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Antropologia Teológica
Dr. Rodson Ricardo Souza do Nascimento
UERN 2012.1
O que é o homem?
O que distingue o ser humano dos demais seres vivos?
Entre o homem e o animal, há continuidade ou salto qualitativo?
Em que consiste a natureza humana?
O homem, que é ele afinal?
O homem é composto de corpo e alma (ou espírito) ou é de natureza puramente corpórea?
Possui liberdade ou é um escravo da natureza e do tempo?
Antropologia 
Do grego anthropos , homem) + logo (tratado): estudo das raças e variedades humanas; estudo do homem, enquanto um ser animal, cultural e espiritual.
Antropologias 
A Antropologia Física ou Biológica estuda os aspectos genéticos e biológicos do homem, 
A Arqueologia estuda as condições de existência dos grupos humanos desaparecidos. 
A Antropologia Cultural estuda os sistemas simbólicos, religião, comportamento.
Antropologia Filosófica
A antropologia filosófica tem como objeto de estudo a origem, a natureza e o destino do homem, bem como o seu lugar no universo
A natureza humana
Do ponto de vista filosófico, falar de natureza humana significa falar da essência do homem.
Essência é aquilo que faz cada coisa ser ela mesma e não outra; o que a distingue das demais coisas, colocando à parte características acidentais e secundárias, como forma, tamanho, cor etc. É a natureza de cada coisa
Decifra-me ou te devorarei
Qual é o ser, indagava a Esfinge às portas da antiga Tebas: Que é, simultaneamente dípous, trípous e tetrápous? A resposta para Édipo era simples: o homem. Mas o que é o homem? O ser humano é o único animal a viver simultaneamente em dois mundos, sob dois registros: o biológico e o psíquico.
O problema do homem
O problema do homem está no próprio homem.
Lugar ocupado pela função racional do ser humano em comparação com outras funções.
O que é o homem?
“O que posso conhecer?”
 “O que devo fazer?”
 “A que posso esperar?”
Um ser paradoxal
“O Homem compreende como o anjo, raciocina como homem, sente como animal irracional, vive como o verme.”
 João Escoto Erígena
Antropologia Teológica
A antropologia teológica tem como objeto de estudo a origem, a natureza e o destino do homem, bem como o seu lugar no universo  sub especie aeternitatis.
O que é o homem, afinal?
O que, na verdade, constitui a essencialidade do homem? 
Habitante de dois mundos
“Essa tradição do pensamento esteve intimamente ligada a compreensões filosóficas e científicas seculares da criatura humana, sem dúvida por causa da convicção profundamente arraigada de que o ser humano, sem dúvida que possuísse capacidades espirituais maravilhosas, surgiu a partir da terra [Gn 2]. Gregório de Nissa expressa o pensamento de muitos teólogos antigos ao falar do ser humano como fator intermediário entre o âmbito terreno, animal, e o âmbito espiritual de Deus” (Braaten & Jenson: 1990, p, 334).
A estrutura humana
Estrutura somática (corporeidade).
Estrutura psíquica (psiquismo).
Estrutura espiritual (espiritualidade).
Corpo e Alma 
Ao longo dos séculos a realidade dessa dupla pertença foi sintetizada nos termos “corpo” e “alma”. 
Os termos são provenientes do pensamento grego, particularmente do dualismo platônico e do hilemorfismo aristotélico, que insiste na indivisibilidade do ser humano.
Tradições e Conceitos diferentes
Os termos utilizados no debate são de diferentes línguas e culturas. Assim a palavra “alma” (anima em latim) é usada para traduzir o termo hebraico nefesh e o grego psyche. Infelizmente este termo não é polissêmico podendo a vida biológica ou aquilo se aproxima daquilo que geralmente entendemos como alma. Já a palavra “espírito” (animus) é de origem latina e originalmente significava “sopro de vida”. É a tradução do termo bíblico hebraico ruach e do grego pneuma, ambas podendo significa alento. Finalmente, a palavra “corpo” (corpus em latim) é usada para traduzir o termo hebraico basar e o grego soma. Toda a questão consiste em saber como esses elementos interagem e qual sua importância na constituição do ser humano.
A antropologia Vétero-testamentária
Os judeus foram lentamente admitindo a imortalidade da alma e se libertando de uma religião, que em muitos aspectos, ela bastante materialista. 
