Buscar

Comunicação (e)m diferentes materialidades

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 74 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sobre o autor: 
 
Amanda Heiderich Marchon é Professora Adjunta de Linguística da 
Universidade Federal do Espírito Santo e professora permanente do Programa de 
Pós-Graduação em Linguística da mesma universidade. Sua formação inclui 
Mestrado e Doutorado em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro e estágio de pós-doutoramento em Estudos da Linguagem na 
Universidade Federal Fluminense. É líder do Grupo ELUs – Estudos da Língua em 
Uso (UFES) e pesquisadora do CIAD-Rio – Centro Interdisciplinar de Análise do 
Discurso (UFRJ). Desenvolve pesquisas, principalmente, com os seguintes temas: 
funcionalismo; macrorrelação de causalidade; argumentação; 
multimodalidade; ensino. 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4 
APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 5 
MÓDULO 1 ......................................................................................................... 7 
MÓDULO 2 ........................................................................................................ 27 
MÓDULO 3 ........................................................................................................ 49 
BIBLIOTECA: MATERIAIS COMPLEMENTARES ........................................... 68 
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
INTRODUÇÃO 
 
Considerando que a comunicação é fundamental para organizar a vida em sociedade, 
este curso tem como objetivo geral promover a reflexão sobre o desenvolvimento da 
comunicação em diferentes materialidades – sonora, escrita, imagética e digital. Mais 
especificamente, busca-se em consonância com a BNCC, desenvolver propostas 
pedagógicas sobre diferentes linguagens que viabilizam a comunicação ética e 
eficiente dentro e fora do espaço escolar. Para tanto, o curso está organizado em três 
módulos, que focalizam (i) a cooperação dos interlocutores no processo comunicativo; 
(ii) a multimodalidade na construção da comunicação inclusiva; (iii) o tecnodiscurso e 
a ciberviolência nas redes sociais. Por meio da leitura do material didático, do acesso 
aos textos complementares e aos materiais audiovisuais sugeridos, bem como dos 
desenvolvimentos das tarefas propostas, espera-se que o(a) professor(a) potencialize 
sua prática pedagógica e explore diferentes linguagens e materialidades, nas 
atividades desenvolvidas com os estudantes. Sendo assim, o presente curso foi 
dividido da seguinte maneira: 
 
Módulo 1: O estabelecimento de um acordo entre os interlocutores 
• Processo de interação mediado por textos; 
• Mais que transmissão de informação; 
• Contrato de comunicação e prática dialógica. 
 
Módulo 2: A construção de sentidos na simbiose palavra-imagem 
• O conceito de multimodalidade; 
• A relação palavra-imagem; 
• A multimodalidade e a comunicação inclusiva. 
 
Módulo 3: A comunicação mediada pela máquina 
• A evolução do conceito de letramento; 
• A comunicação na era da tecnologia digital; 
• A ciberviolência nas redes sociais. 
 
 
5 
APRESENTAÇÃO 
 
Olá, professor(a)! 
 
Seja muito bem-vindo(a) ao curso Comunicação e(m) diferentes materialidades! 
Ao longo desta formação, estaremos imersos em experiências que nos permitirão 
compreender como a comunicação se manifesta em múltiplos modos, utilizando 
diferentes recursos materiais para expressar significados e construir conexões. Essa 
ideia abrange uma variedade de canais e plataformas que podem ser utilizados para 
a interação, indo além das tradicionais interações verbais por meio de textos orais ou 
escritos. 
 
Buscando contemplar a Competência Geral 4 da BNCC (Base Nacional Comum 
Curricular), que versa exatamente sobre a multiplicidade de linguagens para o 
estabelecimento da comunicação, o objetivo geral, deste curso, é promover a reflexão 
sobre o desenvolvimento da comunicação em diferentes materialidades – sonora, 
escrita, imagética, digital –, capacitando os participantes a desenvolverem práticas 
pedagógicas que contemplem a comunicação como um processo mais amplo do que 
apenas a transmissão de informações. Decorrentes desse objetivo geral, delineiam-
se os seguintes objetivos específicos: 
 
▪ Discutir o conceito de comunicação; 
▪ Analisar o conceito de contrato de comunicação e sua influência nas práticas 
dialógicas; 
▪ Compreender o que é multimodalidade e como ela é aplicada na comunicação; 
▪ Entender como a multimodalidade pode contribuir para práticas comunicativas 
inclusivas na escola; 
▪ Analisar o papel da tecnologia digital no processo de comunicação; 
▪ Explorar estratégias para prevenir e lidar com a ciberviolência nas redes 
sociais. 
 
 
 
6 
A fim de que esses objetivos sejam alcançados, dividimos este curso em três módulos. 
No primeiro módulo – O estabelecimento de um acordo entre os interlocutores –, 
procuramos ampliar o conceito de comunicação como mera transmissão de 
informação e focalizamos as relações dialógicas que constroem o processo 
comunicativo. No segundo módulo – A construção de sentidos na simbiose 
palavra-imagem –, buscamos apresentar o conceito de multimodalidade e relacioná-
lo a práticas comunicativas inclusivas na escola. Por fim, o último módulo – A 
comunicação mediada pela máquina – o letramento digital e contempla a 
problemática das interações nas redes sociais. 
 
Para fins organizacionais e didáticos, cada módulo apresenta três seções, e cada 
seção traz uma proposta de atividade pensada para que você, professor(a), possa 
aplicar os conteúdos deste curso em sua prática docente. Acreditamos que algumas 
propostas precisarão de adaptações, uma vez que cada disciplina possui demandas 
curriculares específicas, porém esperamos que as reflexões desenvolvidas ao longo 
deste curso possam ser refletidas na sala de aula, uma vez que a comunicação 
desempenha um papel central no desenvolvimento global dos(as) alunos(as), 
contribuindo não apenas para suas habilidades linguísticas, mas também para a 
formação de cidadãos críticos, ativos e participativos em uma sociedade dinâmica e 
diversificada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. Comunicação: processo de interação mediado por textos 
 
Desde cedo, aprendemos que o homem, por meio da linguagem, se comunica com 
seus semelhantes para nomear o mundo e expor suas ideias. A linguagem humana, 
desse modo, permite não só perceber os elementos da realidade, mas também 
possibilita a interrelação com o outro e com a coletividade. Nessa direção, a noção 
de transmissão de informações está na base das definições que os dicionários, 
de forma geral, apresentam para o verbete comunicação – do latim, 
communicatĭo,ōnis, no sentido de ação de partilhar, de dividir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Neste módulo, porém, discutiremos que, para além, da transmissão de informações, 
as ações de linguagem que realizamos diariamente são sempre permeadas por 
intencionalidade, o que implica na participação ativa tanto do emissor da mensagem 
quanto do receptor. Embasados em conceitos da Linguística Textual e da Teoria 
Semiolinguística do Discurso, assumimos aqui que toda comunicação humana ocorre 
comunicação (substantivo feminino) 
ato ou efeito de comunicar-se 
1 ação de transmitir uma mensagem e, eventualmente, receber outra 
mensagem como resposta (a comunicaçãoentre uma base terrestre e um 
míssill; a ciência tenta manter comunicação com os golfinhos). 
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa) 
 
 
8 
por meio de textos que são construídos pela colaboração estabelecida entre os 
interlocutores (emissor e receptor) em uma situação de interação específica situada 
social e historicamente. 
 
Como parece não haver texto sem discurso e muito menos discurso sem texto, 
consideramos, aqui, o texto como discurso. Essa consideração, portanto, 
pressupõe que o texto seja resultado de uma operação estratégica de comunicação, 
produzida por um emissor e interpretada como tal por um interlocutor. 
 
Nesse contexto, não podemos deixar de sublinhar que uma longa tradição escolar – 
um tanto equivocada –, em diferentes épocas e em diferentes disciplinas, analisou 
textos sem considerar o processo de comunicação a eles relacionados. Com certeza, 
em sua trajetória na escola, você já ouviu, de algum professor, a pergunta “Qual é o 
tema do texto?”. No entanto, mais do que responder o que o texto diz, devemos refletir 
sobre o quando, onde e como o texto foi proferido, além de buscarmos observar os 
papéis do emissor e do receptor, bem como o objetivo da troca comunicativa. 
 
De acordo com o linguista russo Roman Jakobson (1992), para que a comunicação 
seja estabelecida, torna-se necessário o funcionamento simultâneo de seis elementos: 
emissor, receptor, mensagem, contexto/referente, código e canal. Segundo o 
autor, o emissor envia uma mensagem ao receptor. Para ser eficaz, a mensagem 
requer um contexto a que se refira; um código total ou parcialmente comum ao 
remetente e ao destinatário, como o código linguístico; e, finalmente, um canal físico 
entre o remetente e o destinatário, que capacite ambos a entrarem e a permanecerem 
em comunicação, como o sinal de internet, no caso de uma comunicação por 
videochamada. De acordo com esse modelo, a mensagem é o elo entre o emissor 
e receptor. A seguir, apresentamos esquematicamente esse circuito: 
 
 
 
 
 
9 
Figura 1: Esquema de comunicação de Jakobson 
Fonte: Baseado em Jakobson (1992, p. 123) 
 
O quadro a seguir apresenta uma compilação dos conceitos propostos por 
Jakobson (1992): 
 
Tabela 1: Elementos da comunicação 
Fonte: Elaboração da autora, 2024. 
 
