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Morte Encefálica- thais

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A morte encefálica é a morte de fato, 
compreendida pela perda completa e irreversível 
das funções encefálicas cerebrais, definida pela 
cessação das funções corticais e do tronco 
encefálico ou tronco cerebral. 
Quando isso ocorre, a parada cardíaca será 
inevitável e, embora ainda haja batimentos 
cardíacos, a respiração não acontecerá sem ajuda 
de aparelhos e o coração não baterá por mais de 
algumas poucas horas. 
Quando constatada a morte encefálica, que é 
irreversível, o óbito da pessoa é declarado. Nesta 
situação, os órgãos e tecidos podem ser doados 
para transplante, mas apenas após o 
consentimento familiar. 
A Lei nº 9.434/1997, conhecida como a “Lei dos 
Transplantes”, estabelece que a doação de 
órgãos após a morte só pode ser realizada quando 
for constatada a morte encefálica. 
Quando o óbito ocorreu por parada 
cardiorrespiratória (coração parado), pode ser 
realizada apenas a doação de tecidos (córnea, pele 
e ossos, por exemplo). 
➔Segundo o CFM, a morte encefálica consiste em 
todos os pacientes que apresentem coma não 
perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal 
e apneia persistente, além de possuírem todos os 
seguintes pré-requisitos: 
➔Presença de lesão encefálica de causa conhecida, 
irreversível e capaz de causar morte encefálica; 
➔Ausência de fatores tratáveis que possam 
confundir o diagnóstico de morte encefálica, como: 
• Distúrbio hidroeletrolítico, ácido-
básico/endócrino e intoxicação exógena 
graves 
• Hipotermia (temperatura retal, vesical ou 
esofagiana inferior a 35°C) 
• Fármacos com ação depressora do Sistema 
Nervoso Central (FDSNC) e bloqueadores 
neuromusculares (BNM) 
➔Tratamento e observação em hospital pelo 
período mínimo de seis horas. Lembrando que 
quando a causa primária do quadro for 
encefalopatia hipóxico-isquêmica, esse período de 
tratamento e observação deverá ser de, no mínimo, 
24 horas; 
➔Ausência de fatores confundidores, ou seja, que 
podem mimetizar um quadro de morte encefálica, 
assim, o paciente deverá possuir: 
1. Temperatura corporal (esofagiana, vesical 
ou retal) superior a 35°C; 
2. Saturação arterial de oxigênio acima de 94%; 
3. Pressão arterial sistólica maior ou igual a 100 
mmHg ou pressão arterial média maior ou 
igual a 65mmHg para adultos. 
O diagnóstico de morte encefálica é regulamentado 
pela Resolução Nº 2.173, de 23 de novembro de 
2017, do Conselho Federal de Medicina – CFM. A 
constatação da morte encefálica deverá ser feita 
por médicos com capacitação específica, 
observando o protocolo estabelecido que define 
critérios precisos, padronizados e passiveis de 
serem realizados em todo o território nacional. Os 
critérios para identificar a morte cerebral ou 
encefálica são rígidos, sendo necessários dois 
exames clínicos com intervalos que variam de 
acordo com a idade dos doadores, realizados por 
médicos diferentes. 
➔O diagnóstico de morte cerebral geralmente 
pode ser feito clinicamente, ao lado da cama. Os 
critérios para morte encefálica exigem certas 
condições em relação ao cenário clínico, bem como 
evidências de ausência de função cerebral no 
exame neurológico. 
• Diagnosticar doença ou o que precipitou a 
condição clínica. 
• Afastar situações que simulem morte encefálica 
ou dificultem o diagnóstico: intoxicação, choque, 
encefalite de tronco, hipotermia, traumatismo 
facial múltiplo, síndrome do cativeiro, alterações 
pupilares prévias, distúrbio metabólico grave e 
crianças menores de quatro anos. 
➔EXAME NEUROLÓGICO: 
• Consciência: Glasgow = 3 
• Pupilas médias ou midriáticas e ausência de 
reflexo fotomotor. Se apresentar tamanho 
diminuído, considerar intoxicação 
• Motricidade ocular ausente 
• Ausência de resposta motora a estímulos 
dolorosos 
• Ausência de reflexos corneano, axial da face, 
mandibular e faríngeo. A perda dos reflexos 
tendíneos profundos não é obrigatória, pois a 
medula espinhal continua funcionante. 
• Teste de apneia: Antes de desligar o respirador, 
ventilação com FiO2 de 100% por, no mínimo, 10 
minutos para atingir idealmente PaO2 igual ou 
maior que 200 mmHg e PaCO2 entre 35 e 45 mmHg. 
O teste será positivo se PaCO2 final for superior a 
55 mmHg, sem movimentos respiratórios. 
• O tempo observação deve ser de 6 a 24 horas no 
adulto. É obrigatória a avaliação de dois médicos 
que não podem compor a equipe de transplante. 
 