Não havia preocupação com a “vida eterna” e o sheol, o lugar para onde iam os mortos era sempre retratado com traços negativos e sombrios. 
As recompensas divinas eram dadas nessa existência através da posse da terra, da riqueza e da fertilidade. 
Essa situação começa a mudar após a diáspora. 
A antropologia Neo-testamentária
A situação no Novo Testamento já é bem diferente. O termo “alma’ é traduzido como psyche, que, como nephesh, como sinônimo de “vida”, mas essa não se limita à existência terrestre mesmo que exclua certo estado corporal depois da morte. 
A pessoa parece assim distinta do corpo [Mt 10, 28]. A crença na ressureição e não apenas na imortalidade da alma, será o elemento original da fé cristã. 
A antropologia paulina
A consolidação dessa nova antropologia é,, corretamente, atribuída à teologia paulina
“Mais complexa é a antropologia vinculada pelo corpus paulinum. A perspectiva é a mesma, mas o dialogo entre duas frentes, com o judaísmo e com o helenismo, exige precisões maiores. 
A tríade carne/alma/espirito é assimilada e, em que pese alguma helenização, mais adotada do que reformulada. 
Antropologia Paulina I
	A tríplice constituição	
	soma	Corpo, corporeidade
	Pneuma 	Espirito, espiritualidade 
	sarx	Carne, pecaminosidade 
Antropologia Paulina II
	Os dois modelos antropológicos 	
	Adão (velho homem, morte)	Homem exterior, corpo corruptível, corpo carnal
	Cristo (novo homem, vida)	Homem interior, corpo incorruptível, corpo espiritual 
A hegemonia naturalista
A sociedade atual, em especial seus estratos mais abastados e intelectualizados, possui grandes dificuldades em aceitar a antropológica teológica tradicional, em especial a ideia da sobrevivência da alma. A razão para isso é a hegemonia da cosmovisão naturalista.
Naturalismo é “a crença de que não existe nada além da natureza” (KENNY, 2006, p. 22). 
Níveis de naturalismo I
“(a) ateísmo: nega toda entidade espiritual livre das leis naturais. Assim, um deus imanente (p. ex., o universo ser um grande organismo) não é contrário ao naturalismo; (b) às vezes o naturalismo é sinônimo de materialismo (termo preferido pelo naturalismo do século XVIII e XIX); (c) às vezes o naturalismo é sinônimo de fisicalismo, a saber, a doutrina de que tudo o que acontece é determinado pelas leis da física; 
Níveis de naturalismo II
(d) às vezes o naturalismo é sinônimo de naturalismo metodológico comprometido somente com os métodos das ciências empíricas e matemáticas; (e) às vezes o naturalismo é sinônimo de cientificismo. A ciência é a única forma e fonte de conhecimento. Além disso, a ciência já resolveu basicamente tudo, restando apenas os detalhes. Não existe lugar para o sobrenatural”. (KENNY, 2006, p. 22).
Crítica ao naturalismo I
 A teologia protestante liberal aceitou cabalmente esses pressupostos, no que foi acompanhada por setores católicos e ortodoxos. 
Porém, nem todos aceitam essa “tirania da matéria”. 
O filósofo calvinista Alvin Plantinga tem elaborado um resposta teísta a esse cenário. 
Uma epistemologia teísta?
 A epistemologia de Plantinga tem como preocupação básica dar uma resposta negativa ao naturalismo ontológico como cosmovisão viável ao homem contemporâneo, principalmente a filosofia analítica da religião desenvolvida até a década de 60. 
Sua proposta é que uma cosmovisão mais coerente de si mesmo e do mundo é o supranaturalismo.
O supranaturalismo
O conceito de supranaturalismo é um instrumento teórico que permite pensar a união do homem com Deus. O termo traduz a palavra grega hyperphyses “que significa também no interior do mundo, mas num sentido dinâmico, as operações de Deus que saem do curso ordinário natural” (LACOSTE: 2002, p. 1672).
Espírito e matéria
“nada poderia ser contra anatureza das coisas feitas por Deus, [...mas] há coisas que estão acima da natureza; são estas coisas que Deus pode fazer elevando o homem acima da natureza humana, e unindo-o à natureza divina” (ORÍGENES apud LACOSTE: 2002, p. 1673). 
Deus e a ciência
Além disso, para horror dos naturalistas, não raras vezes descobertas científicas acabam despertando questões teológicas. 
Ex: O exemplo mais famoso é o da teoria da relatividade de Albert Einstein (1879-1955), que mesmo sendo adepto do monismo espinoziano, admitiu mais de uma vez a interseção entre ciência e teologia.
Deus e o universo
“Além da famosa frase ‘Deus não joga dados’, em outra ocasião ele disse o seguinte: ‘O que realmente me interessa é [saber] se Deus teve alguma escolha na criação do mundo e, caso tenha tido opção, por que é que decidiu criar este universo singular que conhecemos, e não um outro qualquer’. Suas afirmações também indicam uma inexorável personificação da divindade, malgrado suas convicções panteístas” (CRUZ Apud SOARES: 2008, p. 178-179).
Intersecções ente ciência e teologia
Tais intercessões, entre temas teológicos e científicos, são mais comuns do que se pensa. Elas acontecem em todas as áreas do conhecimento: matemática (Leibniz e cálculo diferencial, Cantor e a Teoria dos Números), Física (Josenphson e a teoria da supracondutividade), Cosmologia (Newton, Einstein e a teologia natural) etc.
Áreas limítrofes do conhecimento
Finalmente lembremos que os debates atuais na área da cosmologia e biologia envolvem questões teológicas clássicas: a existência ou não de um Princípio Antrópico, ligado à discussão dobre multiversos dos últimos anos, bem como a chamada Escatologia física, que estuda os possíveis cenários para o fim do nosso universo, reabrem temas como a eternidade do mundo e o estado intermediário.
A composição do homem
Há três maneiras de se entende a composição humana: a monistica, a dicotômica e a tricotômica. Na primeira o ser humano é visto essencialmente como um corpo com capacidade espiritual; na segunda como uma unidade de corpo e alma e na última como uma tríplice composição de corpo, alma e espírito.
O monismo 
O monismo ( do grego mono, “um”) nega a imortalidade da alma e foi defendido por Epicuro e Spinoza. Atualmente é aceita por grande parte dos teólogos eruditos modernos, principalmente protestantes.
Essa concepção sofreu influência da filosofia estoica e materialista. 
O monismo antropológico
Não existe separação entre espírito e matéria, senão metaforicamente. O dualismo, e principalmente o tricotomismo, são apenas deturpações pagãs. O ser humano é uma unidade limitada pela morte. A crença na imortalidade é um conceito platônico, estranho a bíblia e a ciência moderna. 
O monismo de Baruch Spinoza (1632-1677) 
 “A Substância, una e única, é uma unidade infinitamente complexa, constituída por infinitos atributos infinitos, isto é, por infinitas qualidades infinitas diferenciadas, unificadas pela potencia infinita de autoprodução e de produção de todas as coisas. unidade internamente diferenciada e unificada pela maneira como opera. A Substância é o Ser e a Causa: o Ser porque plenitude da identidade da essência e da existência; a Causa, porque é causa de si mesma e causa livre imanente de todas as coisas”. (Marilena Chauí).
Monismo e cristianismo
O monismo nunca foi uma concepção tradicional no cristianismo. 
Apenas algumas seitas ou grupos para protestantes o aceitaram como doutrina oficial, como as Testemunhas de Jeová ou Adventistas do Sétimo Dia, porém, como já foi dito, essa situação mundo no século XX. 
Monismo e antropologia
É claro que essa questão terá desdobramentos sobre o destino final do ser humano ou “escatologia”.
O ser humano é novamente visto como uma unidade. 
Karl Ranhner coloca a questão mais corretamente ao afirmar que não há continuação retilínea de nossa realidade empírica para além da morte: ‘Nesse sentido a morte põe um termo ao homem todo”.
Monismo e escatologia
“Das reflexões feitas anteriormente se depreende que o homem constitui uma unidade radical corpo-espírito. Corpo não é uma parte do homem, coexistindo ao lado de outra parte, a alma. Alma e corpo não são coisas que se possam separar, mas dimensões de um e o mesmo homem. Por isso não se concebe uma alma separada. Isso seria destruí sua essência, pois ela é essencialmente encarnada e não acidentalmente, de forma a poder subsistir sem a matéria” (BOFF: p. 2004, 163).
O dualismo dicotômico
A origem da palavra é grega, e formada pela junção do substantivo dica, que significa dois, e termos, que significa “cortar”, traduzido satisfatoriamente por “formado de duas partes”. A dicotomia foi defendida por Agostinho e Tomás de Aquino e pela maioria das igrejas cristãs. Essa concepção sofreu influência da filosofia platônica e aristotélica. 
O dualismo dicotômico
Entende que o ser humano é o composto formado de corpo e alma, correspondente a dois elementos: um material, outro espiritual. 
Podemos afirma que Agostinho e Tomás de Aquino foram os teólogos que mais influenciaram a compreensão da antropologia teológica no Ocidente. 
Como esses dois autores eram dualistas é fácil compreender porque essa é a tendência aceita oficialmente pela maioria das igrejas cristãs
O dualismo dicotômico
Podemos afirma que Agostinho e Tomás de Aquino foram os teólogos que mais influenciaram a compreensão da antropologia teológica no Ocidente. 
Como esses dois autores eram dualistas é fácil compreender porque essa é a tendência aceita oficialmente pela maioria das igrejas cristãs
A antropologia agostiniana
Construída como uma resposta a Orígenes e ao gnosticismo. 
O homem é um composto formado de corpo e alma, correspondente a dois elementos: um material, outro espiritual. 
A alma é hierarquicamente superior mas incompleta sem um corpo físico. 
Defesa do caráter positivo da matéria e ênfase na ressurreição do “corpo físico”. 
Diferença entre “alma” e “espírito” como uma questão gramatical e não ontológica. 
A antropologia tomista
No século XIII, Tomás de Aquino segue a tradição agostiniana , porém sua antropologia está fundamentada na teoria hilemórfica de Aristóteles (do grego hilê, matéria e morfê, forma) pela qual a “alma intelectual” é considerada “forma substancial do corpo”. 
Corpo e alma são inseparáveis e foram criados simultaneamente.
No que pese essas diferenças, o dualismo se consolidou como teoria aceita na Igreja do Ocidente.
Escatologia monista
“A Alma se lança à procura do verdadeiro bem. Compreende que ele ter essas duas qualidades: uma, que dure tanto como ela e que não lhe possa ser tirado sem o seu consentimento; e outra, que nada exista de mais amável [...] A alma atravessa todas as criaturas e só pode parar seu coração quando chegou até o trono de Deus, no qual começa a encontrar seu repouso” (PASCAL apud LACOSTE: 2002, p. 265).
O dualismo tricotômico
Afirma a existência de um ser ou elemento intermediário entre a alma e o corpo, Deus e o universo: o espírito. 
Cada uma dessas partes (corpo, alma e espírito) é distinta, com definições e funções específicas. 
A tricotomia predominou no cristianismo Oriental, enquanto, a dicotomia, no cristianismo Ocidental. 
Essa teoria foi defendida por Orígenes, Clemente de Alexandria, Gregório de Nissa e por diversos teólogos orientais.
Antropologia tricotômica
“Podemos resumir um volumoso corpo de material histórico dizendo que ‘espirito’ [pneuma, ruah] se refere em geral à própria vida, à distinção de ‘corpo’, enquanto ‘alma’ [psyche, nefes] se refere à vida assim como ela ocorre em um organismo particular, concreto, sendo este organismo o meio de ação da alma. A alma inclui o espirito dentro de si, mas é o espírito que capacita a alma e o corpo a estarem interligados em uma essência pessoal e a estarem orientados para Deus” (BAATEN & JENSON: 1990, p. 335).
Cristianismo e tricotomia
Segundo a Tradição da igreja ortodoxa a alma do homem é uma entidade “material”, composta por uma matériabastante sutil ou energia. 
É esta matéria sutil que imprime forma ao espírito imaterial e informe e que mantem sua forma após a dissolução do corpo físico. 
A tricotomia tem em Orígenes de Cesaréia(185-254) .
A origem da alma
Na história da teologia cristã têm existido três teorias sobre a origem da alma: a preexistência, o traducionismo e o criacionismo.