Embora esse esquema, ainda hoje, esteja presente em livros didáticos e em aulas de 
ELEMENTO DA COMUNICAÇÃO O QUE É? 
Mensagem É a informação transmitida. 
Emissor É aquele que envia a mensagem (pode ser uma única 
pessoa ou um grupo de pessoas). 
 
Receptor É aquele a quem a mensagem é endereçada (um 
indivíduo ou um grupo), também conhecido como 
destinatário. 
 
Canal É o meio pelo qual a mensagem é transmitida. 
 
Código É o conjunto de sinais convencionados socialmente 
para a construção e transmissão de mensagens. 
 
Contexto É a situação a que a mensagem se refere (contexto). 
 
 
 
10 
Língua Portuguesa, para a Linguística Textual e para a Teoria Semiolinguística do 
Discurso, porém, o ato comunicativo não se restringe à transmissão de informação 
apenas, pois segundo Orlandi (2009, p. 21), no funcionamento da linguagem, que põe 
em relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história, temos um complexo 
processo de constituição dos sujeitos e produção de sentidos e não meramente 
transmissão de informação. Nessa perspectiva, a linguagem passa a ser o lugar de 
interação e, consequentemente, a mensagem perde o status de ser o elo entre 
emissor e receptor. 
 
De acordo com essa noção, os sujeitos, por participarem ativamente no contexto em 
que estão inseridos, são atores nas situações comunicativas em que buscam 
influenciar um ao outro. A comunicação, portanto, decorre da indissociável 
relação entre os interlocutores, para que se possa depreender das palavras e de 
outros sistemas de signos seus sentidos concretos. 
 
 
 
 
 
A COMUNICAÇÃO EM RECORTES 
 
Para conhecer um pouco mais sobre o processo 
comunicativo, sugerimos que você assista ao 
vídeo A comunicação em recortes, foi 
produzido para o curso de Especialização em 
Coordenação Pedagógica da Universidade 
Federal de Santa Catarina, na Sala Práticas e 
Espaços de Comunicação, pela profa. Daniela 
Karine Ramos com o apoio do Lantec – 
Laboratório de Novas Tecnolgias. Acesse por 
meio do QR Code ao lado, ou por meio do link: 
https://www.youtube.com/watch?v=_C3AmzKpJbQ 
https://www.youtube.com/watch?v=_C3AmzKpJbQ
 
 
11 
De acordo com Benveniste (2006, p. 90), cada ato de interação pela linguagem é 
“um ato que serve o propósito direto de unir o ouvinte ao locutor por algum laço de 
sentimento, social ou de outro tipo”. Nessa função, explica o autor, a linguagem é 
manifestada como um modo de ação, ou seja, agimos por meio da linguagem. E, 
por linguagem, não consideramos apenas a linguagem verbal, constituída por 
palavras, mas também a linguagem imagética, a visual-motora (como na Língua 
Brasileira de Sinais – LIBRAS), a musical, entre outras. Você, certamente, já ouviu 
falar ou já deve ter lido que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incentiva 
que os(as) professores(as) trabalhem com as múltiplas semioses ou 
multimodalidade, não é mesmo? Cada tipo de linguagem citado anteriormente pode 
ser entendido como uma semiose ou uma modalidade, tema sobre o qual versa a 
Competência Geral 4 da BNCC: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerando que, hoje, vivemos em um momento histórico em que diversas vozes 
precisam ser ouvidas, veiculando pontos de vista diversos sobre os cenários sociais 
que construímos dia após dia, o conceito de comunicação como mera transmissão 
de informações não reflete os fatos da realidade efetivamente. Nessa sociedade da 
qual somos membros, a todo instante, explicitamos nossas opiniões, opiniões essas 
que podem ser acolhidas, debatidas e confrontadas por meio de uma interação social 
– ato que confere dinamicidade às relações humanas. 
 
Por serem dinâmicas, as relações mediadas pela comunicação também não acionam 
apenas o código verbal, ou seja, a linguagem constituída por palavras. Na busca pelo 
COMPETÊNCIA GERAL 4 – COMUNICAÇÃO 
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e 
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das 
linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar 
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e 
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 
(Base Nacional Comum Curricular, 2018, p.9) 
 
 
 
 
12 
engajamento do outro, o emissor – a partir de agora, enunciador, nos termos das 
teorias em se ancora este curso –, a depender da situação social específica em que 
se encontra, mobiliza códigos imagéticos, matemáticos, artísticos, sonoros, visuais-
motores. Em um mesmo ato de comunicação, é comum inclusive, que os 
interlocutores se valham de mais de sistema de linguagem – aprofundaremos a 
questão da relação múltiplas modalidade no módulo 2 deste curso. 
 
Na trilha dessa discussão, analisemos a charge de Quino, artista argentino criador da 
famosa Mafalda, em que a personagem nos conduz à reflexão de que, apesar de 
vivermos em uma sociedade livre, nossas opiniões e ideologias, nem sempre, podem 
ser expressas, sob pena de sermos repreendidos: 
 
Figura 2: Mafalda 
 
Fonte: Educação Cotidiana, 2016. 
 
Como vemos, a charge veicula a denúncia acerca da falsa liberdade de expressão 
que permeia a sociedade pela mobilização de dois códigos, o imagético e o verbal, ou 
seja, recursos não verbais (a imagem do policial e o ato de a menina apontar para o 
bastão de borracha) são associados a recursos verbais(a fala de Mafalda). 
 
 
13 
Ressaltamos que a expressão “borracha de apagar”, geralmente remetida ao contexto 
escolar, passa a significar a ação de repressão promovida pelo estado para calar a 
população que, eventualmente, pode vir a manifestar opiniões e disseminar ideologias 
contrárias ao que a máquina estatal defende. O contraste das cores preta e branca 
das vestimentas, bem como da altura dos personagens também refletem o contraste 
dos lugares sociais que Mafalda e o policial ocupam. Esses sentidos, entretanto, não 
são construídos apenas pelo chargista, mas pelo encontro de saberes do chargista e 
do leitor, isto é, os interlocutores partilham conhecimentos – não necessariamente 
explícitos – que são acionados na troca comunicativa. 
 
No tópico seguinte, aprofundaremos a reflexão sobre a comunicação não ser apenas 
a transmissão de informações entre os interlocutores e retomaremos a contribuição 
de Benveniste (2006), de que a linguagem se manifesta como um modo de ação. 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 1: UM POUCO MAIS SOBRE MAFALDA 
 
Acesse o site https://www.youtube.com/watch?v=-
pv8eKpdZUw ou use o QR Code ao lado para 
conhecer mais sobre Mafalda, menina que não é 
somente uma personagem de quadrinhos, mas a 
materialização da rejeição do mundo como ele se 
apresenta. Aproveite a navegação pela web e leia 
outras histórias de Mafalda. Que tal trabalhar com 
uma dessas histórias em suas aulas? As histórias 
de Mafalda, em geral, são curtas e abordam 
temáticas variadas, como relações sociais, 
valores humanos, questões ambientais etc. 
https://www.youtube.com/watch?v=-pv8eKpdZUw
https://www.youtube.com/watch?v=-pv8eKpdZUw
 
 
14 
2. Comunicação: mais que transmissão de informações 
 
Koch (2007, p. 29) afirma que o indivíduo, ao interagir por meio da linguagem, o faz 
visando estabelecer relações, causar efeitos, desencadear determinados 
comportamentos. Em última instância, o ser humano quer quase sempre agir sobre 
o outro, tenta convencê-lo ou tenta persuadi-lo. 
 
Como exemplo dessa ação mobilizada pela linguagem, podemos refletir sobre a 
campanha publicitária que o Governo do Estado do Espírito Santo desenvolveu com 
a finalidade de convencer os motoristas a não dirigirem depois da ingestão de bebida 
alcoólica. Para agir sobre essas pessoas, o Governo promoveu uma campanha 
publicitária impactante com outdoors associados a carros acidentados, como 
podemos observar a seguir: 
 
Figura 3: Outdoor 
Fonte: SEMOBI, 2015. 
 
Essa comunicação, que conta não só com os recursos verbo-visuais do outdoor, mas 
também com um carro real em estado de perda total, não visa apenas a informar que 
a combinação de álcool e direção pode causar acidentes, mas busca, sobretudo, 
 
 
15 
convencer os motoristas a não dirigirem após a ingestão de bebida alcoólica. Em 
outras palavras, esse ato de linguagem não se restringe à informação, mas tem a 
finalidade de diminuir o número de acidentes de trânsito, ao mexer com a emoção dos 
receptores, já que a atmosfera que se cria com a associação dos elementos verbais 
e imagéticos, com a associação do outdoor com o carro acidentado é atmosfera de 
dor e morte. Essa campanha exemplifica, portanto, que por meio da comunicação, é 
possível agir sobre o outro. 
 
Na trilha de que o ato de comunicar envolve mais que a transmissão de informação e 
de que a comunicação é uma atividade de manipulação em que um sujeito faz o outro 
crer no que se diz (Greimas; Courtés, 1979), pensemos na notícia a seguir, publicada 
no portal da Prefeitura de Cuiabá: 
 
Figura 4: Campanha de prevenção à saúde da mulher 
 
Fonte: Prefeitura de Cuiabá, 2023. 
 
 
Essa notícia sobre a campanha de prevenção contra câncer de mama e colo de útero, 
mais do que informar sobre o evento Fortalecendo Laços pela Saúde da Mulher, 
serve à promoção das ações desenvolvidas pela Secretaria de Municipal da Mulher 
 
 
16 
no cuidado à saúde feminina. Dessa forma, o ato comunicativo em análise apresenta 
a função social de noticiar o evento com o objetivo de promover a adesão da 
população e, consequentemente, contribuir para a redução de casos de câncer em 
mulheres. Esse é outro exemplo que demonstra que atos comunicativos podem 
desencadear ações no interlocutor. 
 