 
https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saes/snt/legislacao
http://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2173
http://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2173
EXAMES SUBSIDIÁRIOS (VALOR CONFIRMATÓRIO) 
• Falta de atividade encefálica: EEG 
(ELETROENCEFALOGRAMA), potencial evocado, 
dosagem de neurohormônios. 
• Ausência de fluxo vascular encefálico: angiografia 
encefálica por cateterismo das aterias carótidas e 
vertebrais, angiografia com isótopo radioativo, 
SPECT, doppler transcraniano. 
 
Os programas de transplantes de órgãos tiveram seu 
início no final dos anos de 1940, quase 
que simultaneamente, em Paris, Londres, 
Edimburgo e Boston. Contudo, nessa fase 
ainda não havia o conhecimento de aspectos 
extremamente importantes para o êxito dos 
transplantes, relacionados à imunologia e 
histocompatibilidade. 
No entanto, com a melhoria das técnicas 
cirúrgicas, dos cuidados intensivos, da prevenção 
de infecções, do advento das drogas 
imunossupressoras e da compreensão da 
compatibilidade imunológica e rejeição, esses 
procedimentos passaram da simples 
experimentação para uma prática médica com 
grande índice de sucesso. 
No Brasil, os transplantes de órgãos e tecidos 
tiveram início no ano de 1964,na cidade do Rio 
de Janeiro, e no ano seguinte na cidade de São 
Paulo, com a realização dos dois primeiros 
transplantes renais no país. No entanto, em razão 
da baixa sobrevida dos pacientes transplantados, 
esse tipo de tratamento inicialmente teve pouca 
repercussão. 
A partir de 1996 o número de transplante de órgãos 
sólidos tornou-se significativo, havendo a 
necessidade de criar o Sistema Nacional de 
Transplante (SNT),a fim de coordenar e 
regulamentar essa atividade. Para isso foi publicada, 
em 4 de fevereiro de 1997, a Lei nº 9.434, que 
dispõe sobre a retirada de órgãos, tecidos e 
partes do corpo humano para transplante. 
Determinando a gratuidade da doação e 
estabelecendo critérios para o doador vivo e 
falecido. 
Com esse entendimento, uma pessoa só poderá 
ser doadora em vida se, após avaliação médica, 
estiver em boas condições de saúde, for 
considerada capaz juridicamente e 
voluntariamente concorde com o ato de doar um 
órgão duplo, ou parte de um órgão. A lei 
confere ao cônjuge ou parentes até o quarto 
grau, ou qualquer outra pessoa, mediante 
autorização judicial, dispensada no caso da 
medula óssea, o direito de ser doado. 
O doador falecido é aquele com diagnóstico 
confirmado de Morte Encefálica (ME), conforme 
a resolução estabelecida pelo Conselho Federal 
de Medicina(CFM), e a doação de seus órgãos e 
tecidos dependerá da autorização do cônjuge ou 
parente, maior de idade, obedecida a linha 
sucessória, reta ou colateral, até o segundo 
grau. O doador falecido pode 
simultaneamente, beneficiar oito receptores de 
órgãos sólidos, além dos tecidos como córneas, 
ossos, válvulas e pele. 
A efetivação do transplante de órgãos e tecidos com 
o doador falecido depende do processo de 
doação-transplante, que é dividido em etapas 
interdependentes, iniciando com a identificação e 
notificação do Potencial Doador (PD), seguido 
pela avaliação, manutenção dos parâmetros 
hemodinâmicos, confirmação do diagnóstico de 
ME, entrevista familiar, documentação de 
ME, aspectos logísticos, remoção e distribuição de 
órgãose tecidos, transplante e acompanhamento 
de resultados. 
Portanto, há igual importância em cada uma 
dessas etapas, e uma delas permeia todo o 
processo, que é o cuidado na manutenção dos 
parâmetros hemodinâmicos do PD, visando à 
viabilidade dos órgãos para transplantes. 
Para tanto, recomenda-se o monitoramento 
contínuo cardíaco, da saturação de oxigênio, 
pressão arterial, pressão venosa central, 
temperatura corporal, do débito urinário, 
equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico.