar ceftriaxona 2 g i.v. 12/12h (ou cefotaxima 2 g i.v. 6/6h) •Na sepse meningocócica não tratada com ceftriaxona, dose única p.o. de ciprofloxacino 500 mg (para evitar que o paciente seja portador). ➔Risco de Listeria monocytogenes: •> 50 anos, imunocomprometidos etc. •Considerar adição de ampicilina ou amoxicilina 2 g i.v. 4/4h (sulfa-trimetoprima nas alergias) HISTÓRICO DE ALERGIA ÀS CEFALOSPORINAS OU PENICILINAS: -Meropenem (alergia leve as cefalosporinas) -Moxifloxacino + Vancomicina (alergia grave aos beta- lactamicos) + sulfa +trimetoprina (listeria). REVISÃO APÓS COLORAÇÃO DE GRAM: Cocos Gram-positivos provavelmente Streptococcus pneumoniae: •Continuar ceftriaxona •Resistência à penicilina e à cefalosporina: adicionar vancomicina 15-20 mg/kg i.v. 12/12h •Piora clínica após 24-48h com ceftriaxona e vancomicina, falha na esterilização liquórica ou resistência a cefalosporinas de 3ª geração (CIM > 4 μg/mL): adicionar rifampicina 600 mg i.v. (ou p.o.) 12/12h. Diplococos Gram-negativos provavelmente Neisseria meningitidis: •Continuar ceftriaxona Bacilos Gram-positivos sugestivo de Listeria monocytogenes: •Continuar ceftriaxona •Adicionar ampicilina ou amoxicilina 2 g i.v. 4/4h Bacilos Gram-negativos sugestivo de Enterobacteriaceae: •Continuar ceftriaxona •Resistência por beta-lactamase de amplo espectro: meropenem 2 g i.v., 8/8h MENINGOENCEFALITES VIRAIS ❖Meningoencefalite herpética (HSV ou VSV): aciclovir 10 mg/kg, i.v., 3×/dia ▪ Dose reduzida na insuficiência renal ❖Pode continuar com valaciclovir p.o. 1 g, 8/8h; até PCR negativa, mín. 10 dias; ❖Enterovirus: antivirais geralmente não recomendados; pleconaril ou IgG i.v. nos casos mais graves. ➔O aciclovir é um análogo da guanina, que carece de uma 3'-hidroxila na cadeia lateral. A DNApolimerase viral insere monofosfato de aciclovir, e não monofosfato de 2'- desoxiguanosina no DNA viral, inibindo assim a síntese deste DNA. ➔O tratamento antiviral específico não tem sido amplamente utilizado. Em geral, utiliza-se o tratamento de suporte, com avaliação criteriosa e acompanhamento clínico. Tratamentos específicos somente estão preconizados para a meningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV) com aciclovir endovenoso. Na caxumba, a gamaglobulina específica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém não melhora a síndrome neurológica. Fármacos anti-herpesvírus: Biodisponibilidade: • Aciclovir: biodisponibilidade oral 10-30% • Valaciclovir: conversão total intestinal/hepátiva em aciclovir (biodisponibilidade 70%) Excreção: • Excreção renal por filtração e secreção, > 85% na forma inalterada • Meia-vida 1,5-6h (adultos com função renal normal) Efeitos Adversos: • Aciclovir tópico: irritação de mucosa • Aciclovir oral: cefaleia, nausea, diarreia, nefrotoxicidade e sintomas SNC • Valaciclovir em altas doses: confusão e alucinações, nefrotoxicidade e trombocitopenia graves, MENINGITE CRIPTOCÓCICA O tratamento da meningite criptocócica deve considerar a presença ou não de imunossupressão e nas drogas disponíveis. O tratamento é dividido em três fases: indução, consolidação e manutenção. Dependendo do estado imunológico do paciente e da disponibilidade do medicamento, vários esquemas podem ser adotados. O término da fase de indução e início da fase de consolidação é recomendado somente quando o paciente apresentar cultura para fungos negativa no LCR após a 2ª semana e/ou melhora dos sinais clínicos. Cabe ressaltar que os pacientes portadores de condições de imunossupressão deverão ser submetidos à fase de manutenção do tratamento por 12 a 24 meses.