Toda interação comunicativa apresenta, de forma mais ou de forma menos explícita, 
uma dimensão argumentativa, uma espécie de manobra discursiva do emissor para 
captar o interlocutor. Você seria capaz de identificar a intencionalidade do autor da tira 
de Garfield a seguir? O que ele busca fazer com que o leitor faça? Observe bem a 
estruturação do texto, a associação de recursos verbais e não verbais: 
 
Figura 5: Garfield 
Fonte: Blog Educação e Tecnologia, 2014. 
 
Para iniciarmos a discussão, vale destacar que a preguiça é característica 
marcante de Garfield, o que, muitas vezes, representa um impedimento para que 
ele execute determinadas tarefas. A sequência de perguntas que Harold faz a seu 
animal de estimação vão, gradativamente, deixando o gato irritado – atitude 
perceptível pela comparação do olhar do bichano no primeiro e no último 
quadrinho. O discurso veiculado por essa tira é o de que os programas televisivos 
da atualidade não levam os telespectadores a reflexões críticas sobre a realidade, 
fato que motiva Garfield a sentar-se diante da TV, exatamente para não se dar ao 
trabalho de pensar. 
 
 
17 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 2: PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR SOCIAL 
 
As campanhas publicitárias governamentais, em geral, têm por objetivo mobilizar a 
população para que ela tome alguma medida relacionada à promoção do bem-estar 
físico e social. 
 
Nesse sentido, você pode solicitar aos seus alunos que eles pesquisem por 
campanhas publicitárias governamentais cuja finalidade ultrapasse a troca de 
informações, mas vise a fazer o interlocutor a agir em favor do bem-estar individual 
e/ou coletivo. Os temas podem versar sobre preservação do meio ambiente, 
promoção de saúde público etc. 
 
Figura 6: Estudantes pesquisando na internet 
Fonte: Canva, 2024. 
 
Uma segunda etapa da atividade pode ser a apresentação dos textos selecionadas, 
bem como a discussão sobre a importância do objetivo almejado por cada publicidade. 
O material pesquisado ainda pode ser exposto nos corredores e pátios da escola, a 
fim de mobilizar a ação de outras pessoas. 
 
 
 
18 
Outra etapa possível para a atividade é propor que os alunos produzam campanhas 
publicitárias sobre questões relacionadas ao seu universo mais próximo, como cidade 
ou mesmo a escola. O meio de divulgação pode ser as redes sociais. 
 
 
3. Contrato de comunicação e prática dialógica 
 
A esta altura, você pode estar pensando que nem todo ato comunicativo tem o efeito 
de mobilizar, efetivamente, o outro. Dito de outra forma, nem sempre, nas 
comunicações que estabelecemos – ou que, pelo menos, tentamos estabelecer –, 
atingimos nossos objetivos. Na própria sala de aula, não são poucas as vezes em que 
buscamos interagir com os estudantes, mas, por razões variadas, não temos sucesso, 
não é mesmo? 
 
O insucesso em uma interação comunicativa pode ser decorrente da falta de 
conhecimento do significado de algumas palavras (domínio do código linguístico), por 
problemas relacionados ao meio de propagação do discurso (no caso da interação 
pela modalidade oral, barulhos; no caso da interação pela modalidade escrita, a 
inelegibilidade do texto). 
 
Há, ainda, casos em que a adesão e a ação do interlocutor não são alcançadas, pelo 
fato de emissor e receptor não terem concepções coincidentes da realidade. Vocêacredita, por exemplo, que um torcedor apaixonado pela seleção de futebol do Brasil 
conseguiria fazer um torcedor da seleção da Argentina deixar de torcer pelo time para 
torcer pelo time brasileiro? Pouco provável, não é mesmo, já que as concepções da 
realidade desses torcedores são distintas, além disso, essa diferença é reforçada 
culturalmente pela rivalidade tradicional entre as seleções desses dois países. 
Entretanto, a não coincidência em relação às concepções de realidade não pode 
suplantar a ética e respeito. 
 
 
 
19 
Figura 7: Rivalidade Brasil e Argentina 
Fonte: LEME, 2017. 
 
Bakhtin (2006), filósofo da linguagem, concebe a comunicação como um processo 
interativo, muito mais amplo do que a mera transmissão de informações. Nessa 
perspectiva, o autor contesta o pressuposto de que a comunicação está centrada no 
enunciador e introduz o conceito de dialogia: atividade do diálogo entre o eu e o 
outro em um território específico socialmente organizado em interação 
linguística. O sujeito, ao falar ou escrever, deixa em seu texto marcas profundas de 
sua sociedade, seu núcleo familiar, suas experiências, além de pressuposições sobre 
o que o interlocutor gostaria ou não de ouvir ou ler, tendo em vista também seu 
contexto social. 
 
Além do conceito de dialogia, Bakhtin (2006) ainda apresenta o conceito de 
alteridade: o enunciador necessita do outro para constituir seu mundo e para se 
constituir a si mesmo no ato de comunicação, ou seja, o enunciador só existe 
como tal porque existe outro sujeito com ele em interação. Assim, são 
indissociáveis os conceitos de dialogia e de alteridade: 
 
 
 
20 
Toda palavra serve de expressão de um em relação ao outro. Através da 
palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação 
à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os 
outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se 
sobre meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do 
interlocutor.(Bakhtin, 2006, p. 117. Grifos nossos.) 
 
Nessa perspectiva, os interlocutores precisam estabelecer uma relação de 
cooperação, uma espécie de contrato que rege o ato comunicativo em que os sujeitos 
estão envolvidos. Charaudeau (2008) elabora essa noção e propõe o conceito de 
contrato de comunicação, pressupondo que os indivíduos sejam capazes de entrar 
em acordo a propósito das representações de linguagem. Dito de outra forma, o 
enunciador espera do interlocutor uma competência de reconhecimento 
linguístico e um respeito às regras de convivência social semelhantes aos seus. 
 
No texto a seguir, por exemplo, podemos dizer que não há equivalência de 
conhecimento linguístico entre os personagens, mas há acordo em relação ao 
comportamento social: 
 
Figura 8: Hagar 
 
Fonte: GRAN Questões, 2011. 
 
O efeito de humor, finalidade do texto, decorre exatamente da falta de 
entendimento de Hagar sobre o significado da palavra proprietário. Apesar desse 
pequeno descompasso, podemos dizer que a comunicação entre os personagens 
 
 
21 
é estabelecida: as regras sociais são seguidas (observemos a polidez das falas) 
e há uma atitude cooperativa de Hagar (ele continua o diálogo na tentativa de 
ajudar o homem de trajes azuis). O termo proprietário, no contexto apresentado, 
sugere certa formalidade por parte do personagem que o emprega (evidenciado 
até pelos trajes que ele usa) – possivelmente, por ser uma palavra que faz parte 
do seu cotidiano, ele supôs que ela também estivesse presente no vocabulário do 
interlocutor. Sobre isso, Maingueneau (2008, p. 20) explica que: 
 
Todo ato de enunciação é fundamentalmente assimétrico: a pessoa que 
interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir de indicações presentes 
no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói 
coincida com as representações do enunciador. Compreender um 
enunciado não é somente referir-se a uma gramática e a um dicionário, é 
mobilizar saberes muito diversos, fazer hipóteses, raciocinar, construindo um 
contexto que não é um dado preestabelecido e estável. A própria ideia de 
enunciado que possua um sentido fixo fora de contexto torna-se 
insustentável. (Grifos nossos). 
 
 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 3: COMUNICAÇÃO MALSUCEDIDA 
 
O perfil na rede social TikTok de @jaovitormello 
disponibiliza pequenos vídeos em que o 
influencer brinca com a problemática acerca da 
incompreensão no processo comunicativo. 
Assista ao vídeo “você sua💧😭”, em que os 
personagens compreendem o termo “sua” de 
forma não coincidente, exatamente o que gera o 
efeito de humor. O link de acesso é o seguinte: 
https://www.tiktok.com/@joaovitormello/video/7164129623381396742?lang=pt-BR. 
Ou use o QR code ao lado para acessar. 
 
 
22 
E o que você acha de apresentar alguns desses vídeos aos estudantes, como 
motivação para a discussão sobre os problemas decorrentes da ineficácia da 
comunicação? Possivelmente, os alunos devem ter vivido ou ter conhecimento de 
situações em que o diálogo entre os interlocutores não obteve êxito. 
 
Você pode dividir a turma em grupo e solicitar que cada grupo relate ou crie um cenário 
em que a comunicação entre os interlocutores não teve êxito. Estimule os estudantes 
a pensarem em formas para a resolução dos conflitos gerados e a encenarem as 
cenas narradas. 
 
 
Segundo o recorte teórico da Teoria Semiolinguística do Discurso, o ato de linguagem 
é uma encenação em que os participantes interagem condicionados por um contrato 
de comunicação que impõe a obediência a dois princípios básicos: direito à palavra 
– que um parceiro deve conceder ao outro para que se processe o jogo 
comunicativo – e exigência de um saber comum partilhado que pode ser de 
ordem linguística, experiencial ou interdiscursiva presente na troca linguageira. 
A fim de ilustrarmos um pouco mais o conceito de contrato e comunicação, para a 
tirinha de Armandinho, apresentada a seguir, propomos duas análises. 
 
