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106 U n id a d e A • A n at u re za d a v id a R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . CIÊNCIA E CIDADANIA 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10V el oc id ad e da r ea çã o pH pH ótimo para a pepsina pH ótimo para a tripsina 0 20 40 60 80 100V el oc id ad e da r ea çã o Temperatura (°C) Temperatura ótima para enzimas humanas Temperatura ótima para enzimas de bactérias de fontes termais Fenilalanina Enzima fenilalanina- -4-monoxigenase C C C H H H H C C CH2 C COOH C NH2 O2H Tirosina C C C H H H H C CHOH2 2 CH2 C COOH C NH2 H Figura 3.31 Curvas de atividade de diferentes enzimas em condições diversas de temperatura (gráfico A) e de grau de acidez (pH) (gráfico B). Note que cada enzima tem uma temperatura e um pH ótimos, em que sua atividade é máxima. (Baseado em Campbell, N. e cols., 1999.) Outro fator que afeta a atividade das enzimas é o grau de acidez do meio, ou pH (potencial hidrogeniônico), expresso em uma escala logarítmica que vai de 0 a 14. Esses valores de pH expressam a concentração relativa do íon de hidrogênio (H1) em determinado meio. Como já foi mencionado anteriormente neste capítulo, o valor 7 representa um meio neutro, nem ácido nem básico; valores abaixo de 7 são progressivamente mais ácidos e os acima de 7 são progressi- vamente mais básicos (alcalinos). Por exemplo, uma solução de hidrogenocarbonato de sódio, também chamado bicarbonato de sódio (NaHCO3), tem pH da ordem de 9, enquanto o vinagre tem pH em torno de 4. Isso quer dizer que, no vinagre, a concentração de íons H1 é cerca de 100 mil vezes maior que a da solução de bicarbonato de sódio. Cada enzima tem um pH ótimo de atuação, no qual sua atividade é máxima. Fora dessa faixa de pH, a enzima deixa de funcionar adequadamente. O pH ótimo para a maioria das enzimas celulares situa-se ao redor de 7, próximo ao neutro. Mas há exceções; a enzima pepsina, por exemplo, que atua em nosso estômago, funciona mais eficientemente em valores de pH fortemente ácidos, em torno de 2, condição em que a maioria das outras enzimas deixa de funcionar. A tripsina, por sua vez, enzima digestiva que atua no ambiente alcalino do intestino, tem pH ótimo situado em torno de 8. (Fig. 3.31B) A B “Teste do pezinho” pode impedir manifestação de doença grave O conhecimento científico sobre enzimas e genes tem permitido o desenvolvimento de diagnósticos precisos e, em alguns casos, tratamento para doen- ças de origem genética. Um exemplo refere-se à fenilcetonúria, uma doença humana decorrente da incapacidade inata de uma pessoa produzir determi- nada enzima. Essa doença pode ser evitada quando diagnosticada no recém-nascido. Para isso basta uma gota de sangue, obtida por uma leve punção no pé da criança. A pessoa portadora da condição genética respon- sável pela fenilcetonúria não produz a enzima que transforma o aminoácido fenilalanina em tirosina. Nessa situação, a fenilalanina tende a se acumular Figura 3.32 A. Reação catalisada pela enzima fenilalanina-4-monoxigenase, cuja ausência é a principal causa da fenilcetonúria, que afeta uma em cada 20 mil pessoas. B. Retirada de sangue do pé de um recém-nascido para o teste de fenilcetonúria (teste do pezinho). no corpo e pode causar danos às células cerebrais, principalmente na infância. Os piores efeitos da fenilcetonúria são evitados se a doença é detectada prematuramente e se o por- tador passa a receber uma dieta que forneça apenas as quantidades mínimas de fenilalanina necessárias ao desenvolvimento. O conhecido “teste do pezinho”, realizado com uma gota de sangue retirada do pé dos recém-nascidos, destina-se justamente a detectar os portadores dessa deficiência antes que ela possa causar estragos ao sistema nervoso. Pessoas fenilcetonúricas devem evitar o excesso de proteínas na alimentação e o uso de adoçantes artificiais feitos à base de aspartame, que contêm fenilalanina e ácido aspártico. (Fig. 3.32) A B 107 C a p ít u lo 3 • B a se s m o le cu la re s d a v id a R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Seção 3.6 Objetivos❱❱❱❱ Caracterizar vitamina CCCCCCC e reconhecer a importância desse tipo de substância para o nosso organismo. Estar informado