O pré- existencialismo 
O cristianismo afirma a noção de preexistência apenas em relação a Cristo, ou seja, aceitar-se que Cristo tinha existência anterior a sua encarnação em Jesus de Nazaré. A diferença foi Orígenes que estendeu essa ideia para todos os espíritos. Para os defensores do pré-existencialismo, as almas dos homens já existiam em um estado anterior, e qualquer deficiência moral que demonstrasse neste estado, teria grande implicação na vida material desta alma .
Ὠριγένης
A figura de Orígenes é uma das mais importantes e polêmicas na história da teologia.
Seu livro Peri Arkon frequentemente se viu no centro dos debates. Os questionamentos mais vivos se desenrolaram entre os séculos IV e VI
No Oriente sua influencia jamais desapareceu completamente.
A antropologia de Orígenes
Somente Deus é incorpóreo. 
Há uma diversidade de formas corporais: sensíveis, etéreos e celestes. 
O corpo, mesmo tendo sido criado por Deus após a queda, é bom. 
O corpo sensível não é uma “prisão da alma”, mais um “instrumento de salvação”, através do qual o ser humano, após ser provado poderá receber elevação. 
O pecado e a matéria
O pecado consistiria na alma se apegar e ceder ao “mundo sensível”, isto é físico, que não é senão a “imagem” da realidade. 
Porém: “o sensível é, portanto, bom em si mesmo, mas para o homem egoísta é ocasião de tentação, porquanto é imagem imperfeita do absoluto.
A alma e o mundo
Esse mundo é um campo de provas não apenas para os homens, mas também para os anjos. 
Os anjos estão intimamente ligados ao destino dos homens e desse mundo. 
Haveria anjos responsáveis por guardar nações, pessoas em particular e também eles prestarão contas no dia do juízo. 
Antropologia e escatologia
“Todo ser racional foi criado livre por Deus e, portanto, possui [ainda possui também na sua vida terrena] a possibilidade de progredir ou de regredir; a atuação das suas escolhas na vida anterior determinou a sua vida atual [Os princípios II 9,6]”. 
De Natura Hominis
Nemésio, bispo de Emesa. Não temos dados biográficos sobre ele. 
É a ele atribuída a autoria do tratado latino De Natura Hominis (Da natureza humana), datado aproximadamente do ano 400. 
“o homem se compõe de uma alma racional e de um corpo; tão perfeita e tão bela é esta sua composição, que seria impossível faze-lo ou compô-lo de outra maneira” 
Fronteira e o microcosmos
“Sendo o homem um ser que se projeta para dentro de dois mundos, não é de estranhar que lhe seja possível optar entre um e outro. Porém decidir-se pelo mundo visível e escolher os prazeres do corpo, ou então, pelo mundo superior ou espiritual. se a sua escolha recair sobre o mundo sensível, tronar-se-á terrestre [antopos koikós], - segundo a expressão de S. Paulo, - e, em consequência disso, terá de ouvir a palavra: ‘Terra és, e à terra hás de tornar’; se, ao contrário, escolher o mundo espiritual, tornar-se-á celeste [antropos epouranios]”
Da unidade do espírito à diversidade da matéria
“Aconteceu que pecaram por negligência, e se afastaram, por saciedade, da contemplação divina. Segundo a gravidade de suas falta , seus corpos revestiram então uma forma mais ou menos espessa e escura. Os que haviam pecado menos gravemente conservaram os corpos relativamente sutis e se tornaram anjos, admitidos e permaneceram na proximidade de Deus e formaram a sua corte; os que haviam pecado mais gravemente receberam corpos expressos e se torram demônios; enfim, os que tinham cometido uma falta de gravidade média viram seus corpos etéreos mudar-se em corpos humanos, tais como são em nosso universo presente”.
O Traducionismo 
Traducionismo provém do verbo latino traducere (“levar ou trazer por cima”, “transportar”, “transferir”) e, no caso de Tertuliano e Agostinho, que eram dicotomistas, assumiu um caráter francamente materialista. 
Como consequência disso ele afirma que a alma é transmitida pelos pais aos filhos através da reprodução sexual: “Assim como o arvore lança o rebento, ao filho, em cujo corpo ela se evolve e cresce independentemente”
A antropologia de Tertuliano
O melhor representante do traducionismo foi Tertuliano de Cartago (160 - 220 d.C), com sua obra De Anima (Sobre a alma). 