Figura 9: Armandinho 
 
Fonte: Tumblr, 2023. 
 
Pensando no ambiente escolar, a situação de comunicação exige certa 
formalidade do enunciador – nesse caso, Armandinho, por meio de seu discurso, 
 
 
23 
expressa a imagem do aluno –, uma vez que o contrato de comunicação 
estabelecido entre o menino, seus colegas de turma e o(a) professor(a) (presenças 
subentendidas pela imagem da lousa, pela postura e pelo discurso de 
Armandinho) refere-se à apresentação de um trabalho acadêmico. 
 
Nessa situação específica, inicialmente, Armandinho tem o direito à palavra para 
expor seu tema de pesquisa. Talvez, ao final de sua explicação, seus 
interlocutores possam fazer perguntas e possam tecer considerações sobre o 
tema discutido. No que concerne ao saber compartilhado, todos os sujeitos 
envolvidos na comunicação devem ter conhecimento sobre as regras que regulam 
uma apresentação oral de trabalho acadêmico, como a necessidade de silêncio e 
atenção durante a exposição da pesquisa, além de todos estarem cientes de que 
as drogas causam malefícios. Ressaltamos, porém, que o fato de o menino tratar 
o poder como uma substância química pode surpreender seus colegas e seu(sua) 
professor(a), resultando, talvez, numa quebra do contrato de comunicação 
estabelecida entre os personagens da tira. No entanto, é exatamente sobre 
essa questão de que o poder tem características destrutivas que se constrói a 
crítica do criador dos quadrinhos. 
 
Visto por esse prisma, você acha que o contrato de comunicação entre autor e 
leitor foi burlado? O contrato é mantido porque, na situação específica de interação 
comunicativa por meio de tiras, a quebra de expectativaque leva à reflexão sobre 
algum tema social ou mesmo ao humor é prevista. Em outras palavras, falar sobre 
os malefícios do poder não causa estranheza ao leitor da tira, como pode causar 
no ambiente escolar em que outro tema foi proposto para pesquisa. 
 
Até aqui, procuramos discutir, fundamentalmente, duas questões: 
 
I. Comunicação é mais que transmissão de informações; 
II. Todo ato de comunicação é regido por determinadas regras sociais 
 
 
24 
que devem ser compartilhadas pelos interlocutores. 
 
Nesse sentido, segundo Paulo Freire, na obra Pedagogia da Autonomia, podemos 
ampliar a discussão e dizer que a comunicação dialógica deve estar na base do 
processo ensino-aprendizagem: “ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar 
as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Freire, 2003, p. 
47). Nesse tipo de interação social, mediada pelo diálogo colaborativo entre 
professor-aluno e aluno-aluno, os sujeitos envolvidos têm a oportunidade de 
expressarem seus pensamentos, ouvirem as perspectivas dos outros e responderem 
de maneira construtiva, construindo juntos o conhecimento. 
 
 
 
 
 
Educação Dialógica está relacionada ao uso do diálogo como meio essencial para 
o processo ensino-aprendizagem. Essa abordagem educacional é fortemente 
influenciada pelos ideais de Paulo Freire, filósofo brasileiro, que propôs um modelo 
de educação ancorado nos seguintes pilares: conscientização e participação ativa 
dos estudantes, bem como interação entre educadores e aprendizes. 
 
 
Esse modelo de ensino-aprendizagem é chamado educação dialógica, foi abordado 
não só por Paulo Freire, mas por pensadores como Lev Vygotsky, Jerome Bruner, 
Gordon Wells, Jürgen Habermas. Entre seus princípios estão: 
 
Tabela 2: Princípios da Educação Dialógica 
1. O diálogo igualitário, que ocorre quando o argumento se sobressai em relação a quem o 
profere. Para que haja diálogo é preciso que os sujeitos se encontrem em situação de igualdade, 
para que nenhuma hierarquia se sobreponha ao desejo e à necessidade de promover diálogos; 
 
 
25 
2. A inteligência cultural, que diz respeito à capacidade, de todos os seres humanos, de agir e 
refletir diante a saberes de variadas origens, seja ele cunhado nos ambientes de ensino ou no dia 
a dia. 
3. A transformação, que coloca a educação como promotora das mudanças dos sujeitos, não o 
educador. É ela que vai ser objeto da interação entre as pessoas; 
4. Com a criação de sentido, o processo de aprendizagem precisa estar diretamente conectado 
com a vida, as expectativas, e os usos que serão feitos pelos sujeitos envolvidos. 
5. A solidariedade é que garante que o espírito comunitário será parte do processo educativo que, 
por ser relacional, é construído a partir do empenho e das relações estabelecidas intra e extra 
instituição de ensino. 
6. Em sua dimensão instrumental a educação dialógica permite que os sujeitos envolvidos 
possam operacionalizar conceitos para se integrarem à sociedade. 
7. Na igualdade de diferenças, ninguém precisa ser igual, pois as dessemelhanças enriquecem o 
processo de aprendizado. Mas, para isso, é preciso garantir que todos estejam munidos das 
ferramentas necessárias, que promovam equidade. 
Fonte: Blog Saraiva Educação, 2021. 
 
A ideia do conhecimento como algo vivo, mutável e passível de ser construído a partir 
de processos coletivos nos obriga a repensar o modelo de educação baseado na 
concepção de que comunicação é mera transmissão de informação e, por 
conseguinte, educação é mera transmissão de conhecimento, em que o(a) 
professor(a) seria o único detentor(a) do saber e o(a) aluno(a) seria o receptáculo, 
para o qual o conhecimento seria transferido. A educação dialógica requer que sejam 
desenvolvidas práticas associadas à empatia, à escuta ativa e à expressão de 
diferentes pontos de vista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
 
 
 
Chegamos ao final do Módulo 1. Agora, coloque em 
prática o que aprendeu acessando a sessão de 
Atividades por meio do QR Code ao lado. Bons 
estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. O conceito de multimodalidade 
 
No percurso evolutivo da espécie humana, parece possível compreender que o 
homem, ao fazer uso da língua para comunicação, também tornou possível empregá-
la como uma forma de resolução de conflitos, nomeadamente quando ele passou a 
viver em sociedades organizadas e mais complexas. O entendimento de que os 
sujeitos são seres sociais faz emergir a noção de texto como discurso, como 
discutimos no módulo anterior. Também discutimos que o processo de 
comunicação não é unilateral, mas uma atividade colaborativa na qual todas as 
partes envolvidas contribuem para a construção do significado, bem como refletimos 
sobre a intencionalidade de ser parte constitutiva do discurso. Tudo isso significa que 
o ato de comunicar não é mera transmissão de informações e não se restringe 
a emprego exclusivo de palavras. 
 
A comunicação humana é, por natureza, multimodal, multifacetada, multissemiótica, 
haja vista que, ao nos comunicarmos oralmente, fornecemos outros dados 
significativos ao conteúdo verbal por meio de gestos, posturas corporais, expressões 
faciais e elementos relacionados ao ritmo e ao tom da nossa fala. Podemos ainda 
instaurar um ato de linguagem por meio de desenhos e letras, cores e formas, 
recursos tipográficos e texturas, notas musicais e volume sonoro. Essa possibilidade 
 
 
28 
de construir o discurso por meio da orquestração de diferentes modalidades ou 
semioses correlacionadas e integradas é objeto de reflexão de diversas pesquisas das 
ciências da linguagem e das ciências sociais. 
 
A aceitação de que os limites de um texto (aqui, visto como discurso, como já 
esclarecemos) não estão circunscritos ao verbal nos leva ao conceito de 
multimodalidade: o sentido é constituído por meio da relação entre diferentes 
tipos de linguagem, ou seja, diferentes recursos semióticos. A abordagem 
multimodal, proposta por Kress e van Leeuwen (2006), reconhece a interconexão e a 
complementaridade de diferentes modos de expressão – verbal (escrita, oral ou visual-
motora, como Libras), corporal, visual, sonora –, resultando em uma compreensão 
mais rica e holística do significado. 
 
Na Gramática do Design Visual (GDV), Kress e van Leeuwen (2006) explicam que o 
senso comum que entendia a linguagem verbal como o principal meio de 
representação e comunicação não faz mais sentido. Focando-se nos diferentes 
recursos semióticos de comunicação e nas práticas comunicativas em que tais 
recursos são empregados, os autores assumem que a multimodalidade está presente 
em “qualquer texto em que os sentidos são realizados por meio de mais de um código 
semiótico” (Kress; van Leeuwen, 2006, p. 177). Dessa forma, “a partir do momento 
em que uma cultura tomou a decisão de incluir um determinado material em seus 
processos comunicativos, esse material se tornou parte dos recursos culturais e 
semióticos dessa cultura, estando disponíveis para uso na formação de signos” 
(Ibidem, p. 111). O que Kress e van Leeuwen (2006) propõem como ‘gramática’ é a 
organização interna dos elementos constituintes de um texto, e não um conjunto de 
regras. 
 
Nessa obra, são apresentados os modos de investigar e descrever a maneira como 
elementos de um plano imagético se relacionam entre si, bem como as complexas 
relações que podem existir entre as imagens e seus espectadores. Assim, os 
elementos de diferentes semioses que compõem o texto não são vistos como partes29 
desconectadas, pelo contrário, o sentido é construído com a soma das partes. Mais 
do que isso, os sentidos emergem justamente da relação construída entre as 
diferentes modalidades ou semioses, tornando o texto um todo integrado. 
 