sobre CCCCCCC os principais tipos de vitamina, suas fontes e consequências da carência vitamínica sobre o organismo. Termos e conceitos❱❱❱❱ vitamina• escorbuto• beribéri• avitaminose• Vitaminas 1 A descoberta das vitaminas Vitamina não é uma classe particular de substâncias, e sim a desig- nação de qualquer substância orgânica que o organismo não consegue produzir e é necessária em pequena quantidade para seu bom funciona- mento. A vitamina C, por exemplo, é o ácido ascórbico, essencial ao bom funcionamento do organismo humano e dos demais primatas (símios e macacos). Há outros animais que também necessitam de ácido ascórbico, mas conseguem produzi-lo em suas próprias células; por isso, para eles, o ácido ascórbico não é uma vitamina. Os cientistas descobriram que muitas vitaminas atuam como cofatores em reações enzimáticas. Nesse caso, a deficiência de uma dada vitamina diminui a quantidade de enzima ativa (holoenzima) formada, alterando negativamente o metabolismo celular. A importância da alimentação variada começou a ser reconhecida du- rante a época das grandes navegações a vela. A dieta da tripulação dos navios era pobre, constituída basicamente por biscoitos secos e carne salgada. Após algumas semanas no mar, os marinheiros tornavam-se fra- cos, desatentos, tinham fortes hemorragias nasais e muitos chegavam a morrer. Bastava, no entanto, que os doentes passassem alguns dias em terra firme, alimentando-se de frutas e verduras frescas, para que os sintomas rapidamente desaparecessem. Escorbuto e beribéri Uma doença comum entre os marinheiros era o escorbuto. Descobriu-se que, para evitá-la, bastava ingerir regularmente suco de limão ou de laranja. A marinha inglesa chegou mesmo a baixar uma lei tornando obrigatória a inclusão dessas frutas na dieta dos marinheiros. Hoje se sabe que o escor- buto é causado pela deficiência da vitamina C, o ácido ascórbico. Os marinheiros chineses e japoneses, cuja dieta era constituída basi- camente de peixes e arroz branco (sem casca), apresentavam uma doença que ficou conhecida como beribéri, que em japonês significa “eu não posso! eu não posso!”, supostamente porque o doente não podia levantar-se do leito quando requisitado por seu capitão, devido à fraqueza. O principal sintoma do beribéri é o enfraquecimento dos músculos, que pode levar a pessoa à total paralisia. Os médicos japoneses descobriram que a doença podia ser prevenida e curada por uma dieta constituída de vegetais, carne, leite condensado e arroz integral. O termo vitamina foi criado quando se descobriu que pequeníssimas quantidades de uma substância, a tiamina, pertencente ao grupo das aminas (que têm grupos nitrogenados) conseguiam evitar o beribéri. Por causa disso, essa substância foi chamada de vitamina, que significa “amina vital”. Entretanto, pouco tempo depois foram descobertos outros fatores nutricionais orgânicos, também necessários em pequeníssimas quanti- dades, mas que não eram aminas. O termo vitamina, todavia, já estava consagrado pelo uso. 2 Fontes de vitaminas e avitaminoses As fontes naturais das vitaminas são os alimentos. Atualmente as vita- minas também podem ser encontradas no comércio na forma purificada, sendo prescritas pelos médicos para eliminar as deficiências vitamínicas, geralmente causadas por uma dieta pobre ou desbalanceada. 108 U n id a d e A • A n at u re za d a v id a R ep ro d uç ão p ro ib id a. A rt .1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Para que os alimentos não percam seu valor vitamínico é preciso ter certos cuidados, pois certas vitaminas são facilmente destruídas pelo calor ou pela exposição ao gás oxigênio (O2) do ar. Uma regra geral para preservar ao máximo o valor vitamínico de verduras e legumes é consumi-los crus ou levemente cozidos em pequena quantidade de água. Vegetais para saladas e frutas só devem ser cortados no momento de ser servidos, para evitar a oxidação destrutiva de suas vitaminas pelo ar. As vitaminas costumam ser classificadas em hidrossolúveis e lipossolúveis. A importância dessa classificação está relacionada ao modo como as vitaminas devem ser ingeridas e a seu armazenamento no organismo. Vitaminas hidrossolúveis, assim chamadas por serem substâncias polares