Tertuliano foi o único Pai da Igreja a defender a materialidade da alma. Ele o faz movido por duas razões: a crença que só uma alma corporal pode agir sobre a matéria e uma passagem bíblica que afirma que Lázaro, após sua morte, continua a sentir sede.
A alma material
“A objeção de que a alma se nutre da verdade, devendo por isso ser incorpórea , Tertuliano responde com caustica ironia: ‘Se tal fosse o caso, já muitos homens teriam perecido de fome” (GILSON: 1995, p. 134).
Deus corpóreo e a alma material
Como consequência disso ele afirma que a alma é transmitida pelos pais aos filhos através da reprodução sexual. O pecado seria “hereditário”: toda a raça humana herdou o pecado de Adão através do nascimento. Deus também seria uma substância corpórea mais invisível aos nossos olhos, pois somente o que material é real. O que não é matéria é pura nada. Não deixa de ser irônico ver como esse materialismo estremado de Tertuliano passou a ser a regra da teologia do século XX.
A antropologia de Gregório de Nissa
Gregorio de Nissa (330 -395) foi um dos defensores dessa teoria. Foi também um dos primeiros a chamar a atenção para o problema atual da filosofia: a relação corpo-mente: 
“Na qualidade de laço de união entre dois mundos, o homem depara-nos um grande enigma. como se realiza nele a união entre espirito e matéria? a ‘comunhão entre espirito e corpo é inexpressável e incompreensível’. (GILSON: 1995, p. 112).
Quem surge primeiro a alma ou o corpo?
Para Gregório não poderia ter sido antes pois isso levaria necessariamente a aceitar a transmigração da alma com os animais, também não poderia ter sido depois pois isso implicaria que o corpo não seria realmente uma pessoa, mas apenas um cadáver com uma alma, visto que se já fosse animada antes dele ela (a alma) seria desnecessária. Além disso, a alma seria inferior em dignidade ao corpo o que seria ridículo. Resta, portanto a opção que ambos, corpo e alma, surgem simultaneamente.
Um laço indestrutível
A preocupação em defender a ressurreição do corpo levou Gregório a afirmar que o vínculo entre a alma e o corpo era tão intenso que não seria rompido nem mesmo com a morte. 
A alma não desaprecia inteiramente porque ela não possuía extensão espacial, mas permaneceria ligada de alguma forma a matéria.
A separação total entre a alma e o corpo seria impossível. Há aqui uma ruptura radical com a ideia da imortalidade da alma.
Essa teoria foi adotado por Lutero e por muitos teólogos do séc.
O criacionismo 
O criacionismo, ao contrário, ensina que Deus cria um espírito para cada corpo, no momento da geração. Não significa que a alma é criada primeiro “separadamente do corpo”, mas que ela é “chamada à existência” por Deus num dado momento, pré-formada na vida física do feto, ou seja, na vida dos pais. 
Entre os adeptos da teoria do criacionismo estão Ambrósio (337-397), Jerônimo (331-419), Anselmo (1034-1109), Aquino (1225-1274), Calvino (1509-1564) e a maioria das igrejas cristãs.
Criacionismo universal
Para Agostinho Deus havia produzido imediatamente o espírito do primeiro homem: Adão, cabendo porém a Adão propagar e transmitir o mesmo espírito a seus descendentes por via de “geração natural”. Portanto a criação 'ex nihil' do espírito ocorreu apenas uma vez, com Adão, ao invés de acontecer repetidamente no instante mesmo em que cada novo homem é engendrado. Um aspecto interessante em Agostinho é o perigo do “esquecimento daalma”: “Chega-se ao ponto de crer que a alma é um corpo. Assim Agostinho explica a gênese do materialismo” (GILSON: 1995, p. 166)
Criacionismo particular
Tomás afirma que o homem é um ser é feito de espírito e de matéria, integrados na unidade do ‘eu’ pela alma. A mesma e única alma é responsável tanto pelo funcionamento fisiológico quanto pela mais espiritual contemplação da verdade. Ele sintetizou a tese que Deus cria imediatamente a alma de cada ser humano e a uniu a um corpo, na concepção, no nascimento, ou em algum momento entre esses dois eventos. 
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