 
 
 
 
 
TEXTOS MULTIMODAIS 
 
Neste vídeo, divulgado pelo canal Caminhos da 
Linguagem, o professor Prosa Júnior fala um 
pouco sobre os a relação entre múltiplas semioses 
e leitura. Acesse por meio do QR Code ao lado, 
ou por meio do link: 
https://www.youtube.com/watch?v=6p-Y9sFH1dI 
 
 
 
 
 
Um exemplo representativo de gênero midiático que mobiliza a multimodalidade é a 
charge. O chargista, por meio de imagens e palavras, comenta o cotidiano e registra 
parte da história da vida política, econômica e social do país, pretendendo “alertar, 
denunciar, coibir, e levar à reflexão” (Agostinho, 1993, p. 229). Observamos essas 
características na charge de Laerte, a seguir, publicada em junho de 2020, na semana 
em que o governo do estado de São Paulo, à época da primeira onda de contaminação 
pela Covid-19, antecipa a flexibilização das regras de distanciamento social, 
autorizando a reabertura dos shoppings: 
 
https://www.youtube.com/watch?v=6p-Y9sFH1dI
 
 
30 
 
 
Figura 10: Charge Shoppings 
 
Fonte: Folha de S. Paulo, 2020. 
 
De acordo com Charaudeau (2008, p. 24), “a finalidade do ato de linguagem (tanto 
para o sujeito enunciador quanto para o sujeito interpretante) não deve ser buscada 
apenas em sua configuração verbal, mas, no jogo que um dado sujeito vai estabelecer 
entre esta e seu sentido implícito”. Isso posto, entendemos que a finalidade da charge 
de Laerte pode ser interpretada como uma tentativa de denunciar e criticar ações tanto 
dos governantes quanto da população que lotou os shoppings paulistas nos primeiros 
meses da pandemia, em 2020. Esse entendimento é viabilizado pela conjugação dos 
elementos verbal, imagético e numérico. 
 
Mais especificamente, o plano imagético de organização dos elementos sugere que 
havia uma tendência de crescimento do número de mortes pela Covid-19 no Brasil 
devido ao aumento de circulação de pessoas. A ascensão dos indivíduos nas escadas 
rolantes que se cruzam na imagem se coaduna aos números apresentados à direita 
da charge, que representam as quantificações em gráficos, tais como os apresentados 
 
 
31 
pelos veículos de informação. Estes, somados ao contexto histórico pandêmico, 
permite que o leitor da charge possa reconhecer o possível projeto argumentativo que 
se realiza por meio da multimodalidade: a abertura dos shoppings foi uma atitude que 
demonstrou falta de empatia e expressou a falta de cuidado por parte da população, 
dentre outras possibilidades interpretativas que dependem do próprio universo de 
crença desse leitor. Afinal, na charge, a marca de 40 mil vidas perdidas está na base 
do gráfico; o movimento apenas de subida das escadas rolantes repletas de pessoas 
acena para a inevitável tendência de ascensão dessa taxa. Em síntese, a 
argumentatividade não apenas se inscreve no uso da língua, mas também no modo 
como esse uso se configura em práticas comunicativas que requerem a mobilização 
de diferentes modalidades (Elias, 2016). 
 
A esse respeito, Kress (2003) defende que “o mundo falado é diferente do mundo 
mostrado”, apontando a predominância das imagens em relação à escrita no mundo 
contemporâneo. Partindo dessa perspectiva, ele explica: 
 
Os dois modos – escrita e imagem – são governados por lógicas distintas e 
têm claramente propiciações diferentes. A organização da escrita – ainda 
baseada na ótica da fala – é governada pela lógica do tempo e pela lógica da 
sequenciação de seus elementos no tempo, em arranjos temporalmente 
regidos. A organização da imagem, ao contrário, é governada pela lógica do 
espaço e pela lógica da simultaneidade de seus elementos visuais retratados 
em arranjos organizados espacialmente. (Kress, 2003, p. 1-2) 
 
 
Na abordagem do autor, a qual adotamos neste curso, apenas a modalidade verbal 
da linguagem não é suficiente para compreensão e produção de mensagens 
construídas de maneira multimodal, como charge que acabamos de analisar. 
 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 4: CRIAÇÃO DE JOGOS 
 
 
 
32 
A Wordwall é uma plataforma educacional online 
que oferece ferramentas para criar, descobrir e 
compartilhar atividades interativas para salas de 
aula. Ela é projetada para professores que 
desejam envolver os alunos de maneira dinâmica, 
usando jogos e exercícios interativos para apoiar 
o aprendizado, especialmente por meio do uso de 
recursos imagéticos. 
 
Acesse o Wordwall por meio do QR Code ao lado ou por meio do link: 
https://wordwall.net/pt 
 
 
Figura 11: Wordwall 
Fonte: Wordwall, 2024. 
 
Os professores podem criar uma variedade de atividades educacionais interativas, 
como quebra-cabeças, jogos de palavras, quizzes, cartões de memória, entre outros. 
A plataforma é versátil e pode ser usada em diversas disciplinas e permite que os 
professores explorarem uma biblioteca de atividades pré-criadas por outros 
educadores, economizando tempo na preparação de materiais. 
https://wordwall.net/pt
 
 
33 
 
A Wordwall oferece tanto planos gratuitos quanto planos pagos, dependendo das 
necessidades e dos recursos desejados pelo usuário. 
 
2. A relação palavra-imagem 
 
A Gramática do Design Visual, proposta por Gunther Kress e Theo van Leeuwen, 
como apresentamos na seção anterior, é uma abordagem teórica que visa a analisar 
e compreender como as imagens e outros elementos visuais comunicam significados. 
Os autores propõem três categorias de descrição e análise: domínio da 
representação, domínio da interação e domínio da composição. 
 
Domínio da Representação: Refere-se à forma como os elementos representam ou 
retratam objetos, pessoas, conceitos ou eventos do mundo real. Esse domínio 
relaciona-se à criação de uma representação que seja compreensível para o público-
alvo e que transmita uma mensagem ou narrativa clara. 
 
Domínio da Interação: Refere-se à relação entre Participante Representado (PR) – 
personagens, objetos, animais, símbolos ou qualquer outro elemento visual que tenha 
um papel identificável na imagem – e Participante Interativo (PI) – o leitor do texto 
multimodal –, por meio: 
• do contato visual entre PR e PI; 
• do plano da imagem fechado (proximidade entre PR e PI) ou aberto 
(distanciamento entre PR e PI); 
• da perspectiva, que pode ser de envolvimento (imagem frontal) ou de poder 
(imagem oblíqua); 
• da modalidade, que remete à realidade percebida na imagem (real ou irreal). 
 
Domínio da Composição: Refere-se à organização dos elementos no texto 
multimodal, de acordo com: o valor da informação, valor esse que pode ser verificado 
 
 
34 
pela disposição dos elementos na imagem, que pode representar informações dadas 
ou novas, centrais ou periféricas; a saliência, que se refere à ênfase dada aos 
elementos da imagem uns em relação aos outros. 
 
Para ilustrar a aplicação dessas categorias de descrição, analisemos brevemente o 
ato comunicativo instanciado pelo meme a seguir, veiculado pelo perfil da Defensoria 
Pública do Estado do Rio de Janeiro, na rede social Facebook: 
 
Figura 12: Meme Paulo Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Facebook, 2016. 
 
No que se refere ao domínio da representação, o participante representado é o 
filósofo brasileiro Paulo Freire. Essa representação está vinculada ao plano da 
realidade, uma vez que o meme traz a própria foto do educador. Quanto ao domínio 
da interação, observamos que o olhar de Paulo Freire (PR) se dirige ao interlocutor,ou seja, ao leitor do meme (PI), com quem ele estabelece uma relação simétrica e 
próxima – a simetria é revelada pela horizontalidade do olhar do PR, colocado na 
 
 
35 
mesma direção do PI, não configurando, portanto, relação de poder entre eles; o 
fechamento da imagem (close) sugere aproximação entre PR e PI. No que tange ao 
domínio da composição, é perceptível a diferença de tamanho das letras que 
representam as falas de Paulo Freire e do interlocutor com quem ele dialoga no plano 
interno do meme, indicando que a declaração do pedagogo é a informação mais 
importante. 
 
Diferentemente do meme, na charge a seguir, o plano de interação revela outras 
relações entre os participantes representados e o participante interativo: 
 
Figura 13: Charge Papai Noel 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Blog Carlos – Professor de Geografia, 2017. 
 
Nesse ato comunicativo, não há contato direto entre os participantes representados 
(pessoas em situação de rua e Papai Noel, nesse caso) e o participante interativo (o 
leitor), uma vez que vetores dos olhares dos personagens não são direcionados para 
o leitor – perceba que as pessoas à esquerda olham para o Papai Noel, e o Papai 
 
 
36 
Noel olha para as pessoas e vice-versa, como representam as setas amarelas a 
seguir: 
 
 
Figura 14: Charge Papai Noel 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Blog Carlos – Professor de Geografia, 2017. 
 
Outra diferença em relação ao meme anteriormente discutido refere-se à relação 
assimétrica estabelecida entre os personagens, já que os vetores do olhar das 
pessoas em situação de rua são orientados para cima, ao passo que o vetor do olhar 
do Papai Noel, para baixo, o que reforça a ideia de inferioridade e invisibilidade dos 
primeiros. Essa diferença social também se faz notar no plano da composição, uma 
vez que as vestimentas vermelhas do personagem à direita o colocam em destaque 
(saliência), enquanto a cor de representação dos demais personagens confunde-se 
com a cor do cenário. 
 