e dissolverem-se em água, são armazenadas em quantidades pequenas no corpo e devem ser ingeridas diariamen- te. Vitaminas lipossolúveis, assim chamadas por serem substâncias apolares e dissolverem-se em lipídios e em outros solventes orgânicos, são armazenadas no tecido adiposo e não precisam ser ingeridas diariamente. As doenças resultantes da falta de vitaminas são denominadas avitaminoses. Veja as prin- cipais avitaminoses e seus sintomas na tabela a seguir. (Tab. 3.2) Tabela 3.2 Vitaminas hidrossolúveis Vitamina Principal uso no corpo Sintomas de deficiência Principais fontes B1 (Tiamina) Auxilia na oxidação dos carboidratos. Estimula o apetite. Mantém o tônus muscular e o bom funcionamento do sistema nervoso. Previne o beribéri. Perda de apetite, fadiga muscular, nervosismo, be ribéri. Cereais na forma integral e pães, feijão, fígado, carne de porco, ovos, fermento de padaria, vegetais de folha. B2 (Riboflavina) Auxilia a oxidação dos alimentos. Essencial à respiração celular. Mantém a tonalidade saudável da pele. Atua na coordenação motora. Ruptura da mucosa da boca, dos lábios, da língua e das bochechas. Vegetais de folha (couve, repolho, espinafre etc.), carnes magras, ovos, fermento de padaria, fígado, leite. B3 (Niacina ou ácido nicotínico) Mantém o tônus nervoso e muscular e o bom funcionamento do sistema digestório. Previne a pelagra. Inércia e falta de energia, nervosismo extremo, distúrbios digestivos, pelagra. Levedo de cerveja, carnes magras, ovos, fígado, leite. B5 (Ácido pantotênico) É componente da coenzima A, participante de processos energéticos celulares. Anemia, fadiga e dormên cia dos membros. Carne, leite e seus derivados, verduras e cereais integrais. B6 (Piridoxina) Auxilia a oxidação dos alimentos. Mantém a pele saudável. Doenças da pele, distúrbios nervosos, inércia e extrema apatia. Levedo de cerveja, cereais integrais, fígado, carnes magras, leite. B8 (Biotina) Atua como coenzima em processos energéticos celulares, na síntese de ácidos graxos e das bases nitro ge nadas púricas. Inflamações na pele e distúrbios neuromusculares. Carnes, legumes, verduras e bactérias da flora intestinal. B9 (Ácido fólico) Importante na síntese das bases nitrogenadas e, portanto, na síntese de DNA e multiplicação celular. Anemia; esterilidade masculina; na gravidez predispõe a uma malformação do feto conhecida como espinha bífida. Vegetais verdes, frutas, cereais integrais e bactérias da flora intestinal. B12 (Cianocobala- mina) É essencial para a maturação das hemácias e para a síntese de nucleotídios. Anemia perniciosa; distúrbios nervosos. Carne, ovos, leite e seus derivados. C (Ácido ascórbico) Mantém a integridade dos vasos sanguineos e a saúde dos dentes. Previne infecções e o escorbuto. Inércia e fadiga em adultos, insônia e nervosismo em crianças, sangramento das gengivas, dores nas juntas, dentes alterados, escorbuto. Frutas cítricas (limão, lima, laranja), tomate, couve, repolho, outros vegetais de folha, pimentão. Vitaminas lipossolúveis A (Retinol) Necessária para o crescimento normal e para o bom funcionamento dos olhos, do nariz, da boca, dos ouvidos e dos pulmões. Previne resfriados e várias infecções. Evita a ”cegueira noturna”. Cegueira noturna (xeroftalmia), ”olhos secos” em crianças, cegueira total. Vegetais amarelos (cenoura, abóbora, batata-doce, milho), pêssego, nectarina, abricó, gema de ovo, manteiga, fígado. D* (Calciferol) Atua no metabolismo do cálcio e do fósforo. Mantém os ossos e os dentes em bom estado. Previne o raquitismo. Problemas nos dentes, ossos fracos, contribui para os sintomas da artrite, raquitismo. Óleo de fígado de bacalhau, fígado, gema de ovo. E (Tocoferol) Promove a fertilidade. Previne o aborto. Atua no sistema nervoso involun tário, no sistema muscular e nos músculos involuntários. Esterilidade masculina, aborto. Óleo de germe de trigo, carnes magras, laticínios, alface, óleo de amendoim. K (Filoquinona) Atua na coagulação do sangue. Previne hemorragias. Hemorragias. Vegetais verdes, tomate, castanha. * A vitamina D não é encontrada pronta na maioria dos alimentos; estes contêm, em geral, um precursor que se transforma em vitamina D quando exposto aos raios ultravioleta da radiação solar.