 
 
37 
Todas essas possibilidades de compreensão do meme e da charge que acabamos de 
apresentar estão relacionadas a questões linguísticas, cognitivas e sociais. 
Cavalcante e Custódio Filho (2010, p. 9) destaca que: 
 
A produção de linguagem verbal e não verbal constitui atividade interativa 
altamente complexa de produção de sentidos que se realiza, evidentemente, 
com base nos elementos presentes na superfície textual e na sua forma de 
organização, mas que requer não apenas a mobilização de um vasto conjunto 
de saberes (enciclopédicos), mas a sua reconstrução e a dos próprios sujeitos 
– no momento da interação verbal. 
 
 
Observando, agora, a relação que se estabelece entre palavras e imagens, é possível 
verificar que há textos em que a compreensão da mensagem só é alcançada se o 
interlocutor conjugar os elementos verbais e não verbais, que se associam numa 
relação de complementaridade: a palavra agrega sentidos que faltam à imagem e 
vice-versa (Silva; Marchon, 2021). Essa é uma característica de atos comunicativos 
que se instauram por meio de charges, memes, histórias em quadrinhos, 
propagandas, etc. Imagine se faltasse alguma imagem ou o balão de fala na charge 
que acabamos de discutir. Seria possível atribuirmos sentido a ela? 
 
Por outro lado, há textos em que os materiais verbal e imagético são equivalentes 
em termos de informatividade, de modo que o conteúdo seja reforçado, reiterado 
entre uma semiose e outra. Em outras palavras, observamos que parte do material 
imagético repete alguma informação veiculada pelo material verbal e vice-versa, a fim 
de destacá-la, como ilustra o exemplo a seguir: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Figura 15: Tempestades de poeira 
 Fonte: O Globo, 2021. 
 
Esse texto veiculado pelo jornal O Globo apresenta, como material verbal, o enunciado 
Vídeos: Novas tempestades de poeira atingem ao menos quatro estados 
brasileiros; como material imagético, uma fotografia de uma imensa nuvem de poeira 
marrom avermelhada se aproximando de um bairro. A imagem mostra que árvores e 
prédio parecem pequenos diante da nuvem que se aproxima. Essa imagem consiste, 
na verdade, em um print de um dos vídeos mencionados na manchete, trabalhando 
justamente para reiterar o material verbal e reforçar a dimensão da tempestade 
anunciada. Essa relação leva o leitor a compreender a fotografia como uma prova do 
que afirma a manchete, já que parte do enunciado verbal é focalizado pela imagem. 
 
Evidentemente, a falta da imagem prejudicaria a compreensão acerca da dimensão 
da tempestade de poeira, todavia, não inviabilizaria a leitura, ao contrário do que 
acontece com a charge, por exemplo. Compreendemos, entretanto que, na medida 
em que o material imagético não apenas ilustra o conteúdo verbal, mas veicula junto 
 
 
39 
a ele um todo coeso e coerente com forte teor argumentativo, é possível averiguar a 
existência de um fenômeno linguístico-discursivo que Silva e Marchon (2021), 
inspirados em Barthes (1990) e Santaella (2012), nomearam argumentação 
multimodal, vale lembrar: o emprego estratégico de diferentes semioses com 
finalidade argumentativa. 
 
Na notícia a seguir, a dimensão da queda no número de escolas públicas que 
desenvolvem atividades para combater o racismo é reforçada pelos elementos do 
gráfico que segue a manchete: 
 
Figura 16: Notícia racismo em escolas públicas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: G1, 2023. 
 
 
A presença do gráfico, nesta notícia, mais que informar o percentual de escolas com 
projetos contra o racismo, focaliza uma parte importante da manchete: pior índice em 
 
 
40 
10 anos. Nesse sentido, a fim de impactar o leitor, não bastaria ao jornalista expressar 
esse dado apenas na modalidade verbal, por meio da manchete. A linha vermelha em 
queda, nesse caso, além de conferir credibilidade à notícia, também funciona como 
elemento numérico e imagético que, associado à manchete, confere uma dimensão 
argumentativa ao discurso. 
 
Outra forma de comunicação eficaz que emprega elementos de modalidades distintas 
é o infográfico. Um infográfico é uma representação visual de informações, dados ou 
conhecimentos complexos que utiliza elementos de múltiplas semioses, como 
gráficos, imagens, ícones e texto verbal, para comunicar de maneira clara e eficaz. O 
objetivo principal de um infográfico é simplificar a apresentação de informações, 
tornando-as mais compreensíveis e acessíveis. É importante destacar que a leitura do 
infográfico não obedece a uma ordem, como da esquerda para a direita ou de cima 
para baixo. O leitor, em geral, inicia a leitura pelos elementos visuais que mais lhe 
chamam a atenção. 
 
O infográfico a seguir apresenta dados sobre a violência contra a população negra no 
Brasil, duas décadas depois da promulgação da Lei 10.639, conhecida como Lei 
Antirracista. Essa legislação tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana 
e afro-brasileira nos currículos escolares e instituiu o dia 20 de novembro como Dia 
da Consciência Negra: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
Figura 17: Infográfico violência contra a população negra no Brasil 
Fonte: Porvir, 2023. 
 
A análise crítica desse infográfico revela uma série de informações preocupantes 
sobre a disparidade racial em diferentes contextos, incluindo intervenção militar, 
feminicídio, violência física e saúde emocional. Nesse sentido, podemos inferir que, 
mais queinformar essas estatísticas, o autor do infográfico chama a atenção para a 
importância de abordar questões sistêmicas, promover a igualdade racial e 
desenvolver políticas que considerem a interseccionalidade das experiências das 
pessoas negras. 
 
 
 
42 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 5: CONSTRUÇÃO DE INFOGRÁFICOS 
 
O que você acha de mobilizar os alunos para construírem um infográfico? Escolha 
um tema relevante relacionado à disciplina que você leciona e pergunte aos 
estudantes o que eles sabem sobre esse tema. Para sistematizar a discussão, você 
pode anotar, na lousa, os tópicos levantados na discussão. 
Na sequência, seria interessante que você apresentasse outras informações que não 
foram contempladas na fala dos alunos, além de solicitar que eles, em pequenos 
grupos, busquem por novas informações em outras fontes. 
Feitos os levantamentos de dados e informações, é hora selecionar quais 
informações serão apresentadas e como essas informações serão organizadas no 
plano composicional do infográfico. Auxilie os estudantes nessas escolhas. 
Ao final, cada grupo pode apresentar sua produção e, uma vez mais, discutir o tema 
proposto, contemplando pontos ainda não tratados. 
 
 
3. A multimodalidade e a comunicação inclusiva 
 
A comunicação inclusiva desempenha um papel crucial no ambiente educacional, 
moldando não apenas a forma como interagimos por meio da linguagem, mas 
também influenciando profundamente a experiência de aprendizado de cada 
aluno(a). Em um mundo diversificado, em que as pessoas apresentam necessidades 
diversas, a adoção de práticas comunicativas inclusivas é mais do que uma escolha 
consciente, é uma necessidade imperativa, prevista, inclusive em documentos 
oficiais que regem a educação no Brasil: 
 
 
 
43 
A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as 
bases necessárias para a construção do conhecimento e seu 
desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas 
diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, 
emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as 
diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização 
da criança (BRASIL, 2008, p. 17). 
 
Neste módulo, estamos vendo que várias são as formas de linguagem, com a verbal, 
a musical, a imagética, a numérica. Nesse viés, cumpre destacarmos a linguagem 
visual-motora ou visual-gestual que usa sinais e expressões faciais para a 
comunicação: a Língua Brasileira de Sinais (Libras). A Libras, reconhecida 
oficialmente, no Brasil, pela Lei Federal nº 10.436/2002 e pelo Decreto Federal nº 
5.626/2005, é utilizada pela comunidade surda como principal forma de interação. 
Você já teve ou tem algum aluno(a) surdo(a)? 
 
Trabalhar com alunos(as) surdos(as) sem ter o conhecimento de Libras pode ser 
desafiador, mas é possível adotar estratégias inclusivas e eficazes para facilitar a 
comunicação e o aprendizado. Dentre essas estratégias, está a linguagem gestual e 
corporal, além da utilização de recursos visuais, como imagens, gráficos e vídeos, 
para apoiar o entendimento. O planejamento de atividades que valorizem as 
habilidades visuais e táteis, bem como a sensibilização dentro da sala de aula, 
incentivando os(as) colegas a compreenderem e respeitarem as necessidades do(a) 
aluno(a) surdo(a), podem criar situações de comunicação mais adequadas ao 
acesso à educação. 
 
Nessa direção, Barbosa (2008, p. 57) destaca que “para ver o outro, estar com o 
outro, compreender o outro, é preciso construir pontes, escutar com o corpo inteiro, 
estabelecer diálogos, expandir o nosso ser na relação. E esta é uma tarefa pessoal 
e coletiva.”. 
 
 
 
 
 
 
 
44 
Figura 18: Alfabeto em Libras 
Fonte: Blog Oficina de Libras, 2014. 
 
Por viverem em um contexto em que as pessoas se comunicam por línguas vocais, 
as crianças surdas, muitas vezes, não são contempladas pelos processos 
educacionais, tanto dentro do âmbito escolar quanto fora dele. Em decorrência 
disso, esses estudantes apresentam dificuldades para a construção de 
conhecimentos mínimos, fato que fundamenta a defesa para a implantação da 
educação bilingue (em Libras e Português) a fim de possibilitar uma educação 
que respeite as especificidades dessas pessoas, afinal, o acesso à educação é 
postulado como direito dos cidadãos e dever do Estado1. 
 
 
 
 
 
 
1 Por limitação de espaço e por não ser o objetivo deste curso, não aprofundaremos a questão relacionada à 
implantação do ensino bilíngue para alunos surdos. Para mais informações, consultar a seção de bibliografia 
complementar, em que sugerimos algumas obras. 
 
 
45 
 
 
 
 
DESAFIO DA INCLUSÃO DE PESSOAS SURDAS NA EDUCAÇÃO 
 
Quais os desafios que as pessoas surdas encontram 
nas escolas e universidades? O professor João 
Gabriel, do Canal Brasil Escola, entrevistou a 
professora Lívia Martins Gomes, especialista no 
assunto, sobre as principais questões que envolvem a 
população surda no Brasil. Acesse por meio do QR 
Code ao lado, ou por meio do link: 
https://www.youtube.com/watch?v=_FJ55JQu28k 
 
 
 
O estabelecimento da interação por meio de múltiplas modalidades também se faz 
imperativo no processo ensino-aprendizado de alunos com Transtorno do 
Espectro Autista (TEA), por exemplo. Evidentemente, cada estudante é único, o 
que exige que as práticas pedagógicas sejam adaptadas de acordo com as 
necessidades individuais, porém, apresentamos aqui algumas estratégias gerais 
que podem ser úteis, a primeira delas diz respeito à simplificação das mensagens: 
seja objetivo e claro. Utilizar recursos visuais, como cartões com imagens ou 
símbolos, além de apoiar a linguagem verbal com gestos para auxiliar na 
comunicação são estratégias relativamente simples que tanto o(a) professor(a) 
quanto os(as) colegas de sala de aula podem desenvolver para acolherem o(a) 
aluno(a) autista. Trabalhar com materiais táteis para reforçar conceitos e introduzir 
sistemas de comunicação alternativa, como quadros de comunicação ou 
calendários visuais para organizar as tarefas e rotinas do estudante autista, também 
são estratégias que podem maximizar o desenvolvimento do(a) aluno(a) com TEA. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=_FJ55JQu28k
 
 
46 
Para pessoas surdas e pessoas autistas, a comunicação visual é imperativa. Para 
pessoas cegas ou com baixa visão, faz-se necessário o emprego da 
modalidade sonora e da modalidade tátil para garantir uma experiência 
educacional inclusiva e eficaz. Dessa forma, ao se comunicar verbalmente com 
alunos(as) com esse tipo de deficiência, seja claro e específico, fornecendo 
informações detalhadas. Use descrições verbais para explicar gráficos, diagramas 
e outros materiais visuais. Se possível, introduza tecnologias assistivas, como 
softwares de leitura de tela e impressoras Braille, para ajudar os(as) alunos(as) 
cegos(as) a acessarem informações e participarem das atividades escolares com 
independência. 
 
Reforçamos que a abordagem mais eficaz, tanto no que se refere ao 
estabelecimento de comunicação tanto com o(a) aluno(a) surdo(a), quanto com 
o(a) aluno(a) autista, envolve uma combinação de estratégias personalizadas, uma 
compreensão profunda das necessidades individuais e a colaboração contínua com 
profissionais especializados. 
 
 
 
 
 
 Figura 19: Leitura em Braille 
O Braille é um sistema de leitura e escrita 
tátil desenvolvido para pessoas cegas ou 
com baixa visão. Foi criado por Louis Braille, 
um jovem cego francês, no século XIX. O 
sistema consiste em caracteres formados 
por combinações específicas de pontos em 
relevo, organizadosem células táteis. 
 Fonte: Canva, 2024. 
 
 
47 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 6: CONSTRUÇÃO DO SENTIDO POR MEIO DOS 
SONS 
 
A multimodalidade não está apenas na relação palavra-imagem, mas também no ritmo 
e no tom que imprimimos em nossa fala. Quando fazemos um pedido ou damos uma 
ordem, por exemplo, o modo como articulamos as palavras pode refletir maior ou 
menos polidez. Na música, além da letra da canção, a melodia também comunica 
mensagens. 
 
Você conhece o autor e compositor Arnaldo Antunes? No álbum O silêncio, ele 
apresenta dois arranjos musicais para uma mesma letra. Você pode apresentar esses 
áudios aos seus alunos e discutir com eles se as duas versões da canção Desce 
comunicam a mesma mensagem. Mais especificamente, leve-os a pensar se, apesar 
de a letra ser a mesma, a diferença de sons dos instrumentos musicais, o ritmo das 
melodias e até o tom da voz do cantor provocam alterações na construção de sentido. 
 
Acesse as duas versões por meio dos QR Codes ou por meio dos links: 
 
 
Desce (Versão 1): 
https://www.youtube.com/watch?v=oJYlR68oPhs 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=oJYlR68oPhs
 
 
48 
Desce (Versão 2): 
https://www.youtube.com/watch?v=PfqUrQmS2cI 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não deixe refletir conjuntamente sobre a importância de empregarmos o tom 
adequado nas diferentes situações de comunicação de que participamos no nosso dia 
a dia. 
 
Este tipo de atividades pode representar uma oportunidade para que estudantes com 
problemas de visão protagonizem a discussão, bem como uma alternativa de trabalhar 
com os estudantes autistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Chegamos ao final do Módulo 2. Agora, coloque 
em prática o que aprendeu acessando a sessão de 
Atividades por meio do QR Code ao lado. Bons 
estudos! 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=PfqUrQmS2cI
 
 
49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. A evolução do conceito de letramento 
 
Como estudamos nos módulos anteriores, sob a perspectiva de que a comunicação 
é mediada por textos (aqui, vistos como discursos), discutimos que “no trato com 
os textos – escritos, impressos ou digitais –, não temos mais apenas signos 
escritos. Todas as modalidades de linguagem ou semioses os invadem e com eles 
se mesclam sem a menor cerimônia.” (Rojo; Moura, 2019, p. 11). Empregamos o 
adjetivo multissemiótico para qualificar os textos e, em decorrência disso, 
ressignificamos o conceito de letramentos. 
 
Empregado pela primeira vez no Brasil em 1986, o termo letramento buscava 
abarcar os usos e práticas sociais da linguagem que se relacionam com a 
escrita, diferindo, portanto, do conceito de alfabetização, que, simplificadamente, 
aqui, definimos como processo relacionado às habilidades de reconhecer e 
compreender letras, decodificar palavras. Mais do que apenas a capacidade de 
decifrar signos linguísticos, o letramento envolve a compreensão e a habilidade de 
usar efetivamente a linguagem escrita em diferentes contextos sociais, culturais e 
acadêmicos. Considerada a multiplicidade de contextos, pouco tardou e letramento 
passou a letramentos, no plural, para denotar a diversidade de práticas e 
habilidades relacionadas à leitura e escrita em situações sociais diversas: 
 
Tanto Street (1985) quanto Kleiman (1995) definem as práticas letradas 
como os modos culturais de utilizar a linguagem escrita com que as 
 
 
50 
pessoas lidam em suas vidas cotidianas, sejam elas alfabetizadas ou não, 
com os mais diferentes níveis ou graus de (an)alfabetismo... Tem-se de 
reconhecer que elas são variáveis em diferentes comunidades e culturas. 
(Rojo; Moura, 2019, p. 17). 
 
Em 1996, os pesquisadores do Grupo Nova Londres (New London Group) 
ressaltaram que, devido às mídias digitais, os textos – agora deslocados para as 
telas – já não eram mais essencialmente escritos, mas constituídos por uma 
diversidade de linguagens, denominada multimodalidade (conforme discutimos no 
módulo anterior), pelo grupo. A multimodalidade, por sua vez, não impactava 
apenas os textos, mas também a diversidade cultural e linguística, já que a 
comunicação humana é instanciada por meio de textos. Nesse sentido, a explosão 
multiplicativa de letramentos levava ao conceito de multiletramentos, ou seja, 
letramentos em múltiplas culturas e em múltiplas linguagens (imagens 
estáticas e em movimento, música, dança e gesto, linguagem verbal oral e escrita 
etc.). 
 
De acordo com Rojo e Moura (2018, p. 25), dez anos depois de cunhado o termo 
"multiletramentos", proposto pelo Grupo de Nova Londres, outros pesquisadores, 
considerando as interações sociais mediadas pela tecnologia, voltaram a sentir a 
necessidade de adjetivar os letramentos, desta vez, como "novos letramentos". 
As novas tecnologias digitais da informação e comunicação mudaram a natureza 
dos letramentos, o que levou os estudiosos a observarem que, embora fosse 
perceptível a multiplicação de novos aplicativos e de novos dispositivos digitais de 
comunicação, isso não configurava, por si só, novos letramentos. Para eles, os 
novos letramentos são definidos pelo surgimento de uma nova mentalidade, o que 
significa dizer que “os novos letramentos maximizam relações, diálogos, redes 
e dispersões, são o espaço da livre informação e inauguram uma cultura da 
hibridização” (Ibdem, p. 26). Nessa perspectiva outros gestos de leitura e de 
escrita são convocados, como rolagem de tela, cliques em ícones para ativar 
hiperlinks e abrir outras páginas da internet etc. 
 
Conforme as novas tecnologias possibilitaram artefatos para 
construir novas relações com a realidade do mundo cotidiano, 
fomos nos deslocando das narrativas orais para a literatura escrita, 
 
 
51 
do desenho e pintura para a fotografia, [o] filme e [o] vídeo e da 
interação com textos fixos para novos modos de participação em 
sistemas materiais que tornam os textos dinamicamente 
responsivos à nossa leitura. (Lemke, working graft. s.d. apud Rojo; 
Moura, 2019, p. 40). 
 
 
Figura 20: Novas tecnologias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Canva, 2024. 
 
 
 
Para Lemke (1998 [2010] p. 456 apud Rojo; Moura, 2019, p. 40), “hoje nossas 
tecnologias estão nos movendo de uma era da ‘escrita’ para a da autoria 
‘multimidiática’, em que documentos e imagens de notações verbais e textos 
escritos propriamente ditos são meros componentes de objetos mais amplos de 
construção de significados”. 
 
Nesse contexto, em que a comunicação é mediada pela máquina, emerge o 
conceito de letramentos digitais: capacidade de uma pessoa compreender, 
usar e comunicar-se eficazmente por meio de tecnologias digitais, como 
computadores e dispositivos móveis conectados à internet. Não se trata, apenas, 
 
 
52 
de saber usar ferramentas digitais, mas também de desenvolver habilidades críticas 
para avaliar, analisar e criar conteúdo digital de maneira consciente e ética. 
 
Segundo Louise Merzeu (2009, apud Paveau, 2021, p. 27), a influência do digital 
não se limita apenas a uma nova codificação de conteúdos ou à introdução de um 
novo canal de circulação. Trata-se, na verdade, de uma transformação do ambiente 
que impacta as estruturas e as relações. Paveau(2021) destaca que essa 
transformação, conhecida como revolução digital, refere-se à ascensão do digital e 
foi liderada por gigantes da web, como Google, Apple e Facebook. Cientistas da 
computação passaram a ter um papel dominante, exercendo controle sobre o 
tratamento da linguagem por meio de abordagens baseadas em volume, variedade 
e velocidade (Paveau, 2021, p. 28). 
 
Nesse universoem que a interação é potencializada e a liberdade de publicação de 
conteúdos impera, era de se esperar que informações falsas circulassem. Mais 
especificamente, o termo fake news passou a designar qualquer publicação que 
veicule informação que não seja verdadeira, no sentido de comprovação, seja ela 
total ou parcialmente criada, alterada, manipulada ou desvinculada de seu contexto 
original. 
 
Entre os anos de 2020 e 2021, em meio à pandemia da Covid-19, por exemplo, foi 
frequente a veiculação de informações sobre formas de prevenir ou combater a 
doença que dizimou a população mundial. 
 
Algumas dessas informações infundadas cientificamente precisaram ser 
contestadas pelas agências de checagem da informação (organizações dedicadas 
a verificar a veracidade de informações e declarações apresentadas ao público) a 
fim de que a pandemia não se espalhasse ainda mais, como a que divulgava que 
gargarejos com sal e vinagre impediam a infecção por coronavírus, chegada pela 
Agência Aos Fatos: 
 
 
 
 
53 
Postagem Original: 
 
 Figura 21: Fake News coronavírus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Canva, 2024. 
 
Checagem da Informação: 
 
Figura 22: Checagem da informação coronavírus 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Aos Fatos, 2020. 
 
 
De acordo com Franco (inédito), o conteúdo falso apresenta um texto 
acompanhado de uma imagem que retrata um busto humano com símbolos 
indicando infecção pelo vírus na região da garganta. A agência de verificação Aos 
Fatos relatou que essa mesma postagem foi disseminada em outros países, em 
diversas línguas. No Facebook, as publicações contendo informações incorretas 
em português receberam quase 70 mil compartilhamentos até 16 de março de 
2020. 
Texto da postagem: 
O coronavírus antes de atingir os pulmões, 
permanece na garganta por quatro dias e, 
nesse período, a pessoa começa a tossir e 
sentir dores na garganta. Se essa pessoa 
beber muita água e faz gargarejo com água 
morna, sal ou vinagre, isso eliminará o vírus. 
Divulgue estas informações, pois você pode 
salvar alguém se essa pessoa souber disso. 
 
 
 
54 
Como se vê, a comunicação mediada pela máquina acelera o compartilhamento e 
a disseminação de informações são compartilhadas por meio de plataformas online. 
Essa realidade exige uma abordagem crítica e responsável por parte dos usuários, 
que precisam promover uma cultura digital que valoriza a precisão, a transparência 
e o discernimento, viabilizando uma navegação mais segura e crítica pela web. 
 
 
 
 
 
 
DESDOBRAMENTO 7: FATO OU FAKE? 
 
Certamente, você já se deparou com uma postagem, uma mensagem ou uma notícia 
veiculando informações que não eram verdadeiras, fossem elas parcial ou totalmente 
falsas, não é mesmo? Essas informações falsas, batizadas de fake news, ao 
espalharem informações incorretas, podem levar a decisões erradas por parte dos 
indivíduos, organizações ou até mesmo governos. Isso pode afetar áreas como 
saúde pública, política, economia etc. 
 
A atitude de checar uma informação recebida antes de compartilhá-la faz parte do 
que chamamos de letramentos digitais. Uma das formas de verificar a veracidade da 
informação é consultar as agências de checagem, como Comprova, Agência Lupa, 
Fato ou Fake e Aos Fatos. 
 
A fim de tornar mais íntima a relação entre o estudante e as agências de checagem, 
solicite que ele faça uma pesquisa sobre alguma fake news checada. Ao visitar o site 
das agências, é interessante que o aluno observe as estratégias empregadas por 
essas entidades para arbitrar sobre a falsidade ou não da informação, como 
verificação de fontes; confronto de declarações de autoridades e de influenciadores 
digitais; verificação da autenticidade de fotografias, vídeos, áudios, gráficos e outras 
mídias; correção de erros cometidos pelas empresas de mídia. 
 
 
55 
2. A comunicação na era da tecnologia digital 
 
Em decorrência do advento das tecnologias digitais de comunicação, presenciamos 
o desenvolvimento acelerado das plataformas online que permitem que indivíduos 
e grupos compartilhem informações, ideias, interesses, atividades e se conectem 
uns com os outros. Essas plataformas facilitam a criação e a manutenção de redes 
de contatos pessoais e profissionais, permitindo que as pessoas se comuniquem, 
interajam e compartilhem conteúdo de maneira virtual. Atualmente, as redes sociais 
mais acessadas são: 
 
Tabela 3: Redes sociais 
• Facebook: Plataforma que permite que os usuários se conectem com 
amigos, familiares e colegas, compartilhem conteúdo na modalidade 
verbal escrita ou imagética e participem de grupos com interesses 
semelhantes. 
• Instagram: Rede social focada em compartilhamento de fotos e vídeos, 
em que os usuários podem seguir outros e interagir por meio de curtidas 
e comentários. 
• X (anteriormente chamado Twitter): Plataforma que permite que os 
usuários compartilhem mensagens curtas chamadas, com até duzentos e 
oitenta caractere, seguindo outros usuários e participando de conversas 
por meio de hashtags (#). O uso de hashtags transforma a palavra ou frase 
que o símbolo acompanha em um link clicável, permitindo que os usuários 
cliquem na hashtag para explorar outros conteúdos relacionados. 
• TikTok: Plataforma de mídia social que permite aos usuários criarem, 
compartilharem e acessarem vídeos curtos. 
• LinkedIn: Rede social profissional projetada para conectar profissionais, 
permitindo que eles compartilhem informações sobre suas carreiras, 
habilidades e experiências. 
 
 
56 
• WhatsApp: Aplicativo de mensagens instantâneas que permite que os 
usuários enviem mensagens de texto, voz, fotos e vídeos, bem como 
realizem chamadas de voz e vídeo. 
Fonte: Elaboração da autora. 
 
As redes sociais desempenham um papel significativo na comunicação 
contemporânea, fornecendo uma maneira rápida e acessível para as pessoas se 
conectarem globalmente. No entanto, também levantam questões relacionadas à 
privacidade, segurança online e impactos psicossociais, que exigem uma 
abordagem consciente e responsável por parte dos usuários. Você faz uso de 
alguma rede social? Já refletiu sobre como é sua prática discursiva nesses 
ambientes digitais? 
 
Devellotte (2006 apud Seara; Cabral, 2017, p. 313) conceitua as redes sociais 
como um "espaço de exposição discursiva", em que os usuários desempenham 
papéis duplos, atuando como produtores e interlocutores dos discursos aos quais 
estão expostos. Essa perspectiva alinha-se com a noção de escrileitor (o usuário 
interage por meio da leitura e da escrita), destacada por Paveau (2021). Nesse 
contexto digital, as informações e os conteúdos são criados de maneira híbrida, 
envolvendo tanto a ação humana quanto a intervenção das máquinas. 
 
Esse discurso que nasce e se propaga em ambiente digital é denominado 
tecnodiscurso. De acordo com Paveau (2021), o prefixo "tecno" não apenas 
procura alterar o sentido do radical da palavra discurso, mas representa uma 
escolha teórica que redefine o conhecimento sistemático e estruturado tradicional 
das ciências da linguagem. Ao falar em tecnodiscurso, tecnopalavra, tecnosigno, 
tecnogênero do discurso, estamos afirmando que os discursos digitais nativos 
não se limitam apenas à linguagem humana; as determinações técnicas co-
constroem as formas tecnolinguísticas. Nessa perspectiva, a comunicação 
medida pela máquina faz emergir alguns questionamentos: Como as tecnologias 
influenciam a produção e a recepção de discursos? Como os discursos moldam e 
são moldados pelas tecnologias? A autora alerta que o tecnodiscurso é constituído, 
 
 
57 
indissociavelmente,